Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI
ISSN 1809-1636
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DA LEITURA NA PERSPECTIVA INTERATIVA1
Reflections on the reading teaching in an interactive perspective
Eliana DIAS 2
Maria Aparecida Resende OTTONI 3
Maria Cecília de LIMA4
RESUMO
O objetivo deste estudo é contribuir para ampliar a discussão e a reflexão crítica acerca da
aprendizagem da Língua Portuguesa, no que diz respeito ao ensino da leitura na Educação Básica.
Durante as últimas décadas, o ensino da Língua Portuguesa vem sendo motivo de uma série de
discussões, que resultou numa guinada teórica e metodológica, principalmente por causa do advento
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que, sem dúvida, contribuíram para esse processo de
mudança. Esses documentos sugerem uma prática de leitura pautada na capacidade de compreender
textos orais e escritos. Além disso, os PCN mencionam que o aluno deve assumir a palavra, lendo e
produzindo textos em situações de participação social, ou seja, em situações reais de intervenção.
Para este estudo, as principais tarefas foram: i) Fazer uma revisão bibliográfica de estudos sobre o
assunto. ii) fazer um levantamento das orientações dos PCN para o ensino da leitura. Para tanto,
contamos com a contribuição de autores, tais como: Azambuja (1996), Kleiman (1997), Solé
(1998), Coracini (2002), entre outros. Esperamos que a partir das reflexões e do conhecimento de
alguns estudos sobre o assunto seja possível realizar outros trabalhos com o objetivo de intervir
satisfatoriamente no ensino da leitura.
Palavras-chave: Ensino da leitura; PCN; Reflexões
ABSTRACT
The aim of this study is contributing to increase discussion and critical reflection on learning of the
Portuguese language, at teaching of reading in Basic Education. During the last decades, the
teaching of Portuguese has been a matter of discussions, which resulted in a theoretical and
methodological shift, mainly because of the appearance of the National Curriculum Parameters
(PCN, in Brazil), which undoubtedly contributed to this process of change. These documents
suggest a reading practice based in the ability to understand oral and written texts. In addition,
PCNs mention that students should take the word, reading and producing texts in situations of
social participation, in other words, in real situations of intervention. For this study, the main tasks
were: i) Doing a literature review of studies on the subject. ii) get the orientations of the PCNs
together for teaching of reading. For that to happen, we count with the contribution of authors, such
as: Azambuja (1996), Kleiman (1997), Solé (1998), Coracini (2002), among others. We expect that
from the reflections and knowledge of some studies on the subject, it is possible to perform other
works in order to intervene satisfactorily in the teaching of reading.
Key words: Teaching of reading; PCN; Reflections
1
Trabalho apresentado no IV Congresso Internacional das Linguagens – URI/Erechim/RS, maio/2010.
Doutora em Lingüística – Professora da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected];
[email protected].
3
Doutora em Lingüística – Professora da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected].
4
Doutora em Lingüística – Professora da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail:
[email protected].
2
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INTRODUÇÃO
Muito se discute acerca da prática do
ensino da leitura ministrada nas escolas
brasileiras e, essas discussões, por vezes, são
realizadas em congressos, seminários, textos
publicados e nos cursos de formação de
professores de Língua Portuguesa (doravante
LP) e Literatura. Tais discussões deveriam
ocorrer, principalmente, nas aulas das
disciplinas Prática de Ensino de Língua
Portuguesa e Metodologia do curso de Letras.
Uma das questões que tem nos chamado
a atenção em relação a esse tema é que muitos
professores, por várias razões, ainda continuam
a tratar a leitura de forma reducionista. Ora,
alguns docentes do ensino fundamental e médio
ainda tratam a leitura como um simples objeto
escolar, por vezes desvinculado da realidade e
de sua função social, histórica e cultural.
Muito se tem discutido sobre o assunto,
principalmente em nossa experiência como
professoras de Prática de Ensino de Língua
Portuguesa e de Metodologia de Ensino de
Língua Portuguesa no Curso de Letras. Nessas
discussões, percebemos que o professor
continua sem saber o que fazer (e como) para
ampliar e melhorar a prática pedagógica do
ensino da leitura.
Em vista disso, pensamos que há uma
lacuna entre a teoria e a prática. Esse é o desafio
constante do professor de Prática de Ensino e de
Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa
dos Cursos de Letras: aliar a teoria à prática no
que diz respeito ao ensino da leitura. Os
Parâmetros Curriculares Nacionais (1998),
doravante PCN, sugerem uma prática pautada
no desenvolvimento da capacidade de
compreender textos orais e escritos e sugerem o
ensino dos gêneros.
Para tanto, é necessário que os
professores do ensino fundamental e médio
trabalhem a leitura como um processo no qual o
leitor/aluno realiza um trabalho de compreensão
e interpretação de textos a partir de seus
objetivos, de seu conhecimento prévio sobre o
assunto, sobre o autor, sobre aspectos
linguísticos envolvidos, dentre outros aspectos
importantes.
Vivências. Vol.6, N.9: p.172-176, Maio/2010
Para melhor organização deste artigo,
optamos por dividi-lo em duas seções, quais
sejam: a revisão bibliográfica sobre a leitura na
perspectiva interativa e o que dizem os PCN
sobre o ensino da leitura. Por fim, as
considerações finais e as referências.
1. REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA:
ENSINO
DA
LEITURA
PERSPECTIVA INTERATIVA
O
NA
Uma
contribuição
teórico-prática
relevante que, de fato, vem sendo validada na
prática pedagógica da leitura é a de Kleiman
(1997) que afirma ser a leitura uma atividade
cognitiva por excelência. Segundo a autora, a
leitura abrange a percepção, o processamento
semântico, a memória, a inferência e a dedução.
Essas estratégias vêm sendo ensinadas
aos nossos alunos futuros professores em
atividades de leitura e, sem dúvida, aprovadas,
pois o aluno tem a oportunidade de construir
sentidos para o texto a partir de pistas textuais,
inferências e de uma série de conhecimento que
ele já possui.
Importante ressaltar também os estudos
de Kato, Orlandi, Terzi, que, assim como
Kleiman (1997), consideram o aprendiz- leitor e
o autor dos textos estudados como sujeitos
sociais. A interação desses indivíduos advém
não só dos aspectos linguísticos tecidos no
texto, mas também dos aspectos sociais e
culturais implícitos no mesmo.
Coracini (2002) lembra que raramente se
observa, na prática de sala de aula, a concepção
de leitura como um processo interativo (leitortexto, leitor- autor) a partir da recuperação do
que se acredita serem as marcas deixadas pelo
autor, responsáveis pelo sentido.
Esse modelo interacional construtivista
de leitura é também defendido por Kato (1997)
que explica que essa estratégia firma-se em uma
teoria de mundo que possibilita ao leitor
construir sentidos para o texto, a partir de uma
série de conhecimentos que o indivíduo já
possui.
Atualmente, temos acompanhado os
programas escolares que têm avançado na busca
por trabalhar com os estudantes novos e
diferentes gêneros textuais. Essa postura
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objetiva a atender à proposta dos PCN que
visam à participação do aluno em diversas
situações comunicativas, de modo a ampliar
suas possibilidades de participação social.
Para esse ensino, o modelo interativo é
muito interessante, uma vez que, segundo Solé
(1998), não se centra exclusivamente no texto
nem no leitor, embora atribua grande
importância ao uso que este faz dos seus
conhecimentos prévios para a compreensão do
texto. Afinal, é a partir das hipóteses e
antecipações prévias que o texto é processado
para sua verificação.
Os PCN apresentam algumas sugestões
didáticas orientadas especificamente para a
formação de leitores, quais sejam: leituras
autônoma, colaborativa, em voz alta,
programada, a leitura de escolha pessoal e
outras, todas muito importantes na prática
pedagógica. Todas essas sugestões dos PCN,
bem trabalhadas em sala de aula, desenvolvem a
capacidade criativa e crítica e, ainda, permitem
a ampliação do vocabulário do aluno.
O propósito do ensino de leitura na
escola deveria ser o de oferecer suportes que
tornem o ato de ler uma ação dinâmica e
produtiva. Infelizmente, nas observações que os
alunos estagiários do Curso de Letras fazem,
percebem que, ainda hoje, muitas aulas de
leitura se constituem em apresentar o texto
como um objeto pronto e acabado. Dessa forma,
percebe-se que o aprendiz não tem a
oportunidade de manter um contato crítico e
reflexivo com os textos.
Segundo Azambuja (1996), na prática da
leitura, o aluno/leitor deve ser atuante no
processo, colaborando com o autor na
decifração do texto, tentando encontrar o maior
número de significados possíveis para o mesmo.
Para a autora, o bom leitor tem visão aberta,
busca significados, constrói sentidos, alargando,
assim, seu horizonte social, fazendo sem dúvida,
uma leitura ativa e produtiva.
Para que ocorra esse processo de leitura
ativa e produtiva, Kleiman (1997) explica que a
leitura não deve ser apenas a ação de extrair
informações, decodificando letra por letra,
palavra por palavra. Segundo a autora, é preciso
ativar as estratégias de seleção, antecipação,
inferência, sem as quais não há proficiência.
Dias, E.; Ottoni, M.A.R.; Lima, M.C.
Esse modelo interativo de leitura
defendido pelos autores já citados valoriza a
interação entre leitor, texto e escritor e, numa
perspectiva discursiva, considera que tanto
quem escreve quanto quem lê o texto, produz
significados e sentidos; ou seja, esses são
produzidos a partir das relações entre leitor,
escritor e texto. A situação e o contexto social e
histórico dos leitores determinam os sentidos.
Desta forma, a leitura pode ser definida como
um processo interativo, cognitivo e está situada
socialmente.
Pensamos que a busca por uma postura
reflexiva sobre o texto na escola é fundamental
para desencadear constatações, descobertas, o
que também não é suficiente, pois essa reflexão
tem que conduzir a uma ação transformadora. É
preciso dialogicidade com o texto e com o autor
e assim haverá a produção de múltiplos
sentidos.
Temos
convivido
com
nossos
graduandos estagiários de escolas de ensino
fundamental e médio e temos percebido que há
muitos alunos desse nível de ensino que têm
dificuldades de leitura e, o que isso significa?
Leem, mas não entendem ou compreendem o
que lêem. São várias as causas para esse
problema, umas delas é terem dificuldade de
construção de sentidos para os textos lidos. Por
quê?
Ora, a experiência tem nos mostrado que
essas dificuldades apresentam três dimensões: a
afetiva, a cognitiva e a pragmática que, por
hora, não serão objetos de discussão neste texto,
mas devem ser levadas em conta para que a já
mencionada ação transformadora do ensino seja
de fato construída no cotidiano escolar.
2. OS PCN E O ENSINO DA LEITURA
Segundo os PCN, o modelo interativo de
leitura a considera como um saber de
procedimento. A leitura é um ato em que o
leitor compreende a mensagem global para
conseguir um propósito determinado. Para que
essa leitura seja transformadora, é necessário
que o leitor utilize determinados procedimentos
- as estratégias de leitura.
Essa visão contemporânea do ensino de
Língua Portuguesa está presente nos PCN.
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Segundo o documento, a escola deve viabilizar
o acesso do aluno ao mundo dos textos que
circulam na sociedade e ensinar a manejá-los
com eficácia.
estratégias adequadas para a sua abordagem em
salas de aula de todo o país.
Quando se pensa no trabalho com textos, outro
conceito indissociável diz respeito aos gêneros
em que eles se materializam, tomando-se como
pilares seus aspectos temático, composicional e
estilístico. (PCN, 1998, p. 7)
É preciso discutir com mais vagar todos
os aspectos mencionados neste texto, uma vez
que é inadmissível um docente de língua
portuguesa ainda hoje apresentar um sentido
único e desejável para o texto trabalhado em
sala de aula. Fica claro, então, que a atitude dos
docentes diante dos textos é essencial para
qualquer inovação na escola, pois eles são os
únicos em condições de promover mudanças
significativas no ensino.
Importante ressaltar também que a
mediação do professor é fundamental na tarefa
de ensinar a leitura, uma vez que é preciso que
aluno e professor entreguem-se ao texto,
deixem-se inquietar por ele e perder-se nele. E
quem vai auxiliar o aluno nesta tarefa é o
professor.
Isto posto, sem que pretendamos apelar
para o senso comum de costumeiras discussões
sobre a educação no Brasil, resta-nos dizer que
há, ainda, apesar de muito já ter sido feito, a
necessidade de compreender o processo de
ensinar a leitura, quer seja na organização de
novas pesquisas para o conhecimento da prática
docente, quer seja nas ações de formação do
professor para suprir as contradições ou lacunas
existentes entre a teoria e a prática.
Pensemos agora a questão do gênero na
prática da leitura compreendida pelos PCN
como uma prática constante em torno de uma
diversidade de textos que circulam socialmente.
Nessa perspectiva, fica claro que os PCN
rompem com a idéia de que a leitura é um ato
mecânico, homogêneo, abstrato.
Ora, a leitura deve resultar de diferentes
competências e habilidades (decodificação,
seleção, antecipação, inferência, verificação,
confirmação de hipóteses etc). Estas
competências e habilidades são apresentadas
nos PCN como procedimentos (estratégias) de
leitura que os professores devem utilizar para
seu trabalho em sala de aula.
São apresentadas também no referido
documento, as diferentes práticas de leitura: ler
para informar, ler para copiar um trecho, ler
para distrair, ler com o outro, para o outro, em
voz alta ou silenciosamente, ler em diferentes
suportes materiais de texto: jornal, livro,
panfleto, cd rom em diferentes lugares e
momentos. Todas e qualquer uma dessas
práticas de leitura socialmente construídas são e
devem ser aprendidas e exercitadas na escola.
Enfim, é importante ressaltar que saber
ler não significa apenas extrair significados
existentes no texto, ou considerar um texto
como portador de um único e correto sentido, ou
ainda, como fonte de sentidos a serem
produzidos pelo leitor de maneira totalmente
livre. Ler significa muito mais. Ler é ter acesso
aos materiais disponíveis pela cultura e,
principalmente, ter condições favoráveis ao uso
que se faz deles nas práticas de leitura.
Os professores devem saber selecionar
entre os que circulam socialmente, aqueles
textos que podem atender às necessidades do
educando, conseguindo também selecionar as
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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4. REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental,
Parâmetros Curriculares Nacionais: 3º e 4º
ciclos do ensino fundamental: Língua
Portuguesa/ SEF/ Brasília: MEC/SEF, 1998.
AZAMBUJA, Jorcelina Queiroz de. Leitura:
ação e produção. In: O ensino da Língua
Portuguesa para o 2º graus. (org) Uberlândia,
Edufu, 1996.
CORACINI, Maria José (org). A aula de leitura:
um jogo de ilusões. In: O jogo discursivo na
aula de leitura. Língua Materna e Língua
Estrangeira. Campinas, São Paulo: Pontes,
2002.
LARROSA, Jorge. Pedagogia profana: danças,
piruetas e mascaradas. . trad. Alfredo Veiga
Neto. 4.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e
prática. 6. ed. Campinas, São Paulo: Fontes,
1997.
KATO, Mary A. O aprendizado da leitura. São
Paulo: Martins Fontes. In: No mundo da escrita.
Uma perspectiva psicolingüística. São Paulo:
Ática, 1987.
ORLANDI, E. P. Discurso e leitura. São Paulo:
Cortez, 1998.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto
Alegre: ArtMed, 1998.
Recebido em maio de 2010 e aprovado em maio de 2010.
Dias, E.; Ottoni, M.A.R.; Lima, M.C.
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