Psicossomática
Maria Salete Arenales-Loli
Apucarana-PR
9º. Congresso Brasileiro de
Obesidade
(Foz do Iguaçu)
Palestra sobre os adoçantes
(nutricionista)
Diário Alimentar:
Café da manhã:
1 copo de leite com
1 colher de açúcar
1 fatia de pão
1 colher de requeijão
Entremeio:
2 xícaras de café adoçados com
açúcar
Almoço:
1 copo de suco de maracujá com
1 colher de sopa de açúcar
4 colheres de arroz
2 colheres de feijão
1 bife médio (....)
Substituir o açúcar por
adoçante
– emagrecimento certo!
Resultado:
Alguns indivíduos
retornavam com
ganho de peso!
“Doutora, nunca se
esqueça que não existe
nada que engorde mais que
a tristeza”.
“Eu não posso ficar
sozinha que sem dúvida
nenhuma eu vou recorrer à
geladeira” e assim não se
vivenciava a falta e a
angústia da solidão.
“Ah!...é só o meu marido brigar
comigo que qualquer tentativa
de dieta vai por água abaixo”
colocando-se goela abaixo a
verificação de sentimentos
ambivalentes presentes nas
relações interpessoais;
“Quando estou muito
cansada, eu como e só depois
eu vejo que não era fome, era
cansaço”. Um comer para
não pensar o cansaço, ou
talvez para não pensar no
porquê dele.
A sensação de fome com o
sentimento de cólera;
A sensação de fome com a necessidade
de aconchego e afeto;
A sensação de fome com sentimentos
de angústia e depressão etc.
“Dissipados e destruídos através
de uma postura de atuação, os
problemas de ordem psíquica
literalmente não existiam nas
mentes dessas pacientes e então, os
conflitos que deveriam ser resolvidos
nessa instância dirigem-se para o
funcionamento orgânico produzindo e
mantendo a obesidade”.
“Tendo em vista essa
linha de raciocínio, muito
provavelmente, a obesidade em
si seja uma expressão através
do corpo de algo que realmente
não pode ser expresso pela via
da fantasia e nem do pensamento
ou da linguagem”.
Conceitos fundamentais da
psicossomática:
• Paciente normalmente encaminhado por um
médico – sintoma psicossomático – ;
• Não existe a solicitação da ajuda “psicanalítica”;
• Mínima percepção do sofrimento psíquico e o
paciente insiste em verbalizar sobre o plano
físico;
Pacientes adultos
funcionam psiquicamente
como bebês que, não
podendo utilizar as
palavras como veículo de
seu pensamento, só
conseguiam reagir
psicossomaticamente a
uma emoção dolorosa.
Aspectos Históricos:
• Freud – diante destes paciente – “sem
sintomas neuróticos” – encaminha para o
clínicos e de certo modo, não desenvolve
maiores pesquisas.
• Posteriormente – psicanalistas da Sociedade
Psicanalítica de Paris, dentre eles, Pierre
Marty – resgata pesquisas e cria dois
fundamentais:
• Marty (1963):
• Pensamento Operatório: referindo-se a uma
maneira de relação com os outros e consigo
mesmo de modo “deslibinizado” e
extremamente pragmático;
• Neurose de comportamento (1976):
• (p. 25 -26 Joyce MacDougall)
•
•
•
•
Alexitimia: Psicossomatistas de Boston –
A = sem
Lexis = palavra
Thymos = coração ou afetividade
• Designa o fato de que o indivíduo não tem
palavras para dar nome a seus estados
afetivos, ou, caso consiga dar nomes a eles,
não consiga distinguir um estado do outro.
• Má mentalização – característica dos
somatizadores que passam a responder com o
corpo;
• Riqueza de mentalização – característica das
neuroses.
• Posteriormente na França – Joyce MacDougall
– desenvolve vários conceitos fundamentais:
• Desafetação: Referindo-se ao discurso
desprovido de Afeto.
• Palavra desafetada: As palavras não tem mais
sua destinação primordial, isto é, sua
função de ligação pulsional; existem apenas
como estruturas congeladas, esvaziadas.
Este discurso pode até ser altamente
intelecutalizado, mas é totalmente desprovido
de afeto.
• Normopata: Pacientes em que tudo parece
Normal.
• A dispersão dos afetos ou a solução
adictiva.
• Todos somos capaz de descarregar nossas tensões
através da ação quando sob estresse (comemos,
bebemos, fumamos, etc). Mas aqueles que
empregam continuamente a ação como defesa
contra a dor mental (sem reflexão e elaboração
mental) correm o risco de ver sua vulnerabilidade
psicossomática crescer.
O 'dizer' do
que 'não se
diz'.
A primeira entrevista
de Flora
Essa paciente tem
33 anos, é casada pela segunda
vez e trabalha como doméstica
numa residência.
Flora tem 3 filhos e os descreve
da seguinte forma:
a 1ª , eu tive como mãe solteira;
o 2º filho é fruto do meu primeiro
casamento;
e a 3ª filha é do meu marido
atual.
“O meu primeiro casamento
foi um amor muito louco,
uma obsessão, uma coisa
muito forte tanto da minha
parte como da dele... já o
meu segundo casamento...
o meu marido... ele é muito bom, é
uma pessoa muito carinhosa; mas... eu
casei com ele porque a minha família
insistiu, gostavam dele, viam que ele
era uma pessoa boa para mim e para o
meu segundo filho; a minha filha
mais velha morou com minha mãe até
que esta morreu há um ano e meio e
foi praticamente ela quem a criou”.
É filha adotiva – Fruto de
um relacionamento
clandestino (não sabe
quem é o seu pai).
Primeira filha – fruto de
um relacionamento com
um homem casado.
Marco do aumento de
peso: após a morte da
mãe adotiva.
Flora e seus
maridos.
“Com o meu marido atual o
sexo tem dia para se fazer,
tem o jeito certo de se fazer,
ele consegue transformar a
relação sexual em algo chato;
com o meu ex-marido não,
valia tudo... o horário podia
ser qualquer horário...
nós dois éramos um fogo em
brasa e bastava a gente se olhar, e
sei lá... parecia coisa de pele e já
estávamos nos abraçando e se
beijando... não se tinha um lugar
da casa... também valia tudo...
a mesa da cozinha, o chão
da sala, o sofá...
tudo... sem contar que ele era muito
carinhoso... me elogiava... com o
Paulo nada passava em branco... ele
nunca se esquecia de comemorar
uma data especial, o meu
aniversário, o nosso primeiro dia
juntos, o dia do casamento... tudo era
comemorado e sempre de maneira
diferente e criativa...”.
O abandono
após a sensação
de bem-estar
Flora perdeu
9 quilos o que
foi razão de
grande êxtase.
Rotina de faltas.
Motivo: “sem
querer, querendo”.
O anjinho
eo
capetinha.
“Existem duas Floras, a que
quer e a que não quer
emagrecer, ou parece que existe
dentro de mim um anjinho e
um capetinha – um que me
manda emagrecer e o outro que
me manda comer e engordar”
O lado que desejava emagrecer:
“...sei que emagrecer iria me fazer
bem, eu iria me sentir melhor...
com nove quilos que eu perdi até
agora, apesar de fazer pouca
diferença no meu visual... eu estou
bem melhor... já não me sinto tão
cansada para fazer as coisas, estou
com mais disposição...
... antes qualquer esforço eu ficava
ofegando... as dores que eu sentia
nas costas diminuíram, não de
tudo, mas foi uma diminuição
significativa... e eu não sei porque,
não me esforço para emagrecer
mais... não sei se falta força de
vontade... motivação... não sei...” .
O lado que
quer
engordar...
Recorte de
sessão do
6º. Mês de
terapia.
F. “...não sei, acho
que eu tenho medo
da Flora magra, da
Flora bonita”.
T. Medo de que?
F. “Medo do que
pode acontecer com
ela magra e bonita”.
T. E o que pode
acontecer?
F. “ Sei lá, o Paulo (exmarido), a gente tem
contato por causa do
nosso filho, às vezes a
gente se encontra...”
(silêncio).
T. E qual a relação
que você faz entre o
medo de ficar magra
e ele
(o Paulo).
F. “Sei lá... (permanece
em silêncio) Ih!...
(gargalha alto nesse
momento) acho que é
melhor nem pensar
nessas coisas...”.
T. Melhor nem
pensar?
Por quê?
Flora faz um breve
silêncio e
prossegue seu
relato.
F. “É... é complicado...
eu não sei o que eu
sinto por ele, ou
melhor, acho que eu
tenho é medo de
pensar sobre o que eu
sinto por ele...”.
Faz novamente um breve silêncio e
continua: “...sabe o que é... antes eu
não ficava com ele para não magoar a
minha mãe adotiva... e agora que a
minha mãe morreu é melhor eu ficar
gorda por que assim (aponta para o
próprio corpo) sou eu quem não quero
nada com ele, por que assim... sou eu
que não fico à vontade...”.
T. Então é
melhor ficar
gorda?
F. “É... sabe... ele tem contato
com o meu filho...
e outro dia eles estavam
conversando e o meu filho
contou para o pai que eu
estava fazendo regime,
fazendo caminhadas, indo
na terapia...”.
“...e quando o Paulo foi pegar o
nosso filho para passear, ele me
viu e me disse: que legal Flora,
fiquei sabendo que você está
fazendo regime... você está ficando
a Flora bonitona de antes, a Flora
elegante... que legal... e então eu
fiquei apavorada... em pensar
como vai ser...”.
Faz um breve silêncio e
continua: “estava só com
9 quilos a menos ele já
está me elogiando,
imagina depois que eu
emagrecer mesmo... aí eu
não sei o que vai ser...
o Paulo é uma pessoa que sabe
elogiar, que percebe quando eu
me arrumo, quando estou
produzida, muito diferente do
meu marido atual que nem
percebe se eu cortei o cabelo ou se
estou com uma roupa nova... o
Paulo sabe elogiar, sabe seduzir...
e então, ficando mais bonita, eu
não sei o que pode acontecer,
como vai ser...”.
T. E o que pode
acontecer?
F. “Não sei... ele, se for olhar de
perto, não deveria ter nada para eu
gostar... ele bebe, não é um
homem trabalhador, sempre que
eu precisei contar com ele eu não
pude... nos momentos que eu mais
precisei na minha vida eu nunca
pude contar com ele...
sei lá... que coisa doida... e
eu gosto dele... não posso
negar... mesmo depois de
tudo que ele fez para mim
eu gosto dele... ele não é
para mim só o pai do meu
filho... ele sempre me elogia
e o meu marido não!”.
“Sabe, a primeira vez que eu
traí o meu marido com o Paulo
foi depois de um baile de Ano
Novo. Eu me produzi...
pensando no meu marido,
queria realmente ficar bonita
para o meu marido.
Fui em um cabeleireiro,
estava com os cabelos
presos, um vestido preto,
longo e justo, meu corpo na
época estava muito bonito,
eu estava muito elegante... e
você sabe o que o meu
marido falou?
Nada! Ele não falou nada!
...parecia que eu estava
vestindo a roupa que sempre
vestia, que eu estava trajando
uma calça jeans... não notou a
maquiagem... não notou o meu
cabelo... não notou nada...”.
“E então... a primeira pessoa que eu
encontro logo na entrada do clube foi o
Paulo... e o Paulo não tirou os olhos de
mim a festa toda... e na primeira
oportunidade em que o meu marido
afastou-se de mim ele se aproximou e
falou no meu ouvido: você ficou linda
neste vestido eu não consigo parar de te
admirar... eu não consigo tirar os olhos
de você... e assim foi a noite toda”.
“E eu já estava tão chateada com
o meu marido... com o pouco
caso que ele tinha feito... e só
conseguia pensar no quanto o
Paulo era carinhoso... ele nunca
deixava passar nada em branco...
e neste dia eu não resisti... traí o
meu marido com o meu exmarido...”.
T. E você está
imaginando que
poderá mais uma vez
não resistir.
F. “É... talvez eu ainda
não sei do que sou
capaz por ele...”.
Ao final desta sessão “acho que foi o dia
mais importante da
terapia”, afirma.
O concreto pelo
concreto
“Á noite eu estouro uma bacia bem
cheia de pipocas e como sozinha com
um litro de refrigerante na frente da
novela, ou então faço coxinhas frita...
penso no momento que estou
comendo que estou prejudicando
ainda mais a minha saúde e estou
colocando a minha vida em risco,
mas não me contenho e como...”.
Frente a esta
incontinência resolve para
escapar das comilanças
noturnas – retomar o
curso de auxiliar de
enfermagem.
Uma opção pela
obesidade?
“É, resolvi que vou
engordar mesmo...
quero engordar... acho
que assim é melhor
para a minha vida.
Como já coloquei... nesse tempo
todo deu para eu descobrir que eu
tenho é medo do que vai acontecer
comigo se eu emagrecer... eu não
conseguiria me conter se eu
voltasse a ficar bonita, se eu
voltasse a ser desejada... e o meu
marido, como eu já coloquei, a
gente apenas vive...
ele não é alguém que batalha, que
me conquista... teve um dia que eu
fiquei tão assim... ansiosa com
tudo, não conseguia dormir, então
eu o acordei e falei tudo para ele...
falei que eu não iria mais fazer
regime!”
“Sem a simbolização que lhe é devida, as
equações que Flora estabelecia não
puderam ser vivenciadas no seu âmbito
emocional. Ou seja, o conflito, de maneira
muito semelhante ao que observei em
outras pacientes, não teve também em
Flora uma expressão mental”.
• Como agir diante de um sujeito que dissipa
seus sentimentos, com um empobrecimento
de associações, cujo mundo dos sonhos não
se manifesta?
• Como fazer com que esses pacientes consigam
refletir seus afetos?
• Existe uma técnica de intervenção para isto?
• Marcelo Rubens Volich.
• Caso clínico – comunicação via exames
médicos.
• Caso clínico Mariana
Download

O preparo psíquico com foco na cirurgia da obesidade.