0 SERVIÇO SOCIAL ADRIANA ALVES COSTA O CADASTRO ÚNICO NO PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL: INSTRUMENTO DE CONTROLE OU DE ACESSO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO DE TOLEDO – PARANÁ? TOLEDO 2012 1 ADRIANA ALVES COSTA O CADASTRO ÚNICO NO PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL: INSTRUMENTO DE CONTROLE OU DE ACESSO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO DE TOLEDO – PARANÁ? Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social, Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Engelbrecht TOLEDO 2012 Profa. Dra. Marize Rauber 2 ADRIANA ALVES COSTA O CADASTRO ÚNICO NO PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL: INSTRUMENTO DE CONTROLE OU DE ACESSO NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO DE TOLEDO – PARANÁ? Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social, Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Profa. Dra. Marize Rauber Engelbrecht Universidade Estadual do Oeste do Paraná _______________________________________________ Profa. Ms. Cristiane Carla Konno Universidade Estadual do Oeste do Paraná _______________________________________________ Profa. Dra. Rosana Mirales Universidade Estadual do Oeste do Paraná Toledo, 21 de novembro de 2012 3 Dedico este trabalho à minha família e aos meus amigos. 4 AGRADECIMENTOS Grata a Deus pelo dom da vida, pelo seu amor infinito. Agradeço aos meus pais, Osmar e Benvinda, meus exemplos e minha fortaleza nos momentos difíceis. Obrigada por cada incentivo e orientação, pela compreensão e ajuda durante cada dia da minha vida. Agradeço aos meus irmãos amados Alessandra e Fábio, que me alegram e me irritam como qualquer irmão ou irmã. Agradeço aos meus avós maternos Eunice e Antônio (in memorian) pelo carinho e dedicação que tiveram comigo, paciência nos momentos de travessuras. Expresso minha saúde dessas pessoas maravilhosas que são minha segunda mãe e segundo pai, sei que sempre estará em meu coração vozinho. Também agradeço ao meu tio Joaquim que tem um coração imenso e uma cabeça repleta de ideias, apreendi muito contigo. Agradeço aos meus avós paternos Maria e Luiz, pelo carinho recebido nas vezes em que os visitei, pelas brincadeiras dos meus tios e tias. Aos meus colegas de classe, em especial Valéria, Marciane, Sandra, Suzamar e a todos que convivi no Programa de Educação Tutorial do Serviço Social - PETSS, cada um destes apreendi a amar e construir laços eternos. Obrigada, pelos momentos de estudos, brincadeiras e cumplicidade. Agradeço pela paciência, pelo sorriso, pelo abraço, pela mão que sempre esteve estendida quando eu necessitei. Esta caminhada não seria a mesma. Agradeço a minha grande amiga Vanessa que infelizmente não pode concretizar este sonho comigo, tendo de abandonar o “barco” antes do final, mas fico feliz por saber que mesmo não estando comigo neste último semestre nas aulas, sempre estará de alguma forma longe ou perto ao meu lado, porque se tornou mais que uma amiga. Obrigada por ter aparecido em meu caminho e ter aguentado minhas reclamações, minha alegria e confidências. Agradeço a amizade, carinho e respeito de alguém muito especial em minha vida, por aguentar minhas crises de irritação e outras coisinhas, que são de dar nos “nervos”. Obrigada Cesar pela paciência e compreensão, principalmente nestes momentos finais e suportar com esse teu sorriso lindo, esse mar de emoções que sou às vezes. Nunca me esquecerei das idas ao cinema, das músicas ouvidas contigo e de muitos outros momentos agradáveis que você me proporcionou. Agradeço aos professores que dividiram conhecimentos e puderam colaborar para que mais pessoas pudessem olhar o mundo com outros olhos e lutar para transformá-lo em um lugar mais igual para todos. Especialmente ao professor Alfredo pelas aulas maravilhosas e 5 transmissão de conhecimentos que ultrapassaram as paredes de sala de aula (Projeto de Extensão e PETSS). Agradeço também a você professora Ane, que contribuiu para o meu conhecimento nas discussões das supervisões acadêmicas, e durante as aulas de oficina. A Zelimar com quem tive o privilégio de estudar a temática Criança e Adolescente com maior profundidade. Agradeço ainda, Diuslene e a Amália. Agradeço também a UNIOESTE e seus funcionários, estes trabalhadores que por vezes ficam invisíveis aos olhos de muitos estudantes da Universidade, entretanto, são fundamentais para o nosso desempenho em sala de aula. Percebeu-se mais nitidamente isto durante as semanas de greve destes. A Universidade só funciona com o empenho de docente, funcionários administrativos e estudantes, por isso ambos devem se apoiar em torno da construção da qualidade de ensino, com vistas a melhoria das condições de salários e cargos de todos os trabalhadores. Agradeço a todas as pessoas que se dispuseram a contribuir com este trabalho através das entrevistas, possibilitando conhecimento sobre o instrumento “Cadastro Único” e parte da história da Política de Assistência Social que estava guardada em suas memórias, desta forma poderemos socializar com todos que tiverem acesso a este trabalho. Agradeço a você Nilda que me suportou nestes quase dois anos de convivência, obrigada por sempre estar à disposição para esclarecer dúvidas e sempre me tratou de igual pra igual, seja muito feliz e mesmo apesar de dificuldades não deixe de buscar conhecimento e exercer nossa profissão, é agora sou sua colega. Agradeço as professoras Cristiane e Rosana por aceitarem participar da minha banca, duas docentes que participaram da minha formação, contribuindo com o meu conhecimento os quais se expressam neste trabalho. Afinal, tudo que apreendi ao longo destes quase quatro anos estão expressos de alguma forma no meu TCC. Agradeço a você Marize, por ter escolhido me orientar. Obrigada pela paciência comigo na construção deste trabalho, pela dedicação e me mostrar o percurso para chegar ao final. Obrigada por partilhar seus ricos conhecimentos, e tenha certeza que o resultado do que dividiste comigo não está somente nas palavras que compõe este trabalho, mas, está registrado na construção teórica e postura ética que tenho como futura profissional. 6 A Alma Abatida (Harpa Cristã) Se tu, minh'alma, a Deus suplica, E não recebes, confiando fica Em Suas promessas, que são mui ricas, E infalíveis pra te valer. Coro Porque te abates, ó minha alma? E te comoves, perdendo a calma? Não tenhas medo, em Deus espera, Porque bem cedo, Jesus virá. Ele intercede por ti, óh alma; Espera nEle com fé e calma; Jesus de todos teus males salva, E te abençoa dos altos céus. Terás em breve as dores findas, No dia alegre da Sua vinda; Se Cristo tarda, espera ainda Mais um pouquinho, e O verás. 7 COSTA, Adriana Alves. O Cadastro Único no processo interventivo do assistente social: instrumento de controle ou de acesso na política de assistência social no município de Toledo – Paraná? Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – campus Toledo-PR, 2012. RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso – TCC buscou evidenciar como o instrumento Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico se apresenta na Política de Assistência Social. Elegeu-se como Objetivo Geral: Compreender e analisar em que medida o CadÚnico responde enquanto um instrumento eficaz na Política de Assistência Social do Município de Toledo – Paraná e na prática interventiva do assistente social.Quanto aos objetivos específicos, definiu-se: a) Verificar como se procede a inserção dos usuários em projetos, programas e serviços da Política de Assistência Social anterior (2000-2006) à utilização do Cadastro Único para Programas Sociais; b) Elaborar um perfil das entrevistadas; c) Identificar de que forma os profissionais da Política de Assistência Social concebem o processo anterior ao preenchimento do CadÚnico, uma vez que os usuários devem proceder da seguinte maneira: ir até o CRAS, participar da reunião e da conferência dos documentos e, após o agendamento, preencher o CadÚnico. Definiu-se como pergunta norteadora a seguinte indagação: O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal tem sido um instrumento de controle ou de acesso na consolidação da Política de Assistência Social do Município de Toledo - Paraná? As referências centrais recaem sobre Guerra, Sposati, Yazbek, Iamamoto e Carvalho, com as categorias instrumentais, Política Social e “Questão Social”. Para o desenvolvimento desta investigação foram adotados os seguintes procedimentos metodológicos: Pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, abrangendo a pesquisa documental, pesquisa de campo e observação participante. Foram escolhidos 5 (cinco) sujeitos (assistentes sociais) significativos para a pesquisa, utilizando a entrevista semiestruturada, tendo como base um roteiro de questões. A investigação apresentou como principal resultado que o instrumento pode ser compreendido sob duas vias: controle e acesso. Palavras chave: Política de Assistência Social; Cadastro Único; Programas Sociais. 8 LISTA DE SIGLAS BPC Beneficio de Prestação Continuada CadÚnico Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal CF/88 Constituição Federal de 1988 CFESS Conselho Federal de Serviço Social CRAS Centro de Referência de Assistência Social CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social LOAS Lei Orgânica de Assistência Social MDS Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome NOB Norma Operacional Básica PNAS Política Nacional de Assistência Social PROVOPAR Programa Voluntariado Paranaense SUAS Sistema Único de Assistência Social SAS Secretária de Assistência Social TCC Trabalho de Conclusão de Curso UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná 9 SUMÁRIO RESUMO................................................................................................................................... 7 LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................. 8 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10 1 ASSISTÊNCIA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL ...................................... 14 1.1 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A PARTIR DA PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988 .......................................................... 15 1.2 O CONTEXTO NEOLIBERAL E A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL ............................................................................. 21 2 O INSTRUMENTAL TÉCNICO OPERATIVO E A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ................................................................................................................................... 28 2.1 INTRUMENTAL TÉCNICO OPERATIVO E A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL .................................................................................................................................... 28 2.2 O INSTRUMENTO “CADASTRO ÚNICO” E O ACESSO DOS USUÁRIOS AOS PROGRAMAS SOCIAIS ......................................................................................................... 31 2.2.1 O “Cadastro Único” na esfera Federal ........................................................................ 31 2.2.2 A operacionalização do “Cadastro Único” na esfera municipal (Toledo – Paraná)35 2.3 A CONSTRUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PARANÁ ............................................................................. 37 3 ANÁLISE SOBRE A EFICÁCIA DO CADASTRO ÚNICO PARA PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO FEDERAL NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ... 43 3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS NA PESQUISA ..................... 43 3.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA: .................................. 46 3.2.1 A inserção dos usuários em projetos, programas e serviços da Política de Assistência Social .................................................................................................................... 47 3.2.2 O “Cadastro Único” no âmbito profissional e as condições de controle e acesso em sua operacionalização ............................................................................................................. 51 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 59 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 61 APÊNDICES ........................................................................................................................... 65 ANEXOS ................................................................................................................................. 69 10 INTRODUÇÃO O reconhecimento da Assistência Social como direito no campo legal no Brasil, garantiu-se com a Constituição federal de 1988 – CF/88, reafirmada com a Lei Orgânica de Assistência Social de 1993 – LOAS, Sistema Único de Assistência Social – SUAS, Política Nacional de Assistência Social de 2004 – PNAS, e demais legislações referentes a tal política. Em suma, estas legislações apresentam que a Política de Assistência Social é um direito de todos que dela necessitarem, estabelecendo ainda, que idosos e pessoas com deficiência sem condições de prover sua subsistência ou de tê-la provida pela família tem o direito de receber um benefício no valor de um salário mínimo, o Beneficio de Prestação Continuada – BPC. Estas legislações foram fundamentais à implementação da assistência social enquanto política de direito; lembrando que, em outro momento da história, as ações eram exclusivamente voltadas para o assistencialismo e à moralização da população trabalhadora. A intervenção por anos era realizada por damas de caridade e ligada à Igreja Católica, cujo pensamento era intimamente ligado ao conservadorismo e à naturalização da “questão social”, enfim, as condições apresentadas pelas famílias em situação de pobreza eram normais e até mesmo culpa do próprio indivíduo. No entanto, levaram-se anos para compreender que a situação ora apresentada vai além do indivíduo, mas sim da estrutura da sociedade, que precisa explorar uma classe para que outra possa acumular. Neste contexto, a classe explorada (trabalhadores, maioria da população) produz toda riqueza do planeta para que poucos possam desfrutar (classe capitalista, ou seja, aqueles que detêm os meios de produção). O interesse em estudar a temática Política de Assistência Social, surgiu da vivência desta acadêmica ao se inserir no Campo de Estágio Supervisionado em Serviço Social I e II, no Centro de Referência de Assistência Social IV – CRAS, Município de Toledo, localizado no Bairro Panorama, a partir de 2011. Neste campo, ao entrar em contato com o instrumento Cadastro Único para Programas Sociais do Governo federal – CadÚnico e perceber notória importância depositada pelo setor público/Estado, determina que as famílias para acessar determinados serviços, programas, projetos e Políticas Públicas, devem se cadastrar. Assim, estabeleceu-se como Problema de Pesquisa a seguinte indagação: O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal tem sido um instrumento eficaz na consolidação da Política de Assistência Social do Município de Toledo - Paraná? Este questionamento deriva da importância que este instrumento tem para o poder 11 público ao constatar que os usuários precisam deste cadastro para acessar diversos serviços e as seguintes políticas públicas: Política de Habitação (inscrição nas casas populares); Previdência Social (donas de casa podem contribuir com 5% do salário mínimo) e Política de Assistência Social (programas, projetos e serviços). A discussão exposta no decorrer deste Trabalho de Conclusão de Cursos – TCC é, não obstante, de suma importância para o Serviço Social por se tratar de um instrumental técnico operativo, utilizado constantemente na prática profissional diária dos assistentes sociais, bem como, na inserção dos usuários nos programas, projetos e serviços da Política de Assistência Social. Sobretudo, a relevância da pesquisa se expressa também por abranger um tema ainda não estudado em nenhum trabalho científico acadêmico. A propósito, o exposto, possibilita o conhecimento aprofundado de um objeto desconhecido por muitos profissionais e acadêmicos do Serviço Social e assim, pode subsidiar novas inquietações sobre a temática. Destaca-se ainda, a contribuição social da investigação à medida em que ao desvendar os possíveis entraves e as possibilidades do instrumento, o CadÚnico pode aprofundar o campo do acesso e da formulação de programas, projetos e serviços nas políticas públicas do município de Toledo-Paraná. A pesquisa elegeu como objetivo geral, compreender e analisar em que medida o CadÚnico corresponde a um instrumento eficaz na Política de Assistência Social do Município de Toledo – Paraná e na prática interventiva do assistente social. Quanto aos objetivos específicos, definiu-se: a) Verificar como se procede a inserção dos usuários em projetos, programas e serviços da Política de Assistência Social anterior (2000-2006) à utilização do Cadastro Único para Programas Sociais; b) Elaborar um perfil das entrevistadas; c) Identificar de que forma os profissionais da Política de Assistência Social concebem o processo anterior ao preenchimento do CadÚnico, uma vez que os usuários devem proceder da seguinte maneira: ir até o CRAS, participar da reunião e da conferência dos documentos e, após o agendamento, preencher o CadÚnico. Entende-se que esta investigação exige uma atitude aberta em relação à escolha dos métodos, procedimentos e técnicas. Diante disto, realizou-se como procedimento metodológico a pesquisa qualitativa. A técnica procedimental de coleta de dados se utiliza do recurso da pesquisa exploratória, pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa de campo, como procedimentos que subsidiam na compreensão da realidade da assistência social e do CadÚnico e, por sua vez, trazem informações fundamentais ao reconhecimento e à 12 interpretação do objeto de estudo. Sobretudo, esta investigação se caracterizou pelo caráter exploratório para aprofundar o conhecimento acerca do tema. Portanto, primeiramente utilizou-se de bibliografias relacionadas às seguintes temáticas: Política de Assistência Social, amparada nas referências das autoras: Sposati; Yazbek; sobre “questão social” recorreu-se à obra de Iamamoto e Carvalho e, no que se refere à instrumentalidade teve-se a contribuição de Guerra. As obras subsidiaram o aprofundamento sobre o conceito de pobreza, estabelecido pelo Estado por meio de critérios exclusivamente de renda, a relação de controle que o Estado exerce sobre a classe trabalhadora, os conflitos e as tensões na sociedade capitalista, a luta de classes e instrumentalidade e sua importância no exercício profissional do assistente social, os quais expandiram o conhecimento do campo dos estudos e da pesquisa. Em busca de referenciais teóricos sobre o CadÚnico, não foram encontradas teses e/ou dissertações na referida área em universidades. Precisou-se, portanto, recorrer ao sitio do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS e um resumo expandido. Isto explicita e reforça a relevância do tema proposto por esta pesquisa, considerando-a como estudo inédito. Dando sequência aos procedimentos metodológicos, utilizou-se da pesquisa documental, que compreendeu o levantamento e o arquivamento de leis, decretos e documentos referentes à temática (Política de Assistência Social) e objeto de estudo (CadÚnico). Realizada esta etapa, partiu-se para a pesquisa de campo. Esse tipo de pesquisa se refere às entrevistas realizadas com uma amostra de assistentes sociais que trabalham diretamente com o CadÚnico, contabilizando um conjunto de 5 (cinco) pessoas, sendo esse grupo constituído por profissionais dos 4 (quatro) CRAS e da Gestão do CadÚnico do Município de Toledo – PR. A amostra teve como critério: a) ser profissional assistente social; b) atuar diretamente nos CRAS, do Município de Toledo-Paraná, na Gestão do CadÚnico. Assim, definiu-se: um assistente social que trabalha na Gestão do CadÚnico e um profissional de Serviço Social de cada CRAS. Definidos os sujeitos, seguiram-se os procedimentos metodológicos. Utilizou-se como instrumentos e técnicas de trabalho de campo para coleta de dados empíricos da pesquisa a observação participante, a entrevista, o roteiro prévio de questões e um gravador. O presente TCC está estruturado em três capítulos articulados entre si. No CAPÍTULO I – ASSISTÊNCIA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL, desenvolve-se uma breve contextualização da Assistência Social e do Serviço Social no Brasil, no qual está explicíto como ocorreu a construção da Política de Assistência Social, 13 tendo como marco temporal a CF/88. Logo, está disposto no CAPÍTULO II – O INSTRUMENTAL TÉCNICO OPERATIVO E A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, em que se aborda a questão do instrumental técnico operativo e a Política de Assistência Social; trata-se do instrumento CadÚnico e a construção histórica da Política de Assistência Social no Município. O CAPÍTULO III expõe – ANÁLISE SOBRE A EFICÁCIA DO CADASTRO ÚNICO PARA PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO FEDERAL NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, para tanto se refere à inserção dos usuários em projetos, programas e serviços da Política de Assistência Social, bem como, às condições de acesso e operacionalização do CadÚnico. Neste enfoque, apresentam-se também os resultados da pesquisa de campo. Para finalizar a pesquisa foi apresentada uma síntese dos aspectos mais relevantes da análise a título de considerações finais. 14 1 ASSISTÊNCIA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL A década de 1980, foi para o campo do Direito um marco histórico à Assistência Social no Brasil, tendo em vista a promulgação da Constituição Federal de 1988 – CF/88. Este processo de garantia de direitos é conquista da população trabalhadora por meio de lutas travadas ao longo dos anos. Entretanto, mesmo com o reconhecimento legal da Assistência Social como direito, é necessário avançar nesta questão, principalmente, porque a Assistência Social ainda é vista como assistencialista e paternalista - resquícios do passado - pela população. O assistencialismo que demarcou a atuação da população trabalhadora, ocorreu devido à própria atuação do Serviço Social, que inicialmente foi realizada por pessoas ligadas à Igreja Católica, que recrutava e formava “[...] agentes sociais informados por uma ideologia igualmente determinada.” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 127). Esta ideologia tinha a função moralizadora e conservadora1, voltando-se à responsabilização do indivíduo pela sua situação. A implantação do Serviço Social é determinada pelas condições sociais e históricas imprimidas pela classe capitalista no enfrentamento da “questão social”, decorrente das pressões dos trabalhadores2. No entanto, estas pressões são encobertas constantemente pelos “atores sociais,”3 cujos mobilizavam políticas diferenciadas, que “[...] demarcarão os limites dentro dos quais irá surgir e atuar o Serviço Social – a caridade e a repressão – limites em relação aos quais deve se constituir numa alternativa.” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 128) A atuação baseada na caridade e na repressão se torna insuficiente à medida em que a sociedade vai se modificando; assim como as demandas da população nas quais o profissional do Serviço Social – assistente social deve intervir. A partir deste contexto de mudança, ocorre a discussão e a incorporação de outras técnicas e um conjunto teórico, em que se propõe a ruptura com o conservadorismo4, consubstanciado no atual Projeto Ético Político do Serviço 1 Segundo Iamamoto e Carvalho (2008), estas ações eram de restauração da família, remodelando a mentalidade, os hábitos e os costumes da classe trabalhadora na forma de manutenção da ordem vigente. 2 Estas pressões são decorrentes das lutas dos trabalhadores. 3 Expressão utilizada por Iamamoto; Carvalho (2008). 4 Os processos de ruptura com o conservadorismo foram gestados na década de 1980, entretanto, o debate deste rompimento surge anteriormente e tem como base os seguintes “seminários de teorização”: Araxá (1967); Teresópolis (1970); Sumaré (1978); Alto da Boa Vista (1984). Ver Netto (2009). 15 Social5 e no Código de Ética do Serviço Social de 1993, ambos recusam e criticam o conservadorismo. 1.1 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A PARTIR DA PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988 A construção da Política de Assistência Social só pode ser compreendida se situada ao “movimento histórico dialético da sociedade”6, entendendo todas as configurações históricas do Estado e a relação dos movimentos reivindicatórios (força política) formadas no interior da sociedade civil. A relação entre estes movimentos políticos que defendem os interesses coletivos e também propiciam a garantia de direitos sociais, pressiona a criação de políticas sociais de combate à pobreza. (ALVES, 2009) Na compreensão de Maranhão (2006), o papel das políticas de combate à pobreza não é o de combater de fato a pobreza, mas de manter e continuar com o domínio da classe burguesa sobre a classe trabalhadora; enfim o Estado cria políticas e mecanismos como uma forma de manutenção e de reprodução do capital e de suas contradições, sendo estas intrínsecas ao modo de produção capitalista. Além das políticas de combate à pobreza, existem outras formas de manutenção do capital, uma delas é o próprio desemprego, o qual também se apresenta como um dos meios de aumentar as taxas de lucro do grande capital, os trabalhadores “excluídos”7 da produção passam a ser um “[...] produto histórico, necessário à acumulação e ao desenvolvimento da riqueza no sistema capitalista.” (MARANHÃO, 2006 p. 23) De acordo com o autor acima, os trabalhadores são forçados a se inserir no mercado informal e destaca-se que, mais da metade dos trabalhadores se encontram neste setor por meio de subcontratos, contratos flexíveis, o que leva à aceitação de salários baixos e por vezes com regime de “escravidão” 8, precarizando ainda mais as relações de trabalho. Na conjuntura do desemprego e com a abertura econômica (década de 1990), 5 Segundo Netto (2006), este projeto tem suas raízes na passagem da década de 1970 para de 1980. Termo utilizado por Alves (2009, p.26). 7 Aspas da pesquisadora para designar que o modo de produção exclui do emprego formal (carteira assinada), mas são ao mesmo tempo incluídos no mercado informal, em alguns casos na função que antes desempenhavam como funcionários registrados. 8 No Brasil, no ano de 2004, realizou-se uma fiscalização do Ministério Público do Trabalho e Ministério do Trabalho e Emprego, na qual “[...] foram libertados 32 bolivianos, todos ilegais, que trabalhavam em situação precária, perfazendo uma jornada de 14 horas por dia para ganhar, em média, R$ 300,00 por mês. Estimativas da Pastoral do Migrante Latino-Americano apontam que existem, hoje, 200 mil bolivianos vivendo no Município de São Paulo, dos quais 12 mil em situação de ‘escravidão’.” (MARANHÃO, 2006 p. 36) 6 16 multinacionais se instalam nos países cuja mão de obra é mais barata e propicia o que Maranhão (2006) chama de “nova divisão internacional de trabalho”. A exploração dos trabalhadores de regiões periféricas intensifica a precarização da força de trabalho, proporcionando o crescimento do rol de oportunidades de negócios para o capital e, consequentemente expande à acumulação capitalista. É neste movimento histórico de lutas e retrocessos que se aumentam e intensificam as expressões da “questão social” 9. A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e da repressão. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 77) A partir da conceituação acima, entende-se que a sociedade capitalista convive com conflitos, decorrentes da contradição entre a classe trabalhadora e a classe burguesa, em que existe o domínio de uma classe sobre a outra com o propósito de explorar e expropriar a força de trabalho, objetivando a busca constante do lucro. Entretanto, ao mesmo tempo em que existe a exploração, os trabalhadores exigem do governo melhores condições de vida, em resposta, o governo cria ações, projetos, programas e políticas sociais para minimizar as expressões da “questão social”. Sob a configuração de lutas e resistências da classe trabalhadora, foi que se modificou o conceito de Assistência Social, passando de mera filantropia ao direito, fato que se consolida a partir da CF/88 garantindo no campo legal o acesso aos serviços a todos que necessitarem da Assistência Social sem contribuir. Neste sentido, a CF/88 no campo do Direito é compreendida como um marco histórico, ao garantir os direitos sociais. Isto se expressa no Capitulo II da CF/88, ao discorrer 9 A “questão social” sob as premissas do pensamento conservador visa à naturalização e converte a mesma em uma forma de ação moralizadora para enfrentar as suas manifestações, sem modificar as bases que estruturam a sociedade capitalista, enfim as formas de enfrentamento da “questão social” é em torno da manutenção da sociedade dividida em classes (trabalhadores e burgueses). Entretanto, quando a classe trabalhadora começa aderem ao processo de luta e adquirem consciência política, na qual passam a entender que a única maneira de acabar com a “questão social”, é suprimindo a sociedade capitalista, pois ambas estão atreladas. “[...] A partir daí, o pensamento revolucionário passou a identificar, na própria expressão ‘questão social’, uma tergiversação conservadora, passando a empregá-la indicando este traço mistificador.” (NETTO, 2001, p. 45) Enfim, a utilização das aspas é uma forma de identificação da “questão social” de forma crítica, entendendo sua relação com a sociedade capitalista. 17 sobre o tripé da Seguridade Social (Previdência Social, Saúde e Assistência Social), que demarca a relação do Estado com a sociedade e seus direitos; portanto, afirmando a Assistência Social enquanto um direito garantido por Lei que rege pelos seguintes objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (BRASIL, 2009, p. 57) Estes direitos foram conquistados pela classe trabalhadora por intermédio de lutas, que foram consolidados na Constituição (CF/88) e, por este aspecto considera-se uma Constituição Cidadã. As lutas que se acirram em alguns períodos da história, acalmando-se em outros, advêm de crises gestadas ao longo dos anos devido às condições vivenciadas pela população que enfrenta a pauperização. Assim, com o aumento da exploração da força de trabalho, o que favoreceu/favorece e criou/criam condições políticas de rearticulação da sociedade civil, ocasiona greves e articulação dos movimentos sociais, forçando o Estado a intervir na sociedade, com isso, minimizam-se as expressões da “questão social” causadas pela exploração capitalista. (ALVES, 2009) Ressalta-se, portanto, que o Estado brasileiro não deixa de intervir de acordo com os interesses da classe dominante, ou seja, sempre se reporta à intervenção coercitiva e se direciona ao assistencialismo e à filantropia. Além disso, também contém práticas conservadoras em sua atuação junto à classe trabalhadora, o que marca o processo de marginalização dos oprimidos. Na compreensão de Alves (2009), o posicionamento do Estado frente às desigualdades sociais10 originou-se do receio que a classe capitalista sentia da organização dos movimentos populares11, de que pudessem modificar a atual conjuntura da sociedade. Neste entendimento o Estado é forçado a encontrar novos meios de intervir na sociedade e garantir melhores condições de vida aos trabalhadores indo além da caridade e, atendendo às suas reivindicações, avançando na construção da Assistência Social. Desta maneira, cabe ao Estado tomar posição na formulação e na implementação das 10 Fundadas no interior do sistema capitalista. Segundo Alves (2009), é a organização de um grupo ou classe que ao tomar consciência política da situação vivenciada, começa a reivindicar algo do qual necessitam. Precisamente esta necessidade deve se tornar uma demanda, a qual orienta as ações coletivas deste grupo ou classe. 11 18 políticas de combate à pobreza e, consequente desigualdade social para minimizar as contradições existentes na sociedade capitalista, o que reafirma e subsidia o projeto burguês. Sob este prisma, Maranhão (2006), ao tratar das políticas de enfrentamento dos fenômenos de desemprego e do pauperismo salienta que, [...] as atuais políticas de combate à pobreza se caracterizam numa tentativa de reproduzir e administrar as explosivas contradições desencadeadas pela atual dinâmica de reprodução do capital, com objetivos de reafirmar o projeto burguês na contemporaneidade. (MARANHÃO, 2006, p. 19) Seguindo esta linha de pensamento, o autor acima reforça que a “questão da pobreza” ganha notoriedade nas discussões dos organismos internacionais (Banco Mundial, BID e ONU) e dos pesquisadores a partir da década de 1990. O Banco Mundial ao propor sua política de ação, delimitava duas linhas: a construção de uma ideologia na qual “[...] distorce e manipula os números da pobreza mundial e, por outro, a criação e o desenvolvimento de políticas sociais que garantam uma renda mínima para os cidadãos considerados pobres.” (MARANHÃO, 2006, p. 40, grifo do autor) O autor ainda ressalta que estas diretrizes propostas pelo Banco Mundial começam a invadir os mais diferentes espaços – academias, institutos de pesquisa e organizações – que estão diretamente envolvidos no trato e no enfrentamento das expressões da “questão social”, reforçando desta maneira a doutrina neoliberal, a qual pressupunha um discurso moralista que se concentrava no “desenvolvimento sustentável” e na “diminuição da pobreza”12. Salienta-se, portanto, que quando o Banco Mundial se utiliza de “linhas de pobreza”13, definindo a quantidade de pessoas pobres, e assim, o público alvo das ações das políticas de combate à pobreza, Maranhão (2006), destaca que estas ações são arbitrarias, à medida em que os resultados das estatísticas sobre renda são manipulados e dissimulados. Para respaldar esta afirmativa, Maranhão (2006), guiou-se pelos estudos de Chussudovsk (1999), que cita dois exemplos sobre as “linhas de pobreza” do Banco Mundial. No primeiro exemplo, sendo definida pela renda per capita de um dólar por dia, onde os países que tivessem grupos de populações que excedessem esta renda não pertenceriam à classe pobre. Quanto ao segundo exemplo, definiu-se a “linha de pobreza” sobre duas óticas: Enquanto nos países centrais a “linha de pobreza” é definida por meio de um cálculo que compara a renda dos indivíduos com a renda média nacional, nos países 12 13 Termos utilizados por Maranhão (2006) Idem, Ibidem. 19 periféricos a “linha de pobreza” é arbitrariamente definida pela renda per capita de um ou dois dólares diários. (MARANHÃO, 2006, p. 41, grifo do autor) Partindo da definição das “linhas de pobreza,” forma-se o grupo reconhecido como pobres, sendo estes o público-alvo da Política de Assistência Social. Seguindo as orientações do Banco Mundial sob este enfoque, deixa-se de atender pessoas que necessitam de tal política, porque a pobreza vai além da privação de renda per capita ou familiar, integrando as demais políticas – saúde, habitação, educação e saneamento – garantindo os direitos fundamentais expressos na CF/88, conforme a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS de 199314, em que preconiza em seu art. 2º parágrafo único, A assistência social realiza-se de forma integrada às demais políticas setoriais, visando o enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. (BRASIL, 2007, p. 08 a) A Assistência Social a partir da CF/88 e da LOAS estabelece um público especifico que pode acessar seus serviços, determinando como usuário “[...] aqueles a quem a sociedade reconhece como necessitados e desamparados.” (SPOSATI; FALCÃO; FLEURY, 1995, p. 7 grifos das autoras) Quanto à definição presente no documento “Último Word Development Report 198815” tem sido alvo de críticas dos autores acima, pois traz em sua compreensão que a Seguridade Social se direciona aos necessitados que estão despossuídos de renda própria e, com isso, a Assistência Social passa a ser um “[...] substitutivo do salário, e não um salário indireto, como são os serviços sociais ofertados pelas políticas sociais.” (SPOSATI; FALCÃO; FLEURY, 1995, p. 09, grifos das autoras) Ao tratar a Assistência Social como salário, acarreta-se um conceito forjado pela ideologia burguesa no Brasil em que se transforma todo trabalhador em um pretenso vadio, uma vez que ao resistir ao domínio e a exploração do trabalho imposta pela burguesia, esta classe será denominada como vadios. (SPOSATI; FALCÃO; FLEURY, 1995) Outro ponto criticado pelas autoras é o de que o atendimento da Assistência Social 14 A LOAS é oriunda do extenso debate com a sociedade, sendo sancionada em 1993, trazendo consigo definições, objetivos, princípios e diretrizes no campo da Assistência Social, também expressa a organização, gestão e competência de cada esfera administrativa na área. Tem papel importante por ser um marco na legislação brasileira neste campo. (BRASIL, 2007 a) 15 Tratou a seguridade social, como “[...] programas públicos que garantem a subsistência das pessoas no caso de perderem sua fonte de renda,” (SPOSATI; FALCÃO; FLEURY, 1995, p. 08-09) condicionando desta maneira a seguridade como forma de substituir a renda. 20 deve impor padrões diferenciados, porém, não enquanto atenção especial, mas reduzindo a qualidade e a quantidade de acessos, provocando a recriação das desigualdades opondo-se à sua diminuição. Assim, a Assistência Social encontra alguns entraves à garantia dos princípios contidos na LOAS, tais como:1) se rege pela “Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica” (BRASIL, 2007, p. 8), em que a definição dos sujeitos considerados como necessitados é feita pelo critério renda; 2) direciona-se à “[...] universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas [...]”. (BRASIL, 2007, p. 8), neste aspecto, incorre-se a duas problemáticas, uma trata da universalidade que é fragmentada, sem ter direção de suas demandas, separando-os por meio de critérios que irão definir a gravidade das necessidades; 3) diz respeito ao distanciamento existente entre a Assistência Social e as demais políticas sociais, quando estas ganham um perfil setorial próprio. (SPOSATI; FALCÃO; FLEURY, 1995). Mesmo diante destes entraves e algumas falhas quanto à efetivação de seus princípios e diretrizes, a LOAS é um importante documento que afirmou a Assistência Social após a CF/88 enquanto direito, que vem sendo garantidos e gradativamente efetivados pelas ações dos profissionais envolvidos na Política de Assistência Social. Além da LOAS, foi criado no ano de 2004 o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, que segundo o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, é um sistema público que tem a função de organizar, “[...] de forma descentralizada, os serviços socioassistenciais do Brasil.” (BRASIL, 2012 s.p) O SUAS organiza as ações da Assistência Social em Proteção Social Básica e Proteção Social Especial16. A primeira ação direciona-se à prevenção dos riscos sociais e pessoais, oferta programas, projetos, serviços e benefícios às famílias e indivíduos que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Em relação à segunda, destina-se às famílias e indivíduos que já se encontram em situação de risco, ou seja, que sofreram violação de direitos, tais como: abandono; violência; uso de drogas e maus-tratos, dentre outros aspectos. (BRASIL, 2012 a) De acordo com o MDS, o SUAS foi: Criado a partir das deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social e previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), o Suas teve 16 Será explicitado com mais fundamento no item seguinte que trata sobre a PNAS. 21 suas bases de implantação consolidadas em 2005, por meio da sua Norma Operacional Básica do Suas (NOB/Suas), que apresenta claramente as competências de cada órgão federado e os eixos de implementação e consolidação da iniciativa. (BRASIL, 2012a, s.p.) O SUAS tem por modelo a gestão participativa, articulando esforços e recursos dos três níveis de governo na execução e financiamento da Política Nacional de Assistência social – PNAS, sendo envolvido no processo as estruturas e marcos regulatórios nacionais, estaduais, municipais e distrito federal. (BRASIL, 2012a) 1.2 O CONTEXTO NEOLIBERAL E A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Ao discorrer sobre a Política Nacional de Assistência Social – PNAS (2004) faz-se necessário iniciar um breve debate sobre reforma do Estado e seus rebatimentos na Política Social. A reforma do Estado foi necessária para Pereira (2003), tendo em vista que nos anos 1980 ocorreu uma crise fiscal do Estado e que “[...] a solução não é provocar o definhamento do Estado, mas construí-lo, reformá-lo.” (PEREIRA, 2003, p. 23) O pensamento do autor acima parte da compreensão de que com a reforma se restringem as funções do Estado como elaborador de bens e serviços e, em menor grau, como regulador, implicando ainda nas atividades de financiamento de atividades relacionadas com as externalidades ou direitos humanos básicos e na elevação da concorrência internacional das indústrias locais. Segundo Pereira (2003), a reforma teve início nos anos 80, particularmente, com o ajuste fiscal e as privatizações; ressalta-se ainda, a reforma administrativa que transforma o serviço público em algo mais coeso com o capitalismo contemporâneo. A reforma se traduziria em uma mudança embasada na “[...] democracia [...] mais participativa ou mais direta, e a administração pública burocrática deveria ser substituída por uma administração pública gerencial.” (PEREIRA, 2003, p. 25) As consequências desses ajustes fiscais ou como Soares (2003), denomina de desajustes fiscais ou ajuste neoliberal, não são apenas de ordem econômica, englobam também uma redefinição global do cenário político institucional e das relações sociais. 22 As transformações produzidas pelos ajustes fiscais na afirmação de Soares (2003), causaram mudanças no mundo do trabalho17 e, por conseguinte, uma “nova pobreza”. Ocorreu um processo de globalização da pobreza, onde tanto países ricos quanto os mais pobres sofreram as consequências desses ajustes, entretanto, os países periféricos foram os mais afetados. Acentuaram-se os problemas sociais, situados no campo do trabalho e polarizados pelas situações de desigualdade e miséria que se assemelham às vivenciadas no passado, diminuindo e/ou faltando mecanismos de proteção social e outras situações as quais a população vem sofrendo. Concomitantemente, agravam-se tais problemas com o “[...] desmonte adicional das políticas sociais ou mecanismos de proteção social [...]”. (SOARES, 2003, p. 25) Salienta-se que, um dos impactos sobre as políticas sociais brasileiras foi a combinação do “[...] desmonte de políticas sociais dirigidas aos mais pobres ou ‘excluídos’ (como assistência social) com ‘reformas’ constitucionais que reduziram os direitos constituídos ao longo de décadas e consagradas na Constituição de 1988.” (SOARES, 2003, p. 34) As reformas na CF/88 - segundo Behring e Boschetti (2006), foram possíveis por duas condições gerais: a crise econômica dos anos 1980 e as marchas e contramarchas do processo de democratização do país. O principal articulador e protagonista desta contrarreforma foi o governo de Fernando Henrique Cardoso que iniciou o processo reformista (década de 1990), com continuidade no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A centralidade da “reforma”18 ou o reformismo neoliberal, esteve ligado diretamente ao ajuste fiscal. O argumento utilizado para reformar o Estado foi o de que os problemas se localizavam nele, e por isso era necessário corrigir distorções e reduzir os custos, ocorrendo neste período a inserção do Brasil na ordem internacional, o que acabou favorecendo a especulação financeira e consequentemente o aumento da dívida externa e interna. (BEHRING; BOSCHETTI, 2006) Outro ponto salientado pelas autoras foi quanto ao impacto da contrarreforma do Estado nas políticas públicas, sendo descritos da seguinte maneira: [...] acabou tendo impacto pífio em termos de aumentar a capacidade de implementação eficiente de políticas públicas, considerando sua relação com 17 “Informalidade no trabalho, o desemprego, o subemprego, a desregulamentação trabalhista [...].” (SOARES, 2003, p. 20) 18 Aspas utilizadas por Behring e Boschetti (2006) 23 a política econômica e o boom da dívida pública. Houve uma forte tendência de desresponsabilização pela política social – em nome da qual se faria a “reforma” –, acompanhada do desprezo pelo padrão constitucional da seguridade social. Isso ocorreu vis-à-vis um crescimento da demanda social, associado ao aumento do desemprego e da pobreza, aprofundados pela macroeconomia do Plano Real. Isso significou uma ausência de política social? Claro que não, mas as formulações de política social foram capturadas por uma lógica de adaptação ao novo contexto. Daí decorre o trinômio do neoliberalismo para as políticas sociais – privatização, focalização/seletividade e descentralização [...] (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 155, grifos das autoras) O Estado baseado nestes aspectos contra reformistas concentra-se na lucratividade, privatiza setores de proveito público, incluindo saúde, educação e previdência, demarcando ainda uma aversão ao pacto social dos anos de crescimento, se voltando para uma ideologia individualista, consumista e hedonista ao extremo (BEHRING; BOSCHETTI, 2006). Em torno destas configurações de ambiente contra reformista é que se construiu a PNAS de 2004, que vem se efetivando no âmbito nacional. Tendo por base de formulação a Assistência Social enquanto direito e reforçando a CF/88 e, a Lei Orgânica de Assistência Social de 1993; consequentemente consolidam-se em ações diretas os pressupostos destas duas legislações. Expressaram-se ainda, por meio da construção da PNAS, as lutas e as conquistas da população brasileira em torno dos direitos de todos os setores da sociedade (crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiências), principalmente ao se pensar no significado do Beneficio de Prestação Continuada – BPC, que culmina com a redução da pobreza no país, conforme o MDS (2011 a) afirma ao descrever a importância do PNAS. No campo de legislações – CF/88; LOAS; SUAS; PNAS – a população tem seus direitos fundamentais garantidos, entretanto, quando se trata de efetivar tais direitos “[...] a tendência geral tem sido a de restrição e redução de direitos, transformando as políticas sociais em ações pontuais e compensatórias direcionadas para os efeitos mais perversos da crise.” (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 156) Mesmo com a restrição e a redução dos direitos, o profissional assistente social tem o dever e o compromisso de viabilizar os direitos a todos os cidadãos por meio dos programas e políticas sociais, conforme preconizado no Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais de 1993. Além disso, tem-se por princípio fundamental defender de forma intransigente os direitos humanos. (BRASIL, 2007b) 24 Ressalta-se que, Behring e Boschetti (2006), fazem uma exposição dos princípios referentes à Seguridade Social19, os quais deveriam orientá-la e operacionalizá-la. Dos princípios apresentados pelas autoras, destacam-se os seguintes: universalidade; seletividade e distributividade na prestação de serviços; caráter democrático e descentralizado da administração. Ao tratar da universalidade no campo da Assistência Social, não é um direito garantido igualmente a todos os cidadãos de maneira uniforme, uma vez que é um direito destinado a um público específico – os “necessitados” ou “desamparados”20, conforme Sposati, Falcão e Fleury (1995) denomina. Quanto ao princípio da “[...] seletividade e a distributividade na prestação de serviços, aponta-se para a possibilidade de instituir benefícios orientados pela ‘discriminação positiva’[...]” (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 157 grifos das autoras), quando se permite que os benefícios da assistência social se tornem seletivos, ocorre uma tensão com o princípio de universalidade. O último princípio se direciona ao caráter democrático e descentralizado da administração, a gestão deve ser compartilhada entre governo, trabalhadores e prestadores de serviço, garantindo que os cidadãos que financiam e usufruam de tais direitos, também participem das decisões. Todavia, a responsabilidade pela administração das instituições responsáveis pela Seguridade Social ainda será do Estado. Os princípios da Seguridade Social deveriam proporcionar a articulação entre saúde, previdência e Assistência Social, formando uma rede de proteção ampliada, coesa e sólida permitindo “[...] a transição de ações fragmentadas, desarticuladas e pulverizadas para [...] integração das ações do Estado e da sociedade, assegurando os direitos da saúde, previdência e Assistência Social.” (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 158) Dando continuidade ao princípio de descentralização político-administrativa, esta deveria ser distribuída da seguinte maneira: [...] cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações a cada esfera de governo, respeitando as diferenças e as características socioterritoriais locais” (BRASIL, 2007c, p. 587) 19 Os princípios aqui descritos dizem respeito à Assistência Social, porém as autoras também discorrem sobre os seguintes princípios: uniformidade e equivalência dos benefícios; irredutibilidade do valor dos benefícios; diversidade das bases de financiamento, os quais trataram com maior ênfase da saúde e da previdência. 20 Aspas de Sposati, Falcão e Fleury (1995). 25 O princípio acima, portanto, não se constitui da maneira preconizada pela PNAS, mas pelo reformismo neoliberal e dos rumos propostos pelas organizações internacionais para a proteção social, na qual a descentralização passa a ser uma “[...] mera transferência de responsabilidades para os entes da federação ou para instituições privadas e novas modalidades jurídico-institucionais correlatas, [...]” (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 156). Os profissionais que estão ligados diretamente à efetivação de tais princípios são os assistentes sociais, os quais devem conhecer a base (contrarreforma do Estado) na qual a PNAS se constituiu e a maneira como veem sendo estruturada pela classe burguesa, possibilitando a efetivação dos princípios desta política e a intervenção profissional mais eficaz. Além disso, é importante que este profissional se mantenha atualizado para garantir a execução e a avaliação da PNAS, sendo esta uma das competências do assistente social, estabelecido na Lei que Regulamenta a profissão de Assistente Social de 1993 (Lei n. 8662/93), em seu art. 4 inciso I “[...] elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública direta ou indireta, empresas, entidades ou organizações populares; [...]”(BRASIL, 2007d, p.07). Na PNAS a Política de Assistência Social é compreendida como uma política que pode legitimar as demandas de seus usuários e espaço no qual se amplia seu protagonismo. Neste contexto, a proteção social deve garantir a segurança de sobrevivência; de acolhida; e, convívio familiar, pressupondo o seguinte objetivo: A Política de Assistência Social realiza-se de forma integrada às demais políticas setoriais, considerando as desigualdades socioterritoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. (BRASIL, 2007c, p. 588) O objetivo da PNAS também denota a importância do conhecimento do território no qual será realizada a intervenção. Tendo o conhecimento do espaço territorial se pode formular projetos, ações e criar serviços que atendam às necessidades socioeconômicas, garantindo a “universalização” dos direitos sociais aos usuários21 desta política, por meio da intersetorialidade. 21 Segundo a PNAS, os usuários desta política são os indivíduos/famílias em situação de vulnerabilidade ou risco social, “[...] tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade; pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão social pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; 26 O público usuário da PNAS se divide em quatro formas de proteção: Proteção Social Básica; Proteção Social Especial; Proteção Social Especial de média complexidade; e Proteção Social Especial de alta complexidade. Em relação à Proteção Social básica, são previstas situações de risco com ações preventivas, que reforçam a convivência, a socialização, o acolhimento e a inserção de famílias e indivíduos. Objetiva desenvolver o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e destina-se a populações em situação de vulnerabilidade social. Os serviços de proteção social básica serão executados de modo direto em unidades básicas e públicas de assistência social, principalmente nos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS ou de forma indireta nas entidades e organizações de assistência social da área de abrangência dos CRAS. Quanto à Proteção Social Especial, está associada ao enfrentamento da exclusão social, compreendendo que neste processo pode ocorrer o agravamento da desigualdade e da pobreza. Esta proteção se destina às situações de risco, em que os indivíduos sofreram a violação de um ou mais direitos de algum(s) membro(s) da família, principalmente, de crianças, adolescentes, jovens, idosos e pessoas com deficiência. (BRASIL, 2007d) No que se refere aos serviços de Proteção Social Especial de média complexidade, há proposição de atender famílias e indivíduos que tiveram seus direitos violados, mas que os vínculos familiares e comunitários não tenham sido partidos. Para executar estes serviços se utilizam alguns procedimentos, que são: Serviço de orientação e apoio sócio-familiar; Plantão Social; Abordagem de rua, Cuidado no Domicilio; Serviço de Habilitação e Reabilitação na comunidade das pessoas com deficiência; Medidas Sócio-educativas em meio-aberto (PSC – Prestação de Serviço à Comunidade e LA – Liberdade Assistida). (BRASIL, 2007d, p. 593) Logo, estes serviços de proteção social, também envolvem o Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS em que os indivíduos e famílias são orientados, além de tentar garantir o convívio sociofamiliar e comunitário. Os serviços de atendimento da Proteção Social Especial de média complexidade se diferem da proteção social básica, porque são destinadas às situações que envolvem a violação de direitos. inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal ou informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social.” (BRASIL, 2007d, p. 588) 27 Sobre a Proteção Social Especial de alta complexidade, tratam-se de serviços que irão garantir a proteção integral às famílias sem referência e, ou estado de ameaça, carecendo ser retirado de seu núcleo familiar e, ou comunitário, por meio de; Atendimento Integral Institucional; Casa Lar; República; Casa Passagem; Albergue; Família Substituta; Família Acolhedora; Medidas sócioeducativas restritivas e privativas de liberdade (Semi-liberdade, Internação provisória e sentenciada); Trabalho protegido. (BRASIL, 2007d, p. 594) É por meio destes quatro níveis de proteção social que a PNAS será efetivada nos municípios brasileiros, cabendo aos assistentes sociais dos espaços sócios ocupacionais mencionados, articulação com as demais políticas públicas, garantir e proteger os direitos da população, bem como, o reestabelecimento dos seus quando forem violados. Para isso, necessita-se de recursos técnicos e instrumentais e aperfeiçoamento profissional constante. 28 2 O INSTRUMENTAL TÉCNICO OPERATIVO E A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A Assistência Social no Município de Toledo, perpassou por reordenamento a partir da LOAS e posteriormente com o SUAS, porém, ocorreram algumas dificuldades para implementá-las enquanto política pública. Quando se inicia o processo de implementação da LOAS, em Toledo no ano de 1995, período de criação da Secretaria Municipal de Ação Social e Cidadania e mesmo com a legislação afiançando a Assistência Social como direito, as ações continuavam sendo executadas por entidades, principalmente o Programa Voluntariado Paranaense – PROVOPAR, desenvolvendo-se de maneira pontual e fragmentada. Com a implantação do SUAS em 2005, houve alguns problemas os quais dificultaram que ações se constituissem em direitos. Mesmo assim, gradativamente o SUAS foi proporcionando mudanças no direcionamento das ações das assistentes sociais, que exigiam maior comprometimento profissional com o usuário no campo da efetivação dos direitos. 2.1 INSTRUMENTALIDADE NA INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL Entender a Assistência Social no conjunto das Políticas Sociais em que o assistente social intervém junto aos usuários, faz-se necessário que em suas ações se aproprie de instrumentos técnicos operativos, como salienta Guerra; As políticas sociais, além de sua dimensão econômico-política (como mecanismo de reprodução da força de trabalho e como resultado das lutas de classe), constituem-se também num conjunto de procedimentos técnicooperativos, cuja componente instrumental põe a necessidade de profissionais que atuem em dois campos distintos: o da formulação e o da sua implementação. É neste último, no âmbito da sua implementação, que as políticas sociais fundam um mercado de trabalho para os assistentes sociais. (GUERRA, 2000, p. 06) O assistente social ao se utilizar da instrumentalidade em sua intervenção, deve ter cautela para não recair na ideia de que o instrumento por si só é suficiente para respaldar a prática deste profissional. Compreende-se que os instrumentais constituem um importante mecanismo à ação do Serviço Social, entretanto, Guerra (1995), afirma que o uso de instrumentais tem que ter uma base teórica, que guiará o profissional a empregar todos os mecanismos ao seu alcance para intervir na realidade que está posta. 29 Partindo da compreensão da autora acima, entende-se que demandas e situações apresentadas são diferentes e não se pode intervir da mesma maneira em todas as situações. Desta forma, os instrumentos técnicos operativos são utilizados enquanto um parâmetro/guia, no qual cada profissional através de seus conhecimentos teóricos se baseará para intervir. A instrumentalidade no Serviço Social é parte integrante de si mesmo, proporcionando “[...] uma propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais.” (GUERRA, 2000, p. 02) Além disso, a partir da instrumentalidade, os assistentes sociais proporcionam mudanças, transformações e alterações nas condições numa determinada realidade social. Segundo a autora, estas transformações que modificam a sociedade e a própria profissão com meios para intervir e alcançar os objetivos profissionais, propiciam aos assistentes sociais a instrumentalização de suas ações, desta maneira “[...] a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho social quanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho.” (GUERRA, 2000, p. 02) Nota-se que a questão de instrumentalidade é fundamental à intervenção profissional, sendo ambas (intervenção profissional e instrumentalidade) indissociáveis. Entretanto, existem divergências e equívocos entre os assistentes sociais, que para Guerra (1995), são oriundas da falta de discussão na e pela categoria profissional. Estes equívocos se apresentam de duas formas: um no qual se nega e o outro, que reduz a intervenção profissional em ações finalísticas, recorrentes e modelares. Conforme explicita Guerra (1995), existem três tendências no cerne da profissão em relação à teoria para o Serviço Social, as quais se despontam de forma híbrida. A primeira se refere aos profissionais que entendem que a prática é posta a frente da teoria, competindo a esta, em última instância, o fornecimento de indícios sobre os instrumentos operativos capazes de permitir uma ação efetiva nas situações apresentadas, enfim, a prática é suficiente para definir as ações. A segunda posiciona a teoria como determinante para realizar a intervenção, se tornam prisioneiros da teoria por entendê-la “[...] como a expressão mais formalizada e completa da realidade, dela exigindo respostas e instrumentos capazes de colocar a ‘teoria em ação’.” (GUERRA, 1995, p. 25) Na última tendência, existe o reconhecimento das teorias como procedimentos, tendo em vista à 30 [...] reconstrução da realidade, vinculadas a projetos determinados de sociedade, a visões de homem e mundo, frente as quais o profissional assume uma posição, e a determinados métodos de conhecimento e análise da sociedade. (GUERRA, 1995, p. 25-26) Nestes três casos, a autora acima discute os limites e possibilidades que as teorias têm de produzir subsídios para as práticas profissionais, de como perpassar as constituições teóricas e chegar à intervenção, tendo em vista seu papel de mediadora, podendo entender que em última instância, que as produções teóricas para o Serviço Social implicam em um valor instrumental. Esta relação à ação profissional do assistente social com a instrumentalidade, não pode em momento algum se desvincular da teoria, sendo que ambas se constituem organicamente em torno da intervenção. O Conselho Federal de Serviço Social – CFESS (2011), destaca que existem algumas competências que fundamentam a consciência crítica dos assistentes sociais, que possibilitam a compreensão do contexto sócio-histórico da intervenção profissional. Estas competências abrangem 6 (seis) dimensões interventivas: 1) referem-se às abordagens individuais, familiares ou grupais na garantia e no acesso aos seus direitos e necessidades, e serviços públicos; 2) a relação interventiva do Serviço Social com os movimentos sociais; 3) relacionam-se à inserção dos usuários e trabalhadores nos espaços de controle e participação, lutas e defesa dos seus direitos, através dos Conselhos, Conferências e Fóruns de Assistência Social, e demais políticas públicas; 4) voltada para o gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e serviços; 5) referente à “[...] realização sistemática de estudos e pesquisas que revelem as reais condições de vida e demandas da classe trabalhadora, e possam alimentar o processo de formulação, implementação e monitoramento da política de Assistência Social; [...]” (BRASIL, 2011a, p. 20, grifo nosso) 6) sobre o fomento de informações e saberes relacionados aos direitos, legislação social e políticas públicas a todas as pessoas envolvidas com a política. Salienta-se que estas competências podem se desdobrar em estratégias e procedimentos específicos, além disso, destaca-se que para concretizar tais competências e atribuições, é necessária a utilização de instrumentais apropriados a cada conjuntura social a ser enfrentada profissionalmente. (BRASIL, 2011b). 31 2.2 O INSTRUMENTO “CADASTRO ÚNICO” E O ACESSO DOS USUÁRIOS AOS PROGRAMAS SOCIAIS O governo Federal criou em 2001 o instrumento normativo Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal - CadÚnico, instituído pelo Decreto nº 3.877 de 24 de julho de 2001 (anexo A), instituindo o formulário do CadÚnico para ser empregado pelos órgãos públicos federais para a concessão de programas focalizados do governo federal de caráter permanente. Neste mesmo ano, cria-se o Grupo de Trabalho responsável por articular, orientar e oferecer apoio técnico aos municípios participantes dos programas sociais do Governo Federal, para o desenvolvimento integrado da sistemática de coleta de dados e informações, obtidas através do CadÚnico, este grupo foi estabelecido por meio do Decreto de 24 de outubro de 2001. Ambos os decretos foram revogados pelo Decreto nº 6.135 de 26 de junho de 2007 (anexo B), o qual dispõe sobre o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, além de especificar em seus artigos a finalidade e o perfil da população que poderia se cadastrar no mesmo. Ressalta-se que, o Município de Toledo, já no ano de 2001 começou a utilizar o instrumental acima, passando desta maneira pelo processo de revogação 22, bem como, treinamentos e capacitação para operacionalização relacionados ao CadÚnico, conforme explicitação do item a seguir. 2.2.1 O “Cadastro Único” na esfera Federal O CadÚnico é um instrumento do Governo Federal descentralizado em diversos municípios brasileiros e o MDS estabeleceu algumas atividades a eles: “[...] o cadastramento das famílias de baixa renda, o registro dessas informações no Sistema de Cadastro Único e a atualização dos dados a cada dois anos.” (BRASIL, 2012a, s.p.). Este instrumento é utilizado para identificar e caracterizar as famílias de baixa renda – possuidoras de renda de até meio salário per capita ou de 3 (três) salários mínimos no total. Desta maneira, identifica-se a realidade socioeconômica das famílias, quais sejam: informações sobre o núcleo familiar, condições do domicílio, as formas de acesso a serviços 22 Este processo se refere à revogação do Decreto nº 3.877 de 24 de julho de 2001 e Decreto de 24 de outubro de 2001, pelo Decreto nº 6.135 de 26 de junho de 2007. 32 públicos essenciais e dados de cada membro da família, conforme preconiza o Ministério de Desenvolvimento e Combate à Fome – MDS. Neste contexto, cabe ao Estado “[...] formular e implementar políticas específicas, que possam contribuir para a redução das vulnerabilidades sociais a que essas famílias estão expostas e desenvolver suas potencialidades.” (BRASIL, 2011b) O CadÚnico apresenta-se como meio de acesso e identificação a quais usuários se encontram em processo de vulnerabilidade, esse instrumento está focalizado para este público que é determinado pelo critério renda, conforme o exposto no Decreto nº 6135, de 26 de junho de 2007, que dispõe sobre o CadÚnico. O MDS (2011b), ressalta que as informações levantadas no CadÚnico, podem ser usadas pelos governos estaduais e municipais para conseguir o diagnóstico socioeconômico das famílias cadastradas, propiciando a ampliação das políticas sociais locais. Em relação à inserção da família nos programas sociais, bem como a atualização cadastral só são concretizadas depois que as informações são registradas na base nacional. Inicialmente, digitam-se os dados coletados, mas os métodos são diferenciados pelos gestores municipais, uma vez que existem duas versões desse sistema: A primeira é a Versão 6.05 (seis ponto zero cinco), é composta pelo Aplicativo de Entrada e Manutenção de Dados, offline, para a transmissão dos arquivos à base nacional; e a outra que é a Versão 7 (sete) funciona integralmente de forma on-line, não carecendo de aplicativo diferenciado para transferência dos dados à base nacional. (BRASIL, 2012b) O MDS ressalva que o melhor seria que todos os municípios aderissem à versão 7 (sete) e, lentamente, a versão 6.05 (seis ponto zero cinco) ficaria suprimida. “Para utilizar a nova versão, os municípios precisam que todos os computadores que utilizam o Cadastro Único tenham conexão à internet com alta velocidade e sejam capacitados para utilização deste novo instrumento.” (BRASIL, 2012b, s.p.) Em função da necessidade de internet de alta velocidade, os municípios encontram dificuldades para adotar a versão 7 (sete)23. Desde 2010, ocorre o repasse de informações às pessoas envolvidas pelo cadastramento das famílias no CadÚnico nos municípios brasileiros, sendo que o MDS 23 Os computadores minimamente devem possuir a configuração mínima para operar o novo aplicativo, que consiste em: “Processador Core 2 Duo de 1,0 MHz ou equivalente; 2 GB de Memória RAM; Disco Rígido SATA de 160GB; Monitor de 17” LCD ou CRT; Mouse; Teclado ABNT-v2; Compatível com sistemas operacionais Microsoft Windows Vista e/ou Linux kernel 2.6; ou versões superiores. O MDS recomenda que cada município faça um projeto de conectividade para os locais onde necessita ter acesso ao Sistema. No caso de não ter uma equipe própria, o município deverá contratar uma empresa especializada. A conexão mínima de banda larga para Internet em cada local é de, pelo menos, 1 MBps, que pode ser compartilhada por no máximo três computadores.” (BRASIL, 2012, s.p. c) 33 (2012d), ressalta que esta atividade é oriunda de um plano de capacitação de entrevistadores municipais sobre os formulários da versão 7 (sete) do Cadastro Único, o qual foi realizado em parceria entre a Secretaria Nacional de Renda de Cidadania – SENARC e as Coordenações Estaduais do Programa Bolsa Família e do Cadastro Único. O MDS (2012d), destaca que este plano se iniciou com a formação de 551 (quinhentos e cinquenta e um) técnicos estaduais e municipais, tendo a certificação do MDS e Escola Nacional de Administração Pública. Os profissionais que terminaram a capacitação foram habilitados para instruir nas capacitações instituídas pelos estados, permitindo o envolvimento de mais de vinte mil entrevistadores. Ressalta-se ainda, que desde 2010 a Caixa Econômica Federal, juntamente com a SENARC e os estados, realizam capacitações com os operadores da nova versão do CadÚnico (versão 7). “Todos os municípios brasileiros já têm ao menos um operador capacitado no novo Sistema.” (BRASIL, 2012d, s.p.) Portanto, a capacitação é necessária porque é preciso conhecer corretamente tal sistema para efetivar o cadastramento destas famílias. Sendo imperioso que o município possua profissionais responsáveis pelo preenchimento dos formulários de cadastramento, e uma equipe de operadores do sistema, responsável por digitar os dados no Sistema, contudo, todos devem estar capacitados. Tendo em vista, a necessidade de um grupo de pessoas responsáveis pelo sistema de cadastramento do CadÚnico, o MDS (2012e) estabeleceu que o gestor deve ter um determinado perfil profissional e que, o número de funcionários deve ser proporcional ao número de famílias que compõem o público-alvo do CadÚnico no município, como se desenvolverá a seguir: Entrevistador: responsável pelo preenchimento dos formulários das famílias, preferencialmente deve possuir nível médio concluído profissional, além de ter boa caligrafia e boa leitura. Supervisor de Campo: precisa acompanhar o cadastramento e a atualização cadastral, verificando os formulários preenchidos e conduzindo-os à revisão ou à digitação. Assistente Social: preferencialmente servidor público do município. Responsável pela coordenação da identificação das famílias que compõem o público-alvo do Cadastro Único. Supervisor do Cadastro Único: deve receber os formulários preenchidos e afiançar que sejam corretamente digitados no Sistema. Administrador de Rede: deve possuir conhecimento e experiência em tecnologia da informação. Responsável pela manutenção do espaço físico e funcional dos computadores, 34 servidores e impressoras, instalando os equipamentos, configurando-os e conectando-os à rede local. Digitador: profissional com desenvoltura e presteza na digitação dos dados cadastrais, carecendo executar, no Sistema do Cadastro Único, as inserções e as modificações feitas nos formulários de cadastramento. Outra questão levantada pelo MDS, é sobre a responsabilidade do governo na concretização dos objetivos do CadÚnico, no qual destaca-se a importância da articulação entre os governos federal, estadual e municipal. Portanto, infere-se que o poder público deve ter comprometimento em todas as expressões do acesso à cidadania, sendo o responsável no combate à pobreza e à desigualdade social. Atualmente, o CadÚnico possui mais de 21 (vinte e um) milhões de famílias inscritas e o cadastramento destas famílias são oriundas de um processo de busca espontânea24, quanto de busca ativa, sendo esta uma das ações expressas no Plano Brasil Sem Miséria25, [...] o poder público local deve se organizar territorialmente, com metodologias específicas, de forma a incluir novas famílias e identificá-las corretamente, considerando, por exemplo, seu pertencimento a povos e comunidades tradicionais e grupos específicos. Essa iniciativa visa a levar o Cadastro Único até as famílias mais vulneráveis que ainda não foram identificadas. Realizar a Busca Ativa para cadastramento significa estabelecer estratégias e ações, territorialmente organizadas e com a colaboração de parcerias, para identificar e cadastrar todas as famílias de baixa renda, com especial prioridade àquelas em situação de pobreza extrema, ou seja, aquelas com renda familiar mensal, por pessoa, de até R$ 70,00 (setenta reais). (BRASIL, 2012f, s.p.) Nesta ação, o poder público deve considerar 3 (três) passos fundamentais para obter sucesso: - Cadastrar não só as pessoas em situação de extrema pobreza, que ainda não estejam inscritas, mas também, garantir que as famílias mantenham seus cadastros atualizados. Isto se deve às constantes mudanças socioeconômicas das famílias brasileiras, que de repente quando foram cadastradas, não vivenciavam condições de extrema pobreza, mas com o decorrer do tempo incluíram-se em tal situação, tendo desta maneira direito aos benefícios ou acesso aos programas, projetos e/ou serviços. 24 O usuário procura este serviço, geralmente quando para acessar algum projeto, programa ou serviço, o mesmo precisa estar cadastrado no CadÚnico. 25 Objetivando levar o Estado onde o cidadão está, sem esperar que as pessoas mais pobres cheguem até o poder público. Maiores informações sobre este plano encontram-se no sitio: http://www.brasilsemmiseria.gov.br. 35 - Identificar corretamente, no CadÚnico, todas as famílias que pertencem a povos e comunidades tradicionais ou grupos específicos da população. - Possibilitar que se identifiquem e se cadastrem todas as famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica, independente do local onde residam. 2.2.2 A operacionalização do “Cadastro Único” na esfera municipal (Toledo – Paraná) Este instrumento, desde sua implantação em Toledo no ano de 2001, até janeiro de 2011, estava centralizado na Secretaria Municipal de Assistência Social – Gestão do Cadastro Único e Programa Bolsa Família26, no Bairro Vila Pioneira, mesmo local em que funciona o CRAS I. No entanto, com a finalidade de facilitar o acesso à população e promover a sua inserção no CadÚnico, em 2011, inicia-se o processo de descentralização para os outros territórios, ou seja, insere-se em todos os CRAS do município (Jardim Europa, Jardim Coopagro e Jardim Panorama) e sob à coordenação das coordenadoras destes locais. Entretanto, diante da falta de internet com maior velocidade, os cadastros (novos e os que eram apenas atualizações) feitos nos CRAS no período de janeiro a abril de 2011, eram enviados para a Gestão do Cadastro Único, para serem lançados no sistema. (LUNKES; BORILLE, 2011)27 No período de descentralização (ano de 2011), ocorreu uma capacitação28 com todos os trabalhadores do SUAS de Toledo (CRAS e CREAS) e, teve como objetivo proporcionar a implantação do sistema nos territórios. Esta capacitação foi dividida em diferentes grupos, tendo inclusive a participação de estagiários do Serviço Social; Ocorreu nos dias 02, 03 e 04 de maio de 2011, sendo coordenada pelo operador do Cadastro Único Tiago Henrique Godoy da Silva e pelo assistente administrativo do CRAS I Diogo Gustavo Correa da Cruz. Nesta capacitação participaram funcionários e estagiários, totalizando doze pessoas, e teve como objetivo repassar informações sobre a versão sete do Cadastro Único. (LUNKES; BORILLE, 2011, p. 06) 26 Atualmente sendo coordenado por uma assistente social, entretanto, é um cargo comissionado, no qual não se exige formação nesta área. 27 Este conteúdo expresso sobre a descentralização do CadÚnico foi retirado do artigo “A importância da descentralização do Cadastro Único no Município de Toledo: um recorte do CRAS III (Jardim Coopagro)” apresentado no VI Simpósio Regional de Formação Profissional e Ensino Superior e a XIX Semana Acadêmica de Serviço Social, da UNIOESTE campus Toledo, com autoria de Lunkes e Borille (2011). Utilizouse este material, por se tratar de um estudo novo, sem material teórico elaborado sobre a temática relacionada ao CadÚnico. 28 Conforme já exposto no item 2.2.1. 36 Compreende-se a partir de Lunkes e Borille (2011), que a descentralização para os CRAS foi visivelmente importante para os usuários, justo porque facilitou a inserção deles no CadÚnico; citam-se dois motivos: primeiro por ser um local conhecido e o segundo por ser (em muitos casos) próximo de sua residência. As autoras acima relatam que a descentralização trouxe mudanças no trabalho dos profissionais do CRAS, que conseguem detectar de maneira mais simplificada as demandas dos usuários e, assim, tem a probabilidade de delinear táticas para saná-las ou, ao menos, amenizá-las. Compreende-se que a descentralização do CadÚnico para os CRAS tem possibilitado que o atendimento às famílias seja ágil e de qualidade, desde que também haja recursos humanos suficientes, além de saber trabalhar intersetorialmente de forma integrada com as demais políticas sociais. (LUNKES; BORILLE, 2011) As autoras acima destacam que o CadÚnico se apresenta como um instrumento que propicia ao governo elaborar programas, projetos, serviços e ações, conforme as demandas apresentadas pelas famílias inseridas neste instrumento, não só da Política de Assistência Social, mas também das demais políticas sociais - educação e saúde - compreendendo desta maneira que possui uma gama de possibilidades. Além disso; Este cadastro pode ser considerado bastante complexo, uma vez que envolve diversas questões sobre o domicílio e seus habitantes, sendo que para cada indivíduo que habita o domicílio há questões sobre documentação, etnia, escolaridade, trabalho e renda. Para tanto, destaca-se a necessidade de o entrevistador estar capacitado para esclarecer as dúvidas do entrevistado e também de preencher o formulário de forma padronizada, facilitando a geração de relatórios posteriores. (LUNKES; BORILLE, 2011, p. 07) Ressalta-se neste contexto, a importância do assistente social conhecer este instrumento, cujas informações possibilitam a criação de novas estratégias de enfrentamento das expressões da “questão social”, independente da sua área de atuação, pois os relatórios gerados a partir dos dados coletados no CadÚnico, podem ser utilizados nas mais diferentes políticas. Salienta-se ainda que, o assistente social historicamente tem implementado políticas públicas, como explicita a Lei que regulamenta a profissão de assistente social, em seu inciso I, do art. 4º que é de sua competência, qual seja, a elaboração, implementação, execução e avaliação das políticas sociais junto aos órgãos da administração pública direta e indireta, empresas, entidades e organizações populares. (BRASIL, 2007). Desta forma, compreende-se 37 que estes profissionais estão “[...] localizados na linha de frente das relações entre população e instituição [...]”. (IAMAMOTO, 2001, p. 27-28) Obviamente que, apesar do conhecimento profissional dos seus usuários e dos instrumentais de trabalho, há necessidade do constante aprimoramento profissional e isso, independe do local de trabalho. Nesta perspectiva Yazbek, chama a atenção sobre a propensão do ideário liberal nas ações profissionais que geralmente recaem; [... na] filantropia revisitada, a ação humanitária, o dever moral de assistir aos pobres, desde que este não se transforme em direito ou em políticas públicas dirigidas à justiça e à igualdade [...], transformando direito em ajuda. Favor. Nesta lógica, além da redução de recursos para a área social, resultante dos ajustes estruturais, estamos de volta aos programas residuais, sem referência a direitos. As sequelas da “questão social” expressas na pobreza, na exclusão e na subalternidade de grande parte dos brasileiros, tornam-se alvo de ações solidárias e da filantropia revisitada. (YAZBEK, 2001, p. 36) Todavia, observou-se que os ideais liberais são retrógados e a intervenção se volta ao passado, no qual o Estado não era parte integrante. Neste caso, ao regredir deixam-se de lado os direitos sociais, os quais foram conquistados pela população para uma lógica de assistencialismo. Entretanto, se o profissional não se atualizar ou até mesmo, não compreender a constituição histórica a qual passou a profissão e, a imposição ideológica do capital, pode acabar intervindo de maneira a responder favorável a este modelo capitalista.. É nesta lógica que Pereira (2001), afirma que nem todos os assistentes sociais têm clareza em relação à “questão social”, entendendo-a enquanto representação de suas expressões – crises, tensões, desafios, riscos, vulnerabilidades, dentre outros – que existem e que castigam grande parte da humanidade. 2.3 A CONSTRUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PARANÁ A Assistência Social no Município e as ações de enfretamento à pobreza desde o início, eram realizadas pelo Banco de Promoção Humana – BPH29, que, sobretudo, eram 29 Sendo que a população o denominava de Programa Voluntariado Paranaense – PROVOPAR, segundo Fidelis, isto decorre da criação do BPH ter como base o estatuto do PROVOPAR estadual e realizar campanhas semelhantes ao mesmo. Sendo que o nome Banco de Promoção Humana deriva-se da finalidade de estar relacionada com a de um banco, onde as pessoas que necessitavam de algo recorriam a ele para satisfazer sua necessidade, entretanto, a pessoa deveria dar algo em troca. 38 desenvolvidas de forma emergencial visando ao atendimento das demandas mais urgentes dos usuários conforme afirmações de Fidelis (2004)30. Entretanto, ressalta-se que, mesmo ao executar ações emergenciais, não se deve classificar as entidades como assistencialistas, justo porque as “[...] ações emergenciais são tão dignas e necessárias quanto às demais ações, o que realmente faz a diferença são os objetivos pelos quais são desenvolvidas.” (FIDELIS, 2004, p. 19) O fato de atender a demanda emergencial não torna este profissional assistencialista, porque a intervenção precisa atender a demanda posta pelo usuário para em seguida avançar no processo de organização e uniformização para que lutem por seus direitos. Desta maneira, pode-se ir além das falácias em torno da crítica pela crítica, na qual se repudia o assistencialismo e se transforma em ações práticas este discurso. (FIDELIS, 2004) Quanto à organização da assistência social no Município de Toledo, teve início a partir da implementação da LOAS, em 1995, com a 1ª Conferência Municipal de Assistência Social. Anteriormente, as instituições sociais do município eram mantidas pela Prefeitura Municipal por meio de subsídios e/ou pela entidade mantenedora, que dava suporte ao seu funcionamento, os quais geralmente eram de cunho religioso. Como a LOAS subsidia a descentralização da Política de Assistência Social, os municípios passaram a implementar a Política Municipal sob a responsabilidade dos conselhos de assistência. Neste sentido, Fowler explicita que; A definição da política municipal constitui uma das principais atribuições a serem exercidas pelos conselhos de assistência social, uma vez que é essencial na implementação da descentralização jurídica, política e administrativa promovida pela Lei Orgânica de Assistência Social. (FOWLER 1998, p. 117). O autor acima ressalta que a descentralização da Política de Assistência Social é realizada através da municipalização e da participação popular. A municipalização assume a execução das ações e serviços de assistência social, que deixam de ser enfrentados inteiramente pela União e pelos Estados e passam a se fundar a encargo dos municípios; e, a participação popular ocorre através do procedimento decisório relativo às políticas públicas (por exemplo, Conselhos Gestores). 30 A construção deste conteúdo refere-se à análise do Trabalho de Conclusão de Curso sobre a implantação da LOAS em Toledo. 39 Através da municipalização, o governo local assume a função central na formulação e na implementação da Política de Assistência Social, tendo sempre o apoio técnico e financeiro dos estados e da União. Como dito anteriormente, os municípios passam a implementar e executar a Política Municipal de Assistência Social, diante da exigência da LOAS e, em Toledo, esse processo ocorre em 1995, com a Primeira Conferência de Assistência Social, que teve o envolvimento do BPH na sua organização. Antes da LOAS, as primeiras damas coordenavam as ações de assistência social, por meio do Programa Voluntariado Paranaense – PROVOPAR (órgão de referência das ações sociais) e a partir, [... do] ano de 1995 que começou esta questão da LOAS, porque não tinha uma Secretaria, havia uma época o Departamento de Saúde vinculado ao Departamento de Bem-Estar Social, depois foi mudando o organograma da Prefeitura, Secretaria de Saúde passou a ser só Secretaria de Saúde, e o Provopar passou a assumir as políticas sociais, um trabalho com as entidades sócias em que a primeira dama coordenava, e aí quando foi no final da gestão começou o andamento da LOAS, que começou a questão da necessidade de se organizar, questão da conferência, a documentação que se começou a exigir das entidades sociais, mas até então não tinha nada no município. (C, 1993 apud, FIDELIS, 2004, p. 46) Inicialmente, Saúde e Assistência Social eram vinculadas e através da implantação da LOAS foi que se definiu o papel desta política no município, separando- as para estabelecer as funções de cada uma, porém, deve haver interlocução entre elas. Ressalta-se que, no período que antecede a 1995, não existiam as Secretarias, apenas o PROVOPAR. Existiam Departamentos (Habitação, Idoso), o Programa Câmbio Verde, Assessorias (Jurídica, das Associações de Moradores) todos funcionando no mesmo espaço físico ao do PROVOPAR. (FIDELIS, 2004). Em 1995, cria-se a Secretaria Municipal de Ação Social e Cidadania a partir da Lei Municipal nº 1.781 de Assistência Social, funcionando no espaço do Centro Social Urbano (CSU), e os departamentos são alocados no mesmo local. Com a criação da Secretaria Municipal de Ação Social e Cidadania (Lei n. 1.781), estabeleceu-se que: Art. 2º - A assistência social será prestada através da implementação de benefícios, serviços, programas e projetos, desenvolvidos com a participação governamental e não-governamental e da sociedade civil, visando prover os mínimos sociais e a atender as necessidades básicas da população (TOLEDO, 2012a, s.p.) 40 Salienta-se que, através da criação desta secretaria, iniciou-se o processo de estruturação da Política Municipal de Assistência Social, estabelecendo como o poder público deveria construir as ações e garantir à população os direitos. Estas ações deveriam ser garantidas de acordo com a estrutura apresentada no art. 3 da Lei n. 1.781: “I – Secretaria Municipal de Ação Social e Cidadania; II – Conselho Municipal da Assistência Social; III – Fundo Municipal de Assistência Social.” (TOLEDO, 2012a, s.p.) Dois anos após a criação da Secretaria Municipal de Ação Social e Cidadania, alterase o nome para Secretaria Municipal de Assistência Social – SAS, isto porque houve uma reordenação da estrutura da Prefeitura (Lei 1.800/97), permanecendo até os dias de hoje. Mesmo com sua implantação, ainda era preciso mudar a visão acerca da Assistência Social, deixando de ser vista como caridade ou favor para ser entendida como direito. (HEIN31, 2008) Compreende-se a partir da autora que só no ano de 2005, com a implantação do SUAS, o Município inicia o processo de direcionamento de suas ações no âmbito da Assistência Social, definindo desta forma a maneira como os profissionais da área iriam trabalhar e onde todas as esferas do governo - federal, estadual, municipal - se direcionavam para um mesmo caminho. No entanto, existiram dois problemas cruciais em relação à implantação do SUAS no Município. O primeiro refere-se ao direcionamento das ações, que devido ao alto fluxo de atendimento no campo social, dificultou o rompimento com a intervenção voltada para ações de solidariedade e a substituição desta forma de atuação por política pública de direito. O segundo, foi determinado pela rápida habilitação do Município na gestão básica, menos de um mês, ocorrendo problemas quanto à falta de capacitação para habilitar e organizar as ações a partir de um novo direcionamento. (HEIN, 2008) Contudo, estas dificuldades encontradas no início da habilitação do Município de Toledo, no SUAS, não impediram que a Política de Assistência Social fosse implementada. Nesta política, encontram-se inseridos os CRAS, os quais desenvolvem serviços de Proteção Social Básica: Serviço de Proteção à Família – PAIF; Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; Serviços de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência. 31 A construção deste conteúdo refere-se à análise do Trabalho de Conclusão de Curso sobre a implantação do SUAS no Município de Toledo. 41 No que se refere ao PAIF – norteiam-se as ações desenvolvidas nos CRAS, neste espaço sócio ocupacional é realizado um trabalho social com famílias, de maneira continuada, tendo a finalidade de fortalecer a função protetiva às famílias, prevenir o rompimento dos seus vínculos, promover aquisições sociais e materiais às famílias, objetivar o acesso aos benefícios, programas de transferência de renda e serviços socioassistenciais e o acesso aos direitos, contribuindo desta forma para melhorar a qualidade de vida das famílias. O público definido como usuário destes serviços, considera as famílias em situação de vulnerabilidade social em consequência da pobreza, do precário ou inexistente acesso aos serviços públicos e que residem nos territórios de abrangência dos CRAS. (ALMEIDA, 2006) Quanto ao serviço de convivência e fortalecimento de vínculos é realizado em grupos, de acordo com os ciclos de vida a fim de complementar o trabalho social com famílias e prevenir a ocorrência de situações de risco social. Em relação ao serviço de proteção social básica no domicilio para pessoas com deficiência e idosos, há a finalidade de se fazer a prevenção de agravos que possam provocar o rompimento de vínculos familiares e sociais dos usuários. Previne situações de risco, exclusão e isolamento. São desenvolvidas ações extensivas aos familiares, apoio, informação, orientação e encaminhamento com foco na qualidade de vida, exercício da cidadania e inclusão na vida social – sempre, ressaltando o caráter preventivo do serviço. Outro ponto a ser evidenciado é, quanto ao porte do Município de Toledo, que segundo a PNAS é considerável, tendo em vista que o número populacional é de 119.313 habitantes (IBGE, 2010). E tendo em vista que o MDS (2011), estabelece que em municípios de grande porte o CRAS deve situar-se nos territórios de maior vulnerabilidade.32 Os CRAS do município de Toledo que apresentam maior índice se localizam nos Bairros da Vila Pioneiro, Jardim Europa, Jardim Coopagro e Jardim Panorama. O número de CRAS, bem como a localização em determinados territórios é definido pelo Plano Municipal de Assistência Social. No ano de 2010, foi criado o quarto CRAS no Município de Toledo, no Bairro Jardim Panorama para atender à população usuária da Política Nacional de Assistência Social, somando assim a capacidade de referenciar cerca de 20.000 famílias conforme Normativa da NOB/SUAS/2005. Cada CRAS atende a um determinado território, assim distribuídos no Município de Toledo: 32 Conforme a NOB/SUAS o CRAS deve ser instalado prioritariamente em territórios com maior concentração de famílias com renda per capita mensal de até meio salário mínimo. 42 CRAS I (Região 1) – Vila Pioneiro: Centro, Vila Pioneiro, Vila Operária, Vila Boa Esperança, Jardim Maracanã, Vila Paulista, Jardim Alto Alegre, Jardim Paraíso, Bandeirantes, Park Verde, Bom Jesus e Jardim Laranjeiras; CRAS II (Região 2) - Jardim Europa: Jardim Europa/ América, São Luiz, Pinheirinho, Boa Vista, Concórdia, Ouro Preto, Independência, Vista Alegre, Jardim Porto Alegre, Bom Princípio, Bela Vista, Santa Clara III, Santa Clara IV, Pedrini, Jardim Heloisa, Jardim Carele e São Pelegrino; CRAS III (Região 3) – Jardim Coopagro: Vila Becker, Dez de Maio, Dois Irmãos, Ipiranga, Vila Nova, Concórdia D’Oeste, Novo Sobradinho, Sarandi, La Salle, Santa Maria, Tocantins, Vila Industrial, Jardim Gisele, Fachini, Planalto, Jardim Pancera (Oeste), Loteamento Basso, Jardim Anápolis, Santa Clara I, Jardim Pasqualli e Filadélfia; CRAS IV (Região 4) – Jardim Panorama: Jardim Panorama, Cerâmica Prata, Jardim Bressan, Jardim Parizotto, Jardim Pancera (Leste), Belo Horizonte, Croma, Santa clara II, Loteamento das Torres, Loteamento Schio, Canaa, Cesar Parque e Vila Rural. (TOLEDO, 2012b, s.p., grifo do autor) Estes 4 (quatro) CRAS são responsáveis pelo atendimento de todas as famílias moradoras de Toledo, abrangendo todos os bairros e distritos que integram o Município. 43 3 ANÁLISE SOBRE A EFICÁCIA DO CADASTRO ÚNICO PARA PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO FEDERAL NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ADOTADOS NA PESQUISA Segundo Minayo (2004), metodologia de pesquisa é o caminho teórico do pensamento e da prática exercida na abordagem da realidade. Também afirma que teoria e metodologia não podem se dissociar, uma vez que ambas têm seus caminhos atrelados. Além disso, durante a pesquisa, o investigador faz um recorte de determinada parte do real, mas lembrando-se de que integra uma totalidade. Destaca-se assim, que não se isola o objeto das determinações que rege a sociedade, bem como, não pode excluir da análise os movimentos (contraditórios) existentes no meio que o cercam, para que a pesquisa alcance os resultados e objetivos esperados. Nesta investigação, adotou-se a abordagem qualitativa visando concretizar os objetivos da pesquisa e desvendar os significados e determinações que não podem ser mensurados. A pretensão desta pesquisa se direciona a trabalhar; [...] com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2004 p. 22) Desta maneira, a pesquisa tem por finalidade compreender também a subjetividade do objeto, e não expressar somente números. Busca-se com isso explicitar o significado de cada resposta das entrevistas. Neste processo, entende-se ser fundamental a escolha da pesquisa de campo, uma vez que a aproximação com os sujeitos daria maior abrangência de reformulações e de conhecimento da realidade vivenciada. Num primeiro momento da investigação, foi realizada a pesquisa exploratória para conhecer o que se tinha como produção teórica sobre o presente tema. Entende-se por pesquisa exploratória aproximar-se de temáticas pouco exploradas e nesta perspectiva, é preciso esclarecê-lo e delimitá-lo, utilizando-se revisão de literatura, discussão com especialistas e outros procedimentos. (GIL, 2010) Neste processo inicial de exploração teórica, a pesquisadora teve o primeiro contato com as obras, visualizando a introdução e o sumário. Em seguida, selecionaram-se as obras que mais se aproximavam e identificaram-se conteúdos condizentes com o objeto em questão. 44 “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituindo-se de livros e artigos científicos.” (GIL, 2010, p. 52) Este material é imprescindível à elaboração do referencial teórico que traz fundamental contribuição para situar historicamente como o tema da pesquisa se apresenta. Dando sequência, partiu-se para pesquisa documental, que trata da utilização de “[...] materiais que não receberam ainda tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.” (GIL, 2010, p. 51) Particularmente, utilizou-se de documentos referentes ao CadÚnico, presente nas fontes do MDS, Constituição Federal de 1988, LOAS, SUAS, PNAS e NOB/SUAS. No que se refere especificamente ao CadÚnico, foram consultados decretos e portarias, sendo utilizado com mais ênfase o decreto nº 6.135, de 26 de junho de 2007. Em seguida, recorreu-se à pesquisa de campo com a técnica de entrevista, entendendoa como “[...] uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação.” (GIL, 2010, p. 109). Optou-se pela entrevista semiestruturada por permitir uma condição flexível, dando a possibilidade de formular novas questões com base no que o entrevistado for dizendo. Para a entrevista, construiu-se um roteiro prévio de questões (apêndice A), necessário para orientar a pesquisadora e direcionar com mais qualidade as informações obtidas junto ao depoente. Esta técnica foi importante na busca por informações que se acrescem aos dados presentes na pesquisa documental e bibliográfica ao possibilitar a comparação e a reflexão das diferentes concepções. Além do roteiro prévio de questões formuladas para guiar a entrevista, utilizou-se como instrumento para registro de informação, o gravador, tendo a intenção de escutar as entrevistas e transcrevê-las esmiuçando assim, a fala dos sujeitos. A escolha do instrumental possibilita observar e registrar com maior atenção os movimentos e a fala dos entrevistados com maior fidedignidade. O universo33 da pesquisa constituí-se de 9 (nove) profissionais do Serviço Social, sendo os profissionais que atuam nos 4 (quatro) Centros de Referência de Assistência Social – CRAS de Toledo – Paraná e na Gestão do CadÚnico; estes se localizam nos diferentes bairros: Vila Pioneira, Jardim Europa, Jardim Coopagro e Jardim Panorama. 33 É um conjunto definido de elementos que possuem determinadas características. (GIL, 2010, p. 89) 45 A escolha dos sujeitos da pesquisa acontece pela seleção da amostragem intencional34, tendo por critério: a) ser profissional assistente social; b) atuar diretamente nos CRAS do Município de Toledo-Paraná, na Gestão do CadÚnico. Assim definiu-se um assistente social que trabalha no CadÚnico e um profissional de Serviço Social de cada CRAS, o que totalizam uma amostra de 5 (cinco) profissionais. Para concretizar as entrevistas, a investigadora manteve contato via telefone, com cada uma das assistentes sociais e gestoras, exceto uma, em virtude da pesquisadora estagiar no local de trabalho de uma das sujeitas selecionadas. Elucidam-se para as sujeitas da pesquisa os objetivos que se pretendiam alcançar com esta investigação, as quais concordaram e na sequência agendou-se o dia, o horário e o local para realização da entrevista. Na data estipulada, a investigadora solicitou autorização para a utilização do gravador, leu o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (APÊNDICE C) e após do aceite assinaram-no autorizando as falas. Uma das entrevistadas preferiu que a conversa não fosse gravada, optou-se então fazer anotações, procurando manter-se o mais fiel possível ao exposto no depoimento. Assim, apresenta-se o perfil dos sujeitos envolvidos nesta pesquisa, sendo: A AS-1, feminino, pós-graduada, formada na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, atua há 4 (quatro) anos, na Política de Assistência Social, especificamente, com crianças e adolescentes, está inserida no CRAS/Gestão do CadÚnico há 2 (dois) anos e 5 (cinco) meses, e com o instrumento CadÚnico já trabalha há 3 (três) anos e 2 (dois) meses. A AS-2, feminino, ensino superior, formada na UNIOESTE, atua há 3 (três) anos, pósformada esteve envolvida por 6 (seis) meses no Projeto Comunidade Atuante e durante os 3 (três) últimos anos atua na Política de Assistência Social, no espaço sócio ocupacional do CRAS/Gestão do CadÚnico há 1 (um) ano e 8 (oito) meses. A AS-3, feminino, ensino superior, atua há 3 (três) anos e 6 (seis) meses, trabalha no campo da Política de Assistência Social, iniciou o trabalho no CRAS/Gestão do CadÚnico há 2 (dois) anos, mesmo período que trabalha com o instrumento CadÚnico. Também cabe ressaltar que depois de formada, vinculou-se a um Projeto de Extensão, voltado à área da saúde. 34 Segundo Gil (2010), é uma amostragem não probabilística e incide em eleger uma parcela da população, conforme as informações disponíveis, considerando-os representação de toda população. No caso, desta investigação, tratou-se de escolher aproximadamente metade das assistentes sociais envolvidas nos espaços do CRAS e da Gestão do CadÚnico, para responder as questões referentes à questão norteadora, bem como, objetivos da presente pesquisa. 46 A AS-4, feminino, pós-graduada em Educação Especial, atua há 17 (dezessete) anos, já trabalhou na APADA e APAE, inserida no CRAS/Gestão do CadÚnico há 5 (cinco) anos e com o instrumento CadÚnico há 1 (um) ano e 6 (seis) meses. A AS-5, feminino, pós-graduada, atua há 15 (quinze) anos na Política de Assistência Social, sendo 6 (seis) anos no CRAS/Gestão do CadÚnico e trabalha há 10 (dez) meses com o instrumento CadÚnico. Apresentado o perfil e das falas transcritas pelas entrevistas, partiu-se para a sistematização das informações e à construção da análise dos dados. Na construção da análise, optou-se por recortar alguns trechos que respondessem ao problema da pesquisa, buscando obras que se aproximassem do conteúdo expresso nas falas das entrevistadas para interpretá-los. Ressalta-se que, na transcrição optou-se por fazer algumas correções eventuais de língua portuguesa e de vícios de linguagem, não se esquivando, no entanto, da fidedignidade do teor das falas conseguidas. Para uma melhor explicitação da análise, entendeu-se fazer uma subdivisão. O primeiro item trata: a) A inserção dos usuários em projetos, programas e serviços da Política de Assistência Social; e na sequência interpreta-se: b) O “Cadastro Único” no âmbito profissional e as condições de controle e de acesso em sua operacionalização. Compreende-se que, intimamente ligado ao processo de análise de falas, encontra-se a interpretação, que conforme expressa Gil (2010), na pesquisa qualitativa estes dois processos são inseparáveis, ressaltando que a análise tem como foco organizar e sumariar os dados de tal maneira que permitam o fornecimento de respostas para problemática posta na pesquisa. Quanto à interpretação, tem como objetivo a procura por respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos. Enfim, neste momento é que se evidencia a importância da revisão da literatura, verificando os conhecimentos acumulados e interpretando-se as informações/falas identificadas na investigação. Com isto, há necessidade de uma teoria sustentável que forneça subsídios no que tange à verificação das informações, desvelando o que está escondido. 3.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA: Para este momento serão interpretadas as falas dos sujeitos à luz dos referenciais teóricos, objetiva-se desta forma, responder a pergunta norteadora da pesquisa. Neste intuito, pretende-se realizar uma interpretação crítica das respostas, desvendando os significados visíveis e os latentes. 47 3.2.1 A inserção dos usuários em projetos, programas e serviços da Política de Assistência Social A sociedade brasileira traz historicamente em seu desenvolvimento a questão da pobreza, entretanto, tal condição é naturalizada e as pessoas acabam sendo excluídas. A definição do que é ser pobre, em geral, é medida por “[...] indicadores de renda, emprego, ao lado do usufruto de recursos sociais que interferem na determinação do padrão de vida, tais como saúde, educação, transporte, moradia, aposentadoria e pensões, entre outros.” (YAZBEK, 1996, p. 62) A autora acima sinaliza que, mesmo que estes critérios se revelem heterogênicos, relacionam-se prioritariamente à privação de bens e recursos, ou seja, são demarcados pelo viés economicista. No entanto, é importante que os profissionais situem a questão da pobreza de forma mais abrangente, compreendendo suas determinações ou suas sequelas, definindo desta maneira critérios que ultrapassem os limites de renda e de recursos para definir a quem se destinam os programas, projetos e serviços da Política de Assistência Social. Neste sentido, parte-se à análise, bem porque intenciona-se demonstrar a relação dos critérios como definidores do acesso aos programas, projetos e serviços da Política de Assistência Social no Município de Toledo, explicitando como ocorria antes e depois da utilização do CadÚnico. Com as entrevistas observou-se que até o ano 2000, não havia critérios padronizados para os usuários se inserirem nos programas, permitindo ao profissional assistente social a definição de um cadastro socioeconômico próprio dele e da instituição. Desta forma, a inserção ocorria de forma diferenciada, com recortes socioeconômicos específicos de cada instituição como expressa AS-2, AS-3; Nós quem fazíamos o recorte da questão da renda per capita, mas da nossa avaliação [...] (AS-2) Anteriormente ao cadastro único eram feitos atendimentos de avaliação socioeconômica da família, onde a mesma era inserida nos projetos existentes nos CRAS. Depois que o cadastro único passou para os CRAS, começou a existir uma interlocução dos atendimentos e o cadastro único [...] (AS-3) Verificou-se que os profissionais até 2000 eram os responsáveis por definir quem iria acessar os projetos, benefícios, programas e serviços nos CRAS, entretanto, uma família poderia estar inserida em um CRAS em determinado projeto. Quando esta família mudasse de 48 residência para outro local, tal direito antes concedido, poderia seria negado devido à falta de critérios únicos e por depender da avaliação do assistente social. Isto mostra a falta de interlocução entre os parâmetros avaliativos (principalmente na questão de renda) dos profissionais envolvidos no atendimento dos usuários na Política de Assistência Social, antes da utilização do CadÚnico. Outro ponto a se destacar se refere à como os usuários recorriam aos programas e serviços quando necessitavam. Era [... através de] busca espontânea, busca de algum serviço específico, principalmente, por benefícios emergenciais, auxílio alimentação, avaliação familiar, por outros serviços eram menores, era um ou outro caso. Quando ele buscava, se fazia a avaliação familiar e os encaminhamentos necessários. (AS-4) Este aspecto demonstra duas situações problemáticas, a primeira já pontuada, é que o acesso do usuário pode ser de maneira variada, por ser incumbência do assistente social à definição dos critérios de entrada em cada programa e projeto, conforme avaliação de cada profissional. O segundo se refere ao fato da demanda ser apenas espontânea, impossibilitado um acompanhamento e/ou mapeamento das condições socioeconômicas das famílias em situação de vulnerabilidade social. Estas duas questões relatadas pelas assistentes sociais estão sendo superadas com a criação do instrumento CadÚnico, por este apresentar um papel fundamental no que se refere à definição de critérios35 mais claros, definidos e gerais, o que permite uma avaliação mais completa da condição dos usuários e sua inserção em programas, projetos e serviços da Política de Assistência Social. Outro avanço é quanto as respostas dos usuários inscritos no CadÚnico, que são fidedignas, pelo fato de se exigir documentos que comprovem a renda por meio de holerite/declaração de renda e carteira de trabalho de todos que vivem na residência, (observados no apêndice B que delimita a documentação determinada para inserção da família no instrumento.) Neste sentido, AS-1, AS-2 e AS-4 destacam; [...] a partir do momento que estou aqui, percebeu-se a questão da adoção de um instrumento único, enquanto padrão e critério mínimo. (AS-1) 35 Critérios estes que podem ser mais abrangentes ao se levar em consideração todas as condições apresentadas pela família e ir além da definição de pobreza estabelecida nos programas, projetos e serviços governamentais. 49 [...] cada programa e projeto vai ter seu recorte de renda, então fica mais fácil para a gente estar avaliando, até porque se ampliou também o critério de renda, atualmente, até 3 salários mínimos. Então, temos a liberdade de inserir uma família que tem 3 salários mínimos [...] em determinados programas, não depende só da nossa avaliação e sim do critério do Cadastro Único. Acredito que tenha ficado mais fácil para os profissionais trabalharem utilizando o critério do Cadastro Único. (AS-2) Ele se torna um parâmetro de atendimento na Assistência. Ele tem os critérios, que são o que garante os direitos. (AS-4) Observa-se que as falas expressam o trabalho do assistente social com o instrumento CadÚnico, quais as ações foram facilitadas por adotar um critério único de acesso a todos os projetos, programas e serviços da Política de Assistência Social. É importante ressaltar que, mesmo com os avanços do CadÚnico no que se refere à questão dos critérios, no Município de Toledo, a renda continua sendo o limite para o usuário ter ou não acesso aos programas sociais. A relação dos critérios de renda com Política de Assistência Social, é verificada tanto antes da utilização do CadÚnico quanto posterior a sua implementação no município, alterando somente a questão da comprovação. Desta maneira, ainda é preciso avançar nesta questão para intervir junto à população em suas vulnerabilidades que vão além dos seus recursos e rendas. Salienta-se a afirmação de Yazbek (1996), que os critérios devem ir além da questão economicista, se faz importante desvendar e pensar a realidade dos usuários da Política de Assistência Social, compreendendo suas vulnerabilidades e evitar que seus direitos sejam rompidos; processo este que precisa ser meticulosamente pensado e repensando pelos profissionais envolvidos, descobrindo meios de modificar os critérios estabelecidos pelo Governo (municípios, estados e Federação). Verifica-se ainda, que mesmo diante da vulnerabilidade social ser definida pelo critério de renda, não se pode desconsiderar a importância do instrumento CadÚnico no trabalho do assistente social, porque este possui em seu formulário questões importantes que possibilitam a formulação do perfil socioeconômico das famílias em situação de vulnerabilidade social e risco social. Essa atitude permite aos gestores municipais a ampliação do alcance da Política de Assistência Social. 50 Destaca-se que o CadÚnico oferece, tanto à assistência social, quanto para as demais políticas setoriais conhecer o território36, em seus dados a totalidade de um determinado espaço. Assim expressa as depoentes AS-4, AS-1 e AS-5; [...] através dos dados do Cad e comparativos com os territórios e ver a necessidade de implantação de novos equipamentos, tanto da assistência, quanto das demais políticas (educação, saúde, dentre outras). (AS-4) Pela quantidade de questões que o Cadastro Único possui, do que ele permite, podemos fazer muitos relatórios identificando regiões da cidade que tem um maior número de crianças, faixa etária até 4 anos, podendo prever a necessidade de mais uma unidade de educação infantil nessa região, identificar que as pessoas de um determinado bairro é atendida pela UBS de outro bairro porque naquele bairro não tem UBS. (AS-1) As possibilidades são muitas porque o Cadastro Único possibilita que a gente tenha um perfil daquela família que possui o CadÚnico, a questão da renda familiar, da situação socioeconômica, a questão da habitação, saneamento básico, então ele possibilita que a gente tenha um perfil daquela família, sendo do território aqui do CRAS, seja de forma de que do Município mesmo, em cima desses dados que a gente pode estabelecer novos programas, novos projetos para gente desenvolver no município. (AS-5) Percebe-se que estes relatos destacam as demandas do território e o perfil das famílias do Município. Conhecer estes dois aspectos é fundamental para estabelecer o percurso que o Município deve seguir em torno de construir a garantia de maior acesso à população de seus direitos fundamentais. Assim, compreende-se que antes de traçar caminhos para intervenção é necessário entender a realidade social dos usuários/famílias, o que é permitido com as informações presentes no CadÚnico, para em seguida propor e desenvolver programas, projetos e serviços visando a real cobertura das necessidades. Sobretudo, os dados do CadÚnico são uma fonte de pesquisa que o assistente social tem acesso e, que permite uma compreensão da realidade social, isto é “[...] o profissional consegue apreender as intrínsecas conexões do real e, assim, construir um caminho mais seguro para aproximar-se de respostas concretas tão almejadas nas suas intervenções.” (LARA, 2007, p. 74) 36 O conceito de território é abrangente, entretanto, cabe salientar que a concepção marxista, “[...] dentro do materialismo histórico e dialético, irá defender uma noção de território que: i) privilegia sua dimensão material, sobretudo no sentido econômico, ii) está historicamente situada e iii) define-se a partir das relações sociais nas quais se encontra inserido, ou seja, tem um sentido claramente relacional.” (HAESBAERT, 2007, p. 45) 51 Destaca-se, portanto, que a interpretação dos dados torna-se necessária para compreender a base de sustentação da sociedade burguesa, principalmente no tocante às questões de produção e distribuição de riqueza (LARA, 2007). Enfim, entende-se que o CadÚnico é um importante instrumento não só no estabelecimento de critérios, mas também na possibilidade oferecida para conhecer a realidade do Município, evidenciando as principais demandas dos usuários da Política de Assistência e construir ações que possam ser interligadas com as demais políticas públicas. 3.2.2 O “Cadastro Único” no âmbito profissional e as condições de controle e acesso em sua operacionalização O CadÚnico se apresenta como um importante instrumento de acesso às políticas públicas, bem como, programas, projetos e serviços, voltando-se às famílias vulneráveis, sendo que o assistente social e demais funcionários dos CRAS e Gestão do CadÚnico são fundamentais neste processo, à medida em que estes trabalhadores podem garantir o máximo de direitos possíveis a partir das informações obtidas com o preenchimento deste cadastro. Para este momento, o entrevistador tem que ter um mínimo de conhecimento sobre os benefícios, serviços, projetos, programas e ações que são desenvolvidas no município em consonância com as demandas apresentadas pelo usuário; independente de ser ou não o objetivo que a pessoa havia apresentado inicialmente quando vieram procurar informações no CRAS para acessar determinados projetos, programas, serviços, ações e/ou políticas públicas. Neste sentido, destaca-se a fala da AS-1, A partir do momento que eu percebo que essa pessoa veio até aqui, por uma baixa renda de luz, mas que a partir disso eu identifiquei outras necessidades, fiz encaminhamentos, este chamando ela para participar dos serviços, esta acessando outros direitos no sentido de por exemplo saúde onde todos que vêm fazer o Cadastro Único têm que trazer a declaração da UBS de que foi acompanhado, já consigo pensar de uma maneira diferente, que o cadastro está sendo utilizado como uma garantia de direitos, numa tentativa da pessoa sair dessa condição que ela esta. Só que conforme temos que cuidar, principalmente, com os entrevistadores que estão à frente e que realizam o cadastro único, de ir além do que a pessoa veio ali buscar, às vezes ela nem sabe porque ela veio, e nós quem temos que fazer esse papel, senão fica o cadastro pelo cadastro, preenchido por preenchido. (AS-1) Cabe destacar que as famílias são atendidas na Política de Assistência mesmo sem possuir o CadÚnico, em especial, quando se trata de benefícios eventuais ou quando estão sendo acompanhadas pelo CREAS, situações em que mesmo a renda sendo superior pode ser 52 inserida no CadÚnico. No entanto, outros projetos o usuário somente irá acessar mediante a inserção no instrumento, principalmente, no que se refere aos programas da esfera federal. Este fato se manifesta na seguinte entrevista, Os benefícios eventuais, por exemplo a questão do Cidadania e Segurança Alimentar, o benefício emergencial que a gente tem nos CRAS de cesta básica, não necessariamente a família precisa ter o CadÚnico para ser inserida, muitas vezes ela é atendida e a gente orienta a respeito do Cadastro Único ou ela é inserida no projeto e depois de ser inserida a gente também faz o encaminhamento para o Cadastro Único. [...] No Cadastro Único pode estar se cadastrando família de até 3 salários mínimos federais ou famílias com até meio salário per capita, nos casos, por exemplo, de algum membro beneficiário de BPC pode ser incluída com renda superior, e por exemplo, famílias que são acompanhadas pelo CREAS elas também devem estar sendo incluídas no Cadastro Único e deve ter esse atendimento mesmo tendo a renda superior de Cadastro Único. Daí, elas também estão acessando algum serviço da Política de Assistência Social. (AS-3) A prerrogativa do MDS (2012), é de que famílias com renda superior a meio salário mínimo também podem ser cadastradas, desde que sua inserção esteja vinculada à inclusão e/ou à permanência em programas sociais implementados pelo poder público nas três esferas do Governo. O instrumento CadÚnico também pode se tornar um entrave devido às condições sociais e econômicas das regiões brasileiras que variam de um lugar para outro, segundo AS-4 “[...] a questão de três salários mínimos é baixa, tendo em vista que pode variar de uma região a outra, já que é um cadastro nacional.” Além disso, se o profissional responsável pela entrevista e preenchimento dos dados, e demais profissionais que têm acesso direto a tal cadastro, não verificar e/ou encaminhar estes usuários a fim de sanar ou minimizar as suas demandas, via interlocução com outras políticas ou até mesmo programas, projetos e serviços que a família desconhece ter direito de acessálos, o cadastro deixa de ser uma forma de acesso e se torna controle, conforme pode ser observado no relato a seguir; A partir do momento que nós utilizamos o CadÚnico somente como critério para acionar um programa, eu vim aqui porque eu quero o baixa renda da luz e fica por isso, pode-se entender que ele é um instrumento de controle ou simplesmente de tentar burocratizar talvez o acesso. (AS-1) 53 Verifica-se que, mesmo diante das possibilidades37 fornecidas pelo instrumento, cabe ressaltar que existem alguns entraves limitadores, que são destacados pelos entrevistados como a operacionalização dos dados e o formato do CadÚnico. No que se refere à operacionalização, as AS-3 e AS-5 relataram que, Acho que no município poderia estar vendo e utilizando melhor estes dados que são coletados através desse Cadastro Único com as famílias de baixa renda, infelizmente não tem uma equipe mínima para conseguir dar conta dessa demanda e formulação de políticas públicas também, e assim nos CRAS em termos de projetos voltados para algumas vulnerabilidades tratadas no CadÚnico, existem vários projetos nos CRAS, mas ainda não dão conta de toda demanda. (AS-3) [...] políticas que deveríamos estar acelerando para atender aquela situação que esta aflorando diante do Cadastro Único, hoje nós não temos equipe na Secretaria especifica para fazer isso. (AS-5) Os depoimentos evidenciam que o Município deveria aumentar o quadro de funcionários para ter pessoas envolvidas diretamente com a tabulação dos dados, fornecidos pelos usuários no CadÚnico. Logo, isto permitiria a formulação de relatórios sobre a situação das famílias cadastradas em Toledo e, acresceria a possibilidade de criação de novas ações, programas, projetos e serviços voltados às demandas apresentadas pelos usuários da Política de Assistência Social. Entretanto, as dificuldades enfrentadas por falta de funcionários é um caso recorrente em diversos setores que vai além de um município, pois faz parte da própria construção da Política de Assistência Social, principalmente ao se estabelecer uma conexão com a ideia de (contra) reforma do Estado38 sob o prisma de Pereira (2003), que defendia a ideia de que tal reforma era necessária para diminuir os gastos públicos (diminuindo a dívida do país), neste sentido defendendo a necessidade de redução do número de funcionários estatais. Este discurso reformista expresso pelo autor é o mesmo realizado pelo Estado, visando, os cortes públicos por meio da privatização e focalização das políticas públicas. Uma das consequências da falta de funcionários se relaciona aos dados socioeconômicos. Devido à sua falta de tabulação não estão sendo utilizados para formulação de projetos, o que limita a ampliação do atendimento e de novas propostas, AS-5 ressalta que; 37 As possibilidades são relacionadas à elaboração de novos programas, projetos e políticas públicas, a partir da realidade e das demandas explicitadas no instrumental CadÚnico. 38 Assunto exposto no item 1.2. 54 Os dados dos usuários do Cadastro Único têm uma referência quando são levados para Comissão, mas não penso que ele seja uma referência para os projetos. Hoje a gente tem um número de pessoas com Cadastro Único, número de famílias que são beneficiárias do Programa Bolsa Família, mas eu não sei te dizer quantas famílias que são com perfil de um salário mínimo, quantas famílias tem perfil de Bolsa Família, quantas têm o perfil de até dois salários mínimos, isso eu não tenho conhecimento. Hoje, você pode até verificar se falar na Secretaria, mas tem que esperar um tempo para fazer isso, porque não tem nenhuma pessoa que faça isso especificamente, tem o pessoal da Coordenação do Cadastro Único, mas não em número suficiente que possa estar fazendo essa tabulação. Então quero dizer as informações são possíveis de se obter, mas ao mesmo tempo não se tem por falta de equipe. (AS-5) Entende-se que o número reduzido de funcionários afeta consideravelmente a questão da eficácia do CadÚnico, conceito que para Oliveira (1998), é referente ao um dos pontos a ser considerado para fins de avaliação, remetendo-se a seus objetivos e instrumentos x seus resultados, ou seja, relaciona-se às metas inicialmente estabelecidas com às metas alcançadas. Ressalta-se que, dentre as responsabilidades dos municípios brasileiros, destacam-se: “[...] promover a utilização dos dados do Cadastro Único para planejamento e gestão de políticas públicas locais voltadas à população de baixa renda, executadas no âmbito do governo local [... e] dispor de infraestrutura e recursos humanos permanentes para execução das atividades inerentes à operacionalização do Cadastro Único”. (BRASIL, 2012g, s.p.) Responsabilidades estas que deixam de ser compridas pelo município de Toledo, tendo em vista, que os dados do CadÚnico não estão sendo tabulados e tão pouco utilizados no planejamento e gestão das políticas públicas. Considerando, que a sociedade capitalista tem por base um projeto ideo-político neoliberal, expressa em seu cerne que o conhecimento da realidade social da população não é relevante e, cujos interesses estão voltados para o mercado. Entende-se a partir daí, que a preocupação do Estado não é com os trabalhadores e sim com a burguesia, o que permite afirmar que os governantes não almejam aumentar o número de funcionários em diversas áreas e inclusive na área de assistência social, mesmo que seja importante para avançar nas políticas sociais. Neste contexto, Battini (1998), explicita que o projeto neoliberal tem em suas raízes uma lógica voltada para o mercado e para burocratização, em torno de valores privatizantes e excludentes - totalmente contrários aos 55 valores éticos centrais39. A intenção deste projeto é fragmentar as expressões da “questão social”, sem a compreensão do todo e geralmente responsabilizando o indivíduo pela sua miséria. Em relação ao formato do CadÚnico, AS-1 relata que o “limite é quanto aos dados serem apenas objetivos, não possuindo campo no qual o entrevistador possa colocar situações subjetivas.” (AS-1) A questão do formato relatada pela entrevistada, explicita que o instrumento CadÚnico interfere na definição pessoal que o assistente tem de elaboração de estratégias e uso de instrumentais técnicos. Esta compreensão deriva do fato do instrumento ser formulário único para todas as regiões, independente das necessidades locais e profissionais dos assistentes sociais. Neste sentido, o CadÚnico não corresponde ao entendimento do CFESS ao tratar dos parâmetros de atuação do assistente social na Política de Assistência Social, especificamente, da questão do uso de instrumentos e de suas estratégias de intervenção profissional que, [...] devem ser estabelecidos pelo/a próprio/a profissional, que tem o direito de organizar seu trabalho com autonomia e criatividade, em consonância com as demandas regionais, específicas de cada realidade em que atua. (BRASIL, 2011b, p. 24) Nota-se que, o uso de instrumentais pelo Serviço Social, guia-se sobre uma teoria e sobre alguns parâmetros, que visam à garantia dos direitos dos usuários das diferentes políticas, cabendo ao assistente social encontrar meios e estratégias com base no Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais de 1993, leis, decretos e normativas sobre as políticas públicas. Os limites e possibilidades, oferecem ainda duas concepções sobre o CadÚnico, qual seja um instrumento de acesso e ao mesmo tempo de controle, conforme as falas das entrevistadas. Em relação ao CadÚnico - instrumento de acesso e de controle aos serviços da Política de Assistência Social, AS-2 expressa que, [...] estando dentro desse cadastro o usuário pode estar acessando um beneficio que é um direito dele [...]. É controle porque com os dados ali, principalmente, dentro do Programa Bolsa Família, porque as famílias tem 39 A autora cita os seguintes direitos: democracia; liberdade; justiça; solidariedade. Estes devem guiar a prática cotidiana, voltando-se à conscientização da população em torno dos direitos humanos, da cidadania, eliminação do preconceito; articulação com a luta geral dos trabalhadores e qualidade dos serviços prestados à população, enfim, que possam compreender que são sujeitos de direitos e que devem lutar para garanti-los. 56 a questão da educação e da saúde, são as condicionalidades, é discutível essa questão. Porque segundo pesquisas melhorou a situação da educação e a questão da saúde por causa dessa condicionalidade, ao mesmo tempo é um beneficio que tem essa contrapartida e as famílias são controladas, e quando a criança e/ou adolescente falta, não tem aquele índice de frequência escolar que deveria, a gente faz visita para saber porque esta faltando, é lógico que se identifica situações que necessita de intervenção, na maioria das vezes precisa de intervenção. [...] O assistente social vai à casa da família verificar porque esta faltando na aula, então é um controle. (AS-2) Outro ponto é em relação à exigência do CadÚnico para os beneficiários do BPC no ano de 2010, até então não era exigido, conforme fala de uma entrevistada. Na verdade o Cadastro Único ele foi criado para estar garantindo o acesso das famílias aos programas, não só da Assistência Social, como de outras políticas públicas também, por exemplo, da Habitação e tem o acompanhamento por parte da saúde quando a família é beneficiaria do Programa Bolsa Família. Eu acredito assim, foi criado para garantir o acesso das famílias, mas acho que em alguns casos de certa forma ele vai fazer o controle, por exemplo, o Cadastro Único desde que ele foi criado nunca tinha sido solicitado que às famílias beneficiárias do BPC fossem incluídas no Cadastro Único, porém, agora em 2010 foi solicitado, se sabe que para pessoa ter acesso ao BPC existe critérios, principalmente, os de renda e que no município muitas dessas famílias não tem mais aquele critério de renda para ter acesso a esse beneficio. Não sei se nessa situação o Cadastro Único vai ser uma forma de novos acessos a essas famílias ou uma forma de controle também desses beneficiários [...] (AS-3) Ambas as entrevistadas afirmam que o instrumento CadÚnico pode ser compreendido por duas vias. De um lado, ao se cadastrar,a pessoa tem direito a acessar determinados programas, projetos e benefícios. Por outro lado, devido à questão dos critérios e/ou condicionalidades de alguns destes, a família é monitorada e controlada e que ao descumprir algumas exigências a família sofre sanções40. Vale lembrar que se alterarem as condições de vida da família, aumentando um real do estabelecido para acessar tal programa, a mesma deixará de recebê-lo porque a renda mínima é um dos critérios de acesso ao BPC e ao Programa Bolsa Família. Além disso, Silva e Silva; Yazbek e Giovanni (2004), lembram que o CadÚnico foi criado tendo em vista a redução de custos, além de ter maior controle das concessões, 40 Por exemplo, no Programa Bolsa Família ao descumprir o beneficio pode ser bloqueado, suspenso ou até mesmo cancelado. As condicionalidades são Saúde (acompanhamento do cartão de vacina, crescimento e desenvolvimento de crianças até os 7 anos. Gestantes e nutrizes devem realizar o pré-natal e mulheres entre 14 e 44 também devem fazer o acompanhamento) e educação (a faixa etária entre 6 e 15 anos devem ter 85% no mínimo de frequência escolar mensal, já os adolescentes de 16 e 17 no mínimo 75%). (BRASIL, 2012 h) 57 objetivando o cadastramento das famílias em extrema pobreza e focalizando as políticas públicas para este público. Quanto ao Programa Bolsa Família, o Estado justifica de maneira falaciosa que as condicionalidades são uma forma de romper com o assistencialismo; entretanto, estão mais próximas “do controle comportamental exercido sobre as camadas subalternas para indução de estatísticas positivas na área da saúde e educação, do que o ‘reforço dos direitos sociais’, como apregoa a falácia governamental.” (ALVES, 1998, p. 119) Diante disto, ocorre uma culpabilização do indivíduo por não acessar serviços que possibilitam a garantia de seus direitos fundamentais. Entretanto, destaca-se que estas condicionalidades se tornam “[...] um mecanismo de proteção dos direitos de crianças e adolescentes à educação, ao atendimento à saúde e a retirada de trabalhos precoces e das ruas.” (SILVA e SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2004, p. 214) Compreende-se ainda que, apesar da condicionalidade propiciar a proteção de direitos fundamentais, Alves (1998), traz que os direitos garantidos por meio deste programa não poderiam ser subjulgados a obrigações, inclusive, porque tais condicionalidades possivelmente serão compridas somente durante a permanência no programa. Salienta-se que as políticas públicas de saúde e educação deveriam prestar serviços de qualidade, voltados às reais necessidades da classe trabalhadora, procurando facilitar o acesso à informação, tornando desnecessárias a obrigatoriedade de comparecimento no posto de saúde e a frequência assídua à escola. Nas entrevistas e, sobretudo, nas referências dos autores evidenciou-se que o CadÚnico é um instrumento de acesso, porém, este acesso é controlado, à medida em que para acessar determinados programas com o Bolsa Família, a família precisa estar inscrita no cadastro. Contudo, enquanto a família estiver inscrita no instrumento, obrigatoriamente deverá anualmente prestar informações sobre sua situação familiar, de renda, condições de moradia e demais informações constantes no formulário. Quanto ao BPC, neste caso, pode-se entender que a inserção dos usuários é uma maneira de fazer o controle destes beneficiários, porque a partir do momento que estão inscritos no CadÚnico, estes devem atualizar os dados anualmente41, uma exigência do 41 A orientação do decreto nº 6.135/07 é de que seja realizada atualização a cada 2 (dois) anos no mínimo. Em Toledo, o período é de 1 (um) ano, nos demais municípios se deve atualizar conforme estabelecido pelo decreto ora mencionado ou em menor período de acordo com a legislação municipal. 58 Município de Toledo. Além disso, conforme dito anteriormente, o CadÚnico foi criado como forma de diminuir o número de concessões. O CadÚnico, no contexto acima, vem sendo um importante instrumento técnicooperativo, estabelecendo critérios e parâmetros aos profissionais do Serviço Social e demais trabalhadores da Política de Assistência Social do Município de Toledo e mesmo com todas as suas fragilidades (o que de fato ocorre com toda técnica de instrumento de trabalho) tem sido um instrumento de ampliação de direitos. 59 CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso de instrumentais é fundamental à reprodução do ser humano, tendo em vista que para suprir suas necessidades “[...] o homem projeta finalidades, planeja suas ações, escolhe, dentre as alternativas possíveis, aquelas mais adequadas ao alcance de suas finalidades; constrói, utiliza e aperfeiçoa os instrumentos de trabalho, e por isso ele é também um ser crítico.” (GUERRA, 2000, p. 07) Salienta-se que no segundo capítulo, foi explicitada a importância do uso dos instrumentais pelo serviço social, os quais subsidiam a prática profissional ao se alicerçar com referenciais teóricos. Lembra-se que é fundamental a atualização dos instrumentais técnicos operativos do Serviço Social, justo porque entende-se que o aperfeiçoamento do CadÚnico foi importante no trabalho dos assistentes sociais. Neste sentido, destaca-se que as modificações do instrumento propiciaram o aumento de possibilidades no que se refere ao conhecimento da realidade social das famílias; oportuniza aos municípios formularem ações com o auxílio de informações atualizadas. No caso de Toledo, as famílias cadastradas devem atualizar anualmente seus dados, ou se até antes, se ocorrer alguma mudança na vida dos usuários. Desta maneira, compreende-se que o CadÚnico trouxe avanços ao estabelecer critérios e criar um formulário único, oportunizando ao Município de Toledo um instrumento capaz de mapear a situação socioeconômica das famílias em situação de vulnerabilidade. Assim, permite-se aos assistentes sociais pensar em novas ações, bem como, a inserção destas famílias nos programas, projetos, benefícios e serviços socioassistenciais. No entanto, mesmo diante destas condições, há uma falta de trabalhadores no setor do CadÚnico para tabulação dos dados do instrumento, o que impossibilita os profissionais assistentes sociais de utilizarem as informações para a formulação de novas ações, projetos e serviços que visem à superação da vulnerabilidade social das famílias usuárias da Política de Assistência e demais políticas setorais. Além disso, outra problemática envolvendo a eficácia e a agilização das informações do CadÚnico é quanto à necessidade de internet de alta velocidade. O município encontrou dificuldades para adotar a versão 7 (sete) nos CRAS, quando ocorreu a descentralização do instrumento. De fato, a pesquisa evidenciou que o instrumento CadÚnico possui entraves e possibilidades. Apesar da questão norteadora ter sido respondida, durante a pesquisa surgiram novas 60 questões, as quais se destacam: a) Que forma o CadÚnico pode garantir a intersetorialidade, para além, do programa Bolsa Família e suas condicionalidades com a educação e saúde? b) Levando em consideração que os CRAS estão nas regiões mais vulneráveis, quais são os parâmetros utilizados para definir que determinados bairros são os mais vulneráveis no Município? c) De que maneira os critérios do CadÚnico têm contribuído à garantia e à proteção dos direitos da população toledana? Há que se expor ainda, os principais problemas encontrados durante a elaboração desta pesquisa. A primeira dificuldade foi em relação ao envio do Projeto de Pesquisa ao Comitê de Ética – CEPE, em decorrência desse ter sido o primeiro ano de utilização da Plataforma Brasil, exigindo modificações no projeto elaborado no ano passado na Disciplina de Pesquisa II. Itens da Plataforma Brasil (área da Saúde) não eram compatíveis com o que exige a disciplina; além de que, deveria ser adequado a um número de caracteres o que se exigiu grandes e fundamentais recortes do projeto. Outra dificuldade, nesta pesquisa foi devido a nenhuma produção teórica sobre o CadÚnico, sendo utilizado apenas documentos e cartilhas sobre o referido objeto, encontrando no sitio do MDS. Ressalta-se ainda, os benefícios que a pesquisa proporcionou, os quais estão relacionados à: 1) avaliação do instrumento, desvendando os pontos negativos a serem corrigidos e assim permitindo o aumento da abrangência do instrumento na política, oportunizando que a intervenção profissional do assistente social tenha maior efetividade perante seus usuários. 2) Explicitou que o instrumental “CadÚnico” tem a possibilidade de ser fundamental no processo de elaboração de ações, projetos, programas e serviços para detectar as principais mazelas sociais que se manifestam nos bairro do Município de Toledo – Paraná. 3) Os resultados da investigação posteriormente podem subsidiar a elaboração de outras pesquisas, trabalhos, artigos e demais documentos relacionados ao CadÚnico. 61 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Aidê Cançado. Relevância dos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS na garantia de direitos e efetivação da Política de Assistência Social. 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Classes subalternas e assistência social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1996. 65 APÊNDICES 66 APÊNDICE A ROTEIRO DE QUESTÕES – ENTREVISTA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO PROFESSORA ORIENTADORA DE TCC: Dra. Marize Rauber Engelbrecht ACADÊMICA: ADRIANA ALVES COSTA OBJETIVO PRIMÁRIO DA PESQUISA: Compreender e analisar em que medida o CadÚnico responde enquanto um instrumento efetivo na Política de Assistência Social do Município de Toledo – Paraná e na prática interventiva do Assistente Social. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA SUJEITOS DA PESQUISA: 5 DATA DA ENTREVISTA: ____/____/2012 Nº DA ENTREVISTA: _____________ I – Identificação 1 – Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino 2 – Escolaridade: ____________________________________________________________ 3 – Formação em que Unidade de Ensino:_________________________________________ 4 – Tempo de atuação como profissional?__________________________________________ 5 – Em que áreas já trabalhou?__________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________. 6 – Quanto tempo trabalha no CRAS ou Gestão do CadÚnico?_________________________ 7 – Quanto tempo trabalha com o CadÚnico?_______________________________________ II – Questões sobre o instrumental 1 – Descreva como ocorria a inserção dos usuários na Política de Assistência Social, anterior à utilização do CadÚnico no Município? 2 – Com a implantação do CadÚnico, o que alterou na intervenção profissional do Assistente Social na Política de Assistência Social do Município? 67 3 – O usuário pode ser inserido na Política de Assistência Social do Município (programas, projetos e/ou serviços), mesmo que não esteja cadastrado no CadÚnico? Explique em que situações podem ocorrer. 4 – Relate as possibilidades e limites do instrumental CadÚnico na formulação de projetos e inserção dos usuários na Política de Assistência Social do Município? 5 – Os dados socioeconômicos dos usuários cadastrados pelo CadÚnico são utilizados pelos gestores municipais para implementar novas ações? 6 – O CadÚnico, em sua avaliação, é considerado um instrumento de acesso ou controle dos usuários na Política de Assistência Social? 7 – Em relação aos serviços e projetos ofertados no CRAS, existe algum específico para o espaço de abrangência deste em relação aos demais? 8 – Ao definir um serviço e/ou projeto, explique como é realizada a distribuição de vagas para cada CRAS? 9 – Conforme os motivos apresentados pelas pessoas que vêm fazer o CadÚnico, quais são os principais enumerando de 1-7: ( ) Habitação ( ) Bolsa Família ( ) Baixa renda (água, luz e/ou IPTU) ( ) INSS (contribuir com 11%, donas de casa) ( ) BPC/LOAS ( ) Projetos para adolescentes e/ou crianças ( ) Outros. Quais:_____________________________________________________________ 68 APÊNDICE B DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA FAZER O CADÚNICO - Documentos pessoais (originais e Xerox) de todos que moram na residência: Registro de nascimento/casamento; R.G; CPF; titulo de eleitor; frente e verso da carteira de trabalho, holerite (que trabalha com carteira assinada) ou declaração de renda (trabalho informal) e aposentados o comprovante de pagamento. - Original e Xerox da capa do carnê de IPTU; - Declaração de matricula de todos que estudam; - Original e Xerox de comprovante de endereço (talão de água e luz); - Declaração do posto de saúde. Obs: Todas as mulheres casadas devem possuir o mesmo nome em todos os documentos, conforme a certidão. 69 APÊNDICE C TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE 70 71 ANEXOS 72 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos DECRETO Nº 3.877, DE 24 DE JULHO DE 2001. Institui o Cadastramento Único para Programas Sociais do Governo Federal. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, DECRETA: Art. 1o Fica instituído o formulário anexo, como instrumento de Cadastramento Único para ser utilizado por todos os órgãos públicos federais para a concessão de programas focalizados do governo federal de caráter permanente, exceto aqueles administrados pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e pela Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social - DATAPREV. § 1o Fica obrigatório o uso do formulário anexo, a partir de 15 de setembro de 2001. § 2o É facultado o uso do formulário para programas e ações cujo benefício final seja a concessão de serviços ou de programas de caráter emergencial. § 3o Os órgão públicos federais, gestores dos programas de transferência de renda, ficarão responsáveis pela articulação, abordagem e apoio técnico, junto aos Municípios, de ações integradas para organização da logística de coleta dos dados e das informações relativas às populações alvo e aos beneficiários dos diversos programas sociais. Art. 2o Os dados e as informações coletados serão processados pela Caixa Econômica Federal, que procederá à identificação dos beneficiários e atribuirá o respectivo número de identificação social, de forma a garantir a unicidade e a integração do cadastro, no âmbito de todos os programas de transferência de renda, e a racionalização do processo de cadastramento pelos diversos órgãos públicos. Parágrafo único. Os recursos orçamentários para fazer face às despesas operacionais comuns decorrentes do processamento de que trata o caput serão alocados ao orçamento anual da Secretaria de Estado da Assistência Social do Ministério da Previdência e Assistência Social.(Parágrafo único incluído pelo Decreto de 24 de outubro de 2001) Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data da sua publicação. Brasília, 24 de julho de 2001; 180o da Independência e 113o da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Pedro Parente 73 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos DECRETO Nº 6.135, DE 26 DE JUNHO DE 2007. Dispõe sobre o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, DECRETA: Art. 1o O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal reger-se-á pelas disposições deste Decreto. Art. 2o O Cadastro Único para Programas Sociais - CadÚnico é instrumento de identificação e caracterização sócio-econômica das famílias brasileiras de baixa renda, a ser obrigatoriamente utilizado para seleção de beneficiários e integração de programas sociais do Governo Federal voltados ao atendimento desse público. § 1o A obrigatoriedade de utilização do CadÚnico não se aplica aos programas administrados pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS. § 2o Na operacionalização do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social, definido pelo art. 20 da Lei n o 8.742, de 7 de dezembro de 1993, é facultada a utilização do CadÚnico, na forma estabelecida pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. § 3o O CadÚnico é constituído por sua base de dados, instrumentos, procedimentos e sistemas eletrônicos. Art. 3o Os dados e as informações coletados serão processados na base nacional do CadÚnico, de forma a garantir: I - a unicidade das informações cadastrais; II - a integração, por meio do cadastro, dos programas e políticas públicas que o utilizam; e III - a racionalização do processo de cadastramento pelos diversos órgãos. Parágrafo único. A fim de que se atinjam os objetivos do caput, será atribuído a cada indivíduo cadastrado um número de identificação social, nos termos estabelecidos pelo órgão gestor nacional do CadÚnico. Art. 4o Para fins deste Decreto, adotam-se as seguintes definições: 74 I - família: a unidade nuclear composta por um ou mais indivíduos, eventualmente ampliada por outros indivíduos que contribuam para o rendimento ou tenham suas despesas atendidas por aquela unidade familiar, todos moradores em um mesmo domicílio. II - família de baixa renda: sem prejuízo do disposto no inciso I: a) aquela com renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo; ou b) a que possua renda familiar mensal de até três salários mínimos; III - domicílio: o local que serve de moradia à família; IV - renda familiar mensal: a soma dos rendimentos brutos auferidos por todos os membros da família, não sendo incluídos no cálculo aqueles percebidos dos seguintes programas: a) Programa de Erradicação do Trabalho Infantil; b) Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano; c) Programa Bolsa Família e os programas remanescentes nele unificados; d) Programa Nacional de Inclusão do Jovem - Pró-Jovem; e) Auxílio Emergencial Financeiro e outros programas de transferência de renda destinados à população atingida por desastres, residente em Municípios em estado de calamidade pública ou situação de emergência; e f) demais programas de transferência condicionada de renda implementados por Estados, Distrito Federal ou Municípios; V - renda familiar per capita: razão entre a renda familiar mensal e o total de indivíduos na família. Art. 5o Compete ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome: I - gerir, em âmbito nacional, o CadÚnico; II - expedir normas para a gestão do CadÚnico; III - coordenar, acompanhar e supervisionar a implantação e a execução do CadÚnico; e IV - fomentar o uso do CadÚnico por outros órgãos do Governo Federal, pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, nas situações em que seu uso não for obrigatório. Art. 6o O cadastramento das famílias será realizado pelos Municípios que tenham aderido ao CadÚnico, nos termos estabelecidos pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, observando-se os seguintes critérios: I - preenchimento de modelo de formulário estabelecido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; 75 II - cada pessoa deve ser cadastrada em somente uma família; III - o cadastramento de cada família será vinculado a seu domicílio e a um responsável pela unidade familiar, maior de dezesseis anos, preferencialmente mulher; IV - as informações declaradas pela família serão registradas no ato de cadastramento, por meio do formulário a que se refere o inciso I, devendo conter informações relativas aos seguintes aspectos, sem prejuízo de outros julgados necessários: a) identificação e caracterização do domicílio; b) identificação e documentação civil de cada membro da família; c) escolaridade, participação no mercado de trabalho e rendimento. § 1o Famílias com renda superior a que se refere o art. 4o, inciso II, poderão ser incluídas no CadÚnico, desde que sua inclusão esteja vinculada à seleção ou ao acompanhamento de programas sociais implementados por quaisquer dos três entes da Federação. § 2o O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome expedirá normas para o cadastramento de famílias que estejam ao abrigo de instituições ou que não possuam domicílio fixo. Art. 7o As informações constantes do CadÚnico terão validade de dois anos, contados a partir da data da última atualização, sendo necessária, após este período, a sua atualização ou revalidação, na forma disciplinada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Art. 8o Os dados de identificação das famílias do CadÚnico são sigilosos e somente poderão ser utilizados para as seguintes finalidades: I - formulação e gestão de políticas públicas; e II - realização de estudos e pesquisas. § 1o São vedadas a cessão e a utilização dos dados do CadÚnico com o objetivo de contatar as famílias para qualquer outro fim que não aqueles indicados neste artigo. § 2o A União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal poderão utilizar suas respectivas bases para formulação e gestão de políticas públicas no âmbito de sua jurisdição. § 3o O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome poderá ceder a base de dados nacional do CadÚnico para sua utilização, por órgãos do Poder Executivo Federal, em políticas públicas que não tenham o CadÚnico como instrumento de seleção de beneficiários. § 4o Os dados a que se refere este artigo somente poderão ser cedidos a terceiros, para as finalidades mencionadas no caput, pelos órgãos gestores do CadÚnico no âmbito da União, do Distrito Federal e dos Municípios. 76 § 5o A utilização dos dados a que se refere o caput será pautada pelo respeito à dignidade do cidadão e à sua privacidade. § 6o A utilização indevida dos dados disponibilizados acarretará a aplicação de sanção civil e penal na forma da lei. Art. 9o O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome adotará medidas periódicas para a verificação permanente da consistência das informações cadastrais. Art. 10. O registro de informações inverídicas no CadÚnico invalidará o cadastro da família. Art. 11. Com o objetivo de orientar os Municípios sobre o quantitativo de famílias a serem cadastradas, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome tornará disponível a estimativa do número de famílias com os perfis de renda mensal indicados no art. 4o, inciso II, por Município, que será atualizada anualmente. Art. 12. Os recursos orçamentários para fazer face às despesas operacionais comuns decorrentes do processamento de que trata o caput serão alocados ao orçamento anual do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Art. 13. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 14. Ficam revogados o Decreto n o 3.877, de 24 de julho de 2001, e o Decreto de 24 de outubro de 2001, que cria Grupo de Trabalho para os fins que especifica e dispõe sobre o Cadastramento Único para Programas Sociais do Governo Federal. Brasília, 26 de junho de 2007; 186o da Independência e 119o da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Patrus Ananias Este texto não substitui o publicado no DOU de 27.6.2007 77