i Universidade Camilo Castelo Branco Instituto de Engenharia Biomédica ANTONIO CARLOS BUENO FILHO ANÁLISE POR ESPECTROSCOPIA RAMAN DE HEMOGLOBINAS A PARTIR DE AMOSTRAS DE SANGUE DE PACIENTES COM DOENÇA FACILFORME ANALYSIS OF RAMAN SPECTROSCOPY HEMOGLOBINS FROM BLOOD SAMPLES FROM PATIENTS WITH SICKLE CELL DISEASE São José dos Campos, SP 2014 ii Antonio Carlos Bueno Filho ANÁLISE POR ESPECTROSCOPIA RAMAN DE HEMOGLOBINAS A PARTIR DE AMOSTRAS DE SANGUE DE PACIENTES COM DOENÇA FACILFORME Orientadora: Profa. Dra. Adriana Barrinha Fernandes Moretti Co-orientador: Prof. Dr. Landulfo Silveira Jr. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Bioengenharia da Universidade Camilo Castelo Branco, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Bioengenharia. São José dos Campos, SP 2014 iii Ficha Catalográfica iv v DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Deus em primeiro lugar. In Memoriam de Ana Maria Teixeira Ribeiro, minha mãe que tinha um sonho ter um filho mestre, mãe conseguimos e ao meu Pai. Aos meus filhos Pedro Davi e Gabriel Antonio e minha esposa Luciana Regina, que participaram indiretamente da construção deste trabalho. Aos meus amigos Eduardo Luiz da Silva e Júlio Cesar Mussato, pelos momentos que passamos juntos nessa caminhada. E a todos que tiveram participações direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. E aos voluntários desta pesquisa. vi AGRADECIMENTOS A minha orientadora, Profa. Dra. Adriana Barrinha que acreditou neste projeto e em mim e que lutou comigo durante a realização deste trabalho; Ao Prof. Dr. Landulfo, pela sua ajuda e por me ensinar a espectroscopia Raman e no auxílio na interpretação dos espectros, sem ele isso não seria possível e pela sua compreensão durante a realização deste trabalho; Agradeço a médica Ana Leticia Sant’Anna Yannai, por acreditar na pesquisa e em mim, e abrir as portas da Unidade de Transfusão e Coleta de Sinop/MT e de seus pacientes que gentilmente sempre me atendeu e contribuiu com sugestões importantes no trabalho; Agradeço a todos meus professores do curso de Mestrado em Bioengenharia que com suas experiências e conhecimentos agregaram em mim valores científicos e profissionais. Este projeto teve o apoio parcial da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, processo nº 2009/01788-5. vii “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” Albert Einstein viii ANÁLISE POR ESPECTROSCOPIA RAMAN DE HEMOGLOBINAS A PARTIR DE AMOSTRAS DE SANGUE DE PACIENTES COM DOENÇA FACILFORME RESUMO A espectroscopia de Raman vem sendo utilizada como uma ferramenta importante no diagnóstico de doenças com alguma dificuldade em se ter um diagnóstico rápido e preciso. Dentre estas doenças está a falciforme que é uma moléstia que provoca em seu portador uma anemia grave que surge logo na primeira infância. O diagnóstico precoce é importante, pois, esta doença provoca várias complicações patológicas dentre elas a vaso-oclusão, anemia hemolítica e outras doenças relacionadas como retinopatias, infecções e doença Cardiovascular. Neste trabalho constatou que a espectroscopia de Raman tem capacidade em discriminar a presença da hemoglobina S da hemoglobina A com grande precisão e sensibilidade. Isto se deve pela discriminação dos espectros médios da valina (882 cm-1 e 1373 cm-1) e do ácido glutâmico (1547 cm-1 e 1622 cm-1) que está presente na hemoglobina S (Val) e na hemoglobina A (Glut), que é discriminado pelo Raman demonstrando que alterações sutis na cadeia polipeptídica é identificada. Por outro lado, o procedimento técnico para a realização da espectroscopia de Raman não tem necessidade de protocolos complexos e com alto custo para realizar a pesquisa da hemoglobina, pode ser utilizado procedimento técnico simples como a hemólise e à partir dai a realização da espectroscopia com a mesma resposta dos procedimentos complexos. Palavras-chave: Ácido glutâmico, valina, espectroscopia de Raman, hemoglobina S, anemias. ix ANALYSIS OF RAMAN SPECTROSCOPY HEMOGLOBINS FROM BLOOD SAMPLES FROM PATIENTS WITH SICKLE CELL DISEASE ABSTRACT Raman spectroscopy has been used as an important tool in the diagnosis of diseases with some difficulty in having a quick and accurate diagnosis. Among these diseases are sickle cell is a disease that causes its bearer in severe anemia that arises immediately in infancy. Early diagnosis is important as this disease causes various pathological complications among them vaso-occlusion hemolytic anemia and other diseases such as retinopathy, infections and cardiovascular disease. In this work we found that Raman spectroscopy is able to discriminate the presence of hemoglobin hemoglobin S with high precision and sensitivity. This is due to the breakdown of the average spectra of valine (882 cm-1 and 1373 cm-1) and glutamic acid (1547 cm-1 and 1622 cm-1) which is present in hemoglobin S (Val) and hemoglobin (Glut) which is broken down by Raman demonstrating that subtle changes in the polypeptide chain is identified. On the other hand, the technical procedure for carrying out Raman spectroscopy has no need for complex protocols and costly to perform the search of hemoglobin, can be used simple technical procedure as hemolysis and thereafter performing spectroscopy with the response of the same complex procedures. Keywords: Glutamic acid, valine, Raman spectroscopy, hemoglobin S, anemias. x LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mapa genômico dos genes da alfa e beta globinas.............................................................................................................. 22 Figura 2: Estrutura molecular da hemoglobina A e da hemoglobina S......................................................................................................................... 25 Figura 3: Espectro do Ácido Glutâmico.............................................................. 38 Figura 4: Espectro da Valina.............................................................................. 38 Figura 5: Eletroforese de hemoglobina (Hb AA, HbSS, HbSA, HbSC).............. 40 Figura 6: Espectros médios da HbA, HbS e EDTA............................................ 41 Figura 7: Intensidades médias e desvio padrão dos scores................................................................................................................ Figura 8: Plotagem binária das componentes principais PC1 e PC2.................................................................................................................... 42 43 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1: Genes responsáveis pela produção das hemoglobinas nas diferentes fases da vida humana ...................................................................... 21 xii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ALA - Ácido Delta Levolínico CHCM - Concentração de hemoglobina Corpuscular Media EDTA - Etileno Diamino Tetracético EPI - Equipamento de Proteção Individual EPC - Equipamento de Proteção Coletiva GAG - Guanina, Adenina, Guanina GTG - Guanina, Timina, Guanina GLU - Ácido Glutâmico HbA - Hemoglobina A HbS - Hemoglobina S HbSA - Hemoglobina AS HbSS - Hemoglobina SS HbSC - Hemoglobina SC HS - Sítio Hipersensível IEF - Focagem Isoelétrica LCR - Região Controladora do Gene PHHF - Persistência Hereditária de Hemoglobina Fetal PCA - Análise do Componente Principal pH - Potencial Hidrogeniônico RPM - Rotação por Minuto SC - Hemoglobina C SD - Hemoglobina D SOarab - Hemoglobina SO arab SNP - Polimorfismo de Único Nucleotídeo TEB - Tris-EDTA-Borato TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UCT - Unidade de Coleta e Transfusão v - Vibração xiii LISTA DE SÍMBOLOS α - Alfa β - Beta 0 β - Talassemia heterozigoto β+ - Talassemia homozigoto Da - Daltons Kb - Quilobase xiv SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................. 15 1.1. Objetivo geral............................................................................................. 17 1.2. Objetivos específicos................................................................................. 17 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................ 18 2.1. Fisiologia da Hemoglobina......................................................................... 18 2.1.1. Transporte de oxigênio......................................................................... 19 2.2. Origem e controle genético da hemoglobina.............................................. 19 2.2.1. Estrutura molecular da hemoglobina normal........................................ 23 2.2.2. Hemoglobinas anormais ou variantes.................................................. 24 2.2.3. Doença falciforme................................................................................ 26 2.3. Diagnóstico laboratorial.............................................................................. 29 2.3.1. Eletroforese.......................................................................................... 29 2.3.2. Espectroscopia Raman........................................................................ 32 3. MATERIAL E MÉTODO................................................................................... 36 3.1. Amostras biológicas................................................................................... 36 3.2. Protocolo de hemólise................................................................................ 37 3.3. Eletroforese................................................................................................ 37 3.4. Análise espectroscópica............................................................................. 37 4. RESULTADOS................................................................................................. 40 5. DISCUSSÃO.................................................................................................... 44 6. CONCLUSÃO.................................................................................................. 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 51 ANEXO A - Termo de Consentimento Livre e esclarecido – TCLE..................... 57 ANEXO B – Protocolo de Anamnese................................................................... 61 15 1. INTRODUÇÃO As anemias hereditárias como a anemia falciforme e outras formas de anemias como a talassemia afetam 12 a 15% da população humana que são portadores e apresentam quadros assintomáticos da doença (LEONELI et al., 2000). A anemia falciforme é a doença hereditária monogênica mais comum do Brasil. A causa da doença é uma mutação de ponto (GAG->GTG) no gene da globina beta da hemoglobina, originando uma hemoglobina anormal, denominada hemoglobina S (HbS), ao invés da hemoglobina normal denominada hemoglobina A (HbA). Esta mutação leva à substituição de um ácido glutâmico por uma valina na posição 6 da cadeia beta, com consequente modificação físico-química na molécula da hemoglobina. Em determinadas situações, estas moléculas podem sofrer polimerização, com falcização das hemácias, ocasionando encurtamento da vida média dos glóbulos vermelhos, fenômenos de vaso-oclusão e episódios de dor e lesão de órgãos. No Brasil, as doenças falciformes distribuem-se heterogeneamente, sendo mais frequente onde a proporção de antepassados negros da população é maior (nordeste). Estimativas, com base na prevalência, permitem estimar a existência de mais de 2 milhões de portadores do gene da HbS, no Brasil, mais de 8.000 afetados com a forma homozigótica (HbSS). Estima-se o nascimento de 700 - 1000 novos casos anuais de doenças falciformes no país. Portanto, as doenças falciformes são um problema de saúde pública no Brasil. (ZAGO, 2001). De modo geral, além da anemia crônica, as diferentes formas de doenças falciformes caracterizam-se por numerosas complicações que podem afetar quase todos os órgãos e sistemas, com expressiva morbidade, redução da capacidade de trabalho e da expectativa de vida. Entretanto, diferente das outras anemias hemolíticas, pacientes com doenças falciformes não costumam apresentar esplenomegalia porque, repetidos episódios de vasooclusão determinam fibrose e atrofia do baço. A destruição do baço é a principal responsável pela suscetibilidade aumentada a infecções graves (septicemias). Sendo estas infecções a 1ª causa de morte em crianças menores de 5 anos. Como este estado de asplenia funcional pode ser documentado desde os três meses de idade, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são responsáveis pela redução expressiva da morbidade e 16 mortalidade (EATON; HOFRICHTER, 1981; EATON; HOFRICHTER, 1990; MACKIE; HOCHMUTH, 1990). Atualmente, o diagnóstico da anemia falciforme é realizado por meio da análise do sangue e por sinais clínicos da doença. Na prática laboratorial, a pesquisa de hemoglobina S (HbS) que identifica a anemia falciforme, ocorre por alguns métodos de identificação para o diagnóstico laboratorial. Os principais métodos utilizados em laboratório clínico de rotina para a pesquisa de HbS são: Eletroforese de Hemoglobina, Turvação com Ditionito de Sódio em tubo, Exame microscópio das hemácias falciforme após incubação com metabissulfito de sódio (RAPPAPORT, 1990). O diagnóstico das hemoglobinopatias nem sempre é simples e rápido devido à dificuldade na identificação das hemoglobinas anormais pelos métodos convencionais. Esta dificuldade passa por alguns fatores que influenciam diretamente no resultado final como, por exemplo, a falta de conhecimento técnico cientifica do profissional, a falta de dados clínicos não fornecidos e a imperícia em interpretar o eritrograma (NAOUM; BONINI-DOMINGOS, 2007). A Espectroscopia Raman é definida como estudo do espectro obtido pela interação da radiação eletromagnética com a matéria, sendo um dos seus principais objetivos, a determinação dos níveis de energia de átomos ou moléculas. Esta técnica de análise utiliza a radiação eletromagnética para testar o comportamento vibracional das moléculas, observando-se a absorção ou espalhamento dessa radiação. Essa inovação vem sendo utilizada com sucesso no diagnóstico de patologias em materiais biológicos, permitindo a caracterização bioquímica da amostra. O espectro Raman proporciona informação química e estrutural de compostos orgânicos e inorgânicos, permitindo assim sua identificação em poucos segundos, com pouca ou sem a necessidade de preparação da amostra (SHAPIRO et al., 2011). Em suma, como a hemoglobina é uma biomolécula e apresenta à capacidade de absorver luz, ela também apresenta uma faixa e perfil espectral característicos da molécula, se ocorrer uma pequena mudança nessa conformação haverá uma alteração do perfil espectral o que permitirá a identificação da hemoglobina variante (HbS). Deste modo, pretende-se comparar os espectros obtidos a partir da Espectroscopia Raman com o método convencional de identificação (eletroforese). É de extrema importância que novas tecnologias sejam empregadas no diagnóstico 17 das hemoglobinopatias, com o intuito de tornar o diagnóstico mais rápido e preciso, para que os pacientes recebam o tratamento um adequado e precoce, com intuito de evitar ou minimizar as complicações decorrentes desta patologia. Neste sentido, o presente estudo pretende utilizar a espectroscopia Raman como ferramenta na identificação de hemoglobina variante (HbS). 1.1. Objetivo geral - Analisar amostras de sangue provenientes de pacientes portadores de doenças falciformes através da espectroscopia Raman com o intuito de identificar a HbS, que tem uma papel crucial na determinação do quadro clínico desta patologia. 1.2. Objetivos específicos - Analisar e identificar as diferenças espectrais obtidos do grupo controle e do grupo de pacientes portadores da doença falciforme que foram previamente diagnosticados através do método convencional de identificação de hemoglobina (eletroforese). - Utilizar a Análise dos Componentes Principais (PCA) para fazer a classificação e a discriminação das hemoglobinas estudadas. 18 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Fisiologia da hemoglobina Para que ocorra a síntese de hemoglobina é necessário haver dois fatores importantes na fase da eritrogênese medular, o fator hormonal (eritropoietina) e o nutricional (ferro, vitamina B12 e folato), para a maturação, proliferação e diferenciação normal das hemácias e com ação direta também na síntese da hemoglobina (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004). A eritropoietina (EPO) tem ação na hemoglobinização dos eritroblastos e o ferro está diretamente envolvido na síntese da cadeia heme (NAOUM, 2012). Com a ação dos fatores hormonais e nutricionais e o controle genético pelos cromossomos 11 e 16 temos a produção e concentração adequada de hemoglobinas funcionais (MOHANDAS; EVANS, 1989). A hemoglobina é uma proteína que tem característica de promover a cor vermelha nos eritrócitos, é obrigatoriamente uma molécula intracelular nos mamíferos e tem seu peso molecular aproximadamente de 64.500 Da (VERRASTRO; LORENZI; NETO, 2005). Além disso, possui a capacidade de carrear gases como o oxigênio dos pulmões aos tecidos e o monóxido de carbono dos tecidos aos pulmões (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004). Esta cinética de transporte tem papel fundamental na manutenção da vida, pois, o oxigênio é vital para a função celular dos seres humanos para que possa produzir energia a partir da oxidação dos carboidratos (DAVID; COX, 2004). Para que os tecidos sejam oxigenados adequadamente é necessário que haja concentração de hemoglobina adequada no interior dos eritrócitos e sua estrutura molecular apresente dois pares de cadeias globínicas e a cadeia heme. No sangue arterial oxigenado encontramos aproximadamente cerca de 19 a 20 mL de oxigênio em combinação com a hemoglobina e 0,3 mL de oxigênio dissolvido no plasma. Cada grama de hemoglobina pode carrear 1,34 mL de oxigênio; portanto, 16g de hemoglobina presentes em 1dl de sangue transporta 19 a 20 mL de oxigênio (LORENZI et al., 2003). 19 2.1.1. Transporte de oxigênio Nos alvéolos pulmonares o oxigênio se liga fortemente com a hemoglobina para que possa ser transportado para os tecidos. Nos pulmões a hemoglobina fica saturada em 97% e a saturação do oxigênio neste local é de 100 mmHg (LORENZI et al., 2003). O oxigênio dissolvido no sangue circulante tem concentração muito pequena que acarretaria uma dificuldade dos tecidos serem supridos por este gás, assim, a hemoglobina torna possível a oxigenação dos tecidos pela ação de transporte do oxigênio mesmo concentração baixa (LORENZI et al., 2003). Desta maneira, a hemoglobina é imprescindível para a homeostasia dos tecidos. Para o transporte do oxigênio pelas hemoglobinas existem fatores que são importantes para que haja eficiência neste trabalho de troca gasosa pelas hemácias. É necessário a presença de fatores físicos presentes como a pressão do gás tanto nos alvéolos quanto nos tecidos, temperatura corporal e potencial hidrogeniônico (pH) que se sofrem alterações mínimas dificultam o transporte de oxigênio ou aumentam a oferta deste gás nos tecidos. Estes fenômenos são regulados pela curva de Bohr que define a saturação de oxigênio no organismo (LORENZI et al., 2003). Além destes fenômenos físicos a estrutura molecular da hemoglobina também tem papel importante para o transporte do oxigênio, pois, é ela que promove a ligação entre a proteína transportadora com o oxigênio. Qualquer mudança na sua estrutura pode provocar uma deficiência nas trocas gasosas. A estrutura molecular da hemoglobina é importante para que haja a ligação com o oxigênio por apresentar sítios de ligação na cadeia Heme (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004). 2.2. Origem e controle genético da hemoglobina A hemoglobina tem sua origem nos eritroblasto que são células jovens que estão no interior da medula óssea na região das trabéculas ósseas dos ossos esponjosos (VERRASTRO; LORENZI; NETO, 2005). O eritroblasto sofre ação de fatores hormonais (EPO) que vão induzir sua maturação no interior da medula óssea até chegar à célula madura e funcional o 20 eritrócito (RAPAPORT, 1990). Durante o processo de maturação do eritrócito ocorre a síntese da hemoglobina em todas as etapas da diferenciação do eritrócito (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004). Para a síntese da hemoglobina é necessário que ocorra a produção de duas cadeias que constituem a hemoglobina que é produzida a partir de vias metabólicas complexas que vão originar as moléculas estruturais da hemoglobina (VOET et al., 2006). Para a formação do anel tetrapirrólico é necessário que ocorram reações químicas que são coordenadas por enzimas específicas que regulam a formação do anel tetrapirrólico. Para que haja a produção normal da cadeia heme é necessário a ação de 8 enzimas de um ciclo metabólico conhecido como via da porfiria. Nesta via que ocorre a formação do anel tetraprirrólico e a ligação do ferro a esta estrutura tetraédrica (VOET et al., 2006). Na via da porfiria estão presentes enzimas que irão catalisar as reações químicas, são as seguintes em ordem de ação na via da porfiria: (1) ALA-sintetase; (2) ALA-deidratase; (3) porfobilinogênio-deaminase; (4) urobilinogênio-sintetase; (5) uroporfirinogênio-decarboxilase; (6) coproporfirinogênio-oxidase; (7) protoporfirinogênio-oxidase; (8) ferroquelatase (LORENZI et al., 2003). A primeira enzima e as três últimas enzimas estão localizadas no citoplasma dos eritroblastos e as demais na mitocôndria (LORENZI et al., 2003). A outra cadeia que constitui a hemoglobina é a cadeia globínica que é a parte proteica da hemoglobina que é produzida também no eritroblasto. Sua síntese segue uma sequência complexa que envolve sete genes que modelam a sua constituição que tem papel importante na formação da hemoglobina. Sua formação ocorre nos ribossomos e formam monômeros que durante o processo de sua síntese vão criando dímeros e depois um tetrâmero (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004). O tetrâmero é formado por dois pares de cadeias globínicas que enovelam e estão ligadas por histidina com a cadeia heme. Os genes envolvidos na síntese dos pares de cadeias globínicas são os α-símile e o gene não-alfa. O par de cadeias globínica α-símile têm em sua constituição 141 aminoácidos, enquanto as cadeias não-α têm em sua estrutura 146 aminoácidos (BONINI-DOMINGOS, 1993; ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004). Na Tabela 1 é apresentada cada fase do desenvolvimento uterino e a ativação do gene específico para a produção da hemoglobina correspondente. 21 Tabela1: Genes responsáveis pela produção das hemoglobinas nas diferentes fases da vida humana. Nome da hemoglobina Estrutura da Subunidade Tempo de expressão Hemoglobina Portland Hemoglobina Gower I Hemoglobina de Gower II Hemoglobina Fetal ζ2γ2 ζ2ε2 α2ε2 Vida embrionária Vida embrionária Vida embrionária Vida fetal* Hemoglobina A2 α2Gγ2 α2Aγ2 α2δ2 Hemoglobina A α2β2 Idade adulta (hemoglobina adulta menor) Idade adulta (principal hemoglobina adulta) *Produzida em pequenas quantidades numa subpopulação limitada de células (células fetais) em adultos. Fonte: Adaptado de GALIZA NETO; PITOMBEIRA (2003). Para a produção da hemoglobina humana é necessário que ocorra a ativação de dois genes importantes que controlam a formação e produção das cadeias globínicas. Esses genes que sintetizam a cadeia globínica são formados por grupos de genes (clusters) dos cromossomos 11 e 16 que regulam a produção da cadeia globínica (NAOUM, 2012). O grupo de genes do cromossomo 11 e 16 seguem uma ordem cronológica em que são expressos, desta maneira é sintetizada a hemoglobina nos períodos embrionário, fetal e adulto. Sendo assim, há uma sequencia no sentido da leitura dos genes nos cromossomos no sentido das sequencias intensificadoras nesta região (NAOUM, 1984; VERRASTRO; LORENZI; NETO, 2005). Para que ocorra a síntese adequada da hemoglobina é necessária a presença de sequencia de nucleotídeos que estão agrupados em 3 blocos formando os éxons (intensificador) que são responsáveis pela produção do RNA mensageiro e interpostos a eles os íntrons a cada duas sequencias de éxons que inibem a produção de RNA mensageiro (DAVID; COX, 2004; VOET et al., 2006). No braço curto do cromossomo 16, tem um segmento de DNA de 35 kb, o gene Zeta (ζ) que codificam a cadeia zeta globínica, dois pseudogenes e os genes Alfa 1 e Alfa 2 que podem ter sido originados da duplicação gênica (LORENZI et al., 2003). Por outro lado, o cromossomo 11 tem uma região de aproximadamente de 60 kb, que estão localizados o complexo de genes Beta, onde se tem o sentido 5´→3´, 22 o gene Épsilon (ε), Gama glicina, Gama adenina, um pseudogenes e os genes Delta (δ) e Beta (β) (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004). Existem elementos promotores que agem em cis e estão localizados no final 5´ de cada um dos genes da globina. Assim, há duas sequencias reguladoras na região dos clusters, tanto no gene Beta e Alfa. Estão regiões são chamadas de LCR (região controladora do gene) encontrada no gene Beta e marcado por sítios hipersensíveis à DNAse; e o HS (sítio hipersensível) no clusters Alfa que é similar ao LCR (VOET et al., 2006). Figura 1: Mapa genômico dos genes da alfa e beta globinas. Cada gene de globina contendo três exons e dois introns. (a) O gene da α globina, localizado no cromossomo 16 (16p13.3). Dos sete genes mostrados apenas três são expressos em níveis fisiológicos significantes, o gene ζ2, α1 e α2. Os demais genes são pseudogenes ou genes que não são expressos significativamente. A estrutura do gene α2 é mostrada na figura, indicando os três exons, os dois introns e regiões 5’ UTR e 3’ UTR. (b) O locus β do cromossomo 11 (11p15.4) com os genes ε, G-gama, Agama, delta e β. O gene da β globina, mostrado em destaque para evidenciar a sua estrutura. Assim como o gene α2, o gene β também possui três exons, dois introns, e regiões comuns a todos os genes de globinas. Fonte: Clark e Thein (2004). 23 2.1. Estrutura molecular da hemoglobina normal Para manter a estabilidade da cadeia globínica após sua síntese, os pares de globina se combinam rapidamente entre si e com a cadeia heme para formar um tetrâmero de globina. A hemoglobina normal (embrionária, fetal e do adulto) tem como estrutura proteica dímeros de protômeros αβ que formam uma estrutura quartenária α2β2 constituindo uma proteína tetramérica (DAVID; COX, 2004). Sendo assim, a hemoglobina é formada por quatro cadeias globínicas (α2β2) ligadas a um grupo Heme (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004). Todas as hemoglobinas das fases embrionária, fetal e do adulto, são constituídas por 574 aminoácidos, sendo que 282 aminoácidos constituem o par de cadeias globínicas alfa e 292 aminoácidos que formam o par de cadeias globina betas. Assim, temos que na cadeia globina alfa temos 141 aminoácidos e na cadeia globina beta se encontra 146 aminoácidos (NAOUM, 2012). A estrutura geométrica tetraédrica da hemoglobina se deve pela similaridade dos protômeros αβ que apresentam uma rotação de 180º de segunda ordem que fazem com que se coincidem, e suas subunidades alfa e beta tem estruturas semelhantes que se aproximam por uma rotação de segunda ordem (pseudossimetria) cuja rotação ocorre no eixo perpendicular da rotação de segunda ordem exata. Deste modo, a hemoglobina possui simetria C2 exata e simetria pseudo-D2 (estruturas com simetria D2 possuem simetria rotacional de um tetraedro) (VOET et al., 2006). Para que as hemoglobinas tenham estabilidade estrutural é necessário que haja arranjo na composição entre as globinas alfa e beta. A forma globular da hemoglobina se deve pela presença de extensa disposição helicoidal dos polipeptídios que constituem as globinas alfa e beta (NAOUM, 2012). Em 1959, Perutz e Kendrew realizaram experimentos com proteínas utilizando o método de cristalografia por meio da difração de raios X, descobriram particularidades fisico-químicas da hemoglobina que faz com que ela tenha estrutura enovelada (NAOUM, 2012; VOET et al., 2006). Essa forma tetramérica só existe pelas ligações físico-químicas com diferentes intensidades que originam a movimentação da molécula durante a ligação com o oxigênio. As ligações entre as moléculas de hemoglobina são as: covalentes 24 e iônicas, pontes de hidrogênio, forças de Van der Waals e interações hidrofóbicas (RAPAPORT, 1990). Para que a hemoglobina possa ter sua atividade fisiológica adequada é necessário ligações intermoleculares entre os pares de cadeias globínicas alfa e beta, assim, denominou-se a disposição do tetrâmero da seguinte estrutura química: cadeia alfa (α1 e α2) e cadeia beta (β1 e β2) para que possa ter um entendimento adequado da estrutura da hemoglobina (VOET et al., 2006; DAVID; COX, 2004). No tetrâmero a interação molecular entre as cadeias alfa e beta ocorrem em toda a extensão da molécula realizando ligações químicas entre os pares α1β2 e α2β1 que possibilitam o deslizamento da molécula quando ocorre a ligação com o oxigênio. Com os estudos mais recentes, descobriu que a molécula de hemoglobina apresenta duas regiões específicas a interna e a externa na globina alfa e na globina beta. Na região externa é mais extensa encontramos aminoácidos não polares e hidrofóbicos localizados em 75% da molécula, além dos helicoides e aminoácidos que envolvem o grupo heme. Da mesma forma, a região interna é menos extensa e composta por aminoácidos polares e hidrofílicos que estão localizados nas partes não helicoidais da molécula (NAOUM, 2012). 2.2.2. Hemoglobinas anormais ou variantes O gene falciforme é resultante da mutação pontual na cadeia Beta globina (β6) causada pela substituição do aminoácido ácido glutâmico na sexta posição da cadeia pela valina (β6glu→val) (LORENZ et al., 2003; ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004; VERRASTRO; LORENZI; NETO, 2005). Esta substituição (mutação) de aminoácidos na cadeia beta globina tem como consequência a substituição de uma única base nitrogenada no DNA, conhecido como polimorfismo de único nucleotídeo (SNP) (JUSZCZAK; SAMUNI; FRIEDMAN, 2005). Na mutação da HbS ocorre a substituição de adenina por timina na composição do sexto códon do gene da beta globina humana (GAG→GTG) promovendo assim uma introdução de valina no lugar do ácido glutâmico, propiciando a polimerização de Hemoglobina S quando estão desoxigenada (EATON; HOFRICHTER, HOCHMUTH, 1990). 1987; EATON; HOFRICHTER, 1990; MACKIE; 25 Figura 2: Estrutura Molecular da Hemoglobina A e da Hemoglobina S. Fonte: http://www.teliga.net/2011/05/aspectos-gerais-das-proteinas.html A presença da HbS em indivíduos é conhecida como anemia falciforme é e caracterizada pela presença de alelos S (HbSS) que caracteriza a homozigose. Como ocorre variações na síntese de hemoglobina S pode aparecer indivíduos com característica de heterozigose (HbAS) que não manifestam formas clínicas e são conhecidos como portadores do traço falcêmico (NAOUM, 2012; LORENZI et al., 2003). As hemoglobinas anormais ou variantes surgem pela alteração da cadeia polipeptídica da globina promovendo perturbação no transporte do oxigênio. As alterações presentes na hemoglobina ocorrem por mutações nos genes alfa, beta, gama ou delta (RAPAPORT, 1990). Estas modificações presentes nas diferentes cadeias globínicas envolvem a síntese estrutural da cadeia polipeptídica na sequência qualitativa dos aminoácidos. Também podendo ter alterações nas moléculas e enzimas que tomar parte da síntese da cadeia heme que são mais raras de ocorrerem (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004). Segundo Lorenzi et al. (2003), os defeitos hereditários da hemoglobina podem ser agrupados em três tipos: mutações genéticas ocasionam alteração na estrutura das cadeias polipeptídicas, defeito qualitativo; por diminuição ou ausência de produção de uma ou de mais de uma cadeia polipeptídeos, defeito de quantidade de síntese das cadeias; resulta na persistência de síntese da hemoglobina fetal durante a vida adulta, chamada de persistência hereditária da hemoglobina fetal. São muitas as hemoglobinas anormais ou variantes que apresentam alterações estruturais na cadeia globínica com modificação na sequência de aminoácidos ocorrida pela mutação dos genes alfa e beta (não-alfa). Dentre as 26 inúmeras hemoglobinas anormais presentes no homem, a hemoglobina S causa alterações fisiopatológicas importante no homem que têm troca de aminoácidos na sua cadeia globínica que produz um defeito qualitativo na estrutura química da hemoglobina (ZAGO; FALCÃO; PASQUINI, 2004). 2.2.3. Doença falciforme Doença Falciforme é um termo genérico usado para determinar um grupo de alterações genéticas caracterizadas pelo predomínio da hemoglobina S (HbS). Essas alterações incluem a anemia Falciforme (Hb SS), as duplas heterozigoses, ou seja, as associações de HbS com outras variantes de hemoglobinas, tais como, Hb D, Hb C, e as interações com talassemias (Hb S/ß° talassemia, Hb S/ß+ talassemia, Hb S/α talassemia). As síndromes falciformes incluem ainda o traço falciforme (HbAS) e a anemia falciforme associada à persistência hereditária de hemoglobina fetal (HbS/PHHF). Apesar das particularidades que as distinguem e de graus variados de gravidade, todas estas doenças tem um espectro epidemiológico e de manifestações clínicas e hematológicas superponíveis (ZAGO, 2001). Normalmente, quanto maior a quantidade de HbS, mais grave é a doença. Os pacientes homozigóticos para HbS têm quadro clínico, em geral, mais grave do que os pacientes com hemoglobinopatia SC, SD, SOarab, entre outros. A associação com persistência hereditária de hemoglobina fetal confere melhor prognóstico à doença. Em geral, os pais são portadores assintomáticos de um único gene afetado (heterozigotos), produzindo HbA e HbS (AS), transmitindo cada um deles o gene alterado para a criança, que assim recebe o gene anormal em dose dupla (homozigoto SS) (ZAGO, 2001). A doença originou-se na África e foi trazida às Américas pela imigração forçada dos escravos. No Brasil, distribui-se heterogeneamente, sendo mais frequente onde a proporção de antepassados negros da população é maior (nordeste). Além da África e Américas, é hoje encontrada em toda a Europa e em grandes regiões da Ásia. No Brasil, a doença é predominante entre negros e pardos, também ocorrendo entre brancos. Estimativas, com base na prevalência, permitem estimar a existência de mais de 2 milhões de portadores do gene da HbS, no Brasil, mais de 8.000 afetados com a forma homozigótica (HbSS). Estima-se o nascimento de 700-1.000 novos casos anuais de doenças falciformes no país. Portanto, as 27 doenças falciformes são um problema de saúde pública no Brasil (FILHO et. al,1988; BONINI-DOMINGOS et al., 2000; AOUM, 1984). É caracterizada pela substituição de adenina por timina (GAG->GTG), codificando valina ao invés de ácido glutâmico, na posição 6 da cadeia da globina, com produção de hemoglobina S (HbS). Esta pequena modificação estrutural é responsável por profundas alterações nas propriedades físico-químicas da molécula da hemoglobina no estado desoxigenado. Estas alterações culminam com um evento conhecido como falcização, que é a mudança da forma normal da hemácia para a forma de foice, resultando em alterações da reologia dos glóbulos vermelhos e da membrana eritrocitária (EATON; HOFRICHTER, 1987; EATON; HOFRICHTER, 1990; MACKIE; HOCHMUTH, 1990). Este fenômeno é reversível com a oxigenação, desde que a membrana da célula não esteja definitivamente alterada. Quando isto ocorre formam-se os eritrócitos irreversivelmente falcizados, que permanecem deformados independentemente do estado da HbS intracelular (HEBBEL, 1991). As propriedades reológicas das células falciformes são determinadas pela extensão da polimerização da HbS. Os polímeros, por serem viscosos, diminuem a deformabilidade dos eritrócitos, diminuindo o seu trânsito através da microcirculação. (MACKIE; HOCHMUTH, 1990; MOHANDAS; EVANS, 1989). Vários fatores influenciam o grau de polimerização da desoxi HbS nas células vermelhas: a porcentagem de HbS intracelular, o grau de desidratação celular, a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), o tempo de trânsito dos glóbulos vermelhos na microcirculação, a composição das hemoglobinas dentro das células (% de HbS e % de Hb não-S), o pH, entre outros (EATON; HOFRICHTER, 1987; EATON; HOFRICHTER, 1990; NOGUCHI, 1984). Uma das características dessas doenças é a sua variabilidade clínica: enquanto alguns pacientes têm um quadro de grande gravidade e estão sujeitos a inúmeras complicações e frequentes hospitalizações, outros apresentam uma evolução mais benigna, em alguns casos quase assintomáticos. Tanto fatores hereditários como adquiridos contribuem para esta variabilidade clínica. Entre os fatores adquiridos mais importantes está o nível sócio-econômico, com as consequentes variações nas qualidades de alimentação, de prevenção de infecções e de assistência médica (ZAGO, 2001). De modo geral, além da anemia crônica, as diferentes formas de doenças falciformes caracterizam-se por numerosas complicações que podem afetar quase 28 todos os órgãos e sistemas, com expressiva morbidade, redução da capacidade de trabalho e da expectativa de vida. Além das manifestações de anemia crônica, o quadro é dominado por episódios de dores osteoarticulares, dores abdominais, infecções e enfartes pulmonares, retardo do crescimento e maturação sexual, acidente vascular cerebral e comprometimento crônico de múltiplos órgãos, sistemas ou aparelhos (ZAGO, 2001). Devido ao encurtamento da vida média das hemácias, pacientes com doenças falciformes apresentam hemólise crônica que se manifesta por palidez, icterícia, elevação dos níveis de bilirrubina indireta, do urobilinogênio urinário e do número de reticulócitos (GALILI; CLARK; SHOET, 1986; HEBBEL, 1991). A contínua e elevada excreção de bilirrubinas resulta, frequentemente, em formação de cálculos de vesícula contendo bilirrubinato. Entretanto, diferente das outras anemias hemolíticas, pacientes com doenças falciformes não costumam apresentar esplenomegalia porque, repetidos episódios de vasooclusão determinam fibrose e atrofia do baço (ZAGO, 2001). A destruição do baço é a principal responsável pela suscetibilidade aumentada a infecções graves (septicemias). Sendo estas infecções a 1ª causa de morte em crianças menores de 5 anos. Como este estado de asplenia funcional pode ser documentado desde os três meses de idade, o diagnóstico precoce tem, pois, um papel central na abordagem dessas doenças, uma vez que podem ser tratadas adequadamente e as complicações evitadas ou reduzidas. Quando diagnosticadas precocemente e tratadas adequadamente com os meios disponíveis, no momento, e com a participação da família, a morbidade e mortalidade podem ser reduzidas expressivamente (EATON; HOFRICHTER, 1987; EATON; HOFRICHTER, 1990; MACKIE; HOCHMUTH, 1990). O diagnóstico das hemoglobinopatias nem sempre é simples e rápido devido a dificuldade na identificação das hemoglobinas anormais pelos métodos convencionais. Esta dificuldade passa por alguns fatores que influenciam diretamente no resultado final como, por exemplo, a falta de conhecimento técnico cientifica do profissional, a falta de dados clínicos não fornecidos e a imperícia em interpretar o eritrograma (NAOUM; BONINI-DOMINGOS, 2007). 29 2.3. Diagnóstico laboratorial 2.3.1. Eletroforese A Eletroforese é uma técnica analítica amplamente utilizada para o estudo e investigação de proteínas, enzimas e DNA (NAOUM, 2012). É utilizada como auxílio diagnóstico clínico desde 1937, quando Arne Tiselius bioquímico sueco publicou um trabalho científico relatando o fracionamento das proteínas séricas. Após alguns anos, Linus Pauling e colaboradores (1949) publicaram na revista Science sua descoberta, o fracionamento eletroforético da Hemoglobina S (HbS) usando eletroforese em papel de filtro (NAOUM, 2012). Desde então, a eletroforese vem sendo empregada como método para o auxilio diagnóstico das hemoglobinas mutantes presentes no homem. O princípio físico-químico da eletroforese é relativamente simples, utiliza a corrente elétrica contínua para realizar o fracionamento dos componentes biológicos como o sangue, urina, líquor e outras soluções de interesse clínico e de pesquisa (NAOUM, 2012). Toda molécula presente nos tecidos e fluídos biológicos apresentam cargas elétricas diferentes em sua estrutura tornando-as carregadas eletricamente produzindo assim características de polaridade negativa e positiva, chamadas respectivamente de cátodo e ânodo. As cargas elétricas presentes nos compostos químicos são atraídas pela sua polaridade oposta e desta forma se movimentam em um campo elétrico. Este é o principio fundamental da eletroforese, o deslocamento das moléculas em direção da sua polaridade oposta em um sistema de corrente elétrica continua que torna possível o fracionamento dos componentes presentes nos mais diversos materiais biológicos em especial no sangue, assim, caracterizando seus constituintes (NAOUM, 2012). Para que a eletroforese tenha sucesso é necessário além dos fatores físicos, deve estar presente no sistema eletroforético os fatores químicos como a solução tampão. No sistema eletroforético, as proteínas se movimentam em direção oposta da sua polaridade, assim, quanto maior for a corrente elétrica, maior será a velocidade de movimento de uma proteína em relação à outra em direção ao seu cátodo ou ânodo fracionando-a de acordo com o número de cargas elétricas presentes (NAOUM, 2012). 30 A separação das frações proteicas no sistema eletroforético só é possível pelos aminoácidos que constituem as mais diversas proteínas, isto se dá pela presença de carga elétrica ou polaridade dos aminoácidos. A migração eletroforética de uma proteína ocorre sob a influência do campo elétrico. Sob condições de corrente elétrica constante, a força de deslocamento de uma partícula é o produto de sua carga efetiva, do potencial de gradiente (molaridade do tampão) e da resistência do meio usado como suporte (Agar; Acetato; Poliacrilamida) (NAOUM, 2012). A mobilidade eletroforética é definida fisicamente em: m= d/tE; onde: m – mobilidade eletroforética; d – distância percorrida; t – tempo; E – potencial de gradiente. O tipo de eletroforese depende de seus suportes de fracionamentos que são: a) Acetato de celulose: é um éster produzido pela reação da celulose, extraída e purificada da polpa de madeira com anidro acético e ácido acético, na presença do catalisador do ácido sulfúrico (NAOUM, 2012). Este suporte apresenta qualidade na absorção uniforme de proteínas; quantidade mínima de material para ser aplicado; características físico-químicas bem definidas e proporcionadas pela homogeneidade dos microporos; material com relativa pureza e neutralidade química; possibilidade de transparentar para a leitura densitométrica e arquivamento por longo período de tempo; por todas essas razões o acetato de celulose passou a ser destinado às análises de proteínas, lipoproteínas, isoenzimas e hemoglobinas. b) Gel de Agar ou Agarose: também conhecido ágar-ágar é um hidrocoloide extraído de diversas espécies de algas marinhas vermelhas e consiste em uma mistura heterogênea de dois polissacarídeos, a agarose e a agaropectina (NAOUM, 2012). A operacionalidade tem baixo custo quando o gel de Agar é produzido no próprio laboratório, mas seu custo fica elevado se o gel for industrializado. O gel de Agar pode ser utilizado para as análises de rotina laboratorial para o fracionamento das proteínas, lipoproteínas, enzimas e hemoglobinas; c) Gel de Poliacrilamida: sua formação é realizada por um mecanismo de polimerização vinílica com o auxílio de catalisadores. Foi aplicada originalmente em 1959, por Raymond e Weintraub, para fracionar macromoléculas. Pela eletroforese por gel de poliacrilamida pode fracionar as proteínas por dois processos, um pelo ponto isoelétrico e o outro pelo peso molecular (tamanho) (NAOUM, 2012). A revelação e a quantificação da eletroforese de hemoglobina ocorrem por dois procedimentos técnicos que promove o resultado da eletroforese de hemoglobina. Para tal ação, é necessário primeiro que haja a revelação das bandas 31 formadas pela “corrida” da hemoglobina em seu suporte eletroforético específico por meio de corantes específicos que são capazes de reagir com as frações de hemoglobinas presentes na eletroforese (NAOUM, 2012). Os principais corantes utilizados para a revelação da eletroforese de hemoglobina são o Negro de Amido e o Ponceau, mas para que ocorra de forma adequada a reação química do corante com as frações produzidas na eletroforese é necessário saber qual o suporte eletroforético utilizado para empregar o corante que se adéqua ao suporte escolhido. Desta maneira, tanto o negro de amido quanto o Ponceau tem sensibilidade para determinados suportes de eletroforese, pois, a fixação do corante ocorre mais intensamente como o produto do fracionamento que com o meio utilizado como suporte eletroforético (NAOUM, 2012). Para que a revelação da eletroforese de hemoglobina seja bem sucedida, após a coloração do suporte tem que descorar com soluções descorantes que permitem a visualização das bandas eletroforéticas da hemoglobina para serem analisadas qualitativamente para ter a confirmação do sucesso da eletroforese e também observar se há presença de hemoglobinas variantes que possam interferir no resultado final deste procedimento técnico. A avaliação quantitativa da eletroforese de hemoglobina pode ser realizada por eluição e densitometria. Estas duas técnicas são as mais utilizadas em laboratórios clínicos em sua rotina para a determinação do resultado da eletroforese de hemoglobina. A eluição e determinado por fotometria após a eluição do suporte de eletroforese corado com ácido acético 80% que desnatura o meio usado no fracionamento. As frações eluídas tingem a solução eluidora com intensidades diferentes de cor e para que possa ser quantificada a solução eluidora que deve ter as frações completas e uniformes, desta maneira a solução obedece à lei de Beer. A partir da densitometria é possível determinar quantitativamente a fração de hemoglobina presente na eletroforese por colorimetria. Este fato deve-se pela absorção da luz que atravessa o suporte de eletroforese corada (NAOUM, 2012). 2.3.2. Espectroscopia Raman O efeito Raman foi descoberto em 1928, pelo físico indiano Chandrasekhara Venkata Raman (SMITH; DENT, 2005). Em 1960 com o uso do laser que a espectroscopia de Raman teve sua utilização para a identificação e discriminação de 32 materiais biológicos sendo, assim, utilizado como uma ferramenta no diagnóstico de diversas enfermidades principalmente nos tumores e doenças que alteram a estrutura proteica tanto nos tecidos como nos fluídos biológicos (CHAIKEN et al., 2011). Isto se deve pela capacidade que o efeito Raman tem de demonstrar a troca de energia entre a luz e a matéria (HOLLAS, 2004). Toda matéria que for irradiada pela luz (radiação eletromagnética) esta pode ser absorvida, transmitida ou espalhada (SMITH; DENT, 2005). A radiação espalhada pode ter a mesma frequência da radiação incidente ou apresentar alteração da frequência da radiação. Assim o efeito Raman tem duas formas de espalhamento que são conhecidas como espalhamento elástico (espalhamento de Rayligh) e o espalhamento inelástico (espalhamento de Raman) (SMITH; DENT, 2005). A espectroscopia de Raman provoca a formação de um campo elétrico que altera a polarização do feixe de luz que incide na molécula produzindo um momento dipolo induzido (SILVA et al., 2009). O momento dipolo oscila conforme a frequência presente no campo elétrico da radiação incidente. Esta oscilação na molécula promove a vibração que está relacionada com a estrutura molecular irradiada pela presença dos tipos de ligações químicas entre os átomos que apresentam frequência de vibração menor que a frequência de oscilação da radiação incidente (SMITH; DENT, 2005). Com isso, vai ocorrer a formação de um momento dipolo induzido que libera a radiação. A característica física do efeito Raman ocorre pela mudança do estado dos níveis de energia dos fótons que foram excitados. A espectroscopia de Raman é uma ferramenta útil na identificação e estudo de diferentes substâncias químicas como sua função orgânica e estrutura molecular (SILVA et al., 2009). Como instrumento para o diagnóstico clínico a espectroscopia de Raman tem se tornado um método de grande capacidade de discriminação de moléculas que constituem tecidos ou componentes químicos celulares (MAHEEDHAR et al., 2011). Esta característica de estudo das moléculas ocorre pela interação física com os elétrons presentes nas moléculas, que podem sofrer mudanças no seu estado elétrico produzindo fenômenos de liberação de energia que alteram seus níveis de energia, modificando a conformação eletrônica dos seus níveis de energia (HOLLAS, 2004). 33 As mudanças nos níveis de energia nas moléculas irradiadas por radiação eletromagnética que podem ser absorvidas, transmitidas ou espalhadas. As radiações na maioria são espalhadas na mesma frequência da radiação incidente chamada de espalhamento elástico (espalhamento Rayleigh), quando ocorre a alteração da frequência da radiação o espalhamento é inelástico ou espalhamento Raman que apresentam vibrações características ou de identidade para cada elemento químico excitado (SMITH; DENT, 2005). As vibrações são provocadas pela formação de campo elétrico intenso que oscila na frequência da radiação incidente que induz uma mudança na polarizabilidade da molécula (STONE et al., 2007). Deste modo, a polarização ocorrida promove a modulação na amplitude e na frequência do dipolo induzido pelo feixe de emissão de fótons, que pode ser espalhamento elástico (Rayleigh) ou espalhamento inelástico (Raman) (SILVA et al., 2009). Com a polarização dos elétrons ocorre a separação de cargas dentro da molécula com o campo externo, assim, moléculas colocadas em campo elétrico sofrem distorções da seguinte maneira: a) O núcleo carregado positivamente é atraído para o polo negativo do campo elétrico; b) os elétrons carregados negativamente é atraído para o polo positivo do campo elétrico (HOLLAS, 2004). Essas mudanças na polarização apresentar espalhamento inelástico terá o efeito Raman. A vibração decorrente da excitação da emissão do feixe de fótons na molécula pode ter 4 tipos de vibrações: 1) estiramento (simétrico ou assimétrico); 2) deformação no plano; 3) deformação fora do plano; 4) torção (GELDER et al., 2007). Nas ligações químicas simples, duplas e triplas podem ter o mesmo tipo de vibração, porém aumentam neste sentido: νC=C>νC=C>νC-C. Diferentes ligações químicas possuem diferentes frequências vibracionais. O espectro Raman indica a presença destes diferentes tipos de ligações nas moléculas (GELDER et al., 2007). A espectroscopia Raman permite a análise de materiais biológicos e pode ser desenvolvida para detectar componentes simples ou múltiplos. Não envolve etapas químicas adicionais para análise (separação, diluição ou mistura de quaisquer outros reagentes), podendo mostrar-se superior aos atuais métodos de teste (PREMASIRI; CLARKE; WOMBLE, 2001). É concebível que este método pode tornar-se uma alternativa ou até mesmo substituir os métodos laboratoriais existentes no futuro próximo, podendo ser usado para outros testes usando tecidos corporais, como o sangue e os componentes no soro (SHAPIRO et al., 2011). 34 As principais vantagens do uso da espectroscopia Raman sobre outras técnicas, é que esta permite que a análise seja feita em estruturas químicas orgânicas ou inorgânicas com precisão, pois, com a radiação eletromagnética incidente nas moléculas se tem uma resposta pontual e segura pelo comportamento físico dos níveis de energia dos elementos estudados. Além disso, proporciona a análise do material biológico em um curto espaço de tempo, onde a coleta do sinal Raman é rápida, sendo que é possível analisar amostras líquidas ou sólidas em tempo real. (GUIMARÃES et. al, 2006). Segundo a revisão de Hanlon et al. (2000), a espectroscopia Raman tem um grande potencial para fornecer informação de diagnóstico quantitativo in vivo. Dentre a principal vantagem da Espectroscopia Raman em aplicações biomédicas é a de que, por meio do ajuste da frequência de excitação, próximo da absorção de frequência, os marcadores bioquímicos da doença podem ser seletivamente observados no espectro de Raman. Como a hemoglobina é uma biomolécula e apresenta a capacidade de absorver luz, ela também apresenta uma faixa e um perfil espectral característicos da molécula, se ocorrer uma pequena mudança nessa conformação haverá uma alteração do perfil espectral o que permitirá a identificação da hemoglobina variante (HbS). Deste modo, pretende-se comparar os espectros obtidos a partir do Raman com o método convencional de identificação a eletroforese. Existem estudos que analisaram a hemoglobina e células vermelhas de modo estrutural e conformacional utilizando a espectroscopia de Raman. Entre estes estudos, Raj et al (2012) utilizou micro partículas ligadas as hemácias e empregou uma armadilha óptica para estimular as alterações na membrana da célula vermelha. Teve como resultado a presença de um pico específico da deformação da hemácia que é de 1035 cm-1 que demonstrou a deformidade da membrana. Para chegar a este resultado utilizou o PCA para identificar as diferenças na estrutura da membrana alongada. No trabalho de Hongxing et al. (1999), utilizou SERS para identificar em uma única molécula de hemoglobina imobilizada ou incorpora com partículas de prata (nano partículas) obter a vibração do espalhamento Raman para determinar por cálculo e experimento o aumento do campo eletromagnético por partículas de prata. Obtendo um pico específico de 1375 cm-1 com uma excitação em 514,5 nm. 35 Villanueva-Luna et al. (2012), utilizou oito voluntários que apresentaram concentrações de várias moléculas diferentes entre elas a hemoglobina, para este estudo foi utilizado um laser de excitação de 785 nm e um espectrômetro de resolução de 6 cm-1 e com região espectral entre 1000 a 1800 cm-1. O espectro Raman encontrado foi de 1000 e 1542 cm-1 que são da hemoglobina. Para a determinação das diferenças entre as amostras utilizou o PCA que discriminou os espectros. 36 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Amostras biológicas Para a realização desta pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICASTELO que aprovou a pesquisa com número de protocolo 64133. Neste estudo coletou amostras de sangue de 22 pacientes sendo que 19 são portadores da Hemoglobina S (HbS) e 3 pacientes apresentam a Hemoglobina normal (HbA). Estes indivíduos foram captados do Banco de Sangue do Município de Sinop/MT, onde são tratados e recebem atendimento médico especializado. Como critérios de inclusão foram adotados os sujeitos que: a) O participante ou responsável aceitar os termos da pesquisa e assinar o TCLE; b) Não apresentar doenças infectocontagiosas, sendo que a hematologista responsável pelos pacientes realizou esta triagem; c) Pacientes que não haviam realizado transfusão sanguínea no período maior de 90 dias; d) As amostras de sangue que foram coletadas no ambulatório da UCT e no laboratório clínico e foram utilizadas para os exames de rotina dos pacientes. Para a realização dos procedimentos técnicos de obtenção dos resultados para este estudo, e em todos os procedimentos foram seguidas rigorosamente as normas de biossegurança vigente no Brasil com a utilização adequada dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e dos Equipamentos de Proteção Coletivos (EPC) para evitar eventuais acidentes durante o estudo e análise das amostras. Aproximadamente 4,5 mL de sangue foram coletados de três pacientes sadios e dezenove pacientes portadores de doença falciforme e todas as amostras sanguíneas foram coletadas com anticoagulante (EDTA 10%), com o intuito de preservar as hemácias da ação dos fatores da coagulação e manter as características físico-químicas dos eritrócitos. Em relação ao transporte e conservação das amostras foram acondicionadas em temperatura de 2ºC à 8ºC para manter a viabilidade molecular da hemoglobina (SACHER; MCPHERSON; RONALD, 2012. O transporte do sangue foi realizado em 37 caixa apropriado para o transporte de material biológico seguindo as normas de biossegurança para evitar acidentes com o material biológico impedindo assim que não haja risco de contaminação ambiental. A transferência do sangue já coletado para a caixa apropriada ocorreu com o tubo fechado e sem o contato direto com o sangue. Após a coleta todas as amostras foram submetidas à eletroforese com intuito de identificar a hemoglobina S nas amostras de pacientes com doença falciforme e HbA nos indivíduos saudáveis. 3.2. Protocolos de Hemólise Para obter os espectros da HbS e da HbA foi realizado protocolo de hemólise com procedimento técnico simples que utilizou somente água para lisar as hemácias e expor a hemoglobina. Antes da hemólise o sangue foi centrifugado (1500 rpm) por 5 minutos para a lavagem das hemácias em solução fisiológica por 3 vezes até o sobrenadante ficar límpido. Após este procedimento o lavado de hemácias foi diluído 1:2 em água deionizada para o processo de hemólise. 3.3. Eletroforese O hemolisado foi obtido a partir do uso de uma solução de Saponina, aplicada na seguinte proporção: 2 volumes de sangue para 1 volume de saponina. Após a obtenção do hemolisado que foi ressuspendido em solução Tampão: TRIS-EDTABorato 0,025M (TEB pH 8,5), o aparato típico de eletroforese em acetato de celulose foi montado e aplicado uma voltagem de 300V. O tempo de corrida foi de 20 minutos, o corante negro de amido foi utilizado para revelar os pontos isoelétricos das hemoglobinas. 3.4. Análise espectroscópica Para a obtenção dos espectros foi utilizado um espectrômetro Raman dispersivo (Lambda Solutions Inc/MA, EUA, modelo P-1 micro-Raman) que é constituído por um laser de diodo (830 nm), acoplado a uma sonda de Raman, que é usado para iluminar amostra e recolher a luz dispersa. A sonda está ligada a um espectrógrafo com uma câmara CCD refrigerado por Peltier-cooled (-75°C), que recolhe espectro 38 de Raman de alta resolução a partir da amostra na região da impressão digital (400 1800 cm-1). A potência do laser foi ajustada a 300 mW e o tempo de exposição para recolher o sinal de Raman foi ajustado para 3 segundos. Os espectros foram obtidos em triplicata de cada amostra e a após efeito suas médias. As regiões espectrais encontradas nas amostras analisadas da HbA e da HbS foram baseadas nas características espectrais do ácido glutâmico (1500 cm-1 e 1650cm-1) e da Valina (880 cm-1 e 1400 cm-1), respectivamente, obtidos a partir do fabricante (Sigma®) como demonstrado nas figuras 3 e 4 abaixo. Figura 3: Espectro do ácido glutâmico. Fonte: Sigma-Aldrich, 2003 (www.sigmaaldrich.com/catalog/search) Figura 4: Espectro da valina. Fonte: Sigma-Aldrich, 2003 (www.sigmaaldrich.com/catalog/search) Os dados obtidos no presente estudo foram comparados com trabalho de Hisch et al. (1999), que determinaram os espectros médios da HbA, HbS e HbC. Na análise estatística foi realizado o teste t não pareado para a determinação do nível de significância (p < 0,05). O software utilizado nesta análise foi o (Origin® 6.0). O conjunto de dados dos espectros foi submetido à Análise do Componente Principal (PCA), que é uma técnica matemática que tem por finalidade básica, a análise dos dados usados promovendo sua redução e eliminação de sobreposições. 39 Por isso, pode ser usado como ferramenta estatística multivariada simples que transforma um conjunto de variáveis originais que são extraídos da relação entre os dados (espectros) com as múltiplas variações, com a transformada linear ótima. PCA pode ser usado para espectros de grupo de acordo com as respectivas variações semelhantes, uma vez que cada componente principal é ortogonal ao outro, portanto, uma característica espectral original está presente em cada componente. Para calcular o componente principal dos espectros das hemoglobinas utilizado o Matlab 7.0 (JOLLIFFE, 1995). 40 4. RESULTADOS A Figura 5 representa o perfil eletroforético de hemoglobina dos pacientes portadores de doença falciforme (HbAS, HbSS e HbSC) e dos indivíduos normais (HbAA). A eletroforese foi realizada com o intuito de confirmar a presença das referidas hemoglobinas nas amostras que foram posteriormente submetidas à Espectroscopia Raman. Cabe ressaltar que os pacientes que recebem o gene anormal em dose dupla (homozigoto SS), apresentam o fenótipo HbSS e são os indivíduos que apresentam o quadro clínico da patologia com maior severidade. Figura 5: Perfil eletroforérico das Hemoglobinas: indivíduos normais (HbA) e de pacientes com doença falciforme (HbSS, HbSA e HbSC). A Figura 6 apresenta os dados referentes aos espectros médios das amostras de sangue de pacientes normais (HbA), pacientes com doença falciforme (HbS) e do anticoagulante E.D.T.A. 10%. As diferenças espectrais das amostras de HbA em relação as amostras de HbS, estão relacionadas as bandas 882 e 1373 cm-1, atribuídas a valina (Val) que apresentam maior intensidade nos espectros médios da HbS (HISCH et al., 1999; SIGMA-ALDRICH, 2003®). Enquanto que, as bandas predominantes nos espectros médio da HbA (1547 e 1622 cm-1) são atribuídas ao ácido glutâmico (Glu) (HISCH et al., 1999; SIGMA-ALDRICH, 2003). Estes dados estão de acordo com o esperado, uma vez que a doença falciforme é caracterizada pela substituição de adenina por timina (GAG>GTG), codificando valina ao invés de ácido glutâmico, na posição 6 da cadeia da globina, com produção de HbS. Em relação aos espectros médios do EDTA não houve nenhuma banda espectral que 41 sobrepôs as bandas espectrais das HbA e HbS, assim não interferindo diretamente no resultado final dos espectros médios da valina e do ácido glutâmico. Figura 6: Médias dos espectros Raman do EDTA e das amostras de hemoglobina hemolisada dos grupos HbA e HbS. Val e Glu com espectros característicos da valina (882 cm-1 e 1373 cm-1) e ácido -1 -1 glutâmico (1547cm e 1622 cm ), respectivamente, os quais são vistos no espectro de hemoglobina. Com o intuito de identificar e discriminar as diferenças espectrais entre as hemoglobinas A e S foi utilizada a técnica de PCA. Neste estudo foram obtidos 66 espectros, que foram divididos em dois grupos HbA (normal) e HbS (doença falciforme). A princípio foram identificadas oito PCs e com o intuito de verificar quais poderiam apresentar maior poder de discriminação foram submetidos à ANOVA (5% de significância). Os dois PCs com maior diferença estatisticamente significativas foram plotados (plotagem binária). A Figura 7 (A e B) apresentam as intensidades médias e desvio padrão dos PC1 e PC2, de acordo com a análise estatística pode-se verificar que o PC1 foi mais efetivo na discriminação da HbS (p < 0,001) enquanto que o PC2 foi mais efetivo na discriminação da HbA (p < 0,0001). Além disso, foram plotados os espectros dos PC1 e PC2 em função da modificação estrutural das hemoglobinas, em destaque no PC1 estão relacionadas às bandas de 882 e 1373 cm-1, atribuídas a valina que apresentam maior intensidade nos pacientes portadores de doença falciforme (Figura 7 D). Com relação ao PC2, destacam-se as bandas 1542 e 1620 cm-1 que são atribuídas ao 42 ácido glutâmico e que estão presentes em maior intensidade nos pacientes normais. (Figura 7 E). A Figura 7 (C e F) apresentam as intensidades médias e o desvio padrão que não obtiveram significância estatística e nem a discriminação dos espectros, demonstrando que somente os PC1 e PC2 são discriminante para a HbA e HbS. A B C D E F Figura 7: (A e B): Médias dos valores e o desvio-padrão dos dois primeiros componentes principais (PC1 e PC2) para os grupos de HbS e HbA. * Representa a diferença estatística com significância entre os grupos específicos (Teste t) p < 0,001 e ** p < 0,0001. (D e E): Espectros dos primeiros dois vetores dos componentes principais, com características espectrais de PC1 relacionados com valina e PC2 relacionado com o ácido glutâmico, como indicado pelas setas. (C e F): Espectros que não tiveram significância estatística e discriminação dos espectros. A Figura 8 representa a plotagem binária do PC1 e do PC2 para os diferentes grupos analisados (HbA e HbS). A linha de diagnóstico baseada no método de PCA/Mahalanobis foi capaz de distinguir com 100% de capacidade os indivíduos portadores da doença falciforme dos indivíduos normais. 43 0.40 HbS 0.30 HbA PC2 0.20 Mahalanobis 0.10 0.00 -0.10 -0.20 0.05 0.10 0.15 PC1 0.20 0.25 Figura 8: Plotagem binária do PC1 e PC2 componentes principais para os grupos de HbA e HbS, respectivamente. A linha de diagnóstico baseado em PCA / Mahalanobis distinguiu os grupos da doença falciforme e normal. 44 5. DISCUSSÃO A doença falciforme é um termo genérico usado para determinar um grupo de alterações genéticas caracterizadas pelo predomínio da HbS. Essas alterações incluem a anemia Falciforme (Hb SS), as duplas heterozigoses, ou seja, as associações de HbS com outras variantes de hemoglobinas, tais como, Hb D, Hb C, e as interações com talassemias (Hb S/ß° talassemia, Hb S/ß+ talassemia, Hb S/α talassemia). Normalmente, quanto maior a quantidade de HbS, mais grave é a doença. Os pacientes homozigóticos para HbS têm quadro clínico, em geral, mais grave do que os pacientes com hemoglobinopatia SC, SD, SOarab, entre outros. A associação com persistência hereditária de hemoglobina fetal confere melhor prognóstico à doença. Em geral, os pais são portadores assintomáticos de um único gene afetado (heterozigotos), produzindo HbA e HbS (AS), transmitindo cada um deles o gene alterado para a criança, que assim recebe o gene anormal em dose dupla (homozigoto SS) (ZAGO, 2001). A HbS é caracterizada pela substituição de adenina por timina (GAG->GTG), codificando valina ao invés de ácido glutâmico, na posição 6 da cadeia da globina, com produção de HbS. Este fenômeno é reversível com a oxigenação, desde que a membrana da célula não esteja definitivamente alterada. Quando isto ocorre formam-se os eritrócitos irreversivelmente falcizados, que permanecem deformados independentemente do estado da HbS intracelular (HEBBEL, 1991). As propriedades reológicas das células falciformes são determinadas pela extensão da polimerização da HbS. Os polímeros, por serem viscosos, diminuem a deformabilidade dos eritrócitos, diminuindo o seu trânsito através da microcirculação. (MACKIE; HOCHMUTH, 1990; MOHANDAS; EVANS, 1989). Vários fatores influenciam o grau de polimerização da desoxiHbS nas células vermelhas: a porcentagem de HbS intracelular, o grau de desidratação celular, a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), o tempo de trânsito dos glóbulos vermelhos na microcirculação, a composição das hemoglobinas dentro das células (% de HbS e % de Hb não-S), o pH, entre outros (EATON; HOFRICHTER, 1981; EATON; HOFRICHTER, 1990; NOGUCHI, 1984). O diagnóstico das hemoglobinopatias nem sempre é simples e rápido devido a dificuldade na identificação das hemoglobinas anormais pelos métodos 45 convencionais. Esta dificuldade passa por alguns fatores que influenciam diretamente no resultado final como, por exemplo, a falta de conhecimento técnico cientifica do profissional, a falta de dados clínicos não fornecidos e a imperícia em interpretar o eritrograma (NAOUM; BONINI-DOMINGOS, 2007). A eletroforese é uma técnica que consiste na migração de moléculas carregadas eletricamente sob um campo elétrico aplicado, ocupa um dos locais mais importantes na história do estudo da hemoglobina(Hb). A HbS, a primeira Hb mutante descrita, foi descoberto em 1949 por Pauling et al. (VOET et al., 2006), utilizando-se eletroforese. Mais tarde, as variantes de Hb foram detectadas por eletroforese de zona em papel, em gel de amido, ou de acetato de celulose (NAOUM, 2012). Com exceção da eletroforese em acetato de celulose, que ainda é usado em alguns laboratórios, estes procedimentos têm sido substituídos por focagem isoelétrica (IEF) (NAOUM, 2012). Na IEF, um gradiente é estabelecido por uma corrente elétrica e por pH específico que fazem com que a hemoglobina movimente-se e seja identificada. A molécula de Hb migra através deste gradiente até que atinge a posição em que a sua carga total é zero (ponto isoelétrico), que, em seguida, concentra-se em uma banda. Uma das principais desvantagens da eletroforese é a semelhança entre o ponto isoelétrico da hemoglobina HbS com outro mutante. Além disso, os procedimentos técnicos são complexos, demorados e incluem o uso de vários reagentes (LEONELI et al., 2000). Com base nestas informações, é de extrema relevância que novas tecnologias sejam empregadas no diagnóstico das hemoglobinopatias, com o intuito de tornar o diagnóstico mais rápido e preciso, para que os pacientes recebam um tratamento adequado e precoce, como um meio inovador de evitar ou minimizar as complicações decorrentes desta patologia. Neste sentido, o presente estudo utilizou a espectroscopia de Raman como ferramenta na identificação da hemoglobina mutante (HbS). A espectroscopia de Raman é uma técnica óptica com vantagens sobre as técnicas bioquímicas tradicionais, tem sido usada como ferramenta para o estudo espectroscópico dos mais diversos compostos orgânicos e inorgânicos que demonstra ser uma ferramenta de alta tecnologia a ser utilizada no diagnóstico de doenças que afetam os seres humanos (KINCAID; STEIN; SPIRO, 1979). A fim de identificar as alterações de várias biomoléculas que são encontrados em fluidos biológicos tais como sangue e urina, a espectroscopia Raman tem grande 46 sensibilidade na detecção de compostos químicos presentes nas amostras biológicas (SILVA et al., 2009; GELDER et al., 2007). A maioria dos estudos que envolvem a hemoglobina humana e espectroscopia Raman tem como objetivo identificar a estrutura molecular porque a função está diretamente relacionada à conformação molecular (HOYER, 2011; HUISMAN; JONXIS, 1977). A espectroscopia de Raman foi usado para analisar as estruturas da hemoglobina no sangue (CHAIKEN et al., 2011), para se comparar os efeitos dos espectros no sangue com a presença da ligação do oxigênio e do gás carbônico pela oxi-hemoglobina e desoxi-hemoglobina, para se analisar a oxigenação e a desoxigenação nos eritrócitos (KNEE; MUKERJI, 2009). No trabalho realizado por Hisch et al. (1999), foi determinado o espectro Raman das hemoglobinas: HbA, HbS e HbC. De acordo com os resultados obtidos no referido estudo, a diferença nos espectros médios das hemoglobinas analisadas foi caracterizada por regiões específicas nos espectros (1542 cm-1, 1558 cm-1 e 1613 cm-1). No estudo de Hisch et al. (1999), os espectros estudados foram obtidos por métodos de Fluorescência, Ultravioleta e Espectroscopia de Ressonância de Raman. Assim obtendo espectros definidos da HbA, HbS e HbC. Para a obtenção das hemoglobinas Hisch et al. (1999), utilizou para purificar as hemoglobinas por permutação catiônica (CM-52) e remoção orgânica com fosfato de Sephadex G-25 e depois hemólise obtendo o COHbS, COHbC e COHbA, assim determinando os espectros que foram capazes de discriminar as três formas das hemoglobinas. Realizando-se uma análise comparativa do presente estudo com o de Hisch et al. (1999), o protocolo de obtenção da HbS e HbA não utilizou métodos complexos como ocorreu no trabalho de Hisch et al. (1999), somente hemólise com água destilada e centrifulgação da solução e foi observado que as amostras de HbS provenientes de pacientes portadores de Doença Falciforme e da HbA apresentaram espectros médios com características específicas nas regiões espectrais das duas hemoglobinas HbS (882 cm-1 e 1373 cm-1) e HbA (1547 cm-1 e 1622 cm-1) (Figura 6). Neste sentido, o espectro médio da HbS foi confrontado com o da HbA e as diferenças observadas foram relacionados com as bandas de 882 e 1373 cm-1, que são atribudos a valina (Val), e que estão presentes em maior intensidade média nos espectros da HbS. No entanto, as bandas predominantes nos espectros de HbA (1547 e 1622 cm-1) são designadas para o ácido glutâmico (Glu), enquanto que no trabalho de Hisch et al. (1999), se tem os espectros na região da ligação entre o 47 triptofano e tirosina para a COHbS e COHbA e espectro mínino para a COHbA (1542 cm-1, 1558 cm-1 e 1613 cm-1). Estes dados estão semelhantes com o esperado, uma vez que os espectros de ambos os trabalhos mesmo tendo metodologias de pesquisa diferentes obtêm resultados espectrais semelhantes e discriminante entre as formas de hemoglobinas estuda. A doença falciforme é caracterizada pela substituição de uma adenina por timina (GAG > GTG), que codifica para valina em vez de ácido glutâmico na posição seis da cadeia de globina, com a produção de hemoglobina S (HbS) (JUSZCZAK et al., 2003). Em laboratório clínico o diagnóstico para a anemia falciforme está diretamente relacionado com a presença da HbS nos portadores ou seja a presença da hemoglobina mutante no interior da hemácia que provoca alterações morfológicas e reológicas nestas hemácias (ORLANDO et al., 2000). Fundamentalmente os testes laboratoriais para o diagnóstico da anemia falciforme, apresentam pouca sensibilidade e reprodutibilidade originando em alguns pacientes um falso negativo produzindo assim uma interpretação errônea para essa moléstia (NAOUM; BONINI-DOMINGOS, 2007). A escolha destes testes está relacionada com o tempo de realização (rapidez) e o custo baixo de alguns procedimentos técnicos. Os seguintes testes laboratoriais de escolha na prática laboratorial que são utilizados nos dias de hoje são: a) Teste de falcização: é um teste qualitativo que utiliza uma substância redutora de oxigênio que induz a presença de uma desoxiemoglobina e com consequência a falcização da hemácia que contém a HbS, mas pode incorrer falhas como a desproporção entre o redutor e o sangue, a vedação da lamina com a lamínula e a concentração da HbS presentes nos eritrócitos em relação a HbA e HbF, e as interações da HbS possibilitando um resultado falso negativo (LEONELLI et al., 2000) b) Teste de fragilidade osmótica ou solubilidade: teste qualitativo que tem como principio metodológico promover um meio hipertônico com um potente redutor como o ditionito de sódio que promove a hemólise pela incapacidade da membrana plasmática das hemácias que apresentam em seu interior a HbS tem em suportar a pressão osmótica. Isto se deve pela a modificação da estrutura da membrana eritrocitária pela ação da hemoglobina mutante, deste modo provocando a turvação. 48 Pode acontecer a não turvação mesmo tendo alta concentração da HbS no sangue do paciente (ZAGO, 2001). c) Morfologia do eritrócito: teste sugestivo que deve ser observado quando se realiza o eritrograma (esfregaço sanguíneo corado) por meio de microscopia óptica. A HbS presente no interior do eritrócito modifica a sua morfologia apresentam característica da existência da HbS pela presença do corpúsculo de Howell Jolie e pontilhados basófilos que não são características somente para a anemia falciforme e podem estar presentes em outras formas de anemias como na Talassemia (VERRASTRO; LORENZI; NETO, 2005). d) Eletroforese: é um método quantitativo que utiliza características físicas (campo elétrico) para a discriminação e identificação das hemoglobinas e outras proteínas. A separação das hemoglobinas ocorre por ponto isoelétrico promovendo assim uma banda de precipitação no aparato de eletroforese, a precipitação no aparato pode recorrer em erros por alterações ou imperícia na formação da solução tampão, no pH da solução e a eletroendosmose que é um fenômeno que produz uma falha na precipitação das bandas proteicas que ocorrem por alterações no sistema eletroforético (NAOUM, 2012). Em relação aos aspectos físicos (pH, temperatura e tempo), durante a realização da coleta do material e as análises espectroscópicas das amostras não houve impacto considerável nos resultados obtidos para este estudo, demonstrando assim que a espectroscopia de Raman foi capaz de realizar os estudos da hemoglobina mesmo não se observando esses aspectos. Outro ponto importante que podemos salientar e o armazenamento das amostras em temperatura entre 2 à 8 Cº para a realização dos estudos eletroforéticos e espectroscópicos que não teve interferência nos resultados mesmos mantendo as amostras armazenadas por período delongado. Outra característica que podemos salientar que não foi o objetivo deste estudo, mas tem importância no diagnóstico laboratorial e a relação dos picos espectroscópicos identificados no trabalho com a presença ou não de hemácias depranociticas (Hemácia falciforme). Os picos da HbS (882 e 1373 cm-1 ) podem indicar a presença da alteração morfológica da hemácia no sangue do portador? Este estudo deve ser mais aprofundado com uma metodologia que consiga ao mesmo tempo identificar a presença dos espectros da HbS com o estudo citológico realizado no eritrograma. 49 Em relação à espectroscopia Raman, ela demonstrou-se uma ferramenta útil na discriminação das hemoglobinas (HbA e HbS) por não sofrer influências externas como o tempo de armazenamento, pH do meio e a temperatura. Mas, existe uma característica da espectroscopia Raman que não pode ser ignorada que é a fluorescência que pode ocorrer durante a realização do estudo espectroscópico. No presente estudo houve uma preocupação em relação a fluorescência, pois, a hemoglobina é um fluoroforo Para diminuir o efeito da fluorescência durante o estudo espectroscópico foi padronizado a obtenção dos espectros pelo espectrógrafo para a diminuição da ação da fluorescência, para tal as amostras foram expostas ao infravermelho próximo (laser) para evitar a fluorescência do material estudado e sendo exposto por tempo determinado de 3s e a utilização da ferramenta matemática o PCA (CHAIKEN et al., 2011). Em alguns trabalhos que utilizaram a espectroscopia de Raman como ferramenta para discriminar proteínas como a hemoglobina utilizaram o PCA para tal ação, como no trabalho de Saurabh et al. (2012), e no trabalho de Villanueva-Luna et al. (2012), que discriminaram a hemoglobina com a utilização do PCA obtendo assim resultados importantes em seus trabalhos. Demonstrando que o PCA é uma ferramenta matemática com bom desempenho na discriminação dos espectros e por este capacidade foi escolhido para ser utilizado neste trabalho. A aplicabilidade da espectroscopia Raman no auxílio diagnóstico das moléstias que acometem o homem é viável, pois, sua característica física faz com que seu uso na investigação das doenças por meio das alterações moleculares decorrentes das alterações metabólicas provocadas por cada patologia é discriminada pelo efeito Raman quando se utiliza Laser infravermelho próximo para diminuir o efeito da fluorescência e ferramentas matemáticas para o estudo da discriminação dos espectros obtidos das amostras de sangue. 50 6. CONCLUSÃO A espectroscopia Raman dispersiva no infravermelho foi capaz de identificar mudanças sutis na molécula da hemoglobina, reconhecendo a troca do ácido glutâmico por valina na cadeia globina na estrutura constituinte da hemoglobina. A linha de diagnóstico baseada no método de PCA/Mahalanobis foi capaz de distinguir os espectros do ácido glutâmico (1547 e 1622 cm-1) e da valina (882 e 1373 cm-1) com 100% de precisão nos indivíduos portadores da doença falciforme (HbS) dos indivíduos normais (HbA). 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONINI-DOMINGOS, C. R. Prevenção das hemoglobinopatias no Brasil: diversidade genética e metodologia laboratorial. 1993. 138 p. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto. CHAIKEN, J.; BIN D.; GOODISMAN, J. et al. Analyzing near-infrared scattering from human skin to monitor change in hematocrit. J. Biomed. Opt. 16(9): 097005, 2011. CLARK, B. E.; THEIN, S. L. Molecular diagnosis of haemoglobin disorders. Clin. Lab. Haematol. 26(3):159-76, 2004. DAVID, N. L.; COX, M. M. Lehninger Princípios de Bioquímica. Editora Sarvier, São Paulo, 4ª ed. 2004, 1100 p. EATON, W. A.; HOFRICHTER, J. 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Agência Nacional de Vigilância Sanitária, organizador. Manual de Diagnóstico e Tratamento das Doenças Falciformes. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. p 9-11. ZAGO, M. A.; FALCÃO, M. R. P.; PASQUINI, R. Hematologia: Fundamentos e Prática. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 2004. p 289-307. 57 ANEXO A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) I. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU LEGAL RESPONSÁVEL 1. Dados de Identificação Nome do Paciente:.................................................................................................... Documento CNS Nº:................................................................................................. Data de Nascimento:................................................................................................. Endereço: R:...........................................................Nº:......... Compl:...................... Bairro:..................................................................... Cidade:..................................... CEP:.............................................................Telefones:............................................ 2.Responsável Legal: Nome do Responsável:............................................................................................... Natureza (grau de parentesco, tutor, curador, etc.):..................................................... RG Nº :............................. Sexo: () M ( ) F Endereço: R:........................................................ Nº:.................. Bairro:................................................................. Cidade:.......................................... CEP:............................................................Telefones:............................................... II – DADOS SOBRE A PESQUISA 1. Título do Protocolo de Pesquisa: ANÁLISE POR ESPECTROSCÓPIA RAMAN DE HEMOGLOBINAS A PARTIR DE AMOSTRAS DE SANGUE DE PACIENTES COM DOENÇA FALCIFORME. Pesquisador: Antonio Carlos Bueno Filho – Biomédico Documento de Identidade Nº : 000613549 SSP/MS Sexo: (X) M ( )F Cargo/Função: Mestrando em Bioengenharia Departamento de Bioengenharia da Universidade Camilo Castelo Branco. Nº de inscrição no órgão de classe: CRBM 5533 58 Colaboram na pesquisa: Dra Adriana Barrinha F. Morreti - Orientadora e Dra. Anna Letícia Sant´Anna Yanai - Hematologista e Oncologia Pediátrica III – REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO SUJEITO DA PESQUISA OU SEU RESPONSÁVEL A importância da realização desta pesquisa é avaliar com uma metodologia mais sensível a pesquisa da hemoglobina S facilitando a identificação da anemia falciforme. Esta doença acomete a população em geral e tem sintomas específicos. Os sintomas mais comuns são as dores pelo corpo, na barriga e cansaço, e por apresentar estes sintomas o diagnóstico laboratorial é importante para sua identificação. A doença falciforme é uma alteração na hemoglobina que ocorre na sua formação que causa dores e cansaço. Esta mudança da função da hemoglobina provoca uma alteração nas células do sangue que ficam com um formato de foice. Esta característica das hemácias em foice fecha o vaso sanguíneo deixando a circulação do sangue devagar. O objetivo desse projeto é avaliar a presença da anemia falciforme com mais eficiente na detecção da hemoglobina S. que causa a anemia falciforme, por meio da utilização de Ramam que tem uma capacidade de detectar com mais rapidez e corretamente a alteração na hemoglobina no sangue do pesquisado. O procedimento de coleta de material será da seguinte forma: Será coletado sangue pela veia do braço com agulha e seringa estéreis e realizado por um biomédico, enfermeiro ou médico, O tempo de coleta é em torno de 1 minuto e a técnica para este processo é simples. Os materiais utilizados para coleta são os seguintes: garrote (tubo de látex), algodão para a assepsia na região da dobra do cotovelo para evitar contaminação, álcool a 70% para realizar a limpeza da pele da região do cotovelo. O sangue coletado será acondicionado em tubo específico para o transporte e utilização. Onde o tubo de coleta contém um anticoagulante chamado de EDTA que está no interior do tubo. Este anticoagulante não proporcionará nenhum risco ao pesquisado, pois, somente seu sangue coletado que irá ter contato com esta substância. A coleta do sangue somente uma única vez com volume de 4 ml. DESCONFORTOS, RISCOS E BENEFÍCIOS: Não haverá risco grave para você somente uma pequena dor ou não no local da picada da agulha que é rápido, mas 59 pode ficar roxo no local da picada da agulha após a coleta do sangue no meio do braço. Esta coleta não apresentar risco grave a saúde do voluntário. Ao voluntário da pesquisa, será informado dos resultados obtidos com sua amostra por meio de Laudo que será entregue de forma confidencial e intransferível. O resultado será colocado em envelope lacrado e entregue pessoalmente ao voluntário. FORMA DE ACOMPANHAMENTO E ASSISTÊNCIA: Todos participantes da pesquisa são portadores da anemia falciforme, portanto já estão sendo assistidos por um médico hematologista. IV – ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE GARANTIAS DO SUJEITO DA 1. Acesso, a qualquer tempo, às informações sobre procedimentos, riscos e benefícios relacionados à pesquisa, inclusive para dirimir eventuais dúvidas através dos seguintes contatos do pesquisador: Pesquisador: Antonio Carlos Bueno Filho, End: Rua: Veneza, Qd 12 Lote 2 Residencial Florença, Sinop/MT, Tel: 66-8135-1435. 2. Liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do estudo, sem que isto traga prejuízo à continuidade da assistência. Você será esclarecido(a) sobre a pesquisa em qualquer aspecto e tempo que desejar. Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação a qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar qualquer penalidade ou perda de benefícios. O(s) pesquisador(es) irá(ão) tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. O resultado do exame será enviado para você e permanecerão confidenciais. Seu nome ou o material que indique a sua participação não será liberado sem a sua permissão. Você não será identificado(a) em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Uma cópia deste consentimento informado será arquivada e outra será fornecida a você; 3. Salvaguarda da confidencialidade, sigilo e privacidade; 4. Este novo teste é importante para melhorar a pesquisa da anemia falciforme com agilidade e rapidez nos resultados e a utilização de um volume pequeno de sangue para esta pesquisa. 60 5. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo plenário do CEP (Processo Nº.................................) V– CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO Para indivíduos vulneráveis como crianças, adolescentes, devem ter um representante legal, sem prejuízo de sua autorização. Eu................................................................., após ser convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, declaro para os devidos fins que consinto em participar do presente Protocolo de Pesquisa e que o mesmo poderá ser usado em estudos retrospectivos, desde que mantidas as condições aqui apresentadas . Sinop/MT, ______ de ___________________ de ________. Assinatura do participante ou responsável legal Identidade Endereço Assinatura do pesquisador (carimbo ou nome legível) Identidade: 000613549/SSP/MS – CRBM 5533 Endereço: R: Veneza, Qd 12 Lot 2 – apto 4 – Residencial Florença - Sinop/MT – Cep: 78550-404. 61 ANEXO B PROTOCOLO DE ANAMNESE PROTOCOLO NUMERO___________ Nome:_____________________________________________________RG:_________ Pai: ____________________________________________________RG____________ Mãe: ___________________________________________________RG____________ Idade:________ Data de Nascimento: ______/______/_______ Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) Endereço: _____________________________________________________________ Bairro:______________________________________________ CEP:____________ Cidade:______________________________________ UF: __________________ Material Biológico coletado: Sangue total com EDTA 10% - Volume de 1ml de sangue PERGUNTAS Tipo Sanguíneo: ABO:______ Rh:_______ Transfusão Sanguínea: Mais de 90 dias ( ) Menos de 90 dias ( ) Apresenta Alguma doença Transmissível: ( ) Sim ( ) Não Faz uso freguente de medicação: ( )Sim, Qual?____________________ ( ) Não Tem ido regularmente à consulta médica: ( ) Sim ( )Não Realizou Eletroforese: Mais de um ano ( ) Menos de um ano ( )