2 Regional AÇORIANO ORIENTAL SÁBADO, 14 DE MARÇO DE 2015 “É preciso garantir que todos os alunos aprendam” A afirmação foi feita ontem durante a conferência promovida pelo Instituto da Defesa Nacional ANA CARVALHO MELO [email protected] Garantir que o acesso universal à escola não é suficiente enquanto não se garantir que todos os alunos aprendem, defendeu ontem a antiga deputada à Assembleia da República e presidente da Comissão Nacional de Educação, Ana Maria Bettencourt. Para Ana Maria Bettencourt, apesar dos “progressos notáveis” que o país fez desde a década de 70, “continuamos mal porque continuamos com os piores indicadores europeus”. Por essa razão afirma que “em educação não se gasta dinheiro a mais”. Neste contexto, a conferencista afirmou que “não chega garantir que todos vão à escola, é preciso garantir que todos os alunos aprendam”, destacando que o combate ao insucesso escolar é uma responsabilidade do Estado perante os seus cidadãos que só será conseguida quando se apostar em colmatar as dificuldades de aprendizagem logo nos primeiros anos de escolaridade, como alguns países nórdicos já o fizeram. “Cada pessoa é única e não temos o direito de desistir de uma pessoa”, frisou. A especialista em Educação falava durante a conferência “O Estado tem educação? Debate sobre Educação, Ciência e Tecnologia”, a nona conferência do ciclo “Ter Estado”, promovido pelo Instituto da Defesa Nacional (IDN) por todo o país, que ontem se realizou em Ponta Delgada. Ana Maria Bettencourt lembrou ainda que é preciso dar ao Sessão de abertura a cargo da secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional país os quadros de que necessita em termos de ciência e tecnologia e que aí surge o problema da democratização do acesso à escola. “A democratização do acesso trouxe à escola pessoas cujas famílias têm dificuldade em compreender e ajudar os filhos. Assim precisamos de elites que traduzam o que é a nossa população, porque a escola sem filtro é um grande desafio, quer no combate ao insucesso, quer ao abandono escolar”, afirmou. Uma terceira responsabilidade do Estado é, segundo a antiga deputada, formar cidadãos conhecedores do seu país, das suas regras e capazes de compreender a sociedade em que vivem. Neste contexto destacou a importância do equilíbrio entre coesão nacional e cidadania regional. “Os Açores têm um currículo re- não perca DOMINGO com o Açoriano Oriental a mporâne ça conte n a d e d culo • Espetá tro Micaelense o Grupo Folclórico no Tea aniversário d de sse • Jantar o Formoso motocro do Port es dos Açores de õ alado • Campe uidos lher assin disting rnacional da Mu • Dia Intenta Delgada Mulher em Po rações do Dia da o Lucas • Comemrdeste jeto São em No de Sopas do Pro ” o t • II Buffe “Arco-Íris a metre Cultura tância” • Mostra tro Municipal d “O Rosto da Dis n e no C tação do livro am edição n • Aprese stas do TT record a si tu n r E • do Daka de Açores magazine, uma revista que fala de nós! PUB gional que hoje em dia é muito discutido e que eu defendo, pois acho muito importante formar cidadãos que aprendam a gostar do país onde vivem”, disse. Também presente nesta conferência, o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, Fernando Egídio Reis, defendeu medidas de apoio aos alunos com problemas de aprendizagem. “A flexibilização da carga horária para que os alunos a quem são detetados problemas de aprendi- “Temos de fazer mais e uma maneira de o conseguir é fazendo desenvolver mais as universidades” zagem específicos possam ter não só horas a mais, mas também um ensino mais adequado às dificuldades”, explicou Fernando Egídio Reis, referindo que nas escolas onde estas medidas estão a ser aplicadas se têm obtido “resultados satisfatórios”. Por outro lado, defendeu a orientação escolar e a adequação das ofertas educativas ao perfil dos alunos. O secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário disse também que a aposta passa pela qualidade, frisando que nas últimas décadas foi possível “alterar muito” no setor, dando como exemplo a diminuição da taxa de abandono escolar. Com um discurso mais voltado para a Ciência e a Tecnologia, o físico e divulgador de Ciência, Carlos Fiolhais, afirmou que “hoje o drama é o analfabetismo científico”, comparando com a realidade do século XIX em que o drama era não se saber ler, nem escrever. Afirmando que apesar de Portugal ter procurado desde o 25 de Abril ter cada vez mais gente com conhecimento, porque “saber é poder”, ainda “estamos longe de estar entre as nações mais desenvolvidas”. “Temos de fazer mais e uma maneira de o conseguir é fazendo desenvolver mais as universidades, porque são os sítios onde a ciência se faz naturalmente”, afirmou, frisando que “o Estado tem de confiar mais nas Universidades”. O físico referiu ainda que os Açores, do ponto de vista científico, têm “particularidades muito curiosas” que os tornam um “laboratório extraordinário” e que fazem com que a Região deva ser “um polo de agregação de investigadores”. Neste contexto, sugere que se pensem em políticas a nível nacional para transformar os Açores num “grande centro científico”. Regional 3 AÇORIANO ORIENTAL SÁBADO, 14 DE MARÇO DE 2015 EDUARDO RESENDES Ana Maria Bettencourt defendeu currículo regional Esta conferência juntou várias entidades na Universidade dos Açores Diretor do IDN, Major-General Vítor Viana A investigadora da faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Elvira Fortunato, por seu turno, considerou que o país “está muito melhor” em termos de investigação, embora seja possível “investir mais” no capital humano. “Em determinadas áreas já nos podemos equiparar àquilo que de melhor se faz no mundo, mas é evidente que queremos sempre mais”, afirmou apelando a um maior investimento nas pessoas porque “não temos ouro nem petróleo, mas temos pessoas”. Durante o debate, a investiga- Conferencistas participantes (da esq. para a dir.): Fernando Egídio Reis, Elvira Fortunato, Carlos Fiolhais e Ana Maria Bettencourt durante o debate moderado por Manuel Queiroz “Hoje o drama é o analfabetismo científico”, disse Carlos Fiolhais dora referiu que ainda há um desconhecimento muito grande por parte dos empresários relativamente ao que se faz nas universidades, apesar de já existirem bons exemplos de sinergias. “Uma das formas de diminuir o hiato entre as empresas e as universidades é integrar mais doutorados nas empresas. São pessoas muito qualificadas que têm competências, não só na sua área específica, como em muitas outras, desde concorrer a projetos ou fazer uma patente”, destacou, frisando que, apesar de estes trabalhadores poderem custar mais às empresas, serão uma mais-valia a médio e longo prazo. Um outro tema em debate, e que reuniu grandes consensos, esteve relacionado com as “maisvalias” de um curso superior num contexto de tão elevado desemprego entre jovens. “Não temos feito o suficiente para mostrar o valor da educação em geral e do ensino superior em particular. Devemos fazer mais por mostrar que não se trata apenas do valor material: ‘vais fazer este curso porque vais ganhar muito dinheiro’. A educação superior muda as pessoas, torna-as melhores, com mais educação. E isso é uma riqueza imaterial.”, afirmou Carlos Fiolhais. Já Elvira Fortunato realçou que “estudar e ter uma licenciatura é importante, porque à semelhança de um atleta que precisa de praticar, um estudante quanto mais estudar mais exercício mental faz e mais capacitado fica para poder trabalhar e arranjar um emprego, mesmo que seja noutra área”. A sessão de abertura desta conferência esteve a cargo da secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional, Berta Cabral, que referiu que apesar dos progressos “muito significativos” no país em termos educativos, ainda é preciso dar “um salto” qualitativo. “A educação deu um salto significativo desde o início do século passado até agora. Toda a gente tem o direito à educação. O 12º ano é já obrigatório e, portanto, há um salto quantitativo muito significativo, mas ainda é preciso prosseguir na qualidade”, disse. PUB