OS PROGRAMAS INFANTIS DE TELEVISÃO E A PROPAGANDA: UM CASAMENTO INDISSOLÚVEL? ORIENTADORA: Dulce Márcia Cruz Bolsista: Custódia Sandréia Martins Heleodoro A programação infantil de televisão nasceu praticamente junto com o veículo. E a propaganda acompanhou essa trajetória. Ainda mais nos dias de hoje, onde o publico infanto-juvenil cada vez mais assume o comando das compras da família. Neste texto estaremos relatando a ligação entre a TV, programação infantil, a criança e a propaganda, parte do que encontramos com estudo: A PROPAGANDA NA PROGRAMAÇÃO INFANTIL DE TELEVISÃO. Uma pesquisa de analise sobre as mensagens publicitárias que acompanham esse tipo de programa: anúncios comercias (intervalos) , recursos narrativos (merchandising) ou não (premiações, cenários, etc,.) colocados no interior do programa para anunciarem produtos. Em uma primeira etapa foram gravados os programas de três emissoras, juntamente com os intervalos e decupados: SBT( Bom dia & Cia, Sessão desenho no Sitio da Vovó, Casa da Angélica, Sérgio Mallandro), GLOBO(TV Colosso) e RECORD(Tarde Criança com Mariane). Embora ainda sem um resultado final os programas foram decupados e analisados, primeiramente, quanto: Quanto aos intervalos : tempo de duração, quantidade de anúncios, número de intervalos, recursos utilizados( animação, computação, jingle). Quanto ao programa: número de blocos, se há auditório, cenário (cores, luzes e formas),merchandising, sorteios, desenhos animados(quanto a distribuição). A posição da pesquisa é saber como são pensados estes programas , como os criadores se dirigem as crianças, que tipo de crianças existem em suas cabeças, que influências os programas sofrem com isso, e que tipos de estratégias a industria cultural usa. OS PROGRAMAS INFANTIS DE TELEVISÃO E A PROPAGANDA: UM CASAMENTO INDISSOLÚVEL? HISTÓRICO Favorecido pelo grande sucesso e entusiasmo do rádio, e com o movimento cultural de São Paulo com lançamentos do Teatro Brasileiro De Comédia , Museus e Bienais, um corajoso paraibano Francisco de Assis Chateubriant Bandeira De Melo, trouxe ao Brasil e inaugurou em 18 de setembro de 1950 a primeira emissora de televisão brasileira: a TV Tupi Difusora de São Paulo, que logo seguiu ao Rio de Janeiro. No discurso de inauguração Assis Chateubriant falou: “... uma máquina que dará asas a fantasia mais caprichosa e poderá juntar os grupos humanos mais afastados”. Se o rádio encantava a todos na época, a TV iluminava cada olhar, o que já era sucesso no rádio veio para a televisão: os programas, os locutores, animadores, músicos, apresentadores, etc. A TV se tornou o rádio com imagem e movimento, ao vivo mas sem cores. Dos americanos vieram os equipamentos, os que queriam ser profissionais aqui tiveram que fazê-lo sozinho. Em 1950 as crianças já podiam se deliciar com o “Clube do Papai Noel”, pois a data de inauguração da TV foi também um marco infantil com imagem e imaginação. Logo vieram o “Cirquinho do Arrelia”, desenhos animados, musicais, séries americanas, programas cômicos e de teleteatro. A principio quase tudo era feito ao vivo , o encantamento era geral ,os anúncios na telinha cresciam junto com a audiência e o número de aparelhos receptores adquiridos. Os anúncios eram em cartões pintados e as locuções feitas em off, estávamos aprendendo a nos adaptar com o novo veículo. CRIANÇAS, TELEVISÃO E PROPAGANDA. Tempos atrás as crianças não eram consideradas consumidores(decisão de compra, porque não trabalham, não efetuam compras. Hoje se admiti que não é assim, pode-se citar um estudo desenvolvido pelo Instituto da Criança, na França (XVI ENANPAD, 92) revelando que metade das despesas da casa dependem diretamente das crianças (até 15 anos), representando um mercado dez vezes maior ao que ela é exclusivamente destinado . Na infância é que começa a formação de conceitos sobre marcas, já podendo apontar entre muitas qual marca é a “mais legal”. Deixando claro que as crianças são consumidores, mesmo que não trabalhem .Elas tem poder de decisão na hora da compra e uma coisa é certa: os pais não obrigam os filhos a usarem o que não querem e comerem o que não gostam (Mercado Global, 99). A pesquisa, PAPAI E MAMÃE VÃO ACABAR FAZENDO O QUE EU QUERO, feita pela MCCANN-ERICKSON, divulgou que quando as crianças são levadas ao supermercado, 91% dos pais admitiram que sempre ou pelo menos na maioria das vezes compram o que elas pedem. Tendo dificuldades de dizer não para as crianças, que passa a controlar a situação. E quando vão a escola 46% delas levam lanche e dinheiro ou somente dinheiro, sendo que a média é de R$ 2,00 na mão de cada criança com mais de 7 anos, um total de R$ 400,00 pôr criança ao ano e uma estimativa da pesquisa apontou que na cidade São Paulo existe pelo menos uma verba de R$ 56 milhões anuais. Movidas pela curiosidade , elas mexem, viram, quebram... querem sempre estarem informados, segundo Laura Bastos algumas chegam a assistir mais de oito horas de programação pôr dia, a média da pesquisa ficou entre 4:23 horas, e expressam ter estrutura psicológica e crítica não estando tão desprotegidas assim diante da televisão. Seja a TV um órgão de vendas disfarçado em entretenimento e informação, como afirmam uns ou um veiculo de entretenimento e informação que vende, como pensam outros. Ela é um eletrodoméstico considerado pelas famílias como de primeira necessidade, mesmo que informalmente. Ocupando um lugar estratégico em seus lares, acessível a todos, já é como alguém da família, e é quase irresistível. As crianças sabem dominar o meio eletrônico, o tamanho e o controle da TV nunca as assustaram, só provocaram maiores curiosidades. Os pais não escolhem o programa que elas vão assistir, para eles é um momento de tranqüilidade, pois os pequenos estão quietos e em casa. Segundo as próprias crianças um bom programa tem que ser divertido, ter muita ação, boa apresentação e ser verdadeiro para prender seu interesse , tem que satisfazer sua curiosidade, mostrar fatos variados, gerar expectativa e despertar sentimentos e emoções (Bastos, 88). Sendo estimulante, ativo , ter gosto de novidade , despertar credibilidade e imaginação. As crianças são tão perspicazes que aprendem rapidamente os nomes dos apresentadores, personagens, as coreografias, músicas, detalhes que possam nos escapar, e mais saem pôr ai cantando um jingle ou imitando uma cena vista., dublam seus ídolos como são menos inibidas. Esses personagens mostrados nos desenhos ou enlatados funcionam como uma espécie de mecanismo de defesa, ela encontra neles uma forma de vencer seus monstros interiores (Propaganda, 454). As agências tem encontrado um pouco de dificuldades; o cuidado para falar com a criança sem ofender sua capacidade de compreensão, não se tornando inferior a sua capacidade crítica, segundo Paulo Ghirotti, diretor de criação: “‘desde que você entre no mundo delas’ ‘...é você tratar ela sem muitos rodeios. E se você falar com ela como se fosse uma criança, ela percebe e rejeita’”. Os programas e as propagandas informam e atualizam, deixando as crianças “por dentro’ de lançamentos e as divertindo. O que supre boa parte das necessidades de lazer e informação, tudo isso dentro de casa. A Propaganda não é só mais apresentar um produto ao publico , não é somente informar que este existe , tem-se que motivar a compra e apontar uma necessidade já existente. Hoje é dizer a coisa certa, do modo certo e na hora certa, tendo um código em comum entre quem fala e quem ouve(Cabral, 91). Ainda segundo ele é o encontro de duas vontades a do fabricantevendedor e a vontade do mercado, com a linguagem certa. A propaganda usa coisas que acontecem para fazerem outras aconteceram, usam uma realidade para provocar uma realidade, não acontece sozinha ela recolhe do espectador subsídios, é um processo que transmite e recebe idéias. OS PROGRAMAS Os programas observados mostraram que em geral as verbas não andam lá essas coisas, os cenários são muito simples há economia até em palavra os apresentadores aparecem poucas vezes, e a maioria deles é superficial. O SBT tem 4 programas, cada um tem um estilo próprio e publico alvo diferente. Sessão Desenho no Sitio da Vovó e Bom Dia & Cia, esses são programas sem a presença de auditório, cenários sem luzes ou cores muito fortes, ambas apresentadoras são acompanhadas por fantoches com quem mantém um dialogo. A apresentadora Eliana, do Bom Dia & Cia, segue estilo menina comportada, veste roupas estilo infantil, fala meigamente, dá ensinamentos educacionais e bilingües, ensina a confeccionar objetos. Já Casa da Angélica e o Sérgio Mallandro são programas com auditório cenários maiores e móveis (relógio que gira ponteiros), colorido intensamente, muitas luzes, som, e animadoras de platéia. Sérgio Mallandro usa paletós coloridíssimos, boné virado, assume o tempo todo sua postura de moleque. Seu programa gira em torno de uma brincadeira ‘a porta dos desesperados’. Angélica apresenta um programa com uma linguagem um tanto adolescente, refletida em seu figurino, e no que fala. Essa emissora usa as vinhetas de abertura para anunciar a entrada da apresentadora na ordem desenho- apresetadora, não como é usada de costume pelas outras emissora programa-comerciais, comerciais-programa. Não é difícil ver durante os comercias, apresentadores anunciando principalmente brinquedos. Dando a sensação que tudo é programa. A rede globo trabalha com a fábula com os personagens : Cães e pulgas. Há muitas estória entre eles, representam muitas situações divertidas. Vivem em uma espécie de relações de comunidade e ambiente de trabalho. Dependendo da trama que vai acontecer é usado um cenário diferente. Possui o maior merchandising de todos os programas, O Jornalzinho Disney , apresentado pelo papagaio personagem brasileiro da Disney Zé Carioca. Nesse programa o desenho animado ocupa 91% do conteúdo do programa , apostando nas animações para segurarem seu publico. BIBLIOGRAFIA BASTOS, Laura . A criança diante da TV. Petropolis, Vozes, 1988. BRANCO, Renato Castelo; MARTENSEN, Rodolfo Lima e REIS, Fernando. História da propaganda no Brasil. SP, T.A. Queiroz, 1990. CABRAL, Plínio. Técnica da Comunicação Industrial e Comercial. SP, Ed. Atlas, 1991. CASTRO, Arlindo. A Televisão no Espaço Doméstico. in INTERCOMRevista Brasileira de Comunição, SP, vol.XVII, n.02, 1994. HALLIDAY, Tereza Lúcia. Informar e Entreter- A grande Simulação da TV. in INTERCOM- Rev. Bras. de Com., SP, vol.XVII, n. 02, 1994. MARCHETI, Renato Zancan. O Triângulo de influência: uma nova metodologia para identificar o processo de influência nas decisões de compras da família. In XVI ENANPAD, ANAPAD, RS, 1992. MEDEZANI, Jocilane e SABINO, Mariana. As Multiplas Linguagens da TV.in Revista Propaganda, n.454 , local e data. SANT’ANNA, Armando. Teoria, Técnica e Prática da propaganda. SP, Livraria Pioneira, 1973. McCANN-ERICKSON. Papai e Mamãe vão acabar fazendo o que eu quero. in Mercado Global, ano XXIII, n. 99, 1996. Eu, Custódia Sandréia Martins Heleodoro, autorizo a INTERCOM a reproduzir e comercializar livre de qualquer contestação autoral de minha parte, o texto em disquete (HELEODOR.doc). Atenciosamente, Içara, 10 de julho de 1996.