RELAÇÕES ENTRE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS Helena Maria Ferreira Marco Antonio Villarta-Neder Raquel Márcia Fontes Martins Mauricéia Silva de Paula Vieira MARCUSCHI (2001, p. 27): Fala e escrita – perspectiva tradicional, dicotomias estritas FALA Contextualizada Dependente Implícita Redundante Não-planejada Imprecisa Não-normatizada Fragmentária VERSUS ESCRITA Descontextualizada Autônoma Explícita Condensada Planejada Precisa Normatizada Completa Marcuschi (2001, p. 31 e 33) FALA E ESCRITA APRESENTAM Dialogicidade Usos estratégicos Funções interacionais Perspectiva sociointeracionista Envolvimento Negociação Situacionalidade Coerência Dinamicidade Fala A vaguidão específica “As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica.” -Richard Gehman– Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte. – Junto com as outras? – Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia. – Sim senhora. Olha, o homem está aí. – Aquele de quando choveu? – Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo. – Que é que você disse a ele? – Eu disse pra ele continuar. – Ele já começou? – Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse. – É bom? – Mais ou menos. O outro parece mais capaz. – Você trouxe tudo pra cima? – Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera. – Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite. – Está bem, vou ver como. Fonte: Fernandes, Millôr. A vaguidão específica. Revista O Cruzeiro, 1956. transcrição de conversa: Homem/ 50 anos/ EF/ auxiliar serviços gerais De 32’47’’ a 34’58’’ 1* não... eu lem/ lembro sim... eu lembro que a gente tinha uma::... uma cartilha... quando a gente começou na escola... a gente morava no interior tinha dez ou onze ano na primeira vez que eu fui na aula... tinha uma cartilha que eles falavam cartilha da infância... e que era tudo cheio de verSInho você entendeu?... e com aquele negócio a gente adorava aquela::/ a professora dava aula para a gente ela soletrava todo dia a gente ainda ria dela ainda... ((falou rindo)) a gente já era grandinho Distinção entre fala e escrita? Blog informal “Oieee ai ai qto tempo eu nao passo aki ne?? tadinhu do meu blog =p hihihihihih ai ai sei la...me deu vontade de postar aki hj...mtas coisas passando pela minha cabeca...mtas coisas acontecendo...mtas coisas aconteceram....^^ eh impressionante o tanto q algumas coisas acontecem quando vc menos espera, te pegam totalmente de surpresa e dao uma reviravolta na sua vida q vc nem imaginava...elas acontecem tao rapido q vc nem percebe e quando vc para pra pensar e ve q elas aconteceram ja nem tem mais como fugir delas...entao q eu paro e penso...sera q eu quero fugir?? nao...eu realmente nao quero fugir....sera q eu to feliz? nossa, e como!!! ai eu vejo..ehh eu quero q continue assim...essa mudanca...esse acontecimento repentino...me fez mto bem...e como me fez bem =) sim sim Paulinha feliz...mto feliz ^^ eh mto bom estar assim.... [simple plan - thank you]” Texto de blog, extraído de Marinho e Val (2006, p. 34): blog Trecho de blog acadêmico Um avanço maior para a compreensão dos estudos sobre oralidade e escrita se efetivou com a perspectiva sociointeracionista, que define a interação como o aspecto responsável pela organização da língua e de seus usos sociais. Com as discussões advindas desta nova perspectiva sociointeracionista, as relações entre fala e escrita se estabelecem a partir de observações feitas pelo pensamento Bakhtiniano, que define a língua como um processo de interação. A partir do pensamento de Bakhtin apud Espíndula (2008), foi possível explicar a língua através dos pressupostos: da situação de interação, em que domínio discursivo esta interação se situa e quais os gêneros textuais a serem produzidos/ ouvidos/lidos de acordo com as formas de interação historicamente construídas no uso social. Os gêneros por serem relativamente estáveis, são de difícil classificação, tendo em vista sua dinamicidade. A forma continua sendo elemento importante para a compreensão de um gênero, mas assume um lugar secundário, visto que a fala e escrita não podem mais ser abordadas a partir exclusivamente de aspectos formais por se mostrarem limitados quando se busca compreender o processo de interação na produção de um texto, seja ele escrito ou oral. Portanto, não podemos nos restringir aos elementos lingüísticos apenas de uma ou de outra modalidade, mas às formas de funcionamento de cada uma delas, observando as situações de interação nas quais elas ocorrem, os domínios discursivos e os textos concretos produzidos em função desses dois aspectos. • BATISTA, ITALO. Continuum entre Fala e Escrita - http://www.artigonal.com/educacaoartigos/continuum-entre-fala-e-escrita-2423389.html Revista Veja de 10 de outubro de 2007 Entrevista retirada do site: http://veja.abril.com.br/101007/entrevista.shtml • Veja – Como disseram nas cartas aos jornais e nos blogs, gente da elite assaltada tem mesmo é que sofrer calada? Huck – No Brasil parece que virou crime você trabalhar honestamente, ganhar dinheiro e gastar como quiser. Não sofro preconceito. Acho que é porque sou a mesma pessoa na minha casa, na Globo, no Complexo do Alemão. Falo igual e me visto igual. Não troco de roupa para ir a favelas. Mas deixa eu dizer o que penso da elite. Nela tem gente de todos os tipos. Tem pessoas ótimas, que passam seus dias tentando ajudar os outros. Mas também tem gente que não faz nada para ninguém, que só vê o seu lado. Tem de tudo. Não dá para rotular e dizer que se é elite é bom ou é ruim. É como na polícia. Tem um enorme contingente de policiais bons. E garanto que eles são muitíssimo mais numerosos. Agora, tem gente ruim, e não são poucos. O problema é que o que eles fazem aparece mais. Manifestação da coprodução discursiva => da fala para a escrita • textos mais informais (ex: conversação face a face), a coprodução se manifesta em grau máximo, ao contrário do que acontece em situações formais (ex: conferências). Língua falada Língua escrita informalidade formalidade Texto escrito • coprodução se resume à consideração daquele para quem se escreve, não havendo participação direta e ativa deste na elaboração linguística do texto, em função do distanciamento entre escritor e leitor. • dialogicidade constitui-se numa relação ‘ideal’, em que o escritor leva em conta a perspectiva do leitor, ou seja, dialoga com determinado (tipo de) leitor, cujas respostas e reações ele prevê. • contexto de produção contexto de recepção => o produtor do texto tem mais tempo para o planejamento, a execução e a revisão do texto. Texto falado • emerge no próprio momento da interação; • processo de coautoria => interlocutores copresentes => existência de marcas da produção conjunta na materialidade linguística; • possui características peculiares, devidas à própria modalidade e às contingências de sua formulação. Fala x escrita duas modalidades da língua, que utilizam do mesmo sistema linguístico, mas cada uma delas possui características próprias escrita não constitui mera transcrição da fala Fala x escrita • muitos textos escritos se situam próximos ao polo da fala, • muitos textos falados se aproximam do polo da escrita formal (conferências, entrevistas profissionais para altos cargos administrativos e • outros), havendo, ainda, tipos mistos, além de muitos outros intermediários. L. A. Marcuschi, Da fala para a escrita. [S.Paulo, Cortez, 2001, p. 41] Revisando... • o texto escrito difere do texto falado, tendo, portanto, suas especificidades, • análise de gêneros textuais falados e escritos => contribui para uma utilização mais adequada dos recursos próprios de cada modalidade.