Surgical & Cosmetic Dermatology ISSN: 1984-5510 [email protected] Sociedade Brasileira de Dermatologia Brasil Vasconcelos de Andrade Lima, Emerson Enxertia de tecido palpebral na reconstrução de tumores cutâneos Surgical & Cosmetic Dermatology, vol. 2, núm. 4, octubre-diciembre, 2010, pp. 333-335 Sociedade Brasileira de Dermatologia Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=265519558015 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto 333 Enxertia de tecido palpebral na reconstrução de tumores cutâneos Como eu faço? Palpebral tissue grafting in the reconstruction of cutaneous tumors utores: Emerson Vasconcelos de Andrade Lima1 RESUMO 1 A reconstrução de defeitos resultante da remoção de tumores na face é sempre um desafio, já que a integridade funcional da área tratada e o risco de retrações e cicatrizes inestéticas devem ser criteriosamente avaliados. O enxerto muitas vezes é a opção mais adequada à reconstrução, exigindo uma área doadora que apresente similaridades teciduais com a área receptora. Esse estudo propõe o tecido da pálpebra superior como boa opção em 12 pacientes portadores de carcinoma basocelular (CBC) na face e sobra de tecido nas pálpebras superiores. Palavras-chave: pálpebras; tumor; transplante. Coordenador do Ambulatório de Cirurgia dermatológica e Cosmiatria da Santa Casa de Misericórdia do Recife, Doutor em Dermatologia pela USP Correspondência para: Dr. Emerson Vasconcelos de Andrade Lima Praça Profº. Fleming, 35/1201 - Jaqueira 52050-180 – Recife – PE e-mail: [email protected] ABSTRACT The reconstruction of defects resulting from the removal of facial tumors is always a challenge, given that the functional integrity of the treated area and the risk of retractions and unattractive scars must be carefully assessed. Grafts, often the best option in reconstruction, require that the donor and recipient areas present tissular similarities.The present study proposes the superior eyelid tissue as a good option in 12 patients with facial basal cell carcinomas and excess tissue in the superior eyelids. Keywords: eyelids; neoplasms; transplantation. INTRODUÇÃO Áreas nobres da face são frequentemente atingidas por tumores cutâneos. A remoção seguida de reconstrução dos defeitos gerados por essas lesões deve ser criteriosamente avaliada.1 O fechamento direto é a opção inicial, porém em muitos casos a utilização de retalhos e enxertos torna-se mandatória. Sítios periorificiais, como as regiões periorbital, perioral, periauricular e o dorso nasal devem ser tratados com maior atenção devido aos riscos de retração tecidual nas bordas livres e comprometimento funcional resultantes de reconstruções inadequadamente planejadas.2 A mobilidade tecidual limitada e a presença de áreas cancerizadas nas adjacências de tumores cutâneos circunstancialmente direcionam sua reconstrução para enxertos com pele removida de regiões cujo tecido saudável é redundante.3, 4 A pega adequada do enxerto e a qualidade de sua revascularização são fundamentais quando se opta por essa forma de reconstrução. A utilização de tecido doador delgado, que contemple epiderme e derme após descarte do tecido celular subcutâneo, facilita a nutrição e aumenta as chances de sucesso cirúrgico.5 Data de recebimento: 18/11/2010 Data de aprovação: 05/12/2010 Trabalho realizado na Santa Casa de Misericórdia do Recife - Centro de estudos dermatológicos do Recife (CEDER) - Recife (PE), Brasil. Suporte financeiro: Nenhum Conflito de interesse: Nenhum Surg Cosmet Dermatol. 2010;2(4)333-5. 334 Lima EA A região retroauricular é uma das escolhas mais frequentes como área doadora para a reconstrução de tumores removidos da face.6 A identificação de outras áreas que apresentem sobra de pele com o processo do envelhecimento, entretanto, faz pensar que a pálpebra superior seria região a ser cogitada como área doadora para enxertos. O tecido palpebral reconhecidamente apresenta a menor espessura de derme e epiderme da face, sendo viável seu uso como enxerto, com garantia de nutrição.7-9 A blefaroplastia superior é cirurgia de fácil execução por profissional habilitado, passível de realização ambulatorial sob anestesia local e oferece segurança ao paciente. Neste trabalho descreve-se a utilização do enxerto de pele de pálpebra superior na reconstrução de tumores cutâneos na face. MÉTODOS A técnica descrita foi empregada em 15 tumores de oito pacientes do sexo feminino e quatro do sexo masculino, com idade entre 52 e 64 anos, portadoras de CBCs primários inferiores a 3cm , diagnosticados clinicamente e sitiados na ponta do nariz (quatro) pálpebras inferiores (sete) e dorso nasal (três), pálpebra superior (um). Os tumores foram removidos de forma circular, obedecendo a margens variáveis de três a 4mm. Os 12 pacientes apresentavam sobra de pele na pálpebra superior. Utilizaram-se como critérios de exclusão hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e uso de anticoagulantes ou similares. Os pacientes eram provenientes do Ambulatório de Cirurgia Dermatológica da Santa Casa de Misericórdia do Recife e da clínica privada do investigador. A sobra de pele da pálpebra superior foi escolhida como área doadora para a reconstrução dos defeitos criados com a remoção dos carcinomas. Para tal, procedeu-se à blefaroplastia superior bilateral conforme a seguinte técnica (Figura 1): 1. Marcação cirúrgica: a linha inferior foi posicionada sobre o sulco palpebral superior, e o pinçamento da sobra de pele ofereceu a medida para a marcação da linha superior, de tal maneira que o encontro das extremidades das duas linhas correspondesse ao desenho de uma elipse. 2. Anestesia com 2, 5ml lidocaína 2% com vasoconstrictor para cada pálpebra. 3. O tecido foi removido após excisão com lâmina de bisturi n. 15, e divulsão com auxílio de tesoura Íris curva. 4. Após a hemostasia, procedeu-se à aproximação das bordas cirúrgicas com fio de náilon 6.0. 5. O tecido palpebral foi fixado na área receptora por pontos separados com fio de náilon 5.0. 6. Curativos utilizando apenas esparadrapo microporado finalizaram o procedimento, tanto na área doadora como na receptora. Em todos os casos, administrou-se Clonazepan 0,25mg por via SL, 30 minutos antes do procedimento. Como os pacientes, em sua maioria residiam em área rural e apresentavam dificuldade de transporte, orientou-se retorno após oito dias, quando foram removidos os pontos das áreas receptora e doadora. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os tumores retirados dos 12 pacientes foram submetidos à avaliação histológica, com diagnóstico de CBC e demonstração de margens laterais e profundas livres de lesão. Onze pacientes referiram melhora da capacidade visual com a remoção da sobra de pele das pálpebras, e 10 manifestaram receio de sofrer mutilação pela remoção do tumor.Todos informaram estar satisfeitos com o ganho estético que obtiveram tanto pela melhoria das pálpebras, como pela reconstrução do tumor. Os 12 pacientes consideraram de discretas a imperceptíveis as cicatrizes que resultaram da intervenção (Figuras 2-5).Todos os pacientes consideraram pouco doloroso o procedimento e afirmaram que preferiram o método utilizado à realização do procedimento em hospital sob sedação. Apesar de o autor priorizar a cura do tumor pela remoção cirúrgica total, é relevante o ganho estético que se oferece a esses pacientes com reconstrução menos mutilante. A possibilidade de reconstruir o defeito gerado pela remoção de um tumor com um enxerto delicado, aderente e de fácil pega, desencadeando com sua remoção um ganho cosmético na área doadora, tem estimulado o autor a optar frequentemente Figura 1. A. Marcação cirúrgica da sobra de pele palpebral B. Remoção cirúrgica C. Síntese da pálpebra. Surg Cosmet Dermatol. 2010;2(4)333-5. Enxerto palpebral 335 Figura 2 - A. CBC acometendo ambas as pálpebras inferiores B. Pós-operatório imediato pós blefaroplastia bilateral e enxertia de tecido palpebral para reconstrução do defeito C. Pós-operatório de 1 mês A B A B C Figura 3 - A. CBC em pálpebra inferior direita B. Pós-operatório imediato de enxerto palpebral C. Pós-operatório de 1 mês A B C C Figura 4 - A. CBC nasal B. Defeito criado pós remoção cirúrgica C. Enxerto palpebral pós blefaroplastia A B C D Figura 5 - A CBCs superficiais B.Defeito pós remoção cirúrgica C.Enxertia de tecido palpebral D. Pós operatório de 15 dias por esse método. Ele assinala como vantagens dessa opção terapêutica a satisfação do paciente e a segurança do procedimento, apresentandoa como mais uma possibilidade passível de ser utilizada pelo cirurgião dermatológico. REFERÊNCIAS 1. 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