A AGROECOLOGIA COMO UM DOS CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: ESTUDO DE CASO DOS PEQUENOS AGRICULTORES DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO David Neves de Oliveira¹; Nágilla Francielle Silva Cardoso¹; Angélica de Oliveira Soares¹; Annelise Caetano Fraga Fernandez² ¹Graduando em Gestão Ambiental/DCAA/ITR/UFRRJ ([email protected]); ([email protected]);²Tecnóloga em Gestão Ambiental-FMU/2011 e Graduanda em Gestão Ambiental/DCAA/ITR/UFRRJ ([email protected]); Socióloga, Professora Adjunta DCJS/ITR/UFRRJ ([email protected]) Apresentado no II Congresso Brasileiro de Reflorestamento Ambiental – 23 a 26 de outubro de 2012 – SESC Centro de Turismo de Guarapari, Guarapari - ES. Resumo - Os efeitos da agricultura convencional foram rapidamente perceptíveis na contaminação e erosão do solo, na contaminação dos corpos hídricos e no agravamento das desigualdades sociais no campo. Como resposta a esses fatos surgiu a agroecologia que diferentemente da agricultura convencional, visa o equilibro da produção com o meio físico e biológico, o respeito aos saberes e recursos locais, a contrução de formas socialmente justas de produção e consumo, a diminuição das externalidades, tornando a prática sustentável. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo descrevera mobilização dos pequenos agricultores da região metropolitana do Rio de Janeiro em torno da agroecologia, aderindo a novas práticas, construindo novos mercados e formas de inserção política. A pesquisa realizada temcaráter qualitativo, analítico-descritivo e exploratório. Foi construída a partirde reflexões realizadas no grupo Proext/MEC 2012 da UFRRJ e da participação no II Encontro Metropolitano de Agroecologia, realizado em setembro de 2012. Afim de uma melhor compreensão e entendimento sobre o trabalho dos agricultores, foram realizadas entrevistas com feirantes da recém-inaugurada Feira da Agricultura Familiar de Magé/RJ e visitas a algumas propriedades. A produção agroecológica é um possível caminho para o desenvolvimento sustentável, pois tem como princípio básico a promoção do desenvolvimento agrícola sem, contudo, comprometer a continuidade dos recursos naturais às gerações futuras. Palavras-chave: agricultura-orgânica, sustentabilidade, agricultura familiar. Introdução Para atender a demanda agrícola mundial crescente, inovações tecnológicas foram necessárias para transformação de tal atividade. Segundo Aroeira e Fernandes (apudABREU e NETO, 2007) a agricultura mundial foi impulsionada significativamente nas décadas de 60 e 70 com a chamada "Revolução Verde", em que as práticas de correção e fertilização do solo, de mecanização, assim como a utilização de agrotóxicoscontra pragas e doenças, impulsionaram a produção de alimentos para patamaresnunca antes experimentados. Entretanto, os efeitos da agricultura convencional foram rapidamente perceptíveis na contaminação e erosão do solo e na contaminação dos corpos hídricos. Como resposta a esses fatos: “... nos anos 80,práticas menos agressivas ao ambiente passaram a ser experimentadas e adotadas. Os novosanseios que envolviam a produção de alimentos despertaram o mundo para sistemas deprodução mais conservacionista e a palavra ecologia ganhou significado especial. Surgem, então, os sistemas alternativos com propostas ambiciosas para a produção de alimentos emharmonia com o meio ambiente,” (ABREU e NETO, 2007). De acordo com Moreira e Carmo (2007) deve-se fazer uma desconstrução dos modelos convencionais de desenvolvimento e agricultura, seguida de uma desmitificação do conceito genérico de desenvolvimento sustentável para abrir caminhos para a compreensão dos graves problemas socioambientais enfrentados pelo meio rural, e que eles não serão resolvidos apenas com o avanço tecnológico. O Manual “Boas Práticas Agrícolas para a Agricultura Familiar”, preparado pelo Grupo de Agricultura do Escritório Regional da FAO, conceitua Boas Práticas Agrícolas como um conjunto de princípios, normas e recomendações técnicas aplicadas para a produção, processamento e transporte de alimentos, orientadas a cuidar da saúde humana, proteger ao meio ambiente e melhorar as condições dos trabalhadores e sua família. Diante desse contexto,objetiva-se neste trabalho descrever a experiênciados pequenos agricultores da região metropolitana do Rio de Janeiro em torno da agroecologia, suas práticas agrícolas e seu empenho em mostrar à sociedade que há formas de cultivo alternativas e caminhos viáveis para a manutenção da pequena agricultura familiar. Material e Métodos A pesquisa realizada caracteriza-se pelo seu caráter qualitativo, analítico-descritivo e exploratório, além de reflexões realizadas no grupo Proext/MEC 2012 da UFRRJ e na participação no II Encontro Metropolitano de Agroecologia, no qual realizou-se entrevistas com pequenos agricultores de Magé, em uma feira de agricultura familiar em um distrito da cidade e visitas às propriedades. Resultados e Discussões Entende-se por desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento que seja economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto, o chamado tripé da sustentabilidade. Pelos moldes atuais de agricultura, esse tripé não está formado, já que esta, está inserida em um modelo econômico que beneficia poucos trazendo desigualdade social, um modelo que é formado por monocultoras, o que ocasiona uma considerável perda da biodiversidade e que a cada dia precisa de uma demanda maior de defensivos, acarretando em uma alimentação cada vez mais tóxica. O II Encontro Metropolitano de Agroecologia que ocorreu nos dias 31/08, 01/09 e 02/09 de 2012 no Distrito de Magé, foi composto por estudantes, educadores, agricultores e representantes de instituições do 3º setor, todos com uma mesma finalidade, encontrar caminhos alternativos para o atual modelo agrícola. Sabe-se que não se tem uma única resposta e nem um único caminho para alcançar o “Desenvolvimento Sustentável”, no entanto buscou-se entender como está sendo a luta dos agricultores que acreditam em uma reforma agrária, que possibilite a produção sem uso de defensivos e fertilizantes, que permita uma alimentação saudável e digna para todos e que dê aos agricultores e a seus dependentes condições de permanecerem na terra. A Agroecologia nos traz a ideia e a expectativa de uma nova agricultura, capaz de fazer bem aos homens e ao meio ambiente como um todo, afastando-nos da orientação dominante de uma agricultura intensiva em capital, energia e recursos naturais não renováveis, agressiva ao meio ambiente, excludente do ponto de vista social e causadora de dependência econômica. (CAPORAL e COSTABEBER, 2002). Através dos relatos dos agricultores presentes no evento, pode-se avaliar que é constante a busca por alternativas para sanar os problemas oriundos do modelo atual de agricultura, onde muitos deles já abandonaram o modelo convencional e os que ainda não o fizeram estão em fase de transição, isto é, muitos agricultores diminuíram o uso de defensivos químicos em seus produtos, sendo que um ponto em comum entre eles é a busca por pontos de comercialização de seus produtos e a necessidade de criar uma rede que entenda e trabalhe com a produção “limpa”, orgânica. Um exemplo de luta pelo reconhecimento como agricultores, que pôde ser registrado no II Encontro Metropolitano de Agroecologia, está o caso dos produtores do Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB) na zona oeste do município do Rio de Janeiro, que por se tratar de um parque, não admite práticas agrícolas e nem o uso direto do solo. Mas anterior a Lei Estadual No 2.377, de 28 de Junho de 1974 que transformou, delimitou e fundou o parque, já havia produtores rurais que tiravam daquele espaço o subsídios para alimento de suas famílias e faziam uso de técnicas rústicas e em pequena escala de produção. Com a criação da UC, foram aos poucos incorporando práticas orgânicas e agroecológicas e lutam pelo direito a permanecer neste território. Afim de uma melhor compreensão e entendimento sobre seus trabalhos, realizou-se uma entrevista com feirantes que praticavam a agricultura familiar em Magé, na feira localizada em Piabetá, um bairro em Magé, aos sábados no período da manhã, com 20 barracas expostas, sendo 16 de agricultores e quatro de produtos artesanais. Desenvolveu-se a síntese do diagnóstico que está exposto nos gráficos abaixo. Verifica-se que no Gráfico 1, 7 dos 16 agricultores da feira fazem a utilização de algum produto químico como Randap, Kapina, Glisefato, etc, em sua produção. Muitos deles são destinados ao combate de pragas, doenças e capins. Contudo, ressaltaram que a utilização é feita em pequena quantidade e em somente algumas produções e que estão tentando diminuir cada vez mais. Isso demonstra perfeitamente que a feira de Magé é composta por agricultores que estão em fase de transição da agricultura convencional para a agricultura agroecológica. Gráfico 1: Sistema de Produção Agrícola Conforme exposto pelo Gráfico 2, 10 dos agricultores, isto é, 62,5% vivem de outras atividades ou recurso além da agricultura como: venda de roupas de praias, aposentadorias, etc, mostrando que a sobrevivência somente da agricultura se torna uma prática difícil. 12 Fonte de Renda 10 8 6 4 2 0 Somente Agricultura Agricultura e outras Gráfico 2: Fonte de Renda dos Agricultores Conclusões A produção agroecológica é um possível caminho para o desenvolvimento sustentável, pois tem como princípio básico a promoção do desenvolvimento agrícola sem, contudo, comprometer a continuidade dos recursos naturais às gerações futuras. A partir das entrevistas realizadas com os pequenos agricultores de Magé e os estudados pelo grupo do PROEXT/2012, observa-se que eles possuem uma visão holística da necessidade de uma produção limpa e que traga alimento de qualidade a todos. Mas, muito mais do que ir contra a utlização de defensivos e fertilizantes, a lição que fica do encontro metropolitano e das pesquisas realizadas é que precisa-se urgentemente olhar para o solo e ver a vida que há ali, entendendo que tudo está interligado como uma teia e que o dano causado nesse pelo uso de produtos químicos, irá trazer consequências a nossa saúde. A agroecologia surge em resposta ao exaustivo sistema convencional de produção, mas não trata-se unicamente de técnicas agrícolas, ela vai além dar voz aos pequenos agricultores e mostrar que há outras maneiras de ser viver em equilibrio com a natureza. A produção em base familiar e a adesão a cultivos orgânicos são formas de organização e produção que estão inseridas na agroecologia e que puderam ser identificadas neste movimento. Referências Bibliográficas ABREU, Michelly Balbino; NETO, Canrobert Costa. Sustentabilidade Agroecológica entre Agricultores Familiares Assentados: um estudo da produção animal no assentamento fazenda São Fidélis – Rio de Janeiro. Disponível em: <www.cnpat.embrapa.br/sbsp/anais/Trab_Format_PDF/144.pdf > Acesso em: Setembro de 2012. CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio. Agroecologia. Enfoque científico e estratégico. Agroecol.eDesenv.Rur.Sustent., Porto Alegre, v.3, n.2, abr./junh.2002 GRUPO DE AGRICULTURA DO ESCRITÓRIO REGIONAL DA FAO. Manual "Boas Práticas Agrícolas para Agricultura Familiar". Disponível em: < http://www.ceasa.gov.br/dados/publicacao/pub45.pdf> Acesso em: Setembro de 2012. MOREIRA, Rodrigo Machado, Carmo, Maristela Simões do. A Agroecologia na Construção do Desenvolvimento Rural Sustentável. Rev. Bras. Agroecologia, v.2, n.1, fev. 2007