REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:
REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
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ISSN: 2316-5936
A Desumanização da Arte Contemporânea
Sônia Maria Carvalho Zonta. Graduada em Filosofia.
Especialista em Filosofia Contemporânea. Coordenadora da
Biblioteca do CESB. Formada no Centro de Ensino Superior do
Brasil – Goiás. [email protected]
RESUMO
Neste artigo vamos analisar o pensamento de Ortega Y Gasset, onde abordamos criticamente
a obra “A desumanização da arte” do filósofo espanhol José Ortega Y Gasset (1883-1955).
Neste livro o autor trata como tema central o que seu título precisamente sugere: a
impopularidade da nova arte frente ao público. Segundo nosso autor, a nova arte, do ponto
de vista sociológico, divide o público em duas classes de homens: os que a entendem e os
que não a entendem.
Palavras chave: desumanização - impopularidade – público – classes – homens.
ABSTRACT
In this article we analyze the thought of Ortega y Gasset, where we discuss critically the
work “The Dehumanization of Art” Spanish philosopher Jose Ortega y Gasset (1883-1955).
In this book the author deals with the central theme precisely what its title suggests: the
unpopularity of the new art before the public. According to our author, the new art, the
sociological point of view, the public is divided in two classes of men: those who understand
and those who do not understand.
Keywords: dehumanization - unpopular - public - class-men.
INTRODUÇÃO
Na obra “A desumanização”, Ortega Y Gasset resolveu escrever sobre a nova
época artística. O problema entrevisto por ele era estético e partia de um dado sociológico,
que era, precisamente, o da impopularidade da nova arte.
Ortega ressalta, justamente a nosso ver, que toda a arte jovem é impopular.
Presenciamos isto em todas as épocas, o novo nunca é aceito facilmente. O estilo novo
demora um certo tempo para conquistar a todos, de início não é popular, mas tampouco
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podemos dizer que seja impopular. A exceção para esta regra foi o romantismo que
conquistou a todos com certa rapidez, por ser um estilo palatável ao gosto popular.
A nosso ver, toda obra de arte provoca divergências: a uns agrada, a outros não.
Não sendo este o problema com a arte jovem que de início sempre agrada apenas a certa
minoria para depois conquistar a todos. O problema da arte contemporânea é que ela
permanece impopular mesmo depois de anos de exposições, concertos e apresentações posto
que não é compreendida pelo grande público.
Em nosso entendimento, Ortega tem plena razão quando afirma que a nova arte
não é para todo mundo, como era o caso da arte romântica, por exemplo, e sim dirigida a
uma minoria distinta e privilegiada. O que vemos é que a classe que entende esta arte sentese superior e o homem que não a entende fica como que humilhado perante sua falta de
“tato” artístico ou de inteligência e agudeza cultural para compreender a arte de seu tempo.
A nova arte é inteligível para quase todo mundo porque lhe falta o humano na
ação do artista. Não sendo assim uma arte para todos, mas sim destinada a uma classe
distinta de homens, que teriam o privilégio de entender essa arte.
Para o nosso autor, o prazer estético para a maioria das pessoas acontece quando
uma obra de arte lhe agrada no momento exato em que eles sentem a presença do humano. É
como se os amores, ódios, alegrias dos personagens de um romance, por exemplo, tocassem
o seu íntimo como casos reais da vida.
É precisamente neste o motivo pelo qual a arte do século XIX ter sido popular já
que foi feita para a massa não como arte abstrata, mas como reprodução da vida. Podemos
dizer que em todas as épocas existiram sempre dois tipos diferentes de arte, um para a
maioria, que tende para a abstração e outro para a maioria que é sempre realista.
Isto é o que não ocorrem com a arte contemporânea. Com efeito, percebemos
que o conteúdo humano das obras de arte atuais é tão escasso que acabamos por não notar a
sua presença. Chegamos em um momento em que fazemos uma arte só para os próprios
artistas, e não para o público.
Assim, vemos que o novo estilo tende a uma desumanização da arte, evitando
assim as formas vivas, o humano, já que a obra de arte é considerada apenas objeto artístico
e nada mais, é o que Ortega Y Gasset chama de “arte artística”. O artista passa em seu
trabalho um certo sarcasmo uma certa zombaria não encontrando na nova arte
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transcendência alguma, a arte ficando literalmente sem sentido. Só importa para o jovem
artista é o prazer estético e a sua realização pessoal e não o contato com o público.
A ARTE CONTEMPORÂNEA SEM O HUMANO
Para a arte tradicional há a representação do humano e a continuação real da
vida, no fazer artístico do artista. Já pra os artistas contemporâneos a arte é estilizada
deformando assim o real desumanizando-a, não sendo necessária a presença do humano.
A arte sempre foi vista como um reflexo da vida e a representação do humano.
Para os contemporâneos não é necessário que a obra de arte tenha de consistir no humano.
Ortega ainda afirma que o objeto real não é por nós captado em sua íntegra só o
idealizamos. Se invertermos a realidade e se as idéias forem subjetivas e as realizarmos –
chegaremos a desumanizá-la e desrealizá-la, porque elas são irrealidade.
Concordamos que o pintor tradicional ao retratar uma pessoa não apreenda o real
da pessoa, e sim algo idealizado na mente do artista, é o que Platão diz da arte como uma
imitação de uma imitação.
Entendemos que o expressionismo – expressa as emoções humanas como no
quadro “o grito” de Edvard Munch (1893) como um protesto, horror deformando assim a
figura o humano. O cubismo – as figuras são em forma cilíndricas, cones, como mostrasse
pessoas cortadas (fragmentação dos seres). Sendo impossível o reconhecimento das figuras
na pintura cubista. Estes dois movimentos artísticos mostraram a radicalização da arte, as
paisagens interiores e subjetivas do artista. Essa visão invertida da arte tem a dificuldade do
público em entendê-la.
A FUGA DO QUE É CORPOREO
O novo estilo há uma fuga as formas vivas e a tudo o que é corpóreo, surgindo
assim um outro o geométrico sem sentido e identificação com o público.
O autor afirma que a arte plástica deste novo estilo mostra uma aversão às
formas vivas.
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Segundo Ortega o que chamou a desumanização e aversão às formas vivas
provém dessa antipatia ao tradicional. Concordamos que essa agressão à arte passada é
revoltar-se contra a própria arte, é negar o que a arte fez até agora não foi arte afinal?
A ARTE CONTEMPORANEA E SUA POSIÇAO SECUNDÁRIA
A arte contemporânea está inserida em uma posição secundária ao status que ela
tinha no passado onde era respeitada e tinha seu valor. E não há identificação da massa, do
público em geral com esta nova arte.
Para o homem desta nova geração em geral a arte é algo sem transcendência –
sem importância – em uma posição inferior. Ao compararmos a obra de arte com épocas
passadas, a poesia ou música, eram algo de grande importância para todos, como que
salvadoras dos problemas que afligiam a humanidade. A arte era transcendente e tinha um
certo ar de superioridade que a massa respeitava, hoje se tornou distante, secundária e sem
sentimento algum:
“A aspiração à arte pura não é, como se costuma crer, uma soberba, mas sim, pelo
contrário, uma grande modéstia. A arte, ao esvaziar-se do patetismo humano, fica sem
1
transcendência alguma apenas arte, sem mais pretensão. ”
Notamos que há, na visão de Ortega, uma impossibilidade de purificação da arte.
A arte sem transcendência alguma se torna apenas arte – teoria da arte pela arte, onde tudo é
arte sem nenhuma ambição.
Ortega afirma que a nova arte não produziu até agora nada de excepcional,
extraordinário e quer criar do nada. Mesmo
percebendo que
há erros nesta arte, algo se torna inalterável que é a impossibilidade de voltar atrás. O
caminho para arte não tem como não ser esse desumanizador. Para ele a arte não é possível
dentro da tradição, o artista de hoje espera uma inspiração concreta
CONCLUSÃO
Na obra “a desumanização da arte”, o autor Ortega Y Gasset, em sua filosofia da
arte resolveu escrever sobre a nova época artística. Com isso propôs definir a diferença de
1
ORTEGA . A desumanização da arte. p. 82
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estilo a nova arte e a tradicional. O problema visto por ele é que era estético e partia do
sociológico, que seria a impopularidade da nova arte.
Para ele, toda a arte jovem é impopular. Em todas as épocas, presenciamos que o
novo não é aceito tão facilmente. O estilo novo demora um certo tempo para conquistar a
todos. Quanto ao romantismo como sabemos conquistou com certa rapidez, por ser um estilo
popular, que a todos tocava. Havia, portanto, uma identificação.
Concordamos com a afirmação do autor que a nova arte não produziu até agora
nada de excepcional e quer criar do nada sem uma inspiração aparente. Mas discordamos
que mesmo que haja erros nesta nova arte, que não possa ser inalterável e que não tenha a
possibilidade de voltar atrás. O caminho não tem que ser esse da desumanização da arte, mas
sim a humanização.
Acreditamos na “salvação” da arte contemporânea através da colocação do
humano nesta desumanização artística onde a reflexão, o sentimento e a transcendência
estejam presentes. A possibilidade de melhora da arte contemporânea seria o “romantismo”
e a humanização da arte. Uma volta ao “romantismo” poderia de certa forma humanizar esta
mesma arte contemporânea – com sua diversidade com os pré-requisitos: harmonia,
equilíbrio, habilidade técnica, imaginação criadora, expressão, comunicação, simbolismo,
emoção, sentimento e reflexão.
Referência Bibliográfica
ORTEGA Y GASSET, José. A desumanização da arte. 3. ed. Cortez. São Paulo, 2001.
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