O USO DOS ELEMENTOS DE CONEXÃO POR ALUNOS DO 2º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Rafael de Moura Dutra (G-Uem) Cristiane Carneiro Capristano(Uem) Resumo: O presente trabalho tem o objetivo de apresentar uma reflexão sobre o uso de elementos de sequencialização em textos produzidos por alunos do 2º ano do ensino fundamental. Segundo Antunes (2005) os conectores têm a função de sequencializar de diferentes pontos do texto e a sequencialização pode ser efetuada através de conjunções, preposições e locuções conjuntivas e preposicionais e também por meio de advérbios e locuções adverbiais. Para Koch (2004) os elementos de sequenciação têm a função de estabelecer relações semânticas ou paradigmáticas no texto. Portanto, os elementos de sequencialização são indispensáveis para a coesão e coerência do texto, pois eles realizam a compreensão dos enunciados dos textos, pois os enunciados não são compreensíveis por si mesmos. Portanto no decorrer do trabalho conforme os elementos de conexão forem sendo utilizados pelos alunos será explicado o valor de cada um na estrutura do texto, bem como se o uso que o aluno fez foi de forma correta ou incorreta. O corpus selecionado para tal este trabalho é constituído de sete textos produzidos por alunos do ensino fundamental, quando estes realizavam uma verificação de aprendizagem. Os alunos que redigiram os textos do corpus do trabalho estão dando início ao letramento, portanto, em alguns casos é visivel a marca da oralidade. Para melhor compreensão do tema em questão o trabalho terá como arcabouço o trabalho como os de Antunes (2005), Koch (2004), Fávero (1995) dentre outros. Palavras chave: coesão, sequencialização, aquisição da escrita, 1. Introdução Os elementos de sequencialização dizem respeito à maneira que os elementos lingüísticos se apresentam no decorrer do texto e como todos os elementos de um texto possuem uma relação, ou seja, os enunciados são subordinados a outros quando não são compreensíveis por si mesmos. Os elementos de conexão têm a finalidade de seqüenciar os textos em pontos específicos, esses elementos podem ser conjunções, preposições e locuções conjuntivas ou preposicionais, advérbios e locuções adverbiais. Embora as gramáticas atribuem aos elementos de conexão frasal apenas a função de unir termos em uma oração ou orações e não é dado muito destaque ao valor dessa ligação entre orações, frases, períodos e até paragráfos. As gramáticas vêm atribuindo aos elementos de conexão frasal, particularmente às conjunções, apenas um sentido, e a partir deste reconhecer o valor do elemento de conexão e a relação que estabelece com os demais enunciados do texto. Sendo assim a visão das gramáticas em relação ao valor dos elementos de conexão é apenas um valor para classificar as relações e funções de cada um e não uma análise dos efeitos nos enunciados, bem como uma análise sobre o valor deles nos textos. Na realidade a verdadeira função dos elementos de sequencialização não chegar a ser mencionada nas gramáticas e livros didáticos é evidente que as pessoas têm dificuldade para escrever e expressar o que quer dizer, pois desconhecem os valores semânticos dos elementos de conexão que desejar fazer uso. Sob esse ponto de vista é cabível o exemplo do conector mas, o qual além de ligar orações, tem a função de realizar a oposição entre o que estava sendo apresentado e o irá ser apresentado em um texto. Portanto, os conectores frasais são espécies de marcadores que têm a função de estabelecer e criar uma relação semântica entre os enunciados de um texto. O fundamental é identificar a verdadeira relação estabelecidade entre os enunciados e não se atentar com a classificação dos mesmos e suas nomenclaturas. Portanto, levado em conta a competência de comunicação é fundamental avaliar o valor semântico das conjunções e os efeitos que os elementos de conexão causam quando estabelecem as relações. Assim os elementos de conexão frasal são fundamentais para estabelecerem a coesão textual e podem desempenhar relações como de causalidade, a qual expressa a causa de uma conseqüência indicada em um outro segmento e pode ser manifestada nos textos através das expressões: porque, uma vez que, visto, já que, dado que. Relação de condicionalidade estabelecida quando um segmento dá condição a um outro, a qual é manifestada nos texztos através dos conectores frasais, se, caso, desde que, contanto, a menos que, sem que, salvo se, exceto se. Relação de temporalidade, onde a partir desta são localizados as ações do texto como pode ser visto os elementos que desempenham essa função são os conectores frasais: assim que, sempre que, depois que, logo que, enquanto, apenas, ante, quando cada vez que, todas as vezes que, desde que. A sequencialição dos elementos do texto pode ser realizada através de dois tipos elas podem expressar a ordem temporal dos fatos narrados no texto, onde está ligado à coerência entre o texto e a realidade, e também podem expressar a ordem temporal em que os fatos vão surgindo no texto, este faz parte da coerência interna do texto, pois está diretamente ligado à coerência interna do texto, porque está aplicado à maneira em que os assuntos vão sendo abordados no decorrer da produção textual. A relação temporal tem por finalidade atrelar dois blocos do texto a partir de uma relação entre o tempo. A relação de finalidade é manifestada exclusivamente quando um segmento expõe sua finalidade ou o que é o objetivo de outro segmento, sendo esta relação expressa pelos conectivos para que e a fim de que. Relação de alternância pode ocorrer de duas maneiras no texto, sendo a primeira, sinalizada pelo texto, não permite que dois enunciados assumam uma verdade e pode ser expressada pelo conectivo frasal ou, ou então, já a segunda maneira em que a relação de alternância pode ocorrer é quando ela inclui elementos nos enunciados. A relação de conformidade se estabelece quando um segmento é expressado que algo foi realizado da maneira com que fora apresentado pelo outro, sendo esta função desempenhada pelos conectores, conforme, consoante, segundo e como, é também oportuno ressaltar que na fala cotidiana é comum aparecer a expressão “que nem” como elemento que estabelece a relação de conformidade entre as frases, porém essa expressão não costuma ser apresentada em nossas gramáticas. A relação de delimitação que pode ser conhecida como restrição é manifestada quando uma oração é delimitada ou restringe o conteúdo, esta relação é sinaliza pelo pronome relativo “que”. A relação de adição, uma das mais utilizadas no corpus do artigo, tem a finalidade de introduzir um elemento ao conjunto quando este está a favor de uma determinada argumentação. Os conectores que tem essa finalidade não excluem a veracidade do que vinha sendo apresentado na mesma oração. A relação de oposição é manifestada através de expressões que nas gramáticas tradicionais, são conhecidas como adversativas e concessivas, os elementos que são atribuídos a função de oposição são os seguintes: mas, porém, contudo, no entanto, embora, se bem que, ainda que, apesar de; as relações concessivas que foram incluídas aqui com as adversativas, também expressam relações de oposição. A relação de oposição pode ser realizada tanto por meio de relações adversativas quanto por meio das concessivas, porém o que as distinguem é a direção argumentativa que expressam. Outra expressões que são utilizadas para desempenhar a ideia de oposição entre os enunciados são expressões como “por um lado”, “por outro lado”, sendo que além de marcarem a oposição dos enunciados tem a finalidade de articular os trechos do texto em sequencias. Relação de justificação ou explicação tem por objetivo explicar o segmento anterior. Esse tipo de relação acontece com frequência em textos explicativos, por ser uma forma mais didática, as relações de justificação são expressas por meio dos conectivos isto é, quer dizer, ou seja, pois. Essas expressões também tem a finalidade de introduzir correções de algo que foi explicitado anteriormente, outro fato interesse é que recaem sobre os pronomes relativos a função de introduzir um segmento explicativo. A relação de conclusão acontece quando um segmento expressa uma conclusão do que vinha sendo apresentado por enunciados anteriores, sendo esta relação estabelecida, por meio dos conectores logo, portanto, pois, por conseguinte, então, assim. O conector de conclusão pode em alguns casos aparecer no texto de forma subententida e sua relação com os enunciados não aparece na superfície. E por último a relação de comparação, a qual é dada quando aparecem no textos segmentos distintos colocados em confronto para identificar semelhanças ou diferenças entre eles e pode ser expressa pelas expressões “do que”, “menos”, “tanto” entre outras. É oportuno ressaltar que recai, em muitos casos, sobre os conectores mais de uma função semântica, sendo assim eles podem receber a interpretação de conclusivos ou causais. Em relação aos elementos de conexão, Antunes (2005) apresenta em sua obra “Lutar com as palavras: coesão e coerência” que: (...) O mais relevante é reconhecer que esses elementos cumprem a função de indicar a orientação discursiva-argumentativa que o autor pretende emprestar a seu texto (...). (p. 144). Diante da definição de Antunes, podemos crer que, além de seqüenciar os elementos do texto, os elementos de conexão têm a função de nortear a argumentação. Portanto, cabem para a avaliação os elementos que esses elementos geram nos textos. Para apresentar a forma como os elementos de conexão são utilizados, foi avaliado sete textos de alunos do segundo ano do ensino fundamental de uma escola pública do município de Marialva/Pr, onde os textos fazia parte de uma avaliação baseada na fábula “A Cigarra e a Formiga” de Esopo. Os conectores podem indicar várias relações semânticas no texto como relações de causalidade, condicionalidade, temporalidade, finalidade, alternância, conformidade, complementação, delimitação, adição, oposição, justificação e explicação, conclusão e comparação. Porém, entre duas preposições ou dois parágrafos os elementos de conexão não se expressa através de elementos lingüísticos, mas sim através da relação causa e efeito, a qual dispensa o uso dos elementos conectores como relações de conseqüência, exemplificação, adição, entre outras. Na medida em que as relações apresentadas forem aparecendo nos textos em análise, serão explicadas. Entre os textos em análise foi constado, em princípio, que os alunos fazem o uso repetidas vezes no decorrer do texto, em alguns casos, de apenas um elemento de conexão como por exemplo: Texto 01 Como pode ser observado no texto acima, o aluno faz o uso seis vezes do conectivo “E” que nesse caso tem como finalidade adição, quando poderia utilizar conectivos do tipo também, não apenas, mas, que possuem a finalidade de introduzir um novo item no conjunto sem opor o anterior, porém, o aluno não fez o uso de forma errada do conectivo, apenas repetiu várias vezes em um texto de nove linhas. Outro fato que pode ser observado ainda no trecho acima é que o aluno utiliza duas vezes o uso do elemento de justificação porque também de forma correta e em trechos que norteiam no cerne da discussão para o lado que o aluno deseja e utiliza o elemento de complementação “que” duas vezes, também fazendo uso de forma correta, ou seja, complementando o termo que vem antes. Segundo Antunes (2005) o elemento de conexão “e” tem a função de acrescentar a um conjunto a uma determinada conclusão e os elementos “porque” possui a finalidade de justificar ou esclarecer o que vinha sendo apresentado anteriormente. Abaixo o aluno ao redigir o seu texto fez novamente o uso do elemento de conexão “e”, o qual segundo Antunes (2005) desempenha a função de adicionar um item ao texto sem fazer oposição com que vinha sendo apresentado antes em prol de um determinada conclusão. Porém, o aluno ao redigir o texto utiliza o elemento com acentuação gráfica, mais precisamente utilizando o acento agudo fazendo com que o elemento se torne o verbo conjugado na terceira pessoa do singular. Cabe ressaltar que o aluno não acentuou o elemento conector apenas uma vez, ou seja, o aluno não tem conhecimento que o elemento conectivo de adição “E” não possui acentuação gráfica e faz uso do elemento apenas da forma apresentada. Além de ter feito uso de um elemento de adição em seu texto o aluno utiliza outros dois elementos sendo “que” e “enquanto”, sendo que o primeiro tem a função de completar o que vinha sendo apresentado e o último tem como função expressar a relação de temporalidade, porém o aluno fez uso do elemento de forma errada, pois, escreve “e comdo”, ocorrendo uma aproximação com a fala. Texto 02 Outro fato interessante analisado no texto abaixo são as marcas de oralidade que o aluno leva à escrita, pois escreveu “I” na onde deveria ser utilizado o elemento de conexão “E” para poder adicionar algo ao seu texto, porém o aluno não faz uso apenas de um conectivo, utilizou em seu texto outros dois elementos de conexão sendo estes um elemento de complementação “que”, o qual tem a função de complementar o enunciado anterior, e dois de explicação “pois” e “porque”, elementos que possuem o mecanismo de concluir o que vinha sendo exposto no texto, porém nem sempre estará explicito e sua interpretação depende de conhecimentos prévios, todos os elementos de complementação e explicação foram utilizados de forma correta. Texto 03 O aluno ao escrever o texto abaixo faz uso apenas de dois elementos de conexão durante sua produção textual, os elementos utilizados pelos alunos são um elemento de que expressa a relação de temporalidade “enquanto”, a qual tem a função de expressar o tempo a partir dos eventos em foco; outro elemento utilizado pelo aluno é o elemento de conexão “pois” o qual tem a função de expressar uma conclusão a partir de elementos anterior. De maneira geral, o uso dos elementos de conexão feito pelo aluno fora utilizado de forma correta, não ficando claro que o aluno não teve dúvidas em utilizá-los, pois, caso houvesse, teria feito uso de borracha e marcaria o texto. Texto 04 No texto abaixo, o aluno faz uso seis vezes de elementos de conexão, porém os seis elementos não possuem a mesma função sintática. Uma vez que recai sobre o elemento “enquanto” a função de expressar o tempo a partir dos eventos em foco mantendo uma relação de temporalidade, já o conector “E”, repetido seis vezes no decorrer do texto, possui a função no texto, bem como sua função real, ser um elemento conectivo de adição, o qual adiciona um elemento no texto sem modificar o que vinha sendo exposto anteriormente, outro elemento utilizado apenas uma vez no texto é o elemento “que”, o qual tem a função de complementar o enunciado anterior. Texto 05 Abaixo, ao redigir o texto, o aluno faz uso de nove conectores para sequenciar os elementos de seu texto, porém dentre os nove elementos utilizado sete são elementos de sequencialização que possuem a função de adição, ou seja, são elementos que tem por excelência adicionar elementos no texto sem modificar o que vinha sendo exposto anteriormente, o aluno repetiu em seu texto sete vezes o elemento “E”, sobre o qual recai a função supracitada. Outro elemento utilizado pelo aluno é o elemento “enquanto” o qual tem a função de localizar os eventos que norteiam a discussão do texto e o aluno também faz uso do elemento de conexão “mas”, utilizado no texto com o escopo de se opor aos elementos que vinham sendo expostos anteriormente em seu texto. Fato interessante no texto abaixo é que este aparentemente é o maior entre os textos aqui explorados e mesmo assim o aluno que escreveu utilizou um número relativamente pequeno de conectores frasais, assim sendo fica implícito que os alunos não conhecem muitos elementos que tem conhecimento sobre como sequencializar os elementos em seu texto. Texto 06 No decorrer do texto abaixo, o aluno fez uso apenas de um elemento de sequencialização, sendo elemento “e” sobre o qual recai a função de introduzir um item ao texto sem realizar oposição com o que vinha antes sendo apresentado, quando o argumento for acrescentado para favorecer uma determinada conclusão, porém o professor nesse caso deveria explorar outros conectores que possuem a mesma função semântica e com isso ir aperfeiçoando a escrita do aluno. Texto 07 Para melhor apresentar a quantidade dos elementos de conexão frasal utilizados pelos alunos ao redigirem seus textos fora montado uma tabela, a qual tem por objetivo apresentar o número dos conectivos utilizados pelos alunos que redigiram os textos que contém no corpus do trabalho. Conector Função Quantidade no corpus E Adição 16 Pois Justificação 4 Porque Justificação 4 Enquanto Causalidade 3 Mas Oposição 1 A partir da tabela acima fica mais fácil de analisar, comparar e compreender a quantidade de elementos de conexão utilizados pelos alunos no corpus e a função de cada elemento na produção textual, uma vez que os alunos em suas produções textuais utilizam os elementos, em maior proporção, apenas para adicionar elementos em seu texto e para justificar ou realizar a oposição entre os enunciados de seu texto o aluno utiliza uma quantidade mínima de conectores frasais. Outro fato a ser apresentado é quando o aluno faz uso de um elemento que desconhece sua função ele acaba empregando de forma errada ou com erro na escrita como ocorreu no texto 02, onde o aluno ao escrever o elemento de conexão frasal enquanto escreve “e condo”, porém mesmo o aluno tendo escrito de forma errada o elemento de conexão continua tendo seu mesmo valor no texto . Considerações finais: A partir da abordagem realizada no corpus foi possível chegar à conclusão de que, os alunos ao redigirem um texto sabem fazer uso dos elementos de sequenciação, bem como utilizam tais elementos, na maioria das vezes, de forma correta. Outro fato que foi constato é que os alunos mesmo não tendo conhecimento sobre o real valor dos elementos de conexão eles sabem empregá-los em seus textos, mas em algumas situações levam marcas da oralidade para a escrita ou apresentam alguma dificuldade em relação à escrita do elemento de conexão que deseja utilizar. O que ficou evidente foi a limitação dos elementos de conexão utilizados pelos alunos do segundo ano do ensino fundamental, equivalente à primeira série. Em relação è produção textual dos textos analisados ficou evidente que se for explorado com maior afinco o uso dos elementos de conexão e a forma como empregá-los nos textos os alunos irão variar os elementos que em alguns casos podem ser substituídos por outros elementos. Bibliografia: Antunes, Irandé, Lutar com palavras: coesão e coerência, São Paulo, Parábola Editorial, 2005. Koch, Ingedore Grunfeld Villaça, A coesão textual, 19ª edição, São Paulo, Editora Contexto, 2004. Fávero, Leonor Lopes, Coesão e Coerência Textuais, São Paulo, 3ª Edição, Editora Ática, 1995. Moysés, Carlos Alberto, Língua Portuguesa: atividades de leitura e produção de textos, São Paulo, 2ª Edição, Editora Saraiva, 2008. Serafini, Maria Teresa, Como escrever textos, tradução Maria Augusta Bastos de Mattos; adaptação Ana Maria Marcondes Garcia, 7ª edição, São Paulo, Editora Globo, 1995.