PROCESSO SUCO DE LARANJA Reconstituído, enriquecido com cálcio e adoçado artificialmente Liane Maria Vargas BARBOZA1 *, Renato João Sossela de FREITAS, Nina WASZCZYNSKYJ A laranja é uma cultura importante das várias regiões do Brasil, sendo seu consumo baseado principalmente na fruta in natura no mercado interno e na forma de suco concentrado congelado, para o mercado externo. O consumo de laranja no mercado brasileiro vem evoluindo com a presença de grandes empresas agroalimentares na produção de sucos pasteurizados para venda no mercado interno (ESCOBAR; GONÇALVES; CARDOSO, 1999). As perspectivas de aumento do consumo do suco de laranja pronto para beber pelos brasileiros são promissoras. Um dos principais indicadores que confirmam o seu potencial é o consumo per capita, que no Brasil é de 0,8 L/ ano e o seu significativo crescimento nos últimos anos (KALATZIS; ALVES; BATALHA, 1998). O suco de laranja apresenta um bom sabor, além de ser uma boa fonte de vitamina C e nutrientes essenciais, inclusive carboidratos (açúcares e fibras), potássio, folato, cálcio, tiamina, niacina vitamina B 6 , fósforo, magnésio, cobre, riboflavina, ácido pantotênico e uma variedade de componentes fitoquímicos (ECONOMOS; CLAY, 2001). O cálcio é um importante elemento da dieta humana para adequada formação dos ossos e sua manutenção, bem como para outras funções metabólicas, neuro-transmissão, coagulação do sangue e contração muscular (NESTEC, 1999). A deficiência de cálcio pode causar de- (*) Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos – UFPR 28 formidades ósseas, como a osteoporose, osteomalacia, raquitismo, tetania, câncer de cólon e hipertensão (MAHAN, 1994). Segundo MEYER e PARKER (1995), o suco de laranja nutricionalmente enriquecido com cálcio pode ser visto como um veículo adicional para suprir o consumo diário requerido de cálcio. De acordo com a Resolução n. 39, de 21 de março de 2001, da ANVISA do Ministério da Saúde, o valor de referência para porções é a quantidade média do alimento que seria usualmente consumida por pessoas sadias, maiores de 5 anos, em bom estado nutricional, em cada ocasião de consumo, para compor uma dieta saudável, sendo de 200 mL para o suco de laranja (BRASIL, 2001). As bebidas à base de frutas são produtos formulados contendo suco e água, bem como edulcorantes, aromatizantes, corantes e conservantes (GEISE, 1992). Os edulcorantes são um importante componente de sabor em muitas bebidas, reduzem a atividade de água, o que reforça a atividade antimicrobiana. O sabor é somente função da intensidade dos edulcorantes (GIESE, 1992). Edulcorantes sintéticos são aditivos intencionais, usados para promover ou intensificar o sabor adocicado de um alimento, substituindo parcial ou totalmente os açúcares convencionais na elaboração de alimentos destinados a consumidores que necessitam perder peso e a diabéticos que precisam restringir a ingestão de sacarose ou glicose, como os Resumo O enriquecimento de alimentos consiste em repor, suplementar, adicionar ou padronizar nutrientes em teores desejáveis. Os alimentos que são comumente fortificados são os produtos lácteos fermentados, suco de laranja, sucos concentrados, cereais e produtos de arroz. O objetivo do trabalho foi enriquecer uma bebida à base de fruta com cálcio (fosfato de cálcio), que assegurasse o fornecimento de no mínimo 25% da IDR para este nutriente para um indivíduo adulto, utilizando suco de laranja concentrado congelado e adoçado com edulcorantes, tendo como critério de avaliação análises sensorial e físico-químicas. A bebida contendo suco de laranja reconstituído enriquecido com cálcio adoçado com edulcorantes artificiais é um produto pronto para consumo, com baixas calorias, de alto valor nutritivo, sendo diferenciado para atender a consumidores preocupados em manter a saúde e consumir produtos pouco calóricos. BRASIL ALIMENTOS - nº 21 - Agosto/Setembro de 2003 alimentos dietéticos (MARIZ; MIDIO, 2000). A vantagem de usar combinação de edulcorantes é o efeito sinergístico, do atributo doçura, que pode resultar numa redução significante do custo do produto elaborado (WELLS, 1989). Muitas combinações de edulcorantes têm efeito sinergístico, entre eles a combinação de acesulfamo K e sucralose, acesulfamo K e alitame, acesulfamo K e ciclamato, acesulfamo K e aspartamo, acesulfamo K e esteviosídeo, sucralose e ciclamato, aspartamo e sacarina, aspartamo e ciclamato, aspartamo e esteviosídeo, entre outros (WELLS, 1989; VERDI; HOOD, 1993). A sucralose apresenta um perfil de sabor similar à sacarose e sem resíduos desagradáveis, é extremamente estável durante todos os processos de elaboração típicos na indústria de alimentos e bebidas, mantendo o seu sabor original, inclusive ao ser exposto a altas temperaturas, apresentando também estabilidade durante a vida-de-prateleira do produto (McNEIL SPECIALTY PRODUCTS COMPANY; TOVANI BENZAQUEM REPRESENTAÇÕES, 2001). O limite máximo de sucralose para alimentos e bebidas com reduzido teor de açúcar é de 0,025 g/100 mL ou 0,025 g/ 100 g (BRASIL, 2001). A maior porção de dose oral de sucralose não é absorvida e é excretada nas fezes, sendo o excesso eliminado na urina (BAIRD et al., 2000). Em função disso, a sucralose não é calórica e nem cariogênica, tem excelente estabilidade química, tanto no processo como no armazenamento de produtos prontos. É solúvel em água, possui um dulçor entre 400 e 750 vezes maior que o açúcar, dependendo de sua aplicação (JENNER, 1989; GONZÁLEZ, 1999) e das condições como pH, temperatura, concentração e mistura de ingredientes (GONZÁLEZ, 1999). De acordo com a FDA, sugere-se que seja utilizado o valor de 600 vezes para efeito de cálculos no processamento de bebidas (FDA, 1998). Acesulfamo de potássio é um edulcorante artificial não nutritivo e potencializador de sabor, inodoro, apresentado na forma de pó cristalino branco, solúvel em água, ligeiramente solúvel em álcool, com fórmula molecular C 4H 4KNO 4 S (JECFA, 1996e; BUDAVARI, 2001). É usado como adoçante de mesa e para bebidas, preparados de frutas, sobremesas, cereais em café da manhã, gomas de mascar e outros Tabela 1 – Comparação das médias do teste de ordenação de referência de suco de laranja reconstituído enriquecido com fosfato de cálcio (bicálcico) e adoçado com sucralose e acesulfamok Formulação .............. Média das notas F 4 .............................. 1,59 a 1 C1 ............................. -2,01 a 2 C1 .............................. 0,10 a 3 C1 .............................. 0,54 a 4 C1 .............................. 1,37 a 5 C1 .............................. 0,32 a NOTA: Médias com letras iguais não diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade. alimentos (JECFA, 1998f). O acesulfamo K apresenta excelente estabilidade durante o processamento e estocagem de alimentos, prolongando a vida-de-prateleira sem perda de doçura, apresenta um dulçor de 200 vezes mais doce que a sacarose (SMITH, 1991; NUTRINOVA NUTRITION SPECIALTIES & FOOD INGREDIENTES GmbH, 1998). O limite máximo de acesulfamo K para alimentos e bebidas com reduzido teor de açúcares é de 0,026 g/100 mL ou 0,026 g/100 g (BRASIL, 2001). A avaliação sensorial intervém nas diferentes etapas do ciclo de desenvolvimento de produtos; como na seleção e caracterização de matérias primas, na seleção do processo de elaboração, no estabelecimento das especificações das variáveis das diferentes etapas do processo, na otimização da formulação, na seleção dos sistemas de envase e das condições de armazenamento e no estudo de vida útil do produto final (PENNA, 1999). Um alimento, além de seu valor nutritivo, deve produzir satisfação e ser agradável ao consumidor. Isto é result a nte do equi l í brio de difere ntes parâmetros de qualidade sensorial. Em um desenvolvimento de um novo produto é imprescindível otimizar parâmetros, como forma, cor, aparência, odor, sabor, textura, consistência e a interação dos diferentes componentes, com a finalidade de alcançar um equilíbrio integral que se traduza em uma qualidade excelente e que seja de boa aceitabilidade (PENNA, 1999). A NBR 12806 define análise sensorial como uma disciplina científica usada para evocar, medir, analisar e interpre- BRASIL ALIMENTOS - nº 21 - Agosto/Setembro de 2003 tar reações das características dos alimentos e materiais como são percebidas pelos sentidos da visão, olfato, gosto, tato e audição (ABNT, 1993a). As percepções sensoriais dos alimentos são interações complexas que envolvem estes cinco sentidos. No caso, o sabor é usualmente definido como impressões sensoriais que ocorrem na cavidade bucal, como resultado do odor e vários efeitos sensoriais, tais como frio, queimado, adstringência e outros (GEISE, 1995). O objetivo da avaliação sensorial é detectar diferenças entre os produtos baseado nas diferenças perceptíveis na intensidade de alguns atributos (FERREIRA et al., 2000). Contudo, conforme o produto, o atributo sensorial e finalidade do estudo existem recomendações de métodos, referindo a NBR 12994 que classifica os métodos de análise sensorial dos alimentos e bebidas em discriminativos, descritivos e subjetivos (ABNT, 1993b). Os métodos discriminativos estabelecem diferenciação qualitativa e/ou quantitativa entre as amostras e incluem os testes de diferença e os testes de sensibilidade (ABNT, 1993b). São testes em que não se requer conhecer a sensação subjetiva que produz um alimento a uma pessoa, pois apenas se deseja estabelecer se existe diferença ou não entre duas ou mais amostras e, em alguns casos, a magnitude ou importância dessa diferença (ANZALDÚA-MORALES, 1994). São testes muito usados para seleção e monitoramento de equipe de julgadores, para determinar se existe diferença devido à substituição de matériaprima, alterações de processo devido à embalagem ou ao tempo de armazenamento (FERREIRA et al., 2000). O teste de comparação múltipla é um teste descritivo, utilizado para avaliar a diferença e o grau de diferença em relação a um controle, no qual uma a mostra conhecida é a p r e s e ntada (WASZCZYNSKYJ, 1997). Os métodos descritivos podem ser testes de avaliação de atributos (por meio de escalas), perfil de sabor, perfil de textura, análise descritiva quantitativa - ADQ e teste de tempo-intensidade (ABNT, 1993b). Nos testes descritivos procura-se definir as propriedades do alimento e medi-las da maneira mais objetiva possível. Aqui não são importantes as preferências ou aversões dos julgadores, e não é tão impor29 PROCESSO tante saber se as diferenças entre as amostras são detectadas, e sim qual é a magnitude ou intensidade dos atributos do alimento (ANZALDÚA-MORALES, 1994). Na avaliação de atributos dos produtos alimentícios utilizam-se escalas, que determinam a grandeza (intensidade da sensação) e a direção das diferenças entre as amostras, e através das escalas é possível saber o quanto as amostras diferem entre si e qual a amostra que apresenta maior intensidade do atributo sensorial que está sendo medido. O perfil de características é um teste que avalia a aparência, cor, odor, sabor e textura de um produto comercializado ou em desenvolvimento. É amplamente recomendado em desenvolvimento de novos produtos, para estabelecer a natureza das diferenças entre amostras ou produtos, em controle da qualidade (TEIXEIRA; MEINERT; BARBETTA, 1987). Em certos produtos alimentícios, o efeito do tempo na liberação das características sensoriais (do aroma, gosto, textura e mesmo as sensações térmicas e de dor) têm impacto significativo na preferência do consumidor. Os testes afetivos são usados para avaliar a preferência e/ou aceitação de produtos. Geralmente um grande número de julgadores é requerido para essas avaliações. Os julgadores não são treinados, mas são selecionados para representar uma população alvo (IFT, 1981). Os testes afetivos são uma importante ferramenta, pois acessam diretamente a opinião do consumidor já estabelecido ou potencial de um produto, sobre características específicas do produto ou idéias sobre o mesmo, por isso são também chamados de testes de consumidor (FERREIRA et al., 2000). As principais aplicações dos testes afetivos são a manutenção da qualidade do produto, otimização de produtos e/ou processos e desenvolvimento de novos produtos. A escala hedônica é usada para medir o nível de preferência de produtos alimentícios por uma população, relata os estados agradáveis e desagradáveis no organismo. A escala hedônica afetiva mede o gostar ou desgostar de um alimento. A avaliação da escala hedônica é convertida em escores numéricos e analisados estatisticamente para determinar a diferença no grau de preferência entre amostras (IFT, 30 Tabela 2 – Comparação das médias do teste de aceitabilidade-escala hedônica de suco de laranja reconstituído enriquecido com fosfato de cálcio (bicálcico) e adoçado com sacarose, sucralose e acesulfamok Formulação .............. Média das notas F 4 ............................. 4,286 a 1 C1 ............................. 4,143 a 2 C1 ............................. 5,714 a 3 C1 ............................. 6,571 a 4 C1 ............................. 6,571 a 5 C1 ............................. 6,857 a diária recomendada (IDR) para este nutriente para um indivíduo adulto, utilizando suco de laranja concentrado congelado e adoçado com edulcorantes. Material e métodos Material Suco de Laranja Concentrado Congelado NOTA: Médias com letras iguais não diferem significativamente entre si ao nível de 1% de probabilidade. 1981; LAND; SHEPHERD, 1988). O teste de ordenação é um teste no qual uma série de três ou mais amostras são apresentadas simultaneamente. Ao provador é solicitado que ordene as amostras de acordo com a intensidade ou grau de atributo específico (ABNT, 1994; WASZCZYNSKYJ, 1997). O teste de comparação múltipla é utilizado para avaliar a diferença e o grau de diferença em relação a um controle, no qual uma amostra conhecida é apresentada (DUTCOSKY, 1996; WASZCZYNSKYJ, 1997). O objetivo deste trabalho foi enriquecer uma bebida à base de fruta com cálcio (fosfato de cálcio), que assegurasse o fornecimento de no mínimo 25% da ingestão A matéria-prima utilizada para o desenvolvimento da bebida foi o suco de laranja concentrado congelado (SLCC) da variedade valência. A bebida elaborada foi enriquecida para atender a 25% da IDR do nutriente cálcio na forma de fosfato de cálcio (bicálcico) adoçada com sucralose e acesulfamo K acrescida de ácido ascórbico, áci do cítrico, sorbato de potássio e água mineral (BRASIL, 1998; BRASIL, 2001). Métodos Formulações Foram desenvolvidas cinco formulações de suco de laranja enriquecido com cálcio (fosfato de cálcio) e adoçado com diferentes concentrações de sucralose e acesulfamo K, tendo como objetivo atender ao dulçor de 3% de sacarose (formulação padrão). Todas as formulações foram elaboradas para manter o pH abaixo de 4,0 e o conteúdo de sólidos solúveis entre 10,50 e 12,50 ºBrix (BAKER et al., 1991). Análise Sensorial As amostras foram servidas em copos plásticos descartáveis com capacidade para 50 mL, codificados com três dígitos aleatórios, na temperatura de 8 ºC. Os julgadores treinados foram orientados para provarem as amostras da esquerda para a direita e, entre cada amostra, comer biscoito de água e sal e/ou beber água mineral. As amostras foram servidas em cabines individuais com iluminação branca. As formulações desenvolvidas foram submetidas à análise sensorial por meio dos testes de ordenação de preferência, aceitabilidade - escala hedônica e comparação múltipla (ABNT, 19993a; ABNT, 1993b; ABNT, 1994; ABNT, 1998). BRASIL ALIMENTOS - nº 21 - Agosto/Setembro de 2003 PROCESSO Análises FísicoQuímicas As análises físico-químicas foram realizadas em todas as formulações e determinadas de acordo com a AOAC: sólidos solúveis em ºBrix, acidez titulável e pH (AOAC, 1990). Na formul a ç ã o 3 C fora m avaliadas, ainda, a relação de sólidos solúveis em Brix/ acidez em g/100g d e á c id o c í t r i c o anidro, teores de açúcares totais, ácido ascórbico, óleo essencial e cálcio. Resultados e discussão Análise Sensorial Teste de Ordenação de Preferência O teste de ordenação avaliou o atributo doçura das formulações enriquecidas com fosfato de cálcio (bicálcico) e adoçado com sacarose, sucralose e acesulfamo K. A análise de variância mostrou que não houve diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade entre as formulações, como pode ser observado na Tabela 1. Das formulações enriquecidas com cálcio e adoçadas artificialmente com edulcorantes, as preferidas pelos julgadores foram as amostras 3 C1 (0,54) e 4 C1 (1,37) conforme as maiores médias. Teste de Aceitabilidade - Escala Hedônica As formulações foram analisadas pelo teste de aceitabilidade – escala hedônica, que conforme o tratamento dos dados não apresentou diferença significativa ao nível de 1% de probabilidade entre as formulações. Na Tabela 2 pode-se observar as médias deste teste. Como pode ser observado na Tabela 2, as formulações 3 C1 e 4 C1 apresentaram as mesmas médias. A formulação 5 C1 apresentou menor acidez e maior valor da relação ºBrix/acidez, quando comparada com as formulações 1 C1, 2 C1, 3 C1 e 4 C1, conferindo ã formulação as maiores notas no teste de aceitabilidade (6,857). As formulações 3 C1 e 4 C1 apresentaram a mesma acidez, a mesma relação ºBrix/acidez, como também a mesma média no teste de aceitabilidade (6,571). Essas formulações com menor massa de suco e adoçadas com os edulcorantes sucralose e acesulfamo K apresentaram as maiores médias entre as amostras avaliadas. Ainda que a formulação a 5 C1 tenha a maior média, foram as formulações 3 C1 e 4 C1 as escolhidas para a elaboração da formulação da bebida final da bebida proposta. Teste de Comparação Múltipla Realizado o teste de comparação múltipla para a confirmação do teste anterior, os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e suas médias compradas pelo teste de Tukey, conforme está Tabela 3 – Comparação das médias do teste de comparação múltipla de suco de laranja reconstituído enriquecido com fosfato de cálcio (bicálcico) e adoçado com sucralose e acesulfamok Formulação .............. Média das notas 1 C1 ............................. 5,000 a 2 C1 ............................. 6,143 a 3 C1 ............................. 7,571 a 4 C1 ............................. 7,857 a 5 C1 ............................. 6,429 a NOTA: Médias com letras iguais não diferem significativamente entre si ao nível de 1% de probabilidade. BRASIL ALIMENTOS - nº 21 - Agosto/Setembro de 2003 a p re s e ntado na Tabela 3. O resultado pela análise de variância indicou que não houve diferença significativa ao nível de 1% entre as formulações 1 C1, 2 C 1, 3 C1, 4 C1 e 5 C1. O teste de comparação das médias, representado na Tabela 3, indi cou que as formulações 3 C 1 e 4 C1 foram mais semelhantes à formulação padrão F 4, segundo a equipe de julgadores. Como no teste de ordenação de preferência não houve diferença significativa entre as amostras e no teste de aceitabilidade as amostras 3 C1 e 4 C1 apresentaram as maiores médias, selecionou-se a formulação 3 C1,por conter uma quantidade menor de edulcorantes em relação à formulação 4 C 1. Análises Físico-Químicas A formulação 3 C1, escolhida a partir das análises estatísticas dos resultados dos testes sensoriais, foi submetida à avaliação de variáveis físico-químicas. A Tabela 4 apresenta as características físico-químicas da bebida escolhida pelos julgadores. A bebida desenvolvida e mais aceita, segundo a equipe de julgadores, apresentou 12,05 ºBrix a 20 ºC, atendendo à legislação brasileira, que determina o conteúdo de sólidos solúveis mínimo de 10,5 ºBrix a 20 ºC (BRASIL, 2000). Os teores de açúcares totais, óleo essencial e ácido cítrico também atenderam à legislação vigente para o suco de laranja (BRASIL, 2000). O pH é um dos fatores que mais afetam o desenvolvimento microbiano. Estudos realizados por GENERAL MILLS (1998) mostraram que a faixa preferida para alimentos fortificados com cálcio variou de 3,2 a 3,6, e bons resultados também foram obtidos na faixa de 3,2 a 4,6. De acordo com MEYER e PARKER (1995), o pH preferivelmente não deve ser maior que 4,0. A partir dessas reco31 PROCESSO mendações, o pH cial da República Tabela 4 - Características Físico-Químicas da Formulação Selecionada (3C1) das bebidas testaFederativa do Brade suco de laranja enriquecido com fosfato de cálcio (bicálcico) das foi mantido ensil, Brasília, v., n. e adoçado artificialmente com sucralose e acesulfamo K tre 3,58 e 3,81, 6, p. 54-58, 10 de Características Suco de laranja Padrões da legislação utilizando o ácido jan. 2000. Seção 1. enriquecido brasileira cítrico para a [9] BRASIL. MIcom cálcio (Brasil, 2000) a c id i f ic a ç ã o NISTÉRIO DA SAÚ(BAKER et al., DE. Resolução n. Sólidos solúveis em º Brix a 20 º C 12,05 Mín. 10,5 1998; GENERAL 39 de 21 de março Relação de sólidos solúveis em 12,86 Mín. 7,0 MILLS, 1998). de 2001. Dispõe ºBrix/acidez em g/100g de ácido cítrico anidro O teor de ácido sobre a Tabela de Açúcares totais (%) 7,55 Máx. 13,0 ascórbico (vitamina Valores de ReferênÁcido ascórbico (mg/100 g) 123,55 Mín. 25,00 C) diminuiu durancia para Porções de te o processamenAlimentos e Bebidas Óleo essencial de laranja %(v/v) 0,015 Máx. 0,035 to. Essa diminuição Embalados para Fins pH 3,58 no teor de vitamide Rotulagem Cálcio (mg/100mL) 100 na C pode estar reNutricional. Dispolacionada com a nível: em:<http:// temperatura de pasteurização empregada, [3] ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRADE w w w. a n v i s a . g o v. b r / l e g i s / r e s o l / passagem de luz através da embalagem e NORMAS TÉCNICAS. 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