Movimento em duas ou mais dimensões Prof. Ettore Baldini-Neto • A partir de agora, generalizamos a discussão que fizemos para o movimento retilíneo para mais dimensões. • A grande diferença é que o cálculo vetorial volta à cena e as grandezas físicas relevantes tais como a posição, o deslocamento, a velocidade e a aceleração devem ser expressas e operadas como um vetor. • Vejamos como fazer isto. Vetor posição A localização de uma partícula tanto no plano (2D) ou no espaço (3D) é descrita, de maneira geral, pelo vetor posição que, também em geral, depende do tempo. • y Particle d to ept s. r= x î + y ĵ yĵ Generalizando para o 3D, temos: x xî ate oint ~ = x(t)ı̂ + y(t)ˆ r(t) | (x, y) The x and y components of S the position vector r for a particle are the x and y (Cartesian) coordinates of the particle. FIGURE 3-1 ~ = x(t)ı̂ + y(t)ˆ r(t) | + z(t)k̂ y P1 at t1 ates arP2 , ∆r r1 P2 at t2 Vetor Deslocamento • Como vimos em uma dimensão, o deslocamento entre dois instantes quaisquer é definido com sendo a diferença entre as posições da partícula, nestes instantes. ~r = ~r2 (t) ~r1 (t) Como ~r1 = x1 ı̂ + y1 |ˆ + z1 k̂ ~r2 = x2 ı̂ + y2 |ˆ + z2 k̂ ~r = ~r2 = = (x2 ~r1 x1 )ı̂ + (y2 xı̂ + yˆ |+ y1 )ˆ | + (z2 z1 )k̂ z k̂ Exemplo 1: O vetor posição de uma partícula é, inicialmente, r1=-3,0i+2,0j+5k. Mais tarde, esta partícula está em r2= 9,0i+2.0j+8k. Calcule seu deslocamento. Velocidades média e instantânea Analogamente ao caso unidimensional, definimos as velocidades média e instantânea como vm = d~r v= dt ~r t ⇣m⌘ s ⇣m⌘ s A interpretação geométrica é a mesma, ou seja, a direção da velocidade instantânea de uma partícula em determinado ponto (instante) é tangente à trajetória da partícula neste ponto. A direção da velocidade instantânea de uma partícula em determinado ponto (instante) é tangente à trajetória da partícula neste ponto. ~v = = = d~r dt dx dy dz ı̂ + |ˆ + k̂ dt dt dt vx ı̂ + vy |ˆ + vz k̂ Cuidado: Está implícito nesta equação que as componentes do vetor posição variam com o tempo, ou seja, x=x(t), y=y(t) e z=z(t). A regra de derivação é a mesma. Acelerações média e instantânea Analogamente ao caso unidimensional, definimos as acelerações média e instantânea como ~am = d~v ~a = dt ~v t ⇣m⌘ s2 ⇣m⌘ s2 A interpretação geométrica, assim como as regras de derivação continuam as mesmas. No caso geral, devemos lembrar que a aceleração pode depender do tempo. Reescrevendo, ficamos com ~a = ax (t)ı̂ + ay (t)ˆ | + az (t)k̂ No caso de um movimento retilíneo uniforme em qualquer uma das direções, a aceleração nesta direção será constante, ou seja, não vai variar com o tempo. Exemplo 2: Uma partícula movimentando-se no plano tem o seguinte vetor posição ~r(t) = (2t 4)ı̂ + (t2 2t + 1)ˆ | Calcule sua velocidade e aceleração em função do tempo. Existe algum instante onde a velocidade se anula? Descreva o movimento para t>0. Casos especiais • Vamos estudar agora dois casos particulares do movimento em duas dimensões. • Movimento circular uniforme • Movimento de Projéteis Movimento Circular Uniforme (MCU) • Uma partícula descreve o MCU se estiver se movimento em uma circunferência ou arco de circunferência com velocidade escalar constante. • Muito embora o módulo desta velocidade seja constante, a direção do vetor velocidade varia ao longo da trajetória, é sempre tangente à trajetória em cada instante do tempo. Portanto, o movimento possui uma aceleração, a qual chamamos de aceleração centrípeta que é dirigida para o centro da curva. Cálculo da aceleração ~v = vsen✓ı̂ + vcos✓ˆ | yp Da figura sen✓ = r xp cos✓ = r yp xp ~v = vı̂ + vˆ | r r Sabemos que a aceleração é a derivada da velocidade. Note que nem o raio nem a velocidade variam com o tempo. d~v ~a = = dt ⇣ ⌘ ⇣ ⌘ dyp v dxp v ı̂ + |ˆ dt r dt r Note que dyp = vy = vcos✓ dt dxp = vx = dt Finalmente: vsen✓ ⇣ ⌘ ⇣ ⌘ dyp v dxp v ı̂ + |ˆ dt r dt r d~v ~a = = dt ~a = ~a = vcos✓ ✓ 2 v r ◆ ⇣v ⌘ r ı̂ cos✓ı̂ vsen✓ ✓ 2 v r ◆ ⇣v ⌘ r |ˆ sen✓ˆ | Calculando o módulo deste vetor |~a| = q a2x + a2y v2 |~a| = r Durante o movimento circular uniforme, o período de uma volta em um circunferência é simplesmente a razão entre o comprimento da mesma e sua velocidade escalar, ou seja: 2⇡R T = v (s) Podemos com o auxílio desta equação expressar a intensidade da aceleração centrípeta como função do período do movimento. 2 acp v = R acp 4⇡ 2 R = T2 ⇣m⌘ s2 Definimos a frequência do movimento como sendo inversa ao período, ou seja: 1 f= T (Hz) Exemplo 3: Um objeto se move com velocidade constante ao longo de um caminho circular no plano xy. O centro é a origem do plano. Quando o objeto está em x=-2m, sua velocidade vale v=-4j (m/s). Calcule a velocidade deste objeto e sua aceleração quando ele está em y=2m. Exemplo 4: Pilotos de caças militares sempre se preocuparam com curvas muito acirradas. Como o corpo de um piloto sofre aceleração centrípeta, com sua cabeça direcionada para o centra da curva, a pressão sanguínea no cérebro diminui, podendo causar perda de consciência em uma manobra. Existem vários avisos para o piloto para “maneirar”. Quando a aceleração centrípeta chega a 2g ou 3g, o piloto sente-se pesado. Em 4g, a visão começa a se turvar e se esta aceleração mantiver-se por algum tempo ou aumentar, a visão cessará e o piloto desmaiará. Qual a aceleração centrípeta, em unidades de g, de um piloto de um F22 com velocidade v=2500km/h fazendo um arco de circunferência de raio 5,80km? Lançamento de Projéteis • O lançamento de projéteis é um caso particular do movimento em duas dimensões. • Podemos tratar matematicamente o problema de maneira simples pois podemos decompor este tipo de movimento em dois movimentos independentes: • Em um movimento horizontal no qual a velocidade é constante, ou seja, um movimento retilíneo uniforme. • Em um movimento vertical no qual a aceleração é constante e igual à aceleração da gravidade, ou seja, um movimento retilíneo uniformemente variado. O movimento vertical das duas bolas é o mesmo, ou seja, o movimento horizontal da bola amarela não afeta seu movimento vertical, ou em outra palavras, eles são independentes. • O ponto importante é que durante um lançamento oblíquo, o vetor velocidade inicial tem duas componentes, uma componente ao longo do eixo x, e outra componente ao longo do eixo y, ou seja, ambas dependem do ângulo de lançamento. ~v0 = v0 cos✓ı̂ + v0 sen✓ˆ | • O movimento horizontal do projétil então tem a seguinte equação. x = x0 + v0x .t ! x = x0 + v0 cos✓.t • O movimento vertical do projétil então tem as seguintes equações, lembrando que a aceleração é a aceleração da gravidade, g. y = y0 + v0y .t vy = v0y vy2 = 2 v0y 1 2 gt 2 g.t 2g y y = y0 + v0 sen✓.t vy = v0 sen✓ 2 vy = 2 2 v0 sen ✓ 1 2 gt 2 g.t 2g y Equação da Trajetória do Projétil x x0 t= v0 cos✓ x = x0 + v0 cos✓.t 1 2 y = y0 + v0 sen✓.t gt 2 ✓ ◆ x x0 y y0 = v0 sen✓ v0 cos✓ y sen✓ y0 = (x cos✓ ✓ 1 x x0 g 2 v0 cos✓ 2 x0 ) 1 (x x0 ) g 2 2 2 v0 cos ✓ ◆2 y y sen✓ y0 = (x cos✓ y0 = tg✓(x x0 ) x0 ) 1 (x x0 )2 g 2 2 2 v0 cos ✓ 1 (x x0 )2 g 2 2 2 v0 cos ✓ (x0 , y0 ) = (0, 0) y = tg✓.x g 2 x 2 2v0 cos2 ✓ y = bx + ax 2 Alcance Horizontal • O alcance horizontal é a distância horizontal que o projétil percorre desde o lançamento até o ponto em que sua altura é a mesma do que a altura inicial de lançamento. x = x0 + v0 cos✓.t y = y0 + v0 sen✓.t • 1 2 gt 2 Quando a altura final é igual à altura inicial temos que: 1 2 v0 sen✓.t = gt 2 2v0 sen✓ t= g 2v0 sen✓ t= g x x = x0 + v0 cos✓.t x x0 = ✓ 2v0 sen✓ x0 = v0 cos✓ g 2 v0 2sen✓ cos ✓ R= g 2 v0 g sen2✓ O alcance máximo ocorre quando sen2✓ = 1 o ✓ = 45 ◆ Exemplo 5: Na figura abaixo, um avião de salvamento voa a 55m/s a uma altura de 500m rumo a um ponto diretamente acima de uma vítima de naufrágio para deixar cair uma balsa. ! a) Qual dever ser o ângulo ø da linha de visão do piloto para a vítima no instante em que o piloto deixa a balsa cair? b) Qual a velocidade vetorial da balsa ao cair na água Exemplo 6: A figura mostra um navio pirata a 560m de um forte que protege a entrada de um porto. Um canhão de defesa situado no nível do mar, dispara balas com uma velocidade inicial de 82m/s. ! a) Qual o ângulo em relação à horizontal com que as balas devem ser disparadas para alcançar o navio? b) Qual o alcance máximo das balas de canhão?