1 ESTUDO DA FUNÇÃO QUADRÁTICA PARA ALUNOS SURDOS DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO: ALGUMAS REFLEXÕES DE UMA PROFESSORA DE MATEMÁTICA, APÓS A APLICAÇÃO DO SOFTWARE GEOGEBRA Alessandra Maria de Souza Santos Mariz Profª do CEM 02 de Ceilândia – SEDF [email protected] Cleia Alves Nogueira Mestranda do PPGE da Universidade de Brasília [email protected] Resumo Este resumo apresenta a experiência de uma professora de Matemática de sala de recursos de alunos surdos, no Ensino Médio. A professora participou no primeiro semestre de 2013 de uma formação continuada para utilização do software Geogebra como ferramenta pedagógica, oferecida pelo Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) de Ceilândia-DF, que tem como principal atribuição a formação continuada de professores para utilização dos recursos tecnológicos disponíveis nas escolas, em especial, os laboratórios de informática do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo). Durante o curso, a professora conheceu as principais ferramentas e aplicações do programa Geogebra em sala de aula e, na atividade final do curso, utilizou o software com seis alunos, no laboratório de informática, abordando a Função Quadrática em três aulas. Como resultado, percebeu que o programa auxiliou os alunos a construírem o conceito real de uma Função Quadrática e o estudo de seus gráficos. Palavras-chave: Função Quadrática, Tecnologia, prática docente. Introdução Cada vez mais é possível perceber a distância entre a escola e os avanços que acontecem no mundo. A necessidade de mudança da escola se faz urgente e o professor, sem dúvida nenhuma, é o principal agente deste processo de mudança. Para que isso ocorra, o professor precisa se sentir preparado para atuar neste momento com segurança, de maneira a orientar seus alunos na construção de seus conceitos, deixando a concepção transmissiva de conteúdo em que o conteúdo é estático e, na maioria das vezes, descontextualizado, para uma construção significativa e, na maioria das vezes, colaborativa. Diante disso temos a disposição variados recursos que podem enriquecer o processo de ensino-aprendizagem da Matemática, principalmente no trabalho com alunos surdos. O uso do computador pode enriquecer este processo com a ajuda de softwares que venham de encontro aos conteúdos ministrados. D’Ambrosio (2002, p. 80) afirma que “temos com o auxílio da 2 informática e com o crescente ramo de programação, vários softwares que possuem o objetivo de aprender, ensinar e se trabalhar com a Matemática. Informática e comunicações dominarão a tecnologia educativa do futuro”. No entanto, para usar com qualidade estes softwares o professor precisa ser capacitado e precisa sentir-se seguro para fazer o uso adequado destas ferramentas. Kenski (2007, p.43) nos coloca a par da importância desta formação para que de fato o processo de ensinoaprendizagem aconteça com qualidade: Não basta adquirir a máquina, é preciso aprender a utilizá-la, a descobrir as melhores maneiras de obter da máquina auxílio nas necessidades de seu usuário. É preciso buscar informações, realizar cursos, pedir ajuda aos mais experientes, enfim, utilizar os mais diferentes meios para aprender a se relacionar com a inovação e ir além, começar a criar novas formas de uso e daí, gerar outras utilizações. Essas novas aprendizagens, quando colocadas em prática, reorientam todos os nossos processos de descobertas, relações, valores e comportamentos. No caso dos alunos surdos, o professor antes de procurar recursos materiais e tecnológicos para enriquecer suas aulas, precisa ainda conhecer a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e tentar ao máximo, tornar as aulas mais visuais, já que é uma necessidade básica de todos os alunos e, em especial, dos alunos com surdez. “[...] o termo ‘surdo’ é aquele com o qual as pessoas que não ouvem referem-se a si mesmos e a seus pares. [...], utilizando-se de estratégias cognitivas e de manifestações comportamentais e culturais diferentes da maioria das pessoas que ouvem. (SÁ, 2002, p.49). Com o objetivo também de ajudar alunos surdos no seu processo de inclusão escolar é necessário que docentes, juntamente com toda a equipe escolar, estejam atentos às novas necessidades que surgem de forma a auxiliar este aluno em seu processo de aprendizado. [...] uma escola procede, permanentemente, à mudança do seu sistema de ensino, adaptando suas estruturas físicas e programáticas, suas metodologias e tecnologias e capacitando continuamente seus professores, especialistas, funcionários e demais membros da comunidade escolar [...] (SASSAKI, 2002, p.17). Com o intuito de atender melhor os alunos surdos de uma escola de Ceilândia-DF, os docentes participam de vários cursos de formação para melhorar o processo de ensinoaprendizagem. Além dos cursos, esta escola participa do Programa Nacional de tecnologias na Educação (Proinfo), que tem como objetivo, promover o uso pedagógico da informática na 3 rede pública de educação básica, criado pela portaria nº 522/MEC, de 9 de abril de 1997. O programa leva às escolas computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais. Em contrapartida, estados, Distrito Federal e municípios devem garantir a estrutura adequada para receber os laboratórios e capacitar os educadores para uso das máquinas e tecnologias. Para que a formação de professores de fato aconteça nos estados e no Distrito Federal, o Proinfo conta com os Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE), estruturas destinadas à formação continuada de professores da regional de sua abrangência na introdução das TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação) no processo ensino-aprendizagem, bem como na orientação e no acompanhamento dos projetos existentes nas Instituições de Ensino (IE). Dentre estas atribuições, o NTE da cidade de Ceilândia-DF, realizou no primeiro semestre de 2013, uma formação para professores de Matemática utilizarem o software Geogebra como ferramenta pedagógica. O curso foi ministrado na modalidade a distância, na plataforma virtual de aprendizagem e-Proinfo, com carga horária de 90 horas. Durante o curso, os docentes tiveram a oportunidade de conhecer as ferramentas básicas do software e suas possíveis aplicações. Como avaliação final, cada docente escolheu uma atividade estudada, para ser aplicada com seus respectivos alunos e compartilhada com os demais cursistas no último encontro do curso. Metodologia Na sala de aula inclusiva o professor regente ministrou o estudo da Função Quadrática e de seus gráficos, o qual foi traduzido pela Intérprete de Língua de Sinais (ILS) aos alunos surdos. Mesmo após o professor regente esclarecer algumas dúvidas dos alunos surdos, estes ainda permaneceram com alguns questionamentos. Ele percebeu que os alunos surdos apresentavam dificuldades para desenhar e interpretar os gráficos da Função Quadrática. Buscando elucidar as dúvidas levantadas pelos alunos, o professor regente solicitou à professora da sala de recursos, uma estratégia para que o estudo da Função Quadrática fosse melhor compreendido pelos mesmos. Sendo assim, a professora apresentou-lhe o software Geogebra e suas aplicações, sugerindo utilizá-lo, com os alunos, no laboratório de informática da escola. A partir daí, o professor aceitou a parceria e aprovou a ferramenta pedagógica para que fosse utilizada com os alunos surdos, mediante o auxílio da professora da sala de recursos. 4 Para iniciar a aula, a professora fez uma breve apresentação da Função Quadrática em sala de recursos em LIBRAS. Os alunos fizeram questionamentos tais como: Para que servem os termos a, b e c da Função Quadrática? Por que preciso utilizar a fórmula de Báskara que aprendi no 9º ano? Pra que servem as raízes? Por que preciso utilizar o x (abscissa) para encontrar o y (ordenada) no plano cartesiano? Por que vou fazer um gráfico, se eu não gosto e não consigo desenhá-lo? Depois de trabalhados os pontos essenciais e construído o gráfico no papel para a compreensão da função abordada em sala de recursos para surdos, os alunos foram convidados a irem ao laboratório de informática da escola. No laboratório, a professora deu início às atividades realizando as seguintes etapas: - Exposição e explicação, em LIBRAS, do significado de cada ferramenta do software Geogebra para efetivar a construção do gráfico da Função Quadrática estudada; - Orientação da construção do gráfico da função abordada no software Geogebra acompanhando-os individualmente, conforme suas necessidades cognitivas; - Indagação e demonstração de outros tópicos envolvidos no conteúdo da Função Quadrática visualizando-os no software Geogebra. Considerações Finais Para que ocorra o aprendizado do aluno surdo, o educador regente deve desenvolver o currículo com as “devidas adaptações linguísticas” auxiliado pelos especialistas do Atendimento Educacional Especializado (AEE), da Sala de Recursos de Surdos, utilizando “metodologia e didática diferenciadas, com atividades bem contextualizadas, vivenciadas e com apoio de muito recurso visual”: Os alunos surdos baseiam-se mais nas pistas visuais que nas auditivas. A utilização, em sala de aula, de recursos visuais adequados facilita sobremaneira a compreensão e a aprendizagem significativa deste aluno (LIMA, 2006, p. 51). Geralmente o uso de pistas visuais não é empregado nas salas de aula inclusivas, mas é praticado nas salas de recursos com materiais e recursos visuais (representados no quadro branco, impressos e/ou visualizados em notebooks e laboratório de informática) confeccionados por especialistas do AEE e pelas ILS. 5 Diante da necessidade do surdo pelas pistas visuais, o professor regente de sala inclusiva, tomou conhecimento de uma estratégia visual adequada à compreensão da Função Quadrática pelos alunos, juntamente à professora da sala de recursos. Esta fez a apresentação da Função Quadrática para seus alunos com a utilização do software Geogebra, os quais relataram ter compreendido os conceitos matemáticos de forma mais fácil e prazerosa. Uns relataram que não possuíam habilidade para lidar com a régua e que, utilizando o Geogebra, puderam demonstrar e visualizar o que aprenderam e representaram graficamente o que aprenderam com mais facilidade e que, manualmente, sentiram mais dificuldade. Os alunos ainda exploraram outras possibilidades disponíveis no Geogebra de maneira a entender graficamente o comportamento da função quando o termo a assumia o valor positivo ou negativo, observando assim, o sentido da sua concavidade, suas raízes, pontos de mínimo e de máximo. Diante deste relato é possível observar a importância do visual e de uma ferramenta tecnológica como o software Geogebra, para enriquecer o processo ensino-aprendizagem do aluno surdo, uma vez que este recurso pode despertar sua criatividade e sua vontade de aprender de forma mais significativa e prazerosa. Referências D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação matemática: da teoria à prática. 9ª ed. Campinas: Papirus, 2002. KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas: Papirus, 2007. LIMA, Daisy Maria Colett de Araújo Lima et al. Educação Infantil: saberes e práticas da inclusão: dificuldades de comunicação e sinalização: surdez. 4. ed. Brasília: Secretaria de Educação Especial, 2006. SÁ, Nídia Regina Lima de. Cultura, poder e educação de surdos. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2002. SASSAKI, R. K. A escola para a diversidade humana: um novo olhar sobre o papel da educação no século XXI. In: GUIMARÃES, T. M. (Org.). Educação inclusiva: construindo significados novos para a diversidade. Belo Horizonte: SEE/MG, 2002, p. 15-24. Lições de Minas.