A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS DE UMA CIDADE DO LITORAL NORTE CATARINENSE: ESTUDO
PARA EMPRESA JÚNIOR DE UMA UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DO
SISTEMA ACAFE
Adm. LUIZ CARLOS DA SILVA FLORES, Dr.
Adm. RAQUEL O. M. DA SILVA FLORES, Esp.
RESUMO:
A presente pesquisa teve como proposta conhecer as ações de responsabilidade social empresarial
praticadas pelas MPEs de Itajaí, SC e os motivos que levam os empresários a esta decisão,
utilizando como parâmetros, os Indicadores Ethos-Sebrae de Responsabilidade Social Empresarial.
Para responder à pergunta de pesquisa: Quais são as ações de RSE praticadas nas MPEs de Itajaí e
quais são os fatores que influenciam nesta tomada de decisão, os objetivos foram a descrição dos
indicadores; identificação do perfil dos empresários respondentes; identificação dos
problemas/dificuldades enfrentados para a adoção das práticas de RSE, bem como as razoes que
levam os empresários de MPEs a atuarem com responsabilidade social. A pesquisa caracteriza-se de
cunho predominantemente qualitativo, tipologia de estágio pesquisa-diagnóstico. Para o
desenvolvimento da pesquisa, foram utilizados os Indicadores Ethos-Sebrae, estudos do Instituto
Ethos sobre MPEs no Brasil, assim como estudos do Sebrae e abordagens sobre desenvolvimento
sustentável e a responsabilidade social empresarial. Os resultados mostraram que as MPEs de Itajaí
adotam algumas práticas de responsabilidade social, incluindo o cuidado com o meio ambiente,
porém a totalidade da amostra não possui formalmente descritos sua missão, valores e princípios,
explicitando-os por serem praticados. Para os empresários pesquisados, os fatores que dificultam ou
impedem a prática da RSE é a falta de recursos financeiros, a falta de informações sobre o tema e o
desconhecimento sobre as ações praticadas que levam o empresário a ser socialmente responsável.
O estudo trouxe contribuições para a compreensão do tema, fornecendo subsídios para o debate,
divulgação e aplicação.
Palavras-Chave: Responsabilidade Social Empresarial; desenvolvimento sustentável; Micro e
Pequena Empresa.
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INTRODUÇÃO
Construir uma sociedade sustentável é o desafio de governos, organizações
e sociedade em todo o planeta. Isto significa um padrão de vida digno a toda a
humanidade com acesso a alimentação adequada, saúde e oportunidade de
trabalho.
A Revolução Industrial foi o marco divisor entre sociedades sustentáveis e o
modelo hoje existente onde o consumo de recursos naturais é maior do que o
planeta tem condições de repor. Neste sentido, Tinoco e Kraemer (2004, p.22),
mencionam que o desenvolvimento econômico e tecnológico após a Revolução
Industrial, “que isso significou para várias empresas maximizar a utilização de todos
os recursos naturais já que eram gratuitos, ignorando serem renováveis ou não,
ignorando ainda as conseqüências da ausência desses mesmos recursos”.
O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu a partir de estudos da
Organização das Nações Unidas, no início da década de 1970, procurando conciliar
as necessidades de desenvolvimento econômico da sociedade com a promoção do
desenvolvimento social e com o respeito ao meio ambiente.
Quando percebemos que as organizações detêm grande parte do poder
econômico e são as geradoras de inovações da sociedade, temos a certeza da
grande responsabilidade social e ambiental que elas possuem.
O que se vê a cada dia é que a discussão sobre desenvolvimento
sustentável ultrapassou os limites das universidades e da política e já faz parte do
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cotidiano das pessoas nos vários continentes. A conscientização se dá por
pequenas práticas adotadas pelo cidadão comum como a separação do lixo
doméstico e sua reciclagem até as estratégias utilizadas por empresas procurando
atender seus consumidores que cobram não só qualidade dos seus produtos, como
também o processo produtivo utilizado.
Diante disto, as empresas passaram a se preocupar mais com a idéia de
responsabilidade social incorporada aos negócios, ainda que em função de novas
demandas e maior pressão por transparência, as empresas se vêem forçadas a
adotar uma postura mais responsável em suas ações, tanto em relação à sociedade
quanto em relação ao meio ambiente. Com isto, começam a observar ganhos
expressivos de imagem. No Brasil, o movimento da Responsabilidade Social
Empresarial (RSE) vem crescendo muito. Este movimento, segundo o Instituto Ethos
de Responsabilidade Social, decorre de três fatores: a revolução tecnológica que
eliminou distâncias, multiplicando a troca de informações; a revolução educacional; e
a revolução cívica, representada por milhões de pessoas de todo mundo,
organizadas na defesa de seus direitos e interesses.
A boa empresa não é mais aquela que apresenta lucro, mas a que também
oferece um ambiente moralmente gratificante, baseado na construção de relações
confiáveis e princípios éticos. Estes princípios éticos devem ser por ela incorporados
e difundidos. A adoção de padrões de conduta ética deverá levar a organização a
valorizar o ser humano, a sociedade e o meio ambiente. Com base neste contexto,
formulou-se o seguinte problema de pesquisa: Quais são as ações de
responsabilidade social empresarial praticadas nas MPEs de Itajaí e quais são os
fatores que influenciam nesta tomada de decisão?
O objetivo geral desta pesquisa foi descrever as ações de responsabilidade
social praticadas nas MPEs de Itajaí, Santa Catarina, utilizando-se como parâmetro
os Indicadores Ethos-Sebrae de Responsabilidade Social Empresarial. Para atender
o propósito maior, definiram-se os seguintes objetivos específicos: descrever os
indicadores de responsabilidade social empresarial Ethos-Sebrae para Micro e
Pequenas Empresas (MPEs); identificar o perfil dos empresários das MPEs
informantes; identificar os problemas/dificuldades enfrentados pelos empresários de
MPEs para a prática da responsabilidade social empresarial; e relacionar as razões
que levam os empresários de micro e pequenas empresas a atuarem com
responsabilidade social empresarial.
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Aspectos Metodológicos
Do ponto de vista dos objetivos do estudo, classifica-se como pesquisa
exploratória-descritiva. A investigação exploratória pode ser aplicada em área na
qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado, enquanto que a descritiva
expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno,
permitindo a investigação com levantamentos bibliográficos e com pessoas com
experiências acerca do objeto alvo (ALVES, 2003; VERGARA, 2003).
Os aspectos de pesquisa exploratória são identificados por meio de
levantamento bibliográfico e da pesquisa de campo, com questionário aplicado às
pessoas-chave para a caracterização do problema, buscando tornar mais explícito e
aprofundar os estudos acerca da gestão social de MPEs de Itajaí.
Visando atender os objetivos deste estágio, qual seja elaboração de um
roteiro
de
diagnóstico
sócioambiental,
define-se
como delineamento,
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predominantemente qualitativo. Porém, para a pesquisa dos elementos utilizou-se
características do método quantitativo.
Consoante Minayo (1994), a pesquisa qualitativa preocupa-se com o nível de
realidade que não pode ser quantificado, trabalhando como o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a
um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
Os resultados devem permitir caracterizar a responsabilidade social
empresarial nas MPEs de Itajaí, sendo que para isso, também é utilizado aporte do
método quantitativo. Segundo Richardson (1999), embora existam diferenças
ideológicas, os métodos qualitativo e quantitativo, podem ser integrados nas etapas
do planejamento, da coleta dos dados e da análise da informação. Neste estudo o
aporte do método quantitativo está caracterizado na fase da coleta de dados, no uso
do questionário.
Os participantes desta pesquisa foram definidos pelas MPEs de Itajaí,
investigadas sobre a percepção dos elementos da RSE. Para a pesquisa foi definida
uma amostra intencional dessas MPEs – extraídas do Relatório de Pesquisa
realizada pela UNI JÚNIOR e também selecionadas segundos os critérios do
SEBRAE quanto ao porte e pertencentes aos diversos segmentos de mercado.
Como informantes-chave da pesquisa foram escolhidos 18 proprietários/gestores de
MPEs de Itajaí, que aceitaram participar respondendo ao questionário.
Para a coleta de dados primários foram utilizados questionários com
questões fechadas e aplicação com contato direto, junto aos proprietários/gestores
das MPEs selecionadas, técnicas consideradas mais adequadas para o estudo aqui
proposto. Também foi utilizada a análise documental para coleta de dados
secundários. Segundo Vergara (2003), questionário é uma série de questões
apresentadas ao respondente por escrito, podendo utilizar uma escala para
quantificar as respostas, pode ser aberto ou fechado, estruturado e não estruturado.
Segundo Richardson (1999), o questionário pode ser classificado pela forma de
aplicação como: de contato direto e envio pelo correio.
Para a pesquisa dos elementos de RSE nas empresas utilizou-se um
questionário com aplicação direta, permitindo a explicação e discussão dos objetivos
da pesquisa e do questionário, eliminado dúvidas do respondente. O questionário foi
elaborado conforme modelo semi-estruturado com questões fechadas e
possibilitando espaço para justificativa do respondente.
Os dados foram analisados a partir do processo de análise de conteúdo,
sendo esta, um conjunto de técnicas que permite “compreender melhor um discurso,
de aprofundar suas características e extrair os momentos mais importantes”
(RICHARDSON, 1999, p.224). A análise de conteúdo é mais indicada ao tratamento
e à análise de estudos qualitativos.
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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
“Administração é o ato de trabalhar com e através de pessoas para realizar
os objetivos tanto da organização quanto de seus membros” (MONTANA, 1998).
Este conceito, segundo o autor, dá maior ênfase ao elemento humano na
organização, focaliza a atenção nos resultados, incluindo o conceito de que a
realização dos objetivos pessoais deve estar integrada aos objetivos da
organização. Porém, até chegar a este conceito, houve uma grande evolução.
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Para Certo (2003, p.5), administração “é o processo que permite alcançar as
metas de uma empresa, fazendo uso do trabalho com e por meio de pessoas e
outros recursos da empresa”. Argumenta que o papel do administrador é combinar e
utilizar-se destes recursos (pessoas, dinheiro, matéria-prima e bens de capital) para
que a empresa atinja seus propósitos.
Porém, para que haja sucesso no desempenho administrativo, o
administrador deve possuir habilidades administrativas. Estas habilidades
compreendem, segundo Certo (2003), habilidades técnicas que são os
conhecimentos especializados e precisos; habilidades humanas ou a capacidade de
trabalhar em equipe e as habilidades conceituais, que é a capacidade de enxergar a
empresa como um todo.
O administrador deve ainda ser capaz de gerar e manter a responsabilidade
social. Esta responsabilidade social está relacionada com a ética e a transparência
na gestão dos negócios e com a maneira como as empresas realizam estes
negócios, os critérios que utilizam para tomada de decisões, os valores que definem
suas prioridades e os relacionamentos com todos os públicos dos quais dependem e
com os quais se relacionam.
Neste sentido, para Melo Neto e Froes (2001), existem diferentes visões de
analisar o conceito de responsabilidade social empresarial, sendo: responsabilidade
social como atitude e comportamento empresarial ético e responsável, prevalecendo
nesta abordagem a responsabilidade ética, ou seja, a empresa tem o dever e
compromisso em assumir atitude transparente, responsável e ética em suas
relações com os stakeholders; responsabilidade social como um conjunto de valores
incorporando não apenas conceitos éticos, mas outros conceitos que lhe darão
sustentabilidade, como auto-estima dos empregados, desenvolvimento social, entre
outros. A responsabilidade social pode ser vista ainda como postura estratégica
empresarial, estratégia de relacionamento, estratégia de marketing institucional,
estratégia de valorização das ações da empresa, neste caso, agregação de valor,
estratégia de recursos humanos, e ainda, como promotora da cidadania individual e
coletiva.
Responsabilidade Social Empresarial
É uma exigência cada vez mais presente na ordem econômica, a adoção de
padrões de conduta ética que valorizem o ser humano, a sociedade e o meio
ambiente. Empresas socialmente responsáveis parecem estar mais preparadas para
assegurar a sustentabilidade dos negócios, em longo prazo, por estarem
sincronizadas com as novas dinâmicas que afetam a sociedade humana e o mundo
empresarial.
O conceito de desenvolvimento sustentável começou a ser discutido,
largamente a partir da publicação do relatório da Comissão Mundial de Meio
Ambiente e do Desenvolvimento das Nações Unidas. Esse documento, mais
conhecido como o Relatório Brundtland’ (Silva, 2002), apresentou a definição oficial
do conceito de Desenvolvimento Sustentável e dos métodos eficazes para ser
enfrentada a crise pela qual passa o mundo.
Já a gestão ambiental pode ser definida como um conjunto de medidas de
procedimentos que objetivam reduzir e controlar os impactos ambientais provocados
pelas empresas (VALLE, 1995). Pode ser conceituada, também, como um processo
que se inicia pelo entendimento do sistema como um todo e termina pelo
desempenho sustentável (KINLAW, 1997).
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A Responsabilidade Social Empresarial está relacionada com a ética e a
transparência na gestão dos negócios e com a maneira como as empresas realizam
estes negócios, os critérios que utilizam para tomada de decisões, os valores que
definem suas prioridades e os relacionamentos com todos os públicos dos quais
dependem e com os quais se relacionam.
Slack (2002), comenta que qualquer negócio tem a responsabilidade de não
causar danos a indivíduos, sendo os negócios parte de uma comunidade maior,
geralmente integrada no tecido econômico e social de uma região. Relaciona alguns
assuntos de responsabilidade social como: segurança do consumidor, impacto social
do produto, segurança dos funcionários, honestidade no relacionamento com
fornecedores e outros. Trata ainda que a responsabilidade social pode ser vista
como aplicação ampla de ética no processo de decisão.
Consoante Melo Neto e Froes (2001), existem diferentes visões de analisar o
conceito de responsabilidade social empresarial, sendo: responsabilidade social
como atitude e comportamento empresarial ético e responsável, prevalecendo nesta
abordagem a responsabilidade ética, ou seja, a empresa tem o dever e compromisso
em assumir atitude transparente, responsável e ética em suas relações com os
stakeholders; responsabilidade social como um conjunto de valores incorporando
não apenas conceitos éticos, mas outros conceitos que lhe darão sustentabilidade,
como auto-estima dos empregados, desenvolvimento social, entre outros. A
responsabilidade social pode ser vista ainda como postura estratégica empresarial,
estratégia de relacionamento, estratégia de marketing institucional, estratégia de
valorização das ações da empresa, neste caso, agregação de valor, estratégia de
recursos humanos, e ainda, como promotora da cidadania individual e coletiva.
Indicadores Ethos-Sebrae
Em 2003, o Instituto Ethos e o Sebrae desenvolveram duas publicações,
com o objetivo de incentivar e contribuir para que a responsabilidade social
empresarial (RSE) fosse incorporada pelas micro e pequenas empresas (MPEs) e
pode ser entendida como:
Forma de gestão que se define pela relação ética da empresa com todos os
públicos com os quais se relaciona e pelo estabelecimento de metas
empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da
sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações
futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das
desigualdades sociais (ETHOS; SEBRAE, 2003)
Os indicadores ETHOS são uma ferramenta de autodiagnóstico para auxiliar
as empresas a gerenciar os impactos sociais e ambientais decorrentes de suas
atividades. Além de possibilitar a homogeneização dos conceitos de RSE, os
indicadores também sugerem parâmetros de políticas e ações que a empresa pode
desenvolver para aprofundar seu comprometimento com a RSE. Os indicadores
Ethos-Sebrae (2007) são classificados em sete temas, descritos a seguir.
TEMA 1 – VALORES E TRANSPARÊNCIA: valores e princípios éticos que
orientam a missão social da organização, cujos indicadores são: compromissos
éticos, práticas antipropina, práticas anticorrupção, balanço social, e governança
corporativa.
TEMA 2 – PÚBLICO INTERNO: respeito ao individuo e auxílio no
desenvolvimento pessoal e profissional, cujos indicadores são: cuidados com saúde,
segurança e condições de trabalho, benefícios adicionais, critérios de contratação,
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valorização da diversidade e promoção da equidade, inclusão de pessoas com
deficiência, relações com sindicatos, compromisso com o desenvolvimento
profissional e a empregabilidade, acesso a informação.
TEMA 3 – MEIO AMBIENTE: melhoria da qualidade ambiental, educação e
conscientização ambiental. São três os indicadores que fazem parte deste tema:
gerenciamento dos impactos sobre o meio ambiente e do ciclo de vida de produtos e
serviços, comprometimento da empresa com a melhoria da qualidade ambiental, e
educação e conscientização ambiental.
TEMA 4 – FORNECEDORES: envolvimento do empresário com seus
fornecedores e parceiros. Os quatro indicadores constantes deste tema são: critérios
de seleção e avaliação de fornecedores, empregados dos fornecedores,
responsabilidade social dos fornecedores, apoio ao desenvolvimento de
fornecedores.
TEMA 5 – CONSUMIDORES E CLIENTES: desenvolvimento e
comercialização de produtos e serviços confiáveis. Integram este tema cinco
indicadores: excelência do atendimento, dúvidas, sugestões e reclamações,
satisfação dos consumidores/clientes, política de comunicação comercial, e
conhecimento e gerenciamento dos danos potenciais dos produtos e serviços.
TEMA 6 – COMUNIDADE: contrapartida à comunidade onde a empresa
está inserida. Fazem parte deste tema os indicadores: gerenciamento do impacto da
empresa na comunidade de entorno, relações com a comunidade de entorno,
estímulo ao trabalho voluntário, envolvimento da empresa com a ação social,
relações com entidades beneficiadas, participação comunitária, e benefícios para o
negócio.
TEMA 7 – GOVERNO E SOCIEDADE: construção da cidadania como
formadora de cidadãos. Os indicadores deste tema são: participação e influência
social, envolvimento em campanhas políticas, participação e acompanhamento das
administrações publicas, e melhoria de espaços públicos e apoio a iniciativas sociais
governamentais.
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RESULTADOS DA PESQUISA
Da amostra, cem por cento (100%) caracterizou-se como empresa familiar
dos ramos de atividade industriais, comerciais (varejista), bem como do setor de
serviços, conforme abaixo:
a) Empresas industriais:
Confecção de roupas;
Confecção de uniformes esportivos
Indústria de esquadrias;
Manuseio de mármore e granitos
c) Setor de Serviços:
Lanchonete;
Pet shop
b) Empresas comerciais varejistas:
Comércio de couro e calçados;
Comércio de roupas e artigos esportivos;
Comércio de piscinas;
Comércio de combustíveis;
Revenda de caminhões;
Artesanato;
Açougue;
Agropecuária;
Mercearia;
Panificadora
Práticas de Responsabilidade Social Empresarial
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A parte II do questionário foi composta por perguntas abertas, em número de
nove, sendo que os temas Valores e transparência e Clientes e consumidores foram
compostos por duas perguntas e os demais, por apenas uma.
Aplicação da RSE
Para análise, houve a necessidade de filtragem das respostas afirmativas,
adotando-se critérios em função da percepção da pesquisadora em relação aos
comentários informais dos entrevistados como é explicado no quadro abaixo.
A
B
C
Explicou adequadamente como o indicador é aplicado
Quando não soube ou não quis justificar a resposta
A ação praticada é imposta pela legislação vigente
Na questão referente ao indicador que diz respeito ao
D
público interno, a ação praticada é dirigida somente aos
familiares (filhos, noras, netos)
Quadro 1 – Critérios adotados para filtragem de respostas
Fonte: Adaptado de Bernardes (2006)
O Gráfico 1 mostra a participação das
responsabilidade social empresarial.
FORNECEDORES 33%
Resposta
obtida
SIM
SIM
SIM
Resposta
considerada
SIM
NÃO
NÃO
SIM
NÃO
MPEs nas práticas de
VALORES E TRANSPARÊNCIA 89%
GOVERNO E SOCIEDADE 50%
MEIO AMBIENTE 89%
COMUNIDADE 100%
PÚBLICO INTERNO
78%
CONSUMIDORES
E CLIENTES 100%
Gráfico 1 – Distribuição quanto à aplicação da RSE
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Fonte: Dados primários
O Gráfico 1 mostra, em cada um dos Indicadores Ethos-Sebrae, o
comportamento dos empresários. A análise do que é mostrado neste gráfico será
feita a partir de cada tema, de acordo com as respostas dos empresários.
Indicadores de desempenho referentes aos Valores e Transparência
A pesquisa mostrou que a totalidade das MPEs que adota esta prática
(Diretriz 1) não possui descritos formalmente sua missão, visão, valores e princípios,
porém 89% dos entrevistados desenvolvem o hábito de discutir estes valores,
principalmente com seus funcionários, em reuniões periódicas e dizem passar a
existência de tais valores para seus parceiros. Por outro lado, 11% afirmam ter seus
próprios valores, porém não repassa para seus funcionários.
Indicadores de desempenho referentes ao Público Interno
A pesquisa revelou que 78% dos empresários de MPEs da amostra, de
alguma forma, procuram manter bom relacionamento com seus funcionários,
oferecendo benefícios além dos que exige a legislação trabalhista vigente. Dentre
estes benefícios, podem ser citados prêmios motivacionais, cursos, tanto para
auxiliar no desenvolvimento profissional, como também, cursos para o
desenvolvimento pessoal. Quanto à saúde e bem-estar auxiliam com plano de saúde
(11%); preocupação com trabalhos em locais insalubres, promovendo o rodízio de
pessoas na função. Demais benefícios citados são: cestas básicas, auxílio
transporte, auxílio alimentação, 14º salário.
Indicadores de desempenho referentes ao Meio Ambiente
A pesquisa mostrou que 89% da amostra pesquisada demonstram ter
práticas relacionadas à melhoria do meio ambiente. As práticas utilizadas são: a)
coleta seletiva do lixo; b) utilização de material para escritório reciclado. c)
reciclagem do resíduo gerado pela atividade da empresa, como é o caso de óleo
vegetal utilizado em restaurante que é recolhido por empresa especializada em
reciclagem deste material, assim como no posto de combustíveis, onde o óleo
residual dos veículos também é recolhido por outra empresa. d) poço artesiano com
o objetivo da utilização da água para conservação e limpeza. e) cisterna para
captação de água da chuva (instalado em duas empresas de diferentes ramos de
atividade); f) digitalização de documentos para evitar impressão.
Ainda em relação às ações dos empresários consultados, em uma das
empresas, a proprietária já tem o projeto para a perfuração de poços de
monitoramento do lençol freático, sendo que a execução se dará nos próximos
meses. Segundo a empresária, a legislação não impõe tal medida, mas é uma
obrigação que tem para com a comunidade.
Indicadores de desempenho relacionados aos Fornecedores
Sobre este tema, a pesquisa mostrou que 33% dos entrevistados afirmaram
só contratar ou estabelecer parcerias com empresas e fornecedores que respeitam
as leis ambientais e trabalhistas. Já 11% dos consultados disseram não seguir estes
princípios, enquanto que 56% afirmaram não ter conhecimento sobre a forma com
que seus fornecedores administram seus negócios, pois são os fornecedores
autônomos ou empresas de grande porte e até mesmo multinacionais.
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Indicadores de desempenho relacionados aos Consumidores e Clientes
Nesta questão, a totalidade da amostra (100%) afirmou adotar regras de
qualidade e segurança para os produtos oferecidos. Quando o produto oferecido é
fornecido por grandes organizações, esta publicidade já é realizada por elas, mas o
empresário da MPE garante toda a assistência e o contato com o fornecedor na
defesa do consumidor.
Quanto a possuir um canal de comunicação com o cliente, pelo porte, não é
possível, por exemplo, manter um serviço de atendimento ao consumidor. Desta
forma, dependendo do produto ou serviço oferecido, o próprio empresário
estabelece contato com seu cliente, fazendo um trabalho de pós-venda. A
comunicação com o cliente, muitas vezes se dá por telefone, e-mail, Orkut e mesmo
a utilização do MSN, seja para informar sobre novos produtos, promoções, horário
de atendimento. Da mesma forma o cliente poderá fazer suas observações
utilizando-se dos mesmos meios.
Indicadores de desempenho relacionados ao tema Comunidade
A pergunta feita aos empresários foi se a empresa participa ativamente da
comunidade por meio de apoio a instituições ou projetos comunitários; se participa
de reuniões com lideranças locais, se apóia eventos comunitários ou se contrata
preferencialmente produtos, serviços e mão-de-obra local. A totalidade da amostra
(100%) afirmou participar da comunidade. As formas de participação citadas foram:
a) auxílio a instituições de caridade; b) participação ativa em órgão de apoio aos
empresários, com envolvimento em decisões de melhorias para a comunidade; c)
participação em associações que incentivam esportes em comunidades carentes,
atuando como instrutores; d) trabalhos com menores aprendizes em diversas
profissões; e) atuação em creches e igrejas; f) participação em ONGs; g) atuação
em associação de moradores.
Indicadores de desempenho relacionados ao tema Governo e Sociedade
Em resposta à questão formulada se a empresa ajuda a promover o bem
comum por meio de posicionamento político claro e por meio de participação de
fóruns decisórios locais, o resultado da pesquisa foi de 50% para respostas
afirmativas e 50% para respostas negativas.
As justificativas dos empresários que responderam afirmativamente à
questão são de que procuram orientar seus funcionários em épocas de eleição e
que permitem a discussão sobre o assunto em local de trabalho. Para os que
responderam que não, justificaram que não querem envolvimento com política.
Percebe-se neste ponto, a confusão que é feita entre posicionamento político claro,
de esclarecimento aos funcionários da importância do voto e que este ato faz parte
da cidadania e a política partidária.
Problemas/dificuldades para a adoção da prática de RSE
No Gráfico 2, encontram-se relacionados os problemas encontrados pelos
empresários pesquisados para a adoção de práticas de responsabilidade social
empresarial.
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familiar/pessoal
recursos
humanos
recursos
financeiros
não tem
dificuldades
outros
não sabe/não
respondeu
0%
10%
20%
30%
40%
Gráfico 2 – Problemas encontrados para implementação da RSE
Fonte: Dados primários
Neste item os empresários puderam responder, utilizando-se de mais de
uma alternativa, sobre os problemas enfrentados para a aplicação de práticas
referentes à responsabilidade social empresarial em suas empresas. Foram
utilizadas as categorias familiar/pessoal, recursos humanos, recursos financeiros,
não tem dificuldades, outros, e não sabe/não respondeu.
Pela análise do Gráfico 2, o fator mais expressivo (33%) das alegações
apresentadas pelos empresários pesquisados que dificulta ou mesmo impede uma
tomada de decisão quanto à prática da RSE está diretamente ligado aos recursos
financeiros, seja para aplicação na estrutura física do empreendimento ou em um
meio de comunicação mais direto com seu consumidor ou ainda na contratação de
pessoal mais qualificado ou com nível de escolaridade mais alto.
O fator recursos humanos é outra dificuldade apontada pelos empresários
está relacionada (28% das alegações). A justificativa é o número insuficiente de
pessoas ou a pouca qualificação e falta de interesse destes para com qualquer
atividade adicional e na dificuldade de conscientização do grupo.
A dificuldade no nível familiar/pessoal (17% das indicações) diz respeito,
principalmente, a gestão da empresa. A maior dificuldade dos filhos que atuam nas
MPEs é fazer com que o fundador (pai) aceite mudanças. Nesta situação, para evitar
conflitos, mesmo que estejam à frente do negócio, os filhos cedem, deixando de
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adotar medidas que consideram necessárias para a melhoria do empreendimento.
Isto é explicado por Bornholdt (2005, p.161), “a preservação da ideologia garante a
continuidade de um legado, a preservação de uma dinastia e a perpetuidade de uma
estrutura familiar e empresarial”. Complementa alegando que os produtos vêm e
vão, assim como os negócios, porém, a família permanece. Porém, à medida que os
herdeiros ficam adultos e constituem novas famílias, surgem novas expectativas e
necessidades. Novos valores surgem. Alguns deles distantes em relação à cultura
inicial dos empreendedores.
Nas demais categorias, 22% dos pesquisados alegaram não ter dificuldades
para a implementação de práticas de RSE e 17% não souberam ou não
responderam.
Em Outros (28%) de indicações, as justificativas apontadas foram falta de
tempo do empresário; falta de conhecimento sobre o assunto; falta de acesso à
informações que os permita adotar práticas socialmente responsáveis; e ainda um
empresário, por fazer parte de um centro comercial, não lhe é permitido, por
exemplo, separar o lixo para reciclagem. Mostrou-se indignado, mesmo porque não
existem recipientes separados para a coleta do lixo, ou seja, qualquer que seja a sua
natureza, o depósito é um só.
O que motiva a adoção da RSE
O Gráfico 3 mostra, segundo a pesquisa, o que motiva o empresário a
praticar ações de responsabilidade social.
ética pessoal
satisfaçao do empresário
imagem da empresa
relaçao comunidade
relaçao funcionários
relação clientes
não sabe/não respondeu
0%
10%
Gráfico 3 – Motivos para a adoção da RSE
Fonte: Dados primários
20%
30%
40%
50%
60%
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O Gráfico 3 mostra as motivações que levam os empresários pesquisados a
praticarem ações de RSE de acordo com seu grau de preferência. Cada empresário
relacionou mais de uma resposta.
Na análise do gráfico acima, observou-se que as motivações para o
empresário da MPE investir em ações socialmente responsáveis são diversas: ética
pessoal, satisfação individual, melhoria na imagem da empresa, melhoria na relação
com a comunidade, melhoria na relação com os funcionários, melhoria na relação
com os clientes.
No entanto, a busca da satisfação pessoal (56%) merece destaque como um
dos principais fatores que motivam o empresário a investir em ações sociais. Isto é
explicado por Melo Neto e Froes (2002, p.167), como “tal fato reforça a idéia da
predominância do modelo assistencialista, do tipo mecenato, em gestão social das
empresas brasileiras”.
A ética pessoal recebeu 56% de indicações como fator motivador para a
adoção de práticas socialmente responsáveis pelas MPEs pesquisadas. Segundo
Bornholdt, “cada pessoa, em sua individualidade, possui crenças e valores pessoais
diferentes”. Inseridas num grupo, estes valores permanecem, no entanto surgindo
novos valores com os quais há uma identificação.
O terceiro fator mais apontado é melhorar a imagem da empresa com um
grau de preferência de 28%. Em função da relação com a comunidade e com os
clientes, este grau é de 22%. Igualmente na melhoria no relacionamento com os
funcionários (22%), comentam resultar em um maior envolvimento do empregado
com a empresa. E, 11% dos empresários que não souberam ou não responderam.
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CONSIDERAÇOES FINAIS
A proposta desta pesquisa foi conhecer o comportamento dos empresários
de micro e pequenas empresas de Itajaí sobre a aplicação de ações de RSE que
levam as MPEs a serem consideradas socialmente responsáveis, seus problemas e
dificuldades para implementação destas ações, bem como, o que os motiva a
adotarem tais práticas.
Os objetivos propostos foram alcançados, com a descrição das ações de
RSE praticadas nas MPEs de Itajaí, bem como os objetivos específicos – buscando
atender ao objetivo maior onde foram descritos os Indicadores Ethos-Sebrae, foram
identificados o perfil dos empresários das MPEs que aceitaram participar da
pesquisa, assim como também foram identificados os problemas e dificuldades
enfrentados pelos empresários para a prática da RSE. Ainda foram relacionadas as
razões que levam estes empresários a adotar e atuar com responsabilidade social.
Quanto ao problema de pesquisa, fica claro que as MPEs de Itajaí praticam
ações de RSE, em maior ou menor grau e que os fatores que influenciam nesta
tomada de decisão são de ordem pessoal, ética, melhoria da imagem institucional.
Os resultados surpreenderam e ao mesmo tempo é relevante enfatizar que o
diagnóstico obtido dessa amostra de micros e pequenas empresas pode ser
generalizado para as demais MPEs brasileiras, pois confirmam pesquisas já
realizadas em municípios de outros estados, muitas delas de cunho
predominantemente quantitativo. Comprovou-se, a exemplo de outros trabalhos, que
a atuação da mulher frente aos negócios vem crescendo rapidamente e também em
relação ao grau de escolaridade, superior ao dos homens. Outro aspecto relevante é
que nesta pesquisa nenhuma MPE tenha formalmente definidos seus valores e
princípios e o mesmo resultado é constatado em outras pesquisas no Brasil. Ficou
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claro que a gestão da MPE é intuitiva onde ficaram demonstradas as principais
deficiências das empresas quanto ao conhecimento de questões importantes, como
é o caso da responsabilidade social empresarial.
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