XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 ANÁLISE DOS CONTEXTOS E PRÁTICAS DE USO DOS AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA: UMA VISÃO SOCIOCONSTRUTIVISTA Wilsa Maria Ramos Geane de Jesus Silva Universidade de Brasília Resumo A expansão do uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) nas escolas e universidades tem representado um crescimento exponencial inigualável com a modalidade do ensino presencial. Neste panorama, é essencial analisar o impacto e transformações que trazem as tecnologias para o ensino, modificando, muitas vezes de forma silenciosa, a cultura escolar, as formas de organização dos grupos sociais, as formas de pensar o currículo, o papel dos professores e alunos, as formas de interação social nos distintos tempos e ciberespaços e as tarefas e conteúdos de aprendizagem. Neste contexto, discutimos a incorporação das TIC no processo de ensino e aprendizagem (EA) no ensino superior a distância na abordagem da psicologia histórico-cultural na perspectiva socioconstrutivista da aprendizagem a partir da análise do potencial para a autonomia de uma disciplina online. A partir do uso do Protocolo de análise da disciplina e entrevista com a professor constatou-se que há evidencias significativas do potencial para a construção da autonomia do processo de aprendizagem. O estudo demonstrou que o desenho didático, a organização espacial e temporal do entorno virtual, as atividades conjuntas criativas, o ajuste da ajuda e as crenças e experiências anteriores da professora com a didática do e-learning foram propícios à geração de atitudes de autonomia. Conclui-se que o fazer docente possibilitou o uso pedagógico e social da tecnologia, colocando as TIC em prol do desenvolvimento social e cognitivo e da autonomia dos estudantes. Palavras-chave: Contexto de uso das TIC. Potencial mediador. Dimensões e indicadores. Qualidade do ensino mediado pelas TIC. Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.000144 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 1 - Introdução A expansão do uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC) nas escolas e universidades tem representado um crescimento exponencial inigualável com a modalidade do ensino presencial. Este fenômeno é consequência de políticas e programas educativos que adotam as TIC como elementos “potencializadores” do processo de ensino aprendizagem. De fato as TIC, especialmente usadas na aprendizagem formal em ambientes virtuais, nos oferecem acesso a uma grande quantidade de recursos, convertendo-se em potentes ferramentas psicológicas. (COLL; BUSTOS; ENGEL, 2010). Neste panorama, é essencial analisar o impacto e transformações que trazem as tecnologias para o ensino, modificando, muitas vezes de forma silenciosa, a cultura escolar, as formas de organização dos grupos sociais, as formas de pensar o currículo, o papel dos professores e alunos, as formas de interação social nos distintos tempos e ciberespaços e as tarefas e conteúdos de aprendizagem (COLL; MONEREO, 2010). Neste contexto, discutimos a incorporação das TIC no processo de ensino e aprendizagem (EA) no ensino superior a distância na abordagem da psicologia histórico-cultural na perspectiva socioconstrutivista da aprendizagem. Tomamos como referencial os resultados de um estudo realizado por nossa equipe de investigação que teve por objetivo analisar os aspectos didáticos, pedagógicos e psicossociais de um ambiente virtual de uma disciplina on-line e o seu potencial gerador da autonomia do sujeito que aprende (SILVA; RAMOS, 2011). A partir dos resultados do estudo, discutimos quais são as dimensões e indicadores de análise da qualidade de um ambiente de aprendizagem virtual e, propomos uma reflexão crítica sobre o delineamento das pesquisas sobre o uso das TIC no processo de ensino e aprendizagem. 2- Revisão teórica Nos últimos 10 anos, a educação a distância (EAD) tem sofrido modificações na sua forma organizativa resultantes do desenvolvimento e uso de diversas tecnologias da informação e comunicação (TIC). O e-learning é uma forma de oferecer cursos baseados na internet que envolve o uso das ferramentas de comunicação e interação síncronas e assíncronas, com suporte de conteúdos em diversos formatos digitais, hipertextuais, tais como os gráficos animados, áudio, vídeo, simulações etc. Devemos Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.000145 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 focar nos estudos sobre as implicações tecnológicas, pedagógicas e organizativas do elearning, possibilitando compreender os processos psicológicos que envolvem a aprendizagem nos novos ambientes de aprendizagem. Os resultados dos estudos nesta sobre a didática do ensino online (ARDIZZONE; RIVOLTELLA, 2003) demonstram que esta forma de organizar o processo educativo exige mudanças no papel dos atores sociais e na sua conduta visando ressignificar a sua atuação e a interação nos espaços virtuais. Em muitos cursos criados em ambientes de aprendizagem virtual observa-se a mesma estrutura do ensino presencial, o qual transfere linearmente as atividades e situações didáticas da sala de aula presencial para os ambientes virtuais, como consequência do forte apego às práticas e didáticas tradicionais (RAMOS; MEDEIROS, 2009; ARDIZZONE e RIVOLTELLA, 2003). Compreendendo que os alunos e os tutores estão mais próximos dessas práticas tradicionais de reprodução do conteúdo e somadas as dificuldades inerentes encontradas no uso das TIC no ensino já sabemos que estamos diante de um desafio que implica em mudança paradigmática (RAMA, 2009; COLL e MONEREO, 2010). Nessa perspectiva, destacamos que não basta a disponibilização das novas tecnologias da comunicação e informação, sendo também necessário que os professores e tutores compreendam os possíveis usos dessas tecnologias baseados nos princípios e pressupostos do processo de construção colaborativa da aprendizagem em ambientes virtuais. Conforme afirma Coll (2004), o mais importante na valorização do impacto da incorporação das TIC na educação não está nos recursos tecnológicos em si mesmo, senão nos usos pedagógicos dos recursos tecnológicos, definidos em termos de sua função mediadora entre os elementos do triângulo interativo (professor-alunoconteúdo). A interação entre professor- aluno e conteúdo e tarefas de aprendizagem compõe a atividade conjunta ou inter-atividade. Segundo Onrubia (2005), a inter-atividade, ou atividade inter-mental, deve ser o elemento explicativo fundamental para a compreensão do processo de aprendizagem nos ambientes virtuais. Para o autor, é importante resignificar o conceito de ajuste da ajuda nos AVA. O ajuste da ajuda se refere a intervenção docente que inclui apoios e suportes diversos, que vão se ajustando ao longo do processo de ensino e aprendizagem. É uma intervenção intencional, que é dirigida a partir da ação do educando e, visa atender as necessidades de mudança da própria atividade mental construtiva, possibilitando que o educando possa aprofundar e revisar a construção de significados, para isto, oferece instrumentos e próteses que Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.000146 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 possam ajudar de forma metacognitiva a enfrentar os desafios da aprendizagem, a usar de forma estratégica o conhecimento que vai aprendendo e a seguir aprendendo cada vez de forma mais autônoma e autorregulada (ONRUBIA, 2005). Este autor também nos alerta para o fato de que nem toda atividade conjunta é construtivista e nem toda atividade construtivista é significativa para os alunos. Neste contexto, consideramos que o foco de análise do uso das TIC deve ser os elementos constitutivos da interação e comunicação social nos AVA resultante da realização da atividade conjunta entre os sujeitos (educador-educando) em um dado contexto histórico-cultural, mediada duplamente, pelo objeto de conhecimento conteúdo, e pela tecnologia e, direcionada pelos interesses da comunidade. Neste contexto, a reorganização espaço-temporal impõe novas noções de temporalidade e espacialidade, transgredindo o “território do domínio e propriedade dos saberes” e criando uma “experiência de aprendizagem significativa de desterritorialidade”. Esta noção implica aos aprendizes imprimir a sua marca identitária se fazendo presente no sentido social, cognitivo e docente dos fazeres online, em um local marcado pela ausência física (GARRISON, 2006). Neste sentido, a interação estabelecida nos fóruns, comunidades de aprendizagem assíncronas, não se dá pela verticalidade hierárquica dos saberes, onde quem sabe mais impõe o conhecimento a quem se pressupõe saber menos, mas sim, ocorre pela participação e contribuição na rede de construção de significados e negociação de sentidos mediada pelas diferentes linguagens usadas na web. Na perspectiva da psicologia sócio construtivista, a aprendizagem é um processo socialmente construído através da participação ativa do sujeito, do diálogo instrucional, isto é, da troca de experiências e significados e da colaboração entre os diversos atores. E na perspectiva do ensino e aprendizagem virtual, a experiência de aprendizagem online requer envolvimento ativo, autônomo e multidirecional, no qual o educando interage com os colegas, professores, conteúdos, recursos multi midiáticos no ambiente mediado pelas TIC, extrapolando as barreiras físicas. O que implica em um desafio extraordinário para os professores pensarem e organizarem os AVA como potencializadores da autonomia da aprendizagem. E como resultado desse processo está o pensar e o fazer autônomos. Sobre autonomia, semanticamente a definição etimológica para o termo quer dizer “autos” (por si mesmo) e “nomos” (lei) que significa o poder que o sujeito dá a si mesmo. O Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia apresenta o seguinte sentido: “(...) é a condição de uma pessoa ou de uma coletividade cultural, que determina ela mesma a lei Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.000147 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 à qual se submete”. (LALANDE, 1999, p. 115 citado por ZATT, 2007, p.12). Dessa maneira, literalmente, autonomia está associada à maneira própria como o indivíduo rege seu universo. Porém, como alerta Zatt (idem), a autonomia não pode ser entendida à revelia da participação do sujeito em seu nicho social − e aqui acrescentaríamos também as dimensões cultural e histórica − por isso, também pressupõe que nosso entendimento do que é correto ou não, socialmente falando, depende de como minha decisão reflete em relação ao outro e vice-versa. O autor ainda, partindo do fato de que a autonomia é “condição”, alerta-nos para o fato de que “(...) ela se dá no mundo e não apenas na consciência dos sujeitos (...)” e, por isso, “sua construção envolve dois aspectos: o poder de determinar a própria lei e também o poder ou capacidade de realizar.” Em suma, dentro da concepção de educação defendida por Freire (1996/2000), a autonomia “é a condição sócio-histórica de um povo ou pessoa que tenha se libertado, se emancipado, das opressões que restringem ou anulam a liberdade de determinação” (ZATT, 2007, p. 38). Dentro desse contexto, o processo de ensino e aprendizagem virtual deve ser pensando por essa vertente do sujeito crítico-reflexivo, onde a proposta pedagógica e tecnológica dessa modalidade deve primar pela busca de autonomia consciente desse educando nos novos espaços de aprendizagem. A criação intencional e consciente destes processos e espaços possibilita ao educando a interação com os artefatos culturais produzidos para a web no nível social, interpsíquico, e no nível intrapsíquico, permitindo a internalização de modos de co-operar e co-construir com estes artefatos que passam a funcionar como ferramentas psicológicas (COLL, BUSTOS e ENGEL, 2010), ativas, na construção do seu próprio conhecimento e da sua forma de aprendizagem o que, certamente, fará com que intervenha com propriedade em seu cotidiano social. 3 - Relato do estudo sobre o potencial gerador da autonomia em um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) 3.1 – Descrição da pesquisa O contexto da pesquisa foi o ambiente virtual de aprendizagem, Moodle, onde foi construída e ofertada a disciplina online “Psicologia e a Construção do Conhecimento”, obrigatória para os estudantes do primeiro semestre dos cursos de Licenciatura no programa Universidade Aberta do Brasil na Universidade de Brasília. A Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.000148 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 Universidade de Brasília adotou o modelo de e-learning, ou aprendizagem mediada pelo uso das Tecnologias da Informação e Comunicação e a plataforma virtual de aprendizagem Moodle para a oferta dos cursos a distância (UAB). O estudo visava analisar os aspectos pedagógicos e psicossociais de um ambiente virtual de uma disciplina on-line e o seu potencial gerador da autonomia do sujeito que aprende a partir do marco teórico do Triangulo Interativo (Coll, 2005). Adotou-se o estudo de caso, e utilizou como instrumentos de coleta dos dados: 1) observação do ambiente virtual de aprendizagem; 2) aplicação do protocolo de indicadores do potencial para a autonomia (PIPA) e, 3) entrevista com a professora que construiu e ofertou a disciplina no Moodle, juntamente com uma equipe de tutores. No intuito de garantir a confiabilidade do instrumento PIPA, o mesmo foi aplicado duas vezes, uma pela pesquisadora e outra por um avaliador externo, aqui chamado de Avaliador - B, em conformidade com o método blind peer review (revisão dupla cega), onde se busca um parecerista isento, objetivando a imparcialidade da análise do referido instrumento. A entrevista com o professor da disciplina teve o caráter semi-estruturada dando possibilidade à dialética do processo de investigação, onde outras questões suscitadas durante a pesquisa funcionam como elementos (re) estruturadores do objeto estudado. 3.2 – O Protocolo (PIPA) e as dimensões de análise da qualidade de um ambiente de aprendizagem virtual Visando promover a análise dos elementos propostos pelo curso e a análise de sua execução, elaborou-se uma metodologia e instrumentos de avaliação da qualidade dos processos de ensino e aprendizagem que pudessem ser utilizados por diversos atores do processo educativo na busca da compreensão e observação sistematizada de um ambiente virtual de aprendizagem. O Protocolo (PIPA) foi elaborado com base nos pressupostos de autonomia defendidos por Freire (1996/2000) e da teoria da influência educativa apresentadas por Coll (2004). Foi estruturado em três dimensões relacionadas com a questão didático-pedagógica do ensino, a saber: O Protocolo possui 3 dimensões e seus eixos epistemológicos, a saber: 1ª Dimensão: Do planejamento do ensino - 1.1 Concepção de ensino- aprendizagem; 1.2 Objetivos de aprendizagem e 1.3 Conteúdos de aprendizagem; 2º Dimensão: Estratégias pedagógicas mobilizadoras da autonomia, 2.1-Organização das atividades/Estratégias de ensino/Enunciados /Comandos; 3ª Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.000149 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 Dimensão - Interação e processos mediacionais como provocadores da autonomia, 3.1Comunicação interativa, influência educativa a partir do triângulo interativo. Para cada dimensão foram definidas as categorias de análise, os eixos epistemológicos que funcionavam como fio condutor para a autonomia, os instrumentos a serem analisados e as questões para análise. A mesma estrutura do Protocolo foi usada para organização da entrevista com a professora. O protocolo (PIPA) e o roteiro da entrevista com a professora estão disponíveis no site http://www.rinace.net/riee/numeros/vol4- num2/art5.pdf, no qual o artigo completo está publicado. Neste artigo, especificamente, vamos tratar somente dos resultados obtidos com a análise do AVA a partir do uso do Protocolo de indicadores do potencial da Autonomia – PIPA e os resultados da entrevista com a professora da disciplina. Os resultados obtidos, por meio da aplicação do PIPA e da entrevista com a professora responsável pela disciplina, referentes a 1ª Dimensão - Planejamento do ensino, item 1 - concepção de ensino aprendizagem apontam que a organização da disciplina pautou-se em atividades conjuntas no ambiente proporcionando aos estudantes a valorização de seus conhecimentos prévios e, principalmente, indicando que tais conhecimentos eram de base fundamental para a construção dos conhecimentos. Além disso, dentro dessa categoria, o Plano de Ensino - PE foi propositivo ao afirmar que ocorreria uma aprendizagem colaborativa e interativa entre os sujeitos, expressos da seguinte forma: “Você vai interagir com o seu/sua Tutor (a) a Distância por meio deste ambiente virtual de aprendizagem”. Em convergência, a concepção de aprendizagem da professora-supervisora prima pela inter-relação individual-social, onde o indivíduo se mobiliza para o aprendizado, contudo, fazem-se necessários elementos externos que gerem e mobilizem ações interventivas que potencializem essa inclinação para aprender. Para tanto, ela traz à tona a relevância da participação do outro mediador na ação de “alimentar” o sujeito durante esse processo. Os resultados obtidos ainda na 1ª Dimensão, Planejamento do ensino, item 2 objetivos de aprendizagem, revelam que os objetivos sustentaram as atividades da disciplina e apresentam aspectos que podem servir de suporte à aprendizagem para a autonomia, contudo, destacamos o relato da avaliadora externa: É incipiente afirmar que apoiam a autonomia do aluno, mas se pensarmos na epistemologia como eixo da aprendizagem, o esquema proposto pela professora conduz a uma análise de etapas progressivas e recursivas, nas quais os alunos estudam e discutem um tema, Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.000150 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 compartilham conhecimentos e depois vão ao campo coletar dados e novamente apresentar e discutir com os colegas (Avaliadora-B, 2011). Esse jogo entre atividade individual-coletiva e teoria-prática permite o movimento de recursos que mobilizam no sujeito-aprendiz ações de interação e construção do conhecimento de forma que o mesmo atue competentemente e com propriedade de conhecimento em sua realidade profissional. Os resultados ainda da 1ª Dimensão, Planejamento do ensino, item 3, conteúdos de aprendizagem selecionados, revelam que os mesmos atendem ao objetivo geral. Porém, ressaltamos a observação da Avaliadora- B(2011) sobre a necessidade de que os conteúdos sejam “recursos de aprendizagem para ampliar os conhecimentos dos alunos para além do campo teórico, mas dando sentido a teoria que ilumina as práticas já conhecidas e abre caminho para novas formas de pensar o ensino”. A professora, durante a entrevista, demonstra tal preocupação ao organizar e distribuir os temas intercalando os conteúdos teóricos com conteúdo de ordem prática, a fim de possibilitar o ciclo de reflexão-ação-reflexão. Ainda nesse diálogo com a professora entrevistada, ela aponta como fator importante da organização didático-pedagógica da disciplina que os conteúdos sejam instrumentos para os alunos construírem conhecimento em 3 perspectivas: primeiro, o conhecimento para subsidiar a sua atuação enquanto futuro professor; segundo, o saber trabalhar em grupo e; terceiro, relacionar teoria e prática, dentro da perspectiva da pesquisa enquanto metodologia de ensino. Na 2ª Dimensão 2, Estratégias pedagógicas mobilizadoras da autonomia, os resultados da pesquisa demonstram que houve várias estratégias de aprendizagem que visavam a cooperação, colaboração e interação tanto entre os sujeitos do processo quando em relação à apreensão crítica dos conteúdos. Também se percebeu a preocupação da avaliadora de que tais atividades contribuíssem para à autonomia do sujeito que aprende, considerando a “autonomia no sentido do livre pensar sobre como construímos conhecimentos com as diferentes formas de interação e mediação na web” (Avaliadora –B, 2011). Assim, um livre pensar como resultado de um processo rigoroso de construção científica que envolve o “movimento dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer” (ZATT, 2007, p.59). Sobre essa questão, a professora, cita dois aspectos relevantes: o primeiro, conjugar eficazmente conteúdo/ objetivos de aprendizagem e o fator tempo; segundo, garantir que os alunos tenham bons desafios e as regularidades e exigências nas atividades conjuntas. Não menos importante, oferecer aos alunos a visualização das tarefas a realizar: o que fazer; quanto fazer; quando acabar. Esta pista Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.000151 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 visual é um elemento no e-learning essencial para o aluno aprender a trabalhar sem ajuda e consequentemente, adquirir autoconfiança e autonomia. Na 3ª Dimensão, Interação e processos mediacionais como provocadores da autonomia, observou-se no AVA que a condução das atividades denota uma preocupação em distribuir ações que primem pela interação entre os sujeitos e os conteúdos, criando assim um campo potencial de aprendizagem mediado pelos recursos digitais: fórum, feedbacks, chats, etc. pautado no fazer junto, onde, o professor assume relevância por caracterizar-se como organizador/colaborador da aprendizagem do aluno. Segundo a professora, esse é o salto qualitativo do processo, pois o fazer pedagógico do professor, nesse caso, aqui do professor-tutor, quando intencional e consciente possibilita o alcance das habilidades esperadas dos alunos no decorrer das atividades. Porém, ela diz que isso, às vezes, se coloca como um grande desafio, porque nem sempre esse profissional se compreende dentro dessa importância, ou dessa concepção. Nesse diálogo investigativo a professora ainda lista como fatores importantes quando se fala em aprendizagem com vistas à autonomia no AVA: a comunicação interativa sua com o tutor e com os alunos; o fórum como o principal desses recursos, por ter grande potencial pedagógico; o papel do aluno como o outro mediador, onde os alunos “vão se percebendo com possibilidades de realmente ensinar outras coisas para alguém ” e por meio dessa influência educativa esse educando está “sempre aprendendo nessa elaboração pessoal e, ao mesmo tempo, está sempre sendo alimentado pelo que os outros estão trazendo”. (Professora entrevistada). A forma de interação professortutor-aluno-tarefa denota a concretização do ajuste da ajuda durante as atividades no ambiente virtual, dosando o grau de ajuda e mesclando com recursos de apoio para a construção do conhecimento. Os aspectos abordados dialogam adequadamente com o que foi proposto no Plano de Ensino – PE, da disciplina: na organização, na sequência didática construída, nas atividades apresentadas pelos alunos, na forma como estas foram planejadas, desenvolvidas e acompanhadas. Além disto, pode-se perceber na fala da professora que houve intencionalmente o ajuste da ajuda prestado apoio constante a atividade de construção de conhecimentos por educandos e educadores. Dessa maneira, verificou-se consistência entre o planejado e o executado. 4 – Conclusões Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.000152 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 O estudo apontou evidencias significativas de construção da autonomia “por meio de” e “com” o processo de aprendizagem online. A tese defendida sobre o potencial do uso do AVA para a autonomia do estudante foi comprovada, demonstrando que o desenho didático, a organização espacial e temporal do entorno virtual, as atividades conjuntas criativas, o ajuste da ajuda e as crenças e experiências anteriores da professora com a didática do e-learning foram propícios à geração de atitudes de autonomia. Vale destacar que o PIPA foi utilizado pela primeira vez neste estudo. Trata-se de um instrumento que facilita a análise da qualidade do ensino e aprendizagem tanto na ótica do desenho pedagógico e tecnológico propostos (potencial) quanto dos usos e práticas de fato realizados (efetivado). Também ressaltamos que, a entrevista com a professora foi um recurso indispensável à medida que permitiu complementar, ampliar e comparar os dados sobre os usos e práticas concretizados na oferta da disciplina. Acreditamos que será necessário reaplicar o Protocolo em outras situações permitindo sua validação e reajustes para sua melhoria. Na literatura encontramos outros modelos de Protocolos como este, baseado em objetivos semelhantes e distintos (COLL; MAURI; ONRUBIA, 2007). Sugerimos para ampliação dos conhecimentos na área a publicação organizada pelos professores espanhóis, Barberà, Mauri e Onrubia, intitulada “Cómo valorar a cualidad de la enseñanza basada em las TIC. É fundamental reconhecemos as dificuldades enquanto investigadoras da área de perceber, capturar, adentrar-nos nos diferentes ângulos e dimensões educativas, sociais e psicológicas que abrangem os ambientes virtuais, conforme relatado por Coll e Monereo, (2010, p.9). Para Coll e Bustos (2010), a metodologia de análise dos fenômenos sociais e psicológicos, que aparecem nos processos formativos apoiados pelas TIC e sua relação com a atividade conjunta no nível das interações sociais, deve ser construída de forma sistémica, orientada por marco teóricos e metodológicos sólidos e, principalmente, inovadores. Outra reflexão crítica sobre o delineamento das pesquisas sobre impacto das TIC trata da preponderância de delineamentos que incluem grandes amostras (populações e instituições), baseados em métodos quantitativos e tradicionais (ANGELINO, WILLIAMS, NATVIG, 2007). Observamos nestes estudos que os dados, em alguns casos, são insuficientes para trazer à luz o desenho técnico pedagógico, a forma de organização da atividade conjunta, a execução dos processos de ensino e aprendizagem online. Por isso, consideramos ainda um desafio a elaboração de delineamento multi métodos e ou com triangulação de dados sobre o impacto das TIC Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.000153 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 no processo de aprendizagem, baseados na análise do desenho do curso (planejado e realizado), particularmente, mapeando os usos e práticas reais, a partir da compreensão das interações entre aluno-aluno, aluno-professor, aluno conteúdo e a realização da atividade conjunta para a construção de conhecimentos. Referências ANGELINO, L.M.; WILLIAMS, F.K.; NATVIG, D. Strategies to engage online students and reduce attrition rates. Journal of Educators Online, 4. (2), 2007. http://www.thejeo.com/Volume4Number2/Angelino%20Final.pdf. Data de acesso: 03.03.2012. ARDIZZONE, P.; RIVOLTELLA, P. C. Didáctica para e-learning. Métodos e instrumentos para la innovación de la enseñanza universitária. 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