Dialogo 1 Paciente (60anos) muito mal. Diálogo com esposa V1. Boa tarde A1. Boa tarde V2. Eu sou da pastoral do hospital, meu nome é G. Como a senhora se chama? A2. Me chamo T. V3. A senhora é o que do paciente? A3. Sou esposa dele. V4. Soube da situação pela qual a senhora e o seu marido estão passando. Saiba que se quiser pode conversar comigo sobre isso, tá. A4. Sim V5. Dona T., notei que o paciente Sr. M. não conseguiu falar comigo. A5. Ele não pode. Ele sente muita dor. Na verdade ele sente muita dor por qualquer movimento que faz. (ela chora ao olhar para o marido). (Como você reagiria?) V6. Faço idéia do que a senhora está passando. Eu próprio passei por uma situação difícil também. Minha sobrinha, na época tinha 1 ano, uma vez teve que ser internada também. E confesso que eu fiquei muito triste e preocupado pela situação dela. Imagina uma criança de 1 ano ter que ser internada. (Somos interrompidos por uma enfermeira...Acompanhante chora novamente. Depois disso falo) Fiquei sabendo que a senhora perdeu há pouco tempo a sua filha. A6. Sim. Foi uma grande perda para mim. Éramos mais do que mãe e filha. Éramos amigas. Hoje cuido do filho dela e de meu neto de 9 anos. V7. De certa forma este neto da senhora lembra sua filha não é? A7. Sim. Eu gosto muito dele. Ele é um menino muito esperto. V8. Como a senhora se sente hoje quanto a situação do seu marido? Como a senhora vê Deus neste momento? A8. Estou muito triste por toda esta situação, mas hoje já estou melhor. Me perguntava aonde estava Deus quando tudo isto aconteceu, a morte da minha filha, o problema do meu marido... (Como você reagiria?) V9. Dona T., às vezes ocorrem muitas coisas na nossa vida que nos levam a pensar onde está Deus nesta história toda. Na verdade ele está do nosso lado, sempre, continuamente. O porque D’Ele não tirar os momentos maus de nossa vida, eu não sei dizer para a senhora. Mas o certo é que Ele sempre está do nosso lado, nos amparando e nos ajudando também nesses momentos difíceis. A9. É... Sei disso. V10. O que a senhora tem que saber é que nem eu, nem a senhora, não podemos fazer muita coisa nesta hora. O que podemos fazer é pedir a Deus por seu marido e entregar esta situação nas mãos D’Ele. Ele, com certeza vai saber o que fazer, ok? A10. Sim. V11. Também quero dizer para a senhora que a pastoral do hospital está a sua disposição para conversar, dar palavras de consolo, enfim, ajudar a senhora neste momento difícil, certo? A11. Sim, eu agradeço muito. V12. A senhor a quer algum folheto bíblico? A12. Sim, gostaria muito.. V13. A senhora quer que eu faça uma oração pelo seu marido e pela senhora? A13; Eu gostaria muito. (eu fiz uma oração) Diálogo 2 Paciente uma senhora de 84 anos. V1. Olá, com licença, posso entrar? P1. Claro, pode sim. (paciente sentada numa poltrona, sozinha, vestida de forma humilde. Quarto um tanto escuro) V2. Eu sou H, sou da pastoral e gostaria de lhe fazer uma visita. P2. Tudo bem, o Sr. Pode ficar à vontade. V3. E então, o que é que aconteceu com a Sra.? P3. Não sei, estou meio doente, eu não consigo melhorar. Os médicos ainda não descobriram o que é. Amanhã vou fazer alguns exames. Estou com muito medo. (Como você reagiria?) V4. A Sra. Está com medo. P4. Estou, estou com bastante medo. (Silencio. O olhar para baixo. O pensamento, que parecia distante, demonstrava sua preocupação.) P5. Há três dias atrás eu estava me sentindo bem, trabalhando, passando roupa. (Pausa) Agora essa mão começou também, não consigo nem botar a mão na cabeça (Ela mostrou a mão esquerda, a qual parecia ter perdido a sensibilidade e o movimento. Ela mostrou como é difícil levantar o braço para fazer um gesto de passar a mão no cabelo), não dá nem para pegar nada. (Novamente silêncio. Os braços estavam cruzados. Seu olhar pela janela era intranqüilo. Sentei-me numa cadeira que estava ao meu lado. P6. É, mas assim são as coisas, agora eu estou aqui nesse quarto, sozinha, meus filhos todos trabalham e não podem vir me ver. (Como você reagiria?) V5. A Sra. se sente sozinha! P7. Me sinto, me sinto sozinha. (Pausa). Mas eu sei que meus filhos precisam trabalhar. E do jeito que estão as coisas, não dá pra parar. Quem tem serviço tem que trabalhar. V6. Realmente, trabalho é importante. (Silêncio. Braços cruzados. Novamente o olhar para o chão. O semblante estava caído. V7. A Sra. Está triste? P8. Eu estou, estou muito triste. (A paciente começou a chorar. Silêncio por vários minutos. Fiquei sem saber o que fazer.) P9. Eu queria ir embora para minha casa, para minha gente. V8. A Sra. Gostaria de ir embora?! P10. Eu queria. V9. De onde a Sra. é? P11. Santana do Livramento. Tenho cinco homens e três moças. Só dois que são solteiros, os outros são todos casados. Os que morram aqui em Porto Alegre trabalham e não podem vir me visitar. (Ela ficou outra vez em silêncio) V10. Eu trouxe um folheto, que tem uma pequena mensagem. Eu poderia ler para Sra.? P11. Pode, pode sim. Eu não sei ler. (Li um folheto. Num determinado ponto da leitura a paciente sorriu. No verso do folheto havia um trecho do Salmo 37,que também foi lido.) P13. É, ainda bem que Deus cuida da gente. V11. Ele está sempre conosco, mesmo boas horas difíceis. Posso fazer uma oração? P14. Pode. (Então fiz uma breve oração. Percebi que em silêncio ela também balbuciava algumas palavras. Após isso levantei-me, cumprimentei-a e disse:) V12. Bem, espero que a Sra. Possa melhorar. (Ela agradeceu a visita e eu me despedi e saí). Diálogo 3 Visita pós-cirúrgia, com resultado nada bom. As. Esp. Havia feito visitas anteriormente. V1. Boa tarde, Sr. Luiz. Vim ver como o senhor está depois da cirurgia. P1. Obrigado por vir (inicia a soluçar). O médico não me deu boas notícias. V2. O que ele disse? P2. Ele disse que a cirurgia não ajudou como esperava. Eu provavelmente não vou mais ficar bom dessa doença. (Como você reagiria?) V3. Sinto muito Sr. Luiz. P3. ...e eu orei tanto. V4. É difícil entender porque nossas orações não são respondidas como queremos. P4. Deus deve estar me punindo. Eu sei que não devo ter sido um bom cristão. (Como você reagiria?) V5. Sr. Luiz, ninguém de nós é “um bom cristão”, como o senhor diz Todos nós temos muito a aprender e a crescer. Eu não sei porque as coisas não estão indo para o senhor da forma como todos gostaríamos que fosse. É necessário muita fé para crer que Deus nos ama quando as nossas mais intensas e sinceras orações parecem não ser atendidas. P5. Isto está correto. Acho que eu não tenho fé suficiente. (Como você reagiria?) V6. Talvez seja mais uma questão de redirecionar a fé do que o montante de fé. P6. O que você quer dizer? V7. Não tenho certeza, mas creio que o amor de Deus nos envolve mesmo nos momentos ruins de nossa vida e nos dá a força que necessitamos para continuar. P7. Penso que entendi. Você está dizendo que é necessário a mesmo tanto de fé para enfrentar desapontamentos como para receber aquilo que desde o princípio queríamos. V8. Você colocou meu pensamente de forma mais clara do que eu. Gostaria de orar que Deus continue a lhe mostrar Seu amor mesmo em momentos de perda e desencorajamento. P8. Por favor o faça. Eu necessito disso. V9. (Oração) P9. Obrigado por vir. Significa muito saber do cuidado de vocês. Diálogo 4 2 Visita – paciente com câncer avançado. V1. Posso ajudá-lo a se posicionar melhor? P1. Já está bom assim. (Dizendo isto, apoiava-se comas mãos na cama procurando a melhor maneira para ficar). V2. O Sr. Lembra de mim? P2. Claro que lembro! O Sr. É aquele que me deixou falar a vontade aquela vez. Não é? Como vai? V3. Estou bem, obrigado. Sinto-me contente por estar ao seu lado de novo. P3. Olha, achei que nunca mais iria ver o Sr. Recebi visitas diversas, inclusive daquelas de guarda-pó cor de rosa. Não é a mesma coisa. Elas dão apoio moral e um pouco espiritual, mas é muito mecânico. Veja só, a minha situação piorou, como o Sr. Pode ver, mas eu não desanimo. Graças aquele livrinho ali, eu tenho suportado tudo isso. (mostra para o Novo T.). V4. O Sr. Achou que eu não votaria, por certo gostaria de expressar algum sentimento que ainda o perturba? P4. Eu fui para casa. Fiquei lá alguns dias. Minha família me aguardava com muita ansiedade. Tudo parecia que passou. A gente procura encobrir a realidade com assuntos que distraem.. Planos, objetivos, risos, em fim; tudo passa. Quando a gente se dá por conta, já é hora de voltar para o hospital. Um frio ruim corre pelo corpo e com isso eu sei que os dias vão rapidamente. Apesar da fé que a gente tem, é muito duro dizer adeus ou até logo. Nunca se sabe o que o amanhã nos reserva. (Como você reagiria) (silêncio. Emoção. Esfrega os olhos com as mãos. Eu deixei-o recuperar-se quando retomou de novo o assunto.) P5. A gente volta pra cá e tudo recomeça. As noites são intermináveis. Durante o dia, as visitas e o barulho ajudam a preencher o vazio que se mistura com vozes, batidas de portas, ruídos metálicos etc. Os enfermeiros e os médicos dão sempre um alento mas no fundo eu sinto que aos poucos tudo o que a gente quer e espera vai sendo solapado pela desesperança e a luz no fundo do túnel vai se apagando. Mas com paciência a gente vai levando. V5. Esta aceitação traz alívio ao Sr.? P6. Eu aceitando tudo isso não quer dizer que desisti. Ainda tenho ânimo apesar de estar aqui deitado nesta cama. Aceitando a doença é mais fácil de enfrentar a situação. Mesmo assim eu me preocupo com o dia de amanhã. Deus me dá forças para isso. Eu tenho orado muito para poder resistir nestas horas difíceis. O alívio que sinto é espiritual e não físico. (Como você reagiria?) V6. Realmente Deus nos equipa para agüentar em dias maus. (Li Efésios 6.10-18 e fiz um comentário, encorajando-o a “revestir-se de toda armadura de Deus”. O Ap. Paulo nos diz: Orem o tempo todo. P7. Cada vez que eu oro sinto recobradas as forças e o ânimo volta de novo. Às vezes eu tenho a impressão que um grande estado de depressão vai tomar conta de mim. Fico agitado, reflito um pouco, então graças a Deus supero esta fase novamente. V7. Eu me alegro em saber que Deus faz o verdadeiro sentido em seu coração e o Sr. crê com lealdade. P8. É, sem fé em Deus não somos nada. Eu também sou agradecido ao Sr. Que tão bem soube me ouvir. A maioria das pessoas que vem aqui quer que a gente faça uma série de coisas e dão tantas regras para seguir. Na verdade não querem nem saber o que de fato a gente sente. Eu gostei muito dessa conversa franca. Estou mais animado e ainda me sinto importante para os que me são caros, apesar de tudo. Eu não sei se vou prá casa logo. Mas tenho muita coisa boa para transmitir aos meus. Quando eu voltar para cá, quero que o Sr. Venha me visitar de novo. Não se esqueça de mim. V8. O Sr. Será sempre lembrado. Especialmente em nossas orações. Eu terei maior prazer em visitá-lo novamente. P9. Muito obrigado por me compreender e ouvir com tanta calma ao meu desabafo. (Obs.: Com um caloroso aperto de mão despedi-me desejando-lhe a companhia e benção de Deus.)