COQUELUCHE Luís Augusto Mazzetto Médico Infectologista GVE XIII – Assis/SP COQUELUCHE Introdução Coqueluche / Tosse comprida / Sd. Pertussis → doença infecciosa aguda Transmissão respiratória → altamente contagiosa (perdigotos / gotículas) Caracterizada por paroxismos de tosse seca Potencialmente grave → crianças menores de 1 ano de idade Agente Etiológico Bactéria → Bordetella pertussis Bacilo Gram-negativo pleomórfico aeróbio Não esporulado, possui cápsula e fímbrias Capaz de se fixar nas células ciliadas da traqueia Produz diversos tipos de toxina COQUELUCHE Epidemiologia Doença infecciosa aguda → transmissível → distribuição universal Sem padrão sazonal (maior ocorrência no verão e outono?) Ocorre em surtos ou epidemias → pode endêmica ou epidêmica Epidemias cíclicas com aumento do número de casos a cada 2 – 3 anos Doença prevenível por vacina (DPT) desde a década de 40, com diminuição do número de casos Aumento das taxas de incidência desde 2010 no Brasil e no mundo Brasil a partir de meados de 2011 houve aumento súbito do número de casos com incidência 4 vezes superior a 2010 Adultos transmitem a doença para crianças não imunizadas Taxa de ataque de 70 a 100% → semelhante à varicela Nem a infecção prévia, nem a imunização conferem imunidade duradoura → doses de reforço → revisar carteira de vacinação COQUELUCHE Epidemiologia COQUELUCHE COQUELUCHE Período de Incubação Incubação → de 1 a 3 semanas → média 5 a 10 dias Patogênese Cepas com cápsulas e fímbrias → aderência e fixação nas células e cílios do trato respiratório Lipopolossacarídeos da membrana Hemaglutinina filamentosa Toxina Pertussis → semelhante à toxina diftérica Toxinas termo lábil Toxina adenilato ciclase → destrói as células ciliadas → acúmulo de muco → tosse e sibilos COQUELUCHE Patogênese Fímbria – aglutinógenos Outras proteínas da membrana Lipopolissacarídeos Filamento de hemaglutinina Toxina Pertussis Toxina termo lábil Toxina adenilato ciclase COQUELUCHE Patogênese Lúmen do Trato Respiratório Estase ciliar Toxina Pertussis Hemaglutinina filamentosa Bordetella pertussis Células epiteliais ciliadas Movimento Ciliar normal COQUELUCHE Patogênese COQUELUCHE Quadro Clínico Tosse paroxística → principal característica da doença Didaticamente dividida em 3 fases: Catarral, Paroxística e Convalescença Fase Catarral Duração: 1 a 2 semanas Mal estar geral Coriza / rinorreia / lacrimejamento Febre baixa Tosse seca / crises de tosse no final dessa fase Período de maior transmissibilidade COQUELUCHE Fase Paroxística Duração: 2 a 6 semanas Paroxismos de tosse seca, súbita, rápida, curta e incontrolável Em torno de 30 episódios de paroxismos em 24 horas 5 – 10 episódios de tosse durante uma única expiração “Guincho” → chiado durante a inspiração forçada Protusão da língua e dos olhos, lacrimejamento, congestão facial Apneia, cianose Vômitos após as crises de tosse Febre baixa Piora durante a noite Crianças → período assintomático entre as crises de tosse Ainda ocorre transmissibilidade COQUELUCHE Fase de Convalescença Duração: 2 a 3 semanas, podendo chegar a 3 meses Diminuição da frequência e da gravidade da tosse Epitélio respiratório fragilizado → susceptível a infecções secundárias Paciente deixa de transmitir a doença Quadro Clínico Atípico Lactentes menores de 6 meses → sem guincho, cianose ou apneia crianças maiores de 10 anos → paroxismos sem guincho Pessoas previamente vacinadas → quadro clínico mais brando COQUELUCHE Complicações em Adolescente e Adultos Incomuns → geralmente a evolução é benigna e autolimitada Síncope Distúrbios do sono Fraturas de arcos costais Complicações em Lactentes / Crianças Respiratórias: pneumonia, pneumotórax, enfisema, ruptura de diafragma Neurológicas: surdez, encefalopatia, convulsão, coma Outras: hemorragias, epistaxe, conjuntivite, otite, hérnia, desnutrição, desidratação Óbitos: raros, geralmente pacientes com menos de 6 meses de idade Doença potencialmente grave da infância COQUELUCHE COQUELUCHE Diagnóstico Intensidade da tosse Fase Catarral Fase Paroxística % Isolamento bacteriano no swab nasal Convalescência % Resposta de anticorpos Dias após o início do sintomas COQUELUCHE Diagnóstico Exames Inespecíficos Raio-x de tórax → em menores de 4 anos pode ter imagem de coração borrado ou em franja Hemograma → leucocitose com desvio à esquerda Fase catarral → pode chegar a 20.000 leucócitos/ml Fase paroxística → pode chegar a 30.000 leucócitos/ml Diagnóstico Exames Epecíficos Swab para cultura Swab para PCR Sorologia Teste rápido COQUELUCHE Diagnóstico – Exames Específicos COQUELUCHE Diagnóstico Diferencial - Tosse COQUELUCHE Diagnóstico Diferencial - Tosse COQUELUCHE Tratamento Inespecífico Corticóides e salbutamol não se mostraram efetivos → revisão feita por Cochrane em 2012 Tratamento Específico Antimicrobianos de primeira linha → macrolídeos Antimicrobianos de segunda linha → cotrimoxazol (sulfametoxazol + trimetoprim) Eficazes se iniciados na fase catarral Se iniciados tardiamente servem apenas para reduzir a transmissibilidade COQUELUCHE Antimicrobiano de 1ª Escolha: Azitromicina < 6 meses 10 mg/kg uma dose por dia durante 5 dias > 6 meses 10 mg/kg/dia (máximo 500 mg) no 1º dia e 5 mg/kg/dia (máximo 250 mg) do 2º ao 5º dia, em dose única diária Adultos 500 mg no 1º dia e 250 mg do 2º ao 5º dia, em dose única diária COQUELUCHE Antimicrobiano de 2ª Escolha: Claritromicina < 1 mês Não recomendado 1 a 24 < 8 Kg: 7,5 mg/kg de 12/12 horas por 7 dias meses > 8 kg: 62,5 mg de 12/12 horas por 7 dias 3 a 5 anos 7 a 9 anos > 10 anos Adultos 125 mg de 12/12 horas por 7 dias 187,5 mg de 12/12 horas por 7 dias 250 mg de 12/12 horas por 7 dias 500 mg de 12/12 horas por 7 dias COQUELUCHE Eritromicina: somente na indisponibilidade dos anteriores < 1 mês Não recomendado → Sd. hipertrofia pilórica 1 a 24 meses 125 mg de 6/6 horas por 7 a 14 dias 2 a 8 anos 250 mg de 6/6 horas por 7 a 14 dias > 8 anos 250-500 mg de 6/6 horas por 7 a 14 dias Adultos 500 mg de 6/6 horas por 7 a 14 dias Sulfametoxazol+Trimetoprim: se intolerância a macrolídeos < 2 meses Contraindicado < 5 meses < 5 anos < 12 anos Adultos SMZ 100/TMP 20 mg 12/12 horas por 7 dias SMZ 200/TMP 40 mg 12/12 horas por 7 dias SMZ 400/TMP 80 mg 12/12 horas por 7 dias SMZ 800/TMP 160 mg 12/12 horas por 7 dias COQUELUCHE Prevenção Vacinação (DPT, DPTa, Tetravalente, Pentavalente) Identificação dos doentes → isolamento → tratamento Identificação dos contactuantes → quimioprofilaxia Vacina Componente pertussis → mais reatogênico (efeitos adversos) e menos imunogênico dos componentes da vacina Esquema completo na infância → 2, 4 e 6 meses Reforços → aos 15 meses, com 4 a 6 anos de idade e depois a cada 10 anos por toda a vida Ideal que o reforço no adulto seja feito com vacina tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa) e não com dT COQUELUCHE Isolamento Ambulatorial → afastamento da escola ou do trabalho por 5 dias após início do uso de antimicrobiano efetivo Hospitalar → isolamento respiratório por gotículas por 5 dias após início do uso de antimicrobiano efetivo Quimioprofilaxia Com os mesmos antimicrobianos e pelo mesmo período utilizado no tratamento Até 21 dias do início da tosse no caso índex → para todos os contatos domiciliares e contatos próximos (creches) Após 21 dias → apenas nos contatos de risco → gestantes, lactentes e contatos de lactentes COQUELUCHE Estratégia Cocoon / Casulo Visa diminuir a circulação da Bordetella em adultos que terão contato com crianças menores de 1 ano – VACINAÇÃO: Profissionais de saúde Gestantes → após 20 semanas de gestação Pais, avós e irmãos Cuidadores, babás Notificação Doença de notificação compulsória Todo caso SUSPEITO deve ser notificado à Vigilância Epidemiológica local COQUELUCHE Definição de caso suspeito – Menores de 6 meses de idade Indivíduo que, independente do estado vacinal, apresente tosse de qualquer tipo há 10 dias ou mais associado a um ou mais dos seguintes sintomas: Tosse paroxística Vômitos pós-tosse Cianose Apneia Engasgo COQUELUCHE Definição de caso suspeito – Maior que 6 meses Indivíduo que, independente do estado vacinal, apresente tosse de qualquer tipo há 14 dias ou mais associado a um ou mais dos seguintes sintomas: Tosse paroxística Guincho inspiratório Vômitos pós-tosse COQUELUCHE Caso Confirmado Critério Atende a definição de caso suspeito com laboratorial isolamento de Bordetella pertussis ou identificação por PCR em tempo real Critério clínico- Atende a definição de caso suspeito e teve epidemiológico contato com caso confirmado de coqueluche por critério laboratorial, no período de transmissibilidade Critério clínico Igual à definição de caso suspeito, porém com 2 ou mais dos sinais e sintomas descritos Caso descartado Suspeito que não atende a nenhuma das situações descritas COQUELUCHE Prevenção • O número de casos de coqueluche no Estado de São Paulo até julho deste ano já é maior do que o total registrado em 2010, segundo dados da Secretaria da Saúde. Até 19 de julho, foram registrados 183 casos, contra 176 em 2010. O pior ano da doença na última década foi 2008, com 258 casos. Segundo o Sinan (Sistema Nacional de Agravos de Notificação), até agosto, o Brasil confirmou 593 casos, sendo 80% deles em bebês menores de seis meses. Houve 16 mortes, todas entre crianças. Os surtos da doença ocorrem em intervalos de dois a quatro anos. A bactéria age mais em temperaturas altas. O principal problema é o aumento dos casos em adultos. Apesar de a doença não ser tão grave nesse grupo, é ele o principal transmissor da infecção para bebês. Quanto menor a criança, mais perigosa é a doença. "O problema dos adultos que não tomam vacina no Brasil é cultural. Ela ainda é vinculada à infância, mas o comportamento vem mudando com a vacinação para idosos e viajantes", diz Renato Kfouri, presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações). De acordo com Lily Weckx, pediatra e infectologista da Unifesp, a imunização dos adultos é necessária. "A última dose é dada às crianças no segundo reforço, entre 4 e 6 anos. Depois dessa idade, não há mais vacina na rede pública." A doença é caracterizada por uma tosse ininterrupta, que pode durar de duas a quatro semanas. O esforço da tosse pode provocar hemorragia nos olhos e até no cérebro. Em recém-nascidos, a doença pode evoluir para pneumonia. Até um quinto dos casos de tosse comprida em adultos é causada pela coqueluche, segundo a infectologista. Em São Paulo, a vacina contra a doença é dada desde 1968. Na rede pública, ela está disponível só para as crianças. Na rede privada, é encontrada a tríplice (difteria, tétano e coqueluche). Uma nova vacina quadrivalente (também contra poliomielite) acaba de ser lançada no país. O preço fica em torno de R$ 100. Renato Kfouri, da Sbim, recomenda o reforço da vacina para adultos a cada dez anos. A vacina é contraindicada se a pessoa estiver com febre alta, se teve reação alérgica recente ou sofreu efeitos colaterais na primeira dose. (Folha) Kinetics of cell recruitment to the lungs and immune responses following infection with Bordetella pertussis Immunity to Bordetella pertussis in a naive host • Immunomodulatory effects of Bordetella pertussis virulence factors. • A combination of the properties and activities of filamentous hemagglutinin (FHA), pertussis toxin (PT), tracheal cytotoxin (TCT), adenylate cyclase toxin (ACT), type III secretion system (TTSS), and lipopolysaccharide (LPS) provide B. pertussis with multiple mechanisms to evade detection and elimination by the host immune response. • Selected effects of individual virulence factors are separated by black dashed lines. Green arrows indicate a positive regulatory effect on the target cell or process. Red bars indicate a negative regulatory effect on the target cell or process. Cells crossing the black dashed lines are targeted by the virulence factor on either side of the line; • this layout is for presentation purposes only and does not imply that there is any association between these separate effects. ICAM-1, intracellular adhesion molecule 1; IL, interleukin; iNOS, inducible nitric oxide synthase; NLR, nucleotide-binding and oligomerization domain (NOD)-like receptor; NO, nitric oxide; SP, surfactant protein; TCR, T-cell receptor; Th, T helper; TNF, tumor necrosis factor; Treg, regulatory T cells.