ENSINAR E APRENDER GEOGRAFIA COM ALUNOS SURDOS: ALGUMAS ATIVIDADES NO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Dirlene A. Costa Gonçalves Professora Escola para Surdos Dulce de Oliveira, Uberaba-MG. [email protected] Filipe Neri Estudante Geografia. GPEEE- UFTM [email protected] Fabiana Elias Marquez Professora Escola para Surdos Dulce de Oliveira, Uberaba-MG. Adriany de Ávila Melo Sampaio Professora Geografia. GPEEE- LEGEO- IG- UFU [email protected] Antônio Carlos Freire Sampaio Professor Geografia. GPEEE- UFTM [email protected] INTRODUÇÃO Este trabalho foi realizado em uma escola de surdos com a presença de uma professora ouvinte, uma professora de Geografia surda, um estudante do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, a colaboração de uma Professora Surda, e a orientação de dois professores universitários, que trabalham com a formação docente. Todos tinham a preocupação de ensinar e aprender Geografia com os alunos surdos de forma interessante e maior compreensão. A presença das Professoras Ouvinte e Surda permitiu ao aluno surdo uma aprendizagem geográfica bilíngue. Essa atividade permitiu ao aluno surdo uma melhor compreensão da localização por meio dos sinais de cada continente, oceanos, paralelos e meridianos no globo terrestre. UMA ESCOLA PARA SURDOS A Escola para Surdos Dulce de Oliveira foi criada por sua idealizadora Dulce de Oliveira em 15 de Janeiro de 1956, com a finalidade de promover o ensino e a educação das pessoas surdas a partir da educação infantil ao ensino fundamental. Nesse sentido, a Escola Dulce de Oliveira durante 50 anos sempre buscou a qualidade na educação das pessoas surdas. Por se tratar da educação de estudantes surdos, o currículo parte de uma perspectiva visual-espacial. Os conteúdos curriculares são apresentados aos alunos (pelos professores surdos e ouvintes) por meio da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – a língua natural do surdo. Nesse sentido, citam-se a experiência linguística e as peculiaridades da cultura surda, que de acordo com Quadros (2006) é específica, pois se traduz de forma visual. Para o currículo sugere-se que: garanta a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, como instrumento formal do ensino, entendida como meio e fim da interação social, política e científica, já que o processo educacional ocorre mediante interação linguística; favoreça o aprendizado da língua portuguesa oficial do país – como segunda língua (leitura e escrita); inclua a Língua de Sinais como disciplina curricular desde a Educação Infantil até o Fundamental; valorize a arte surda como patrimônio histórico, científico, cultural e artístico. Acredita-se em um currículo aberto às reflexões, por meio do diálogo que instiga e suscita aprendizagens evidenciando o que o aluno surdo gostaria de realizar para sua satisfação pessoal e ascensão social e econômica e assim, possa participar da sociedade cada vez mais competitiva e excludente. O ENSINO DE GEOGRAFIA EM LIBRAS Para os estudantes surdos aprenderem Geografia é preciso um trabalho em que se valorize a memória visual, com diversos recursos, como: figuras, imagens de diferentes paisagens, fotos, revistas, jornais, livros com sinais em LIBRAS e também com o auxílio de uma professor/a surdo/a para que o entendimento seja melhor e mais amplo. Outro obstáculo que atrapalha o aprendizado da Geografia pelos alunos surdos, é a falta de domínio da Língua Portuguesa e também da língua natural dos mesmos, a LIBRAS. Uma das alternativas para driblar essas é durante a aprendizagem de Geografia, o professor explorar, de todas as maneiras, os conceitos geográficos e fazer uma ligação com a realidade dos alunos surdos. Ou seja, a aula de Geografia para os alunos tem que ser o mais visual possível, o que de fato é interessante para qualquer aluno, porque quando a pessoa vê a imagem de um determinado conceito, ela aprende muito mais do que só repetir palavras. Trazer para as aulas dos alunos surdos, mapas conceituais, fluxogramas, organogramas, fotos, gravuras, desenhos, maquetes, entre outros, a aula torna-se mais interessante para eles, assim, com esses recursos visuais a percepção dos alunos surdos é maior e o seu entendimento da matéria também é melhor. Uma das atividades realizadas com o 6o ano do Ensino fundamental foi a Localização Geográfica abrangendo Pontos Cardeais, Pontos Colaterais, Paralelos, Meridianos e Oceanos; juntamente com a professora surda fazendo os sinais e localizando no globo cada continente, oceanos, ilhas, principais paralelos e meridianos. Todos os alunos da graduação do curso de Licenciatura em Geografia têm noção do tanto que é importante os trabalhos de campo, então, os professores de Geografia dos alunos surdos também sabem disso, e o trabalho de campo poderia ser utilizado sempre que for possível. ATIVIDADES DE GEOGRAFIA DESENVOLVIDAS COM OS ALUNOS SURDOS Em onze aulas, sendo três aulas semanais, na turma de 6o ano, foram trabalhados temas como: Paralelos e Meridianos, Latitudes e Longitudes, Coordenadas Geográficas, os nomes dos continentes e suas localidades e as principais zonas climáticas de todo o mundo.Nesse tempo foram realizadas seis atividades para melhor entendimento das crianças: Confecção do Globinho, Mapa Mundi, Latitude e Longitude, Zonas Térmicas e Quebra-cabeça Geográfico. Atividade 1: Confecção do Globinho Para a organização do Globinho foram usados: uma bola de isopor de 7,5 mm, cola, tesoura, lápis de cor, e a folha com o Mapa do Mundi. O primeiro passo foi colorir o mapa e recortá-lo, para que fosse colado na bola de isopor. Os continentes, presentes no mapa foram coloridos de verde, as águas dos continentes e dos rios foram coloridos de azul. Após essa colagem, os alunos tiveram que passar com canetinhas coloridas, as principais linhas imaginárias, que são os paralelos e os meridianos. Essa atividade foi o início das outras atividades que seriam trabalhadas, com o objetivo de que os alunos surdos tivessem uma melhor compreensão do espaço mundial, por meio da localização dos continentes, e oceanos. Figura 1: Alunos segurando seus globinhos depois de pronto. Fonte: NERI, Filipe, 2011. Atividade 2: Mapa Mundi Nessa atividade foi apresentado aos alunos outro Mapa Mundi, o qual eles deveriam colorir os continentes e todas as porções de terra de verde, e tudo que era água seria colorido de azul, esse foi o primeiro passo da atividade. Na segunda etapa pediu-se para que escrevessem em seus devidos lugares os nomes dos principais meridianos e dos paralelos. Figura 2: Mapa Mundi trabalhado com os alunos surdos. Fonte: Adaptado de Bigotto (2009) Figura 3: Mapa trabalhado com as Latitudes e as Longitudes. Fonte: Adaptado de Bigotto (2009) Atividade 3: Latitude e Longitude Com o auxílio do computador e do Data show foi mostrado um novo mapa, onde estavam marcados oito pontos, que podiam ser países ou continentes. Assim, os alunos foram identificando cada latitude e cada longitude de cada ponto. Paralelamente foram apresentados aos alunos surdos fotos dos locais localizados no mapa. Atividade 4: Zonas Térmicas Após a explicação sobre as Zonas Térmicas da Terra, foi solicitado aos alunos surdos que colocassem as três Zonas Térmicas presentes na terra, de acordo com a legenda, na qual em vermelho seriam as Zonas Tropicais, em amarelo as Zonas Temperadas, e em verde as Zonas Frias. Para os alunos surdos, esse tópico que há na Geografia, não foi tão difícil, eles sabem bem onde fica cada Zona Térmica da Terra. Figura 4: Mapa utilizado na Atividade de localização das Zonas Térmicas. Fonte: Adaptado de Bigotto (2009) Atividade 5: Quebra-cabeça Geográfico Ao observar que os alunos ainda estavam com dificuldades para aprender as localidades corretas, foi proposto a atividade do Quebra-cabeça Geográfico, onde cada aluno recebeu em uma folha o desenho de um continente, que ele deveria colorir e recortar para que fosse possível colar em uma grande cartolina. Após todos os continentes em seus devidos lugares, foram marcados os principais Paralelos e os Meridianos e revisto os sinais correspondentes. Atividade 6: Atividade de fixação de toda a matéria Essa atividade foi elaborada para ver se os alunos surdos conseguiram fixar toda a matéria trabalhada durante esse período. Nela havia quatro questões, que abordava os Pontos Cardeais na Rosa dos Ventos, todos os nomes dos Meridianos, Paralelos, Oceanos e Continentes, uma questão somente de Latitude e Longitude, e a última que era para colorir em um determinado mapa, as Zonas Térmicas do mundo. Essa atividade foi avaliada em cinco pontos, onde cada aluno errou pouco. Com essa atividade pode-se concluir que todos eles compreenderam bem a matéria trabalhada. Figura 5: Quebra-cabeça geográfico. Fonte: Adaptado de Bigotto (2009) CONSIDERAÇÕES FINAIS Presenciar durante esse tempo as aulas de Geografia do 6o ano do Ensino Fundamental foi de grande importância para que todos pudessem aprender a como ensinar Geografia para alunos surdos, a como preparar material para eles e a como se portar na da sala de aula própria para surdos. Ver o crescimento desses alunos foi de grande satisfação, onde pode-se observar que os alunos aprenderam o conteúdo ministrado durante esse tempo. REFERÊNCIAS INES, Instituto Nacional de Educação de Surdos. Atlas Geográfico Interativo Bilíngue – LIBRAS / Português. Rio de Janeiro: INES, MEC, 2008. BIGOTTO, José Francisco. Geografia sociedade e cotidiano: fundamentos do espaço geográfico. 6o ano / José Francisco Bigotto, Márcio Abondanza Vitiello, Maria Adailza Martins de Alburquerque. 2ª edição. São Paulo: Escala Educacional, 2009. SAMPAIO, Adriany de Ávila Melo. SAMPAIO, Antônio Carlos Freire. Ler o mundo com as mãos e ouvir com os olhos. Reflexões sobre o Ensino de Geografia em tempos de inclusão. Uberaba: Vitória. 2011. .