Grupo Temático: Gestão Social, Reforma Agrária e Desenvolvimento Territorial POLÍTICA AGRÁRIA E AGRICULTURA SUSTENTÁVEL: UMA ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DOS ASSENTAMENTOS PARAÍSO, MULUNGUZINHO, MOACIR LUCENA E SÍTIO GÓIS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Autor(a): Letícia de Souza Amaral Discente do Curso de Ciências Econômicas da UFRN, Natal-RN. [email protected] Autor: João Matos Filho Docente do curso de Ciências Econômicas da UFRN, Natal-RN. [email protected] Autor: Claudino Júnior Discente do Curso de Gestão de Políticas Públicas da UFRM, Natal-RN. [email protected] Autor(a): Ruziany Louzada Graduada em Administração pela UNP [email protected] Resumo O modelo de agricultura convencional tem-se mostrado insustentável nos assentamentos rurais do estado do Rio Grande do Norte(RN), qualquer que seja a métrica utilizada para avaliá-lo. Gera dependência dos agricultores ao capital industrial produtor de insumos, máquinas e equipamentos; endivida os agricultores, tornando-os inadimplentes perante o capital financeiro; provoca desagregação social, uma vez que os assentados, endividados e inadimplentes, tendem a buscar novas alternativas de sobrevivência em outros assentamentos ou em outros locais. Diante disso emerge o desenvolvimento sustentável, cujo ideal procura combinar no tempo e no espaço a eficiência econômica, a conservação ambiental e a equidade social. O presente trabalho tem, portanto, o objetivo de analisar os desafios e as conquistas de organizações gestoras de assentamentos de reforma agrária que estão pautando a sua atuação pelos princípios do desenvolvimento sustentável e da agroecologia. Para o alcance desse escopo foram selecionados quatro assentamentos localizados nas microrregiões homogêneas do Mato Grande e do Médio Oeste do RN: Paraíso, Mulunguzinho, Sítio Góis e Moacir Lucena. Os dois primeiros constituem grupos produtivos de mulheres e os demais são associações civis sem fins lucrativos. Todos os assentados residentes utilizam práticas baseadas nos princípios da agricultura sustentável entre as quais se incluem manejo correto da caatinga, apicultura, fruticultura, horticultura, caprinocultura e ovinocultura. O êxito obtido na produção e comercialização de alimentos livres de agrotóxicos e de fertilizantes químicos, tanto nas feiras locais, quanto nos mercados institucional e privado, inclusive para exportação, no caso do mel de abelha, mostram que essas práticas não só são sustentáveis do ponto de vista econômico, social e ambiental, como indicam um possível caminho para uma etapa superior da agricultura familiar baseada nos princípios da agroecologia. Palavras Chaves: Agricultura sustentável; instituições; assentamentos de reforma agrária. 1. Introdução O atual contexto de insustentabilidade do modelo de agricultura convencional, dependente de agrotóxicos, fertilizantes minerais e outros tipos de produtos químicos os quais causam danos à saúde e poluem o meio ambiente, o que nos conduz ao seguinte questionamento: é possível um modelo de agricultura baseado nos princípios da sustentabilidade e, numa etapa posterior, nos fundamentos da agroecologia? A adoção de práticas agroecológicas é viável nas regiões semiáridas, onde se enquadra mais de 90% do território do RN, ou ao contrário, para permanecer no campo os agricultores familiares, particularmente os assentados da reforma agrária, não terão outra alternativa senão render-se ao determinismo da agricultura moderna ou convencional? O pressuposto deste artigo é que as práticas inerentes à agricultura sustentável, e, numa etapa posterior, à agroecologia não só são viáveis no semiárido do Rio Grande do Norte, como propiciam o manejo sustentável dos solos, a conservação dos recursos naturais, a valorização dos saberes locais e a independência dos pequenos agricultores, que comercializam seus produtos sem a presença de atravessador. No entanto, tal viabilidade depende da existência de instituições concebidas e geridas com base nos princípios da agricultura sustentável e da agroecologia. O vocábulo “instituição” tem distintos sentidos nas modernas teorias institucionalistas: pode ser entendido como uma organização ou como regras formais e informais que regem a vida humana associada. Uma instituição pode ser uma organização formalmente constituída, como uma universidade, ministério, empresa privada, cooperativa ou associação civil; também pode ser uma regra formal, como um contrato de compra e venda; uma lei, um estatuto ou o regimento de uma associação ou cooperativa; ou ainda uma regra informal como são as relações de confiança; a palavra empenhada; a solidariedade; e, a marca, a denominação de origem, mas também a tradição, associadas à qualidade dos produtos. (North, 1990; Wilkinson, 2008). Em virtude do supracitado o presente trabalho visa, em primeiro lugar, resgatar os principais aportes teóricos relativos à sustentabilidade, às instituições e à sua aplicação na construção do conceito de agricultura sustentável; e, em segundo lugar, analisar experiências de agricultura sustentável em assentamentos de reforma agrária selecionados no estado do Rio Grande do Norte. Os dados empíricos utilizados foram obtidos em dois tipos de pesquisas: levantamento de campo, realizado por meio de entrevistas semi-estruturadas na agrovila Paraíso e no assentamento Arizona, no município de São Miguel do Gostoso; e, coleta de dados secundários referentes aos assentamentos Moacir Lucena e Sítio Góis, na Microrregião Homogênea Médio Oeste, e em Mulunguzinho, na Microrregião Homogênea Oeste. 2. Conceito de Sustentabilidade (Faltam referências! Qual a origem dessas afirmações? Devem estar entre parênteses ao final dos parágrafos, quando for o caso!) É possível compreender que não se pode definir o conceito de sustentabilidade de maneira estreita e com carácter universal ou baseada num conjunto de indicadores também universais. Baseados em Marzall (1999), que apresenta duas grandes linhas de interpretação do que é a sustentabilidade, corroboradas por Müller (1996) e Smith & McDonald (1998) - a economicista, neoclássica ou optimista e, como alternativa, a termodinâmica ou pessimista. A primeira linha considera que o desenvolvimento sustentável está vinculado ao crescimento económico. O ideal de progresso é o desenvolvimento econômico, sendo o ambiente, apenas, um insumo a fim de se obter isso. Ou seja, os serviços e a qualidade dos recursos naturais devem ser utilizados, enquanto o aumento da economia é um objetivo a atingir, resultando em um suposto aumento do bem-estar ou satisfação social. De acordo com esta ideia, as raízes da crise ambiental estão no fato de haver quem considere que a natureza é um bem livre, “de custo zero”, não havendo motivos para limitar o seu uso. Os danos ambientais são considerados externalidades, não se traduzindo por preços, logo não havendo contabilização dos danos. A primeira corrente propõe, assim, uma solução a qual baseia-se em considerar o ambiente como um bem econômico possuidor de valor monetário. Para isso, criamse sinais, na forma de taxas, que interligam os custos, determinando um novo padrão de eficiência. Este comportamento caracteriza a “Economia Ecológica” ou “Economia Verde”. O preço do bem natural é determinado através da sua procura ou através do bem-estar proporcionado por ele ou que a sua ausência impede. A conservação ambiental acarreta melhoria econômica, pois a diminuição do capital natural tem um custo real para a sociedade, devendo constar nas contas nacionais da mesma forma que a diminuição de recursos econômicos. Neste sentido, dentro da visão economicista, existem duas subteorias: a primeira é designada por “sustentabilidade forte” e a última por “sustentabilidade fraca”. Esta classificação induz a dois tipos de comportamentos. O que considera a existência de fatores do capital natural, os quais não podem ter substituição, logo necessitam de proteção e conservação. E, outro que considera a preocupação com o ambiente e seus recursos naturais sem fundamento, porque entende que o produto final da economia continua, mesmo quando o capital natural se esgota em função da capacidade de substituição dos fatores. A segunda linha de interpretação, termodinâmica ou pessimista, sobre a sustentabilidade, está dentro de um posicionamento de crítica ao padrão de desenvolvimento econômico, pois o considera gerador de todo o problema. A crise ambiental, segundo esta corrente, é consequência do grande desenvolvimento industrial. São aplicadas as leis da termodinâmica à economia, no sentido de que o crescimento baseado no esgotamento dos recursos naturais conduz à sua escassez absoluta. A segunda visão apresenta como base o balanço energético, dessa forma estrutura o seu discurso no consumo energético de combustíveis fósseis e energia solar. Segundo os defensores desta teoria, a eficiência energética nos setores de produção diminui com o aumento da complexidade dos processos industriais e com a adoção de combustíveis fósseis. Isto por que estes últimos apresentam um custo energético superior ao das fontes de energia renovável. Neste sentido, a sustentabilidade implica que o desenvolvimento se realize a partir da utilização mais eficiente dos recursos escassos, havendo a necessidade de dar preferência às fontes de energia renovável. Nem sempre as tentativas de definição da sustentabilidade se enquadram completamente numa linha ou noutra. Os posicionamentos intermediários são frequentes, demonstrando que, apesar de haver um aparente consenso sobre a importância da sustentabilidade, este conceito significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Apesar de alguma controvérsia, o debate em torno da ideia de sustentabilidade traz consigo a consciência da complexidade e da interação das diferentes dimensões (ambiental, econômica e social), constatando a necessidade de uma ação mais integrada entre as mesmas. 3. Dimensões de Desenvolvimento Sustentável Segundo Buarque (2002), “o desenvolvimento sustentável é o processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência econômicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social, partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre gerações”. De acordo com este autor, este conceito contém três grandes conjuntos interligados, com características e papéis diferentes no processo do desenvolvimento: a) A elevação da qualidade de vida e da equidade social, constituindo em objetivos centrais do modelo de desenvolvimento, orientação e propósito final de todo esforço de desenvolvimento a curto, médio e longo prazo. b) A eficiência e o crescimento econômicos constituem pré-requisito fundamental, sem o qual não é possível elevar a qualidade de vida com equidade – de forma sustentável e continua –, representando uma condição necessária, embora não suficiente, do desenvolvimento sustentável. c) A conservação ambiental é um condicionante decisivo da sustentabilidade do desenvolvimento e da manutenção em longo prazo, sem o qual não é possível assegurar qualidade de vida para as gerações futuras e equidade social de forma sustentável, mas também contínua no tempo e no espaço. A busca de ampliação da racionalidade bem como da eficiência econômica, da equidade social como também da conservação ambiental, base para o aumento da sustentabilidade do processo de desenvolvimento, nem sempre é consistente e está, normalmente, carregada de dificuldades e resistências estruturais. O conceito de agricultura sustentável se insere nos pressupostos gerais os quais acabam de ser explicitados, porém possui especificidades próprias do seu caráter biológico e da coprodução com a natureza, como será visto na análise dos assentamentos de reforma agrária a seguir apresentada. 3.1. Da teoria à prática: a agricultura sustentável nos assentamentos de reforma agrária do estado do Rio Grande do Norte A qualificação da agricultura como sustentável denota insatisfação com a sua atual situação, além disso procura-se por um novo padrão de produção não agressiva ao ambiente, mantendo-se as características dos sistemas agrários que são próprios da coprodução com a natureza viva. A agricultura sustentável tem de compatibilizar as suas funções de produção de bens materiais, alimentos e matériasprimas (função produtiva) e de serviços (função social) com os sistemas aos quais está vinculada de maneira direta, isto é, o ambiente, a sociedade e a economia. No entanto, a noção de agricultura sustentável permanece cercada de imprecisões, além de contradições, permitindo abrigar desde aqueles contentes com simples ajustes no padrão produtivo – visão economicista de sustentabilidade – até os mais radicais que veem nessa noção um objetivo de longo prazo que possibilita mudanças estruturais, não apenas da produção agrária, mas em toda a sociedade (Marzall, 1999). A análise a seguir apresentada pretende verificar até que ponto o conceito de sustentabilidade se verifica na prática, tomando como referência quatro assentamentos de reforma agrária localizados nas Microrregiões Homogêneas do Mato Grande e Oeste, cuja implementação tem sido considerada bem sucedida no estado do Rio Grande do Norte. (Mapa 1). 3.1.1 Assentamentos Moacir Lucena e Sítio Góis Diante da pesquisa de campo e coleta de dados foi possível observar a importância das instituições formais e informais presentes no cotidiano dos assentamentos de reforma agrária. Foi constatado nos assentamentos acima referidos a presença da COOPERVIDA (Cooperativa de Assessoria e Serviços Múltiplos ao Desenvolvimento Rural), atuante em atividades de formação e assessoria junto aos trabalhadores e trabalhadoras rurais; assessoria técnica; capacitação dos grupos; elaboração de projetos e investimentos financiados pelo PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar); organização de categorias sociais; e parcerias com outras entidades e movimentos. As principais frentes de atuação da COOPERVIDA são: a assessoria em agricultura orgânica, agroecologia e tecnologias apropriadas; incentivo e contribuição ao desenvolvimento sociocultural; organização e assessoria a grupos de gênero e geração; políticas públicas; e projetos de assentamento. Dentro desses assentamentos a COOPERVIDA atuou de maneira significativa, a fim de tornar mais sustentáveis as atividades da caprinocultura, apicultura e agricultura de sequeiro. No Sítio Góis a agricultura de sequeiro é umas das atividades mais importantes para a comunidade, onde as famílias produzem grãos para consumo próprio, além disso, vendem o excedente. Há um grupo de mulheres trabalhando com o manejo correto da terra, por meio da agroecologia. O grupo lida com hortaliças orgânicas e plantas medicinais. Ele foi financiado com recursos do projeto Dom Helder Câmara e conta com o apoio da UFERSA (Universidade Federal Rural do Semi-Árido) para os estudos de meios biológicos de controle de pragas, de modo a tornar a produção mais eficiente. Moacir Lucena destaca-se pela atuação de dois parceiros da COOPERVIDA, o Projeto do Dom Helder Câmara e a ASA (Articulação do Semiárido Brasileiro). Por meio das articulações com essas organizações foi possível obter destaque na produção de uma agricultura sustentável. Referente aos roçados houve a integração com a criação animal. Atualmente a maior parte do milho e todo o sorgo são plantados com o objetivo de fornecer ração para os animais. A produção é quase toda armazenada na forma de silagem e feno, o que representa uma diferença importante na produção e armazenamento de ração em relação às práticas tradicionais de manejo. Contemplados com o projeto um milhão de cisternas, coordenados pela ASA, foi possível enfrentar os problemas de falta de água potável que é comum nas regiões semiáridas e, em particular nos assentamentos. A garantia de alimento para os animais e de água potável para consumo humano constitui uma mudança no foco na gestão da agricultura familiar. A criação de caprinos em Moacir Lucena tem se consolidado, desta maneira as famílias juntamente com os técnicos da COOPERVIDA estão se empenhando para promover uma produção sustentável de alimentos de origem animal e vegetal nos assentamentos. No caso dos animais, a compra inicial tem sido garantida com crédito do Pronaf B, contratados com os bancos oficiais e também de projetos que a COOPERVIDA consegue em parceria com o PDHC (Projeto Dom Helder Câmara). Em Moacir Lucena, intercâmbios são realizados com bastante frequência, para onde os agricultores e agricultoras se dirigem para conhecer o andamento das atividades no assentamento. A apicultura na região restringia-se à extração de mel de forma tradicional. Não havia colmeias, casas de mel, entrepostos ou cuidados com a qualidade do mel de abelha e seus subprodutos, que são próprios da apicultura moderna. Este novo tipo de produção e sua respectiva comercialização teve início nos assentamentos com os primeiros projetos de colmeias e casas de mel financiados pelo Pronaf A. Além de contar com assessoria técnica permanente, as famílias do assentamento participaram de eventos de capacitação e de visitas de intercâmbio sobre o assunto as quais foram promovidas no âmbito do Projeto Dom Helder. Tradicionalmente, a caatinga não é manejada, no sentido mais estrito da palavra. Ela é pastoreada pelos animais em sua forma natural, é derrubada para abrir a área para as plantações. Somente após a colheita a capoeira é usada como fonte de forragem para os animais. Uma das iniciativas inovadoras ocorridas nesse assentamento foi à instalação de uma Unidade Demonstrativa de manejo da caatinga. A partir do manejo correto houve a recuperação da caatinga, além de um significativo incremento na produção de forragem, mel e outros tipos de produtos alimentares. Em razão da pesquisa foi possível verificar que ambos os assentamentos obtiveram financiamento por meio de bancos públicos e doações. Nos bancos públicos a principal fonte de financiamento foi o PRONAF. As doações foram obtidas por meio de ONG’s (Organizações Não-Governamentais).Com destaque a atuação do projeto Dom Helder, patrocinador de boa parte das mudanças referentes a estrutura produtiva dos assentamentos. Com referência à comercialização, ambos atuam por meio da coletividade, o que indica a presença de confiança entres os membros da associação. A partir de feiras organizadas pela Rede Xique-Xique e pela Associação Agroecológica do OestePotiguar é possível articular a venda dos produtos para região, podendo fugir dos atravessadores. Ainda há venda de cestas para Rede Xique-Xique e viagens para feiras em Mossoró, onde são reunidos produtores de cooperativas, associações ou grupos produtivos que recebem apoio da Rede. A venda existe também por meios de projeto do Ministério do Desenvolvimento Agrário, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimento) ou do Ministério de Educação, como o PNAE (Programa Nacional de Alimentar Escolar). 3.1.2 Assentamentos Paraíso e Mulunguzinho Esses dois assentamentos destacam-se pela presença de grupos de mulheres fortalecidos por meio da agroecologia. Destacam-se pela luta por igualdade de gênero, constituídos pela necessidade de geração de renda e emancipação feminina no campo. Na Agrovila Paraíso, pertencente ao assentamento Arizona, município de São Miguel do Gostoso, encontra-se a experiência do grupo Unidas Venceremos, formado por oito mulheres que buscam a produção agroecológica de hortaliças, frutíferas e a criação de pequenos animais. Respeitadas pela atuação política e o apoio de organizações voltadas para economia solidária, além do fortalecimento do feminismo como o Projeto Pardal e Centro Feminista oito de Março. O assentamento Mulunguzinho, em Mossoró-RN, foi criado pelo Grupo de Mulheres Decididas a Vencer, onde as mulheres participantes dedicam-se à produção de hortaliças e frutas orgânicas, que também está agregado com outras formas de produção, dentre elas a fabricação de doces, a criação de galinhas, ovos, caprinos e mel, a fim de obter uma fonte de renda, antes sendo exclusiva dos homens. O Centro Feminista oito de Março e o Sindicato da Lavoura em MossoróRN foram responsáveis pela criação e capacitação do grupo. A atuação da AACC (Associação de Apoio às Comunidades do Campo) foi fundamental para constituição do Grupo Unidas Venceremos, tendo como território predominante de atuação na região do Mato Grande, por meio de doações para o financiamento das atividades e capacitação. Ambos os grupos reconhecem a importância de estarem inseridas em uma rede de Comercialização Solidária. A oportunidade de participarem da Rede Xique-Xique foi bem aceita, por ser um espaço conveniente para comercializarem, que atende as necessidades de seus projetos produtivos e as permitem não dependerem da presença do atravessador, além de contarem com as orientações da rede no que se refere à capacitação e monitoramento da produção e venda dos produtos. A articulação do Grupo Unidas Venceremos é destaque. Essas mulheres além das feiras organizadas pela Rede Xique-Xique vendem individualmente em feiras da região e trabalham diretamente com as pousadas de São Miguel do Gostoso. Atendem também ao PAA e o PNAE, assim como o grupo de mulheres Decididas a Vencer. Dentre os benefícios de estarem inseridas em uma rede, é possível destacar que por ser um espaço solidário, as mulheres têm autonomia para negociar diretamente com o consumidor, sendo assim podem praticar preços justos. Recebem ainda apoio e oportunidade de compartilhar experiências, aplicadas de acordo com a realidade de cada comunidade envolvida. De acordo com Gliessman (2006), por um lado a agroecologia é o estudo de processos econômicos e de agroecossistemas; por outro, é um agente para as mudanças sociais e ecológicas complexas que tenham necessidade de ocorrer no futuro a fim de levar a agricultura para uma base verdadeiramente sustentável. Desse modo, a agroecologia apresenta bases para mudanças no espaço rural, pois abrange todos os gêneros. 4.CONSIDERAÇÕES FINAIS: FATORES DE ÊXITO COMUNS AOS ASSENTAMENTOS Foi observado o fortalecimento da agroecologia nos assentamentos, sendo ela a responsável por mudanças significativas no cotidiano dos assentados, que agora possuem meios de se estabelecer na terra e usá-la de maneira sustentável. As instituições foram fundamentais para consolidação e manutenção do desenvolvimento sustentável nos territórios estudados, tendo em vista que por meio delas foi articulada a capacitação dos agricultores, acesso ao comércio justo, livre de atravessadores, os meios adequados de cultivar a terra e a gestão adequada dos grupos. Diante disso foi possível obter a preservação do meio ambiente, fortalecendo a coprodução, maior retorno financeiro e fortalecendo a luta por igualdade e permanência do agricultor no campo. Referências BUARQUE, Sérgio C.. Construindo o desenvolvimento local sustentável: Metodologia e Planejamento. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2002. HAZELL, P. (1999) - Desenvolvimento da agricultura, alivio da pobreza e sustentabilidade do meio ambiente: alcançar todos os objectivos. A Visão 2020 para a Alimentação, Agricultura e o Meio Ambiente 59. Institutions, Institutional Change and Economic performance, Cambridge University Press, Cambridge, 1990. GLIESSMAN, S.R. Agroecologia: Processos ecológicos em agricultura sustentável. Ed. UFRGS, 2000. INSERIDO NORTH, Douglas. Institutions, Institutional Change and Economic performance. Cambridge University Press, Cambridge, 1990. MARZALL, K. (1999). Indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 224 pp. REIJNTJES, C.; HAVERKORT, B,; WATERS-BAYER, A. Farming for the future: an introduction to low-external-input and sustainable agriculture. The Macmillan Press, 1992. Apud MARCATTO, Celso. Agricultura Sustentável: Alguns Conceitos e Princípios. WILKINSON, John. Mercados, redes e valores: o novo mundo da agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da UFRGS: Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, 2008. Marzall, K. (1999) agroecossistemas. Dissertação - Indicadores de Mestrado, de sustentabilidade Faculdade de Agronomia para da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 224 pp. Müller, S. (1996) - Como medir la sostenibilidad? Una propuesta para el area de la agricultura y de los recursos naturales. IICA/BMZ/GTZ, Costa Rica, 55 pp. Smith, C. & McDonald, G. (1998) - Assessing the sustainability of agriculture at the planning stage. Journal of Environment Management 52: 15-37.