Questionário - Proficiência Clínica Área: Hormônios Rodada: Ago/2015 Tema: AVALIAÇÃO HORMONAL DOS DISTÚRBIOS DO CRESCIMENTO Elaborador: Marcelo Cidade Batista. Médico Endocrinologista e Patologista Clínico. Laboratório Clínico - Albert Einstein Medicina Diagnóstica. Texto Introdutório O hormônio de crescimento (GH) é um polipeptídeo de cadeia única, constituído por 191 aminoácidos e peso molecular de 22.000 Da. É produzido pela hipófise anterior, sendo sua secreção estimulada pelo hormônio hipotalâmico GHRH (hormônio liberador do GH) e inibida por outro fator hipotalâmico, a somatostatina. O GH é secretado de forma pulsátil, tem meia vida de aproximadamente 20 minutos na circulação e é produzido principalmente de madrugada durante o sono. Por isso, a medida basal do GH é de difícil interpretação, pois pode apresentar grandes variações dependendo da hora do dia em que é colhida a amostra e se a coleta é feita próximo ao nadir ou pico de um pulso. A principal função do GH é promover o crescimento linear dos ossos e também de outros órgãos e tecidos. Esta ação é mediada pelo fator de crescimento insulina-símili I (IGF-I, anteriormente denominada somatomedina C). O IGF-I é um peptídeo com 70 aminoácidos e peso molecular de 7647 Da, produzido principalmente no fígado em resposta ao GH. O IGF-I hepático é responsável pelo crescimento coordenado e equilibrado dos órgãos e tecidos. Fatores autócrinos/parácrinos também estimulam a produção local de IGF-I, sendo responsável pelo crescimento isolado de órgãos específicos, como ocorre na reparação de lesão tecidual ou na hipertrofia do rim contralateral após nefrectomia. O fígado também produz um conjunto de 6 glicoproteínas denominadas proteínas ligadoras das IGF, entre as quais a mais abundante é a IGFBP-3. A principal função dessas proteínas é transportar as IGF para órgãos e tecidos. A IGFBP-3 liga-se à IGF-I e à subunidade ácido lábil (ALS), formando um complexo ternário estável com meia vida circulante de 16 horas. Assim como a IGF-I, a síntese hepática de IGFBP-3 também é estimulada pelo GH. Portanto, os níveis basais de IGF-I e IGFBP-3 em geral fornecem uma medida mais estável, ainda que indireta, da secreção de GH que a própria medida do GH. Tanto o GH como a IGF-I e IGFBP-3 são medidos em soro por ensaios imunométricos não competitivos, tipo sanduíche, em geral com traçador quimioluminescente. No caso da IGF-I, o ensaio inclui uma pré-extração ácida da amostra para liberar o hormônio das proteínas ligadoras. Os níveis circulantes de IGF-I e IGFBP-3 variam bastante em função do sexo e idade, aumentando na época da puberdade e diminuindo após os 60 anos. Outros fatores que influenciam esses níveis são a desnutrição (diminui a IGF-I) e o hipotireoidismo (reduz tanto a IGF-I quanto a IGFBP-3). Os distúrbios endócrinos que podem resultar em baixa estatura incluem o hipotireoidismo, a síndrome de Cushing e a deficiência de GH. Todas são causas pouco frequentes, porém associadas a baixa estatura severa, em geral abaixo do percentil 0,5% para idade e sexo. A deficiência de GH pode ser congênita ou adquirida e decorrente de sofrimento fetal no parto, doenças hipotalâmicas ou hipofisárias (craniofaringioma, doenças granulomatosas, etc) ou defeitos genéticos. Em geral, esta doença é suspeitada quando os níveis séricos de IGF-I e/ou IGFBP-3 estão abaixo do intervalo de referência para sexo e idade. O diagnóstico deve ser confirmado por testes provocativos de GH, como o teste de estímulo com clonidina, glucagon ou insulina. Nestes testes, o GH sérico é dosado antes e após administração de clonidina (0,100 mg/m2 de superfície corporal VO), glucagon (0,03 mg/kg de peso IM) ou insulina R (0,1 U/kg de peso EV). Um incremento pequeno ou ausente do GH pós-estímulo (em geral, menor que 5 ng/mL) sugere deficiência de GH, mas deve ser confirmado em pelo menos 2 testes provocativos. A hipersecreção de GH leva ao gigantismo em crianças (caracterizado por estatura elevada) ou acromegalia em adultos (caracterizado pelo crescimento das extremidades e partes moles). A causa mais frequente é o adenoma hipofisário produtor de GH. A doença é suspeitada quando os níveis de GH, IGF-I e/ou IGFBP-3 estão elevados. O diagnóstico deve ser confirmado pelo teste de supressão de GH com glicose, em que o GH sérico é medido antes e após sobrecarga oral de 75 g de glicose. Uma queda do GH abaixo de 0,3 ng/mL após a sobrecarga indica hipersecreção de GH. Questão 1 Questão 2 Em relação ao hormônio de crescimento (GH), podemos afirmar que: 1. É produzido no hipotálamo junto com a somatostatina; 2. É secretado pela hipófise anterior em resposta ao GHRH; 3. Age diretamente nos ossos estimulando o crescimento; 4. Seus níveis séricos são estáveis na circulação devido à sua longa meia vida. Em relação ao fator de crescimento insulina-símili I (IGF-I), todas as alternativas estão corretas, com exceção de: 1. É produzida principalmente no fígado e estimulada pelo GH; 2. É o principal mediador da ação do GH; 3. Promove apenas o crescimento global e coordenado de órgãos e tecidos; 4. Seus níveis circulantes são mais estáveis que os do GH. Página 1 de 3 Questionário - Proficiência Clínica Área: Hormônios Rodada: Ago/2015 Questão 3 Questão 4 Questão 5 Questão 6 Questão 7 Questão 8 Questão 9 Questão 10 As principais características da proteína ligadora da IGF-I tipo 3 (IGFBP-3) são: 1. É produzida no fígado e estimulada pela IGF-I; 2. Seus níveis séricos são influenciados pelo estado nutricional; 3. Liga-se à IGF-I formando um complexo estável e com longa meia vida circulante; 4. Sua medida tem pouca utilidade na avaliação de distúrbios de crescimento. Os níveis séricos de GH, IGF-I e IGFBP-3 são medidos por: 1. Ensaios imunométricos tipo sanduíche;. 2. Imunoensaios competitivos; 3. Os ensaios de IGFBP-3 requerem tratamento prévio da amostra, para dissociar a proteína; 4. Nenhuma das anteriores. Em relação aos níveis séricos de GH, podemos afirmar que: 1. São mais elevados no período diurno que noturno; 2. Não se alteram com o estresse da coleta de sangue; 3. Apresentam grandes oscilações devido à secreção pulsátil do GH; 4. Não sofrem influência do jejum ou refeições. Os níveis séricos de IGF-I e IGFBP-3 são: 1. Em geral mais estáveis que os do GH; 2. Variam em função do sexo, idade, função tireoidiana e estado nutricional (no caso da IGF-I); 3. Fornecem uma medida indireta da secreção de GH; 4. Todas as anteriores. Os distúrbios endócrinos que levam à baixa estatura são: 1. Causas frequentes de baixa estatura; 2. Incluem o hipotireoidismo, a síndrome de Cushing e a deficiência de GH; 3. O déficit de GH pode ser decorrente de sofrimento fetal hipotalâmicas/hipofisárias ou defeitos genéticos; 4. Alternativas 2 e 3 estão corretas. na hora do parto, doenças Em relação ao diagnóstico de deficiência de GH, todas as alternativas são corretas, com exceção de: 1. Há suspeita da doença apenas quando os níveis séricos de GH estão diminuídos; 2. Níveis séricos de IGF-I e IGFBP-3 baixos sugerem este diagnóstico; 3. A confirmação do diagnóstico requer pelo menos 2 testes provocativos de GH; 4. Os níveis de GH permanecem baixos (em geral, inferior a 5 ng/mL) nos testes de estímulo de GH. O gigantismo e acromegalia são: 1. Decorrentes da hipersecreção de GH; 2. Associados à secreção autônoma de IGF-I e IGFBP-3; 3. Causados por adenoma não funcionante da hipófise; 4. Ambos caracterizados por aceleração do crescimento e estatura elevada. Em relação ao teste de estímulo de GH com clonidina, todas as alternativas abaixo são corretas, com exceção de: 1. A clonidina é um anti-hipertensivo que promove a liberação de GH por meio de receptores αadrenérgicos centrais; 2. Os principais efeitos colaterais do teste são hipotensão arterial, sonolência e broncoespasmo em asmáticos; 3. A dose de clonidina varia de 0,100 a 0,150 mg/m² de superfície corporal administrados por via intramuscular; 4. O pico de GH geralmente ocorre entre 60 e 90 minutos após a administração da clonidina. Página 2 de 3 Questionário - Proficiência Clínica Área: Hormônios Rodada: Ago/2015 Questão 11 Questão 12 Questão 13 Questão 14 Questão 15 Referências Bibliográficas O teste de estímulo de GH com glucagon apresenta as seguintes características: 1. O glucagon estimula a secreção de GH por provável inibição do tônus dopaminérgico; 2. Os principais efeitos colaterais do teste são dor abdominal, náuseas, vômitos e hipoglicemia tardia; 3. O glucagon é administrado na dose de 0,03 mg/kg de peso (até no máximo 1 mg) por via intramuscular, com coletas de sangue para dosagem de GH antes e até 3 horas após o estímulo; 4. Todas as anteriores. Em relação ao teste de tolerância à insulina, todas as alternativas abaixo estão corretas, com exceção de: 1. É o teste provocativo mais potente de secreção de GH, porém o mais perigoso, pois a insulina pode provocar hipoglicemia severa; 2. Envolve a administração endovenosa de insulina NPH ou lenta na dose de 0,1 U/kg de peso; 3. O pico de GH em geral ocorre 15 a 30 minutos após a hipoglicemia; 4. O teste requer a presença de um médico e só deve ser realizado em centros com experiência em provas dinâmicas. O diagnóstico de gigantismo e acromegalia é: 1. Suspeitado quando os níveis de GH, IGF-I e IGFBP-3 estão muito elevados; 2. Confirmado quando os níveis de GH sobem no teste de sobrecarga de glicose; 3. Confirmado quando os níveis de GH caem abaixo de 0,3 ng/mL no teste de sobrecarga de glicose; 4. Alternativas 1 e 3 estão corretas. Um menino de 9 anos com baixa estatura apresenta os seguintes exames basais: GH inferior a 0,1 ng/mL (VR 0,01 a 0,97 ng/mL), IGF-I 100 ng/mL (VR 74 a 388) e IGFBP-3 2,0 µg/mL (VR 1,8 a 7,1). O GH foi repetido em outra ocasião e o valor foi 7,3 ng/mL. Com base nestes resultados, podemos afirmar que: 1. Houve erro na dosagem de GH em um dos 2 exames; 2. Os resultados sugerem deficiência de GH; 3. A variação nos níveis de GH provavelmente se deve à secreção pulsátil do hormônio e talvez estresse na hora da coleta; 4. O paciente deve ser submetido a um teste de estímulo de GH para melhor elucidação diagnóstica. Uma menina com déficit de crescimento apresenta os seguintes resultados de GH no teste de estímulo com clonidina: basal 0,5 ng/mL; tempo 60’ 3,1 ng/mL; tempo 90’ 2,3 ng/mL; tempo 120’ 1,5 ng/mL. Com base nestes resultados, podemos afirmar que: 1. A paciente não tem deficiência de GH; 2. A paciente deve ser submetida a um segundo teste de estímulo de GH; 3. As dosagens de IGF-1 e IGFBP-3 podem ser úteis neste caso; 4. Alternativas 2 e 3 estão corretas. • Kleerekoper M. Hormones. In: Tietz Textbook of Clinical Chemistry and Molecular Diagnostics. Burtz CA, Ashwood ER, Bruns DE (editors). Saunders/Elsevier, fifth edition, 2012. Chapter 29: 837-49. Página 3 de 3