DESAFIOS NA INCLUSÃO DOS SURDOS E O INTÉRPRETE
DE LIBRAS
Fabiana Barros Oliveira
*
RESUMO
Objetivamos, com este artigo, apresentar dados de observações e
pesquisas bibliográficas relacionadas à inclusão de alunos surdos no
ensino regular com o intérprete de LIBRAS. Como embasamento
teórico, analisamos diversos aspectos referentes às políticas públicas de
inclusão na área da surdez; verificamos como deve acontecer a inclusão
desses alunos, segundo as leis e comparamos com a realidade das
escolas, como vem acontecendo de fato a inclusão. Para isto, realizamos
entrevistas numa escola estadual com educação inclusiva para alunos
surdos, com: professores de alunos surdos, pedagogos, intérprete de
libras, alunos surdos, alunos ouvintes e familiares dos alunos surdos.
Através da análise dos dados obtidos nas entrevistas podemos verificar
as conquistas, as dificuldades e os desafios que os profissionais da escola
inclusiva precisam enfrentar para vencer. Mostramos a importância do
AEE (Atendimento Educacional Especializado), de trabalhar em união
com o ensino regular na educação dos surdos. Por fim, fazemos uma
reflexão a respeito da importância do Tradutor / Intérprete de libras
educacional e seu papel na educação dos surdos, com respaldo na lei nº
12.319 que regulamenta essa profissão e como vem sendo desenvolvida
a formação do Intérprete de libras e dos professores no contexto da
inclusão.
Palavras-chave: Educação de surdos. Intérprete de Libras. Inclusão.
Introdução
A proposta de artigo está fundamentada em pesquisas
bibliográfica, de sites inclusivos e apresentar resultados de pesquisa de
* Especialista em Libras; Tradutora/ Intérprete de Libras em escolas da Rede Estadual de Ensino; Pósgraduada em Educação Especial: educação Biligue para surdos. Professora de Libras no Ensino
Superior; licenciada em Pedagogia – licenciatura plena pela FAFIMAN. E-mail: [email protected].
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campo realizada numa escola com educação inclusiva para surdos de
rede pública estadual de ensino. Para tanto, serão realizadas entrevistas
com: professores de alunos surdos, pedagogos, intérpretes de libras,
alunos surdos, alunos ouvintes e familiares dos alunos surdos. Nosso
objetivo é o de compreender os fatores envolvidos na educação dos
alunos surdos, comparando as teorias abordadas nos livros sobre
inclusão e sobre a educação de surdos com o que acontece na prática. Em
seguida, através da pesquisa de campo, pretendemos verificar as
conquistas, as dificuldades e também os desafios da escola inclusiva para
surdos.
Inicialmente faremos uma reflexão sobre alguns aspectos de
Inclusão em Educação, a qual chegou para reafirmar o maior princípio já
proposto internacionalmente: o princípio da educação de qualidade
como direito de todos. Princípio este, que foi oficialmente formalizado
na Declaração Mundial sobre “Educação para Todos”, necessidades
básicas de aprendizagem na Conferência de Jomtiem, Tailândia, 1990.
Desde então, ele tem sido estudado e monitorado por comissões
internacionais, que visam promover estudos que forneçam informações
sobre o estado de arte da educação nos países em geral, especialmente na
garantia de participação e permanência de seus cidadãos nos sistemas
educacionais.
Abordaremos as conquistas que os surdos têm alcançado, e de
que modo vem acontecendo a educação escolar inclusiva para alunos
surdos nas escolas regulares, com o intérprete de libras. Falaremos da
importância da continuidade do trabalho nos CAS – Centro de Apoio aos
Surdos e profissionais da educação de surdos, também conhecidos como
AEE – Atendimento Educacional Especializado, e da importância do
Intérprete de Libras na educação dos surdos nas escolas inclusivas, do
papel do Intérprete educacional, e da regulamentação da profissão do
Intérprete, lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, entre outras leis
importantes que tentam melhorar a educação dos surdos no país.
Ainda explanaremos a respeito da formação dos professores no
contexto da inclusão; apresentando a entrevista realizada com
profissionais da educação de surdos na escola inclusiva e o que pensam
os alunos ouvintes, surdos e seus familiares a respeito da educação
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inclusiva a fim de chegarmos aos resultados e análises dos resultados
obtidos durante entrevista.
Aspectos sobre Inclusão dosAlunos Surdos na Escola Regular
Com relação à Inclusão de alunos surdos nas escolas regulares,
foco deste artigo, mesmo os discursos e políticas reconhecendo a
especificidade linguística dos surdos, valorizando o uso da língua de
sinais, podemos analisar na prática como a escola inclusiva contribui
para afirmação da igualdade e da diferença, considerando que nas
escolas regulares predominam as manifestações culturais dos ouvintes,
por serem minoria os alunos surdos.
Em se tratando de Educação Inclusiva, a escola inclusiva deve
atender às necessidades de “todos” e quaisquer alunos, nessa escola, as
atitudes enfatizam uma postura não só dos educadores, mas de todo o
sistema educacional. Uma instituição educacional com orientação
inclusiva é aquela que se preocupa com a modificação da estrutura, do
funcionamento e da resposta educativa que se deve dar a todas as
diferenças individuais, inclusive às associadas a alguma deficiência em
qualquer instituição de ensino, e em todos os níveis de ensino.
Partindo da análise acima, cabem a nós algumas perguntas que
tentaremos responder ao decorrer deste artigo, que são: Como construir
uma Escola Inclusiva para Surdos que realmente funcione na prática? O
governo oferece cursos de formação continuada na Área da Surdez aos
professores, intérpretes e funcionários das escolas? Quando oferece,
como acontecem esses cursos? Esses cursos são acessíveis a todos? O
MEC desenvolve materiais (livros, mapas geográficos, explicativos de
ciências, entre outros) adaptados em língua de sinais para facilitar o
ensino e aprendizagem dos alunos surdos? Como a escola garante o
direito de seus alunos à aquisição da Língua de Sinais como L1 (língua
materna, primeira língua) e a aprendizagem da Língua Portuguesa como
L2 (segunda língua), de acordo com as recomendações dos documentos
oficiais?
Diante desses questionamentos, pudemos observar o dia-a-dia do
trabalho em sala de aula dos Intérpretes de LIBRAS e analisar
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acontecimentos, tanto no que se refere às melhorias dentro da escola
inclusiva na educação dos surdos, no tocante à própria presença do
Intérprete de Libras quanto às dificuldades e aos desafios a serem
conquistados a fim de melhorar a inclusão dos alunos surdos, e, também,
a profissionalização do Intérprete educacional.
Uma das principais implicações que atrapalham o
desenvolvimento e o bom funcionamento das escolas inclusivas é a
quantidade de alunos por sala, pois seriam necessárias turmas com
menos alunos em sala, de forma a facilitar o ensino por parte dos
professores, com o apoio do intérprete de LIBRAS. Também
observamos que há professores cuja formação deixa a desejar, além da
falta de materiais didáticos adaptados na língua de sinais. Desta forma,
mesmo se falando tanto em “Inclusão”, podemos ver que os próprios
sistemas políticos, os quais organizam o ensino, não contribuem para
efetivar realmente a inclusão desses alunos.
A Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96 da educação especial vem
se desenvolvendo como uma modalidade de educação escolar, que visa
promover o desenvolvimento das potencialidades de pessoas que
apresentam necessidades educacionais especiais. Trata-se de um
processo educacional definido por uma proposta pedagógica que deve
assegurar um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais,
organizados institucionalmente para apoiar, complementar e, em alguns
casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a
educação escolar.
Em nosso caso, a necessidade educativa especial dos alunos
surdos é o Intérprete de libras na escola regular, mais o letramento que
deve ser ofertado a eles nos CAS – Centro de Apoio aos Surdos, ou em
salas de recurso no período do contraturno nas escolas regulares, com
professores que saibam LIBRAS. E claro que também precisamos de
materiais didáticos específicos, tais como: livros em língua de sinais e
em língua portuguesa; computadores com acesso a internet e com
software dicionário de LIBRAS, entre outros.
Muitas cidades pequenas não possuem os serviços de letramento
aos surdos, e necessitariam encaminhar seus alunos as outras cidades que
possuem o CAS. Porém, a maioria acaba por ficar sem esse atendimento
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devido às dificuldades de acesso e à falta de informações da própria
escola.
Aquisição da Linguagem Humana e Língua de Sinais
A Linguagem é o que nos torna humanos. É ela que comanda o
desenvolvimento da mente, e não depende da fala nem da audição. É um
fenômeno mental, como acontece nas crianças surdas, a linguagem surge
naturalmente. A psicóloga Úrsula Bellugi realizou uma pesquisa com um
grupo de surdos no Instituto SALK, nos EUA, a fim de estudar a
linguagem, independente do sistema de transição, que, no caso dos
surdos, a transmissão é feita pelas mãos ao invés da voz, e a recepção é
pelos olhos e não pelos ouvidos.
Úrsula tornou-se especialista no uso das línguas de sinais, e ficou
muito conhecida entre os surdos. Seu estudo concentrou-se na chamada
Língua de Sinais Americana (ASL) usada pelos surdos, sem influência
da linguagem falada. Para analisar cada gesto da língua de sinais, os
pesquisadores utilizaram: luzes, cores e computadores.
Como mostra o vídeo Aquisição da Linguagem e Língua de
Sinais, a experiência começa na filmagem de uma voluntária surda, na
qual, nas articulações das mãos, foram presas pequenas lâmpadas. Em
seguida, as formas traçadas pelas lâmpadas são analisadas por um
computador. O estudo dessas formas mostra que a linguagem de sinais
tem uma gramática com regras próprias, em que pequenas diferenças nos
movimentos correspondem a mudanças de funções nas palavras,
conforme explica Úrsula, utilizando como exemplo, os sinais de
SENTAR e de CADEIRA. Antes, pensava-se que a forma era a mesma,
mas há uma pequena diferença no movimento. Também para a forma do
sinal do verbo COMPARAR, do substantivo COMPARAÇÃO (C. M em
B ou a aberta estendida e M. alternado para frente e trás), ou para se
COMPARAR detalhes (C. M. em B apontando para o objeto, e M.: frente
e trás com uma perceptiva diferença no movimento), cujos movimentos
dependem do objeto a que se está comparando; e ainda outro exemplo
são os sinais dos adjetivos BONIT@ (C. M.: em 5, ou mão aberta, P. A:
frente ao rosto, e M.: fechando os dedos, acompanhados da Exp. F. de
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alegre); e VAIDOS@ (C. M. idem ao BONIT@, porém se repete por três
vezes). O que difere os significados desses dois adjetivos são os
movimentos, e a expressão fácil de VAIDOS@ se torna mais aguçada do
que em BONIT@.
Exemplo: sinal de SENTAR / CADEIRA
Fonte: Extraída da apostila Curso básico de libras, www.surdo.org
Em outra experiência, foram colocados sensores para registrar as
ondas cerebrais de uma surda enquanto ela fazia sinais, o objetivo era
saber se o cérebro das pessoas surdas é diferente dos cérebros das pessoas
ouvintes, e descobriram que não, assim como nos cérebros das pessoas
ouvintes é no hemisfério esquerdo que os surdos processam a linguagem.
Embora a percepção dos movimentos seja feita pelo lado direito do
cérebro, todos os sinais são enviados para o centro da linguagem do lado
esquerdo, no cérebro não há diferença.
Segundo Úrsula Bellugi, o crescimento da mente dos surdos é
igual das pessoas ouvintes, eles planejam o que vão fazer em sinais,
sonham em sinais, as crianças até conversam sozinhas em sinais com elas
mesmas, da mesma forma que os ouvintes pensam em palavras os surdos
pensam em sinais.
As línguas de sinais possuem um conjunto visual de regras
gramaticais, natural dos surdos usuários desta língua. Elas são
diferenciadas, ou seja, da mesma forma que as línguas orais, cada país
possui a sua, e também apresentam regionalismo, alguns sinais
diferentes para representar a mesma coisa, entre cidades e estados há
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variações, e além da LIBRAS, existe outra língua de sinais utilizadas
pelos índios, uma tribo conhecida como Urubu Kaapor.
Aconclusão do estudo de Úrsula Bellugi para o Instituto SALK, é
que a linguagem é tão fundamental para a mente humana que ela floresce
em toda sua riqueza e em toda complexidade. Mesmo em pessoas que
nunca ouviram e falaram, a mente encontra outro sistema para expressar
suas ideias (vídeo mostra crianças cantando em língua de sinais
americana).
O Papel do Tradutor Intérprete de Libras Educacional e o Ensino de
Alunos Surdos
O tradutor intérprete educacional vem conquistando seu espaço
com a lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo decreto nº
5626 de 22 de dezembro de 2005, que dispõe sobre a Língua Brasileira de
Sinais – Libras, e posteriormente com a Lei de 1º de setembro de 2010,
que regulamenta a profissão de tradutor e Intérprete da Língua Brasileira
de Sinais – LIBRAS, segundo a Lei nº 10.436, no seu artigo 17.
A formação do tradutor e intérprete de Libras - Língua
Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e
Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa, conforme
art. 18 da Lei nº 10.436? 2002: Nos próximos dez anos, a partir da
publicação deste Decreto, a formação de tradutor e intérprete de Libras Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I cursos de educação profissional; II - cursos de extensão universitária; e
III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de
ensino superior e instituições credenciadas por secretarias de educação.
Segundo Quadros (2004), o intérprete educacional é aquele que
atua como profissional intérprete de língua de sinais na educação. O
intérprete especialista, para atuar na área da educação, deverá
intermediar relações entre os professores e os alunos, também colegas
ouvintes com os surdos. Ser intérprete educacional vai além do ato
interpretativo entre línguas.
O intérprete educacional deve estar sempre estudando e se
atualizando para obter uma boa interpretação nas aulas e nas diferentes
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disciplinas, pois há muitos termos específicos dentro das disciplinas de
biologia, química, física, filosofia que não têm sinais nas libras, e, para o
intérprete, conhecendo seus significados, torna-se mais fácil explicar
para os alunos surdos a forma de combinarem um sinal entre si para estes
termos. Se o intérprete não souber o significado de algum termo
especifico de alguma matéria, o melhor a fazer é perguntar ao professor
regente e assim transmitir o certo ao aluno.
Uma das maiores dificuldades encontradas pelos alunos com
necessidades educativas especiais, especificamente os surdos, é derrubar
as barreiras referentes à comunicação. O Decreto nº 5.626/2005, que
regulamenta a Lei nº 10.436/2002, assegura que os discentes surdos
sejam instruídos em língua de sinais brasileira (Libras) como primeira
língua (L1) enquanto que a segunda (L2) seja o português em sua
modalidade escrita ou oral.
Lacerda (2006), entre outros autores, alerta para o fato de que o
aluno surdo, frequentemente, não compartilha uma língua com seus
colegas e professores, estando em desigualdade linguística em sala de
aula, sem garantia de acesso aos conhecimentos trabalhados, aspectos
estes, em geral, não problematizados ou contemplados pelas práticas
inclusivas.
Uma forma de diminuir este problema seria as escolas
oferecerem a todos os alunos a disciplina de libras, pelo menos uma vez
por semana, para que os alunos ouvintes possam aprender libras para,
assim, conseguirem se comunicar com os amigos surdos, sem a presença
do intérprete de libras o tempo todo.
Formação de Professores para a Inclusão
A Inclusão de alunos surdos é uma inovação que exige da escola
novos posicionamentos, implicando na necessidade de aperfeiçoamento
dos professores, pedagogos e funcionários, através de cursos na área da
surdez, cursos estes que devem ser oferecidos pelo governo através do
MEC, para que os mesmos possam atender aos alunos surdos de modo a
propiciar-lhes possibilidades de conseguir progressos significativos em
sua aprendizagem.
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Os professores devem visualizar seus alunos, respeitando suas
necessidades e dificuldades, valorizando sua forma de agir, de pensar e
de resolver problemas. Ou seja, garantir a aprendizagem a todos seus
alunos, modificando seu método de ensino sempre que necessário. Desta
forma, desenvolverá a aprendizagem, atingindo seus objetivos no
tocante ao progresso de seus alunos, além de estar se aperfeiçoando,
constantemente, como profissional.
No entanto, na maioria das vezes, não é isso que acontece na
realidade das escolas chamadas de Inclusivas. Numa escala superior,
primeiramente, o governo seriam necessários cursos sobre educação
inclusiva nas diversas áreas de deficiências, para professores, pedagogos
e funcionários das escolas em geral. E numa escala inferior, seria
imprescindível o interesse desses profissionais em participarem e
aprenderem, a fim de estarem, de fato, preparados para comporem a
equipe escolar que irá receber os alunos inclusos; estes, dependendo do
grau de comprometimento, também necessitam de uma sala de apoio no
período contraturno, ou de um atendimento na escola especial com
professores especializados, para, assim, ambas as escolas
proporcionarem uma educação com mais qualidade.
Analisando os processos históricos e o desenvolvimento da
educação no Brasil, vemos que sempre existiu uma segregação na escola,
na qual se tem um ensino para alunos ditos “normais” e outro para os
alunos “deficientes”.
Segundo Cartolano (1998), a educação especial não tem se
constituído, em geral, como parte do conteúdo curricular de formação
básica, comum, do educador; quase sempre é vista como uma formação
especial reservada àqueles que desejam trabalhar com alunos com
“necessidades educativas especiais”, diferentes, indivíduos divergentes
sociais, deficientes.
Muitos professores, conscientes da importância de se
aprimorarem para contribuir com a Inclusão, buscam, por conta própria,
uma pós-graduação em Educação Especial, cursos estes que abrangem
um leque de deficiências entre elas: surdez, cegueira, intelectuais,
aprendizagem, dislexias, e superdotação. Através destes cursos ou de
seminários de Educação Inclusiva, a maioria dos professores vai se
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atualizando e tentando aprender mais para conseguir dar conta do
aprendizado pelos seus alunos inclusos. No entanto, não há ainda uma
formação específica, em nível de graduação em Educação Especial na
região de Maringá eApucarana.
APesquisa: Entrevista,Análise e Discussão
A entrevista foi realizada numa Escola Estadual da Rede Pública
de Ensino, que possui dois alunos surdos e um Intérprete de Libras, numa
sala de aula com 45 alunos, no 3º ano do Ensino Médio. Foram
entrevistados: alunos surdos, professores dos alunos surdos, intérprete
de libras, pedagogos, alunos ouvintes e familiares de alunos surdos.
Alunos surdos: O que você pensa da escola inclusiva
1)
com o Intérprete de Libras? O que precisa melhorar? (Texto
redigido conforme a escrita dos alunos surdos)
Aluno 1: Agora ter intérprete libras nós surdos entender melhor
aulas, mas pessoas outras precisar aprender libras amigo s sala e
pessoas trabalhar escola para conversar surdos, e precisar aula ensinar
surdo escrever português bom, poruqe aprender portgues palavras
dificil entender.
Aluno 2: Eu gostar aula p.qe intprete eu entender de libras....
mas eu dificil muito escrever p.rqe eu profundo surdo, escola precisra
aula ensina surdo escrita mas ter não 0 professor aqui p.rqe sabe libras
ensinar surdo dificil achar.
2) Pedagogos: Você já fez algum curso de Libras? Conhece as
dificuldades dos alunos surdos?
Já fiz um curso básico de libras, mas não sabia como é difícil
desenvolver a escrita e compreender a leitura para os surdos, e que
existem vários sujeitos surdos e cada um com sua dificuldade e sempre
no português devido sua língua natural ser a libras que apresenta
gramática própria, isso aprendi com a Intérprete da escola que sempre
faz cursos na área da surdez e nos repassa informações importantes que
nos ajuda a compreender melhor os alunos surdos. O governo deveria
investir mais em cursos de capacitação na área da Inclusão, tanto na
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surdez como em outras deficiências, para preparar os professores,
pedagogos entre outros funcionários da escola, para contribuirmos
mais com a educação desses alunos.
3) Mãe de aluno surdo: O que você pensa sobre a Educação
Inclusiva com o intérprete de libras?
Vejo que agora a educação está melhorando, pois há uns seis
anos atrás meu filho não tinha intérprete de libras na escola e ficava
nervoso, pois os professores não o entendia e nem ele compreendia as
aulas, agora com o Intérprete de libras em sala, meu filho apreende os
conteúdos ensinados na sala, consegue fazer algumas tarefas sozinho,
de matemática e física, outras matérias precisa de ajuda e para fazer
trabalhos. Mas percebo que ainda faltam intérpretes, pois o amigo do
meu filho que também é surdo estuda no segundo ano do ensino médio
está sem intérprete até agora e já estamos no meio do ano letivo.
4) Intérprete de Libras: Quais os pontos positivos e os
negativos na escola inclusiva para os surdos com o Intérprete de libras?
Interpretando as aulas em libras os alunos surdos compreendem
melhor os conteúdos explicados pelos professores, tiram suas dúvidas e
tem o auxílio do intérprete para fazer as atividades em sala, e consegue
se comunicar com seus colegas e outras pessoas da escola. Porém há
muito que melhorar na inclusão dos alunos surdos, falta materiais
didáticos apropriados para os alunos surdos, em libras e explorando o
visual. Professores e funcionários da escola precisam fazer cursos na
área da surdez para compreenderem melhor os alunos surdos e
conseguirem ao elaborarem seus planejamentos utilizar estratégias
explorando mais o visual de seus alunos.
Os alunos surdos precisam de salas de apoio para o ensino do
letramento e português no período contra-turno, pois não é função do
intérprete letrar os surdos.
5) Alunos Ouvintes: O que você acha de ter amigos surdos e uma
intérprete de Libras em sua sala de aula?
Aluno 1: Acho legal ver a intérprete fazendo sinais, passando os
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conteúdos que os professores explicam em libras para os surdos, e
sempre nos intervalos das aulas ela e os amigos surdos ensinam libras
para a turma e assim conseguimos nos comunicar com os colegas
surdos.
Aluno 2: Nós deveríamos ter uma disciplina de libras para
aprender mais e nos comunicar melhor com os surdos, porque as vezes
quero conversar mais com os colegas surdos mas tenho vergonha por
não saber libras, não entendo o que eles tentam explicar, se a intérprete
está perto ela fala pra gente, mas quando não está perto, as vezes no
intervalo, ou no ônibus, fora da escola quando nos encontramos fica
difícil se comunicar.
6) Professores dos alunos surdos: O que você pensa sobre a
Inclusão dos alunos na escola regular e o Intérprete de libras na sala de
aula?
Professor 1: Não concordo com a inclusão, penso que seria
melhor para os alunos surdos estudarem em escolas especiais para
surdos com professores surdos, pois não sei libras, e também não sei se a
intérprete passa todas as informações da minha aula para os alunos
surdos, muitas vezes a intérprete me pergunta o significado de alguns
termos técnicos da química para poder explicar para os surdos e diz que
não tem sinais pra vários termos, e muitas vezes eles tiram notas baixas
na minha matéria.
Professor 2: Sou a favor da inclusão, pois junto da intérprete de
libras os alunos surdos demonstram compreender os conteúdos
ensinados e resolvem os problemas de matemática de forma correta e
tiram notas boas, apresentam poucos erros jogo de sinais como os outros
alunos também. O governo deveria nas semanas pedagógicas entre
outros cursos de capacitação oferecer cursos de libras aos professores,
pois entendendo o básico de libras pelo menos conseguiríamos nos
comunicar e entender um pouco mais os alunos surdos.
Professor 3: Acredito na educação inclusiva dos alunos surdos,
com o intérprete de libras, porém vários aspectos devem ser revistos e
refeitos, pois precisamos de cursos de na área da surdez para
compreender melhor sobre como é o processo de aprendizagem dos
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alunos surdos e adaptar o planejamento, mudar nossas metodologias de
ensino para atender estes alunos com qualidade no ensino.
Análise e Discussão dos Dados
Como vimos, na entrevista realizada na escola regular da rede
pública com educação inclusiva para alunos surdos com tradutor /
intérprete de libras, percebemos que faltam informações aos professores,
aos alunos em relação à surdez e sobre aprendizagem dos alunos surdos.
As famílias dos alunos surdos apontam algumas melhorias na educação
de seus filhos, citando a importância do trabalho de intérprete de libras;
ressaltam a importância e a necessidade da continuação desse trabalho
no período contraturno para alfabetizar e letrar os surdos; destacam a
necessidade de o governo investir mais em cursos na área da surdez e
libras tanto para os professores quanto aos funcionários da escola e
também para os alunos ouvintes e para os familiares dos alunos surdos.
Considerações Finais
Sabemos que a Educação Inclusiva nas escolas brasileiras está
caminhando, e há muito ainda o que melhorar, porém, somente haverá
progressos na educação inclusiva para surdos se houver a compreensão,
colaboração e empenho de todos os setores da sociedade, desde as
escolas com os profissionais da educação, com as famílias dos surdos, e
com o Ministério da Educação, que deve investir em cursos de
capacitação dos professores no contexto de Inclusão, elaborando
materiais didáticos adaptados em língua de sinais, apoiando e
incentivando a abertura de cursos de licenciatura e bacharel em letras
libras em mais universidades e faculdades; também valorizar e
incentivar os profissionais da Educação e os futuros profissionais
melhorando o plano de carreira.
Vemos, em nossa sociedade, muitos jovens estudantes de cursos
de licenciaturas interessados em aprender a língua de sinais, para
contribuir com seus alunos surdos posteriormente nas escolas. No
entanto, reclamam que não há cursos de LIBRAS. É muito difícil achar
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escolas ou faculdades que ofereçam tais cursos, e, muitas vezes, quando
encontrados, são caros. Recentemente, as faculdades implantaram a
disciplina de LIBRAS nos cursos de licenciatura e nos de educação
especial, cumprindo o que manda a lei nº 10.436/2002 e o decreto nº
5626/2005. Porém, a carga horária da disciplina é muito pequena,
restringindo-se a apenas um ano. Alguns cursos são 35 horas, e em
outros, 70 horas. Assim, os alunos recebem apenas uma noção de uma
língua tão rica e complexa.
Para finalizar esta etapa do artigo encerramos, pedindo aos
leitores que reflitam sobre os pontos ressaltados, as dificuldades e os
desafios para efetivarmos, na prática, uma verdadeira educação
inclusiva para surdos. Pesquisem e elaborem outros trabalhos
relacionados a este tema para que possam contribuir com a Educação e
inclusão dos alunos surdos e com professores e Intérpretes de libras,
compartilhando ideias e aprimorando nosso trabalho.
Abstract
CHALLENGES ON INCLUSION OF DEAFS AND LIBRA
INTERPRETER
The objective of this paper is to present observational data and
bibliographic researches related to the inclusion of deaf students in regular
education with the interpreter of LIBRAS (Brazilian sign language). As a
theoretical foundation, we analyzed various aspects of public policy for
inclusion in the field of deafness; we checked how it should be the inclusion
of these students according to the laws and compared with the reality of
schools, and how it has been happening the inclusion in fact. For this,
interviews were conducted in a state school with inclusive education for
deaf students with: teachers of deaf students, educators, LIBRAS
interpreters, deaf students, hearing students and families of deaf students.
Through the analysis of data obtained in the interviews we can see the
achievements, difficulties and challenges that professionals of inclusive
schools have to struggle to win. We show the importance of the SES
(specialized educational services), working in union with the regular
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education in deaf education and finally the text also provides a discussion
about the importance of the Translator / Interpreter of LIBRAS education,
his role in deaf education, the law n°12,319 which regulates this profession
and how it has developed the training of the LIBRAS Interpreter and the
teachers in the context of the inclusion.
Keywords: Deaf Education. LIBRAS Interpreter. Inclusion.
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DESAFIOS NA INCLUSÃO DOS SURDOS E O