UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUÍSTICA APLICADA Eliane Cristina Alves de Souza O GÊNERO REQUERIMENTO NA PERSPECTIVA SOCIORRETÓRICA: análise da produção de graduandos no ambiente acadêmicoadministrativo da UFRN Natal/RN 2013 Eliane Cristina Alves de Souza O GÊNERO REQUERIMENTO NA PERSPECTIVA SOCIORRETÓRICA: análise da produção de graduandos no ambiente acadêmicoadministrativo da UFRN Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Estudos da Linguagem. Área de concentração: Linguística Aplicada. Orientadora: Profa. Dra. Maria do Socorro Oliveira. Natal/RN 2013 Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). Souza, Eliane Cristina Alves de. O gênero requerimento na perspectiva sociorretórica: análise da produção de graduandos no ambiente acadêmico-administrativo da UFRN / Eliane Cristina Alves de Souza. – 2013. 205 f. : il. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Departamento de Letras. Programa de Pós Graduação em Estudos da Linguagem, 2013. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Socorro Oliveira. 1. Linguística Aplicada. 2. Gênero textual. 3. Requerimento. 4. Domínio acadêmico-administrativo. I. Oliveira, Maria do Socorro. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BSE-CCHLA CDU 81’33 Eliane Cristina Alves de Souza O GÊNERO REQUERIMENTO NA PERSPECTIVA SOCIORRETÓRICA: análise da produção de graduandos no ambiente acadêmicoadministrativo da UFRN Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Estudos da Linguagem e aprovada pela seguinte banca examinadora: _______________________________________________________________ Profa. Dra. Maria do Socorro Oliveira (Orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte _______________________________________________________________ Prof. Dr. Benedito Gomes Bezerra (Examinador Externo) Universidade Federal de Pernambuco _______________________________________________________________ Profa. Dra. Ana Maria de Oliveira Paz (Examinadora Interna) Universidade Federal do Rio Grande do Norte _______________________________________________________________ Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues (Examinadora Interna) Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal/RN 22/04/2013 Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. (Carlos Drummond de Andrade - O Lutador) AGRADECIMENTOS Ao Espírito Santo, companheiro fiel em todos os momentos, por me iluminar e fortalecer nos momentos difíceis e angustiantes deste percurso, concedendome a graça de realizar este trabalho. À Profa. Dra. Maria do Socorro Oliveira, exemplo de pessoa humana, pesquisadora e educadora, pela orientação competente, pelo incentivo em toda minha trajetória acadêmica e pela amizade. Ao meu esposo, Jeverson, pelo apoio à minha carreira, especialmente, pelo exemplo de determinação e coragem na busca de seus ideais, trilhando os caminhos com justiça, honestidade e sempre buscando a sabedoria. Aos meus pais, José Maria e Marly, por serem exemplo de humildade e honestidade, por sempre terem acreditado e investido na minha educação e pelo amor incondicional. Aos meus irmãos, Elaine e Edson, pelo amor e respeito que nos une cada dia mais. Aos meus sobrinhos, Vinícius, Guilherme e Danilo, que tanto amo. À cunhada Williane e ao meu sogro João Gondim, pelo apoio e incentivo. Às amigas Dayanne e Ana Christina, por acreditarem sempre em mim e, principalmente, por compartilharmos os momentos mais especiais de nossas vidas. À amiga Márcia Cecília, por ser tão fiel e especial em todas as horas. À amiga Elizete, pelo carinho e por toda admiração que a tenho, por sua capacidade intelectual e sua humildade, acima de tudo. Aos colegas da PROGRAD, por colaborarem com a realização desta pesquisa, em especial, aos amigos Gracinha, Vanessa, Sandra, Ivone, Francisquinho, Jocineide, Andressa, Jussara e Danúzia, pela amizade, apoio e incentivo constantes. À PROGRAD/UFRN, em especial, à Profª. Mirza, por entender as contribuições deste trabalho, aprovando o projeto e possibilitando o desenvolvimento da pesquisa. Aos professores Benedito, Ana Paz e Graça Rodrigues, por terem aceitado o convite para fazer parte desta Banca e, sobretudo, pelas valorosas contribuições a este trabalho. Às professoras Ana Paz e Graça Rodrigues, pelas valiosas observações e sugestões fornecidas a este trabalho, no Exame de Qualificação. Aos funcionários do PPGEL, pela disponibilidade no atendimento aos alunos do programa, especialmente, à amiga Bete, pelo carinho, amizade e pelas palavras de incentivo, principalmente, no momento mais difícil. Aos colegas das letras, Louize, pelo apoio e contribuições, Rosa, Taynã, Maria da Guia, Klébia, Henrique, Ayres, Nívia, Janima, Karla Jeane e Janaína pelas trocas de experiências tanto acadêmicas como pessoais. Aos colaboradores, servidores técnicos e alunos da UFRN, que se dispuseram a participar desta pesquisa. E a todos que, de alguma forma, contribuíram para a concretização deste trabalho. Gêneros não são apenas formas. Gêneros são formas de vida, modos de ser. São frames para a ação social. São ambientes para a aprendizagem. São os lugares onde o sentido é construído. Charles Bazerman RESUMO No ambiente administrativo das instituições públicas, muitas atividades são realizadas através de práticas de escrita. Nesse domínio, a escrita está sempre ligada a uma atividade que se deseja realizar. Dentre essas práticas, o gênero requerimento consiste em um instrumento através do qual o requerente se dirige a uma instituição, a fim de solicitar algo sob o amparo de uma legislação. Considerando nossa experiência de trabalho em uma instituição pública de ensino superior, elegemos como objeto de nossa pesquisa o gênero requerimento produzido por graduandos no domínio administrativo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte devido à sua importância nesse contexto. Para tanto, os aportes teóricos adotados referem-se à concepção sociorretórica dos estudos de gênero textual, que compreende o gênero textual como forma de ação retoricamente tipificada (MILLER, 2009a; SWALES, 1990; BAZERMAN, 2009). Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa associada à abordagem qualitativa (BODGAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 2010) cuja discussão se insere no campo da Linguística Aplicada. A geração dos dados deu-se a partir de exemplares de requerimentos e dos dizeres dos usuários do gênero em questionários, entrevistas e protocolos verbais de escrita. As análises dos dados se apoiam nos métodos etnográficos de análise de gênero postulados por Devitt, Reiff e Bawarshi (apud JOHNS et al., 2006). Essas análises indicam que os requerimentos nem sempre se realizam plenamente devido à falta de compreensão do gênero e de sua situação retórica por parte dos produtores. Provavelmente, entre outras razões, isso deve acontecer por esses alunos não terem compreendido que vários fatores afetam a produção de textos, como o contexto, a audiência e o propósito. Acreditamos que uma possibilidade de tornar a prática desse gênero textual mais eficiente seja desenvolver um modo de elaboração dos requerimentos mais prático e simples, tomando como base as necessidades impostas pela situação retórica. PALAVRAS-CHAVE: Gênero textual. Requerimento. Domínio acadêmicoadministrativo. Linguística Aplicada. ABSTRACT In administrative settings of public institutions, many activities are conducted through writing practices. Concerning this, writing is always connected to an activity we intend to perform. Among those practices, the genre “request” consists of an instrument through which the requirer addresses to an institution in order to request something under the support of legislation. Considering our work experience in a public institution of higher education, we elected - as object of our research - the genre “request” produced by undergraduates within the administrative domain of the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN) due to its importance in this context. For this, the theoretical framework adopted refers to the socio-rethorical conception of genre studies, which understands the genre as forms as rhetorically typified action (MILLER, 2009a; SWALES, 1990; BAZERMAN, 2009). Regarding methodology, it is a research associated to a qualitative approach (BODGAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 2010) whose discussion inserts into the field of Applied Linguistics. The data were generated from samples of “requests” and their users’ replies in questionnaires, interviews and verbal protocols of writing. The data analysis is based on the ethnographic methods of genre analysis postulated by Devitt, Reiff and Bawarshi (apud JOHNS et al., 2006). These analyses indicated that the requests are not always fully accomplished due to a lack of comprehension about the genre and its rhetorical situation on the part of the producers. It must probably happen - among other reasons - because these students may not have understood that several factors, such as: context, audience and purpose, affect the text production. We believe that one possibility to make the practice of this genre more efficient is to develop a more simple and practical way of elaborating requests, taking the needs imposed by the rhetorical situation as a basis. KEY-WORDS: Text genre. Request. Academic administrative domains. Applied Linguistics. NORMATIZAÇÃO ADOTADA Dissertação normalizada conforme padrão da ABNT NBR 14724:2011, explicitada nos manuais de apresentação de trabalhos acadêmicos de Silva e Silveira (2011) e Furasté (2011). LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Número de processos/ano encaminhados e/ou gerados na PROGRAD ................................................................................................................ 20 Quadro 2 - Distribuição de requerimentos coletados por cursos ............................... 41 Quadro 3 - Os três gêneros do discurso de acordo Aristóteles ................................. 53 Quadro 4 - Hierarquia dos Significados ..................................................................... 84 Quadro 5- Exposição da realização dos movimentos retóricos de R21 .................. 125 Quadro 6 - Colegiados Superiores da UFRN .......................................................... 131 Quadro 7- Conjuntos de gêneros utilizados no domínio acadêmicoadministrativo .......................................................................................................... 160 Quadro 8- Relato de AG2 acerca do processo de escrita e reescrita de um requerimento ........................................................................................................... 174 Quadro 9 - Relato de AG3 sobre o processo de escrita e reescrita de um requerimento ........................................................................................................... 175 Quadro 10 - Sugestões dos alunos para melhorar o sistema de atividade que envolve os requerimentos ....................................................................................... 179 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Prédio da Reitoria da UFRN ..................................................................... 33 Figura 2 - Organograma Administrativo da Pró-reitoria de Graduação da UFRN ..... 35 Figura 3 - Coordenadoria de Atendimento da PROGRAD/UFRN ............................. 36 Figura 4 - Aluno produzindo um requerimento na PROGRAD/UFRN ....................... 38 Figura 5 - Servidora atendendo às solicitações dos alunos ...................................... 38 Figura 6 - Sete fases na análise de gêneros proposta por Bhatia ............................. 79 Figura 7 - Modelo de Requerimento ........................................................................ 109 Figura 8 - Requerimento Padrão utilizado na PROGRAD/UFRN ............................ 111 Figura 9 - Requerimento nº 16 ................................................................................ 118 Figura 10 - Requerimento nº 21 .............................................................................. 124 Figura 11 - Domínio discursivo das solicitações dos alunos de graduação da UFRN ...................................................................................................................... 138 Figura 12 - Requerimento como parte de um sistema de gêneros, no domínio acadêmico-administrativo ........................................................................................ 163 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Preferência dos alunos quanto à produção de texto .............................. 113 Gráfico 2 - Modalidade de língua utilizada pelos alunos de graduação para solicitarem algo à PROGRAD ................................................................................. 136 Gráfico 3 - Atitude dos servidores diante da não compreensão às solicitações dos alunos ou da percepção da falta algum dado no requerimento para seu devido atendimento. ................................................................................................ 141 Gráfico 4 - O que levou os alunos a produzirem um requerimento ......................... 144 Gráfico 5 - Frequência de uso dos requerimentos, junto à PROGRAD, por parte dos alunos ............................................................................................................... 149 Gráfico 6 - Posicionamento dos alunos a respeito de terem sentido dificuldade para escrever algum requerimento, junto à PROGRAD .......................................... 150 Gráfico 7 - Orientação no uso dos requerimentos ................................................... 150 Gráfico 8 - A quem os alunos pedem orientação para escrever os requerimentos ......................................................................................................... 151 Gráfico 9 - Expressão dos servidores quanto à orientação aos alunos, na escrita dos requerimentos ....................................................................................... 152 Gráfico 10 - Posicionamento dos servidores sobre a frequência da solicitação de orientação, por parte dos alunos, para escrever os requerimentos .................... 152 Gráfico 11 - Posicionamento dos alunos a respeito da consulta a textos, na escrita dos requerimentos ....................................................................................... 153 Gráfico 12 - Opinião dos servidores a respeito da necessidade dos alunos se basearem em algum texto para escreverem os requerimentos............................... 154 Gráfico 13 - Revelação dos alunos sobre a consulta ao RGC, na escrita dos requerimentos ......................................................................................................... 154 Gráfico 14 - Manifestação dos alunos sobre o acompanhamento da solicitação .... 155 Gráfico 15 - Posicionamento dos servidores sobre o acompanhamento da solicitação pelos alunos .......................................................................................... 156 Gráfico 16 - Frequência de uso do computador pelos alunos ................................. 166 Gráfico 17 - Local em que os alunos usam o computador ...................................... 167 Gráfico 18 - Gêneros que os alunos escrevem na sua formação discente ............. 168 Gráfico 19 - Gêneros que os alunos escrevem, em sala de aula, a pedido do professor ................................................................................................................. 169 Gráfico 20 - Opinião dos alunos quanto à capacidade de identificar as características de um requerimento ........................................................................ 170 Gráfico 21 - Alunos que precisaram reescrever requerimento à PROGRAD .......... 177 Gráfico 22 - Grau de satisfação dos alunos em relação ao sistema de solicitação junto à PROGRAD ................................................................................. 178 Gráfico 23- Nível de escolaridade dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN ................................................................................................... 181 Gráfico 24 - Opinião dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN sobre a leitura dos textos oficiais .............................................. 182 Gráfico 25 - Frequência com que os servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN usam o computador ................................................................... 182 Gráfico 26 - Grau de satisfação dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN em relação ao sistema de solicitação dessa pró-reitoria ........... 184 Gráfico 27 - Revelação dos servidores técnico-administrativos da PROGRAD/UFRN a respeito de terem deixado de atender algum requerimento por não tê-lo compreendido..................................................................................... 185 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Movimentos retóricos identificados nos requerimentos que compõem o corpus .................................................................................................................. 117 Tabela 2- Movimentos retóricos encontrados nos exemplares de requerimento .... 122 Tabela 3 - Assuntos tratados nos requerimentos que compõem o corpus da pesquisa .................................................................................................................. 127 Tabela 4 - Indicadores referentes ao número de alunos e cursos na graduação da UFRN, no período de 1999 - 2009 ..................................................................... 132 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AC - Antes de Cristo AG - Aluno da Graduação CARS - Create a research space CONCURA - Conselho de Curadores CONSAD - Conselho de Administração CONSEPE - Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão CONSUNI - Conselho Universitário CG - Câmara de Graduação DACA - Diretoria de Administração e Controle Acadêmico DAE - Departamento de Administração Escolar DASP - Departamento Administrativo do Serviço Público DDP - Diretoria de Desenvolvimento Pedagógico LA - Linguística Aplicada LSF - Linguística Sistêmico-Funcional MRPR - Manual de Redação da Presidência da República PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais PDI - Plano de Desenvolvimento Institucional PROGRAD - Pró-reitoria de Graduação PV - Protocolo Verbal R - Requerimento RCG - Regulamento dos Cursos de Graduação REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais RN - Rio Grande do Norte SAU-5 - Sistema de Automação Universitária SIGAA - Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas SIPAC - Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos ST - Servidor Técnico UFAL - Universidade Federal de Alagoas UFPE - Universidade Federal de Pernambuco UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 18 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA................................................................ 28 1.1 A abordagem ..................................................................................................... 29 1.1.1 A Linguística Aplicada como norteadora .......................................................... 29 1.1.2 Sob o paradigma da pesquisa qualitativa ......................................................... 30 1.1.3 Termo de autorização de uso das informações ................................................ 31 1.2 Designação do objeto de estudo ..................................................................... 32 1.3 O cenário ............................................................................................................ 33 1.4 Os colaboradores .............................................................................................. 37 1.5 O corpus............................................................................................................. 39 1.6 Processo de geração de dados e instrumentos utilizados............................ 42 1.6.1 Os requerimentos ............................................................................................. 43 1.6.2 Os questionários .............................................................................................. 44 1.6.3 As entrevistas ................................................................................................... 45 1.6.4 Os protocolos verbais de escrita ...................................................................... 46 1.7 Procedimentos de análise dos dados ............................................................. 47 2 CONCEITO DE GÊNERO TEXTUAL/DISCURSIVO - EVOLUÇÃO ...................... 49 2.1 Entre a Retórica e a Literatura - origens do conceito de gênero textual/ discursivo ............................................................................................................... 50 2.2 Da Teoria Literária à Linguística - influências bakhtinianas na concepção de gêneros discursivos ............................................................................................... 56 2.3 Na atualidade - gêneros textuais/discursivos ................................................. 62 3 OS GÊNEROS TEXTUAIS NA CONCEPÇÃO SOCIORRETÓRICA .................... 70 3.1 John Swales....................................................................................................... 73 3.2 Vijay Bhatia ........................................................................................................ 78 3.3 Carolyn Miller ..................................................................................................... 80 3.4 Charles Bazerman ............................................................................................. 88 4 OS GÊNEROS NO CONTEXTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ...................... 99 4.1 A ‘redação oficial’ no Brasil ........................................................................... 100 4.2 O gênero requerimento ................................................................................... 106 4.2.1 O gênero requerimento nos manuais de Redação Oficial .............................. 107 5 O GÊNERO REQUERIMENTO EM ANÁLISE PERSPECTIVA SOCIORRETÓRICA ............................................................................................... 110 5.1 Aspectos constitutivos ................................................................................... 110 5.1.1 A constituição textual...................................................................................... 111 5.1.2 A organização retórica.................................................................................... 115 5.1.3 Os assuntos ................................................................................................... 126 5.2 O ambiente ....................................................................................................... 130 5.2.1 O ambiente físico - a Universidade Federal do Rio Grande do Norte ............ 130 5.2.2 O ambiente sociodiscursivo ............................................................................ 135 5.3 A situação de uso ............................................................................................ 143 5.3.1 Por que são usados ....................................................................................... 144 5.3.2 Como são usados .......................................................................................... 148 5.3.3 O requerimento em um sistema de gêneros .................................................. 157 5.4 Os usuários...................................................................................................... 164 5.4.1 Os escritores .................................................................................................. 165 5.4.1.1 Quem são .................................................................................................... 165 5.4.1.2 O que eles têm a dizer sobre esses requerimentos .................................... 171 5.4.2 Os leitores ...................................................................................................... 180 5.4.2.1 Quem são .................................................................................................... 180 5.4.2.2 O que eles têm a dizer sobre esses requerimentos .................................... 183 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 189 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 196 ANEXOS ................................................................................................................. 204 APÊNDICES ........................................................................................................... 205 18 INTRODUÇÃO Atualmente, muitos estudos, preocupados com as implicações sociais das práticas discursivas, estão sendo desenvolvidos no âmbito da Linguística Aplicada (LA) com base na análise do uso da língua em contextos autênticos. O desenvolvimento desses estudos tem se beneficiado muito pelo avanço das pesquisas sobre gêneros textuais/discursivos, principalmente quanto às contribuições advindas da sociorretórica, vertente norte-americana. De certa forma, podemos afirmar que os estudos dos gêneros têm acompanhado ao longo do tempo a trajetória dos estudos da língua. Inicialmente, o conceito de gêneros foi estabelecido na Filosofia Clássica com Aristóteles, a partir da busca pela arte da retórica. Depois, a noção de gênero foi associada aos textos literários e, em seguida, rediscutida pelo dialogismo bakhtiniano, quando a compreensão de linguagem expandiu-se como atividade interativa e social. A partir da apropriação do conceito de enunciado e da compreensão social da linguagem, os gêneros foram reconceituados. Isso permitiu enxergá-los como fenômeno complexo, surgindo, assim, o desenvolvimento de abordagens de estudo diferenciadas a seu respeito. A perspectiva que assumimos para o desenvolvimento deste trabalho baseiase na concepção sociorretórica de gênero, mais especificamente, nos estudos aprofundados por Swales (1990), Miller (2009a) e Bazerman (2009). A partir desses estudos, advindos da influência pós-estruturalista nas ciências sociais, na segunda metade do século XX, os gêneros textuais são vistos como ações retóricas tipificadas baseadas em situações recorrentes. Tomando como base a perspectiva sociorretórica da linguagem, que aborda a escrita por sua natureza sócio-discursiva e considera a organização social e as relações de poder implicadas, elegemos como objeto desta pesquisa o gênero ‘requerimento’ produzido por alunos da graduação no contexto administrativo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A análise de gêneros que pretendemos realizar mantém o foco nas ações que o requerimento realiza na situação em que está inserido, observando os aspectos retóricos envolvidos nas condições de produção e uso do gênero. 19 Através desse artefato, os alunos agem no domínio administrativo da instituição, uma vez que esse gênero é tipicamente reconhecido como o documento que permite a esses indivíduos se dirigirem à instituição, a fim de solicitar algo que lhe seja de direito. Esses requerimentos são redigidos nos ambientes das coordenações dos cursos ou, ainda, em um órgão central que atende a alunos de todos os cursos, denominado Diretoria de Administração e Controle Acadêmico (DACA)1, situado na Pró-reitoria de Graduação (PROGRAD). Nesses setores, os alunos podem se utilizar da ajuda de servidores para redigir os referidos documentos. Observando que a instituição possui uma organização administrativa rígida, orientada por princípios da administração pública, os graduandos contam com documentos específicos que compõem a legislação institucional para a elaboração dos requerimentos, tais como: regimento geral da universidade, regulamento dos cursos de graduação, calendário universitário, resoluções, decisões de colegiados, entre outros. Geralmente, esses requerimentos são elaborados em formulários que podem ser de dois tipos: específicos quanto ao assunto tratado, com uma forma fechada e estruturada; ou semi-estruturados quando não se referem a nenhum assunto especifico. Neste caso, chamado Formulário Padrão. Deter-nos-emos a este assunto no capítulo da metodologia. Este possui um layout que permite uma formatação mais livre, sendo dividido em duas partes. A primeira, denominada Dados do Aluno na qual o interessado preenche campos específicos com seus dados pessoais e do curso ao qual está vinculado. Na segunda parte, o formulário possui um espaço aberto, nomeado Solicitação, onde o aluno deve expor o seu pedido de acordo com as convenções do gênero. Assim, para que haja um claro entendimento e o objetivo seja alcançado, este espaço exige a elaboração de um texto, corporificado em um gênero textual para que possa realizar algum efeito nessa situação institucional (MARCUSCHI, 2010). Interessará a esta pesquisa a análise de requerimentos desenvolvidos no formulário do tipo padrão. 1 Até pouco tempo esse órgão era conhecido como Departamento de Administração Escolar (DAE), no entanto, em 2010, mudou de nome conforme orientação no Regimento Interno da Reitoria, proposta pela Resolução nº 014/2011-CONSUNI/UFRN. 20 Para que haja um controle da tramitação dessas solicitações, cada requerimento é transformado em processo administrativo por um servidor que atua na unidade onde o requerimento foi elaborado. Além do requerimento, os processos apresentam outros documentos anexos, observando as regras que determinam a condução do procedimento. Para uma melhor compreensão da demanda de requerimentos/processos analisados na PROGRAD, apresentamos a seguir um quadro que revela a quantidade de processos que circulou na PROGRAD nos anos de 2007 a 20112. Quadro 1 - Número de processos/ano encaminhados e/ou gerados na PROGRAD ANO NÚMERO DE REQUERIMENTOS/PROCESSOS 2007 7521 2008 8514 2009 6894 2010 7741 2011 4050 Fonte: Relatório de Gestão 2007-2011 da PROGRAD O primeiro contato que tivemos com os requerimentos se deu por ocasião em que desempenhava funções administrativas na Coordenadoria de Atendimento 3 da PROGRAD, primeiro setor por onde os processos destinados à pró-reitoria devem passar, já que ele é responsável pela distribuição interna de todos os documentos a ela destinados. Nessa época, duas coisas chamavam nossa atenção: a dificuldade que os alunos demonstravam na elaboração dos requerimentos, principalmente na parte do formulário referente à elaboração do texto, pois sempre perguntavam o que deveriam escrever, e a quantidade de requerimentos que circulava nesse ambiente, já que todos os pedidos dos alunos deveriam ser por escrito. Com a nossa remoção para um setor interno da PROGRAD, passamos a conviver com outro aspecto desse gênero, agora, referente à leitura desses requerimentos. Nesse novo momento, percebíamos que era constante uma queixa por parte dos servidores: a incompreensão das solicitações redigidas pelos alunos. 2 Os dados referentes ao ano de 2011 estão incompletos, pois foram tomados até o mês de abril. Na época, este setor chamava-se Setor de Protocolo. Ele teve o nome modificado devido à reestruturação na administração da Reitoria da UFRN, já citada na nota anterior. 3 21 Logo, percebemos que o gênero se realizava diante de dois obstáculos cruciais para um desempenho eficaz, a dificuldade da escrita e a dificuldade da leitura. Diante desse quadro, nosso interesse em estudar esse gênero deu-se como fruto da nossa experiência como servidora técnico-administrativa da UFRN e ele justifica-se a partir da constatação dessas dificuldades bem como da quantidade de requerimentos produzidos, uma vez que entendemos que a questão gira em torno do gênero enquanto atividade social em um contexto específico. Com base nos problemas que dificultam a concretização do atendimento às solicitações nos requerimentos, ou seja, a plena realização do gênero, sentimo-nos impulsionados a investigar os aspectos que envolvem produção e utilização desse gênero. Nesse sentido, vale destacar, a importância que o domínio dos gêneros requer para melhorar a capacidade de interação e ação social. Especificamente, o domínio do gênero, escolhido para análise, deverá permitir a ampliação das capacidades exigidas pela situação comunicativa no âmbito burocrático da instituição. Nesse sentido, o estudo de um gênero textual da comunicação administrativa é válido, uma vez que pretende apontar conhecimentos ‘genéricos’ sobre uma área de atuação humana, cuja análise ainda não despertou interesse notório por parte de linguistas. Marcuschi afirma que “há muitos gêneros produzidos de maneira sistemática e com grande incidência na vida diária, merecedores de nossa atenção” (2010, p. 38). Nesse caso, o gênero requerimento, instrumento através do qual os sujeitos reivindicam seus direitos nas mais diversas esferas institucionais, não seria merecedor de um estudo? Além do mais, essa perspectiva ressignifica o estudo interdisciplinar do gênero, ratificando a relevância da pesquisa para a área da Linguística Aplicada (LA). Dessa forma, interessa a compreensão do gênero e seu funcionamento dentro das circunstâncias que o configuram, para que, dessa maneira, seja possível a compreensão das condições de uso desse gênero. Além disso, o fato de, praticamente, inexistirem pesquisas linguísticas realizadas no Brasil preocupadas efetivamente com os gêneros da redação oficial já justifica o interesse em estudar o gênero requerimento. 22 Por essa razão, foi extremamente difícil o levantamento de uma literatura, no âmbito acadêmico, específica sobre o gênero em questão. Na verdade, foram encontrados apenas dois trabalhos que tratam, especificamente, do gênero requerimento. Mesmo assim, nenhum deles aborda o gênero na perspectiva que adotamos neste estudo, no caso, a da sociorretórica. O primeiro é um trabalho do professor doutor da UFPE, Marlos de Barros Pessoa (2009). Trata-se de um artigo intitulado Transformação da tradição discursiva ‘requerimento’: séculos xviii e xx. Esse trabalho apresenta uma comparação entre requerimentos formais escritos no século dezoito e os do século vinte, em uma perspectiva histórica mais ampla, pois procura entender como os textos se diferenciam em razão de uma tecnologia para outra. O autor chama à atenção para a esfera da produção desse gênero como capaz de integrar um indivíduo a uma estrutura burocrática. Apesar de não ter uma relação direta com a nossa abordagem, foi bem interessante conhecer a evolução histórica desse gênero no período citado. O outro trabalho corresponde a uma monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em Secretariado Executivo Bilíngue da Universidade Federal da Paraíba, por Geziel de Brito Lima (2011), intitulada A Argumentatividade no Gênero Requerimento: uma análise dos modalizadores discursivos. Nessa monografia, o autor discute o funcionamento das estruturas semântico-argumentativas no gênero textual requerimento, esclarecendo que o recurso da modalização funciona no texto como uma estratégia de argumentação que o locutor utiliza para convencer o interlocutor a atender a solicitação presente no documento. Os requerimentos que constituem o corpus da pesquisa de Lima foram coletados da rede mundial de computadores, de modo que se trata de um corpus amplo. O autor observa que existem marcas argumentativas mesmo nos requerimentos desenvolvidos em formulários. Ele afirma, ainda, que a contribuição que pretender oferecer refere-se aos estudantes e profissionais da área de secretariado. Além desses, a obra Análise de Gênero Textual: concepção sociorretórica (2005) da professora doutora da UFAL, Maria Inez Matoso Silveira, foi de grande importância para o desenvolvimento de nossa pesquisa, apesar de não tratar do gênero requerimento. Nesse trabalho, a autora analisa o gênero textual ofício com base na perspectiva da sociorretórica. 23 A partir de modelos de análise de gêneros desenvolvidos por Swales e Bhatia, a análise de Silveira (2005) privilegia os seguintes aspectos do ofício: o contexto enunciativo da produção e recepção do gênero, sua organização retórica e seus aspectos textuais e retóricos gramaticais. Sua análise não se preocupa exatamente em catalogar as regularidades dos componentes linguístico-gramaticais, textuais e discursivos do gênero. Em vez disso, o estudo demonstra que aspectos como a heterogeneidade, a dispersão e a diversidade estão diretamente relacionados aos usos da linguagem na vida social. Essa obra estabelece aproximações com nossa pesquisa justamente na maneira como o gênero é encarado, privilegiando o aspecto social que se presentifica no gênero enquanto ação humana. Nosso estudo, dessa forma, merece destaque por ele ser de natureza situada, voltado para um contexto de problemas reais, o seu desenvolvimento deverá dar visibilidade e encaminhamentos quanto ao domínio da prática discursiva envolvida como forma de ação social. Nessa perspectiva, a pesquisa preocupa-se em apontar colaborações para um problema existente na instituição. Assim, também, o estudo da prática de escrita dos requerimentos aponta para uma reflexão sobre uso efetivo da língua, em um contexto social que vai além dos limites da escola, permitindo olhar à prática social existente nesse processo de interação que possibilita ao indivíduo agir em diferentes esferas e circunstâncias, movido por diferentes propósitos (PAZ, 2008). A pesquisa visa contribuir para a área da LA, visto que aponta a necessidade de se construir um conhecimento que seja responsivo à vida social, no âmbito das atividades administrativas em empresas públicas e privadas, especificamente em relação aos procedimentos administrativos na universidade em questão, referentes ao gênero em estudo. Da mesma maneira, pretende oferecer subsídios para os estudos de gêneros textuais. Podemos afirmar, desse modo, que ela consiste em proporcionar redimensionamentos teóricos e sociais referentes ao gênero. Em termos teóricos, por apresentar uma nova maneira de olhar para esse tipo de texto, haja vista os gêneros da redação oficial serem geralmente explorados, simplesmente, através de sua estrutura composicional. A mudança de foco na análise em questão amplia a visão em relação ao objeto, de modo que o gênero requerimento passa a ser encarado em uma perspectiva social. 24 A relevância social diz respeito às implicações sociais possíveis, a partir deste trabalho, no meio em que o gênero em estudo se realiza. Ao dar voz aos usuários do gênero, tanto a quem produz quanto a quem acolhe, proporcionamos a esses sujeitos uma reflexão sobre uma atividade de rotina, quanto aos procedimentos no domínio administrativo da universidade, executada, muitas vezes, de forma automática. Permitimos, assim, que tais procedimentos sejam repensados, provocando a discussão e um provável redimensionamento no funcionamento da instituição, no que se refere ao uso desse gênero na instância em que ele se presentifica. Almejamos, dessa forma, oferecer um retorno efetivo à instituição. Outra implicação deste trabalho refere-se ao ensino, pois esperamos que os professores, ao conhecerem nossa pesquisa, percebam outros gêneros que fazem parte do convívio social e se preocupem com uma formação mais diversificada de seus alunos, de modo que eles sejam capazes de atuarem nas diversas instâncias sociais, a começar pelas que fazem parte da própria instituição em que estudam, através da ampliação do trabalho com os gêneros em sala de aula. Os professores, de tal modo, possibilitarão um aprimoramento da competência comunicativa de seus alunos, consequentemente, uma maior atuação social. Constitui-se, como principal objetivo desta pesquisa, discutir o gênero requerimento produzido pelos graduandos, enquanto prática social, desenvolvida no domínio acadêmico-administrativo da instituição. Com vistas a esse propósito, estabelecemos as seguintes questões de pesquisa: 1. Quais os elementos constitutivos dos requerimentos e a sua organização retórica? 2. Com foco no ambiente em que são produzidos, na sua situação de uso e nos seus usuários, como se constitui a situação retórica típica dos requerimentos? Orientados por essas questões, traçamos como objetivos específicos: 1. Identificar os elementos constitutivos dos requerimentos e a sua organização retórica; 25 2. Analisar a situação retórica típica dos requerimentos, tendo como foco o ambiente em que eles são produzidos, a sua situação de uso e os seus usuários. Para cumprir os objetivos da pesquisa, as análises partiram de dados constituídos a partir de 50 (cinquenta) requerimentos. Procuramos formar, também, dados concretos referentes ao uso desse gênero. Para isso, buscamos a triangulação dos dados e ouvimos os usuários do gênero, escritores e leitores, através de questionários, entrevistas e protocolos verbais de escrita. Essas três ferramentas foram aplicadas com os alunos, enquanto apenas as duas primeiras, com os servidores. Defendemos que essa triangulação torna possível uma apreciação mais ampla e legítima do objeto. Conforme a natureza do objeto de estudo, fundamentamo-nos em subsídios teóricos advindos da teoria dos gêneros textuais que concebe a linguagem como ação, constitutiva e constituída pelos aspectos sociais, históricos e culturais, ou seja, da perspectiva sociorretórica. Essa abordagem considera que os sujeitos assumem uma postura interativa e agem através de escolhas discursivas, a fim de realizar propósitos sócio-comunicativos. As concepções norteadoras deste estudo são, portanto, aquelas defendidas pela concepção sociorretórica do estudo dos gêneros, apresentadas principalmente por Carolyn Miller (2009a) no texto Gênero como Ação Social. Nessa obra, a autora discute proposições gerais sobre o conceito de gênero, inserindo seu estudo nas práticas comunicativas das comunidades discursivas, com enfoque retórico. As contribuições de Charles Bazerman (2009) serão de grande importância para nossa pesquisa, haja vista que, a partir de uma investigação retórica, histórica e interativa, ele nos convida a olhar os gêneros como formas de vida, presentes nas práticas cotidianas, estabelecidos nas relações dos indivíduos com a realidade institucional. Embora, não pretendamos seguir exatamente o modelo de análise de gênero desenvolvido por Swales (1990), seus apontamentos nos serão de grande utilidade, pois a partir de algumas adaptações ansiamos desenvolver a análise da constituição do gênero em tela, principalmente no que diz respeito à sua organização retórica. 26 Em relação à metodologia de pesquisa, adotamos os princípios do paradigma qualitativo4 de investigação científica (BODGAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 2010), uma vez que se trata de um estudo de fatos humanos e sociais em contexto autêntico de atuação. Tendo em vista a adoção desse paradigma, não fizemos uso de categorias pré-estabelecidas. O caráter da flexibilidade que acompanha o planejamento das investigações de natureza qualitativa foi constantemente preservado. Nesse sentido, utilizamos instrumentos da pesquisa etnográfica (LAPLANTINE, 2004), por entendermos que a compreensão do gênero requerimento na perspectiva sociorretórica só seria possível se focalizássemos nos significados das ações dos sujeitos implícitas no gênero. Para isso, adotamos o procedimento de imersão, no contexto social de atuação do gênero e nos permitimos ouvir seus usuários, a fim de gerar os dados considerando o ponto de vista dos sujeitos colaboradores da pesquisa (BODGAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 2010). Para discutir a problemática proposta, a dissertação está organizada em sete partes. Primeiramente, temos esta introdução, na qual apresentamos o objeto de estudo, questões de pesquisa, objetivos, a motivação para a realização do trabalho, a perspectiva teórico-metodológica, a abordagem da pesquisa, a revisão dos estudos sobre a temática, assim como a justificativa e as contribuições da pesquisa tanto para a Linguística Aplicada quanto para o domínio administrativo no ambiente acadêmico. No primeiro capítulo, a contextualização da pesquisa, apresentamos os aspectos metodológicos referentes à pesquisa: sua relação com a Linguística Aplicada, a abordagem da investigação, o objeto de estudo e os objetivos que nortearam o seu desenvolvimento, o cenário em que foi desenvolvida, os colaboradores, o corpus, os intrumentos e os procedimentos de geração dos dados e os procedimentos de análise dos dados. No segundo capítulo, considerando que a fundamentação consiste basicamente nos estudos sobre os gêneros textuais, traçamos a evolução histórica do conceito de gênero nas diversas áreas de estudo, desde o seu surgimento. Mapeamos os estudos de gênero, desde a Filosofia Clássica, fazendo a transição da 4 Vale esclarecer que o fato de a pesquisa fazer uso de gráficos não a torna quali-quantitativa, haja vista que não empregamos nenhum tipo de técnica estatística para a sua leitura. O uso dos gráficos é, na verdade, apenas recurso ilustrativo para dar mais visibilidade aos dados e sua compreensão é de caráter interpretativista. 27 retórica antiga à linguística, passando pela literatura. Apresentamos também as principais abordagens de estudo dos gêneros na atualidade. Com isso, percebemos como, ao longo do tempo, a renovação do estudo da língua afetou o estudo dos gêneros, e que, especificamente em relação à sociorretórica, esta corrente não compreende uma retomada direta dos primeiros estudos dos gêneros na retórica antiga. Trata-se de um outro modo de estudo da retórica. Por isso, também chamada de Nova Retórica. No terceiro capítulo, nos dedicamos mais especificamente à perspectiva sociorretórica de estudo dos gêneros. Neste momento, apresentamos as contribuições dos quatro estudiosos mais representativos dessa corrente: Vijay Bhatia, John Swales, Carolyn Miller e Charles Bazerman. Destacamos o trabalho dos três últimos, uma vez que, como teóricos, nos utilizamos dos seus construtos para embasar a análise dos requerimentos. Merece um destaque o conceito de gênero desenvolvido por Miller (2009a) como uma ação retoricamente tipificada. No quarto capítulo, tratamos mais especificamente do gênero textual requerimento, caracterizado como um gênero da redação oficial. Nesse sentido, evidenciamos a implicação de alguns aspectos da administração pública na redação oficial, principalmente no tocante ao Brasil, como, por exemplo, os princípios estabelecidos pela Constituição Federal, entre outras legislações. Além disso, discorremos sobre a definição do requerimento, o modo como ele é abordado nos manuais de redação oficial e apresentamos um exemplar típico do gênero. No quinto capítulo, discorremos sobre a análise dos dados referente ao requerimento, organizado-o em quatro partes, de modo a contemplar as categorias estabelecidas: a) os aspectos constitutivos; b) o ambiente em que se realiza; c) a situação de uso e, por fim, d) os usuários. Finalmente, encerramos o trabalho expondo as considerações finais. Neste momento, retomamos as questões do estudo e discutimos suas possíveis implicações para o uso do gênero requerimento nas condições da pesquisa e apresentamos algumas sugestões para investigações futuras, considerando que o assunto é tão pouco abordado em pesquisas. 28 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA O gênero é apenas a realização visível de um complexo de dinâmicas sociais e psicológicas. Ao compreendermos o que acontece com o gênero, porque o gênero é o que é, percebemos os múltiplos fatores sociais e psicológicos com os quais nossos enunciados precisam dialogar para serem mais eficazes. Charles Bazerman A fim de situar o trabalho no campo científico, apresentamos, agora, o percurso metodológico adotado nesta pesquisa. Com vistas a isso, discutiremos a abordagem de pesquisa adotada, os aspectos relativos ao objeto de estudo, o cenário e os colaboradores da pesquisa. Trataremos, também, do corpus que constitui a pesquisa, dos instrumentos usados para gerar os dados e dos procedimentos de análise adotados. Esta pesquisa se situa no campo da LA (MOITA LOPES, 2006), preocupada com as mudanças sociais e históricas e com as rupturas com os modelos hegemônicos. É uma área que se abre a estudos transdisciplinares,tais com a Sociologia, a Psicologia, a Filosofia, entre outros, para pensar a linguagem como um fenômeno situado, múltiplo e complexo. O trabalho se situa no paradigma qualitativo (BODGAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 2010; MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998), adotado pelas ciências humanas, o qual considera a complexidade do fenômeno social. De modo geral, a metodologia deste trabalho situa-se na perspectiva sociorretórica da análise de gêneros, mais especificamente, na teoria de gênero como ação social defendida por Miller (2009a), Swales (1990) e Bazerman (2009). Para responder às questões que norteiam a pesquisa, esta assume uma postura interdisciplinar, conforme Marcuschi (2008), adotando como procedimentos metodológicos algumas orientações apontadas por Johns et al. (2006), considerando a complexidade existente no gênero enquanto entidade multidimensional. 29 1.1 A abordagem 1.1.1 A Linguística Aplicada como norteadora Esta pesquisa se propõe a refletir sobre o gênero textual requerimento produzido por graduandos no domínio administrativo de uma instituição pública de ensino superior. Interessa discutir a utilização desse gênero no seu domínio sócio discursivo, inserido em um sistema de atividade socialmente organizado, observando questões referentes tanto à escritura quanto ao contexto, como as condições de produção, circulação e recepção desse gênero. Considerando que o contexto de análise é o de uma organização burocrática, própria do tipo de instituição em que a sociedade é representada pelo Estado, em uma estrutura jurídico-institucional (MOTTA, 2002), pode-se afirmar que a prática da escrita de requerimentos é extremamente necessária, na medida em que o uso desse gênero é o modo oficialmente reconhecido pelas organizações públicas. Através dele, seus usuários não só estabelecem uma comunicação com essa instância como também agem no sistema de modo a constituí-lo. Pretendemos investigar aspectos relacionados à produção deste gênero e seu funcionamento dentro das circunstâncias que o configuram, para que, dessa maneira, seja possível ir além das questões de forma e substância, focando na ação que realiza (MILLER, 2009a). Isso aponta para uma reflexão sobre uso efetivo da língua, concebendo-a como uma prática social que permite ao sujeito agir nas mais diversas esferas, movidos por diferentes propósitos (PAZ, 2008). A pesquisa visa, com isso, contribuir para os estudos atuais da LA que têm buscado a referência de uma língua real, em suas práticas reais e específicas, em uma tentativa de estudar o objeto ainda na tessitura de suas raízes (SIGNORINI, 1998). Além disso, considerando que a LA constitui-se como um campo de estudo que deve estar a serviço da sociedade, aspiramos discutir possíveis soluções e encaminhamentos junto à comunidade usuária do gênero, através da identificação de possíveis problemas existentes, a fim de “criar inteligibilidades sobre eles, de modo que alternativas para tais contextos de usos de linguagem possam ser vislumbradas” (MOITA LOPES, 2006, p. 20). 30 1.1.2 Sob o paradigma da pesquisa qualitativa Situada na área da LA indisciplinar (MOITA LOPES, 2006), considerando, portanto, as mudanças epistemológicas relacionadas ao cenário complexo da contemporaneidade, esta pesquisa pretende “provocar o esclarecimento de uma situação para uma tomada de consciência, pelos próprios pesquisados, dos seus problemas e das condições que os geram, a fim de elaborar os meios e estratégias de resolvê-los” (CHIZZOTTI, 2010, p. 104). Seu enquadre está de acordo com os propósitos do paradigma qualitativo (BODGAN; BIKLEN, 1994), visto que busca a análise descritiva e interpretativa do sistema de atividade que envolve a produção dos requerimentos. De forma indutiva, o processo de geração dos dados não se propõe à confirmação de hipóteses previamente construídas, mas à apreciação sobre um determinado objeto que só é possível após a construção dos dados e a relação direta do pesquisador com eles. Na pesquisa qualitativa, o que se busca é o entendimento e a interpretação dos fenômenos sociais inseridos em um contexto, o que requer uma compreensão ativa do mundo tanto por parte do pesquisador como também dos pesquisados. Como afirma Chizzotti (2010), essa abordagem de pesquisa fundamenta-se na existência de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito que, por sua vez, cria uma interdependência viva entre sujeito e objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. Assim, o sujeito de observador passa à condição de integrante do próprio conhecimento através do processo de interpretação utilizado diante dos fenômenos. Nesse caso, o objeto não é tido como neutro, pois possui significados e estabelece relações com suas ações, como sujeito que é. Para atender ao paradigma selecionado, priorizamos a interpretação dos dados (BORTONI, 2008), a fim de compreender o gênero não simplesmente como um produto, mas as circunstâncias de sua produção e circulação, também. Para isso, partimos da análise dos requerimentos produzidos pelos alunos e seguimos para além dos textos, buscando as próprias perspectivas dos participantes, em um planejamento que prevê a flexibilidade de ações, ao mesmo tempo em que visa à possibilidade contribuir para amenizar dificuldades referentes ao objeto de estudo (GIL, 2009). 31 Em vez de tratar o gênero simplesmente enquanto produto, buscamos a análise do processo, desde a elaboração até o atendimento dos requerimentos, pois, dessa forma, é possível enxergar o requerimento como um texto construído como reflexo de normas e convenções, valores e práticas sócio-historicamente produzidos. Em outras palavras, o gênero requerimento se constitui como reflexo da interação projetada entre autor e leitor, produto de convenções culturais, sociais e linguísticas, ou seja, como a materialização do discurso institucional, devendo ser necessário para o seu estudo considerar todos os aspectos contextuais implicados no processo de sua produção. Isso implica olhar para as referências dos sujeitos que utilizam o gênero, para o contexto de sua produção e para os procedimentos envolvidos nessa prática de produção e recepção desses textos. A natureza dos dados analisados constitui-se em uma mescla de ordem etnográfica e documental. Neste caso, em razão de os documentos investigados, ou seja, os requerimentos, não estarem relacionados a atividades referentes à etnografia propriamente, como o observar e o perguntar. Para uma melhor compreensão acerca do gênero em análise, no domínio administrativo da universidade, e a fim de garantir maior credibilidade à pesquisa, utilizamos mais de uma técnica de pesquisa, buscando discorrer de modo mais abrangente sobre o fenômeno investigado, ou seja, adotamos múltiplas fontes de informação para o desenvolvimento da pesquisa possibilitando, assim, a triangulação dos dados (MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998). 1.1.3 Termo de autorização de uso das informações Considerando que nossa pesquisa trata-se da investigação de seres humanos, apoiada em uma abordagem qualitativa, faz-se necessária a constante preocupação com questões éticas, decorrentes da interação do pesquisador com os colaboradores (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Conforme Bodgan e Biklen (1994, p. 75), duas questões predominam nessa discussão: “o consentimento informado e a proteção dos sujeitos contra qualquer especie de danos”. Faz-se necessário, dessa forma, assegurar a participação voluntária dos colaboradores e a garantia dos anonimatos. 32 Para preservar tais questões, elaboramos um termo de autorização de uso das informações para que os sujeitos assinassem. A elaboração desse termo deuse, conforme as recomendações de Creswell (2007), a fim de garantir aos colaboradores alguns direitos como parte integrante da pesquisa. A partir do acesso ao termo, os sujeitos puderam tomar consciência das implicações da pesquisa antes mesmo de colaborarem. Nele, esclarecemos a respeito da pesquisa, como, por exemplo, o objeto e as contribuições do estudo, e informamos que a participação era voluntária e que o anonimato seria garantido. Como utilizamos mais de um tipo de instrumento para gerar os dados e fizemos abordagens diferenciadas, a autorização do colaborador para uso das informações deu-se de modos diferentes. No caso dos questionários e dos requerimentos, fizemos contatos por telefone e enviamos o termo e o link do questionário por e-mail. Explicamos que a autorização seria dada através das respostas ao questionário. No caso das entrevistas e dos protocolos verbais de escrita, como o contato foi por telefone e pessoalmente, a autorização ocorreu por meio da assinatura do termo. Além dos dados de análise, também contamos com algumas fotografias no trabalho. Vale esclarecer que a autorização dessas imagens deu-se através da assinatura do termo. Além disso, mesmo o anonimato tendo sido garantido, os colaboradores liberaram ao uso das fotografias sem qualquer restrição. Em relação ao ambiente em que desenvolvemos a pesquisa, também elaboramos um termo para autorização da realização da pesquisa. Esse termo tinha como objetivo obter a permissão da autoridade responsável pelo setor e foi devidamente assinado pela Pró-reitora Adjunta. 1.2 Designação do objeto de estudo No ambiente administrativo das instituições públicas, muitas atividades são realizadas através de práticas de escrita, como atas de reuniões, ofícios, resoluções de órgãos superiores da administração, memorandos, relatórios, entre outras. A escrita, nesse domínio, está sempre ligada a uma atividade que se deseja realizar visando questões próprias da instituição. Dentre os gêneros que fazem parte da administração pública, os gêneros oficiais (BAKHTIN, 2010), elegemos como objeto de estudo o gênero requerimento, 33 muito utilizado na sociedade, mas sobre o qual praticamente inexiste elaboração teórica fundamentada na perspectiva dos gêneros textuais. Segundo Brügger e Querino (2009), requerimentos consistem em instrumentos através dos quais o requerente se dirige à instituição, a fim de solicitar o reconhecimento de um direito ou concessão de algo sob o amparo de uma legislação. Nosso interesse na pesquisa diz respeito, especificamente, ao gênero requerimento utilizado por graduandos como instrumento de participação social, inserido em um sistema de atividade amplo, onde circulam textos do mundo real que ocorrem dentro de circunstâncias sociais organizadas. Entendemos que esse gênero textual merece nossa atenção devido à sua relevância nesse contexto, pois é utilizado pelos alunos como principal instrumento para as solicitações de documentos (declarações, certificados etc.) e de procedimentos (retificações de notas, mudanças de modalidade, permutas de turno, prorrogações de prazo para conclusão de curso, entre outros) referentes à sua vida acadêmica. 1.3 O cenário Como o objeto de estudo desta pesquisa se refere a textos produzidos no domínio administrativo da UFRN, faz-se necessário conhecer um pouco esse contexto. Figura 1 - Prédio da Reitoria da UFRN Fonte: Acervo da pesquisa 34 A UFRN é uma instituição pública de ensino que presta serviços ao seu estado desde 1958. Na sua administração central, conforme o plano de gestão 2011 - 2015 (BRASIL, 2012), ela é composta por reitoria, 8 (oito) pró-reitorias, 2 (duas) secretarias acadêmicas e 3 (três) superintendências. A área acadêmica possui 8 (oito) centros acadêmicos, com 70 (setenta) departamentos, 5 (cinco) unidades acadêmicas especializadas, 3 (três) escolas de ensino técnico e 1 (uma) escola de ensino fundamental. Por ser uma instituição de referência no seu Estado, a UFRN se destaca em relação ao número de cursos e de alunos que dispõe. Somente no ano de 2010, o número de matrículas realizadas na graduação chegou a 27.204 (vinte e sete mil, duzentos e quatro), segundo o plano de gestão atual (BRASIL, 2012). Para administrar questões referentes ao ensino de graduação, a UFRN conta com a Pró-reitoria de Graduação (PROGRAD), órgão responsável pelo planejamento, supervisão, coordenação e controle das atividades de ensino de graduação. Além de assessorar o Reitor, com questões de política e atividades de ensino de graduação, cabe à PROGRAD, segundo seu Relatório de Gestão 2007-2011 (BRASIL, 2010b), coordenar, supervisionar e executar os serviços de registro e controle de registros das atividades relacionadas ao ensino de graduação; assessorar os órgãos da administração acadêmica, em todos os níveis, sobre legislação de ensino superior e assuntos de natureza didático-pedagógica. A PROGRAD divide-se em duas diretorias, a Diretoria de Desenvolvimento Pedagógico (DDP) e a Diretoria de Administração e Controle Acadêmico (DACA). A primeira atua mais diretamente no âmbito pedagógico, desenvolvendo atividades relacionadas à criação e atualização dos cursos, currículos e programas de graduação. A segunda é mais atuante no que se refere às questões administrativas, ocupando-se com o registro e acompanhamento da vida acadêmica dos alunos. Nesse sentido, a produção e circulação dos requerimentos acadêmicos acontecem em larga escala na DACA. Para o desempenho de suas atribuições, a PROGRAD conta com um total de 59 pessoas, sendo: 5 (cinco) servidores técnico-administrativos em assunto educacional, 27 (vinte e sete) servidores técnico-administrativos, 2 (dois) funcionários de apoio técnico, 19 (dezenove) bolsistas e 6 (seis) professores, sendo 35 1 (um) o Pró-reitor e outros 2 (dois) os diretores. No momento, um destes, o diretor da DACA, ocupa simultaneamente a função de Pró-reitor Adjunto. Junto à PROGRAD, como órgão deliberativo, normativo e consultivo sobre matéria acadêmica, temos a Câmara de Graduação (CG), que constitui o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE). Atualmente, a CG é composta por um corpo de 10 (dez) relatores, sendo 8 (oito) professores, 1 (um) servidor técnico e 1 (um) estudante. Esses relatores são membros do CONSEPE que, voluntariamente, optam por participar da CG5. Quanto a essa composição, ela não é fixa, pois depende do interesse dos membros do CONSEPE. A CG é presidida pelo Pró-reitor e Pró-reitor Adjunto da Graduação. Ela corresponde a um dos órgãos dos conselhos superiores da UFRN, o CONSEPE e atua diretamente na análise de alguns processos, cujos assuntos são legalmente de sua competência. Apresentamos, a seguir, a estrutura administrativa da PROGRAD: Figura 2 - Organograma Administrativo da Pró-reitoria de Graduação da UFRN Fonte: Relatório de Gestão 2007-2011 (BRASIL, 2010b) 5 É necessário esclarecer que, na verdade, os membros do CONSEPE têm a obrigação de participar de uma das quatro câmaras, de modo que a voluntariedade está na escolha concernente a uma das câmaras. 36 Considerando os ambientes de maior circulação dos requerimentos produzidos pelos alunos, envolvemos, diretamente na pesquisa, os seguintes setores da PROGRAD: a Secretaria, o Setor de Arquivo Ativo, o Setor de admissão e Cadastro, o Setor de Registro Acadêmico e o Setor de Expedição de Documentos. Além dos setores da DACA, contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa a Coordenadoria de Atendimento e a Assessoria Técnica, colaborando com a entrevista e com o questionário. A DACA possui, atualmente, 19 (dezenove) servidores técnicos, sendo distribuídos da seguinte maneira: 3 (três) na Secretaria, 4 (quatro) no setor de arquivo ativo, 4 (quatro) no Setor de Registro Acadêmico, 4 (quatro) no Setor de Registro e Expedição de Documentos e 4 (quatro) no Setor de Admissão e Cadastro. Além de 9 (nove) bolsistas e 1 (um) professor, que é o diretor. No caso da Assessoria Técnica da PROGRAD, sua contribuição deu-se com a resposta de 1 (uma) servidora técnica ao questionário. Figura 3 - Coordenadoria de Atendimento da PROGRAD/UFRN Fonte: Acervo da pesquisa A Coordenadoria de Atendimento, com 4 (quatro) servidores técnicos e 2 (dois) bolsistas, é o setor a PROGRAD que trabalha diretamente com a abertura e recepção de processos. Ela é responsável por receber as solicitações referentes ao ensino de graduação. Seu horário de funcionamento, diferente dos demais setores da PROGRAD, compreende doze horas diárias e ininterruptas, que vai das 7 horas e 37 30 minutos às 19 horas e 30 minutos, permitindo o acesso aos alunos nos três turnos em que a universidade funciona. Os demais setores da pró-reitoria funcionam das 7 horas e 30 minutos às 17 horas e 30 minutos, ou seja, nos turnos matutino e vespertino. Vale esclarecer que, além de serem produzidos na PROGRAD, alguns requerimentos são redigidos nos ambientes das coordenações dos cursos. Atualmente, a UFRN dispõe de 70 (setenta) departamentos de cursos, distribuídos em 8 (oito) centros administrativos. Em sua composição administrativa, as coordenações dos cursos possuem, geralmente, 1 (um) servidor técnico administrativo e 2 (dois) professores, um ocupando a função coordenador de curso e o outro de vice-coordenador. As coordenações têm a obrigação de funcionar durante oito horas diariamente. Os requerimentos, mesmo sendo produzidos fora da PROGRAD, seguem para lá, são recebidos pela Coordenadoria de Atendimento e encaminhados para os setores competentes para análise e atendimento. Optamos por gerar nossos dados apenas no âmbito dessa Pró-reitoria, uma vez que nela são arquivados a maior parte dos requerimentos produzidos pelos alunos da graduação. 1.4 Os colaboradores Os sujeitos participantes desta pesquisa são alunos do ensino de graduação e servidores técnicos da PROGRAD, ou seja, pessoas que atuam no sistema de atividade referente aos requerimentos de modo diferenciado conforme os papéis sociais que desempenham. A opção por trabalhar com esses dois segmentos deu-se devido à necessidade de olhar tanto para a elaboração da escrita dos requerimentos como para o atendimento desses documentos, a fim de visualizar o sistema existente no uso do gênero em estudo. 38 Figura 4 - Aluno produzindo um requerimento na PROGRAD/UFRN Figura 5 - Servidora atendendo às solicitações dos alunos Fonte: Acervo da pesquisa Fonte: Acervo da pesquisa Em termos quantitativos, são participantes da pesquisa 50 (cinquenta) graduandos de vários cursos, com ingresso em anos diferentes. Esses alunos se encontram cursando períodos distintos, variando no momento em que participaram da pesquisa entre alunos ingressantes (cursando o primeiro período letivo) e concluintes (que tinham concluído recentemente). A participação desses alunos deuse da seguinte maneira: todos responderam ao questionário e permitiram a análise pela pesquisadora dos requerimentos produzidos por eles no âmbito da graduação. Além disso, 3 (três) alunos participaram das entrevistas e 2 (dois) alunos participaram dos protocolos verbais de escrita. Em relação aos servidores técnicos, são 8 (oito) profissionais que desempenham suas atividades laborais na PROGRAD, sendo 4 (quatro) na DACA, 3 (três) na Coordenadoria de Atendimento e 1 (um) na Assessoria Técnica. Quanto ao tempo de serviço na universidade, existe uma variação entre 1 ano e 26 anos. No que se refere à formação profissional, 4 (quatro) possuem pós-graduação, 3 (três) possuem graduação e 1 (um) está cursando a graduação. Esses oito servidores responderam ao questionário aplicado e, dentre eles, selecionamos dois indivíduos para participar das entrevistas. Um deles atua, mais precisamente, junto à produção dos gêneros pelos alunos e o outro, na leitura e atendimento das solicitações feitas por eles. Os critérios de seleção foram, portanto: a relação que mantém com o gênero e a experiência com a atividade que desenvolvem em relação aos requerimentos, já que trabalham há mais de quatro anos no mesmo setor. De um total de 58 (cinquenta e oito) participantes, 23 (vinte e três) são do sexo feminino e 35 (trinta e cinco) do sexo masculino, com faixa etária variando entre 19 e 70 anos para os alunos, e entre 23 e 55 anos para os servidores técnicos. 39 A respeito da seleção dos colaboradores, nós não estabelecemos critérios específicos em relação aos alunos. Nosso interesse era formar um banco de dados que tivesse um maior alcance de modo que nenhum grupo específico fosse privilegiado. Desse modo, tivemos discentes de cursos variados, de diferentes áreas e em estados diferentes em relação ao curso, desde ingressantes até alunos que já tinham concluído o curso. Em relação aos servidores, buscamos a colaboração de servidores que atuam em setores diferentes da PROGRAD, a fim de observamos o que as vivências diferenciadas com o gênero poderiam revelar. No decorrer da pesquisa, esses alunos de graduação que contribuíram com a geração de dados serão mencionados nas análises como AG1, AG2, AG3, e assim sucessivamente. Da mesma forma, os servidores técnicos são identificados como ST1, ST2, ST3, e assim por diante. 1.5 O corpus Para uma análise que permita examinar o gênero nas suas diferentes dimensões (JOHNS et al., 2006), utilizando diferentes ferramentas etnográficas, a definição do corpus deste trabalho constituiu-se a partir da contemplação dos seguintes aspectos do gênero: a sua dimensão constitutiva e a sua dimensão retórica. Os corpora são compostos por uma seleção de requerimentos, questionários, entrevistas e protocolos verbais de escrita6. Os requerimentos e os protocolos verbais de escrita dizem respeito, obviamente, aos produtores dos textos; os demais instrumentos foram aplicados tanto com os produtores como com os leitores. No caso do corpora constituído por exemplares autênticos de requerimentos, verificou-se que, de modo geral, os atos implicados correspondem à solicitação de necessidades específicas por parte de graduandos junto aos representantes do serviço público que possuem competência legalmente instituída para o devido atendimento. A princípio, em um estudo piloto, a pesquisa contava com 110 (cento e dez) requerimentos coletados. A seleção desses requerimentos deu-se com base nas 6 As ilustrações usadas nesse capítulo metodológico não fazem parte do corpus de análise da pesquisa, apesar de comporem os documentos. 40 características relevantes aos interesses da pesquisa, através de critérios da intencionalidade, recomendável para esse tipo de pesquisa, conforme Gil (2009). Dentre eles, foram priorizados 50 (cinquenta) requerimentos para análise dos aspectos linguísticos do gênero. Como critério para essa segunda seleção privilegiou-se os requerimentos cujos produtores responderam ao questionário. Dessa forma, a pesquisa conta com 50 (cinquenta) questionários aplicados diretamente com os produtores de requerimentos selecionados e com suas respectivas produções. Esses requerimentos foram produzidos nos anos de 2010 e 2011 e, atualmente, encontram-se arquivados no Setor de Arquivo Ativo da PROGRAD. A coleta desses requerimentos deu-se de modo indiscriminado, já que os produtores são alunos de diferentes cursos na instituição, conforme a disposição a seguir: 41 Quadro 2 - Distribuição de requerimentos coletados por cursos Cursos Ocorrências Administração Biomedicina Ciências Biológicas Ciências Contábeis Direito Educação Física Engenharia Civil Engenharia da Computação Engenharia da Produção Engenharia Elétrica Engenharia Mecânica Engenharia Química Farmácia Filosofia Física Fisioterapia Geografia Geologia História Jornalismo Letras Medicina Música Psicologia Química Turismo 2 1 3 1 1 1 1 1 1 1 3 1 3 3 1 2 1 5 1 1 3 2 4 1 1 5 Fonte: Acervo da pesquisa A fim de um melhor controle do corpus desta pesquisa, os requerimentos foram identificados por um código alfanumérico, formado pela letra R seguida de um número que corresponde a uma sequência, de modo que são mencionados nas análises como R1, R2, R3... até R50. Nesse grupo de 50 (cinquenta) produtores de requerimento foram desenvolvidas entrevistas e protocolos verbais de escrita com 2 (dois) alunos que refizeram seus requerimentos para ter seu pedido aceito. Para uma maior elucidação da situação retórica (MILLER, 2009a), os leitores desses requerimentos, ou seja, os servidores da PROGRAD, também tiveram seus 42 dizeres considerados na construção dos dados para investigação a partir de informações prestadas em 8 (oito) questionários respondidos pelos servidores e em 2 (duas) entrevistas com servidoras da PROGRAD que se dispuseram a falar sobre suas experiências a respeito dos requerimentos. Referentemente aos alunos, foram adotados como dados para análise 50 (cinquenta) requerimentos, 50 (cinquenta) questionários, 3 (três) entrevistas e 2 (dois) protocolos verbais de escrita. Em relação aos servidores, constituem-se como dados 8 (oito) questionários e 2 (duas) entrevistas. Observamos que a natureza dos dados analisados se constitui de uma mescla de ordem documental e etnográfica. Isso permite a triangulação dos dados, atribuindo à pesquisa maior credibilidade. 1.6 Processo de geração de dados e instrumentos utilizados O processo de geração dos dados teve início no mês de fevereiro de 2011, quando, submetida à apreciação da Pró-reitoria da Graduação, a pesquisa obteve autorização oficial para sua realização. De posse dessa autorização, começamos a fase exploratória do campo, visitando os setores da PROGRAD. Nesse momento, empregamos técnicas como a “observação livre”, “conversas informais” com os servidores que trabalham com o gênero (MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998, p.161). Aproveitamos para informar à comunidade sobre a proposta de investigação, a fim de esclarecer sobre a importância da pesquisa e, ao mesmo tempo, conseguir o apoio desses servidores na coleta dos textos. Uma análise preliminar dos requerimentos, amparada na perspectiva sociorretórica de análise de gêneros, consistiu em um estudo piloto. Esse estudo indicou que, para contemplar a situação retórica que envolve o gênero, a análise não poderia ficar presa apenas aos textos produzidos pelos alunos. Resolvemos, então, adotar diferentes fontes, já que compreendemos o gênero como uma entidade complexa. Percebemos que, para o desenvolvimento de nossa pesquisa, seria extremamente relevante considerar a percepção dos sujeitos atuantes no desenvolvimento da atividade ligada ao gênero a respeito das condições de uso. 43 Para atender as necessidades reveladas nesse estudo piloto, resolvemos empregar diferentes tipos de instrumentos de pesquisa que foram aplicados junto aos usuários do gênero requerimento, os alunos e os servidores técnicos. Apresentaremos, a seguir, os instrumentos de pesquisa utilizados. Na medida em que discorremos sobre os instrumentos, relatamos os procedimentos aplicados para gerar os dados desta pesquisa. 1.6.1 Os requerimentos Inicialmente, a coleta dos textos deu-se através do engajamento dos setores com a indicação de requerimentos para compor o nosso banco de dados. Em seguida, foi a vez de consultar o acervo do Setor de Arquivo Ativo da PROGRAD, onde são arquivados os processos dos alunos de graduação ativos na instituição, para proceder a coleta dos textos. Dessa forma, fizemos cópia dos requerimentos, totalizando, inicialmente, 110 exemplares. De posse desses requerimentos, criamos um banco de dados dos alunos prováveis colaboradores da pesquisa. Esse banco continha as seguintes informações: nome, matrícula, número do processo, assunto do processo, data da coleta, telefones e e-mail. Esses dados permitiram o contato com os alunos para obter autorização para análise desses documentos. O banco de dados dos colaboradores foi sendo formado, então, à medida que os textos eram coletados. Através de mensagens via e-mail e ligações telefônicas, procedemos ao contato com esses alunos para informá-los sobre a pesquisa e, ao mesmo tempo, perguntá-los sobre a disponibilidade para participarem dela. Vale ressaltar que sempre houve a preocupação com a questão ética, uma vez que ela deve sempre se fazer presente nas pesquisas, principalmente nas qualitativas, em que as relações entre colaboradores e investigador ocorrem de forma mais próxima e continuada (BODGAN; BIKLEN, 1994). Dos 110 (cento e dez) alunos que foram contactados, 50 (cinquenta) se dispuseram a participar da pesquisa, já autorizando a análise de seus requerimentos. Assim, formamos o primeiro corpora deste trabalho, composto por 50 requerimentos. 44 1.6.2 Os questionários A segunda parte do nosso corpus é formada por 58 (cinquenta e oito) questionários respondidos pelos usuários do gênero, sendo 8 (oito) respondidos por servidores técnicos da PROGRAD e 50 (cinquenta) por alunos de graduação. Para facilitar a aplicação deste instrumento, optamos por utilizar uma ferramenta disponível pelo site do Google, chamada Google Docs. Com ela, foi possível publicar o questionário online, facilitando o acesso e permitindo uma interação simples, rápida e com segurança. Para conseguir a adesão dos servidores em relação a esse instrumento, visitamos a PROGRAD, fizemos uma exposição de nossa pesquisa, utilizando uma apresentação no programa PowerPoint. Nesse evento, contamos, inclusive com a presença do Pró-reitor adjunto da PROGRAD. Após a exposição, explicamos a necessidade da participação deles na pesquisa e solicitamos os e-mails dos voluntários para enviar o convite. Dos 10 (dez) servidores convidados por e-mail, 8 (oito) responderam ao questionário. Em relação aos alunos, no mesmo contato que realizamos para solicitar autorização para análise dos requerimentos, explicamos sobre a importância de responder aos questionários. Esclarecemos, por telefone e no próprio questionário, que a resposta a esse instrumento implicaria a autorização para o uso das informações na análise do trabalho. Dos 110 (cento e dez) alunos contactados, 50 (cinquenta) responderam ao questionário, autorizando também a análise dos requerimentos. Os questionários apresentam questões fechadas e abertas. Eles tratavam, basicamente, da identificação dos sujeitos; de suas práticas de leitura e de escrita, em ambientes diversos e, especificamente, no ambiente acadêmico (para os alunos) e no de trabalhos (para os servidores); e de questões referentes ao gênero em questão. Vale esclarecer que, devido ao fato dos usuários ocuparem lugares diferentes em relação ao gênero, optamos por aplicar dois tipos de questionários, um para cada categoria - escritores e leitores -, a fim de privilegiar questões específicas quanto ao uso dos requerimentos. 45 1.6.3 As entrevistas Após a geração dos dados, sentindo a necessidade de obter informações mais específicas a respeito das circunstâncias que envolvem o processo de realização dos requerimentos, resolvemos realizar entrevistas dirigidas (CHIZZOTTI, 2006) com 2 (dois) servidores e 3 (três alunos). Buscamos depreender nessas entrevistas o contexto de realização do gênero requerimento, os elementos que envolvem o sistema de atividade do qual esse gênero faz parte, as dificuldades que perpassam o processo de produção e atendimento desses documentos, a execução dessas atividades e as sugestões de melhoria no sistema relacionado aos requerimentos. Em relação às entrevistas com os servidores, a adesão foi negociada da mesma forma que ocorreu com os questionários e a participação deu-se voluntariamente. Pessoalmente, explicamos a necessidade da utilização de mais esse instrumento e lançamos o convite. Prontamente, 2 (duas) servidoras demonstraram a disponibilidade para colaborar com as entrevistas, quando marcamos encontros individualmente. Quanto aos alunos, dentre os que haviam respondido ao questionário, escolhemos 3 (três) para realizar a entrevista. Dois desses alunos foram escolhidos por terem refeito os requerimentos e o outro, por ele mesmo ter se oferecido para colaborar com entrevista, caso fosse necessário. Entramos em contato, novamente, com esses alunos por telefone e explicamos a necessidade da aplicação desse instrumento. Após consentimento, marcamos encontros particulares. Os encontros ocorreram igualmente tanto com os servidores como com os graduandos. Inicialmente, colhemos as assinaturas do Termo de Autorização de Uso das Informações e realizamos uma conversa informal a fim de ressaltar os propósitos da pesquisa. Depois desse primeiro momento, realizamos “entrevistas dirigidas” (CHIZZOTTI, 2006, p. 57) e fizemos uso da gravação em áudio. Durante as entrevistas, algumas perguntas (como por exemplo, sobre o momento da escrita, os destinatários, os propósitos, as condições de leitura) eram lançadas para que os entrevistados falassem livremente a respeito. Após a realização das transcrições, com base nos procedimentos da pesquisa etnográfica, os colaboradores tinham acesso ao material, fruto do encontro anterior, 46 podendo aprovar, modificar ou reprovar as informações por eles repassadas, com vistas a garantir maior fidedignidade aos dados coletados. 1.6.4 Os protocolos verbais de escrita Pensando no processo de desenvolvimento da escrita dos requerimentos, mais especificamente no momento em que essa escrita acontece e nos fatores que interferem nesse processo, resolvemos adotar como instrumento de pesquisa protocolos verbais (PV) (ERICSSON; SIMON,1987; 1993). Essa técnica, utilizada em pesquisas qualitativas, consiste na coleta de dados através da verbalização dos pensamentos dos sujeitos, durante o processamento de uma tarefa. É um instrumento que promove uma análise pelo sujeito de seu próprio processo de pensamento. Inicialmente, ela foi aplicada na área de leitura, mas já existem pesquisas que a empregam no contexto da escrita (COHEN; BROOKS-CARSON, 2001; CASTRO, 2004), como é o nosso caso. Adaptando a técnica, utilizamos relatos verbais retrospectivos, ou seja, os PV de escrita foram desenvolvidos em momento posterior à escrita dos textos. Neles, era solicitado que os sujeitos comentassem experiências e opiniões sobre a escrita dos requerimentos. Os PV foram gerados segundo algumas etapas. Primeiramente, com base nos corpora referentes aos requerimentos, constatamos que alguns tinham sido reelaborados. No contato por telefone com os produtores desses textos, a respeito das entrevistas, explicamos a necessidade de uso de mais um instrumento. Após a demonstração de interesse na colaboração de mais essa etapa, marcamos o momento para gerar os protocolos. A geração de dados foi realizada individualmente com os 2 (dois) alunos, através de gravação de áudio. Antes de aplicar a ferramenta, realizamos uma conversa informal sobre os procedimentos que envolvem a técnica de protocolos verbais para um melhor esclarecimento da tarefa a ser utilizada. Em seguida, requerimentos, tendo entregamos sido aos apenas sujeitos a as segunda duas deferida. versões de Solicitamos seus aos colaboradores que visualizassem as mudanças e que externassem seus pensamentos sobre a reescritura do documento, dando ênfase ao esclarecimento dos aspectos contemplados nos processos das escritas. 47 Após, os encontros, os áudios dos relatos foram transcritos e enviados por email aos colaboradores, procedimento também realizado com as entrevistas, para que os participantes tivessem acesso ao material, podendo fazer quaisquer modificações nas informações apresentadas. 1.7 Procedimentos de análise dos dados Partindo da noção de que a pesquisa qualitativa não trabalha com ideias préconcebidas, priorizamos estabelecer um diálogo entre as teorias que fundamentam esta pesquisa (MILLER, 2009a; SWALES, 1990; BAZERMAN, 2009) e as informações advindas dos dados gerados. Com isso, observamos como se dá a prática social do gênero requerimento produzido por graduandos no domínio administrativo da instituição em que estudam para eleger as categorias devidamente apropriadas ao questionamento central deste trabalho. Baseado na perspectiva sociorretórica dos gêneros, que compreende a atividade de linguagem como ação social situada (MILLER, 2009a; SWALES, 1990; BAZERMAN, 2009) e considerando a complexidade dos dados coletados e os métodos etnográficos de análise de gênero recomendados por Devitt, Reiff e Bawarshi, que fornecem o acesso tanto às comunidade como também aos usos dos gêneros, (apud JOHNS et al., 2006), as categorias de análise foram exploradas de forma mais amplas, haja vista que ao olhar o texto, olhamos também para a sua situação retórica. Nesse sentido, adotamos as seguintes categorias para análise do gênero requerimento: os aspectos constitutivos; o ambiente em que se realiza; a situação de uso e os usuários. Buscando entender como esses documentos funcionam e a interpretação que os sujeitos dão a eles, no seu contexto de funcionamento, utilizamos vários instrumentos de pesquisa, já citados, que permitiram examinar os requerimentos centrando-se muito mais na ação induzida pelo discurso do que na sua substância, como recomenda Miller (2009a). Quanto à análise documental, a apreciação dos textos produzidos pelos graduandos, ou seja, dos requerimentos, levou-nos a investigar, nos exemplares que compõem parte do corpus, alguns aspectos constitutivos referentes à macroestrutura do gênero, à organização retórica e aos assuntos tratados, que estão relacionados aos propósitos. Neste momento, a análise teve como referência 48 os apontamentos de Swales (1990), embora tenhamos feito uma transposição de suas ideias. Essa análise foi triangulada com informações obtidas por meio dos questionários e das entrevistas, que foram realizados tanto com os produtores quanto com os receptores do gênero. A análise dos questionários e das entrevistas também possibilitou estabelecer uma interpretação social do gênero através da observação de características gerais da comunidade retórica (MILLER, 2009b). Com isso, foi possível compreender o papel dos sujeitos, suas opiniões sobre esse gênero, dificuldades e sugestões de melhorias para o sistema de atividade no qual o gênero requerimento se insere. Especificamente, sobre as condições de uso desses textos, depreendemos onde e como ocorre o funcionamento desses requerimentos nesse sistema, constatamos fragilidades, identificamos outros gêneros que participam desse sistema e depreendemos como ocorrem as interações através desse gênero. Finalmente, com a análise dos protocolos verbais de escrita, buscamos identificar as etapas que constituem o momento da escrita, as mudanças contempladas na segunda escrita dos textos, ou seja, dos requerimentos deferidos, e, consequentemente, os critérios privilegiados pelos escritores. 189 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando que a relevância de uma pesquisa consiste no retorno que ela apresenta à comunidade pesquisada, a fim de possibilitar a realização de ações antes não pensadas ou vislumbradas ou, ainda, difíceis de serem viabilizadas, nossa pretensão, neste estudo, não é a de solucionar problemas de forma definitiva, mas de provocar um diálogo legítimo a respeito dos aspectos sociais que envolvem as atividades relacionadas ao gênero analisado. Com base na compreensão sociorretórica de gênero textual (MILLER, 1984; SWALES, 1990; BHATIA, 1993; BAZERMAN, 1994), esta pesquisa buscou investigar, como objetivo central, o gênero requerimento produzido pelos graduandos enquanto prática social desenvolvida no domínio acadêmico- administrativo da instituição. A partir da análise dos exemplares do gênero, dos discursos de seus usuários e de observações sobre o ambiente em ele se presentifica, obtivemos como evidência uma compreensão mais fidedigna das atividades realizadas no domínio acadêmico-administrativo e, consequentemente, o entendimento de que os requerimentos se constituem como ferramenta fundamental nesse contexto, uma vez que são o modo legítimo utilizado pelos graduandos para se dirigirem à Próreitoria de Graduação. Para apresentar nossas considerações a respeito do nosso objeto de investigação, organizamos esta seção em duas partes. Na primeira, retomamos as questões de pesquisa, a fim de atender aos objetivos propostos pela pesquisa. Na segunda parte, compreendendo que o tema abordado não pode ser considerado esgotado, haja vista a dificuldade de encontrar trabalhos a respeito dos gêneros que circulam no domínio administrativo, ressaltamos a necessidade de realizar mais pesquisas a esse respeito. Para atender ao objetivo central, buscamos, nos dados formulados, o entendimento que nos permitisse responder às seguintes questões: quais os elementos constitutivos dos requerimentos e a sua organização retórica; e como se constitui a situação retórica típica dos requerimentos, tendo como foco o ambiente em que são produzidos, a sua situação de uso e os seus usuários. 190 Na tentativa de responder a essas questões, nossa análise partiu da compreensão do caráter essencialmente histórico e dinâmico que há no gênero textual e foi orientada, particularmente, pelos métodos etnográficos de análise de gênero recomendados por Devitt, Reiff e Bawarshi (apud JOHNS et al., 2006). Através desses métodos, tivemos acesso não só à comunidade como também aos usos do gênero em questão. Com isso, foi possível enxergá-lo como entidade complexa e multidimensional, resultado de uma relação funcional entre tipo de texto e situação retórica. Com base na noção de recorrência (MILLER, 2009a), a análise dos aspectos que constituem esses requerimentos, revelou-nos que, por serem desenvolvidos em formulários específicos destinados ao propósito comunicativo comum de solicitar, são textos curtos e simples. Em geral, encontramos a realização de onze movimentos retóricos, sendo apenas dois mais recorrentes - o de solicitar e o de justificar. Esses dois movimentos são encarados como essenciais na identificação do gênero e para a sua realização nesse domínio e estariam mais relacionados ao propósito social do gênero. Em relação aos assuntos tratados nesses documentos, percebemos que há uma diversidade. Eles variam de acordo com períodos específicos. Relacionamos esses assuntos ao que chamamos de propósito comunicativo individuais, pois, além do propósito comum do gênero, que corresponde ao próprio ato de fala existente no requerimento, que é o de solicitar, entendemos que existe um propósito comum, que refere-se ao sujeito e o movimenta no sentido de agir através do requerimento. Dizemos que esses propósitos comunicativos individuais são particulares, mas não são únicos, pois se repetem, de modo que são previstos por legislações que determinam as condições de uso. Reconhecemos que os padrões retóricos desses requerimentos revelam que, apesar de se tratar de um gênero da comunicação oficial, seus aspectos constitutivos são empregados de forma pragmática e sem maiores compromissos com os parâmetros que regulamentam a comunicação oficial, visando, simplesmente, ao atendimento do propósito comunicativo, sem submeterem-se às exigências dos manuais de redação oficial. Com base nessa observação, ressaltamos a incapacidade dos manuais normativos fixarem universalmente o gênero, como se esse não atendesse à situação comunicativa, negando-lhe a capacidade própria de flexibilidade. 191 Como podemos observar, nos requerimentos analisados, a simplicidade do gênero está relacionada ao padrão constitutivo do gênero, referente à solicitação e à justificativa. No entanto, mesmo seguindo um padrão de elaboração simples, esses requerimentos apresentam, ainda, muitos problemas de ordem tanto linguística quanto retórica. Essas dificuldades podem estar relacionadas a vários fatores. Um deles é o fato de esses alunos não terem uma compreensão clara a respeito do gênero. Outro motivo observado é o pouco ou quase inexistente trabalho com esse gênero em sala de aula. Além disso, outra possibilidade diz respeito ao pouco contato desses alunos com o domínio administrativo da instituição e, consequentemente, com os gêneros que nele circulam. Os dados evidenciam, assim, a necessidade de oferecer aos alunos a oportunidade de conhecer melhor outros gêneros, além dos acadêmicos, que fazem parte de sua convivência e, com isso, ampliar sua competência comunicativa e sua atuação social nos diversos domínios que a universidade admite. Para identificar melhor essas dificuldades existentes no sistema de atividade referente aos requerimentos, passamos, então, a contemplar a segunda questão, referente à situação retórica típica dos requerimentos, pois entendemos que somente conhecendo essa situação podemos buscar encaminhamentos práticos para tais problemas. Com base nos princípios da pesquisa etnográfica, elegemos como elementos relevantes na situação retórica o ambiente em que os requerimentos são produzidos, a situação de uso e os usuários do gênero. Em relação ao ambiente em que são produzidos, apesar de esses requerimentos serem produzidos por alunos, eles não correspondem aos gêneros tidos como acadêmicos, pois circulam em um domínio específico dentro do espaço da academia, o administrativo. Considerando o ambiente de instituição pública, cujas atividades são regidas por princípios legais, os requerimentos se apresentam, de certa forma, conforme essa padronização. Devido à hierarquia que constitui a universidade, à sua extensão e ao número de cursos e de alunos, a maneira permitida aos alunos para se dirigirem à PROGRAD é através dos requerimentos, que podem ser produzidos tanto na própria pró-reitoria como nas coordenações dos cursos. Depois da produção, todos os procedimentos e os locais por onde os requerimentos passam seguem uma ordem. 192 Isso permite inferir que esses documentos são regidos por regras específicas e que os alunos precisam ter conhecimento para que haja uma apropriação do gênero. Em relação à situação de uso desse gênero, podemos afirmar que: sua utilização dá-se devido à necessidade de solicitar algo à PROGRAD. Apesar dele ser um gênero de uma produção na universidade considerável, é pouco ou pouquíssimo abordado em sala de aula. Existe dificuldade por parte de alguns alunos na escrita desse gênero e, provavelmente, devido a isso, existe também orientação para sua produção. Os alunos, em sua maioria, não recorrem aos textos que regulamentam a elaboração desses requerimentos, consultando o RCG poucas vezes. Eles não costumam acompanhar o andamento do processo que envolve o gênero. Além disso, os requerimentos compõem um sistema de atividades que se organiza de forma central em torno de documentos escritos próprios do sistema acadêmico-administrativo da universidade, em que alunos, professores e servidores técnicos agem de acordo com papéis ou funções sociais que desempenham nesse contexto. Esses documentos acompanham os requerimentos formando processos administrativos, de acordo com procedimentos estabelecidos no RCG, com vista ao cumprimento de um propósito. Esses processos reúnem conjuntos de gêneros constituindo um sistema de atividades realizadas conforme uma rotina que tem como elemento desencadeador o requerimento. Para abordar as representações dos usuários dos requerimentos, resolvemos olhar não somente a situação de escrita como também a de leitura desses textos. Essa orientação evidenciou de forma mais completa que tanto a atividade de escrita como a de leitura dos requerimentos acontece em razão do papel social que o indivíduo desempenha na instituição. Dessa forma, ouvimos os alunos, que desempenham a função de escritores do gênero, e os servidores técnicos, que atuam na PROGRAD e têm a obrigação de ler esses textos para analisar e atender as solicitações conforme a legislação vigente. Com base no conjunto de métodos adotados na geração dos dados (questionários, entrevistas, protocolos verbais de escrita e consulta documental), a análise dos usuários desse gênero deu-se na perspectiva de estabelecer um diálogo útil no sentido de tornar visível para o outro o entendimento dos significados de suas ações. 193 A fim de estabelecermos o diálogo e a reflexão almejada juntamente com os usuários, retomamos os seguintes aspectos: o modo como eles se relacionam com o gênero; as dificuldades apontadas na produção e na leitura; assim como, as críticas e as sugestões que consideram relevantes. Em relação aos escritores, podemos afirmar que são alunos que, no geral, preferem ler a escrever e utilizam o computador com frequência e em vários ambientes, principalmente, onde residem. Quanto ao requerimento, apesar de ser um gênero textual presente vida acadêmica do aluno, ele é um dos menos explorados em sala de aula. Esse dado aponta para a dificuldade, exposta tanto por alunos quanto por servidores, de o aluno não saber redigir um requerimento no momento em precisa solicitar algo pela primeira vez à PROGRAD, sentindo-se inseguro para realizar essa atividade. Dentre as dificuldades apontadas pelos escritores, destacamos a falta de conhecimento dos procedimentos que envolvem os requerimentos. Isso revela que esses alunos não possuem uma compreensão clara dos aspectos retóricos que envolvem esse gênero, ou seja, eles não estão aptos a lidar com as necessidades impostas pela situação retórica. Esse desconhecimento acaba levando-os a reescreverem seus requerimentos, o que demanda tempo, despesa e trabalho para todos. Em relação aos leitores, são servidores que lêem como parte das atividade que realizam no exercício de sua função na instituição. Eles possuem um grau de qualificação acima do exigido pelo cargo que ocupam. Apesar de gostarem de ler, relacionam a leitura de textos oficiais à necessidade/obrigação; e usam o computador com muita frequência. Na atividade de leitura dos requerimentos, a dificuldade mais grave e recorrente nos dizeres dos servidores refere-se à não compreensão dos textos, ou seja, do objeto da solicitação. Essa dificuldade impede completamente a realização do propósito do gênero, pois sem compreender o que o aluno está solicitando tornase impossível atender ao pedido. Isso também ratifica o não domínio do gênero por parte dos escritores. Apesar de se declararem satisfeitos com esse sistema de atividade, tanto os alunos quanto os servidores apresentam sugestões para torná-lo mais eficiente. Essas sugestões estão diretamente relacionadas às dificuldades que giram em torno 194 da ampliação do conhecimento acerca do gênero, ou melhor, de sua situação retórica, pois os alunos pedem não somente uma maior orientação quanto à escritura do gênero como pedem para ampliar seus conhecimentos sobre os procedimentos empregados na atividade, sobre a legislação referente à vida acadêmica do aluno e também sobre a PROGRAD. Além da questão do conhecimento, outras sugestões apontadas referem-se à melhora das condições de acompanhamento dos processos, ao emprego de mais agilidade na condução deles e à informatização do sistema. A informatização do processo, e, consequentemente do gênero, apresenta-se para os usuários como uma possibilidade de melhorar das condições de produção e de leitura desses textos, desde que, junto ao uso da ferramenta virtual, outras sugestões referentes à situação retórica fossem observadas. Assim como os gêneros são flexíveis e possuem a capacidade de se modificarem de acordo com as diferentes situações (de lugar e de tempo) e com as necessidades de seus usuários, haja vista se constituírem como ações situadas e tipificadas, esses requerimentos são passíveis de modificações, a partir da ação de usuários mais conscientes e mais críticos. Considerando que os requerimentos estão a serviço de pessoas que possuem demandas reais, acreditamos que, a partir desta pesquisa, a atualização do gênero, em análise, que passa pela identificação dessas demandas, seja possível, pois pensamos que os dados discutidos são suficientes para redimensionar essa prática de escrita. Outra contribuição da pesquisa apresentada diz respeito ao fato de termos buscado ir além das abordagens que os livros de redação oficial fazem aos gêneros empregados no domínio administrativo, apresentando uma proposta de trabalho com o gênero inserido nas atividades sociais que ele realiza. Nesse sentido, esperamos que nossas análises e reflexões sejam capazes de oferecer contribuições substantivas ao uso desses requerimentos, possibilitando aos usuários uma maior apropriação do gênero e promovendo, quem sabe, um redimensionamento em suas condições de uso, a fim de uma realização mais consciente e eficiente. Vimos, com a nossa pesquisa, como o trabalho com os gêneros do domínio administrativo pode se revelar fecundo e promissor para investigações linguísticas. Acreditamos que a análise dos requerimentos, a que nos propomos, pautada na 195 perspectiva sociorretórica foi de grande relevância para as questões levantadas e permitiu-nos olhar para o gênero de uma maneira diferente e até inovadora. Estamos ciente, no entanto, de que há muito a ser explorado e discutido não somente quanto ao domínio abordado como também aos gêneros do domínio administrativo, uma área tão pouco explorada. Especificamente, em relação ao requerimento, ainda restam muitos outros aspectos a serem investigados/aprofundados, como, por exemplo, no que diz respeito à comunidade discursiva; aos conjuntos de gêneros; ou, ainda, ao sistema de atividade. A nosso ver, nosso trabalho não esgota o assunto, ao contrário, a partir de discussões aqui apresentadas, ele oferece possibilidades de pesquisas sobre os gêneros oficiais que procurem dar respostas à vida contemporânea, seja na esfera pública, seja na esfera privada. Por fim, acreditamos que essa pesquisa legitima a necessidade do estudo de outros gêneros que fazem parte da convivência social e reafirmamos nosso compromisso em relação à Linguística Aplicada, haja vista termos cumprido nosso objetivo de discutir questões sociais que têm a linguagem, no caso, o gênero requerimento, como papel central. 196 REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. Arte poética. 1988. Disponível em: <www.psbnacional.org/bib/b2.pdf>. Acesso em: 05 abr 2012. ASKEHAVE, I.; SWALES, J. M. 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Anexo B - Protocolo Verbal de Escrita, realizado com AG2. Sobre o primeiro requerimento: Quando eu escrevi o primeiro requerimento, eu estava muito ansioso porque não sabia como era que ia ficar a situação, tava até com um pouco de desesperança, porque achava que não ia dar certo, porque, realmente, foi um erro meu, apesar de que eu acho que houve, como eu disse antes, uma falha na comunicação/ a universidade não explicava muito bem como era que eu tinha que fazer a matrícula pelo SIGAA/ mas não houve um erro técnico, foi um erro meu. Então, eu tava um pouco sem esperança. No momento que eu escrevi, realmente, o que eu pensava era que, assim, eu tava ansioso e queria pagar aquelas duas matérias pra não ter que atrasar o curso/ talvez nem fosse atrasar/ mas era a grande questão que eu tinha no momento que eu escrevi o primeiro requerimento, era um sentimento de ansiedade e tinha um certo desespero pra pagar logo essas matérias pra não ficar atrasado e ficar nivelado com minha turma. Sobre o segundo requerimento: No segundo, depois que eu tomei informação da PROGRAD, eu já estava bem mais confiante, já tinha quase certeza que iria dar certo, que realmente a pessoa me falou que houve um erro administrativo, alguma coisa assim, com relação ao primeiro dia da rematrícula. Então, eu estava bem mais seguro, bem mais confiante, pensando que era apenas um procedimento formal pra conseguir a minha matrícula e que eu iria conseguir como consegui. [Perguntado sobre as mudanças entre os dois requerimentos, AG2, falou:] As situações são diferentes, porque a primeira foi no período da rematrícula e a segunda já foi bem depois, acho que mais ou menos uma semana depois. Então, nesse segundo aqui, como eu já tinha a informação de que houve um erro/ que a pessoa da PROGRAD me confirmou que houve um erro/ eu só argumentei em cima disso, porque isso bastava pra ter a minha matrícula deferida. Então, foi justamente em cima disso, só esse ponto e conclui. Tentei ser bem breve no segundo, só argumentei em relação a isso e conclui. Anexo C - Protocolo Verbal de Escrita, realizado com AG3. Sobre o primeiro requerimento: No momento em que eu estava preenchendo o requerimento, a minha preocupação era como eu iria passar o meu problema por escrito... pro papel. Eu até cheguei a conversar com minha amiga, que também ia preencher o mesmo requerimento, pra gente ver mais ou menos como é que.../ a gente também não sabia como é que.../ como a gente falaria... se era pra ser de uma forma mais formal ou de uma forma mais coloquial. Então, assim, como a gente tava com o tempo muito curto, tinha que ser rápido, o que eu tava pensando eu tava escrevendo. Então, o que aconteceu foi, tipo, eu acho até que alguns termos que eu utilizei que foram muito coloquiais, mas porque você precisa de um tempo pra você fazer, pra você elaborar o seu pensamento pra você escrever exatamente/ até pra você saber se a pessoa vai entender o que você tá dizendo. Então, quando eu tava escrevendo, eu pensei muito diretamente no que eu precisava, então... eh... eu disse de forma bem sucinta o problema que eu tive e o que eu queria que fosse resolvido. De forma bem espontânea mesmo. No momento da escrita, eu não me preocupei com quem iria ler o requerimento, exatamente por esta questão de eu estar muito apressada e que eu sabia que tinha que escrever logo e que alguém já tava esperando pra receber. Então, foi algo muito rápido, assim, eu não tive muito tempo pra pensar em como eu iria fazer isso. Sobre o segundo requerimento: No segundo requerimento, como eu tava com mais tempo, eu pensei em detalhar um pouquinho mais, porque eu tava voltando a escrever. Então, no momento que eu tava pensando ou no momento que eu estava escrevendo, o que me vinha à cabeça era exatamente... como eu deveria me dirigir a essa pessoa, tendo em vista, assim, que eu tô preenchendo algo que tem a minha assinatura, que vai pra uma terceira pessoa e que não é uma pessoa próxima a mim. Então, eu sabia que eu deveria preencher com um pouco mais de cuidado com os termos que eu tava utilizando, até pra me fazer entender por essa terceira pessoa. Então, como eu tinha um pouco mais de tempo, eu acho que, apesar de eu ainda ter sido um pouco... bastante.../ como eu posso dizer/ Apesar de eu ter usado termos bastante coloquiais, até eu pude ver... eu pude pensar, assim, mais calmamente no que escrever, em detalhar mais... ‘Ah, eu vou dizer isso, porque... pra ele saber que isso já aconteceu e que eu tô tendo que voltar aqui novamente... que meu problema não tá sendo resolvido... que eu tô sendo prejudicada...’. Então, eu pensei muito no que eu tinha que escrever pra que ele entendesse o meu problema. Até por que a pessoa orientou de que, como eu tava fazendo uma segunda solicitação e que a minha primeira já havia sido negada, que eu deveria tá relatando todos os problemas que já tinha passado... dizer que eu já tinha solicitado, que eu estava com pressa, de que isso tava sendo... /a minha solicitação já havia sido lida por uma pessoa, só que não tinha sido aprovada. Então, tinha tido algum tipo de problema./ Então, ela orientou de que todos esses detalhes deveriam estar nesse requerimento pra que a pessoa que fosse ler /poderia não ser a mesma pessoa que leu o primeiro/. Então, seria interessante que eu colocasse tudo o que foi feito desde o primeiro requerimento. (...)Aí, nesse, eu fui deferida na disciplina que eu tava solicitando, com um pouco de demora, ainda, mas eu acho que me fiz entender quando eu fiz a segunda solicitação, por demonstrar que já era uma segunda vez/ quer dizer isso pesou no momento que a pessoa foi ler o requerimento, porque ele viu que isso era uma coisa que já deveria ser resolvida, que eu estava no meu direito, porque eu também disse que eu tinha que ser matriculada na disciplina porque era um direito meu. Então, eu mostrei que era um direito, eu mostrei que eu tava me prejudicando por causa disso, mostrei que eu já tinha entrado em contato com a pessoa responsável e que o meu problema não tinha sido resolvido. Então, eu acho que todos esses fatores que eu enumerei foram considerados pra que pudesse ter sido aprovado e que a pessoa que foi ler pudesse entender o problema. (...) Eh, eu acho que o problema do primeiro foi exatamente esse de não ter todas as informações que poderiam ter sido relatadas pra solicitação do processo. Como no segundo já tava uma coisa mais detalhada e que eu mostrava que eles realmente tinham que resolver o meu problema, eu acho que eles olharam até com mais atenção, né, porque talvez outras pessoas solicitem isso com bastante freqüência e que nem sempre tá no direito.