FACULDADE MARECHAL RONDON COORDENAÇÃO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO AGRICULTURA FAMILIAR E AGRICULTURA CONVENCIONAL (PATRONAL): AS FACETAS DA AGRICULTURA NACIONAL PIERRE CLEMENTE DA SILVA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Marechal Rondon – São Manuel, para obtenção do título de Bacharel em Administração com habilitação em Marketing. SÃO MANUEL - SP Novembro – 2004 FACULDADE MARECHAL RONDON COORDENAÇÃO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO AGRICULTURA FAMILIAR E AGRICULTURA CONVENCIONAL (PATRONAL): AS FACETAS DA AGRICULTURA NACIONAL PIERRE CLEMENTE DA SILVA Orientador: Profº Msc. Paulo André de Oliveira Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Marechal Rondon – São Manuel, para obtenção do título de Bacharel em Administração com habilitação em Marketing. SÃO MANUEL - SP Novembro - 2004 II “Não faça metas pequenas porque elas não têm a magia de elevar e motivar as almas dos homens.” S. W. Kimball III DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha avó, por ter suportado e compreendido minhas inúmeras crises de mau humor, e também pelo amor que me concede; o qual me motiva na busca incessante do conhecimento. IV AGRADECIMENTOS À Deus, pela dádiva da vida, paciência, sabedoria e inteligência. Por Ter me proporcionado construir conhecimento e aumentar minha fé e amor por Ele. Novamente à minha avó, pela sua dedicação, incentivo e amor incondicional; que por seu exemplo plantou e cultivou em meu ser, esperança, cujo bálsamo arranca minhas dores e perfuma o caminho que me conduz rumo ao ápice do desenvolvimento humano e profissional. Ao meu amigo e Orientador Profº. Msc. Paulo André de Oliveira e a um ser muito especial, Profª. Dra. Rosaly Mara Senapeschi Garita, pelo acréscimo de conhecimento em minha vida. Aos meus dois grandes amigos, Silvério Gomes e Mislene Beatriz Ciconi, pela compreensão e ombro amigo nos momentos de dificuldades. V SUMÁRIO Resumo......................................................................................................................... VI Abstract........................................................................................................................ VII CAPÍTULO 1: Introdução........................................................................................... 08 1.1 Objetivos................................................................................................................ 09 1.2 Justificativa............................................................................................................ 10 CAPÍTULO 2: Metodologia........................................................................................ 11 2.1 Estrutura do Trabalho............................................................................................. 12 CAPÍTULO 3: Agricultura Familiar........................................................................... 13 CAPÍTULO 4: Desenvolvimento Sustentável............................................................. 44 CAPÍTULO 5: Agricultura Convencional (Patronal), ou ainda Industrial.................. 48 CAPÍTULO 6: Conclusão........................................................................................... 64 Referências Bibliográficas.......................................................................................... 66 VI RESUMO A agricultura familiar apresenta-se como uma alternativa na geração de empregos e de alimentos de grande importância para a agricultura. Porém traz em seu sistema, deficiências no aspecto produtivo por não poder adquirir os melhores meios de produção; o que não ocorre com a agricultura convencional(patronal), por isso a necessidade de haver políticas agrícolas adequadas e ajustadas para ambos os sistemas é vital e imprescindível. Este trabalho tem como objetivo um efetivo estudo desses meios de produção o qual poderá demonstrar as melhores qualidades e também as desvantagens de cada um; levantar pontos relevantes nas administrações desses sistemas, os quais ditarão o sucesso da viabilidade econômica de um desenvolvimento agrícola equilibrado entre os dois sistemas através de políticas sociais e créditos de financiamentos produtivos e fundiários mais justos. Será necessário para tanto que sejam revistos conceitos extremamente relevantes, os quais estão inseridos na cultura agrícola do Brasil, e unicamente pelo fato da agricultura familiar apresentar-se como participante do desenvolvimento da agricultura brasileira e não mais como simples exploração de subsistência. Partindo desses princípios, promover uma agricultura por meio de um desenvolvimento equilibrado e com um menor grau de impactos de degradação possíveis, levando a agricultura brasileira a um patamar de equilíbrio produtivo nunca antes experimentado. Palavras-chave: Agricultura familiar, Desenvolvimento, Equilíbrio produtivo. Agricultura convencional, Administração, VII Family Agriculture and Conventional (Patronal) Agriculture: The facets of National agriculture. São Manuel, 2004. 68p. First Degree Conclusion Thesis (Business Administration Majoring Marketing) – Faculdade Marechal Rondon. Author: Silva, Pierre Clemente da Adviser: Oliveira, Paulo André de ABSTRACT Family agriculture is presented as an alternative in the generation of jobs and foods of great importance for agriculture. However it brings in its system, deficiencies in the productive aspect for not being able to acquire the best means of production; what it does not occur with conventional (patronal) agriculture, therefore the necessity to have agricultural politics adequate and adjusted for both the systems is vital and essential. This work has as objective an effective study of these means of production which will be able to also demonstrate to the best qualities and the disadvantages of each one; to raise relevant points in the administrations of these systems, which will dictate the success of the economic viability of a balanced agricultural development enter the two systems through social politics and credits of righter productive and agrarian financings. It will be necessary for that concepts are reviewed extremely relevants, which are inserted in the agricultural culture of Brazil, and for the fact of family agriculture to present itself solely as participant of the development of Brazilian agriculture and not more as simple exploration of subsistence. Leaving of these principles, to promote an agriculture by means of a balanced development and with a lesser degree of possible impacts of degradation, taking Brazilian agriculture to a platform of productive balance never before tried. Key words: Family agriculture, Conventional agriculture, Administration, Development, Productive balance. 8 CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO A agricultura familiar apresenta-se como uma alternativa na geração de empregos e de alimentos de grande importância, tanto para o setor rural quanto para o urbano. Considerando-se a agricultura familiar como uma empresa percebe-se deficiências no aspecto produtivo como ocorre na maioria das micro e pequenas empresas. Na aquisição dos insumos necessários para a produção, a agricultura familiar ressente-se de não poder adquirir os melhores meios de produção como terra, tratores, defensivos e a melhor tecnologia. Com exceção de algumas iniciativas isoladas a totalidade tecnológica disponível está direcionada exclusivamente à agricultura patronal. A questão que se coloca é a necessidade de haver políticas agrícolas específicas para a agricultura familiar que vão desde o crédito especial a tecnologias voltadas para este tipo de agricultura. Por outro lado, a agricultura patronal é de grande produtividade, possuindo acesso aos melhores fatores de produção onde são direcionados quase que exclusivamente para a obtenção de lucro, principalmente através de produção de commodities agrícola para a exportação. Este paradoxo entre a agricultura familiar e a agricultura patronal norteia o presente trabalho. 9 1.1 Objetivo Este trabalho tem como objetivo verificar através da comparação da agricultura familiar com a agricultura patronal, e nestas tais formas de produção aqui estabelecidas, que um efetivo estudo desses meios de produção poderá demonstrar as melhores qualidades e também as desvantagens de cada uma. Com isso o presente trabalho tem a responsabilidade e o objetivo de levantar pontos considerados relevantes nas administrações desses sistemas, para que se inicie a evolução de um ciclo de estudos essenciais permanentes (constantes), os quais ditarão o sucesso da viabilidade econômica de um desenvolvimento agrícola (equilibrado entre os dois sistemas) e, portanto através de políticas sociais e créditos produtivos de financiamentos e fundiários mais justos, desestruturar a mentalidade falha que persiste no fomento econômico convencional (patronal), como sendo o único modelo de desenvolvimento agrícola brasileiro a receber todos os méritos de investimentos creditícios disponibilizados para o crescimento e, portanto como a única fonte geradora de divisas capazes de elevar o potencial produtivo brasileiro a um grau de produtividade tecnológica, ecológica e social passível de um equilíbrio economicamente viável. Portanto, nessa mesma linha de raciocínio é de extrema importância que se perceba nesses dois sistemas tão importantes em suas respectivas esferas de produtividade com caráter essencialmente unilateral dentro, principalmente da visão convergente do desenvolvimento agrícola deste país, que ambos os sistemas possam caminhar de mão dadas e desfrutarem das mesmas condições e oportunidades tecnológicas e créditos disponíveis. 10 1.2 Justificativa Torna-se imprescindível que se faça um sério e profundo estudo para desacelerar e até mesmo sanar essa deficiência que dificulta que a agricultura brasileira ocupe definitivamente um lugar de destaque na economia mundial, promovendo uma agricultura por meio de um desenvolvimento intrinsecamente equilibrado, e com um menor grau de impactos de degradação possíveis. Objetivando um programa de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) para uma produtividade com maior eficácia, dentro das alternativas do fator tecnológico que deve ser disponibilizado para ambos os sistemas produtivos; há a necessidade de se considerar que todos os recursos naturais renováveis sejam utilizados indiscutivelmente de forma a preservar o máximo possível, por todos os meios a capacidade de sustentabilidade desses recursos, levando a agricultura brasileira a um patamar de equilíbrio produtivo nunca antes experimentado. 11 CAPÍTULO 2: METODOLOGIA Para atingir os objetivos propostos, a metodologia adotada consistiu no desenvolvimento de um estudo de base bibliográfico como segue: Com a pesquisa bibliográfica buscou-se a análise e interpretação de fontes secundárias, tais como, fichamentos baseados em artigos científicos, em revistas técnicas educacionais, livros, dissertações, monografias e teses sobre o assunto pesquisado via endereços idôneos na internet. Segundo Severino (2000), uma pesquisa bibliográfica tem por objetivo descrever e classificar livros e documentos similares, segundo critérios tais como autor, gênero literário, conteúdo temático, data etc. Dessa técnica resultam repertórios, boletins catálogos bibliográficos. E é a eles que se deve recorrer quando se visa elaborar especial referente ao tema do trabalho. Fala-se em bibliografia especial porque a escolha das obras deve ser criteriosa, retendo apenas aquelas que interessem especificamente ao assunto tratado. Ainda de acordo com Severino (2000), o estudioso encontra nas fontes acima citadas informações bibliográficas para trabalhos de cunho científico nas respectivas áreas. 12 2.1 Estrutura do trabalho Este trabalho está estruturado nos seguintes capítulos: Agricultura familiar - neste capítulo procurou-se discorrer sobre as dificuldades encontradas neste sistema diante dos fatores produtivos e creditícios no Brasil e também demonstrar a sua importância para a agricultura e a sociedade. Desenvolvimento sustentável – buscou-se neste capítulo uma conscientização de preservação do ecossistema na exploração da agricultura, através de um breve relato teórico informativo, educativo explicativo. Agricultura patronal – tratou-se neste capítulo da viabilidade produtiva deste sistema, porém a ênfase dada procurou salientar que mesmo estes sistemas, familiar e patronal serem bastante distintos em muitos aspectos produtivos torna-se imperativo que o governo formule leis, as quais possam fomentar um equilíbrio de desenvolvimento entre estes dois sistemas. Conclusão – Relatou-se neste capítulo, a necessidade de políticas específicas, porém enfatizando a importância de ambos os sistemas dentro de suas respectivas esferas, para a economia Nacional brasileira. 13 CAPÍTULO 3: AGRICULTURA FAMILIAR De acordo com Moura et al. (2002) no trabalho realizado para o Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da UFRGS, “... é fundamental que a agricultura familiar seja reconhecida pela sociedade, destacando-se a importância na produção de alimentos, na geração de empregos e na distribuição de renda e terra. Devido a sua heterogeneidade, a definição de agricultura familiar encontra muitos conceitos, dentre eles pode-se destacar o posicionamento de alguns autores e entidades. Para a FAO/INCRA, três características podem ser associadas à agricultura familiar: a) a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos por indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou casamento, b) a maior parte do trabalho é igualmente fornecida pelos membros da família, e c) a propriedade dos meios de produção (embora nem sempre da terra) pertence à família e é em seu interior que se realiza sua transmissão em caso de falecimento ou de aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva. Já em Lamarche (1993), encontra-se como definição de agricultura familiar o termo ‘exploração familiar’ como sendo ‘uma unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à família’. Independentemente da definição atribuída, para alguns a persistência da forma de produção da agricultura familiar é resíduo tradicional pré-capitalista, condenado a desaparecer com o transcurso da modernização das estruturas econômicas dominantes e com a globalização dos mercados. A agricultura familiar, portanto, convive e interage com as estruturas sócioeconômicas maiores, com tipos de agentes, modificando suas condutas e padrões produtivos e as novas restrições ao potencial que ela representa. Não existe praticamente consenso quanto 14 à classificação e caracterização da agricultura familiar. Contudo, alguns atributos poderão ser descritos para caracterizar este tipo de exploração. Segundo dados da FAO (1995) existiam no Brasil um total de 5.801.809 estabelecimentos familiares sendo assim distribuídos: Região Norte (543.337); Região Nordeste (2.798.239); Região Sudeste (993.978); Região Sul (1.198.542) e na Região Centro Oeste 267.337 estabelecimentos familiares. É sugerido também que os estabelecimentos agropecuários com menos de cem hectares, cujas áreas totais correspondem aproximadamente a 23% do total de propriedades existentes, são responsáveis por uma significativa participação na produção agropecuária do País, sendo 89% da mandioca, 80% do feijão, 69% do milho, 67% de algodão, 48% da soja, 39% do arroz e 27% de rebanho bovino. Pelos números fica evidente a importância da pequena propriedade na contribuição para o desenvolvimento do setor agropecuário nacional, Cavalcante (2002). Dados da Federação dos Trabalhadores do Rio Grande Sul (Fetag), informam que agricultura familiar emprega hoje, no Brasil, cerca de 80% das pessoas que trabalham na área rural, representando cerca de 18% do total da população economicamente ativa e responsável por 80% da produção de alimentos consumidos no Brasil. Diante de tais dados, fica evidente a importância da agricultura familiar na contribuição para o desenvolvimento do setor agropecuário nacional. É inquestionável que ela atua como geradora de grande número de produtos para o mercado interno e para a exportação. Também é notório que a agricultura familiar funciona como um elo de emprego a baixo custo social e como fator de correção das distorções de equilíbrio social. Contudo, diante das mudanças que vêm ocorrendo na agricultura, trazendo com elas a concepção do empresário rural que faz uso de novas formas de gerenciamento e, sobretudo do uso de novas tecnologias (mais modernas e mais excludentes, como caso da agricultura de precisão), podese ver que o agricultor familiar, que produz com pouca tecnologia, ou mesmo, sem fazer uso dela, sobretudo no que diz respeito aos seus meios de produção (máquinas e equipamentos), está diante de um grave problema que é a inserção nessa modernização. Neste sentido é fundamental pensar a viabilidade e o desenvolvimento da agricultura familiar não só do ponto de vista econômico-produtivo, mas de forma global, isto é, o conjunto de necessidades que a família e o sistema de produção apresentam para garantir a qualidade de vida à população rural. Além disso, um processo amplo de organização dos agricultores familiares é fundamental, buscando alternativas para a organização dos sistemas de produção e da 15 comercialização, e também formas de associativismo. Uma forma já existente e que tem tido sucesso são os Clubes Amigos da Terra (CAT), onde um grupo de agricultores soma esforços para, conjuntamente, ter maior poder de barganha no momento de aquisição de insumos, venda de maior volume de produção, aluguel de maquinário, dentre outros. Por fim não custa lembrar que, suplantando o aumento da produção agropecuária total, a agricultura familiar é a que responde mais eficiente e rapidamente aos incentivos a plantios de culturas básicas destinadas ao abastecimento alimentar, cada dia mais imprescindível para manter o equilíbrio da economia nacional”. Segundo o pesquisador da Embrapa Morgado (2004) “a agricultura familiar brasileira caracteriza uma forma de organização da produção na qual os critérios utilizados para orientar as decisões relativas à exploração não são vistos unicamente pelo ângulo da produção/rentabilidade econômica, mas abrangem, também, as necessidades e objetivos da família. Ao contrário do modelo patronal, no qual há completa separação entre gestão e trabalho, no modelo familiar esses fatores estão intimamente relacionados”. O autor afirma também que ‘... a agricultura não é um segmento economicamente inviável, mas um segmento que tem sido crescentemente inviabilizado por políticas inadequadas ou ausentes’. Ainda segundo Morgado (2004), “para o aproveitamento efetivo das potencialidades dessa forma de organização da produção, será necessário alterar o modelo de exploração agrícola adotado no Brasil, incorporando à visão econômica uma visão social e outra ecológica, de modo que seja possível priorizar a produção de alimentos com o objetivo de assegurar o abastecimento dos grandes centros urbanos, reter o maior número possível de empregos no campo, preservar o meio ambiente e propiciar uma ocupação mais ordenada do espaço, permitindo, ao mesmo tempo, a elevação do padrão de vida dos agricultores e suas famílias. A agricultura não pode mais ser entendida como tendo apenas a simples função de produzir alimentos. Um novo modelo deve ser efetivado por meio de políticas agrárias e agrícolas, formuladas e operadas com a participação dos agricultores, que abranjam desde aspectos de acesso à terra até os de armazenamento e comercialização, passando pela adequação das condições de crédito, de assistência técnica e pelo redirecionamento da pesquisa com o fim de apropriá-la, prioritariamente, às necessidades e recursos dos agricultores familiares. Um 16 adequado manejo das políticas macroeconômicas pode ser bem mais importante do que a geração de novas tecnologias de produção”. Nesse ínterim, a Revista Rural traz um artigo de reportagem com o então secretário geral da FAF- Federação de Agricultura Familiar, José Luiz das Chagas, “ao assinalar que uma forma de segurar o agricultor em seu meio seria o lançamento de um projeto alternativo de agroindústria, com mini unidades de processamento que possibilitem aos agricultores agregarem valores a seus produtos. A idéia desse projeto, acrescenta, surgiu em 1995, em Brasília, reunindo 130 famílias, ‘concedendo cerca de R$ 5 mil para a montagem do negócio’. O programa permite a industrialização, ainda que elementar, da prudução e os participantes, com os familiares, buscavam nichos de mercado, que é o que se pretende aqui em São Paulo, ‘normalmente na periferia da cidade’, para a comercialização em valores que garantam alguma renda, ‘pois a venda in natura ocorria e ocorre a preços muito baixos, quase de graça’. Num primeiro momento, conta Chagas, eram manipulados produtos como frango, leite e derivados, frutas, entre outros. Os resultados foram positivos, a proposta se alastrou e, atualmente, existem mini agroindústrias em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul (‘cerca de 300’), Paraná, Santa Catarina (‘entre 250 e 300’), além do Rio Grande do Sul. ‘A idéia foi tão boa que chegou a ser exportada para a Bolívia, Chile e Equador’, indica. Foi criada uma lei específica para esse tipo de manufatura, mas a instalação acabou esbarrando em problemas relacionados com a inspeção, padrões de higiene e outras normas que acabaram provocando uma redução nos investimentos”. (GODOY, 2001, p..30) Também no estado de São Paulo ocorreu um problema semelhante por apresentar choque de idéias com o SIF (Serviço de Inspeção Federal); Chagas conta que embora se tenha obtido uma abertura neste sentido, foi elaborada e aprovada uma lei, porém somente diz respeito aos produtos de origem animal, impossibilitando que o estado manipulasse produtos de origem vegetal. Essa mesma federação está tentando resolver este entrave junto ao governo do estado, e até o final de 2001 buscava neutralizar e aprovar uma lei com maior abrangência. (GODOY, 2001). Outro ponto colocado por Chagas, é em relação às linhas de crédito, onde ele aponta para o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), como sendo uma importante fonte de apoio, entretanto por apresentar teores altamente burocráticos 17 e uma série de exigências, impedindo até mesmo que aposentados venham a ter acesso a esses empréstimos. (GODOY, 2001). O presente artigo, apresenta segundo Godoy (2001), ainda em sua reportagem com o secretário geral da FAF José Luiz das Chagas que diz que “de fato, esse entrave é apontado por um estudo do IEA-Instituto de Economia Agrícola, no qual a economista Yara Maria de Carvalho e a agrônoma Vera Lúcia Kuhn, da Cati, avaliam o apoio dado à agricultura familiar no Estado de São Paulo. Em suas conclusões, conforme Revista Rural nº. 24, afirmam que, para o Pronaf se mostrar eficiente ‘tem não só que enfrentar as restrições monetárias próprias do momento atual mas, também, enfrentar o corporativismo de diversos órgãos envolvidos, que buscam adequar o programa às suas linhas tradicionais de atuação, como, por exemplo, o clientelismo na distribuição de verbas do legislativo federal e o oportunismo dos órgãos estaduais e municipais para receber os recursos sem o comprometimento dos agricultores familiares’. Yara e Vera constataram que o Pronaf atende 48 municípios do Estado (em 1999) e ‘atua como linha auxiliar do Feap-Fundo de Expansão da Agropecuária e Pesca (atualmente, a sigla significa Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista), que está voltado, especialmente, para o público que o governo federal não tem sido capaz de atender, ou seja, os produtores sem acesso direto à terra ou carentes de maior subsídio’. Chagas cita que o Feap tem aspectos favoráveis e observa que o Pronaf ‘atende apenas 2% dos agricultores familiares paulistas’, apesar de ter sido uma conquista dos produtores familiares do Sul, principalmente Rio Grande do Sul e Santa Catarina. ‘O projeto inicial, com mais de 100 ítens, foi totalmente vetado pelo governo’. Ao que diz, em São Paulo, o segmento é composto por ‘180 mil famílias consideradas tradicionais e entre 8,5 mil a 9 mil famílias de assentados’ ”. Dentro desta reportagem, Chagas (apud GODOY, 2001) discute a problemática do êxodo rural, onde “para ele, se o governo quer evitar uma migração maciça do campo para a cidade, tem, necessariamente, que elaborar um plano para estimular o agricultor a permanecer no local ou região em que ele exerce sua atividade e, ‘para nós, a montagem de uma mini-agroindústria, não só colabora para essa fixação, como também é de vital importância, pois há uma consciência sobre a necessidade de industrializar o produto e essa é uma posição que não tem volta’, adverte. Quanto aos comentários sobre a distribuição fundiária paulista estar esgotada, ou seja, não há terra suficiente para alojar novos 18 produtores/criadores, Chagas é categórico ao afirmar que isso não corresponde à realidade. ‘Na região noroeste do Estado existem 50 fazendas em via de desapropriação, que mostram potencial para assentar mais de 180 mil famílias’, arremata”. “Contando um pouco da história da FAF, Chagas (apud GODOY, 2001) diz que a entidade foi criada em fevereiro de 2000, buscando uma política específica para agricultores familiares. ‘No Brasil, é a segunda do gênero; a primeira surgiu em Santa Catarina’. A federação surgiu como decorrência do antagonismo existente na estrutura oficial, pela qual, até 1999, a Fetaesp (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo), defendia interesses de empregados e patrões, simultaneamente. Atualmente, a FAF representa oito sindicatos com abrangência regional (‘alguns com influência em até 30 municípios’), com cerca de ‘13 mil associados, entre agricultores familiares e assentados’. Há, ainda, uma expectativa sobre a adesão de mais 10 sindicatos, ‘com o desmembramento de STRs (Sindicatos de Trabalhadores Rurais) da Fetaesp. Isso deve acontecer ainda neste ano’, prevê”. Nas palavras de Chagas “ ‘a intenção é assegurar que o produtor consiga se auto-sustentar, obtendo e garantindo uma qualidade de vida melhor’. Entre outras metas, aponta, ‘para um futuro próximo, uma produção sem agrotóxico, a fim de beneficiar as comunidades urbanas’. Indica, ainda, a realização de debates com várias prefeituras, inclusive a paulistana, para a implantação de ‘um mercado solidário’ com vendas diretas do produtor ao consumidor, eliminando a intermediação. Nessa mesma linha procede um levantamento de associações e cooperativas com vistas a montar mecanismos que facilitem o escoamento da produção. No campo dos obstáculos, aponta problemas para o agricultor familiar aplicar a mecanização na propriedade. Isso, porém, está para ser resolvido com o uso coletivo das máquinas, ‘uma forma de contornar o crédito difícil e caro’. A extensão rural ‘é outra barreira. Dificilmente, com a estrutura atual, ela poderá atender a agricultura familiar, em São Paulo. Isso porque, um município com 300 produtores, tem, na Casa de Agricultura, apenas um agrônomo que trabalha com receituário, ou seja, você vai lá, conta o que acontece e ele dá uma receita sobre as medidas a serem tomadas. A Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), não consegue atender a demanda’ ”. (GODOY, 2001, p. 30 - 32) 19 Neste aspecto está a importância de se dirigir uma administração coerente e muito mais incisiva no tocante a uma união desses sistemas, fazendo com que eles se beneficiem de tecnologias que moldem e ao mesmo tempo corrijam as necessidades inerentes de cada sistema produtivo, no caso aqui discutido, sistema familiar e convencional(patronal). Também um importante avanço nas discusões e iniciativas do governo federal houve quando o mesmo “anunciou em meados do primeiro semestre de 2003 a liberação de R$ 5,4 bilhões para a agricultura familiar na safra 2003/2004. Esta medida, anunciada pessoalmente pelo presidente Luís lnácio Lula da Silva, é uma indicação da importância dada em sua gestão ao setor. Os recursos liberados são 1450% superiores aos R$ 2,2 bilhões que foram liberados para a safra 2002/2003. Parte do montante —R$ 4,4 bilhões - integra o orçamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf, criado em 1995 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Cerca de R$ 1 milhão será destinado a uma nova modalidade do Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger), voltado ao produtor com renda de até R$ 60 mil. Segundo informações do Ministério de Desenvolvimento Agrário, responsável pelo Pronaf, um dos objetivos é aumentar em 400% os contratos. Se o anúncio do aumento no orçamento do Pronaf provocou reações positivas, também recebeu críticas principalmente por representantes do setor, segundo os quais a morosidade na liberação dos recursos e a lista de exigências a serem cumpridas por aqueles que requisitam o crédito acabam prejudicando os agricultores. Segundo o Censo Agropecuário 1995/1996 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a agricultura de base familiar reúne 13,78 milhões de pessoas, metade das quais no Nordeste, 77% do total de agricultores e detém 85% dos estabelecimentos agrícolas do País. Os agricultores familiares são responsáveis por 38% das safras agrícolas e 30,5% das terras cultivadas. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), uma parcela dos agricultores familiares está incorporada ao mercado e ao processo de desenvolvimento, gerando emprego e renda. Entretanto, há uma outra parcela significativa, concentrada especialmente no Nordeste, que enfrenta grandes dificuldades, com baixos níveis de renda e de qualidade de vida. A incorporação e a manutenção desses agricultores no processo de desenvolvimento representa um grande desafio na inclusão social. O Programa de Pesquisa e Apoio a Projetos de Desenvolvimento Rural e Regional, da Embrapa, implantou oito modelos de ações de desenvolvimento, a partir de 20 produtos com significância econômica e social para populações de baixa renda de várias partes do País. São tecnologias prontas para serem utilizadas por famílias ou indivíduos, por meio das quais é possível alavancar mudanças tecnológicas e gerar mais riqueza. A questão da agricultura familiar, no entanto, segundo o agrônomo e expresidente do Incra, Francisco Graziano, e publicado pela REVISTA BRASIL . ISRAEL (2003) deve levar em consideração que, hoje, o conceito de rural é maior que o agrícola ou pecuário. As imensas oportunidades de negócio oferecidas pelo turismo rural e ecológico, o lazer no campo, surgem como valiosas alternativas de renda e emprego. Mais que agricultura, o mundo rural envolve crescentemente atividades de natureza variada nos pequenos municípios, chamados de urbanos pelo IBGE, porém eminentemente dependentes da dinâmica do campo. São essas ‘cidades-rurais’, milhares delas, com seus distritos e povoados, que multiplicam a renda e agregam as comunidades do interior do país. É dentro dessa perspectiva que a Embrapa vem atuando, criando modelos que incluam segmentos de cadeias produtivas. Um dos modelos implantados são as minifábricas de beneficiamento de castanha de caju. A entidade estima que, em 2001, a inovação gerou 1.220 empregos diretos e 6.100 empregos indiretos na região Nordeste. Para cada tonelada de amêndoa de castanha de caju beneficiada, o pequeno agroindustrial obteve uma renda adicional de R$ 654,00. Se o produtor trabalhasse no sistema tradicional, teria obtido uma renda líquida estimada em R$ 423,00 por tonelada, enquanto no novo sistema a renda liquida foi de R$ 1.077,00 por tonelada. O projeto começou a ser implantado no início de 1998, e a cada ano se amplia. Outro aspecto a ser citado como ponto de estabilidade das estratégias para o sucesso de uma agricultura familiar e em conjunto com a agricultura convencional (patronal),canalizada intrinsecamente num equilíbrio que se apóia nas bases principais de sustentabilidade econômica para a erradicação da pobreza e portanto na sua função primordial de fonte alimentar da população do Brasil e quiçá do planeta, pontuado de tecnologias aprimoradas para o desenvolvimento de uma cultura agrícola, que uma vez, mantida ecologicamente correta mostrará ao mundo que todo mal que afeta a sociedade de forma generalizada está na degradação de seu intrincado e complexo ecossistema, e que a eliminação das desigualdades, a manutenção da vida e preservação das espécies é direito inerente a todos os ser vivos locados neste ínfimo ponto azul deste vasto universo; por isso 21 neste trabalho que longe, muito longe de querer ser o dono absoluto da verdade, tenta trazer à tona, e mesmo que superficialmente alguns estudos pautados em pesquisas das mais variadas formas do pensar de estudiosos nestas questões tão elementares na sua simplicidade, porém do mais alto teor e coerência política, social, econômica e ecológica possíveis. Essa lógica, quando bem estruturada dentro de um sentido não só humanístico, mas numa administrabilidade que se volta para o aperfeiçoamento de sistemas desprovidos de neologismos sofismáticos e sim cunhados na força de homens justos que possuem a visão e a ação necessárias para mudar o mundo. A seguir, um artigo enfoca a grande necessidade da gestão aprimorada e sua adequação ao sistema familiar, buscando e ampliando a multifuncionalidade dessa agricultura como rural multifuncional e não mais apenas como uma agricultura de subsistência; traçando dessa maneira estratégias constantes de crescimento para acompanhar gradativamente o potencial de uma agricultura modelo e corretamente sustentável; uma vez que, como exposto no trabalho de Batalha et al. (2003), “o baixo nível tecnológico dos agricultores familiares brasileiros não pode ser explicado apenas pela falta de tecnologia adequada; ao contrário, em muitos casos, mesmo quando a tecnologia está disponível, esta não se transforma em inovação devido à falta de capacidade e condições para inovar. O reconhecimento de que o desempenho e a viabilidade dos agricultores dependem de um conjunto de fatores e agentes que formam um sistema, mais ou menos integrado ou harmônico, desloca a análise para a cadeia agroindustrial e requer um enfoque sistêmico. Segundo Pedroso (1999) a tecnologia pode ser visualizada segundo três níveis de análise: (1) nível macro – análise dos sistemas internacionais e nacionais de P&D e I; (2) nível mesoanalítico – estuda a tecnologia no âmbito dos setores industriais; (3) nível micro-analítico – estuda a tecnologia no contexto das firmas e arranjos empresariais. Ainda segundo este mesmo autor, a tecnologia pode ser classificada em cinco categorias: (1) tecnologia de processos; (2) tecnologia de materiais; (3) tecnologia de produtos e serviços; (4) tecnologia da informação; (5) tecnologia de gestão. Todas as categorias são relevantes, interagem entre si e são condicionadas – e têm efeitos por fatores macro, meso e micro. Estas classificações são úteis para avaliar a tecnologia de gestão para a agricultura familiar. Em primeiro lugar, é preciso reafirmar a importância do nível micro e das aplicações das unidades produtivas da tecnologia de produto, processo e gestão que as coloquem em condições de competir nos mercados em que atuam. Em se tratando da 22 agricultura – cada vez mais integrada a uma complexa cadeia que atravessa os três setores tradicionais – ganha importância o domínio de todas as tecnologias que implicam em melhor coordenação dos sistemas produtivos (p.ex. a tecnologia da informação). A identificação das tecnologias de gestão como parte fundamental dos conhecimentos e técnicas que uma empresa, rural ou não, deve dominar para obter sucesso no seu negócio. No âmbito dos sistemas agroindustriais, o sentido mais imediato atribuído ao termo tecnologia é aquele vinculado às tecnologias de produto e processo. A esmagadora maioria das atividades de pesquisa e desenvolvimento realizadas no Brasil, para a agropecuária em geral e para a agricultura familiar em específico, preocupa-se com aspectos ligados a processos de produção e, secundariamente, ao desenvolvimento de novos produtos. A tecnologia de gestão, que deveria formar ao lado das tecnologias de produto e processo um tripé fundamental para a competitividade sustentada das cadeias agroindustriais nacionais, é muitas vezes mal compreendida e negligenciada quanto a sua importância. Em que pese o esforço de pesquisa mencionado, é preciso reconhecer que muito pouco tem sido feito em termos de desenvolvimento de técnicas de gestão que contemplem as particularidades da agricultura familiar e as formas pelas quais ela pode inserir-se de forma competitiva e sustentada no agronegócio nacional. Embora inseridas em lógicas produtivas locais, circunscritas a territórios determinados, a agricultura familiar vê-se exposta a paradigmas competitivos que são globais. Assim, independente dos mercados aos quais destinam a sua produção ou dos canais de comercialização que utilizam, pelo menos o segmento de agricultores familiares muito integrados e integrados devem poder contar com ferramentas de apoio à decisão adequadas à sua cultura ‘organizacional’ e limitações em termos de educação formal e condições gerais do meio no qual estão inseridos. Essas ferramentas não são apenas úteis, mas cada vez mais indispensáveis para a competitividade sustentada dos seus empreendimentos. Este artigo tem como objetivo principal apresentar as características gerais do que se convencionou chamar gestão agroindustrial e criticá-las no que se refere ao seu uso pelos agricultores familiares. O artigo argumenta que a falta de pesquisas sobre o tema, aliada a baixa capacidade de absorção e utilização de ferramentas gerenciais modernas pelos agricultores familiares é um entrave importante à competitividade deste importante segmento da agropecuária nacional. Para tanto, o artigo divide-se em cinco partes principais. A primeira parte, além de introduzir o artigo, contextualiza a tecnologia de gestão frente a outros 23 conteúdos tecnológicos (processos, produtos e serviços, materiais e tecnologia da informação). A segunda seção apresenta as características gerais da gestão agroindustrial, ao passo que a seção subseqüente particulariza estas características para a agricultura familiar. A quarta parte do artigo pretende traçar um rápido panorama da aplicação da tecnologia de gestão à agricultura familiar brasileira. Este panorama é dividido em duas esferas de análise. A primeira delas está relacionada a gestão da propriedade rural e a segunda a gestão de formas associativas de produtores agrícolas familiares. Ao longo dos últimos anos, tem se tornado claro para a comunidade acadêmica, empresarial, e para formuladores e gestores das políticas públicas, que a competitividade da agropecuária nacional – até mesmo da agricultura familiar – somente poderá ser construída, em bases sustentáveis, por meio da adoção de práticas que estimulem a cooperação entre os agentes econômicos de uma cadeia produtiva e, complementarmente, entre estes e os poderes governamentais. Não é suficiente lograr resultados expressivos isoladamente em um elo da cadeia; a elevação da produtividade por ser facilmente anulada pelo manuseio inadequado do produto por parte do empacotador, reduzindo seu preço e afetando a competitividade de toda a cadeia. Coloca-se aqui dois problemas, o da gestão vertical e horizontal. Como considerar as ações individuais para obter resultados consistentes? É crucial, portanto, desenvolver a capacidade de mecanismos de coordenação do sistema como um todo, respeitando e levando em conta as especificidades do conjunto de agentes envolvidos. O problema de encontrar mecanismos, públicos e privados, que auxiliem na operacionalização da coordenação da cadeia agroindustrial e que permitam a inclusão da agricultura familiar nestes sistemas. Admitir que a competitividade sustentada de uma dada empresa rural, familiar ou patronal, está relacionada com a competitividade do sistema no qual está inserida significa mudar, às vezes, profundamente a maneira desta empresa visualizar e gerenciar seus negócios. Confrontadas com a já difícil tarefa de gerir sua realidade individual – marcada, como vimos, pela adversidade – as unidades agrícolas familiares são agora compelidas pela necessidade, a participar e gerenciar um espaço de decisões e de ações muito mais complexo do que o lote ou imóvel de cada produtor: o sistema agroindustrial no qual elas estão inseridas. Longe de ser uma especulação teórica, ou um cenário hipotético para um futuro longínquo, esta situação já é uma realidade cada vez mais presente para um grupo importante de agricultores familiares. Especialistas das mais diversas correntes de pensamento admitem que uma das maneiras de 24 fortalecer a agricultura familiar é agregar valor aos seus produtos. Esta agregação de valor pode ocorrer de várias formas. As principais estão relacionadas ao desenvolvimento e comercialização de produtos que destaquem características como: o caráter social da agricultura familiar; a territorialidade do local onde esses produtos são fabricados; o sabor diferenciado originado de alguma característica artesanal do processo produtivo; a justiça social implícita em produtos que aumentem a renda dos pequenos agricultores; etc. Estas oportunidades estão longe de viabilizar a agricultura familiar tradicional, e dependem, todas elas, de capacidade de inovação dos produtores e de condições para superar as restrições da produção individual. De um lado, essas formas de agregar valor e explorar vantagens potenciais da agricultura familiar requerem a superação da restrição de escala imposta pela pequena área. De outro lado, requer articulações e coordenação dos produtores, já que superar a restrição de escala e agregar valor passa pela formação de redes de pequenos agricultores que organizados de forma associativa possam estabelecer mecanismos de certificação, rastreabilidade, monitoramento e punição para aqueles que desrespeitem as regras definidas pelo grupo. Essas redes são também essenciais para aumentar a escala de produção, ganhar poder de barganha e atingir mercados que individualmente seriam inacessíveis; sua operacionalização demanda atividades de articulação e gerenciamento que extrapolam em muito as fronteiras das unidades individuais de produção agropecuária. O lançamento recente do programa de agroindustrialização do Pronaf, que estimula a formação destas redes, mostra claramente que este é um dos caminhos que o atual Governo Federal pretende trilhar para fortalecer a agricultura familiar. Desta forma, às dificuldades de gerenciamento da sua unidade de produção os agricultores familiares devem somar aquelas ligadas às redes das quais participam. Além disso, deve-se ainda considerar que estes mesmos agricultores devem ser capazes de gerenciar suas relações a montante e a jusante da cadeia produtiva. ‘Comprar bem e vender bem’ é tão importante quanto ‘produzir bem’. Esta afirmação não vale apenas para os agricultores patronais, mas é ainda mais verdadeira para os familiares, os quais enfrentam maiores restrições de recursos e por isto mesmo devem utilizar os disponíveis da melhor maneira possível. Os ganhos de produtividade originados em anos de investimentos em tecnologias de processo podem ser perdidos se o agricultor não conseguir acessar mercados que remunerem adequadamente os seus produtos. Pode-se dizer que os desafios gerenciais da agricultura familiar situam-se em dois níveis diferentes de atuação: gestão de 25 sistema e da propriedade. O primeiro nível diz respeito à necessidade de desenvolver capacidade e ferramentas para abordar as relações sistêmicas dos agricultores familiares com os outros agentes das cadeias agroindustriais, até – e talvez particularmente – as relações entre os próprios agricultores familiares. A necessidade de promover capacidade de articulação entre os próprios agricultores coloca-se como um desafio maior e mais estratégico, uma vez que sem isto os agricultores familiares ficariam dependentes de outros agentes — comerciantes e indústrias— que em geral tem maior liderança e capacidade para promover a articulação e coordenação das atividades em torno de projetos economicamente viáveis. Ocorre que esses agentes não estão presentes em todas as áreas de concentração de agricultores familiares e, mesmo quando estão não significa que tenham interesse/condições de articular-se com pequenos produtores; na prática, cada vez mais a própria inserção dos familiares nestas cadeias/sistemas depende de organização prévia entre eles. O segundo nível diz respeito à gestão individual das propriedades. As dificuldades neste nível estão ligadas a alguns aspectos fundamentais: inadequação das ferramentas gerenciais existentes à realidade da agricultura familiar; baixo investimento em P&D nesta área; descapitalização dos pequenos agricultores que não podem ter acesso e beneficiar-se das modernas tecnologias de informação; baixo nível de educação formal dos agricultores familiares; falta de uma cultura que crie um ambiente propicio à adoção de novas tecnologias de gestão e, finalmente, falta de capacitação adequada dos técnicos responsáveis pela assistência técnica aos produtores. A utilização de ferramentas gerenciais aplicadas tanto à gestão de redes de agricultores como às propriedades coloca-se como condição para os agricultores familiares explorarem novas oportunidades que se abririam a partir da formação das redes e da aplicação de tecnologias e práticas que requerem um nível de gestão da produção mais sofisticado. De fato, a aplicação dessas ferramentas poderia permitir aos agricultores familiares atender condições essenciais para ter acesso a canais importantes de distribuição de produtos alimentares. Além disso, o desenvolvimento da capacidade de gestão coloca-se como condição para reduzir ou anular vantagens competitivas adquiridas por outros grupos em áreas tradicionais dos agricultores familiares. Muitas vezes o principal problema dos agricultores familiares não se encontra nas técnicas agropecuárias que, dentro da realidade de cada produtor, estão plenamente disponíveis. Ele reside, sobretudo, na compreensão do funcionamento dos mercados, que impõe articulação com os segmentos pré e pós-porteira, novas formas de negociação e 26 práticas de gestão do processo produtivo. Além disso, é necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre a articulação com os agentes da cadeia de produção e a conseqüente perda de poder decisório, em troca da maior rentabilidade e estabilidade. A inadequação de grande parte das ferramentas modernas de gestão, desenvolvidas para setores outros que o agroindustrial, tem como origem as especificidades que particularizam os sistemas agroindustriais de produção, nos quais encontra-se inserida a agricultura familiar. Algumas destas particularidades, bem como seus impactos sobre a agricultura familiar, são conhecidas e estão destacadas abaixo. Grande parte das matérias-primas da chamada agroindústria de primeira transformação é obtida diretamente da atividade agropecuária. Esta condição faz com que o aprovisionamento destas matérias-primas esteja sujeito a regimes de safra e entressafra. Esta característica introduz dificuldades importantes para a rentabilização dos capitais investidos e para o planejamento e controle da produção agroindustrial. Desta forma, a indústria e os consumidores finais tendem a atribuir maior valor aos produtos vendidos em períodos de entressafra. Além disso, pode-se pensar também em aproveitar o período de entressafra em outros países para melhor colocar os nossos produtos no mercado internacional. Isto já vem acontecendo, com relativo sucesso, com algumas frutas brasileiras. Em algumas regiões do país os agricultores já vêm se organizando em rede para poderem fornecer para a indústria ao longo do maior período do ano possível. Estas providências demandam um conhecimento aprofundado do mercado e de mecanismos contratuais que garantam relações de troca adequadas tanto para os agricultores como para os seus clientes. Nestes casos, ganham importância os chamados sistemas gerenciais de informação (SIG), com especial atenção para as informações ligadas ao marketing. Os agricultores familiares, que produzem em volume mais baixo e na maioria dos estados estão dispersos geograficamente, dispõem de pouco capital de giro e têm dificuldades para obtenção de crédito, enfrentam maiores dificuldades tanto para lidar com o problema da sazonalidade da produção como para dela tirar proveito. Exceto naqueles ramos nos quais a sazonalidade é menos intensa e nos quais é possível estabelecer processo de produção continuada (aves, suínos, leite e hortaliças, por exemplo), a agroindústria tem preferência em estabelecer contratos com produtores de maior porte, com maior capacidade de armazenagem e de ampliar a oferta em resposta a condições favoráveis de mercado. Uma das saídas para os agricultores familiares é a construção de capacidade de 27 armazenagem associativa, o que pressupõe um certo grau de organização e coordenação que não é trivial alcançar. A qualidade da matéria-prima e produto final agropecuário está sujeita às variações climáticas e às técnicas de cultivo e manejo empregadas. Por sua vez, as características da matéria-prima afetam a qualidade final dos produtos transformados, em particular, a padronização e a regularidade de padrões de qualidade do produto acabado. Por isso, indústrias e fornecedores vêm impondo padrões tecnológicos cada vez mais rígidos aos produtores primários. A superação nas variações das características dos produtos é um dos principais pontos considerados pelos clientes (consumidores finais ou industriais) no julgamento da qualidade de um produto, o qual normalmente implica em critérios de remuneração diferentes. Este é um desafio importante para os agricultores familiares, uma vez que a estabilização de padrões de qualidade exigidos pelos mercados relevantes pressupõe a adoção de tecnologias e procedimentos que em muitos casos não são compatíveis, pelo menos no curto prazo, com as condições gerais dos agricultores familiares. Essas condições podem referir-se tanto à capacidade financeira para adotar e manter processos produtivos mais custosos como à exigência de experiência e capacidade de gestão da propriedade que a maioria dos produtores não têm. Pode também se referir à escala insuficiente para justificar a incorporação de equipamentos necessários para assegurar a qualidade e estabilidade do padrão do produto. Desta maneira, para os agricultores familiares, trata-se de adotar tecnologias de produto, processo e gestão que reconheçam esta variabilidade e a valorizem da melhor forma possível no mercado. Ferramentas apropriadas de gestão da qualidade e de planejamento e controle da produção, que padronizem normas e procedimentos intra e inter propriedades de uma dada rede de produção (se for o caso) e abram canais de comunicação com os clientes e fornecedores, são fundamentais para diminuir a variabilidade da quantidade e da qualidade da produção. Neste campo a informação é um insumo essencial, e escasso, no meio dos agricultores familiares. Uma outra faceta importante que afeta a gestão das unidades agroindustriais e da produção agropecuária em geral é a perecibilidade dos produtos e das matérias-primas. Grande parte das agroindústrias trabalha com produtos perecíveis que não podem ser estocados e devem ser transformados rapidamente após a colheita ou tão logo chegue à instalação industrial. Esta característica também afeta de maneira importante a produção agropecuária, especialmente aquela ligada a agricultura familiar. Ela introduz 28 problemas importantes de logística de aprovisionamento e de planejamento da produção. Muitas vezes, a opção de reter a matéria-prima no campo como forma de otimizar a produção industrial pode significar perdas de qualidade e/ou financeiras para os agricultores. Assim, mais uma vez, é importante que o agricultor possa dispor de um mínimo de planejamento na sua produção para que este problema seja minorado. A perecibilidade é particularmente relevante no caso da agricultura familiar, uma vez que a maioria dos produtores não logra produzir em escala suficiente para justificar a aquisição e manutenção de infra-estrutura de conservação da produção. Além disso, uma parte está isolada, longe dos mercados, sem vias de acesso adequadas, e até mesmo ilhados durante parte do ano. Como foi visto atrás, a maioria não dispõe de energia elétrica, e por isto não podem utilizar armazenamento à frio para reduzir a perecibilidade. Esses fatores excluem os agricultores familiares de mercados relevantes e limitam suas opções a produtos mais resistentes ao tempo. Não é um simples acaso, ou simples atraso, a presença da produção de mandioca e da farinha entre os agricultores familiares das regiões mais pobres e distantes do mercado. Por isso é importante desenvolver tecnologias de conservação de produtos mais adequadas às condições brasileiras, e introduzir técnicas e meios para o desenvolvimento da pequena indústria rural. Neste caso, tecnologia de gestão de redes de produtores pode contribuir para a articulação dos agricultores e a formação de associações e consórcios locais com maior possibilidade de superar as restrições impostas pela perecibilidade dos produtos nas condições efetivas do Brasil rural. Algumas agroindústrias estão sujeitas a importantes variações de demanda segundo datas específicas ou segundo as variações climáticas ligadas às estações do ano. O consumo de chocolates na páscoa e o consumo de cervejas, picolés e sorvetes nas estações quentes do ano são bons exemplos destas particularidades. O impacto destas variações de demanda no planejamento e no controle da produção agroindustrial é extremamente importante e afeta os agricultores. É vital que o agricultor familiar possa dispor de informações a respeito destas variações. Informações públicas sobre a dinâmica de funcionamento e de consumo dos principais mercados brasileiros de alimentos são extremamente raras e, quando existentes, desatualizadas. Somente a partir do conhecimento do mercado o agricultor poderá planejar a sua produção. Mas a experiência mostra que a existência da informação não implica necessariamente no seu aproveitamento pelo agricultor. 29 É fundamental que as ferramentas de planejamento sejam capazes de traduzir estas informações em um plano de produção, individual ou coletivo, conseqüente. A maioria dos produtos agropecuários, processados ou não, apresenta um alto grau de perecibilidade. Na maioria destes casos, a qualidade do produto final está largamente associada à velocidade com que o produto é disponibilizado ao consumidor. Também neste caso questões ligadas à logística de distribuição assumem uma importância vital. O pequeno valor unitário dos produtos transformados também acentua a importância de uma logística eficiente e eficaz. Este aspecto coloca duas questões importantes para a gestão da agricultura familiar. A primeira delas está ligada à logística de distribuição. Produtos perecíveis, que representam grande parte da produção agropecuária familiar, demandam operações logísticas mais ágeis, com ciclos logísticos mais curtos. As implicações desta característica para a gestão logística da distribuição são importantes e imediatas. O segundo aspecto está ligado à logística de armazenagem. Um adequado dimensionamento da capacidade de armazenagem e uma gestão adequada de estoques podem permitir aos agricultores trabalhar com a perecibilidade do produto a seu favor. A importância de assegurar à população alimentos em quantidade e qualidade aceitáveis faz com que este setor seja objeto de uma vigilância acentuada do governo. Esta vigilância está relacionada em especial ao controle sanitário dos alimentos disponibilizados à população, que devem ser adequados para consumo humano e animal. Critérios de segurança dos alimentos devem ser respeitados. É crescente o número de normas para controlar o processo de produção e a qualidade do produto levado ao mercado e/ou utilizado como insumo. Essas exigências sanitárias afetam, também de forma crescente, o gerenciamento dos sistemas produtivos. Além de toda a legislação sanitária vigente, a regulamentação recente sobre o uso da metodologia de garantia e controle de qualidade baseado no modelo APPCC (análise de perigos em pontos críticos de controle) é um bom exemplo deste fato. Questões de saúde pública relacionadas à aplicação inadequada de defensivos agrícolas também são fatores que podem afetar a produção e a comercialização de produtos oriundos da agricultura familiar. Em ambos os casos a utilização de ferramentas adequadas de gestão da qualidade é fundamental. Vários estudos sobre a competitividade de diferentes cadeias agroindustriais, especialmente aquelas que envolvem um grande número de pequenos produtores, tem apontado a legislação (fiscal, sanitária, ambiental e trabalhista) como um dos principais 30 entraves à competitividade destes sistemas (Batalha, 2002; 2003). Estudos deveriam ser conduzidos no sentido de que estas legislações pudessem, na medida do possível, serem adaptadas à realidade dos pequenos produtores rurais. Uma outra questão importante que afeta sobremaneira o consumo de alimentos e, desta forma, a gestão das unidades de produção e distribuição de produtos alimentares, está ligada a aspectos do que poderia ser chamada de sociologia dos alimentos. Aspectos culturais ligados especialmente à noção de que ‘nós somos o que comemos’ faz que esta produção esteja sempre sujeita à realidade cultural da sociedade. Assim, as rápidas mudanças sociais e culturais que a sociedade brasileira vêm atravessando tendem a influenciar fortemente a produção de alimentos no Brasil. A emergência de uma sociedade mais plural e, ao mesmo tempo, mercadologicamente mais segmentada, impõe às firmas agroindustriais esforços importantes de diferenciação de produtos. Inquestionavelmente este esforço de diferenciação se traduz na necessidade de sistemas de gestão especialmente adaptados à esta nova problemática. A agricultura familiar não é exceção a esta realidade. Aspectos socioeconômicos ligados à produção agropecuária familiar têm levado o Estado a utilizar instrumentos de política pública que viabilizem a competitividade sustentada destes empreendimentos. Entre estas ações encontra-se, principalmente, a concessão de crédito em condições facilitadas. Outras ações situam-se no âmbito da utilização de canais privilegiados para o escoamento da produção agrícola familiar (caso da compra de produtos originários da agricultura familiar para a merenda escolar, por exemplo). Existem ainda ações que visam gerar informações sobre os mercados reais ou potenciais para produtos da agricultura familiar e capacitar gerencialmente os agricultores familiares para que eles possam inserir-se adequadamente nas cadeias agroindustriais do agronegócio nacional. No entanto, tem-se dado menor ênfase do que a necessária neste último aspecto. Inúmeros estudos têm apontado deficiências gerenciais nos negócios da agricultura familiar e reduzindo ganhos que poderiam advir da superação destas deficiências (Batalha&Scarpelli, 2002; Lourenzani et al., 2003; Batalha&Sproesser, 2002). É interessante destacar o impacto que algumas tecnologias ditas transversais podem ter no gerenciamento dos sistemas agroindustriais em agricultura familiar. Entre estas tecnologias pode-se destacar a biotecnologia e a chamada tecnologia da informação. A biotecnologia coloca as empresas do sistema agroindustrial em face de alternativas estratégicas importantes. Existe a promessa de que a biotecnologia pode influir decisivamente nos sistemas produtivos atuais. Além disso, 31 a aplicação de técnicas biotecnológicas modernas podem resultar em produtos ainda mais diferenciados. Este é o caso, por exemplo, da produção do que pode ser chamado de ‘alimentos funcionais’. Para a agricultura familiar esta tendência, se bem gerenciada, pode representar alternativas interessantes de desenvolvimento. Unidades de produção agrícola familiar, normalmente de pequeno porte, podem explorar melhores nichos baseados em apelos na produção de produtos ‘mais naturais e saudáveis e ecologicamente corretos’. A produção orgânica, como forma de diferenciação de produtos oriundos da agricultura familiar, segue esta linha de raciocínio. No entanto, como em qualquer processo de diferenciação de produtos, é necessário que o produtor seja capaz de garantir, via normas e procedimentos préestabelecidos, que esta produção mantenha os atributos de qualidade vendidos ao consumidor. Nenhum apelo mercadológico é sustentável sem correspondência objetiva que sustenta a subjetividade do consumidor. A exploração desta possibilidade demanda mais do que o voluntarismo dos produtores ou de suas associações. É necessária antes de qualquer coisa, a capacidade de inovação. Ao contrário do que defende o senso comum, a produção de orgânicos ou a agroecologia, está longe de ser uma ‘volta à natureza’, à exploração elementar da terra. Ao contrário, é um processo de produção que adota pressupostos rígidos, e até mais difíceis na medida em que não permite o uso de meios artificiais, em particular os químicos, facilitadores e estimuladores. Neste sentido, adquire relevância a utilização de técnicas de gerenciamento que permitam com que estes produtos sejam disponibilizados ao consumidor final no tempo e na forma adequadas, com sustentabilidade econômica. Para isso é absolutamente vital que o agricultor possa contar com ferramentas de gestão da qualidade, planejamento e controle da produção, logística de aprovisionamento e de distribuição, análise e controle de custos, marketing, etc. As tecnologias de informação (TI) também podem afetar de forma substancial a gestão dos negócios agroindustriais. Além de facilitar a busca, acesso, armazenamento e disseminação de informações, as modernas TI deverão cada vez mais servir como instrumento de comunicação e coordenação entre os agentes de um dado sistema agroindustrial. Neste último caso, tecnologias de troca informatizada de dados deverão assumir um aspecto vital nos anos vindouros. Sob este aspecto, as TI são instrumentos importantes no aumento da eficiência e da eficácia das cadeias agroindustriais. Por outro lado, também podem levar a exclusão de pequenos produtores que não tenham acesso a esta tecnologia. As TI podem afetar de duas maneiras importantes a gestão dos agronegócios e, 32 conseqüentemente, a agricultura familiar. A primeira delas relaciona-se a utilização das TI para gerenciamento de redes de pequenos agricultores familiares, sejam eles responsáveis ou não por empreendimentos agroindustriais. Nestes casos as TI viabilizam o planejamento e o controle da produção, ações de logística de distribuição e aprovisionamento, a análise e o controle de custos de produção e comercialização, a gestão dos canais de comercialização, etc. Por outro lado, é crescente a utilização de TI para o gerenciamento das relações produtor de insumos/produtor agrícola e produtor agrícola/distribuição ou produtor agrícola/agroindústria. Cada vez mais os agentes de distribuição (particularmente hiper e supermercados de grandes redes) estão recorrendo à troca informatizada de dados (EDI) para comprar produtos e gerenciar estoques. Embora esta tendência esteja ocorrendo mais fortemente em categorias de produtos não ligadas diretamente a agropecuária, algumas redes já vêm exigindo dos seus fornecedores de hortifrutigranjeiros a utilização desta tecnologia. Esta é uma tendência que deve ganhar importância no futuro próximo. Agricultores familiares isolados, não organizados em alguma forma associativa, dificilmente terão condições de cumprir estas exigências, o que poderá excluí-los destes canais de distribuição. Não parece haver dúvidas de que tanto as ferramentas de gestão como a aplicação da moderna biotecnologia e das TI afetarão, de forma profunda, a viabilidade e sustentabilidade da agricultura familiar. De um lado, como indicado por Buainain, Sousa e Silveira (2002), (apud BATALHA et al., 2004), a difusão dessas tecnologias pode tanto potencializar como reduzir as vantagens dos agricultores familiares nos mercados nos quais se inserem. Isto pode ocorrer tanto por meio do impacto sobre os concorrentes, como a redução do custo de monitoramento da mão-de-obra possibilitado pelas novas tecnologias o que reduz a desvantagem das grandes empresas em relação aos familiares em ramos intensivos de mão de obra como pelo impacto sobre os próprios agricultores familiares que poderiam se beneficiar das TI para conformar redes de produtores e assim reduzir as desvantagens associadas à escala. Um dos problemas observados na curta experiência de aplicação de modernos instrumentos de gestão no agronegócio brasileiro, e que em muitos casos explica resultados abaixo dos prometidos ou esperados pelo usuário é a falta de aderência do instrumento à realidade brasileira. No caso da agricultura familiar é fundamental levar em conta a heterogeneidade que os caracteriza, tornando ainda mais necessária – e complexa – a adequação dos instrumentos às características do setor e dos produtores. Como visto 33 anteriormente, esta heterogeneidade é o resultado de múltiplos fatores, que incluem desde a formação histórica e cultural, as condições ambientais até as políticas públicas. O desenho e o desenvolvimento de instrumentos de gestão para a agricultura familiar não pode, portanto, ignorar as condições de infra-estrutura atual, a disponibilidade de energia, a situação das estradas vicinais, a disponibilidade de assistência técnica para equipamentos e assim por diante. Conforme foi discutido até este momento, a aplicação das tecnologias de gestão no âmbito da agricultura familiar pode se dar, principalmente, em duas esferas. A primeira está relacionada às organizações associativas das quais grande parte dos agricultores familiares participa (cooperativas e associações) e a segunda está associada à própria gestão da propriedade rural familiar. Em ambos os casos, como será visto a seguir, o Brasil tem dificuldades enormes a superar. A gestão do empreendimento rural, que compreende a coleta de dados, geração de informações, tomada de decisões e ações que derivam destas decisões, não é tratada de forma satisfatória na literatura nacional e internacional. Os trabalhos existentes nesta área estão quase sempre restritos aos aspectos financeiros e econômicos da gestão do empreendimento rural (custos, finanças e contabilidade). Tradicionalmente a questão da gestão na propriedade rural, especialmente aquela de menor porte, é abordada de forma muito compartimentada e específica. Assim, quando existem, os modelos disponíveis são, por exemplo, para controle de custos na produção leiteira ou para programação da produção pecuária bovina. São incipientes os esforços dedicados a outras ferramentas de gestão, tais como critérios de definição do produto e do processo de produção que ultrapassem a visão de curto prazo das margens de contribuição, sistemas de gestão da qualidade, sistemas de planejamento e controle da produção, sistemas de gestão logística, entre outras. Além disso, os mecanismos de difusão tecnológica não são suficientes e adequados para capacitar o produtor na implementação e utilização das técnicas disponíveis. Com raras exceções, a incorporação de práticas gerenciais e a plena integração da produção rural às necessidades do processo de transformação industrial ou de distribuição estão longe de serem usuais. Noções como planejamento e controle da produção, gestão da qualidade e redução de desperdícios, logística, desenvolvimento de embalagens adequadas e outras técnicas são em geral ainda vistas de forma limitada e preconceituosa em relação a sua importância frente às atividades de produção propriamente ditas. A falta de atenção e sensibilização do agricultor e de parte importante dos técnicos responsáveis pela assistência rural tem contribuído para a 34 sobrevivência da idéia equivocada de que o bom agricultor é aquele que cuida bem das tarefas exercidas na sua propriedade. Qualquer atividade diretamente vinculada aos trabalhos agropecuários significaria perda de tempo para o agricultor. Esta visão reflete até mesmo na própria caracterização dos agricultores familiares e no peso que atribui às tarefas de campo em detrimento das funções de gestão. O estudo relizado por Pavarina et al (2003) analisou atividades administrativas (planejamento, organização, direção e controle) e atividades estratégicas e operacionais (finanças, comercialização, recursos humanos e produção) de 132 produtores agrícolas da Cooperativa Tritícola Mista Alto Jacuí (COTRIJAL) no Rio Grande do Sul e apontou diferenças significativas de opinião entre produtores rurais e técnicos no que diz respeito ao desempenho das atividades administrativas numa empresa rural.. O trabalho identifica a falta de sintonia entre técnicos e produtores no que tange a importância e a operacionalização de atividades ligadas à organização e ao planejamento. Isto se reflete na ênfase dos cursos técnicos em aspectos produtivos e na menor atenção dada à capacitação. O resultado desta situação explica técnicas de gerenciamento, por debilidade que em muitos casos compromete o resultado das tecnologias de produção para estas atividades por parte dos agricultores. Estudiosos da agricultura familiar são unânimes em constatar a baixa eficiência gerencial destes empreendimentos. Rezende e Zylbersztajn (1999), em estudo realizado com produtores agropecuários do Estado de Goiás, constataram que os aspectos relacionados à produção (assistência técnica, nível dos funcionários e mecanização), são, em geral, considerados como parte da rotina operacional das propriedades rurais. Constatarem que a utilização rotineira de instrumentos de gestão (aspectos comerciais e contábeis, planilhas de resultados etc) era exceção no conjunto das propriedades analisadas, embora fosse muito mais freqüente junto aos grandes produtores que aos pequenos. Além disso, vale destacar que as ferramentas de gestão citadas foram somente àquelas relacionadas com aspectos financeiros e econômicos, não envolvendo gestão de informação e mercados. Assim, mesmo junto a produtores que possuem alto grau de tecnificação produtiva, é pobre a utilização de técnicas adequadas de gerenciamento. Este é o caso, por exemplo, dos produtores de suínos da região do Vale do Piranga em Minas Gerais. Os produtores desta região têm buscado eficiência tecnológica para elevar a produtividade e a qualidade da carne suína. As tecnologias de produção utilizadas por estes produtores permitem classificá-los como de alta tecnologia. No entanto, a preocupação com a parte administrativa fica muito aquém daquela dispensada aos 35 aspectos tecnológicos de produto e processo. Neste sentido, Salgado et al. (2003) salientam que ‘é necessária a adoção de praticas administrativas nas suinoculturas, de forma a possibilitar ao produtor um melhor gerenciamento da atividade, para que decisões sejam tomadas com base em informações que demonstrem os reais resultados da exploração, permitindo um acompanhamento gerencial e consolidado do negocio’. Queiroz e Batalha (2003), (apud BATALHA et al., 2004), em estudo realizado na região de Araraquara e São Carlos, no estado de São Paulo, também revelam a fragilidade do gerenciamento das pequenas propriedades agrícolas familiares. Este estudo analisou 33 propriedades com área média de 16,5 hectares. Como não podem competir em escala, resta para estes produtores explorações de atividades onde a escala de produção não seja atributo essencial de competitividade. São exemplos destas atividades as culturas consorciadas de hortaliças e leite, aves e hortaliças, bem como milho e hortaliças, ou apenas hortaliças. A pesquisa mostrou um longo período de experiência na atividade (média aproximada de 15 anos). Este é um fator relevante, pois se sabe que as atividades agrícolas – e em particular as familiares – são fortemente influenciadas por fatores culturais e pela hereditariedade da empresa e do conhecimento acerca da atividade, gerando path dependence. Os dados levantados pela pesquisa indicam que os produtores analisados não utilizam ferramentas adequadas às chamadas práticas gerencias modernas. Não se constatou o uso significativo pelos produtores de coleta, registro, controle e aplicação das informações referentes às atividades produtivas. Além disso, vários fatores internos (baixa qualificação, formação escolar deficitária, acesso restrito à informática, entre outros) e externos (concentração monopsônica do setor de hortaliças, além de pouco acesso a crédito e grandes mercados etc.) atuam negativamente sobre a gestão das empresas agrícolas familiares, e prejudicam o seu desenvolvimento. Ainda, no tocante às práticas de gestão adotadas pelos proprietários/gerentes, vê-se que a imperícia e a falta de práticas formais de controle prejudicam a implementação de um sistema de melhoria gerencial. A pesquisa constatou que apesar da maioria (cerca de 61%) dos produtores analisados alegarem fazer coleta e registro de dados referentes à atividade produtiva, esta é, quando realizada, sofrível, e em raríssimos casos se revertem em análises úteis ao gerenciamento do negócio. Para os 39% dos entrevistados da amostra que afirmaram não fazer coleta e registro de dados, os motivos mais importantes apontados foram: a) falta de tempo (35,7%), b) acredita que isto não seja importante para a gestão da atividade (21,4%) e c) falta de hábito para a realiação de coleta e 36 registro (14,3%). Os dados para se tornarem úteis às práticas gerenciais necessitam passar pelas etapas de coleta, registro, análise e correção de desvios significativos. Para aqueles que realizam tais procedimentos, nota-se que estes estão em patamares rudimentares e ainda distantes do aceitável e útil, tanto no que diz respeito aos itens levantados, quanto ao meio utilizado para o registro destas informações. Os principais dados coletados e registrados são: (a) quantidade e valor da venda de seus produtos e (b) despesas com fornecedores. Os meio predominantes utilizados para registrar as informações são os registros em papel (90% dos casos encontrados). No entanto, a pesquisa apontou que a maioria absoluta (95%) dos produtores que faz algum registro formal sobre a rotina operacional da propriedade não utiliza estes dados para nenhum tipo de análise que leve a melhorias nos mecanismos de tomada de decisão. Os meios utilizados pelos produtores para o registro das informações são: registros em papel, uso de planilha eletrônica e até mesmo ‘de cabeça’, como citado por um dos entrevistados. O uso predominante dos registros em papel em detrimento do uso de planilhas eletrônicas pode ser explicado pelos seguintes motivos: • Em 66,7% dos casos estudados nenhum membro da família ou funcionário relacionado à atividade sabe utilizar o computador; • 90,9% dos produtores não possuem computador em sua propriedade.; • 66,7% dos proprietários/gerentes não possuem segundo grau completo, sendo que nenhum dos produtores declarou ter curso universitário. Estas informações dão idéia da dimensão do desafio. Qualquer sistema de gerenciamento demanda um mínimo de formalização no registro das informações, o que pressupõe um nível educacional mínimo. Mesmo entre aqueles com melhor nível educacional, o fato de não possuírem a cultura da elaboração de registros escritos – comum entre os agricultores familiares – dificulta em muito a implantação de práticas gerenciais modernas. Além disso, deve-se ainda indicar a inexistência de computadores em praticamente todas as propriedades. Esta condição dificulta sobremaneira a utilização de tecnologias de gestão por parte dos agricultores. Pode-se supor que esta situação, encontrada no interior do estado de São Paulo, é ainda mais grave em regiões menos desenvolvidas do país. Esta constatação, mais do que apontar para dificuldades conhecidas reforça o argumento que sustentamos sobre a necessidade de desenvolver tecnologias de gestão adequadas aos agricultores familiares. Existe uma outra característica do agronegócio 37 brasileiro que merece destaque como fator explicativo da baixa intensidade na utilização de ferramentas gerenciais pelos agricultores familiares. Esta característica está ligada à inserção de grupos de agricultores familiares a algumas as cadeias agroindustriais dinâmicas e competitivas. Normalmente estas cadeias têm como agentes coordenadores outros atores e não os agricultores familiares. Este é o caso, por exemplo, de parte dos produtores de suínos e aves de Santa Catarina e Paraná, dos criadores de camarão do Rio Grande do Norte ou dos produtores de tomates de Goiás. Produtores agrícolas familiares inseridos nestas cadeias produtivas tendem a beneficiar-se da assistência técnica do agente coordenador da cadeia, que na maioria das vezes constitui-se em grandes unidades de transformação industrial. Alguns destes agentes exigem que haja um mínimo de controle gerencial nas propriedades agrícolas integradas ao sistema. Nestes casos, pode ser constatada a utilização de ferramentas gerenciais tais como técnicas de planejamento e controle da produção, de gestão da qualidade, de controle de custos, etc. No entanto, estas ferramentas são concebidas pelo agente coordenador como forma de controlar e viabilizar sua marca e inserção no mercado. Na maioria das vezes o agricultor sequer consegue compreender a utilidade e a importância estratégica das informações que repassa ao integrador. Além disso, como o agricultor tem a compra da sua produção garantida pelo integrador, ele tende a negligenciar informações e técnicas de marketing que poderiam ser úteis caso ele decidisse abandonar este sistema de produção integrado ou então diversificar os seus canais de comercialização. Pode-se dizer, em resumo, que o agricultor não utiliza as informações que se originam destas técnicas de gerenciamento para a sua própria tomada de decisão. Na verdade, se dispusesse de conhecimentos suficientes, o agricultor poderia utilizar as informações oriundas destes sistemas de informação para aumentar o seu poder de barganha frente ao integrador. Existe, porém, um ponto bastante positivo nesta prática. No caso destes agricultores abandonarem os sistemas de integração, eles terão, pela cultura organizacional adquirida no seio de um sistema integrado, maiores facilidades na implementação e manutenção de sistemas gerenciais. A cultura organizacional adquirida também pode ser extremamente útil na criação e operacionalização de estruturas associativas de produção, industrialização, comercialização e distribuição. Duas iniciativas de transferência de tecnologias de gestão a agricultores familiares, entre outras, merecem ser apresentadas. A primeira delas esta relacionada ao trabalho de transferência de tecnologia de gestão por uma cooperativa aos seus cooperados. Neste caso, a cooperativa 38 adquiriu um software de gestão empresarial, adaptado à produção agropecuária, e disponibilizou-o aos seus cooperados. Cumpre destacar que a pesquisa realizada com os cooperados que utilizaram o software não se restringiu a pequenos produtores. Segundo os responsáveis pela implementação do projeto, a idade avançada e o baixo nível educacional dos agricultores que aderiram à iniciativa da cooperativa comprometeram substancialmente a utilização efetiva do software (Castro et al., 2003). Assim, a existência e a disponibilidade das ferramentas de gestão para os agricultores está distante de significar que esses vão utilizar essas ferramentas. É necessário, em grande parte, mudar a própria cultura dos agricultores e dos técnicos que os assistem. Isto não se logra de um dia para outro, exige uma combinação de políticas sustentáveis, incentivos adequados e pressão. A segunda iniciativa está ligada ao Programa de Gestão Agrícola implantado pelas empresas oficiais de extensão rural de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina o programa iniciou em 1984 e no Rio Grande do Sul em 1998. Lunardi (2000) analisou os resultados da implantação deste programa a partir da perspectiva dos agricultores familiares que participaram da iniciativa. O programa consiste numa estratégia de trabalho na área de administração e gerenciamento por meio da contabilidade agrícola das propriedades rurais. Segundo a autora, o programa teve que passar por várias adaptações para acoplar-se à cultura do agricultor. Embora o Programa tenha encontrado dificuldades na sua implementação, trata-se de uma experiência que mereceria ser estudada com mais detalhes. Para concluir esta seção pode-se dizer que a utilização pelos agricultores familiares brasileiros de técnicas de gestão é altamente insatisfatória, o que pode comprometer a sustentabilidade e competitividade destes empreendimentos. Esta situação deve-se a pouca cultura (formal e informal) do agricultor no assunto, ao baixo nível de qualificação dos técnicos extensionistas em tecnologias de gestão, à inadequação das ferramentas disponíveis na literatura, à descapitalização dos agricultores (que impede a contratação de técnicos efetivamente qualificados no assunto) e às políticas públicas de estimulo ao setor que não privilegiam os aspectos de gestão. No contexto atual, a sobrevivência sustentável da agricultura familiar brasileira, assentada em imóveis de pequeno e médio porte, depende da capacidade de intensificar a geração/agregação de valor. A maior parte das estratégias de agregação de valor passa, necessariamente, pela criação e gestão de formas associativas que congreguem um conjunto de agricultores familiares. Estas instituições associativas podem ter formas e 39 objetivos diferentes. Quanto à forma, podem se traduzir em associações ou cooperativas com alcance, estratégias e objetivos muito diversificados. Existem evidências de que os agricultores não conhecem as vantagens e desvantagens da escolha da forma associativa (associação ou cooperativa), que depende dos objetivos e do grau de capital social dos agricultores. Em alguns casos o objetivo é aumentar o poder de barganha frente a fornecedores de insumos ou clientes. Em outros, também se trata de alcançar escalas de produção que permitam o acesso a canais de distribuição nos quais os agricultores familiares isolados não poderiam participar. O trabalho de Lourenzani e Silva (2003) que estudou os pequenos produtores de tomates das regiões de Itapetininga, Mogi-Mirim e Campinas salientam a importância da escala de produção para o acesso dos produtores à distribuição via super e hipermercados. Os autores também destacam que a ausência de controle financeiro, a ineficiência dos sistemas de gestão da qualidade e a falta de planejamento da produção nas propriedades rurais dificultam sobremaneira a participação destes produtores – e suas associações – em canais de distribuição mais dinâmicos como os super e hipermercados. Estas deficiências gerenciais, presentes nas pequenas propriedades agrícolas, também se refletem e caracterizam associações de pequenos produtores agrícolas familiares que buscam, precisamente, romper as restrições impostas pelos contratantes ao acesso individual e de produtores com baixa capacidade de gestão. Vários autores consideram como sucesso de um empreendimento cooperativo uma gestão profissionalizada das atividades da cooperativa. Em (2003), em estudo realizado com cooperativas do Rio Grande do Sul, também chega a esta conclusão (Ew, 2003). Do ponto de vista da gestão, formas associativas de produtores agrícolas familiares enfrentam dois desafios diferentes. O primeiro está ligado a tecnologias de gestão que permitam gerenciar fluxos comerciais eficientes a montante e a jusante da cadeia produtiva. O segundo deles está associado com a gestão interna da rede de produtores rurais que formam a associação ou a cooperativa. Para que uma determinada rede de pequenos proprietários rurais seja capaz de explorar eficientemente as externalidades positivas desta rede, é absolutamente fundamental que ela disponha de uma organização interna eficiente. A figura 1 apresenta esquematicamente as relações comerciais de pequenos e grandes produtores ao longo de uma cadeia agroindustrial. O espaço aberto pela incapacidade de algumas associações de pequenos produtores de atenderem as expectativas dos consumidores tem sido ocupado por empresas privadas que cumprem este papel. Estas empresas, embora não 40 utilizem técnicas sofisticadas de gestão, tem conseguido planejar a produção e garantir, com regularidade, qualidade e volume, a oferta de produtos às grandes redes supermercadistas. O sítio ‘Boa Terra’, localizado na cidade de Itobi no interior do estado de São Paulo, trabalha com uma rede de pequenos produtores agrícolas, coordenando em grande parte a produção destas propriedades. Esta empresa, em anos anteriores, comercializava, particularmente, parte expressiva da própria produção com grandes redes de supermercados. As exigências, em termos de preço, prazo e qualidade, levaram-na a buscar alternativas, e hoje, comercializa seus produtos – e de um grupo de pequenos agricultores que atendam o padrão de exigência – somente via a distribuição de cestas de produtos diretamente ao consumidor final. A confecção destas cestas, que variam segundo o perfil do consumidor, demanda uma capacidade de organização gerencial que grande parte das associações de pequenos produtores agrícolas não têm. Quando vendia para supermercados, a empresa utilizava a Internet para o recebimento dos pedidos (utilização de tecnologia da informação). Figura 1 – Agricultura familiar e formas associativas. Pode-se ainda identificar, no universo da agricultura familiar brasileira, associações que prestam assessoria técnica a grupos de produtores. Algumas destas associações não promovem a compra de insumos ou a comercialização de produtos de forma conjunta. Elas limitam-se a prestar assistência técnica e, eventualmente, desenvolver selos de qualidade que diferenciem os produtos dos seus associados e proporcionem agregação de valor a estes mesmos produtos. Um bom exemplo deste tipo de iniciativa é a APACO (Associação de Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense). A APACO é uma organização não governamental sem fins lucrativos, fundada em 1989, e que tem como objetivo assessorar o desenvolvimento da agricultura de grupo na região oeste de Santa Catarina. A APACO, que 41 atende cerca de 1400 famílias, trabalha em oito frentes diferentes: gestão agrícola associativa, agroecologia, agroindústria familiar associativa, comercialização, assessoria técnica, crédito solidário, formação e intercambio e desenvolvimento rural sustentável. Neste tipo de associação, a questão da organização da rede produtiva é menos pertinente do que naquelas onde a comercialização da produção é feita de forma conjunta. Um bom exemplo de associação que realiza a comercialização conjunta dos produtos dos seus associados é a AGRECO (Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral), localizada em Santa Rosa de Lima, no estado de Santa Catarina. Esta associação, que produz e industrializa produtos orgânicos, tem como característica o fato de que ela congrega não somente produtores orgânicos, mas também uma rede de cerca de 20 pequenas agroindústrias de propriedade e gerenciadas pelos próprios agricultores. Esta característica adiciona questões gerenciais importantes aos agricultores participantes da associação. Estas questões derivam do fato de que, nesta forma associativa, os agricultores se vêem responsáveis não somente pela gestão das suas propriedades, da rede na qual estão inseridos, mas também pelas agroindústrias. Cumpre esclarecer que o gerenciamento de uma unidade agroindustrial demanda conhecimentos e habilidades que diferem substancialmente daqueles necessários ao gerenciamento da propriedade agrícola. Assim, os agricultores são lançados em uma lógica de negócios que difere da agrícola. Embora a AGRECO colecione sucessos em várias áreas, ela encontra atualmente dificuldades em várias áreas gerenciais. Entre elas, destacam-se questões ligadas com a logística de distribuição. A estes problemas, devem ser somados aqueles originados na gestão das próprias agroindústrias. Finalmente, pode-se dizer que a baixa cultura gerencial dos agricultores familiares compromete não somente a competitividade da propriedade agrícola familiar, mas também das associações e atividades por ela gerenciadas. Vale dizer que a complexidade gerencial de redes de empresas, cristalizadas em associações ou cooperativas, é ainda maior do que aquela das propriedades agrícolas isoladas. A questão da gestão de negócios é complexa, pois envolve muitas áreas relevantes da logística, gestão da qualidade, apuração e controle de custos ao marketing que afetam o resultado do esforço de produtores, inseridos formalmente ou não em cadeias produtivas e/ou sistemas de produção contemporâneos. Os métodos de gestão empregados pelos agentes econômicos afetam, de forma direta, os resultados obtidos e a sustentabilidade do negócio. Deve-se ter claro que tanto o sucesso do agronegócio brasileiro como a viabilidade futura da 42 agricultura familiar passa, necessariamente, pelo desenvolvimento de capacidade para administrar de forma eficiente a exploração de atividades cuja complexidade e grau de exigências vêm aumentando. Deve-se insistir que a agricultura familiar, mesmo se fosse protegida pelo setor público —coisa que não ocorre no Brasil, e nem deverá ocorrer de forma substantiva nos próximos anos, seja em razão do número de agricultores familiares seja por causa das restrições fiscais não foge a este condicionante. Eficiência no uso dos recursos é cada vez mais uma pré-condição necessária para a sustentabilidade dos agricultores, familiares ou não. Aqui é necessário um enorme esforço de pesquisa e capacitação dos agricultores familiares em gestão. De sua unidade de produção, de suas associações e de sua integração com a cadeia produtiva. A observação do estado da arte da gestão das chamadas cadeias agroindustriais permite destacar a inadequação da maioria dos sistemas de planejamento disponível para lidar com o setor agropecuário e cadeias agroindustriais. Também revela o pequeno esforço que vem sendo dedicado ao planejamento dos empreendimentos rurais, menor ainda quando se tratam de empreendimentos agropecuários familiares e de redes (associações, cooperativas etc.) de pequenos agricultores. Quais adaptações são necessárias nas ferramentas de gestão disponíveis para que elas possam ser usadas adequadamente pela agricultura familiar? Quais mecanismos podem ser utilizados para que os agricultores familiares sejam estimulados a utilizarem estas ferramentas? No âmbito dos empreendimentos rurais, é necessário mudar o conceito que vem sendo utilizado pela literatura e por setores que se consideram os defensores da agricultura familiar. Não é possível seguir pensando ideologicamente a agricultura familiar em contraposição à forma patronal como se fosse uma forma de produção superior, mais pura, sustentável, amigável em relação ao meio ambiente e assim por diante. Ainda que expresse uma forte herança cultural, a agricultura familiar reflete um conjunto de restrições, e não há qualquer evidência de que caso fossem superadas essas restrições os produtores manteriam a mesma forma familiar de organização. Independente, portanto, da utilização de trabalho familiar, e das opções produtivas particulares que levam os agricultores familiares a adotarem sistemas de produção mais diversificados que os patronais, os agricultores familiares buscam, tanto quanto os demais, maximizar os benefícios que podem ser gerados a partir dos seus recursos, e que podem se beneficiar da adoção de técnicas de planejamento estratégico e de novas tecnologias de produção e de gestão. Obviamente que, para grande parte dos empreendimentos ligados 43 com a agricultura familiar, este deve ser um objetivo de médio e longo prazo. Durante muito tempo este importante segmento da agropecuária nacional não recebeu, especialmente por parte do poder público, a atenção que merecia. Desta forma, deve esperar-se que este enorme contingente de agricultores encontre dificuldades para inserir-se nesta lógica. Isto não deve esconder o fato de que este deve ser um objetivo a ser perseguido. Na verdade, esta situação ressalta a importância de que esforços devam ser empreendidos no sentido de que estes conhecimentos sejam gerados e repassados adequadamente aos agricultores familiares. Somente desta forma estes empreendimentos podem ganhar competitividade sustentada. Nesta direção, é necessário ampliar os esforços de desenvolvimento e aplicação de modelos de pesquisa operacional, técnicas de gerenciamento e sistemas de planejamento rural visando, sobretudo, a integração das tecnologias de produção e gestão. O principal objetivo destes esforços deve ser a promoção de um maior alinhamento deste segmento produtivo dentro das cadeias, de modo a agregar valor de mercado aos produtos e melhor equilibrar os ganhos em cada elo das cadeias. Por fim, para este segmento, é necessário integrar as diferentes disciplinas agronômicas de modo a se ter os subsídios necessários aos processos de tomada de decisão. Desta forma, uma agenda nacional de pesquisa e desenvolvimento em agronegócio deve contemplar, obrigatoriamente, aspectos ligados à gestão agroindustrial em todos os elos das cadeias agroindustriais. No entanto, ênfase especial deve ser dada ao segmento agropecuário. É neste elo da cadeia que as carências tornam-se mais expressivas e as ações mais prementes. Dentro do segmento agropecuário, não existem dúvidas que a agricultura familiar é aquela que dispõe de instrumentos de gestão menos adequados. Neste caso, os ganhos potenciais que podem ser visualizados a partir da utilização de ferramentas gerenciais adequadas são altamente expressivos. O sucesso de ações que visem atender esta necessidade dependerá da formação e apoio a equipes multi e interdisciplinares. Conforme foi amplamente discutido neste texto, as especificidades dos negócios agroindustriais e da agricultura familiar, além das dificuldades que os agricultores familiares encontram nesta área, justificam largamente estas iniciativas.” 44 CAPÍTULO 4: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Um outro ponto importante a ser mencionado é os conceitos de multifuncionalidade da agricultura (múltiplas funções), onde segundo Soares (2000/2001) “O debate sobre multifuncionalidade da agricultura não é novo e nem começou com as discussões de Seattle. Na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro em 1992, os governos reconheceram o ‘aspecto multifuncional da agricultura, particularmente com respeito à segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável’. Em março de 1998 a OECD, organização que reúne os países mais ricos, declarou ‘além de sua função primária de produção de fibras e alimentos, a atividade agrícola pode também moldar a paisagem, prover benefícios ambientais tais como conservação dos solos, gestão sustentável dos recursos naturais renováveis e preservação da biodiversidade e contribuir para a viabilidade sócio econômica em várias áreas rurais ... A agricultura é multifuncional quando tem uma ou várias funções adicionadas ao seu papel primário de produção de fibras e alimentos’. Segundo Aldington (apud SOARES, 2000/2001), o conceito do caráter multifuncional da agricultura e da terra é derivado do conceito de agricultura e desenvolvimento rural sustentável (ADRS). Este último é resultado das reflexões da FAO, e de outras instituições nas décadas de 1970 e 1980, a respeito da evolução da agricultura e sua relação com a segurança alimentar, produtividade e sustentabilidade. Já o conceito de agricultura e desenvolvimento rural sustentável, no contexto de instituições como a FAO, pode ser resumido como um desenvolvimento sustentável que conserva o solo, a água, os recursos genéticos vegetais e animais, não degrada o meio 45 ambiente, e é tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável. O conceito de multifuncionalidade viria a ampliar esta abordagem, através das seguintes maneiras: • ampliando o alcance para incluir os serviços prestados pela agricultura para a sociedade em geral; • estabelecendo um marco para a valorização das compensações mútuas e sinergias entre as diferentes funções da agricultura e o correspondente uso da terra; • examinando as relações dinâmicas entre as zonas urbanas e rurais em diferentes escalas; • incorporando toda a gama mundial de situações, desde as sociedades predominantes rurais, onde a produção primária de alimentos e outras mercadorias é prioridade, até as nações altamente industrializadas, com uma pequena população rural e importância da produção primária igualmente modesta. Enfim, o conceito de multifuncionalidade, nesta abordagem, é um instrumento para se analisar a importância dos sistemas agrícolas e suas relações com outros setores da economia. Na discussão do conceito de multifuncionalidade identificam-se as seguintes funções-chave da agricultura: • contribuição à segurança alimentar; • função ambiental; • função Econômica; • função Social. Evidentemente que os diferentes setores da agricultura desempenham cada uma destas funções de uma maneira distinta. Desta forma, a utilização deste conceito sem a devida diferenciação sobre qual agricultura estamos falando, pode levar a uma uniformização tal que pouco contribui para analisarmos criticamente o desenvolvimento da agricultura. A contribuição para a segurança alimentar exercida por uma comunidade de agricultores familiares, ou um assentamento de reforma agrária é consideravelmente distinta da contribuição de uma grande propriedade patronal especializada no monocultivo de soja para o mercado externo. Da mesma maneira, os impactos ambientais de um policultivo tradicional são muito diferentes dos impactos da monocultura mecanizada e altamente 46 dependente de insumos químicos. Em relação às funções social e econômica, as diferenças entre os diversos modelos de uso da terra são ainda mais óbvias. Dessa forma, este interessante instrumento de análise deve ser contextualizado à nossa realidade de um setor agrícola fortemente desigual, onde um enorme fosso separa as realidades da agricultura familiar e da agricultura patronal. Isto significa dizer que as múltiplas funções da agricultura não são comuns ao conjunto da agricultura e que os serviços prestados à sociedade também são distintos, sendo, em alguns casos, até antagônicos. Aldington comenta ainda que ‘No processo de elaboração do documento brasileiro para a Cúpula Mundial da Alimentação, representantes do governo e da sociedade civil chegaram à seguinte definição: segurança alimentar e nutricional significa garantir a todos o acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis. Contribuindo, assim, para uma existência digna, em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana’. Sendo que ‘a agricultura é uma das atividades com maior impacto sobre o meio ambiente. Os sistemas agrários ocupam cerca de 45% da superfície total dos ecossistemas brasileiros. Há inúmeros exemplos de impactos negativos da agricultura, especialmente do modelo de agricultura da chamada revolução verde: substituição das florestas por monocultivos, erosão de solos (e assoreamento de rios e lagos), contaminação de águas e alimentos com agroquímicos, desequilíbrios na população de insetos e plantas silvestres, etc. Contudo, a agricultura pode prover um conjunto de serviços ambientais como a conservação de solos e águas, manejo sustentável da biodiversidade, produção de biomassa, etc., cujo valor para as gerações presentes e futuras é incalculável. Mais uma vez, as políticas públicas têm profundo efeito sobre qual o modelo de agricultura que se adota. No tocante a essas questões políticas o mesmo autor diz que “a política brasileira de comércio agrícola internacional necessita bem mais que a ampliação de seu enfoque para dar conta da complexidade de nossa agricultura’ ”, comenta ainda, que “o governo tem uma política comercial ‘de uma nota só’, ou seja, quer maior acesso ao mercado europeu e norteamericano para alguns produtos brasileiros como soja, suco de laranja, café, açúcar, etc. Não por acaso, pois é exatamente aí que reside o interesse da agricultura patronal. Para atingir este objetivo o governo está preparado até mesmo para uma nova redução tarifária, como afirmou o Ministro 47 Luiz Felipe Lampréia em audiência pública na Câmara dos Deputados prévia à conferência de Seattle. Ou seja, o governo está disposto a liberalizar ainda mais o setor agrícola sem antes sequer avaliar quais foram as conseqüências da última onda de liberalização em termos de queda de renda do setor, inviabilização de centenas de milhares de estabelecimentos familiares, etc. Apesar de existirem alguns setores da agricultura familiar envolvidos com exportação, é óbvio que o posicionamento internacional do governo está balizado pelos interesses do patronato agroexportador, muitas vezes com graves conseqüências para o conjunto da agricultura familiar”. 48 CAPÍTULO 5: AGRICULTURA CONVENCIONAL (PATRONAL) OU AINDA, AGRICULTURA INDUSTRIAL Tendo como base produtiva mecanismos disponibilizados nos mais variados métodos tecnológicos e creditícios fica claro que esse sistema de exploração é distinto da agricultura familiar, na sua forma tanto administrativa, quanto na produtiva, pois está poderosamente centrada nas mãos dos grandes latifundiários com produções em escalas altíssimas para a exportação. O sistema convencional (patronal) desempenha papel importantíssimo para o desenvolvimento da agricultura brasileira; porém se utiliza de dispositivos exploratórios que são altamente comprometedores à sustentabilidade de uma agricultura limpa, equilibrada e corretamente aproveitada. Para tanto é imprescindível, que num momento informacional e tecnológico gigantesco pelo qual passamos, a agricultura brasileira deve aproveitar o máximo estas dádivas de conhecimento. A tecnologia de ponta avança a passos largos e deve agigantar-se ainda mais, e doravante não mais será possível esconder tamanho conhecimento, principalmente agora, que a agricultura brasileira precisa crescer de maneira competitiva e sustentável. Para que floreça uma agricultura preservacionista do ponto de vista ambiental, a agricultura tida como convecional deverá ter uma maior precisão nos seus processos de produção e produtividade; provocar uma consciência de reformulação de seu sistema produtivo, pondo em práticas constantes as tecnologias necessárias a essa transformação e buscando um equilíbrio lógico entre as políticas do ministério da agricultura, que acredita-se, 49 formuladas para regulamentar e proteger os interesses comuns de produtores, governo e particularmente da vida da população consumidora; e evidentemente aos seus objetivos particulares, desde que em acordo com as leis vigentes para a exploração em todos os níveis de escala. Um artigo traz a caracterização desse sistema da seguinte forma “podemos afirmar que, do ponto de vista tecnológico, a agricultura industrial representa um modelo baseado em três pilares fundamentais: 1)agroquímica; 2) motomecanização; e 3) manipulação genética. O pilar da agroquimica produziu os insumos que permitiram o controle das restrições ambientais, tanto no tocante a fertilidade dos solos, quanto no controle das chamadas pragas, doenças e ervas invasoras. Isso possibilitou ao modelo um seguro controle e uma dominação da natureza, permitindo praticar a agricultura de monocultura intensiva e extensiva, a qual seria impossível sem esse aparato industrial. O pilar da motomecanização permitiu a liberação de mão-de-obra às indústrias e às cidades, barateando os custos de produção, assim como a possibilidade de cultivar áreas cada vez maiores, ampliando as monoculturas. A manipulação genética favoreceu o trabalho com plantas e animais de alta resposta aos insumos químicos contribuindo também para o aumento da uniformidade genética e da ampliação das monoculturas. Esse último pilar constitui, hoje, a área mais importante que está para receber pesados investimentos dos grupos transnacionais do agrobusiness. Alguns chegam a considerar a engenharia genética como um novo paradigma agrícola, o que não é verdade. Isso significa apenas o aprofundamento do paradigma atual, já que quase 90% das pesquisas realizadas nessa área visam a obter plantas resistentes ao uso de herbicidas, permitindo maior intensidade no uso desses produtos. Por outro lado, as gestões dos países ricos (especialmente dos Estados Unidos) exigindo que os países do Terceiro Mundo, ricos em biodiversidade, instituam legislação específica sobre a propriedade intelectual e de patentes sobre plantas e microrganismos, abrem campo para um maior controle e domínio desses interesses sobre a agricultura mundial. Pode-se observar que a caracterização do modelo de AI não pode ser realizada apenas do ponto de vista tecnológico. Existem os determinantes econômicos, políticoestratégicos, culturais, sociais e outros, que não podem ser esquecidos. O Brasil sofreu, nos 50 últimos anos, um violento processo de “modernização” de sua agricultura, apenas no que toca aos aspectos tecnológicos e apenas em algumas regiões. Convivem em nosso país relações trabalhistas e formas de organização que remontam à Idade Média (parceria, meia, terça, etc.) e até semi-servidão, sem falar na pura e simples escravidão, vez por outra relatada na imprensa. A má distribuição da terra foi um dos maiores entraves ao desenvolvimento rural no Brasil. Do ponto de vista tecnológico, o país apresenta tanto a agricultura mais destrutiva em larga escala, com o uso indiscriminado de pesticidas e maquinaria pesada (aviões, etc.), como formas de agricultura de coivara (shifting cultivation), passando por todos os tipos intermediários de manejo de pequenas e grandes propriedades de forma intensiva e extensiva, com maior, menor ou nenhum uso de agrotóxicos. Do ponto de vista científico, a ciência agrícola baseia-se nas idéias do positivismo-reducionista, um modelo muito adequado aos interesses econômicos que dominam os sistemas de produção e os mercados agrícolas mundiais. Não é possível no espaço deste artigo caracterizar esse modelo de abordagem científica, mas pode-se mostrar que, embora hegemônico na ciência agrícola, não é o único. Apresentamos adiante um quadro, retirado de Pretty (1995), (apud JESUS,1996), com diferentes abordagens científicas, que fogem ao paradigma positivista e o desafiam. O paradigma científico agrícola dominante tem suas origens ligadas à da ciência como método (Descartes, Bacon, Newton e Galileo, entre outros) e deve muito também ao positivismo de Comte. A superespecialização em pequenas áreas do conhecimento, as quais raramente se comunicam, faz parte dessa abordagem. Alguns autores, como Prigogine & Stengers (1984), vêm alertando para a necessidade de uma nova postura científica, que chamam de ‘nova aliança’, e que busca integrar a cultura científica mais tecnológica com a cultura científica de caráter mais humanista, dando origem a um tipo de ciência mais pluralista e integrada, reconhecendo também o saber popular e tradicional. Prigogine, Prêmio Nobel por seus estudos com estruturas dissipadoras, lançou, segundo Ferguson, citado por Crema (1989), uma ponte no vão existente entre a biologia e a física o elo perdido entre os sistemas vivos e o Universo, aparentemente sem vida. Isso explica o processo irreversível de criar ordens cada vez mais elevadas. Capra (1985), partindo de estudos de física quântica, tratou de estabelecer uma ponte entre a ciência ocidental e a filosofia oriental, abrindo novas perspectivas de análise dos 51 paradigmas científicos e do desenvolvimento. E interessante notar que um dos mais importantes pilares da agroecologia é justamente o respeito ao conhecimento tradicional, empírico, dos agricultores e povos indígenas, onde se busca a aproximação entre esse e o conhecimento científico forma, originário das academias e dos centros de pesquisa. (JESUS, 1996, p.14-16). Quadro 1 – Diferentes Abordagens científicas 52 Alternativas e desafios ao paradigma em diversas disciplinas Alternativa Fonte Teoria do caos e ciência não linear , geometria fractal e Gleick, 1987 matemática. Prigogine & Stengers, 1984 Gould, 1989 Física quântica Schrödinger Heisenberg Trabalho em redes com neurônios Holland et al., 1986 Sistemas de ciência suave Checkland, 1981 Röling, 1994 Kurokawa, 1991 Filosofia e simbiose Abrams, 1992 Sociologia e história Sheldrake, 1988 Ressonância mórfica Waldrop, 1992 Teoria da complexidade Lovelock, 1979 Teoria Gaia Ekins, 1992 Neo-economia e economia alternativa Douthwaite, 1992 Dally & Cobb, 1989 Artur, 1988 Philips, 1990 Jackson, 1991 Pós-positivismo Tsoukas, 1992 Habermas, 1987 Teoria crítica de sistemas Harvey, 1989 Ação comunicativa Holling, 1978 Nogaard, 1989 Roche, 1992 Pós-modernismo Peters 1987; Handy, 1989 Thompson & Trisoglio, 1993 Manejo adaptativo e operacionalidade em turbulência Aprendizado organizacional instituições-problema Ecologia social Fonte: Pretty (1995). Bawden, 1991/92; Woodhill,1993 53 Retomando o trabalho de Moura et al. (2002), podemos complementar de forma mais eficiente o entendimento e os avanços indiscutivelmente ainda necessários para que a agricultura de precisão possa fazer parte do grande processo de desenvolvimento da agricultura do Brasil, abraçando a agricultura familiar e tentando através de um ato um tanto quanto humanístico proporcionar a inserção do sistema familiar aos meios e às tecnologias de produção. Segundo este material, “... no Brasil, como em grande parte do mundo, a partir da década de 60 e com o advento da Revolução Verde, as técnicas agrícolas sofreram uma grande evolução tecnológica. Desenvolveram-se novos cultivares de soja, milho, arroz, trigo, feijão etc. para diferentes regiões. O desbravamento e a incorporação de novas fronteiras de produção, combinado com o domínio da recomendação de fertilizantes para diferentes tipos de solo e o eficiente controle químico de plantas daninhas, insetos e doenças, resolveu grande parte dos problemas das baixas produtividades e o eminente risco da escassez de alimentos. Entretanto, surgiram outros desafios decorrentes da utilização desmedida dessas tecnologias como a contaminação do meio ambiente, o desperdício na utilização de insumos e a falta de racionalização do processo de perdas. Entende-se que o momento atual é a evolução desse ciclo, com a contribuição da área da eletrônica, informática, sensoriamento remoto, sistema geográfico de informações e a geoestatística para o uso de alta tecnologia na produção agropecuária, minimizando assim estes efeitos e contribuindo para a sustentabilidade da produção mundial de alimentos (desenvolvimento de novas tecnologias de mecanização). Por outro lado, é necessário considerar que essa evolução tem um custo e esse custo nem todos os agricultores têm estrutura para suportar. De fato, o que aconteceu foi uma reestruturação produtiva com novas técnicas de gerenciamento e inovações tecnológicas em todos os ramos de produção, causando redução na demanda por mão-de-obra e exigindo uma maior qualificação do trabalho. Assim, pelo lado dos pequenos agricultores, normalmente com menos aporte financeiro o que acontece é a marginalização em relação ao uso dessa nova tecnologia. O presente trabalho procura apontar sugestões, acerca da necessidade de investimento em qualificação de recursos humanos e dos elevados custos incidentes para a implantação de novas técnicas na agricultura, devido ao reduzido número de estudos na área. Assim, a partir de uma breve revisão bibliográfica descreve-se algumas abordagens em torno do avanço tecnológico, colocando como ponto central da discussão a agricultura de precisão e os desafios da pequena propriedade diante desse marco tecnológico. 54 A mecanização agrícola no Brasil ocorreu logo após a Primeira Guerra Mundial, quando houve um desajuste temporário da disponibilidade de mão-de-obra rural e o conseqüente aumento dos salários (BRUM, 1988). No período de 1939-40, com o início da Segunda Guerra Mundial e as dificuldades de importação de tratores e outras máquinas, o desenvolvimento da mecanização foi seriamente prejudicado, perdurando até 1945. Assim, pode-se considerar que o processo de implantação da mecanização no Brasil, que se iniciou entre 1823 e 1836, com as primeiras recomendações de utilização e fabricação no país de arados de tração animal, findou-se em 1939-40, época em que o Brasil contava com uma frota de 3.380 tratores, Após o término da Segunda Guerra Mundial, verificou-se a necessidade de impulsionar a produção do campo, seja com aumento de produtividade, seja com a expansão das áreas através do uso de insumos modernos (sementes selecionadas, fertilizantes, defensivos e, principalmente, maquinário) o que passou a preocupar os produtores. Dessa forma, a partir de 1949, houve um grande desenvolvimento da mecanização no Brasil, devido ao aumento nas importações de tratores. Entretanto, faltava pessoal devidamente treinado para a utilização dessas máquinas. Devido à variedade de marcas, modelos e procedências que nem sempre eram as mais adequadas para as condições apresentadas pela topografia das diferentes regiões do país, surge então a necessidade de desenvolver novos tipos de equipamentos. Devido a isso, a indústria nacional de máquinas agrícolas passou a oferecer uma ampla linha de produtos, atendendo desde as operações realizadas com tração animal até aquelas que exigem tratores equipados com o que há de mais avançado. Como exemplo, pode-se citar colheitadeiras que monitoram a produtividade da área que está sendo colhida, também a umidade dos grãos e, ao final de uma jornada de trabalho, emitem um mapa de produtividade da área por meio de sistemas controlados por satélite. Além disso, a agricultura brasileira conta atualmente com várias tecnologias de mecanização tais como: plantio direto, irrigação com pivô central, controle da compactação, automação de mecanismos, informações operacionais, dentre outros. Visando corroborar com essa trajetória tecnológica ocorrida na agricultura, buscou-se na literatura, abordagens acerca de questões tecnológicas, das quais algumas serão apresentadas a seguir. A abordagem marxista tenta explicar a estrutura e a evolução social a partir do conflito de classes e do progresso técnico. Tal progresso permitiu o surgimento da fábrica em lugar do artesanato, com a máquina substituindo a habilidade do artesão, ou seja, tornou-se 55 possível a subordinação do trabalho ao capital com o intuito de alcançar lucros maiores. Também é enfatizado que o progresso técnico teria que encontrar soluções para diminuir a diferença entre tempo de produção e tempo de trabalho e para ‘resolver’ o problema da perecibilidade. A escola neoclássica aponta o comércio internacional como fator causador de mudanças econômicas estruturais e, portanto, de desemprego (mudanças na oferta de bens produzem impactos sobre a demanda de mão de obra, o que pode gerar desemprego) sendo referência para essa abordagem a obra de Paul Krugman. Krugman (1987), explica que os padrões de comércio são determinados por um contínuo processo de inovação e transferência de tecnologia. Segundo o autor, as inovações consistem na introdução de novos produtos que podem ser imediatamente produzidos nos países desenvolvidos, mas necessitam um certo tempo até serem produzidos nos demais países. Este atraso na adoção de novas tecnologias pelos demais é a razão que determina o comércio. A escola neoclássica também enfatiza a questão das mudanças tecnológicas e seus impactos na produção agregada. O economista americano Robert Solow (1952) destaca que o termo ‘Inovação Tecnológica’ pode ser definido como qualquer tipo de mudança ou deslocamento na produção como, por exemplo, as acelerações e os melhoramentos na educação da força de trabalho surgem como mudanças tecnológicas Hayami & Ruttan (1971) propuseram um modelo chamado ‘Modelo de Inovação Induzida’, que incorpora mudanças na tecnologia e nas instituições e orienta-se pela oferta dos fatores e demanda de produtos. Pressupõem os autores que tecnologias podem ser desenvolvidas de modo a facilitar a substituição de fatores relativamente escassos na economia. Ainda a corrente que defende que a tecnologia impulsiona o desenvolvimento econômico, argumenta que o investimento em pesquisa se justifica porque as empresas competem e crescem através do desenvolvimento de novos produtos e processos. A motivação para inovar é a perspectiva de alcançar o monopólio, mesmo que temporário, do retorno destes produtos ou processos. Por outro lado, o enfoque neo-schumpeteriano tem a economia da mudança tecnológica como o centro de sua análise atribuindo à inovação o papel de principal dinamizador da atividade econômica capitalista. As diferentes versões deste enfoque procuram elaborar modelos onde tanto variáveis de comportamento quanto estruturais têm ação recíproca, gerando trajetórias não de equilíbrio, mas de mudança e transformação estrutural (POSSAS, 1989). Ainda o mesmo autor na abordagem de “paradigmas e trajetórias tecnológicas”, apoia-se em DOSI ao 56 enfatizar que o objetivo teórico mais ambicioso é a construção de um marco teórico dinâmico para o estudo da economia industrial, que como tal deverá estar apoiado essencialmente na atividade inovadora e seus efeitos econômicos mais diretos ao nível da indústria e dos mercados. O ponto de partida é identificar as características da tecnologia que a tornam fator de mudança econômica estrutural. No que se refere à dimensão econômica das inovações, são três as características: a oportunidade de introdução de avanços tecnológicos relevantes e rentáveis; a cumulatividade inerente aos padrões de inovação e à capacidade das firmas em inovar; e a apropriabilidade provada pelos frutos do progresso técnico mediante seu retorno econômico. Tais elementos respondem pela criação, sustentação e eventual ampliação de vantagens competitivas que produzem, no seio da estrutura produtiva, as assimetrias técnicoeconômicas cruciais à geração de impulsos dinâmicos na estrutura econômica. O conceito de trajetória tecnológica pode ser útil para caracterizar e analisar os aspectos endógenos do progresso técnico, como processo simultaneamente tecnológico e econômico. Assim, cabe notar que uma das características cruciais do progresso ao longo de uma trajetória tecnológica é sua natureza cumulativa. Assim, considerando o progresso tecnológico uma transição produtiva, onde ocorre uma evolução de estágios, passando-se para um outro com mais tecnologia, descreve-se a seguir a agricultura de precisão como característica dessa evolução. Na tentativa de atender a demanda crescente de alimentos, novos elementos que viabilizem o aumento da produção, são incorporados à agricultura. Após o período conhecido como Revolução Verde, a agricultura está entrando em uma nova era que poderia ser chamada de Segunda Revolução Verde. Entretanto, as técnicas atuais poderão ter ainda maiores impactos sobre a agricultura, do que o observado durante a Revolução Verde. Assim, pode-se acreditar que se consolida uma nova era também na produção de máquinas e implementos agrícolas e produção de insumos. Certamente o espaço que será aberto irá ao encontro da criação de técnicas mais precisas de produção, como por exemplo, a agricultura de precisão. O primeiro conceito de agricultura de precisão foi mencionado em 1929, nos Estados Unidos, quando pesquisadores tentaram fazer uma aplicação localizada de calcário, como forma de minimizar o uso deste insumo durante a aplicação (HURN, 1989). No final do século XX Strauch (2002) define a agricultura de precisão como um conjunto de tecnologias capaz de auxiliar o produtor rural a identificar as estratégias a serem adotadas para aumentar a eficiência no gerenciamento da agricultura, maximizando a rentabilidade das colheitas, 57 tornando o agronegócio mais competitivo. Isto possibilita otimizar o uso dos recursos edafoclimáticos e minimizar os insumos utilizados no sistema de produção de um local. O princípio básico desta técnica consiste em aumentar a produtividade das culturas, considerando a variabilidade espaço-temporal dos fatores de produção de forma a proporcionar o manejo com taxas variáveis, e respeitando os princípios de sustentabilidade. A adaptação e a aplicação das técnicas de agricultura de precisão requerem a disponibilidade de dados espaço-temporais precisos, em um sistema de referência relacionado à superfície terrestre (geo-referenciado), e o amplo uso da informação para subsidiar as ações em relação a produtividade. A agricultura de precisão é caracterizada por empregar um enfoque sistêmico aplicando a Tecnologia de Informação ao agronegócio para possibilitar o gerenciamento de informações geo-referenciadas. Este gerenciamento tem por finalidade estabelecer estratégias administrativas e econômicas ao sistema de produção. Neste enfoque, a agricultura de precisão emprega três níveis de decisão os quais estão associados a informações distintas, a saber: nível estratégico - demanda informações que subsidiem a tomada de decisão para o planejamento quanto a adoção da tecnologia, considerando a sua viabilidade técnica economica; nível operacional - requer conhecimento referente as diversas alternativas de implementação das operações necessárias para o sucesso na adoção da tecnologia; nível prático - trata das decisões relacionadas às implementações locais quanto a questões específicas de produtividade. Em países desenvolvidos, como os Estados Unidos da América, onde informações detalhadas encontram-se disponíveis através dos estudos sistemáticos em grandes escalas, principalmente dos componentes do sistema de produção e pedoclimáticos, a adoção da agricultura de precisão já é uma realidade. No Brasil, entretanto, essas informações encontram-se mais generalizadas, distribuídas em pequenas escalas, dispersas em diversos níveis da extensão rural ou distribuídas em diferentes comunidades de informação (STRAUCH, 2002). Na última década, a surpreendente evolução dos sistemas informatizados, combinada com a forte pressão de grupos de ambientalistas que exigem formas mais ‘amigáveis’ de se produzir, tem sido o catalisador desta ferramenta para a produção agrícola. 58 Certamente que esta é uma tecnologia que passa por um momento de adaptação e requer ainda muitos recursos para tornar-se completamente acessível, no entanto, não existe dúvida quanto à sua aplicabilidade e benefícios aos processos produtivos. Para que este setor da economia continue a crescer e a contribuir cada vez mais, é necessário que exista um gerenciamento adequado de suas informações. A agricultura é muito dinâmica em função de vários fatores (clima, mercado interno e externo, política de preços etc.) e demanda a atualização constante de seus dados. Este dinamismo determina que o meio a sua volta também sofra influências que algumas vezes podem ser danosas, como os impactos que pode causar ao ambiente, por exemplo. Dentro deste panorama, dois aspectos estão determinando grandes mudanças na agricultura de hoje. O primeiro diz respeito à utilização racional do solo, o que implica, dentre outras coisas, a redução na utilização de fertilizantes e agroquímicos no sentido de evitar impactos ambientais. O segundo aspecto focaliza custos. As práticas agrícolas devem ser repensadas de modo a aumentar a produtividade e minimizar custos. É sob a égide destas considerações que a agricultura de precisão é eficaz, pois leva em conta as características espaciais das variáveis consideradas no processo de produção. Apesar de conter em seu bojo uma nova filosofia de comportamento, a agricultura de precisão busca a implantação e o aprimoramento de tecnologias. Ela está centrada na informação espacial e para isto necessita de ferramentas como o Sistema de Posicionamento Global (GPS) e os sistemas de informação geo-referenciadas (GIS). O objetivo básico da agricultura de precisão é aumentar a eficiência dos processos de produção com base no manejo diferenciado de áreas cultivadas, reduzindo os impactos ambientais e aumentando a lucratividade. Para tanto, três etapas são consideradas fundamentais no processo de aplicação da agricultura de precisão: Mapeamento da produtividade - para realizar os mapeamentos de produtividade há necessidade de se utilizar colheitadeiras equipadas com sensor que permitam medir a quantidade de material (massa) que está sendo colhida em tempo real. Ademais, um sistema de posicionamento que indique com precisão considerável (cerca de 1 metro) a posição da colheitadeira. Com estes requisitos acima descritos é possível traçar o mapa de produtividade da lavoura colhida. Outros sensores podem ser adicionados para facilitar o processamento dos 59 dados e aumentar a precisão da informação, como por exemplo, sensores de umidade que medem esta variável em tempo real. Mapeamento dos atributos do solo e das plantas - consiste em definir características que se pretende relacionar com a variabilidade observada nos mapas de produtividade. Todas as amostras devem ser geo-referenciadas, ou seja, cada amostra retirada de um ponto que se pretende estudar obrigatoriamente deve apresentar a latitude, longitude e a altitude (estas informações se obtêm utilizando o sistema de posicionamento global -GPS). Aplicação localizada de insumos - determina-se a quantidade de insumos que se pretende aplicar em cada área estudada, em função da análise dos dados obtidos na fase de mapeamento dos atributos do solo e plantas, correlacionando os mesmos com o mapa de produtividade e as características agronômicas da cultura, e finalmente considerando experiências prévias obtidas naquele campo nos anos anteriores. As quantidades recomendadas para a aplicação são colocadas em um mapa de prescrição, armazenado em um microcomputador que normalmente já faz parte do sistema de controle para a posterior aplicação localizada de insumos. As práticas agrícolas com relação ao manejo de solos, objetivando produtividade, levam em consideração que o solo é homogêneo quando na realidade isto não acontece. O solo tem características muito heterogêneas, mesmo para pequenas áreas. A agricultura de precisão objetiva considerar estas variações no manejo do solo. Atualmente é possível realizar aplicação variável nas áreas de colheita de defensivos, sementes e fertilizantes. A grande diferença entre este sistema e a agricultura convencional (métodos tradicionais) é o fato de poder tratar a área, talhão, ou a própria fazenda considerando a variabilidade espacial e até temporal dos atributos dos solos e das plantas. Para que se possam evidenciar as vantagens da agricultura de precisão em relação à agricultura convencional, é necessário que se aponte algumas características de cada uma delas. Na agricultura convencional o controle de entradas e saídas do talhão ou da propriedade é feito com base em valores médios; é feita uma amostragem de solo para grandes áreas; determina-se uma receita para a fertilização (kg/ha); a produção também é definida pela média (sc/ha ou kg/ha); ignora-se que há variabilidade dentro dos talhões 60 (manchas de alta produtividade e baixa produtividade recebem o mesmo tratamento) podendo fazer com que haja uso excessivo de insumos, provocando impacto ambiental e econômico. Na agricultura de precisão, ocorre uma preocupação com a heterogeneidade da área e cada ponto é tratado de acordo com seu potencial de resposta. Exploram-se mais os pontos de maior potencial e menos os pontos de menor potencial. Em alguns casos, inclusive, se elimina pontos de baixa produtividade que não cobrem os custos de produção. Assim, pode-se dizer que a agricultura de precisão permite: conhecer as variações espaciais de uma lavoura; a produtividade; as características do solo; as manchas de ervas daninhas dentre outros; e tomar decisões de como, quando, onde e quanto aplicar de insumos. Assim, os instrumentos utilizados para a implantação da agricultura de precisão são: GPS - Sistema de Posicionamento Global - é um sistema de navegação baseado em satélites e operado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O sistema tornou-se totalmente operacional em 1993 e foi construído durante a guerra fria, e tinha como objetivo conhecer, em tempo real, o posicionamento do inimigo. Este sistema de posicionamento é composto por 27 satélites, sendo 21 suficientes para cobrir toda a Terra. Os mesmos estão localizados a 20.200 quilômetros acima da superfície da Terra e cada satélite leva cerca de 12 horas para dar uma volta completa no globo (duas vezes por dia). Os satélites são equipados com emissores e receptores para enviar e receber sinais. A medida do tempo dos sinais emitidos e recebidos é muito importante para assegurar a precisão do GPS. Portanto, os satélites são equipados com relógios de altíssima precisão, com um atraso aproximado de 1 segundo a cada 160.000 anos, tornando-os possíveis para a navegação e mapeamentos. Sensores: são os equipamentos necessários para a obtenção de dados em tempo real para gerar os mapas de produtividade. Dentre os principais, pode-se destacar: Sensores de Fluxo de massa com placa de impacto e potenciômetro; Sensores de fluxo de massa com placa de impacto com célula de carga; sensores de fluxo de massa volumétrico com luz infravermelha; e Sensor de fluxo de massa com fonte radioativa. No caso das colheitadeiras, para que elas possam obter e registrar os dados de produtividade de cada pequena área da lavoura (sites), devem possuir os seguintes equipamentos: Receptor - sistema de antenas que recebe os sinais dos satélites do GPS (Global Position System) e o sinal de correção, que servirão para localizar instantaneamente a colheitadeira. 61 Sensor de umidade - mede a umidade dos grãos que estão sendo colhidos naquele ponto. Sensor de massa - mede a quantidade de grãos que estão sendo colhidos naquele ponto Processador - recebe os três dados citados acima os correlacionando e registrando-os em um cartão magnético (similar a um disquete). Os dados armazenados no cartão magnético são transferidos a um computador e tratados por um software específico, que elaborará então o mapa de produtividade. Neste mapa, cada lavoura (site) será representada por um ponto que receberá uma coloração de acordo com a produtividade específica nele encontrada (por exemplo, pontos com maiores produtividades representadas pela cor verde e com menores pela cor vermelha). Após a obtenção dos dados e a organização dos mesmos, gerando a informação (mapa de produtividade), ou seja, conhecendo-se a variação espacial da produtividade de um ponto em relação a outro ponto, vem o processo de análise e interpretação, que é a busca da causa (ou causas) destas variações, a fim de corrigi-las quando possível, gerando o conhecimento que então será aplicado na forma de melhor tomada de decisões (neste caso deve-se ter os registros, fatos e dados que aconteceram durante o desenvolvimento do processo). Depois de gerado o mapa de produtividade vem a etapa de interpretação destas informações, fase esta que necessita de pessoas capacitadas para tal. Este processo é melhorado a cada ciclo completo, gerando a cada ano uma melhor decisão. Pode-se perceber que a agricultura de precisão é um processo contínuo e dificilmente terá um grande impacto nos primeiros ciclos após sua implementação, mas seu efeito se fará sentir ao longo dos anos à medida que se obtém uma base de dados confiáveis, gerando um conhecimento mais consistente. Portanto, é uma tecnologia nova, que ainda está em desenvolvimento mesmo nos países mais avançados. Não há verdades absolutas e muitas coisas ainda estão em desenvolvimento ou a desenvolver. No Brasil, estão ocorrendo várias iniciativas de empresas, fundações e universidades, com o objetivo de desenvolvimento e implementação desta tecnologia. Quanto à preparação dos agricultores brasileiros para a introdução desta técnica, uma vez que o Brasil possui a mais desenvolvida tecnologia de agricultura tropical do mundo, pode-se imaginar que existam agricultores preparados para o uso da agricultura de precisão. Entretanto, é preciso considerar que esta é uma tecnologia nova em todo o mundo, com um grande potencial ainda de desenvolvimento, sobretudo no que diz respeito a interpretação das informações obtidas. Logicamente, apenas um nicho reduzido de produtores adotará, 62 inicialmente, estas técnicas. No entanto, com o tempo, a tecnologia se tornará mais popular e outros produtores passarão a utilizá-la. Portanto, diante da evolução tecnológica pela qual a agricultura brasileira tem passado, e da necessidade de adaptação a esta evolução, surge a necessidade de avaliação dos resultados e também de estimar custos em agricultura de precisão. O que se percebe é que é algo relativamente complexo e que ainda requer muita pesquisa. Embora o sistema possa ser usado para todas as culturas, é preciso considerar muitos aspectos, sobretudo no que diz respeito ao alto investimento inicial, a necessidade mão-de-obra especializada e a viabilidade em pequenas áreas e culturas. Também se observa que a informática e a biotecnologia serão as ferramentas mais aplicadas nos próximos anos para incrementar a produtividade das culturas. Além do que, estas são tecnologias que visam reduzir não somente o impacto ambiental, mas também os custos de produção. A grande maioria dos alimentos básicos como arroz, milho, feijão e mandioca são produzidos em pequenas propriedades, ou seja, sem o caráter empresarial, a produção da agricultura familiar também poderia ser viabilizada dentro de classes de produtores. Para tanto, a figura das associações de produtores desempenharia um papel fundamental para assumir esta importante atividade no setor agrícola. Os pequenos produtores, uma vez organizados, possuem enormes condições se suprirem as necessidades de produção de alimentos básicos e ainda exercerem atividades de difícil execução à nível individual. A organização, portanto, seria a base principal para se obter sucesso na atividade. Sendo assim, é plenamente justificável que se adote políticas amplas e permanentes para esta classe de produtor, associada à intensificação de suas organizações, o que aceleraria o seu processo de modernização tecnológica, refletindo diretamente no aumento da produção agropecuária. As políticas voltadas ao pequeno produtor ainda poderiam perfeitamente contribuir para o aumento de renda e melhoria de vida no campo, além de contribuir para a solução de vários graves problemas sociais urbanos. Diante disso, pode-se verificar que a modernização da agricultura, que gerou aumento de produção e produtividade agrícola, gerou desenvolvimento comercial, agroindustrial e de serviços. Ao ser focada à agricultura familiar, apresenta fortes e graves reflexos, pois essa modernização foi possível graças ao Estado ter transferido importantes recursos na forma de crédito subsidiado, incentivos fiscais, garantias de preços, pesquisa e 63 extensão rural e outros. Nesse período ocorreu uma alteração na estrutura de produção (com a diminuição do número de estabelecimentos). Os grandes produtores foram favorecidos e puderam modernizar-se, enquanto que os pequenos agricultores sem terra ou com pouca terra foram marginalizados. A título de ilustração, cita-se o número de contratos de custeio no ano de 1979, que foi de 1.375.417, atingido menos de 25% do total de produtores do país. Destes contratos, 80% eram destinados aos pequenos agricultores que correspondia apenas a 20% do total dos recursos. Em 1993 os pequenos agricultores, com 81,22% do total dos contratos receberam apenas 31,85% do total dos recursos, os grandes com 3,37% dos contratos receberam 31,01% dos recursos. Como pode ser visto, este tema apesar dos estudos e discussões que vem sendo feitos ainda requer bastante pesquisa, pois tanto a agricultura de precisão quanto a agricultura familiar são duas variáveis presentes e essenciais para o desenvolvimento da agricultura e da economia nacional”. 64 CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO A grande problemática consiste em levar os conhecimentos técnicos específicos e operantes para ambas as formas de exploração agrícola no Brasil. As vantagens e desvantagens produtivas da agricultura familiar e/ou convencional (patronal) são distintas, portanto, só será possível atingir um desenvolvimento “tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável” (ROMEIRO, 1996, p.34), se políticas direcionadas de pesquisa e desenvolvimento fornecerem a esses sistemas as informações vitais ao seu perfeito desempenho. Não seria suficiente apenas fornecer os meios de produção, sem que antes houvesse uma base para a construção sólida de parâmetros adequados através de estudos e pesquisas com parcerias entre Orgãos Governamentais, Centros de Pesquisas, Universidades (Públicas e Privadas) etc, e os meios de produção agrícola propriamente ditos. A despeito de toda tecnologia disponibilizada, as técnicas arcaicas de conhecimento não suportariam tamanha inovação. Seria totalmente incoerente tentar colocar “vinho novo em odres velhos”, pois o vinho novo arrebentaria os odres velhos. As políticas creditícias hoje em vigor, quando não de favorecimento ao sistema Patronal, são ineficientes e ultrapassadas. Relegando aos menos afortunados agricultores familiares ficarem à margem do desenvolvimento econômico do país, como se fossem desprovidos de uma atuante força econômica. Fazendo disso uma verdade, a agricultura patronal desfruta de seu tamanho interesse nas rentáveis exportações de commodities. 65 Ambos os sistemas produtivos, familiar e patronal devem ser amparados e normatizados por políticas e leis justas e adequadas. A agricultura brasileira deverá romper o grande paradigma do desenvolvimento atual, voltar e focar sua visão para as possibilidades de desenvovimento e sustentabilidade internos, quebrar o ciclo de degradação ambiental e fomentar uma consciência , nos dizeres da escritora Jane Jacobs, em – A natureza das economias (BECA, 2001) – “que a virtude está na diversificação das economias locais e não na especialização induzida pelas economias de escala”. (VEIGA, 2002, p.62) A despeito de pensamentos ultrapassados que formulam idéias de que a troca do rural pelo urbano é um processo irreversível, e se absolutamente não houver fatos novos vislumbrados como uma luz no fim de um túnel, as ilusões permeadas de tamanho sucesso no contexto urbanístico brasileiro levarão fatalmente a uma derrocada e catastrófica migração do rural para o urbano, uma vez que esta alienação por uma tecnologia descabida, voltada para uma política capitalista insensata, centrada na alta demanda e produção das commodities mais lucrativas e portanto geradoras de divisas ao país, embasadas e forjadas nas mentes dos grandes latifundiários que enriquecem às custas de todos os benefícios adquiridos por conta de uma inepta administração que insiste na incapacidade de gerir sistemas (métodos) quando focados para um desenvolvimento equilibrado entre agricultura familiar e convencional. Embora quando observados sob o prisma da eficiência ambos os sistemas de exploração agrícola apresentem falhas, ao mesmo tempo apresentam pontos fortes importantes para elevar o Brasil a símbolo de sucesso econômico, social e ecologicamente desenvolvido. Alterando-se o estigma de subsistência da agricultura familiar para um sistema eficaz de administrabilidade, onde as tecnologias possam ser adequadamente moldadas, ajustadas a cada tipo de sistema e assim favorecer sua multifuncionalidade exploratória, principalmente no sentido das transferências dos conhecimentos das pesquisas tecnológicas inerentes ao desenvolvimento agroindustrial deste país. Quando ambos os sistemas caminharem de mãos dadas será possível atingir os mais altos objetivos já traçados para a exploração do Rural brasileiro, fazendo da agricultura nacional um espelho refletindo bom senso, humanismo, coerência, capacidade, conhecimento, crescimento etc,etc. 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 01 - BARTOLOMEO, R. 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