Mapeamento, análise e classificação dos trabalhos acadêmicos de Marketing nos ENANPADs de 2000 a 2005 Autoria: Patrícia do Couto Nascimento Faria, Daniela Ferro de Oliveira, Tales Sarmento Lacerda, José Edson Lara Resumo O Marketing, ao mesmo tempo em que é rico por receber contribuições de áreas diversas como Economia, Sociologia e Psicologia, dentre outras, ainda busca consolidar uma teoria própria. Nesse sentido, a classificação de trabalhos acadêmicos em escolas apresenta-se como importante para o mapeamento dos rumos em que o Marketing vem sendo trabalhado ao longo dos últimos anos no Brasil assim, como para o levantamento de tendências da área. O trabalho de Sheth, Gardner e Garrett (1988) conceitua e demarca várias escolas do pensamento da teoria de Marketing, além de estabelecer critérios para sua avaliação visando a construção de uma metateoria. Baseado nesta avaliação e em sua definição das escolas de pensamento, este estudo buscou classificar os artigos publicados na área de Marketing dos ENANPADs no período de 2000 a 2005 segundo estas escolas, verificando que a de Comportamento do Consumidor não só continua sendo a que mais concentra trabalhos publicados, como tem aumentado a sua participação relativa às demais. Introdução A busca de uma área pela consolidação de uma teoria geral e sua afirmação como ciência passa pelo alinhamento dos esforços, pesquisas, publicações e congressos. O Marketing, ao mesmo tempo em que é rico por receber contribuições de áreas diversas como Economia, Sociologia e Psicologia, dentre outras, ainda busca consolidar uma teoria própria. Nesse sentido, a classificação de trabalhos acadêmicos em escolas apresenta-se como importante para o mapeamento dos rumos em que o Marketing vem sendo trabalhado ao longo dos últimos anos no Brasil assim como para o levantamento de tendências da área. O Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD) foi definido como o foco deste estudo, uma vez que é o principal evento acadêmico de Administração no Brasil (VIEIRA, 1998), com edições regulares ao longo dos últimos 29 anos. Tanto o número de participantes como o número de trabalhos (submetidos e apresentados) vem aumentando nos últimos anos, mostrando sua relevância. Tendo em vista o caráter representativo do ENANPAD, e considerando que entre as suas diversas áreas temáticas encontra-se a de Marketing, o presente artigo assume o pressuposto, inicialmente adotado por Vieira (1998), de que os trabalhos publicados nos Anais do ENANPAD refletem a produção acadêmica, bem como o esforço de pesquisa em Marketing dos principais centros de pós-graduação do país. Assim, entende-se que a publicação científica resultante deste encontro, na área de Marketing, caracteriza-se como uma referência na construção e desenvolvimento críticos do Marketing no Brasil. Uma Teoria de Marketing? Enquanto as primeiras idéias sobre Marketing podem ser datadas dos anos 1880, a maioria dos estudiosos concorda que o Marketing realmente adquiriu uma forma mais consistente em 1 meados da década de 1950 / início dos anos 1960 com contribuições seminais de autores como Peter Drucker, Joel Dean, Theodore Levitt e Eugene McCarthy (BAKER, 2000b). Após um período de negligência, percebe-se novamente o interesse dos acadêmicos no estudo e discussão da teoria de Marketing. Interesse este devido, para Sheth, Gardner e Garrett (1988), à fase turbulenta na qual entrou a disciplina de Marketing, como indicado pelas denominadas 5 grandes controvérsias: Qual é, ou deveria ser: o A perspectiva dominante do Marketing? o A relação entre Marketing e a sociedade? o O domínio adequado da teoria de Marketing? O Marketing é ciência ou arte? É realmente possível se criar uma Teoria Geral do Marketing? Baker (2000a) mostra que, apesar da verdadeira essência do Marketing ser o estabelecimento de relações de troca que levem à mútua satisfação, pode-se encontrar mais de uma centena de definições do que vem a ser o Marketing, que variam em relação ao seu objeto de estudo, natureza do relacionamento, resultados, aplicações e à dicotomia Filosofia x Função. Para o autor, as mudanças ocorridas ao longo do tempo nestes cinco temas indicam a significativa evolução do conceito de Marketing desde sua primeira definição. Entretanto, ainda que se deva exigir maior rigor na formulação de definições no futuro, unificar a definição provavelmente desencorajaria o desenvolvimento do assunto. Baker (2000a) recomenda ainda que se busque estabelecer ao menos uma distinção entre o Marketing como uma filosofia de negócios, que guia o desenvolvimento e direciona uma organização, e aquele visto como uma função de negócios, aumentando a eficiência e eficácia na execução da missão da organização. Para Day (1984) e Bagozzi (1986), a perspectiva dominante do Marketing se sustenta sobre dois pilares: o comportamento do consumidor e a análise da oportunidade ou Marketing estratégico. Esta é também a análise de Botelho e Macera (2001), para quem o fato do tema “comportamento do consumidor” ter sido a perspectiva dominante, sem que os pesquisadores dessem a devida importância ao desenvolvimento de novos conceitos e abordagens, preocupando-se mais com modelos estatísticos, mensurações e testes de validade, dificulta a construção metateórica. A partir da década de 1960, com a questão dos efeitos nocivos da talidomida, o Marketing começa a se preocupar com a segurança dos produtos. Na década de 1970, aumenta a publicação de artigos sobre o impacto do Marketing na sociedade, e se começa a criticar as práticas de Marketing que se baseiam somente na exploração dos recursos naturais e não se preocupam com o bem estar da sociedade. Ainda segundo Sheth, Gardner e Garrett (1988), a década de 1980 trouxe à tona questões como o estudo de grupos de consumidores (como idosos, minorias étnicas, crianças) e as relações saudáveis no Marketing, bem como a preocupação macroambiental do Marketing (Macromarketing), envolvendo discussões sobre intervenções legais, legislação de propaganda, restrições de distribuição, controle e política de preço, dentre outros. Nos anos 1990, o ‘Marketing de relacionamento’ se tornou o tema dominante (BAKER, 2000a), como um retorno ao mais simples fundamento do Marketing, o de satisfazer mutuamente as partes em uma relação de troca. 2 Entretanto, assim como acontece com a Administração, que ainda se questiona ser ou não uma ciência, o Marketing também levanta o debate sobre ser uma ciência em si mesmo ou apenas uma área de aplicação das descobertas das ciências (basicamente das ciências comportamentais) (SAREN, 2000). Para BARTELS (1951), para que o Marketing seja reconhecido como ciência é necessário, o estabelecimento de leis gerais ou princípios mais abrangentes, bem como que as previsões decorrentes do desenvolvimento destas leis seja relevante para a sociedade, e não apenas para as instituições. Problemática e Relevância - Publicações de Marketing Este estudo torna-se relevante na medida em que se discute a afirmação do Marketing enquanto ciência e corpo de conhecimentos, assim como pela busca por uma maior compreensão da inserção das idéias proferidas por suas escolas de pensamento. O objetivo final, para Sheth, Gardner e Garrett (1988) seria a construção de uma Teoria Geral de Marketing, buscando evitar a fragmentação do conhecimento da área e reverter sua crise de identidade ao delinear sua área de atuação, e reverter a crise de credibilidade dos praticantes de Marketing em relação ao desenvolvimento teórico desta área. O trabalho de Sheth, Gardner e Garrett (1988) estabelece critérios para avaliação das escolas de pensamento do Marketing, visando a construção de uma metateoria, definida por estes como a ciência da ciência ou a investigação da investigação. Uma das grandes críticas feitas por estes autores aos teóricos de Marketing é a de que eles não se preocupam em criticar e avaliar as forças e fraquezas das teorias propostas anteriormente quando da proposição de suas próprias teorias – ao contrário, nós, pesquisadores, em geral, não conhecemos as escolas de pensamento do Marketing, suas bases, forças e fraquezas, e aceitamos as teorias sem criticá-las. Com base nessa classificação e definição das escolas de pensamento, o presente trabalho buscou classificar os artigos publicados na área de Marketing dos ENANPADs no período de 2000 a 2005, identificando as escolas predominantes nos artigos investigados e o estado atual da pesquisa de Marketing no país. Cabe ressaltar que não se pretende aqui esgotar o assunto ou se chegar a uma avaliação de forma definitiva, apesar de haver, de certa forma, um consenso em relação aos elementos necessários para a construção teórica (BOTELHO e MACERA, 2001). Para as autoras, que analisaram teses e dissertações publicadas na FGV-EAESP, de 1974 a 1999, o debate está em como avaliar teorias, pois “a ausência de uma metateoria em Marketing é ao mesmo tempo causa e conseqüência das dificuldades pelas quais atravessa a construção teórica da disciplina” (BOTELHO e MACERA, op. Cit., p. 2) No Brasil, o trabalho pioneiro de Machado-da-Silva, Cunha e Amboni (1990) despertou a atenção da academia de Administração para a necessidade de voltar seu olhar para sua produção, avaliar sua ‘evolução’. Tal estudo avaliou os artigos da área de Organizações, diagnosticando uma fragilidade teórico-metodológica, e um predomínio de uma abordagem funcionalista. Foi um primeiro passo para que várias áreas iniciassem balanços críticos de sua produção, inclusive a de Marketing. Por sua vez, na área de Marketing, um autor que realizou um amplo balanço crítico foi Vieira (1998, 1999, 2000). O trabalho de 1998, por meio de uma avaliação dos artigos publicados nos Anais do ENANPAD durante a década de 1990, diagnosticou uma concentração dos temas de pesquisa em Comportamento do Consumidor, Estratégia de Mercado, Marketing de Serviços e Sistema de Informação de Pesquisa em Marketing, com uma concentração das 3 publicações acadêmicas na área na UFRGS, USP e UFRJ. Um estudo de Perin et al. (2000), do mesmo objeto (Anais do ENANPAD da década de 1990) afirma que as análises de pesquisas empíricas do tipo survey apresentam qualidade no mínimo questionável. No estudo de Vieira (2000), 272 artigos (trabalhos resultados de pesquisas teóricas, empíricas, ensaios etc.) de Marketing foram publicados no Brasil de 1990 a 1999 - considerados os Anais do ENANPAD e as revistas de Administração (RA) e de Administração de Empresas (RAE). As principais temáticas estudadas foram comportamento do consumidor (18,8%), serviços (10,3%) e estratégias de mercado (9,9%). Houve, portanto, um nítido direcionamento dos estudos e pesquisas no sentido de se conhecer melhor o mercado consumidor brasileiro. Vários estudos foram publicados sobre aspectos multidisciplinares e pluralísticos de Marketing (10,7%). De certa forma, tal volume de trabalhos implica a existência de um diálogo constante do Marketing com outras áreas de conhecimento e, de algum modo, revela certa dependência do conhecimento oriundo de outras áreas para a construção e consolidação de um estatuto teórico que lhe seja particular. Um estudo que utilizou as escolas definidas por Sheth, Gardner e Garrett (1988) para classificar os trabalhos disponibilizados nas bases de dados do Proquest, Emerald, Bibliotecas Virtuais das Universidades de Harvard, Columbia e MIT (Messachusetts Insitute of Technology – Estados Unidos) e livrarias virtuais, foi o de Miranda e Arruda (2002). Por meio de uma metodologia qualitativa, onde a desk research foi a técnica utilizada, foi identificado o foco dominante das doze escolas emergidas no decorrer do século XX, realizado um levantamento teórico documental de fontes secundárias dos acessos descritos. Como resultado diagnosticou-se que os estudos desenvolvidos na década de 90 focalizaram a estrutura dos relacionamentos, com concentração em satisfação e retenção de clientes, emergindo neste novo século uma maior ênfase nos relacionamentos de interatividade das transações comerciais entre vendedores e consumidores, estes últimos vistos como o ponto central do Marketing, criando novos conceitos como cybermarketing e Marketing experiencial. Outro artigo publicado nos Anais do ENANPAD de 2002, de Vieira et al (2002), realizou uma análise dos os trabalhos de Marketing publicados nos anais do referente congresso entre os anos de 1997 e 2001, levantando evidências de que as publicações desta área estão fortemente orientadas pelas ciências empírico-analíticas, fato que traz à tona uma lacuna no discurso crítico das teorias de Marketing e a necessidade de adoção de uma perspectiva emancipatória para que se possa capturar a essência de um projeto filosófico diferente. Outra análise dos autores refere-se à percepção, levando em conta o Brasil como cenário, de que a grande maioria dos estudos possui uma perspectiva superficial, na medida em que tentam sem sucesso ser abrangentes, não sendo nem genéricos nem específicos. Além disso, na área de Marketing, a produção brasileira reproduz as oscilações e os modismos de inspiração quase exclusivamente norte-americanos. Mais um artigo de Vieira (2003), publicado na Revista de Administração de Empresas, apresenta uma ‘fotografia’ da produção brasileira de Marketing em termos de temática, número de autores e citações por artigo e número de citações de periódicos nacionais e internacionais, constatando que os pesquisadores nacionais não têm utilizado como referência a publicação científica local. Do pesquisado em relação às publicações em Marketing de modo geral, mais notadamente no Brasil, existe todo um questionamento, um olhar voltado para a produção acadêmica de modo 4 mais atento, a partir da década de 1990, apesar de serem verificadas poucas mudanças no sentido de melhorias em termos de quantidade, diversidade e qualidade, da produção científica da área. Classificação das escolas segundo Sheth, Gardner e Garrett (1988) A escola de gerenciamento de Marketing, segundo Baker (2000a), surgiu no fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, estreitamente ligada ao conceito de mix de Marketing e como uma abordagem analítica do gerenciamento de Marketing seguindo a seqüência positivista de Análise, Planejamento e Controle, tendo como marco a primeira edição do best-seller de Philip Kotler, Marketing Management: Analysis, Planning and Control. Desde então, vários autores buscam a conceitualização da teoria do Marketing, através da descrição de hierarquias, paradigmas e escolas de pensamento (SAREN, 2000). Sheth, Gardner e Garrett (1988) identificam doze grandes escolas de pensamento que emergiram com o Marketing do início do século XX aos tempos atuais. Utilizando um mapa bidimensional, os autores estabelecem uma classificação da área em escolas a partir das combinações de duas perspectivas - interatividade e questão econômica. Com relação à interatividade, a perspectiva interativa estuda as relações entre membros do canal de distribuição, produtores e consumidores, bem como o balanceamento de forças entre vendedores e compradores no mercado, com foco no relacionamento; na perspectiva nãointerativa, predominante entre as décadas de 1960 e 1970, o produtor é o único agente de Marketing e influencia o comportamento do comprador, com foco na persuasão e venda. Quanto à questão econômica, os autores dividem as escolas em perspectiva econômica, onde as ações dos atores de Marketing são guiadas para a máxima eficiência e o máximo lucro, avaliando-se fatores críticos como canal de distribuição, precificação e produção; uma perspectiva mais focada, porém superficial. A perspectiva não-econômica considera fatores sociais e psicológicos para avaliação das decisões dos consumidores, produtores e membros do canal de distribuição, sendo, para Sheth, Gardner e Garrett (1988), uma perspectiva descritiva e de difícil estabelecimento de relações causa-efeito. O QUADRO 1 sintetiza as interações entre as perspectivas adotadas e as escolas nas quais os autores classificam o pensamento de Marketing: Quadro 1 – Classificação das Escolas de Marketing Perspectiva econômica Perspectiva não-interativa Perspectiva interativa Commodity Institucional Funcional Funcionalista Regional Gerencial Comportamento do Consumidor Perspectiva não-econômica Ativista Macro marketing Dinâmicas Organizacionais Sistemas Troca Social Fonte: Sheth, Gardner e Garrett (1988) O QUADRO 2 apresenta cada escola de pensamento e seus pioneiros, as questões envolvidas, o nível ou foco de análise, assim como os conceitos-chave e teorias, a base utilizada para a classificação dos artigos. Os quesitos do quadro foram estabelecidos 5 segundo classificações de Shaw e Jones (2005), sendo o conteúdo extraído das escolas estabelecidas por Sheth, Gardner e Garrett (1988). 6 Quadro 2 – Escolas de Marketing Escola Pioneiros selecionados Questões envolvidas Commodity Parlin (1912), Copeland (1923), Rhoades(1927), Aspinwall (1958), Holton (1958), Luck (1959), Bucklin (1962), Kaish (1967), Holbrook & Howard (1977), Murphy & Enis (1986). Início do século XX: afirmação do marketing no meio acadêmico e também na prática; Classificação dos commodities de forma racional em um grande “livro de receitas” Ligação das decisões de marketing às categorias de produtos. Funcional Regional Institucional Nível ou foco de análise Conceitos-chave e teorias Foco nos produtos / bens manufaturados (“o quê”) Marketing é o movimento de bens dos produtores para os consumidores; Três tipos de bens: de conveniência, shopping e especialidades; Inicialmente encara os consumidores de maneira global (Copeland), depois individualmente (Holton) Marketing como movimento de bens dos produtores para os consumidores; Classificação Shaw (1912), Weld Início do século XX: das funções de marketing: (1917), Ryan (1935), afirmação do marketing no Foco nas atividades necessárias à montagem, armazenamento, Fullbrook (1940), meio acadêmico e também execução das transações (“como”); riscos, venda, transporte, McGarry (1950), Lewis & na prática. financiamento; Prévia do que Erickson (1969). seriam os 4 Ps do marketing (McGarry, 1950). Grether (1930), Reilly (1931), Converse (1949), Huff (1964), Revzan (1961), Grether (1930, 1983), Savitt (1981). · Qual o papel da distância na decisão de compra do consumidor? Como explicar o fluxo de bens entre várias regiões com diferentes recursos e necessidades? · Foco nas regiões geográficas de produção / consumo e no fluxo de bens entre elas. Atenção às organizações que Weld (1916), Butler desempenham as funções; (1923), Breyer (1934), Concentração em aspectos Converse e Huegy (1940), econômicos como explicações Duddy e Revzan (1947), Como podem ser avaliadas para as ações de organizações Alderson (1954), as funções e a eficiência envolvidas no marketing; das organizações? McCammon (1963), Eficiência econômica na evolução Balderston (1964), dos canais; Explicação dos Bucklin (1965), Mallen motivos pelos quais a performan (1973) · Marketing como uma forma de atividade econômica desenhada para preencher os espaços geográficos entre vendedores e compradores; Abordagem quantitativa com modelos matemáticos; Consideração do fator tempo, não só distância (Huff, 1964) Intermediários; Funções no Marketing; Integração Vertical; Influências Ambientais e Forças Econômicas no Marketing; Canais de Distribuição no Marketing; Estrutura dos Canais 7 (continua) Escola Pioneiros selecionados Funcionalista Alderson (1945, 1948, 1949, 1954, 1956, 1957, 1958, 1965), Nicosia (1962), Rethans (1979), Hunt, Muncy e Ray (1981) Gerencial Comportamento do consumidor Ativista Questões envolvidas Como melhorar as relações entre os inputs e outputs no sistema? Nível ou foco de análise Marketing como um sistema de relações dinâmicas estruturais e Estrutura sistêmica; Metas e funções de interdependentes interum sistema total; Sistema de relacionadas; Visão do marketing comportamento organizado; Mercado como um sistema onde os heterogêneo (início da segmentação?); O processos econômicos trabalham mercado perfeito ou ideal encontraria um numa base interdependente; par perfeito de suprimento para cada Determinação do relacionamento elemento de demanda; Transvection atual entre inputs e out Dean (1950,1951), Como traduzir as Howard (1957), Kelley teorias muitas vezes e Lazer (1958), Levitt abstratas da economia Necessidade dos gerentes de (1960), Smith (1956), marketing enxergarem a tarefa de utilizadas pelos Dickson e Ginter acadêmicos em marketing como um processo de (1987), Day (1981), integração com várias diferentes princípios de práticas Gardner (1987), de negócios que funções simultaneamente; Oxenfeldt (1960), Demanda pelo atendimento de podem ser Frazier e Sheth (1985), rapidamente utilizadas necessidades de consumidores Lavidge e Steiner diferentes. por executivos nas (1961), Weitz (1981), suas tarefas gerenciais Dwyer, Schurr e Oh diárias? (1987), Williams Katona (1953), Lazarsfeld (1955), Festinger (1957), Bourne (1957), Katz Por que os (1959), Bauer (1960), consumidores se Rogers (1962), comportam de Fishbein (1963, 1967, determinada maneira? 1975), Howard & Sheth (1969), Engel, Kollat & Blackwell (1968) Drucker (1969), Bauer & Greyser (1967), Como balancear o Kotler (1972), poder entre os Andreasen (1977), compradores e Laczniak (1983), vendedores? Como Laczniak & Murphy coibir as práticas (1985), Ferrell & empresariais maléficas Gresham (1985), no marketing? Robin & Reidenbach (1987), Garrett (1987) Conceitos-chave e teorias Conceito de marketing; Miopia de marketing; Mix de marketing; Segmentação de mercado; Ciclo de vida do produto; Precificação; Propaganda e promoção; Venda pessoal; Posicionamento do produto Perspectiva dos destinatários do marketing, incluindo consumidores e a sociedade em geral; Do macro para o micro – ênfase nos mercados para o foco nos consumidores individuais Comportamento do consumidor considerado como um subconjunto do comportamento humano – contribuições da psicologia, sociologia e antropologia; Introdução de conceitos como atitudes, lealdade à marca, risco percebido, motivação, determinantes sociais, semió Foco nos consumidores individuais ou ramos / empresas específicas. O papel do consumismo nas práticas de marketing; Satisfação versus o que é bom para o consumidor; ética e responsabilidade no marketing 8 (continua) Escola Pioneiros selecionados Questões envolvidas Nível ou foco de análise Conceitos-chave e teorias Foco na relação macro entre compradores e vendedores Marketing como tecnologia de apoio à vida; Qualidade e quantidade de “life goods” servidos pelo marketing; marketing como uma tecnologia para mobilizar e alocar recursos econômicos; Conseqüências societais do marketing nas sociedades em aprendizado Macromarketing Qual o papel e o impacto Holloway (1964), Fisk (1967), Moyer das atividades e instituições (1972), Hunt (1977), Zif (1980), de marketing na sociedade Kotler (1986) e vice-versa? Dinâmicas Organizacionais Quais as fontes de poder? Modos de interação eficaz dos Como deveriam os membros do canal em um Ridgeway (1957), Mallen (1963, membros do canal utilizar o complexo aparentemente 1967), Stern (1969), Hunt e Nevin poder disponível? Como Macro: canais de contraditório de movimentos (1974), French e Raven (1959), Lush poderia o poder ou o distribuição; do competitivos e e Brown (1982), Gaski (1984, 1986, conflito serem mensurados? Micro: relações cooperativos; Conflito, 1987), Kasulis e Spekman (1980), Qual a relação entre poder entre vendedores e controle, cooperação e Frazier e Summers (1984, 1986), e conflito? O que é compradores negociação nas relações entre McAlister, Bazerman e Fader (1986), cooperação em um sistema membros do canal; Dimensões Frazier (1983), Lu inter organizacional? Como comportamentais dos canais d o poder afeta Sistemas Troca social Ridgeway (1957), Alderson (1957, 1965), Staudt (1958), Forrester (1958, 1959), Lazer e Kelley (1962), Bell (1966), Goldstucker (1966), Fisk (1967), Farley (1967), Mackenzie e Nicosia (1968), Moyer (1968), Uhl (1968), McNiven (1968), Lazer (1966, 1971), Ga O que é um sistema de marketing? O que o faz existir? Como sistemas de marketing funcionam? Quem executa o trabalho de marketing? Onde e quando é executado? Macro: Sistemas de marketing agregados; firma como um sistema integrado ao marketing. Micro: Subsistemas de marketing. Inter-relacionamentos entre parte e todo; Sistemas de marketing; Micro e macro marketing; Relação de marketing e sistemas sociais Alderson (1965), McInnes (1964), Alderson e Martin (1965), Kotler e Levy (1969), Kotler (1972), Bagozzi (1974,1975,1978,1979), Houston e Gassenheimer (1987). Quais as formas de troca social? Como as trocas são criadas, consolidadas e evitadas? Quais as partes da troca? Por que pessoas e organizações engajam em relações de troca? Por que trocas assumem lugar entre o comprador e o vendedor? Macro: Agregados de compradores e vendedores em canais. Micro: Firmas e mercado doméstico; quaisquer pares de pessoas. Processo de troca como troca social; Trocas como categorizações de resultados, experiências e ações; Troca como comportamento de busca-de-objetivos (goalseeking) sob condições específicas Fonte: Elaborado pelos autores. 9 Após listarem e caracterizarem estas doze escolas, Sheth, Gardner e Garret (op. Cit.), fizeram uma análise de acordo com critérios comparativos, avaliando-as segundo os critérios Estrutura, Especificação, Testabilidade, Suporte Empírico, Riqueza e Simplicidade. As duas escolas com a maior pontuação foram a Gerencial e a de Comportamento do Consumidor. A TAB. 1 mostra o resumo desta avaliação, ordenando as escolas a partir do maior número de pontos segundo os autores. Tabela 1 – Avaliação das escolas de pensamento em Marketing segundo Sheth, Gardner e Garrett (1988) Estrutura Especificação Testabilidade Suporte Riqueza Simplicidade Total Empírico Gerencial 8 7 8 9 9 9 50 Comportamento do 8 8 6 8 9 8 47 Consumidor Trocas Sociais 8 4 5 5 9 9 40 Sistemas 5 8 6 5 8 8 40 Regional 7 6 7 7 4 7 38 Funcional 5 3 7 7 8 8 38 Institucional 7 7 4 5 5 8 36 8 8 4 3 5 4 32 Dinâmicas Organizacionais Ativista 5 5 4 7 5 6 32 Commodities 3 4 3 6 8 8 32 Macromarketing 4 4 6 6 7 4 31 Funcionalista 7 7 2 3 8 2 29 Escola Fonte: Sheth, Gardner e Garrett (1988) Metodologia Aplicada Este estudo caracteriza-se como descritivo, segundo Malhotra (2001), uma vez que se estabeleceu como objetivo classificar os artigos publicados na área de Marketing do ENANPAD do ano de 2000 a 2005. Tais artigos são os objetos empíricos em questão neste trabalho. As classificações seguiram as definições de Sheth, Gardner e Garrett (1988) das escolas de pensamento de Teoria de Marketing, anteriormente apresentadas no QUADRO 2. Para tanto, seguiu-se uma estratégia qualitativa, de acordo com o procedimento de pesquisa bibliográfica, analisando cada um dos artigos dos Anais do ENANPAD da área de Marketing, do ano de 2000 até 2005, tendo como variável analisada a temática geral do estudo de cada artigo. O presente estudo baseou-se na metodologia de coleta e análise dos mais citados meta-estudos nas diversas áreas do ENANPAD, como, por exemplo, os trabalhos de Vieira (1998) e de Perin et al. (2000). A escolha do ENANPAD como foco de estudo justifica-se pelo fato de ser o principal congresso considerado internacional de Administração do Brasil, sendo a principal referência da área. Uma vez que Vieira (1998) já tinha procedido às análises dos artigos de Marketing do ENANPAD de 1990 até 1997, decidiu-se por iniciar os estudos das temáticas a partir do ano 2000, identificando 10 temas e tendências do novo milênio; porém, desta vez, com ênfase nas escolas de pensamento em Teoria de Marketing. As etapas de classificação dos artigos consistiram em: 1) leitura do artigo; 2) categorização em uma das escolas propostas por Sheth, Gardner e Garrett (1988). Cada etapa foi cumprida pelos três autores deste estudo. Em caso de dúvida acerca do tema do artigo em questão, em função da apresentação, por exemplo, de características pertencentes a mais de uma escola de pensamento, os autores discutiram entre si, analisando mais profundamente as referências bibliográficas e conexões das teorias apresentadas. Resultados e Análises A TAB. 2 mostra o resultado das análises feitas pelos autores, com o número de trabalhos encontrados por escola em cada ano, além da média final de trabalhos em cada escola segundo a classificação de Sheth, Gardner e Garrett (1988). Tabela 2 – Relação de artigos publicados na área de Marketing nos ENANPADs de 2000 a 2005 Ano / Escola Comportamento do Consumidor Gerencial Dinâmicas Organizacionais Institucional Ativista Regional Macromarketing Funcional Trocas Sociais Sistemas Commodities Funcionalista Teoria Total 2000 20 8 5 0 2 2 2 1 1 0 0 0 2 43 2001 18 9 5 3 2 1 0 0 0 0 0 0 2 40 2002 32 7 3 4 1 0 1 0 0 0 0 0 3 51 2003 34 3 8 2 1 1 0 0 1 1 0 0 0 51 2004 34 12 4 5 0 0 2 1 0 0 0 0 2 60 2005 48 13 5 4 1 0 2 1 1 0 0 0 2 77 Média 31 9 5 3 1 1 1 1 1 0 0 0 2 54 Fonte: Elaborada pelos autores. A análise das publicações do ENANPAD no período (2000-2005) não permite que se estabeleçam conclusões acerca de tendências de crescimento ou declínio de determinada escola, por exemplo. Entretanto, um fato notório é a publicação bastante superior de trabalhos da escola do Comportamento do Consumidor, tendo esta apresentado um salto de participação nas publicações de algo em torno de 45% em 2000 e 2001 para cerca de 60% nos 4 anos seguintes. Em segundo lugar, exceto em 2003, estão os trabalhos da escola Gerencial, o que possibilita sua visualização como a segunda escola mais pesquisada pela academia de Marketing no Brasil. Vale ressaltar a dificuldade encontrada para a classificação dos artigos em apenas uma das escolas propostas por Sheth, Gardner e Garrett (1988). Por exemplo, houve muitos trabalhos que estudaram Comportamento do Consumidor aplicado a algum tema relacionado à ética ou responsabilidade social (remetendo às escolas Ativista e Macromarketing, respectivamente), bem 11 como outros associados à segmentação e a componentes do mix de Marketing (escola Gerencial). Em casos como esse, a definição da escola em que foi classificado o trabalho deu-se em função da predominância da fundamentação teórica, referências e os objetivos, em uma análise mais detalhada. Alguns trabalhos analisados não se enquadraram em nenhuma das escolas definidas por Sheth, Gardner e Garrett (1988). São os artigos voltados para a análise da produção em Marketing, para um aprimoramento do conhecimento mercadológico e das técnicas de pesquisa, apresentando reflexões críticas sobre técnicas, instrumentos metodológicos e teorias. Mesmo nos casos em que os trabalhos se tratavam de ferramentas ou consistissem em trabalhos puramente teóricos, procurou-se classificá-los segundo as escolas às quais essas técnicas ou teoria se referiam, procedimento este adotado na tentativa de ser fiel à classificação proposta por Sheth, Gardner e Garrett (1988), ainda que o ENANPAD tenha adotado uma classificação própria em 2005, ao que parece visando uma melhor organização dos trabalhos submetidos, conforme mostra o QUADRO 3. QUADRO 3 – Divisão atual de artigos de Marketing no ENANPAD MKT - Marketing Áreas Temáticas MKT-A - Teorias, Modelos e Metodologias em Marketing MKT-B - Comportamento, Dimensionamento e Previsão de Mercados MKT-C - Atividades, Aplicações e Técnicas de Marketing Fonte: Anpad (http://www.anpad.org.br) Conclusões Realizados os passos propostos para a classificação dos artigos publicados no ENANPAD no período 2000-2005, nota-se muito presente a questão da multidisciplinaridade, que, como abordada por Hunt (2002), ao mesmo tempo em que propicia um enriquecimento da produção acadêmica na área, de certa forma distancia a construção de uma teoria geral do Marketing. Uma outra preocupação que se apresenta refere-se à questão da pouca diversidade dos trabalhos que vêm sendo produzidos, com grande concentração, segundo a classificação de Sheth, Gardner e Garrett (1988), em três escolas mais notadamente: Comportamento do Consumidor, Gerencial e Dinâmicas Organizacionais. Como atenuante, vale, cabe ressaltar que a diversidade em excesso possui como efeito adverso dificultar a consolidação de uma teoria. Além disso, em sua avaliação das escolas segundo os critérios de Sintaxe, Semântica e Pragmatismo, estes autores apresentaram como as escolas com maiores pontuações no somatório, a Gerencial e a do Comportamento do Consumidor, justamente as duas com maior número de trabalhos publicados nos ENANPADs no período avaliado. Para Sheth, Gardner e Garrett (op. Cit.), a partir da década de 1970, com a criação da Association for Consumer Research (ACR) em 1969 como uma alternativa à American Marketing Association (AMA), a escola do Comportamento do Consumidor começou a emergir como uma disciplina distinta ao invés de uma escola de pensamento no Marketing. Considerando este predomínio nos ENANPADs e esta observação destes autores, fica a questão se não seria o caso de separar o Comportamento do Consumidor da área de Marketing na ANPAD, refinando 12 naturalmente os trabalhos desta escola e diminuindo os problemas de ausência de novas abordagens e desenvolvimento apontados por Botelho e Macera (2001). Apesar do Marketing estar voltando nos últimos anos seus olhar para o produzido, tendo em vista os estudos bibliométricos e metateóricos que vêm sendo publicados, a reflexão precisa ser expandida para além das análises como as instituições de origem dos pesquisadores, o número de publicações por autor, e buscar uma maior autocrítica. Um maior conhecimento acerca da própria área, suas potencialidades, limitações, apresentar-se-ia como uma oportunidade para a evolução da produção de Marketing e, quem sabe, da consolidação de uma teoria. Os primeiros passos, em uma direção comum (mas com diversidade), necessitam ser dados. Como sugestão para futuras pesquisas, pode-se avaliar em eventos internacionais qualificados, se a mesma distribuição de trabalhos dentro das referidas escolas e no mesmo período é observada, mostrando, portanto, se esta concentração de trabalhos na área de Comportamento do Consumidor e da pequena participação de escolas recentes, mas de grande importância para a sociedade, como Ativista ou Macromarketing é um fenômeno geral ou característico do Brasil. Referências BAGOZZI, R.P. Principles of Marketing Management. Chicago: Science Research Associates, 1986. BAKER, M. J. Marketing – philosophy or function? In: Marketing Theory: a student text. New York, Thomson Learning, 2000a. ____________. The future of Marketing In: Marketing Theory: a student text. New York, Thomson Learning, 2000b. BOTELHO, D., MACERA, A. Análise Metateórica de Teses e Dissertações da Área de Marketing Apresentadas na EAESP-FGV (1974-1999). In: 25 ENANPAD, 2001, Campinas. Anais eletrônicos do XXV ENANPAD. 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