PRÁTICAS DE MANEJO PARA CORRETA CRIAÇÃO DE BEZERRAS LEITEIRAS Ricardo Dias Signoretti 1 Em sistemas de produção de bovinos leiteiros a criação de bezerras na fase compreendida do nascimento ao desaleitamento, exige práticas de manejo eficientes e muitos cuidados. O período neonatal (até 28 dias de idade) é a fase mais crítica representando cerca de 75% das perdas durante o primeiro ano de vida. Para evitar estas perdas os técnicos e produtores devem estar atentos à saúde e o crescimento dos bezerros antes, durante e no período imediatamente após o parto. Dentre os fatores de produção mais importantes e críticos na criação de bezerras destacam-se os seguintes: cuidados com as vacas antes do parto, o fornecimento do colostro, a cura do umbigo, o fornecimento da dieta líquida e o desenvolvimento do rúmen. Os manejos sanitário, nutricional e ambiental adequados são fundamentais para produção eficiente de bezerras possibilitando minimizar a mortalidade e perdas de animais e maximizar a lucratividade, tanto na reposição de matrizes do rebanho como na comercialização de machos para reprodução e abate. Cuidados com as vacas no período de gestação Vale ressaltar que os técnicos e produtores devem estabelecer critérios para reprodução do rebanho leiteiro peculiares em cada sistema de produção, tais como: o peso e idade à cobertura e do touro adequado para o correto acasalamento (a dificuldade de partos para novilhas deve ser de 7 a 9% e para vacas de 10 a 11%). 1 Engenheiro Agrônoma graduado pela Escola Superior de Agricultura e Ciências de Machado - MG. Mestre em Zootecnia pela UFV/Viçosa-MG. Doutor em Zootecnia, Área de Concentração em Nutrição de Ruminantes pela UFV/Viçosa - MG. É pesquisador Científico do Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios da Alta Mogiana - Colina/SP. É Coordenador da divisão de Consultoria Técnica em Bovinocultura de Leite da COAN Consultoria. E-mail: [email protected] A secagem da vaca 60 dias antes do parto provável é fundamental para produção de colostro de boa qualidade e de bezerras com peso adequado ao nascer, além de trazer inúmeras vantagens na vida produtiva e reprodutiva das vacas. Além disso, ao redor de 30 dias (vacas) e 45 dias (novilhas) antes do parto provável, os animais devem ser alocados em piquetes ou baias em boas condições de higiene e receber a dieta de transição (pré-parto) que objetiva preparar a vaca para uma nova lactação, além de evitar inúmeras desordens metabólicas que venham a causar prejuízos aos produtores de leite. Cuidados após o parto Após o nascimento a bezerra está exposta a vida extra-uterina e precisará adaptarse o mais rápido possível para enfrentar as várias mudanças fisiológicas. Principalmente, a regulação da temperatura corporal, se a bezerra for submetida a estresse prolongado aumenta as chances de mortalidade. Além disso, após o nascimento deve-se estar atento quanto à remoção das membranas fetais, muco do nariz e boca, quanto necessário. A cura de umbigo deve ser feita o mais rápido possível com tintura de iodo (7 a 10%), sendo este procedimento repetido pelo menos até o terceiro dia de vida. A ingestão do colostro, sempre de alta qualidade, é de suma importância e deve ser fornecido o mais rápido possível, no máximo até 6 horas após o nascimento, preferencialmente mamado na vaca; na quantidade de 2 kg para bezerras de raças grandes e 1 kg para bezerras de raças pequenas, período em que a absorção de imunoglobulinas é mais eficiente. E, posteriormente, na quantidade de 2 litros pela manhã e 2 litros à tarde, pelo menos por 2 a 3 dias após o nascimento, principalmente, pelo seu elevado valor nutritivo e para reduzir a incidência de diarréias durante as primeiras semanas de vida. As bezerras que recebem nutrição inadequada, ou são criadas em instalações sem boa ventilação, ou que estão submetidas ao estresse pelo frio ou calor têm um grande risco de desenvolver doenças e aumentar a taxa de morbidade e mortalidade. Manejo nas primeiras semanas de vida Após o nascimento as bezerras devem ficar 24 horas com a mãe e receberem os cuidados comentados anteriormente. Logo após este período de ser identificado por tatuagem ou brinco e possuir ficha zootécnica para registro do número de identificação, da filiação, das pesagens e observações durante a sua vida. No caso das bezerras, deve-se inspecionar as tetas e as extra numerárias devem retiradas. Após 15 a 30 dias de vida deve ser realizada a descorna dos animais. Manejo na fase de aleitamento Existem diferentes formas de fornecimento do leite para as bezerras, os principais são: aleitamento artificial e natural. No aleitamento artificial, as bezerras são apartadas da vaca, logo após o nascimento, e recebe a dieta líquida (leite, colostro excedente ou sucedâneo de leite) em balde, mamadeira ou biberão. Para o sucesso do aleitamento artificial, é necessário que: • As vacas desçam o leite sem a presença dos bezerros; • A produção média diária de leite, por vaca, seja igual ou superior a 8 kg; • O tratador de bezerros deve reconhecer a importância da higiene, tanto pessoal como da limpeza eficiente dos baldes e demais utensílios; mamadeiras e biberões devem ser higienizados com mais cuidados que os baldes. As principais vantagens deste sistema de aleitamento são as seguintes: • Permite racionalizar o manejo dos animais, separando as bezerras das vacas; • A ordenha é mais higiênica; • Permite o controle da quantidade de leite ingerida pelos animais; • A incidência de doenças pode ser menor; • Possibilita o controle de custos na fase de cria. Na prática, em diferentes sistemas de produção de leite, o período de aleitamento artificial tem duração de 60 dias, sendo fornecido 2 litros de leite pela manhã e 2 litros à tarde. As instalações de bezerras devem ter boa ventilação e boa insolação com intuito de propiciar conforto aos animais e, ainda devem ser o mais barata possível. A utilização de abrigos individuais (Figura 1) com a separação física das bezerras propicia a redução da disseminação de doenças, aumenta o poder de observação sobre o animal facilitando a identificação imediata dos primeiros sinais de doenças. Figura 1 – Abrigos individual móvel Desaleitamento precoce Quando se adota a desmama ou desaleitamento precoce obtém-se as seguintes vantagens: • Redução no custo da alimentação; • Redução da mão de obra; • Menores ocorrências de distúrbios gastrintestinais. A interrupção no fornecimento da dieta líquida pode ser feito respeitando-se alguns critérios importantes: • O tamanho e a idade, o mais utilizado é o peso do animal. • Na prática, as bezerras estarão prontas para serem desaleitadas abruptamente quando estiverem consumido 600 a 800 g de concentrado inicial por dia, de maneira consistente, independente de sua idade, tamanho ou peso. O concentrado inicial para bezerras deve conter as seguintes características: • Ser palatável; • Possuir textura grosseira; • Conter baixo nível de fibra (6 a 7%) e alto de energia (72 a 75% de NDT); • Deve conter níveis adequados de proteína (16 a 18% de PB), minerais e vitaminas. Manejo após o desaleitamento (60 dias de idade) Atenção por parte do tratador após o desaleitamento de ser redobrada, pois este é um período crítico no sistema de produção de bezerras, momento que os animais passam por muitas mudanças, tais como: • A fonte principal de nutrientes muda de líquido para sólido; • A bezerra que era monogástrico se transforma em ruminante tem que se adaptar a novo processo de digestão e fermentação; • A quantidade de matéria seca é reduzida drasticamente. Vale ressaltar que o estresse ao desaleitamento é potencializado quando outras práticas de manejo são executadas ao mesmo tempo (descorna, mudança de instalação, mudança do tipo de dieta, principalmente, no concentrado ou no volumoso, etc.). Neste sentido, para reduzir o estresse ao desaleitamento recomenda-se a permanência dos animais no mesmo ambiente por mais duas semanas, após a retirada da dieta líquida. Os animais devem receber água e o mesmo concentrado e volumoso. Deste modo, ocorrerá menor estresse, pois os animais perderão o hábito da ingestão de dieta líquida. Em seguida a este manejo, as bezerras podem ser criadas seguindo as seguintes recomendações: 1º Lote coletivo (Transição): Está fase é onde ocorre a segunda maior incidência de doenças, em virtude ao que foi comentado anteriormente. Então, é de suma importância estar atento aos cuidados, principalmente nutricional e sanitário. O tamanho do lote não deve exceder 8 animais (Peso de 75 a 100 kg), este procedimento permite que os mesmos sejam observados mais criteriosamente. A área necessária nos piquetes é de 15 a 45 m2/ animal. Já, a área de cocho é de 30 cm/animal e de sombra 1 m2/ animal. O manejo alimentar nesta fase consiste de dieta contendo: • Volumoso: dar preferência feno de alta qualidade, podendo fornecer também gramíneas verdes, silagem de milho ou sorgo ou cana-de-açúcar. • Concentrado: utilizar o mesmo que estava sendo utilizado na fase anterior e a quantidade a ser ofertada dependerá da qualidade dos alimentos volumosos disponíveis e dos objetivos da exploração, principalmente da idade desejada para a primeira parição. Normalmente, limita-se de 1 a 2 kg de concentrado/animal/dia. • Sal mineralizado: deve estar à disposição dos animais. • Água limpa e fresca à vontade. • O programa de controle sanitário deve ser adotado de acordo com as enfermidades que ocorrem na região e a legislação vigente. A condição corporal nesta fase deve ser maior que 3,0. 2º Lote coletivo Da mesma forma, o tamanho do lote não deve exceder 8 animais (Peso de 100 a 125 kg), este procedimento permite que os mesmos sejam observados mais criteriosamente. A área necessária nos piquetes, à área de cocho e de sombra são as mesma adotadas na fase anterior. Quanto à alimentação, pode-se utilizar concentrado de menor custo, utilizando-se alimentos alternativos para substituir o milho e o farelo de soja, respeitando-se a limitação nutricional (Quadro 1). Com relação à pastagem, nesta fase, os animais devem dispor, com exclusividade, de pelo menos dois piquetes para rodízio. As bezerras são muito seletivas no pastejo, sendo a qualidade e disponibilidade de pasto de grande importância para o desenvolvimento das mesmas. A carga animal durante esta fase deve ser branda. Sal mineralizado: deve estar à disposição dos animais. Água limpa e fresca à vontade. O programa de controle sanitário deve ser adotado de acordo com as enfermidades que ocorrem na região e a legislação vigente. A condição corporal nesta fase deve ser de 3,0 a 3,5. Quadro 1: Sugestões de limites de participação de alguns alimentos em misturas de concentrados para bezerros. Alimento concentrado Recomendação Farelo de algodão até 20% Farelo de amendoim até 30% Farelo de arroz até 20% Farelo de arroz desengordurado até 20% Farelo de canola Melaço sem restrições 7 a 10% Milho moído sem restrições Farelo de soja sem restrições Grão de soja cru até 20% Farelo de trigo até 30% Polpa cítrica até 40% Uréia Até 1/3 da proteína total 3º Lote coletivo O tamanho do lote pode ser maior e comportar de 15 a 20 animais (Peso de 125 a 175 kg). A área cocho deve ser de 40 cm/animal e devemos manter os cuidados com a sombra. O fornecimento de concentrado às bezerras é dependente da qualidade do volumoso utilizado e do plano de alimentação adotado. Em geral, nesta fase é necessário o fornecimento de 1 a 2 kg de concentrado com 16% de PB e 66% de NDT. Na elaboração do concentrado pode-se utilizar alimentos alternativos regionais disponíveis a baixo custo. Com relação a pastagem, nesta fase, os animais devem dispor, com exclusividade, de pelo menos dois piquetes para rodízio. Sal mineralizado: deve estar à disposição dos animais. Água limpa e fresca à vontade. O programa de controle sanitário deve ser adotado de acordo com as enfermidades que ocorrem na região e com a legislação vigente. A condição corporal nesta fase deve ser de 3,0 a 3,5. Avaliação das bezerras Dentre os fatores que devem se avaliados para verificar se as bezerras estão sendo bem criadas destacam-se os seguintes: - Taxa de mortalidade: o ideal é não perder nem uma bezerra, mas considera-se aceitável uma taxa de 5% de mortalidade ao ano. - Taxa de morbidade: pode ser avaliada pelos gastos de medicamentos. Quanto menor o gasto com remédio melhor o desempenho dos animais e menor a morbidez. - Os pesos dos animais podem ser utilizados para monitorar o crescimento das bezerras (Quadro 2). Esta avaliação pode ser feita através de balança ou fita métrica. Quadro 2: Sugestões de pesos aos dois e seis meses de idade de bezerras de raças grandes (Holandesa, Parda suíça), pequenas (Jersey) e de animais mestiços Holandês-Zebu. Raças Idade (Meses) Peso (kg) Raças grandes Nascimento 6 meses 40 146 Raças pequenas Nascimento 6 meses 25 104 Mestiças Holandês x Zebu Nascimento 6 meses 30 120 • Aspecto geral e a condição corporal: as bezerras durante a fase de cria devem apresentar condição corporal, em média, igual a 3, numa escala 1 a 5 (sendo 1= muito magra e 5 = obesa). Considerações finais Se as práticas de manejo como alimentação correta da vaca gestante e o fornecimento do colostro o mais cedo possível após o nascimento forem adotados nos sistemas de produção de leite no Brasil, as taxas de morbidade e mortalidade das bezerras serão reduzidas e promoverá maior eficiência técnica e econômica atividade leiteira. Vale ressaltar, que o mais importante, nesta fase, é propiciar boas condições corporais para as bezerras, evitando-se que elas fiquem subnutridas ou supercondicionadas.