RAQUEL OLIVEIRA DE MATTOS DA SILVA FLORES
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO
A RESPONSABILIDADE SOCIAL
EMPRESARIAL NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS DE ITAJAÍ – SC
Trabalho de Conclusão de Estágio
supervisionado desenvolvido para o
Curso de Administração do CECIESA
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
- Gestão da Universidade do Vale do
Itajaí.
ITAJAÍ-SC, 2008
EQUIPE TÉCNICA
a) Nome da estagiária
Raquel Oliveira de Mattos da Silva Flores
b) Área de estágio
Administração Geral
c) Supervisor de Campo
Marilse Betoni Soares
d) Orientador de Estágio
Prof. Luiz Carlos da Silva Flores, Dr.
e) Responsável pelo Estágio Supervisionado em Administração
Prof. Eduardo Krieger da Silva, Msc
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA
a)
Razão Social
UNI JUNIOR - ORIENTAÇÃO EMPRESARIAL
b)
Endereço
Rua Uruguai, 586, Centro
88.302-202 - Itajaí, SC
c)
Setor de desenvolvimento do estágio
Administração Geral
d)
Duração do estágio
300 horas
e)
Nome e cargo do supervisor de campo
Marilse Betoni Soares
Gerente Executiva
f)
Carimbo e visto da empresa
Não sei se agradecer é o bastante,
mas se for, os meus agradecimentos
mais fortes e profundos são dirigidos
ao meu filho Guilherme e ao meu
marido
Luiz
Carlos,
pelo
apoio
incondicional que sempre me deram.
Ao meu marido, duplamente, por ter
sido o meu Orientador neste trabalho.
Que Deus os abençoe e nos proteja
como família e como pessoas que
buscam um caminho.
Meus
agradecimentos
Paula
Eloísa
dos
também
Santos,
a
pela
amizade pessoal e pela atenção que
sempre dispensa a nós, alunos.
Também a todos os professores,
pelos ensinamentos e que, ao final,
tornam-se nossos amigos.
A todos vocês, OBRIGADA!
“Feliz aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina.”
Cora Carolina
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Principais decisões do processo de administrar............................
21
Figura 2
Processo de tomada de decisões sobre objetivos e recursos ......
21
Figura 3
Formação do conhecimento administrativo ...................................
22
Figura 4
Função vital das organizações na sociedade ...............................
25
Figura 5
Macro processo UNI JÚNIOR .......................................................
38
Figura 6
Interação entre empresa e família .................................................
43
Figura 7
Ações de gestão de RSE – Valores e Princípios ..........................
60
Figura 8
Ações de gestão de RSE – Público Interno ..................................
61
Figura 9
Ações de gestão de RSE – Meio Ambiente ..................................
62
Figura 10
Ações de gestão de RSE – Fornecedores.....................................
63
Figura 11
Ações de gestão de RSE – Consumidores e Clientes ..................
64
Figura 12
Ações de gestão de RSE – Comunidade ......................................
65
Figura 13
Ações de gestão de RSE – Governo e Sociedade........................
66
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
Distribuição dos empresários por gênero ......................................
45
Gráfico 2
Distribuição das MPEs por tempo de atividade .............................
46
Gráfico 3
Distribuição da amostra pelo grau de escolaridade ......................
47
Gráfico 4
Distribuição dos empresários pela faixa etária ..............................
48
Gráfico 5
Distribuição quanto à aplicação da RSE .......................................
51
Gráfico 6
Problemas encontrados para implementação da RSE .................
56
Gráfico 7
Motivos para a adoção da RSE .....................................................
58
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Elementos e indicadores ...............................................................
29
Quadro 2
Categorias e aspectos contemplados nas Diretrizes GRI – 2002 .
30
Quadro 3
Classificação de micro e pequena empresa pelo faturamento ......
34
Quadro 4
Classificação de micro e pequena empresa por número de
funcionários ...................................................................................
Critérios adotados para filtragem das respostas ...........................
34
Quadro 5
38
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ..................................................................................
10
1.1
Problema de Pesquisa ......................................................................
12
1.2
Objetivos do Trabalho .......................................................................
13
1.3
Aspectos Metodológicos ...................................................................
13
1.3.1
Caracterização da Pesquisa .............................................................
13
1.3.2
Participantes da pesquisa .................................................................
15
1.3.3
Procedimentos e instrumentos de coleta de Dados..........................
16
1.3.4
Tratamento e análise dos dados .......................................................
17
2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................
18
2.1
Administração ...................................................................................
18
2.2
As Organizações e a Responsabilidade Social ................................
23
2.4
O Desenvolvimento Sustentável e a Responsabilidade Social
Empresarial.......................................................................................
Indicadores Ethos-Sebrae.................................................................
2.5
Micro e Pequenas Empresas.............................................................
34
3
CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA UNI JÚNIOR .........................
36
4
RESULTADOS DA PESQUISA .......................................................
41
4.1
Parte I – Dados da Empresa/empresário ..........................................
42
4.1.1
Tipo de Gestão das MPEs pesquisadas ...........................................
42
4.1.2
Ramo de Atividade das MPEs pesquisadas .....................................
43
4.1.3
Distribuição das MPEs pesquisadas por gênero ..............................
45
4.1.4
Tempo de Atividade das MPEs pesquisadas ....................................
46
4.1.5
Distribuição dos empresários por grau de escolaridade ...................
47
4.1.6
Distribuição dos empresários pela faixa etária .................................
48
4.2
Parte II – Práticas de Responsabilidade Social Empresarial ............
49
4.2.1
Distribuição quanto à aplicação da RSE ...........................................
49
2.3
26
31
4.3.1
Parte III – Problemas/dificuldades para a adoção da prática de
RSE ...................................................................................................
Problemas encontrados para a adoção da RSE ...............................
4.3.2
O que motiva a adoção da RSE ........................................................
58
4.3.3
Sugestões .........................................................................................
59
5
CONSIDERAÇOES FINAIS .............................................................
67
4.3
55
56
6
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .....................................................
69
Apêndice I – Questionário – A Responsabilidade Social
Empresarial nas MPEs .....................................................................
71
RESUMO
A presente pesquisa teve como proposta conhecer as ações de responsabilidade
social empresarial praticadas pelas MPEs de Itajaí, SC e os motivos que levam os
empresários a esta decisão, utilizando como parâmetros, os Indicadores EthosSebrae de Responsabilidade Social Empresarial. Para responder à pergunta de
pesquisa: Quais são as ações de RSE praticadas nas MPEs de Itajaí e quais são os
fatores que influenciam nesta tomada de decisão, os objetivos foram a descrição dos
indicadores; identificação do perfil dos empresários respondentes; identificação dos
problemas/dificuldades enfrentados para a adoção das práticas de RSE, bem como
as razoes que levam os empresários de MPEs a atuarem com responsabilidade
social. A pesquisa caracteriza-se de cunho predominantemente qualitativo, tipologia
de estágio pesquisa-diagnóstico. Para o desenvolvimento da pesquisa, foram
utilizados os Indicadores Ethos-Sebrae, estudos do Instituto Ethos sobre MPEs no
Brasil, assim como estudos do Sebrae e abordagens sobre desenvolvimento
sustentável e a responsabilidade social empresarial. Os resultados mostraram que
as MPEs de Itajaí adotam algumas práticas de responsabilidade social, incluindo o
cuidado com o meio ambiente, porém a totalidade da amostra não possui
formalmente descritos sua missão, valores e princípios, explicitando-os por serem
praticados. Para os empresários pesquisados, os fatores que dificultam ou impedem
a prática da RSE são a falta de recursos financeiros, a falta de informações sobre o
tema e o desconhecimento sobre as ações praticadas que levam o empresário a ser
socialmente responsável. O estudo trouxe contribuições para a compreensão do
tema, fornecendo subsídios para o debate, divulgação e aplicação.
Palavras-Chave:
Responsabilidade
sustentável; Micro e Pequena Empresa.
Social
Empresarial;
desenvolvimento
1
INTRODUÇÃO
Construir uma sociedade sustentável é o desafio de governos, organizações
e sociedade em todo o planeta. Isto significa um padrão de vida digno a toda a
humanidade com acesso a alimentação adequada, saúde e oportunidade de
trabalho.
A Revolução Industrial foi o marco divisor entre sociedades sustentáveis e o
modelo hoje existente onde o consumo de recursos naturais é maior do que o
planeta tem condições de repor. Neste sentido, Tinoco e Kraemer (2004, p.22),
mencionam que Martins e Ribeiro (1995, p.31), ao comentarem o desenvolvimento
econômico e tecnológico após a Revolução Industrial, citam “que isso significou para
várias empresas maximizar a utilização de todos os recursos naturais já que eram
gratuitos, ignorando serem renováveis ou não, ignorando ainda as conseqüências da
ausência desses mesmos recursos”.
O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu a partir de estudos da
Organização das Nações Unidas, no início da década de 1970, procurando conciliar
as necessidades de desenvolvimento econômico da sociedade com a promoção do
desenvolvimento social e com o respeito ao meio ambiente.
Quando percebemos que as organizações detêm grande parte do poder
econômico e são as geradoras de inovações da sociedade, temos a certeza da
grande responsabilidade social e ambiental que elas possuem.
O que se vê a cada dia é que a discussão sobre desenvolvimento
sustentável ultrapassou os limites das universidades e da política e já faz parte do
cotidiano das pessoas nos vários continentes. A conscientização se dá por
pequenas práticas adotadas pelo cidadão comum como a separação do lixo
doméstico e sua reciclagem até as estratégias utilizadas por empresas procurando
atender seus consumidores que cobram não só qualidade dos seus produtos, como
também o processo produtivo utilizado.
Diante disto, as empresas passaram a se preocupar mais com a idéia de
responsabilidade social incorporada aos negócios, ainda que em função de novas
demandas e maior pressão por transparência, as empresas se vêem forçadas a
adotar uma postura mais responsável em suas ações, tanto em relação à sociedade
quanto em relação ao meio ambiente. Com isto, começam a observar ganhos
11
expressivos de imagem. No Brasil, o movimento da Responsabilidade Social
Empresarial (RSE) vem crescendo muito. Este movimento, segundo o Instituto Ethos
de Responsabilidade Social, decorre de três fatores: a revolução tecnológica que
eliminou distâncias, multiplicando a troca de informações; a revolução educacional; e
a revolução cívica, representada por milhões de pessoas de todo mundo,
organizadas na defesa de seus direitos e interesses.
A
ciência
da
administração
contribui
neste
contexto
apresentando
ferramentas que possibilitam a gestão destas ações. Desde os tempos iniciais da
escola clássica já se buscava a racionalização do trabalho e com isso dos recursos;
na escola de recursos humanos, a inclusão das pessoas; e, na abordagem
estruturalista, aceitação dos conflitos, o que permitia a melhoria das condições de
trabalho, nas escolas de sistemas abertos, os estudos da relação entre a
organização e o ambiente e na abordagem contingencial a discussões dos
stakeholders e da dependência dos recursos.
A escolha do tema Responsabilidade Social Empresarial em Micro e
Pequenas Empresas instaladas no município de Itajaí, Santa Catarina e o local para
a realização do estágio, a UNI JÚNIOR Orientação Empresarial justificou-se por: 1o)
as micro e pequenas empresas (MPEs), representam 98% das empresas formais
estabelecidas no Brasil, segundo o relatório Onde estão as micro e pequenas
empresas no Brasil (SEBRAE, 2006). A Agência Sebrae de Notícias, publicou em 11
de setembro de 2007, baseada em números do Ministério do Planejamento e da
Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, que dos cerca de R$
300 bilhões comprados pelo Poder Público, em torno de 17% são adquiridos das
MPEs. A meta é aumentar em 13% o volume de compras desse segmento, atingindo
30% no período de cinco anos. Hoje no Brasil, cerca de 150 mil MPEs vendem para
os governos, enquanto o número aproximado é de 5.028.318 estabelecimentos.
Assim, ao mesmo tempo em que a RSE é um desafio para os empresários de micro
e pequenas empresas, torna-se também uma grande oportunidade. Oportunidade
esta que será ampliada se a empresa praticar ações de responsabilidade social e
ambiental, já que muitos órgãos governamentais, principalmente prefeituras, exigem
esta prática para a participação em processos licitatórios. 2o) a UNI JÚNIOR –
Orientação Empresarial, pelo fato de ser vinculada ao curso de Administração da
Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, atendendo a diversas empresas, na
maioria MPEs, em pesquisas, diagnósticos e implantação de modelos de gestão
12
poderá, a partir deste trabalho, atuar neste segmento, auxiliando as MPEs no
conhecimento e implantação de medidas de responsabilidade social empresarial, já
que muitas das dificuldades dos empresários decorrem da falta de compreensão dos
fatores envolvidos, desconhecimento das diretrizes que fazem parte da RSE e
necessidade de recursos aplicados.
1.1
Problema de Pesquisa
A boa empresa não é mais aquela que apresenta lucro, mas a que também
oferece um ambiente moralmente gratificante, baseado na construção de relações
confiáveis e princípios éticos. Estes princípios éticos devem ser por ela incorporados
e difundidos. A adoção de padrões de conduta ética deverá levar a organização a
valorizar o ser humano, a sociedade e o meio ambiente. Com base neste contexto,
formulou-se o seguinte problema de pesquisa: Quais são as ações de
responsabilidade social empresarial praticadas nas MPEs de Itajaí e quais são os
fatores que influenciam nesta tomada de decisão?
O aspecto relevante deste trabalho foi o de oferecer à UNI JUNIOR
elementos que possam ser adotados quando da prestação de serviços de
consultoria às micro e pequenas empresas de Itajaí e região, no que se refere à
responsabilidade social empresarial, podendo assim ampliar sua carteira de serviços
e negócios, atuando em um novo segmento, auxiliando na adequação das MPEs às
necessidades impostas pelo mercado.
A originalidade deste trabalho de estágio foi garantida quanto aos aspectos
internos da UNI JÚNIOR, pois até o momento, ainda não foi desenvolvido nenhum
trabalho com estas características e sobre este tema, bem como, constatou-se que
não existem Trabalhos de Conclusão de Estágios, do curso de Administração da
UNIVALI Itajaí que relacione a RSE às MPEs.
O estágio foi viável, não tendo acarretado custos adicionais para a UNI
JUNIOR que disponibilizou as informações cadastrais das MPEs.
13
1.2
Objetivos do Trabalho
O objetivo geral deste trabalho foi descrever as ações de responsabilidade
social praticadas nas MPEs de Itajaí, Santa Catarina, utilizando-se como parâmetro
os Indicadores Ethos-Sebrae de Responsabilidade Social Empresarial.
Para atender o propósito maior, definiram-se os seguintes objetivos
específicos:
•
Descrever os indicadores de responsabilidade social empresarial EthosSebrae para Micro e Pequenas Empresas (MPEs);
•
identificar o perfil dos empresários das MPEs informantes.
•
identificar os problemas/dificuldades enfrentados pelos empresários de
MPEs para a prática da responsabilidade social empresarial;
•
relacionar as razões que levam os empresários de micro e pequenas
empresas a atuarem com responsabilidade social empresarial.
1.3
Aspectos Metodológicos
Neste tópico são delineados os procedimentos metodológicos utilizados no
desenvolvimento deste trabalho, considerando a caracterização da pesquisa, os
participantes, os instrumentos de coleta de dados e o tratamento e análise.
1.3.1 Caracterização da pesquisa
Neste tópico descrevem-se a tipologia do estudo segundo a sua natureza,
seus objetivos, procedimentos e o delineamento do método. Do ponto de vista de
sua natureza, trata-se de um trabalho de estágio com tipologia de pesquisadiagnóstico, pois tem como objetivo explorar o ambiente organizacional (ROESCH,
1999),
mais
pontualmente
busca-se
conhecer
e
analisar
as
ações
de
responsabilidade social empresarial praticadas nas MPEs de Itajaí, e os fatores que
influenciam nesta tomada de decisão.
Do ponto de vista dos objetivos do estudo, classifica-se ainda, como
pesquisa exploratória-descritiva. A investigação exploratória pode ser aplicada em
área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado, enquanto que a
14
descritiva expõe características de determinada população ou de determinado
fenômeno, permitindo a investigação com levantamentos bibliográficos e com
pessoas com experiências acerca do objeto alvo (ALVES, 2003; VERGARA, 2003).
Os aspectos de pesquisa exploratória são identificados por meio de
levantamento bibliográfico e da pesquisa de campo, com questionário aplicado às
pessoas-chave para a caracterização do problema, buscando tornar mais explícito e
aprofundar os estudos acerca da gestão social de MPEs de Itajaí.
Visando atender os objetivos deste estágio, qual seja elaboração de um
roteiro de diagnóstico sócioambiental para a UNI JUNIOR, define-se como
delineamento, predominantemente, do método qualitativo. Porém, para a pesquisa
dos elementos utilizou-se características do método quantitativo.
Consoante Minayo (1994), a pesquisa qualitativa preocupa-se com o nível de
realidade que não pode ser quantificado, trabalhando como o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a
um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Corrobora Richardson
(1999), que neste tipo de pesquisa se busca compreender detalhadamente, os
significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em
lugar da produção de medidas quantitativas. Assim, ao empregar o método
qualitativo, determina-se como foco de preocupação o processo social, a
visualização do contexto e a preocupação empática com o objeto do estudo, visando
uma melhor compreensão do fenômeno. Para Malhotra (2001, p.155) a pesquisa
qualitativa “proporciona melhor visão e compreensão do contexto do problema,
enquanto a pesquisa quantitativa procura quantificar os dados (...)”.
Neste caso específico, os resultados devem permitir caracterizar a
responsabilidade social empresarial nas MPEs de Itajaí, sendo que para isso,
também é utilizado aporte do método quantitativo. Segundo Richardson (1999),
embora existam diferenças ideológicas, os métodos qualitativo e quantitativo, podem
ser integrados nas etapas do planejamento, da coleta dos dados e da análise da
informação. Complementa Minayo (1994, p.22) que o conjunto de dados
quantitativos e qualitativos “não se opõem, ao contrário, se complementam, pois a
realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”.
Neste estudo o aporte do método quantitativo está caracterizado na fase da coleta
de dados, no uso do questionário.
15
Como estratégia de pesquisa, o estudo de caso configurou-se em uma
opção legítima. Merriam (1998) define o estudo de caso como um processo que
procura descrever e analisar alguma entidade em termos qualitativos. O estudo de
caso focaliza uma descrição e uma explicação holística, aprofundada de um dado
fenômeno. Para Yin (1984), o estudo de caso é uma forma particularmente
apropriada para as situações nas quais é impossível separar as variáveis do
fenômeno de seu contexto. Assim, justifica-se a aplicação do estudo de caso, pelo
fato de ser uma estratégia de pesquisa que permite analisar, com maior níveis de
detalhes, as ações de RSE utilizadas pelas MPEs.
1.3.2 Participantes da Pesquisa
Os participantes deste trabalho foram classificados em dois grupos, sendo o
primeiro, os gestores da UNI JUNIOR – o professor responsável e a gerente
executiva – que auxiliaram na definição do roteiro de diagnóstico e, o outro grupo, as
MPEs de Itajaí, que foram investigadas sobre a percepção dos elementos da RSE.
Assim, define-se neste segundo grupo que a população será formada pelas
MPEs que desenvolvem suas atividades no município de Itajaí, SC. A amostra
intencional foi formada pelas MPEs – extraídas do Relatório de Pesquisa realizada
pela UNI JÚNIOR e também selecionadas segundos os critérios do SEBRAE quanto
ao porte e pertencentes aos diversos segmentos de mercado. Amostra intencional é
descrita por Richardson (1999, p.161) como sendo:
Os elementos que formam a amostra relacionam-se intencionalmente de
acordo com certas características estabelecidas no plano e nas hipóteses
formuladas pelo pesquisados. Se o plano possuir características que
definam a população, é necessário assegurar a presença do sujeito-tipo.
Desse modo, a amostra intencional apresenta-se como representativa do
universo.
Como participantes da pesquisa foram consultados 18 proprietários/gestores
de MPEs de Itajaí, que aceitaram participar respondendo ao questionário.
16
1.3.3 Procedimentos e instrumentos de coleta de dados
Este trabalho teve como dados fontes primárias e secundárias. Segundo
Richardson (1999, p.253), uma fonte primária “é aquela que teve uma relação física
direta com os fatos analisados, existindo um relato ou registro da experiência
vivenciada”
e
serão
representadas
pelos
gestores
da
UNI
JUNIOR
e
proprietários/gestores das MPEs investigadas.
Para as fontes secundárias que Richardson (1999, p.253) descreve como
“aquela que não tem relação direta com o acontecimento registrado, senão através
de algum elemento intermediário”, foram consultados sites da UNI JUNIOR, do
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, do Sebrae, IBGE - Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística e da FIESC – Federação das Indústrias de
Santa Catarina.
Para a coleta de dados primários foram utilizados questionários com
questões fechadas e aplicação com contato direto, junto aos proprietários/gestores
das MPEs selecionadas, técnicas consideradas mais adequadas para o estudo aqui
proposto. Também foi utilizada a análise documental para coleta de dados
secundários. Segundo Vergara (2003), questionário é uma série de questões
apresentadas ao respondente por escrito, podendo utilizar uma escala para
quantificar as respostas, pode ser aberto ou fechado, estruturado e não estruturado.
Segundo Richardson (1999), o questionário pode ser classificado pela forma de
aplicação como: de contato direto e envio pelo correio.
Para a pesquisa dos elementos de RSE nas empresas utilizou-se um
questionário com aplicação direta, permitindo a explicação e discussão dos objetivos
da pesquisa e do questionário, eliminado dúvidas do respondente. O questionário foi
elaborado
conforme
modelo
semi-estruturado
com
questões
fechadas
e
possibilitando espaço para justificativa do respondente.
Para este trabalho foi utilizada a análise documental que segundo Pádua
(1996), é realizada a partir de documentos contemporâneos ou retrospectivos,
considerados cientificamente autênticos sendo geralmente utilizada nas ciências
sociais e na investigação histórica.
17
1.3.4 Tratamento e análise dos dados
Os dados obtidos de entrevistas, questionários e documentos escritos foram
organizados a partir das categorias do diagnóstico social empresarial, permitindo
assim, a elaboração do roteiro.
Os dados foram analisados a partir do processo de análise de conteúdo,
sendo esta, um conjunto de técnicas que permite “compreender melhor um discurso,
de aprofundar suas características e extrair os momentos mais importantes”
(RICHARDSON, 1999, p.224). A análise de conteúdo é mais indicada ao tratamento
e à análise de estudos qualitativos.
Utilizou-se para análise dos dados da pesquisa com as MPEs, técnicas
estatísticas simples, como a média, permitindo identificar como a responsabilidade
social empresarial é percebida pelos gestores dessas empresas.
Os resultados foram descritos em relatórios, apoiados com gráficos e tabelas
do excel, representando um roteiro de aplicação do diagnóstico da responsabilidade
social empresarial nas MPEs de Itajaí, Santa Catarina.
18
2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Neste capítulo são apresentadas as fundamentações teóricas que deram
suporte ao trabalho, iniciando pela Administração, com a evolução histórica,
conceitos e influências no estudo da organização; sobre a função das organizações
na melhoria de vida da sociedade com a prática da Responsabilidade Social
Empresarial; o conceito e o papel da micro e pequena empresa no desenvolvimento
da comunidade e da sociedade; os Indicadores Ethos-Sebrae na disseminação da
RSE, bem como informações sobre o tema proposto.
2.1
Administração
“Administração é o ato de trabalhar com e através de pessoas para realizar
os objetivos tanto da organização quanto de seus membros” (MONTANA, 1998).
Este conceito, segundo o autor, dá maior ênfase ao elemento humano na
organização, focaliza a atenção nos resultados, incluindo o conceito de que a
realização dos objetivos pessoais deve estar integrada aos objetivos da
organização. Porém, até chegar a este conceito, houve uma grande evolução.
Mesmo tendo sido a Antiguidade uma época profícua para as ciências, com
os grandes pensadores e filósofos criando e desenvolvendo muitas áreas do
conhecimento humano que perduram até hoje, não é possível dizer por que a
administração não tenha recebido a mesma atenção. Talvez, como aborda
Kwasnicka (1995), tenha sido pelo fato do forte preconceito em relação ao trabalho
chegando a ser considerado uma atividade desprezível e ainda, por acreditarem os
antigos, que os campos de ação intelectual cabiam aos cidadãos, enquanto que o
campo material cabia aos escravos, com a condenação da aplicação das ciências
em problemas práticos.
Destaca ainda este autor que foi a partir da Revolução Industrial, no século
XVIII, na Inglaterra, o início das grandes mudanças econômicas, sociais e políticas,
como a intensa urbanização, a duplicação da população da Europa no século XIX; o
desenvolvimento industrial se inicia; os meios de transportes são aperfeiçoados, o
comércio interno e internacional são incrementados e há redistribuição das riquezas
e do poder entre os países. Com o desenvolvimento industrial nos Estados Unidos e
19
na Europa surge a necessidade do desenvolvimento dos princípios tradicionais da
administração. Este desenvolvimento faz-se com Frederick Taylor nos Estados
Unidos; Henry Fayol, na França e Max Weber, na Alemanha (TACHIZAWA, 2001).
Dos esforços de melhorar a eficiência do trabalhador, surge a Administração
Científica com Frederick Taylor, fazendo uso de estudos de tempos e movimentos e
de um sistema conhecido como pagamento por peça. Segundo Tachizawa (2001),
Taylor partiu de dois pressupostos fundamentais: o primeiro de que é possível
estabelecer, por meio de estudo sistemático, a melhor maneira de fazer um trabalho;
e o segundo de o homem ter predisposição para procurar a máxima recompensa
com o mínimo esforço.
Segue-se então a teoria clássica da administração de Henri Fayol que se
preocupava com a eficiência e a eficácia da organização como um todo e
desenvolveu os princípios gerais da administração, ainda hoje usados e as funções
da administração (previsão, organização, comando, coordenação e controle),
conforme cita Montana (1998).
Já o sociólogo Max Weber desenvolve o modelo burocrático. Um modelo de
organização relativamente formal e impessoal, tendo por características, descritas
por Kwasnicka (1995): organização regida por normas escritas que determinam os
atos e decisões administrativas; divisão do trabalho baseada em grau hierárquico de
cada cargo; fator mérito individual importante para seleção, promoções e
transferências de pessoas de um cargo para outro; separação do corpo
administrativo da propriedade da administração; e a burocracia caracterizando a
profissionalização de seus membros.
No entanto, esta abordagem clássica não enfatiza o ser humano e chega-se
então à abordagem comportamental que teve seu início com estudos feitos em
Hawthorne, por Elton Mayo, estudos estes que iniciaram o movimento das relações
humanas. De acordo com Certo (2003), nesta abordagem, a preocupação com o
aumento da produção se dá por meio de uma maior compreensão de como são as
pessoas. Ressalta ainda que neste sentido, Abraham Maslow, um dos maiores
colaboradores
do
movimento
das
relações
humanas,
acreditava
que
os
administradores precisavam conhecer as necessidades fisiológicas, de segurança,
sociais, de estima e auto-realização dos membros da empresa. Só assim, haveria
melhor compreensão do ser humano nas empresas, permitindo lidar com ele de
maneira adequada para que a empresa pudesse alcançar seus objetivos.
20
A abordagem sistêmica baseia-se na teoria geral dos sistemas, cujo tema
foi introduzido por Ludwig von Bertalanffy. Certo (2003) conceitua sistema como “um
conjunto de partes interdependentes que funcionam como um todo para algum
propósito”. Argumenta ainda que “para compreender totalmente o funcionamento de
uma entidade, esta deve ser vista como um sistema”.
Já a abordagem contingencial da administração que remonta aos anos 60
enfatiza que o comportamento e a estrutura de uma organização dependem de
variáveis situacionais – ambiente, tecnologia e tamanho da organização, conforme
esclarece Tachizawa (2001). Para Certo (2003), esta abordagem enfatiza “que o que
um administrador faz na pratica depende ou está condicionado a um conjunto de
circunstâncias – uma situação”.
Após todas as abordagens da administração, hoje podemos compreender a
sua importância tanto para a sociedade como para os indivíduos, assim como suas
funções básicas.
Neste sentido, administração é conceituada por Maximiano (2002, p.26)
“como o processo de tomar e colocar em prática as decisões sobre objetivos e
utilização de recursos”. Estas decisões englobam o planejamento, a organização, a
execução e direção e o controle, conforme mostra a Figura 1, enquanto que os
recursos estão representados pelas pessoas, as informações e o conhecimento,
espaço, tempo, dinheiro e instalações, de acordo com a Figura 2. Os objetivos são
os resultados esperados do sistema. Tem a administração importância em qualquer
escala, seja individual, familiar, grupal, organizacional ou social.
Na Figura 1, está representado o processo da administração e as principais
decisões relacionadas.
21
Figura 1 – Principais decisões do processo de administrar
Fonte: Maximiano (2002, p.27)
Observa-se na Figura 1 que as funções contribuem para a conceituação,
definição dos objetivos, a harmonização do recurso, a realização e a verificação e
acompanhamento dos resultados.
Na Figura 2 são demonstrados os objetivos e recursos envolvidos na tomada
de decisão.
Figura 2 – Processo de tomada de decisões sobre objetivos e recursos
Fonte: Fonte: Maximiano (2002, p.26).
Observa-se na Figura 2 que o processo de tomada de decisão apresenta-se
em um ciclo que envolve o processo de administração, os objetivos e resultados
esperados e os recursos disponíveis.
22
Mostra ainda este autor que a formação do conhecimento administrativo se
dá pela observação e análise crítica da experiência prática das organizações e seus
administradores, conforme Figura 3, a seguir.
Na Figura 3 é apresentado o processo formador do conhecimento
administrativo.
Figura 3 - Formação do conhecimento administrativo
Fonte: Fonte: Maximiano (2002, p.32)
Verifica-se na Figura 3 que o processo do conhecimento administrativo inclui
a teoria e prática e que um contribui para o outro.
Para Certo (2003, p.5), administração “é o processo que permite alcançar as
metas de uma empresa, fazendo uso do trabalho com e por meio de pessoas e
outros recursos da empresa”. Argumenta que o papel do administrador é combinar e
utilizar-se destes recursos (pessoas, dinheiro, matéria-prima e bens de capital) para
que a empresa atinja seus propósitos.
Porém, para que haja sucesso no desempenho administrativo, o
administrador
compreendem,
deve
possuir
segundo
habilidades
Certo
(2003),
administrativas.
habilidades
Estas
técnicas
habilidades
que
são
os
conhecimentos especializados e precisos; habilidades humanas ou a capacidade de
trabalhar em equipe e as habilidades conceituais, que é a capacidade de enxergar a
empresa como um todo.
23
O administrador deve ainda ser capaz de gerar e manter a responsabilidade
social. Esta responsabilidade social está relacionada com a ética e a transparência
na gestão dos negócios e com a maneira como as empresas realizam estes
negócios, os critérios que utilizam para tomada de decisões, os valores que definem
suas prioridades e os relacionamentos com todos os públicos dos quais dependem e
com os quais se relacionam.
Neste sentido, para Melo Neto e Froes (2001), existem diferentes visões de
analisar o conceito de responsabilidade social empresarial, sendo: responsabilidade
social como atitude e comportamento empresarial ético e responsável, prevalecendo
nesta abordagem a responsabilidade ética, ou seja, a empresa tem o dever e
compromisso em assumir atitude transparente, responsável e ética em suas
relações com os stakeholders; responsabilidade social como um conjunto de valores
incorporando não apenas conceitos éticos, mas outros conceitos que lhe darão
sustentabilidade, como auto-estima dos empregados, desenvolvimento social, entre
outros. A responsabilidade social pode ser vista ainda como postura estratégica
empresarial, estratégia de relacionamento, estratégia de marketing institucional,
estratégia de valorização das ações da empresa, neste caso, agregação de valor,
estratégia de recursos humanos, e ainda, como promotora da cidadania individual e
coletiva.
2.2
As Organizações e a responsabilidade social
As primeiras indústrias – séculos XVI e XVII - que podiam ser desde
minúsculas oficinas domésticas até edifícios com inúmeras máquinas eram lugares
insalubres aos quais os camponeses deveriam submeter-se para não morrerem de
fome. A Revolução Industrial cria novo sistema transformando as relações sociais e
criando duas novas classes sociais – os empresários (capitalistas, proprietários dos
capitais) e os operários (proletários ou trabalhadores assalariados) que vendiam sua
força de trabalho aos empresários para produzir mercadorias em troca de salários. A
eles eram impostas duras condições de trabalho como, por exemplo, garantir
margem de lucro crescente pagando salários irrisórios, conforme expõe Bernardes
(2006).
24
Uma organização deve ter como propósito contribuir com algo de valor para
a sociedade já que são compostas por pessoas e seus relacionamentos.
Independente de seu porte, todas têm como objetivo o lucro fornecendo bens e
serviços para a sociedade.
A sociedade hoje tem expectativas mais elevadas em relação às
organizações, principalmente sobre o seu papel social e ambiental. Entendem que
são entidades exclusivamente econômicas, mas que utilizam recursos que são da
nação, portanto, pertencentes a todos.
Argumenta Tinoco (2004, p.102) “que a grande responsabilidade social das
organizações consiste em gerar renda e emprego”. E ainda que a responsabilidade
social corporativa ou cidadania empresarial enfatiza o impacto das atividades das
empresas para os agentes com os quais interagem (stakeholders): empregados,
fornecedores, clientes, consumidores, colaboradores, investidores, competidores,
governos e comunidades.
Vasconcelos apud Tinoco (2004, p.103), explicita que “as organizações têm
a propriedade de criar poder aquisitivo, direta ou indiretamente, para as
comunidades, uma vez que geram empregos e, ainda, influenciam a qualidade de
vida das pessoas com a oferta de produtos e serviços” e demonstra elaborando uma
figura que espelha a função vital das organizações na sociedade.
25
FIGURA 4 – Função vital das organizações na sociedade
Fonte: adaptado de Tinoco 2004
Observa-se na Figura acima que a função vital das organizações está
vinculada à geração de empregos, ao crescimento da renda e a sustentação do
mercado local, e mantendo estas atividades, proporcionarão melhorias de vida da
sociedade.
26
2.3
O Desenvolvimento Sustentável e a Responsabilidade Social
Empresarial
É uma exigência cada vez mais presente na ordem econômica, a adoção de
padrões de conduta ética que valorizem o ser humano, a sociedade e o meio
ambiente. Empresas socialmente responsáveis parecem estar mais preparadas para
assegurar a sustentabilidade dos negócios, em longo prazo, por estarem
sincronizadas com as novas dinâmicas que afetam a sociedade humana e o mundo
empresarial.
O conceito de desenvolvimento sustentável começou a ser discutido,
largamente a partir da publicação do relatório da Comissão Mundial de Meio
Ambiente e do Desenvolvimento das Nações Unidas. Esse documento, mais
conhecido como o Relatório Brundtland’ (Silva, 2002), apresentou a definição oficial
do conceito de Desenvolvimento Sustentável e dos métodos eficazes para ser
enfrentada a crise pela qual passa o mundo. A proposta de desenvolvimento
sustentável teve a vantagem de denunciar, como inviáveis, os atuais modelos de
desenvolvimento, nos hemisférios Norte e Sul, que seguem padrões de crescimento
econômico não-sustentável de longo prazo. Além disso, o conceito prevê que o
crescimento econômico não pode ocorrer sem a superação da pobreza e o respeito
aos limites ecológicos. São esses quatro parâmetros - preservação da natureza,
eliminação da pobreza, crescimento econômico, e garantia de existência das
gerações futuras – que, concebidos em conjunto, conferem a possibilidade de
alcançar uma sustentabilidade que seja global.
Como nota final pode-se destacar que o desenvolvimento sustentável
permite qualidade de vida para as atuais e as futuras gerações e permite, ainda,
uma série de oportunidades de mercado como: otimização de recursos, reciclagem
de resíduos e tecnologia limpa.
Já a gestão ambiental pode ser definida como um conjunto de medidas de
procedimentos que objetivam reduzir e controlar os impactos ambientais provocados
pelas empresas (VALLE, 1995). Pode ser conceituada, também, como um processo
que se inicia pelo entendimento do sistema como um todo e termina pelo
desempenho sustentável (KINLAW, 1997).
27
A gestão ambiental é ainda hoje na grande maioria das empresas brasileiras,
um procedimento isolado do planejamento e das decisões estratégicas empresariais.
Estruturada nos órgãos operativos, a gestão ambiental perde sua visão de longo
prazo e passa a ser apenas um grupo voltado para resolver problemas ambientais.
Na prática, essa visão prevaleceu nas últimas décadas do século XX e permanece
ainda, em algumas empresas mais conservadoras.
Contudo, apesar das ações empresariais ainda serem fragmentadas, na
visão de Rosen (2001), existem razões para que as empresas tenham buscado
melhorar a performance ambiental. A razão primeira concentra-se no fato do regime
regulatório internacional estar mudando suas regras em direção às exigências
crescentes com relação à proteção ambiental. A outra razão funda-se na
circunstância de o mercado estar mudando tanto de fatores quanto de produtos. A
terceira razão decorre de o conhecimento estar mudando, a partir das crescentes
descobertas e publicidades sobre causas e conseqüências dos danos ambientais.
Assim, a gestão ambiental empresarial é atualmente, condicionada pela pressão das
regulamentações internacionais, pela busca de melhor reputação, pela pressão de
acionistas, investidores e bancos para as empresas reduzirem o risco ambiental,
pela pressão dos consumidores e pela própria concorrência.
A Responsabilidade Social Empresarial está relacionada com a ética e a
transparência na gestão dos negócios e com a maneira como as empresas realizam
estes negócios, os critérios que utilizam para tomada de decisões, os valores que
definem suas prioridades e os relacionamentos com todos os públicos dos quais
dependem e com os quais se relacionam.
Slack (2002), comenta que qualquer negócio tem a responsabilidade de não
causar danos a indivíduos, sendo os negócios parte de uma comunidade maior,
geralmente integrada no tecido econômico e social de uma região. Relaciona alguns
assuntos de responsabilidade social como: segurança do consumidor, impacto social
do produto, segurança dos funcionários, honestidade no relacionamento com
fornecedores e outros. Trata ainda que a responsabilidade social pode ser vista
como aplicação ampla de ética no processo de decisão.
Consoante Melo Neto e Froes (2001), existem diferentes visões de analisar o
conceito de responsabilidade social empresarial, sendo: responsabilidade social
como atitude e comportamento empresarial ético e responsável, prevalecendo nesta
abordagem a responsabilidade ética, ou seja, a empresa tem o dever e compromisso
28
em assumir atitude transparente, responsável e ética em suas relações com os
stakeholders; responsabilidade social como um conjunto de valores incorporando
não apenas conceitos éticos, mas outros conceitos que lhe darão sustentabilidade,
como auto-estima dos empregados, desenvolvimento social, entre outros. A
responsabilidade social pode ser vista ainda como postura estratégica empresarial,
estratégia de relacionamento, estratégia de marketing institucional, estratégia de
valorização das ações da empresa, neste caso, agregação de valor, estratégia de
recursos humanos, e ainda, como promotora da cidadania individual e coletiva.
O dinamismo da gestão da responsabilidade social corporativa, conforme
ensina Melo Neto e Froes (2001) se expressam através do alcance sucessivo de
etapas de um processo, caracterizado pelo foco estratégico das ações sociais –
responsabilidade social interna e externa.
Para os autores, a responsabilidade social interna está relacionada às
atividades regulares da empresa e dizem respeito à saúde e segurança dos
funcionários e qualidade de vida no trabalho, resultando em lucros para a empresa,
já que sua produtividade aumenta, diminuem os gastos com saúde dos funcionários,
conseguindo ainda desenvolver o potencial, habilidades e talentos dos funcionários,
multiplicando as inovações. Na gestão social externa, o foco das ações é dirigido à
sociedade e à comunidade, começando com a preservação do meio ambiente e
ações de impacto socioeconômico, cultural e político no âmbito da sociedade e da
comunidade local. Em seguida, a empresa vai além de seu entorno, alcançando a
sociedade como um todo, beneficiando pelos resultados do desempenho social
empresarial, inclusive as populações e grupos sociais que não são diretamente alvos
de suas ações sociais.
No intuito de estimular a responsabilidade social empresarial, uma série de
instrumentos de certificação foi criada nos últimos anos. Entre algumas das
certificações mais cobiçadas atualmente estão:
a)
AA1000 - criada em 1996 pelo Institute of Social and Ethical Accountability,
de cunho social e enfoca principalmente a relação da empresa com seus diversos
parceiros, ou “stakeholders”. Uma de suas principais características é o caráter
evolutivo já que é uma avaliação regular (anual).
b)
SA8000 - A “Social Accountability 8000” é uma das normas internacionais
mais conhecidas. Criada em 1997 pelo Council on Economic Priorities Accreditation
Agency (CEPAA), enfoca, primordialmente, relações trabalhistas e visa assegurar
29
que não existam ações anti-sociais ao longo da cadeia produtiva, como trabalho
infantil, trabalho escravo ou discriminação.
c)
ISO 14000 – é um sistema de gerenciamento ambiental, dividido em três
seções que cobrem padrão inicial, implementação e avaliação de objetivos,
permitindo que empresas do mundo todo avaliem a interatividade com o meio
ambiente, de seus produtos, serviços e processos.
d)
GRI – Global Reporting Initiative desenvolve e elabora relatórios de
sustentabilidade para empresas em todo o mundo, que desejam relatar suas
atividades, produtos e serviços, como também ações de responsabilidade
socioambientais, permitindo que sejam reconhecidas e valorizadas por seus
stakeholders.
Seus indicadores para a elaboração de relatórios abordam os três elementos
inter-relacionados da sustentabilidade, tal como se aplicam a uma organização,
conforme Quadro 1.
Econômico
Inclui, por exemplo, os gastos e benefícios, produtividade no
trabalho, criação de emprego, despesas em serviços externos,
despesas em investigação e desenvolvimento, investimentos
em educação e outras formas de capital humano. O aspecto
econômico inclui, embora não se limite só a ela, a informação
financeira e respectivas declarações.
Ambiental
Inclui, por exemplo, impacto dos processos, produtos, serviços
no ar, água, solo, biodiversidade e saúde humana.
Social
Inclui, por exemplo, o tratamento que se dá aos grupos
minoritários e às mulheres, o trabalho feito em favor dos
menores, a saúde e segurança ocupacionais, estabilidade do
empregado, direitos laborais, direitos humanos, salários e
condições de trabalho nas relações externas.
Quadro 1 – Elementos e indicadores
Fonte: www.globalreporting.org (apud Tinoco, 2004, p.283)
Porém, estes dados por si não oferecem um panorama global das atividades
da organização e só se tornam úteis quando relacionados com outros dados. Assim,
a GRI estabeleceu uma hierarquia de elementos de informação para cada uma das
dimensões de sustentabilidade, contemplando três níveis: categorias – áreas ou
agrupamentos das questões econômicas, ambientais ou sociais que afetam as
partes interessadas; aspectos – elementos relacionados com uma categoria
30
específica; e indicadores – valores específicos de um aspecto concreto que possam
ser utilizados para acompanhar e demonstrar o desempenho, como demonstrado no
Quadro 2.
AMBIENTAIS
ECONÔMICOS
CATEGORIA
ASPECTO
Impactos econômicos
diretos
Clientes
Fornecedores
Empregados
Fornecedores de capital
Setor público
Impactos econômicos
indiretos
Externalidades
Ambientais
Materiais
Energia
Água
Biodiversidade
Emissões, efluentes e resíduos
Fornecedores
Produtos e serviços
Cumprimento legal/ambiental
Transporte
Global
SOCIAIS
Emprego
Relação trabalhadores/gestão
Práticas laborais e
Saúde e segurança
condições de trabalho
Treino e educação
Diversidade e oportunidades
Direitos humanos
Sociedade
Estratégia e gestão
Não-discriminação
Liberdade de associação e negociação coletiva
Trabalho infantil
Trabalho forçado e compulsório
Práticas disciplinares
Práticas de segurança
Direitos dos nativos
Comunidade
Suborno e corrupção
Contributos políticos
Competição e preços
Saúde e segurança dos clientes
Produtos e serviços
Publicidade
Respeito pela privacidade
QUADRO 2 – Categorias e aspectos contemplados nas Diretrizes GRI - 2002
Fonte: www.globalreporting.org (apud Tinoco, 2004, p.284)
Responsabilidade
pelos produtos
31
2.4
Indicadores Ethos-Sebrae
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma
organização sem fins lucrativos fundada em 1998 e tem como missão mobilizar,
sensibilizar e ajudar as empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente
responsável. Dissemina a prática da responsabilidade social por intermédio de
atividades de intercâmbio de experiências, publicações, programas e eventos
voltados para seus associados e para a comunidade de negócios em geral.
Para fortalecer o movimento pela responsabilidade social no Brasil, o Ethos
concebeu os Indicadores Ethos como um sistema de avaliação do estágio em que se
encontram as práticas de responsabilidade social nas empresas.
Em 2003, o Instituto Ethos e o Sebrae desenvolveram duas publicações,
com o objetivo de incentivar e contribuir para que a responsabilidade social
empresarial (RSE) fosse incorporada pelas micro e pequenas empresas (MPEs).
Uma destas publicações é a Ferramenta de Auto-avaliação e Planejamento –
Indicadores Ethos-Sebrae de RSE para Micro e Pequenas Empresas.
Para o Instituto Ethos e o Sebrae a responsabilidade social pode ser
entendida como:
Forma de gestão que se define pela relação ética da empresa com todos os
públicos com os quais se relaciona e pelo estabelecimento de metas
empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da
sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações
futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das
desigualdades sociais (Ethos e Sebrae, 2003)
Os indicadores ETHOS são uma ferramenta de autodiagnóstico para auxiliar
as empresas a gerenciar os impactos sociais e ambientais decorrentes de suas
atividades.
Além
de
possibilitar
a
homogeneização
dos
conceitos
de
Responsabilidade Social Empresarial (RSE), os indicadores também sugerem
parâmetros de políticas e ações que a empresa pode desenvolver para aprofundar
seu comprometimento com a RSE.
TEMA 1 – VALORES E TRANSPARÊNCIA
Segundo o Instituto Ethos (2008), valores e princípios éticos formam a base
da cultura de uma empresa, o que orienta sua conduta e fundamenta sua missão
32
social. Desta forma, o entendimento de RSE decorre da compreensão de que a ação
das empresas deve buscar trazer benefícios para a sociedade, propiciar a realização
profissional dos empregados, promover benefícios para os parceiros e para o meio
ambiente e trazer retorno para os investidos. São cinco os indicadores que fazem
parte deste tema: compromissos éticos, práticas antipropina, práticas anticorrupção,
balanço social, e governança corporativa.
TEMA 2 – PÚBLICO INTERNO
Para o Ethos (2008), a empresa socialmente responsável não se limita a
respeitar os direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista, mas
deve ir além e investir no desenvolvimento pessoal e profissional de seus
empregados, bem como a melhoria das condições de trabalho e no estreitamento de
suas relações com os empregados. Também deve estar atenta para o respeito às
culturas locais, revelado por um relacionamento ético e responsável com as minorias
e instituições que representam seus interesses. Fazem parte deste tema, oito
indicadores que são: cuidados com saúde, segurança e condições de trabalho,
benefícios adicionais, critérios de contratação, valorização da diversidade e
promoção da equidade, inclusão de pessoas com deficiência, relações com
sindicatos, compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade,
acesso a informação.
TEMA 3 – MEIO AMBIENTE
A empresa deve criar um sistema de gestão que assegure que ela não
contribui com a exploração predatória e ilegal de nossas florestas. Alguns produtos
utilizados no dia-a-dia em escritórios e fábricas como papel, embalagens, lápis e
outros têm uma relação direta com este tema e isso nem sempre fica claro para as
empresas. A empresa ambientalmente responsável deve apoiar e desenvolver
campanhas, projetos e programas educativos voltado para seus empregados, para a
comunidade e para públicos mais amplos. São três os indicadores que fazem parte
deste tema: gerenciamento dos impactos sobre o meio ambiente e do ciclo de vida
de produtos e serviços, comprometimento da empresa com a melhoria da qualidade
ambiental, e educação e conscientização ambiental. (ETHOS, 2008)
33
TEMA 4 – FORNECEDORES
A empresa socialmente responsável envolve-se com seus fornecedores e
parceiros. Cabe à empresa transmitir os valores de seu código de conduta a todos
os participantes de sua cadeia de fornecedores. Os quatro indicadores constantes
deste tema são: critérios de seleção e avaliação de fornecedores, empregados dos
fornecedores, responsabilidade social dos fornecedores, apoio ao desenvolvimento
de fornecedores. (ETHOS, 2008)
TEMA 5 – CONSUMIDORES E CLIENTES
Segundo o Instituto Ethos (2008), a responsabilidade social em relação aos
clientes e consumidores exige da empresa o investimento permanente no
desenvolvimento de produtos e serviços confiáveis, que minimizem os riscos de
danos à saúde dos usuários e das pessoas em geral. A publicidade de produtos e
serviços deve garantir seu uso adequado. Informações detalhadas devem estar
incluídas nas embalagens e deve ser assegurado suporte para o cliente antes,
durante e após o consumo. A empresa deve alinhar-se aos interesses do cliente e
buscar satisfazer suas necessidades. Integram este tema cinco indicadores:
excelência do atendimento, dúvidas, sugestões e reclamações, satisfação dos
consumidores/clientes, política de comunicação comercial, e conhecimento e
gerenciamento dos danos potenciais dos produtos e serviços.
TEMA 6 – COMUNIDADE
A comunidade em que a empresa está inserida fornece-lhe infra-estrutura e
o capital social representado por seus empregados e parceiros, contribuindo
decisivamente para a viabilização de seus negócios. O investimento pela empresa
em ações que tragam benefícios para a comunidade é uma contrapartida justa, além
de reverter em ganhos para o ambiente interno e na percepção que os clientes têm
da empresa, pois ela tem o papel de agente de melhorias sociais. Fazem parte deste
tema os indicadores: gerenciamento do impacto da empresa na comunidade de
entorno, relações com a comunidade de entorno, estímulo ao trabalho voluntário,
envolvimento da empresa com a ação social, relações com entidades beneficiadas,
participação comunitária, e benefícios para o negócio. (ETHOS, 2008)
34
TEMA 7 – GOVERNO E SOCIEDADE
Para o Ethos (2008), é importante que a empresa procure assumir o seu
papel natural de formadora de cidadãos. Programas de conscientização para a
cidadania e importância do voto para seu público interno e comunidade de entorno
são um grande passo para que a empresa possa alcançar um papel de liderança na
discussão de temas como participação popular e corrupção. Os indicadores
referentes a este tema são: participação e influência social, envolvimento em
campanhas políticas, participação e acompanhamento das administrações publicas,
e melhoria de espaços públicos e apoio a iniciativas sociais governamentais.
2.5
Micro e Pequenas Empresas
A classificação brasileira para micro e pequena empresa consta do Estatuto
da Micro e Pequena Empresa, de 1999, instituído pela Lei Federal 9.841 de
05/10/1999, onde o critério adotado para conceituá-las é obtido pela faixa de
faturamento anual bruto, cujos valores foram atualizados pelo Decreto número
5.028/2004, de 31 de março de 2004, conforme Quadro 3.
FATURAMENTO
Micro empresa
Igual ou inferior a R$ 433.755,14
Pequena empresa
De R$ 433.755,14 a R$ 2.133.222,00
Quadro 3: Classificação de micro e pequena empresa pelo faturamento
Fonte: Sebrae (2007)
Além do critério adotado no Estatuto da Micro e Pequena Empresa, o Sebrae
utiliza ainda o conceito de número de funcionários nas empresas, principalmente nos
estudos e levantamentos sobre a presença de micro e pequena empresa na
economia brasileira, como é demonstrado no Quadro 4 abaixo:
ATIVIDADES
Indústria e construção
Comércio e serviços
MICROEMPRESA
Até 19 pessoas
PEQUENA EMPRESA
De 20 a 99 pessoas
Até 09 pessoas
De 10 a 49 pessoas
Quadro 4: Classificação de micro e pequena empresa por número de
funcionários
Fonte: Sebrae (2007)
35
A Constituição Federal de 1988 nos seus artigos 146, 170 e 179 contêm os
marcos legais que fundamentam as medidas e ações de apoio às micro e pequenas
empresas no Brasil.
O artigo 170 insere as MPEs nos princípios gerais da ordem econômica,
garantindo tratamento favorecido à essas empresas. O artigo 179 orienta as
administrações públicas a dispensar tratamento jurídico diferenciado ao segmento,
visando
a
incentivá-las
pela
simplificação
ou
redução
das
obrigações
administrativas, tributárias, previdenciárias e de crédito por meio de leis, enquanto
que o artigo 146 contém dois novos dispositivos, aprovados pela Reforma Tributária
de 2003, prevendo que uma lei de hierarquia superior, a lei complementar, definirá
tratamento diferenciado e favorecido para as MPEs, incluindo um regime único de
arrecadação dos impostos e contribuições da União, dos estados e dos municípios,
além de um cadastro unificado de identificação.
O estudo de pequenos negócios é essencial para entendermos o
desenvolvimento econômico nas várias regiões, já que em todo o mundo, estes são
responsáveis pela maioria das empresas e postos de trabalho.
No Brasil, segundo o Sebrae (2006), das 5,1 milhões de empresas formais,
98% são de micro e pequeno porte, responsáveis por 67% do pessoal ocupado no
setor privado. É fundamental a compreensão da dinâmica dos pequenos negócios,
afinal será este o grupo de empreendimentos responsável pela expansão do
emprego e redução das desigualdades sociais.
36
3
CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA UNI JÚNIOR
Este capítulo serve para apresentar a Empresa UNI JÚNIOR – Orientação
Empresarial que ofereceu suporte para a realização deste trabalho. Sua história e o
papel exercido dentro da universidade, estrutura organizacional, missão, visão e
objetivos.
A empresa UNI JÚNIOR foi fundada em 20 de julho de 1995, na
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, por uma turma de acadêmicos que tomou
a iniciativa de visitar as universidades que já dispunham de empresas juniores em
seus cursos, criando a prática do benchmarking. O apoio e suporte na instalação
foram dados pela direção do CECIESA – Centro de Ciências Sociais Aplicadas.
Hoje a UNI JÚNIOR é uma associação civil, sem fins lucrativos que presta e
desenvolve projetos para empresas, entidades e a sociedade em geral, cujo objetivo
é a integração dos acadêmicos com o universo profissional, com o propósito de
desenvolver o espírito crítico, analítico e empreendedor de seus alunos, facilitando o
ingresso no mercado de trabalho. É mantida pela UNIVALI e administrada pelo
CECIESA, sendo regida por regulamento e normas próprios, em um ambiente com
características de empresas reais com uma estrutura organizacional bem reduzida,
flexibilizando o desenvolvimento de suas atividades. Após a reformulação estatutária
ocorrida em 2005, tem sua estrutura organizacional assim composta:
•
Conselho Administrativo
•
Responsável pela UNI JÚNIOR
•
Gerente Executivo
•
Departamento de Projetos (áreas Administrativa, logística, contábil e
pesquisa de mercado)
•
Departamento de Marketing (Marketing interno e externo)
•
Membros Efetivos
•
Estagiário (extra curricular)
A missão da UNI JÚNIOR é auxiliar no desenvolvimento pessoal, acadêmico
e profissional dos alunos de graduação do CECIESA GESTÃO DA UNIVALI ITAJAÍ,
através da prática dos princípios inerentes às ciências sociais e preceitos norteados
pela ética, oportunizando ganhos aos acadêmicos e/ou empresários.
37
Sua visão consiste na satisfação às expectativas dos acadêmicos,
universidade e empresários, como uma empresa júnior, referência em serviços
(orientação e práticas de estágios).
Complementando seu escopo, a UNI JÚNIOR tem assim definidos seus
valores:
1. Atendimento aos desejos: a preocupação é satisfazer as necessidades
de seus clientes.
2. Atenção: todos os clientes são iguais, portanto sendo tratados com a
mesma consideração.
3. Humanismo: o ser humano é objetivo final e a medida de todos os atos
praticados pela UNI JÚNIOR.
4. Responsabilidade Social: desenvolvimento da consciência do seu papel
econômico tanto quanto de sua responsabilidade social.
5. Comprometimento: acredita que todos têm pleno comprometimento pela
missão da UNI JÚNIOR.
6. Satisfação: criação de um ambiente agradável para o desenvolvimento
das tarefas.
7. Disciplina: é o instrumento de coesão da equipe em busca dos objetivos
da UNI JÚNIOR.
A UNI JÚNIOR tem seus objetivos definidos conforme segue:
•
Proporcionar aos seus colaboradores as condições necessárias à
aplicação prática de seus conhecimentos teóricos relativos à sua área
de formação acadêmica e profissional.
•
Incentivar a capacidade empreendedora do profissional no âmbito
acadêmico.
•
Realização de estudos, elaboração de diagnósticos e relatórios sobre
assuntos específicos na área de atuação escolhida.
•
Assessorar na implantação de soluções indicadas para os problemas
diagnosticados.
•
Valorizar alunos e professores da UNIVALI no mercado de trabalho e no
âmbito acadêmico, bem como a referida instituição.
38
•
Servir de campo de estágio, intermediando estágios para alunos do
CECIESA.
•
Dar à sociedade um retorno dos investimentos que ela realiza na
Universidade, por meio de serviços feitos por futuros profissionais dos
cursos do CECIESA e UNIVALI.
A UNI JÚNIOR iniciando nova gestão em 2008-1, vem promovendo
mudanças na forma de atuação, por projetos, e para isso vem redesenhando o
processo representado no Figura 5, abaixo.
Figura 5: Macro processo Uni Junior
Fonte: Uni Junior
O macro processo representa, de maneira geral, como são realizadas as
atividades de uma unidade produtiva, a partir da relação cliente-fornecedor. A Figura
5 representa o processo da Uni Junior e as relações clientes-fornecedores. No bloco
central da figura está representada a estrutura da Uni Junior formada pelo professor
39
responsável, professor apoio de marketing, gerente executiva, os estagiários
(consultores juniores) e os projetos em andamento.
Macro processo é um processo que geralmente envolve mais que uma
função na estrutura organizacional e sua operação têm impacto significativo
no modo como a organização funciona. (MELLO et al, 2002, p.45
Os projetos são executados segundo o modelo de consultoria artesanal,
visando atender as necessidades dos clientes. Os projetos são estruturados a partir
da elaboração do seu escopo, definindo as necessidades do cliente e a equipe que
irá atuar, sendo que, esta deverá incluir um professor orientador e os consultores
juniores, que são escolhidos de acordo com seus conhecimentos específicos e
habilidades.
Consultoria artesanal é aquela que procura atender às necessidades da
empresa-cliente por meio de um projeto baseado em metodologia e
técnicas administrativas especificamente estruturadas para referida
empresa-cliente, tendo, entretanto, sustentação de outras abordagens e
modelos aplicativos em outras empresas. [...] as técnicas aplicadas surgem
do conhecimento anterior do consultor, o qual efetua as adaptações
necessárias para melhor atender às necessidades e expectativas
específicas da empresa-cliente. (OLIVEIRA, 1999, p.55)
No caso específico da UNI JÚNIOR, o consultor passa a ser o professor
responsável ou um professor orientador alocado no projeto específico, que faz parte
de um dos cursos do CECIESA: Administração, Logística, Contábeis ou Economia.
Além dos projetos para as empresas-cliente, a UNI JÚNIOR desenvolve
atividades de capacitação profissional, contribuindo para o processo de formação de
futuros profissionais, vivenciando situações inerentes ao exercício da profissão e das
exigências do mercado que o acadêmico enfrentará após a conclusão do curso.
Nesta atividade é considerada a organização de cursos rápidos de formação
complementar, tais como Excel básico; Ferramentas de excel para apoio à logística;
Oratória; Uso da HP entre outros, além da participação na organização de
seminários, palestras e cursos promovidos pelas coordenações dos cursos do
CECIESA, tais como, Semana do CECIESA; Ciclo de Logística, entre outras
atividades.
Outra atividade que consome recursos da Uni Junior é a organização de
viagens técnicas, programadas previamente pela equipe no início do semestre e
aquelas para atender à solicitação de professores dos cursos de Administração e
Logísticas, mais especificamente.
40
Todas as atividades exigem uma interação com outras áreas da UNIVALI,
para encaminhamento dos projetos, solicitação dos recursos necessários para
realização do evento, o faturamento dos projetos, pagamento de professores e
outras necessidades.
A UNI JÚNIOR atualmente tem em desenvolvimento e negociação, 20
consultorias. Já foram realizadas duas consultorias (CDL e construção civil). Conta
ainda com 35 projetos em desenvolvimento e 16 realizados.
41
4
RESULTADOS DA PESQUISA
Neste capítulo são apresentados os resultados da pesquisa realizada nas
MPEs de Itajaí, Santa Catarina, com a descrição do perfil dos empresários, dados
das empresas, o comportamento do empresário acerca de práticas de RSE, as
dificuldades enfrentadas para a adoção destas práticas e ainda as razões que os
levam a atuar com responsabilidade social.
A pesquisa foi realizada utilizando-se para a coleta de dados, um
questionário, aplicado diretamente pela acadêmica, composto por três partes:
Parte I – Dados da empresa/empresário:
A primeira parte destina-se a esclarecer tempo e ramo de atividade da MPE,
número de funcionários, número de funcionários, tipo de gestão, função ocupada
pelo respondente e tempo, idade e formação escolar.
Parte II – Práticas de Responsabilidade Social Empresarial
As questões foram elaboradas a partir dos Indicadores Ethos-Sebrae, que
são ferramentas de autodiagnóstico para auxiliar as empresas a gerenciar impactos
sociais e ambientais decorrentes de suas atividades, permitindo a avaliação de seu
desempenho em sete temas: valores e transparência, público interno, meio
ambiente, fornecedores, consumidores e clientes, comunidade e governo e
sociedade.
Fazem parte destes temas, 36 indicadores, descritos no item 2.4 Indicadores Ethos-Sebrae, e para cada indicador, até dez itens. Como o objetivo da
pesquisa era conhecer as práticas de responsabilidade social empresarial da MPEs,
o método adotado foi uma questão para cada tema que tivesse a abrangência dos
indicadores a ele relativos, como pode ser constatado no questionário em anexo.
O empresário da micro ou pequena empresa foi caracterizado como
socialmente responsável quando deu resposta afirmativa em, pelo menos, um dos
temas abordados.
42
Parte III – Dificuldades e/ou motivação na adoção da RSE
Neste item, duas questões foram analisadas. Uma quanto às dificuldades
e/ou impedimentos encontrados pelos empresários para a adoção de práticas da
responsabilidade social empresarial. A segunda questão referiu-se ao fator que
motiva a adoção destas práticas.
4.1
Parte I – Dados da empresa/empresário
Neste item encontram-se informações que permitem conhecer dados da
empresa, bem como do empresário.
4.1.1 Tipo de Gestão das MPEs pesquisadas
Quanto ao tipo de gestão, cem por cento (100%) da amostra caracterizou-se
como empresa familiar.
Neste sentido, Bornholdt (2005, p.34) destaca que uma empresa é familiar
quando são identificados um ou mais dos seguintes fundamentos na organização:
a)
b)
c)
d)
o controle acionário pertence a uma família e/ou a seus herdeiros;
os laços familiares determinam a sucessão no poder;
os parentes se encontram em posições estratégicas na empresa;
as crenças e os valores da organização identificam-se com os da
família;
e) os atos dos membros da família repercutem na empresa, não
importando se nela atuam;
f) ausência de liberdade total ou parcial de vender suas
participações/quotas acumuladas ou herdadas na empresa.
A Figura 6 mostra a interação entre empresa e família, onde os três sistemas
- família, sociedade e empresa – resultam em uma questão de padrão nas relações
interpessoais.
43
Família e empresa
Empresa e família
Educação, formação,
Saúde, sabedoria e
discernimento
Sobrevivência da
empresa, continuidade e
transgeracionalidade
Desenvolvimento
familiar, crescimento
e capacidade de
investimento
Crescimento da empresa,
fortalecimento e reconhecimento
Estabilidade financeira,
segurança, futuro/retorno
Estabilidade da empresa,
solidez e lucratividade
Figura 6 – Interação entre empresa e família
Fonte: Adaptado de Bornholdt (2005)
A Figura 6 ilustra a interação entre a empresa e a família no sistema
empresarial-societário-familiar e as coincidências e diferenças entre as famílias e as
empresas.
4.1.2 Ramo de Atividade das MPEs pesquisadas
Quanto ao ramo de atividade, a amostra é formada por empresas dos vários
ramos de atividade: industriais, comerciais (varejista), bem como do setor de
serviços.
Segundo o SEBRAE, empresas industriais são aquelas que transformam
matéria-prima em produtos semi-elaborados ou produtos finais ou modificam suas
características, como é o caso de fábricas de móveis artesanais, roupas, esquadrias,
computadores e calçados. Já as empresas comerciais são aquelas que adquirem
produtos ou mercadorias para comercializá-las no mercado, podendo ser no atacado
ou varejo (no comércio varejista, do qual fazem parte algumas das empresas
44
pesquisadas, estão as mercearias, padarias, lojas de conveniência e comércio em
shopping centers) e no setor de serviços se dá a exploração de atividades que
envolvem a realização de trabalho e oferta de mão-de-obra (restaurantes,
lanchonetes, hotéis, cinemas, conserto de roupas, oficina de reparo de automóveis).
Para a realização da pesquisa, foram convidadas e aceitaram participar 18
empresas. Procurou-se reunir MPEs de diferentes ramos de atividade, conforme
relacionado abaixo:
a) Empresas industriais:
Confecção de roupas;
Confecção de uniformes esportivos
Indústria de esquadrias;
Manuseio de mármore e granitos
b) Empresas comerciais varejistas:
Comércio de couro e calçados;
Comércio de roupas e artigos esportivos;
Comércio de piscinas;
Comércio de combustíveis;
Revenda de caminhões;
Artesanato;
Açougue;
Agropecuária;
Mercearia;
Panificadora
c) Setor de Serviços:
Lanchonete;
Pet shop
45
4.1.3 Distribuição das MPEs pesquisadas por gênero
O Gráfico abaixo mostra a distribuição do comando das MPEs pesquisadas
quanto ao gênero.
44%
56%
Masculino
Feminino
Gráfico 1 – Distribuição dos empresários por gênero
Fonte: Dados primários
A distribuição dos empresários de micro e pequenas empresas quanto ao
gênero é de 56% de homens e 44% de mulheres. Este resultado chama a atenção
em alguns aspectos, principalmente na participação crescente da mulher à frente
dos negócios.
O dado apurado reflete pesquisa divulgada no início deste ano revelando
que as mulheres já compõem a maioria entre os empreendedores nacionais.
Segundo o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), apud Revista
Veja Especial Mulher, de junho de 2008, 52% dos negócios nacionais, sejam eles
recentes, estabelecidos ou informais, são comandados por mulheres. Em 2001
quando o IBPQ realizou a pesquisa pela primeira vez, esta participação era de 29%.
Outro aspecto relevante constatado pela pesquisadora é que a mulher é
mais atenta ao que ocorre tanto no ambiente interno quanto no ambiente externo da
empresa,
desde
a
preocupação
com
o
bem-estar
dos
funcionários
ao
relacionamento com seus parceiros (clientes, fornecedores) e também com o meio
ambiente.
46
4.1.4 Tempo de atividade das MPEs pesquisadas
O Gráfico 2 mostra o tempo de atuação das MPEs pesquisadas no mercado
de Itajaí.
40
35
30
25
20
15
10
5
0
até 5
anos
de 6 a
10 anos
de 11 a
15 anos
MASCULINO
de 16 a
20 anos
de 21 a
30 anos
FEMININO
de 31 a
40 anos
mais de
51 anos
TOTAL
Gráfico 2 – Distribuição das MPEs por tempo de atividade
Fonte: dados primários
O tempo de atividade das MPEs pesquisadas varia de 5 anos a 53 anos de
atividade no município de Itajaí, conforme mostra o Gráfico 2. Do total, 28% estão
estabelecidas no município entre 11 e 15 anos, seguidas de 22% de 6 a 10 anos e
17% de 16 a 20 anos. Até cinco anos e com mais de 51 anos o percentual é de 6%.
Classificando os empresários por gênero, percebe-se que MPEs que têm
mulheres proprietárias e/ou sócias representam 37,5% da amostra na faixa de 11 a
15 anos e de 25% para a faixa de 6 a 10 anos, enquanto que para o sexo masculino
é de 20%.
Para as mulheres, as faixas de até cinco anos, de 16 a 20 e de 31 a 40 anos
representam 12,5% e os homens ficam com 20% e 10% e com o tempo de atividade
superior a 51 anos, o sexo masculino representa 6%.
47
4.1.5 Distribuição dos empresários por grau de escolaridade
O Gráfico 3 ilustra a distribuição dos empresários pesquisados pelo grau de
escolaridade.
62,5
70
60
50
50
40
30
44
39
30
25
20
11
20
12,5
6
10
0
Fundamental
Médio
Superior
MASCULINO
FEMININO
Pósgraduação
TOTAL
Gráfico 3 – Distribuição da amostra pelo grau de escolaridade
Fonte: Dados primários
Quanto ao grau de escolaridade, o Gráfico 3 demonstra que 44% dos
empresários das MPEs possuem curso superior, 39% concluíram o ensino médio e
11% possuem o ensino fundamental, sendo que dois deles estudaram até a quarta
série desta etapa.
Os dados mais expressivos são encontrados quando o grau de escolaridade
é analisado segundo o gênero, onde 62,5% das mulheres possuem o curso superior
contra 30% dos homens. Porém, 12,5% das mulheres fizeram um curso de pósgraduação. Enquanto 20% dos empresários do sexo masculino concluíram o ensino
fundamental, as mulheres possuem, no mínimo, o ensino médio.
48
4.1.6 Distribuição dos empresários pela faixa etária
O Gráfico 4 ilustra a distribuição dos empresários pesquisados pela faixa
etária.
70
62,5
60
44
50
40
30
30
20
25
22
20
20
10
12,5
20
11
11
51-60 anos
61-70 anos
11
10
0
20-30 anos
31-40 anos
41-50 anos
MASCULINO
FEMININO
TOTAL
Gráfico 4 – Distribuição dos empresários pela faixa etária
Fonte: Dados primários
O gráfico acima mostra que do total dos empresários entrevistados, 44%
estão na faixa etária entre 41 e 50 anos de idade e que 22% estão entre 20 e 30
anos, enquanto que nas demais faixas (31-40, 51-60 e 61-70 anos) este percentual
é de 11%.
Quando a análise é efetuada considerando-se o gênero, na faixa de idade
de 41-50 anos, encontram-se 30% dos empresários do sexo masculino e 62,5% do
sexo feminino. De 20 a 30 anos os homens atingem 20% enquanto que as mulheres
perfazem 25% e de 31 a 40 anos, os percentuais são respectivamente 10% e 12,5%
para homens e mulheres. Já, se a faixa é de 51-60 anos e 61-70 anos, o percentual
de homens é de 20% para cada faixa, enquanto que não são registradas mulheres
com estas idades.
49
4.2
Parte II – Práticas de Responsabilidade Social Empresarial
A parte II do questionário foi composta por perguntas abertas, em número de
nove, sendo que os temas Valores e transparência e Clientes e consumidores foram
compostos por duas perguntas e os demais, por apenas uma.
4.2.1 Distribuição quanto à aplicação da RSE
A análise do gráfico permite algumas reflexões importantes sobre o
posicionamento das MPEs acerca de práticas socialmente responsáveis.
O total da amostra (100%) foi caracterizado como socialmente responsável
mostrando adotar práticas de responsabilidade social empresarial. Isto se explica
pelo fato dos empresários terem respondido afirmativamente a pelo menos uma das
questões do questionário, advindas de qualquer um dos sete temas//indicadores
Ethos-Sebrae, bem como, saber justificar sua resposta de acordo com a pergunta
formulada.
No entanto, houve a necessidade de filtragem de algumas respostas
afirmativas, adotando-se critérios em função da percepção da pesquisadora em
relação aos comentários informais dos entrevistados como é explicado no quadro
abaixo.
Resposta
obtida
Resposta
considerada
A
Explicou adequadamente como o indicador é
aplicado
SIM
SIM
B
Quando não soube ou não quis justificar a
resposta
SIM
NÃO
C
A ação praticada é imposta pela legislação vigente
SIM
NÃO
D
Na questão referente ao indicador que diz respeito
ao público interno, a ação praticada é dirigida
somente aos familiares (filhos, noras, netos)
SIM
NÃO
Quadro 5 – Critérios adotados para filtragem de respostas
Fonte: Adaptado de Bernardes (2006)
50
No item B do Quadro 5, o empresário respondeu afirmativamente a
pergunta, porém não soube justificar sua resposta, demonstrando desconhecer
sobre o que poderia ser feito sobre a questão apresentada.
O item C refere-se ao fato de a MPE cumprir apenas o que dispõe a
legislação vigente. Também neste caso, quando tem como fornecedores grandes
empresas nacionais ou multinacionais com atividades, sobre as quais incidem
rigorosas leis, que repassam e cobram o cumprimento de seus clientes.
Quanto ao item D, foi constatado que em MPEs onde familiares (filhos,
netos, noras) fazem parte do quadro funcional, devidamente registrados de acordo
com a legislação trabalhista, recebem, além dos benefícios legais, bolsas de estudo,
planos de saúde, tratamentos odontológicos e cursos de aperfeiçoamento como
inglês. Os demais funcionários não têm os mesmos benefícios. Neste caso, a
resposta obtida foi SIM, porém foi considerada como NÃO.
O Gráfico 5 mostra a participação das
responsabilidade social empresarial.
MPEs nas práticas de
51
FORNECEDORES 33%
GOVERNO E SOCIEDADE 50%
VALORES E TRANSPARÊNCIA 89%
MEIO AMBIENTE 89%
COMUNIDADE 100%
CONSUMIDORES
E CLIENTES 100%
PÚBLICO INTERNO
78%
Gráfico 5 – Distribuição quanto à aplicação da RSE
Fonte: Dados primários
O gráfico 5 mostra, em cada um dos Indicadores Ethos-Sebrae, o
comportamento dos empresários. A análise do que é mostrado neste gráfico será
feita a partir de cada tema, de acordo com as respostas dos empresários.
Indicadores de desempenho referentes aos Valores e Transparência
Este tema aborda sobre os valores e princípios éticos que orientam a missão
social da organização. A empresa deve ter um instrumento de realização da visão e
missão da empresa como um código de ética ou de compromisso social.
A formalização destes compromissos é importante para que a empresa
possa se comunicar de forma consistente com todos os seus parceiros. A publicação
ETHOS/SEBRAE recomenda que os valores e princípios sejam explicados aos seus
52
funcionários e clientes, de preferência por escrito e expostos em lugar visível da
empresa.
A pesquisa mostrou que a totalidade das MPEs que adota esta prática
(Diretriz 1) não possui descritos formalmente sua missão, visão, valores e princípios,
porém 89% dos entrevistados desenvolvem o hábito de discutir estes valores,
principalmente com seus funcionários, em reuniões periódicas e dizem passar a
existência de tais valores para seus parceiros. Por outro lado, 11% afirmam ter seus
próprios valores, porém não repassa para seus funcionários.
Neste sentido, Bornholdt (2005) ressalta que “algumas empresas possuem
valores, muitas vezes não explicitados, mas usados ao longo de sua história”. Cita
ainda que “outras empresas definem alguns valores, explicitando-os por serem
praticados”. Estes valores, no entanto, são constantemente enfatizados, repetidos e
cobrados, como “respeito ao cliente, qualidade, produtividade, clima, inovação e
organização”.
Indicadores de desempenho referentes ao Público Interno
Para o Ethos-Sebrae, esta diretriz refere-se ao respeito ao indivíduo, mas,
principalmente, que a empresa não se limite a respeitar apenas os direitos dos
trabalhadores que estão consolidados na legislação trabalhista. Deve estender-se
também ao desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados,
respeitando as culturas, a diversidade oferecendo oportunidades iguais às pessoas.
Assim, a pesquisa revelou que 78% dos empresários de MPEs da amostra,
de alguma forma, procuram manter bom relacionamento com seus funcionários,
oferecendo benefícios além dos que exige a legislação trabalhista vigente. Dentre
estes benefícios, podem ser citados prêmios motivacionais, cursos, tanto para
auxiliar
no
desenvolvimento
profissional,
como
também,
cursos
para
o
desenvolvimento pessoal. Quanto à saúde e bem-estar auxiliam com plano de saúde
(11%); preocupação com trabalhos em locais insalubres, promovendo o rodízio de
pessoas na função. Demais benefícios citados são: cestas básicas, auxílio
transporte, auxílio alimentação, 14º salário.
Indicadores de desempenho referentes ao Meio Ambiente
Neste tema é tratado o compromisso com a melhoria da qualidade ambiental
e a educação e conscientização ambiental. Isto diz respeito à observação desde
53
produtos utilizados no dia-a-dia no escritório, como papel, embalagens, lápis e
outros materiais utilizados até a consciência do consumo de energia elétrica, água e
insumos necessários para a realização das atividades da empresa.
A pesquisa mostrou que 89% da amostra pesquisada demonstram ter
práticas relacionadas à melhoria do meio ambiente. As práticas utilizadas são:
a) coleta seletiva do lixo;
b) utilização de material para escritório reciclado.
c) reciclagem do resíduo gerado pela atividade da empresa, como é o caso de óleo
vegetal utilizado em restaurante que é recolhido por empresa especializada em
reciclagem deste material, assim como no posto de combustíveis, onde o óleo
residual dos veículos também é recolhido por outra empresa.
d) poço artesiano com o objetivo da utilização da água para conservação e limpeza.
e) cisterna para captação de água da chuva (instalado em duas empresas de
diferentes ramos de atividade)
f) digitalização de documentos para evitar impressão.
Ainda em relação às ações dos empresários consultados, em uma das
empresas, a proprietária já tem o projeto para a perfuração de poços de
monitoramento do lençol freático, sendo que a execução se dará nos próximos
meses. Segundo a empresária, a legislação não impõe tal medida, mas é uma
obrigação que tem para com a comunidade.
Indicadores de desempenho relacionados aos Fornecedores
Indicam o envolvimento do empresário com seus fornecedores e parceiros,
no cumprimento de contratos, transmissão do código de conduta. A empresa deve
selecionar
e
avaliar
seus
fornecedores
utilizando
critérios
voltados
à
responsabilidade social.
Sobre este tema, a pesquisa mostrou que 33% dos entrevistados afirmaram
só contratar ou estabelecer parcerias com empresas e fornecedores que respeitam
as leis ambientais e trabalhistas. Já 11% dos consultados disseram não seguir estes
princípios, enquanto que 56% afirmaram não ter conhecimento sobre a forma com
que seus fornecedores administram seus negócios, pois são os fornecedores
autônomos ou empresas de grande porte e até mesmo multinacionais.
54
Indicadores de desempenho relacionados aos Consumidores e Clientes
Neste tema, a responsabilidade social empresarial faz referência ao
desenvolvimento ou comercialização de produtos e serviços confiáveis, que não
causem danos à saúde e segurança do consumidor. Ainda, deve a empresa, adotar
uma política de comunicação que não engane o consumidor quanto aos atributos de
seu produto e que informe corretamente os riscos de uso.
Nesta questão, a totalidade da amostra (100%) afirmou adotar regras de
qualidade e segurança para os produtos oferecidos. Quando o produto oferecido é
fornecido por grandes organizações, esta publicidade já é realizada por elas, mas o
empresário da MPE garante toda a assistência e o contato com o fornecedor na
defesa do consumidor.
Quanto a possuir um canal de comunicação com o cliente, pelo porte, não é
possível, por exemplo, manter um serviço de atendimento ao consumidor. Desta
forma, dependendo do produto ou serviço oferecido, o próprio empresário
estabelece contato com seu cliente, fazendo um trabalho de pós-venda. A
comunicação com o cliente, muitas vezes se dá por telefone, e-mail, Orkut e mesmo
a utilização do MSN, seja para informar sobre novos produtos, promoções, horário
de atendimento. Da mesma forma o cliente poderá fazer suas observações
utilizando-se dos mesmos meios.
Indicadores de desempenho relacionados ao tema Comunidade
Para o Ethos-Sebrae, este tema está relacionado à contrapartida que a
empresa deve oferecer à comunidade onde está inserida. Deve a empresa respeitar
as normas e costumes locais, investir em ações que tragam benefícios para esta
comunidade e ter uma interação com grupos locais a fim de solucionarem problemas
comunitários.
A pergunta feita aos empresários foi se a empresa participa ativamente da
comunidade por meio de apoio a instituições ou projetos comunitários; se participa
de reuniões com lideranças locais, se apóia eventos comunitários ou se contrata
preferencialmente produtos, serviços e mão-de-obra local. A totalidade da amostra
(100%) afirmou participar da comunidade. As formas de participação citadas foram:
a) auxílio a instituições de caridade;
b) participação ativa em órgão de apoio aos empresários, com envolvimento em
decisões de melhorias para a comunidade;
55
c) participação em associações que incentivam esportes em comunidades carentes,
atuando como instrutores;
d) trabalhos com menores aprendizes em diversas profissões;
e) atuação em creches e igrejas;
f) participação em ONGs;
g) atuação em associação de moradores.
Indicadores de desempenho relacionados ao tema Governo e
Sociedade
Segundo os Indicadores Ethos-Sebrae para Micro e Pequenas Empresas,
este tema diz respeito à construção da cidadania pelas empresas, assumindo estas,
o papel de formadora de cidadãos. Fazem parte deste tema a transparência política,
práticas anticorrupção e propina. Cabe ainda à empresa participar de associações,
sindicatos, fóruns empresariais para que as propostas de melhoria de espaços
públicos sejam feitas em conjunto.
Em resposta à questão formulada se a empresa ajuda a promover o bem
comum por meio de posicionamento político claro e por meio de participação de
fóruns decisórios locais, o resultado da pesquisa foi de 50% para respostas
afirmativas e 50% para respostas negativas.
As justificativas dos empresários que responderam afirmativamente à
questão são de que procuram orientar seus funcionários em épocas de eleição e
que permitem a discussão sobre o assunto em local de trabalho. Para os que
responderam que não, justificaram que não querem envolvimento com política.
Percebe-se neste ponto, a confusão que é feita entre posicionamento político claro,
de esclarecimento aos funcionários da importância do voto e que este ato faz parte
da cidadania e a política partidária.
4.3
Parte III - Problemas/dificuldades para a adoção da prática de
RSE
Nesta parte, são apresentados os problemas ou as dificuldades encontradas
pelos
empresários
pesquisados
para
a
adoção
de
práticas
responsáveis, bem como o que os motiva a adotarem estas práticas.
socialmente
56
4.3.1 Problemas encontrados para a adoção da RSE
No Gráfico 6, encontram-se relacionados os problemas encontrados pelos
empresários pesquisados para a adoção de práticas de responsabilidade social
empresarial.
familiar/pessoal
recursos
humanos
recursos
financeiros
não tem
dificuldades
outros
não sabe/não
respondeu
0%
10%
20%
30%
40%
Gráfico 6 – Problemas encontrados para implementação da RSE
Fonte: Dados primários
Neste item os empresários puderam responder, utilizando-se de mais de
uma alternativa, sobre os problemas enfrentados para a aplicação de práticas
referentes à responsabilidade social empresarial em suas empresas. Foram
utilizadas as categorias familiar/pessoal, recursos humanos, recursos financeiros,
não tem dificuldades, outros, e não sabe/não respondeu.
Pela análise do Gráfico 6, o fator mais expressivo (33%) das alegações
apresentadas pelos empresários pesquisados que dificulta ou mesmo impede uma
57
tomada de decisão quanto à prática da RSE está diretamente ligado aos recursos
financeiros, seja para aplicação na estrutura física do empreendimento ou em um
meio de comunicação mais direto com seu consumidor ou ainda na contratação de
pessoal mais qualificado ou com nível de escolaridade mais alto.
O fator recursos humanos é outra dificuldade apontada pelos empresários
está relacionada (28% das alegações). A justificativa é o número insuficiente de
pessoas ou a pouca qualificação e falta de interesse destes para com qualquer
atividade adicional e na dificuldade de conscientização do grupo.
A dificuldade no nível familiar/pessoal (17% das indicações) diz respeito,
principalmente, a gestão da empresa. A maior dificuldade dos filhos que atuam nas
MPEs é fazer com que o fundador (pai) aceite mudanças. Nesta situação, para evitar
conflitos, mesmo que estejam à frente do negócio, os filhos cedem, deixando de
adotar medidas que consideram necessárias para a melhoria do empreendimento.
Isto é explicado por Bornholdt (2005, p.161), “a preservação da ideologia garante a
continuidade de um legado, a preservação de uma dinastia e a perpetuidade de uma
estrutura familiar e empresarial”. Complementa alegando que os produtos vêm e
vão, assim como os negócios, porém, a família permanece. Porém, à medida que os
herdeiros ficam adultos e constituem novas famílias, surgem novas expectativas e
necessidades. Novos valores surgem. Alguns deles distantes em relação à cultura
inicial dos empreendedores.
Nas demais categorias, 22% dos pesquisados alegaram não ter dificuldades
para a implementação de práticas de RSE e 17% não souberam ou não
responderam.
Em Outros (28%) de indicações, as justificativas apontadas foram falta de
tempo do empresário; falta de conhecimento sobre o assunto; falta de acesso à
informações que os permita adotar práticas socialmente responsáveis; e ainda um
empresário, por fazer parte de um centro comercial, não lhe é permitido, por
exemplo, separar o lixo para reciclagem. Mostrou-se indignado, mesmo porque não
existem recipientes separados para a coleta do lixo, ou seja, qualquer que seja a sua
natureza, o depósito é um só.
58
4.3.2 O que motiva a adoção da RSE
O Gráfico 7 mostra, segundo a pesquisa, o que motiva o empresário a
praticar ações de responsabilidade social.
ética pessoal
satisfaçao do empresário
imagem da empresa
relaçao comunidade
relaçao funcionários
relação clientes
não sabe/não respondeu
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Gráfico 7 – Motivos para a adoção da RSE
Fonte: Dados primários
O Gráfico 7 mostra as motivações que levam os empresários pesquisados a
praticarem ações de RSE de acordo com seu grau de preferência. Cada empresário
relacionou mais de uma resposta.
Na análise do gráfico acima, observou-se que as motivações para o
empresário da MPE investir em ações socialmente responsáveis são diversas: ética
pessoal, satisfação individual, melhoria na imagem da empresa, melhoria na relação
com a comunidade, melhoria na relação com os funcionários, melhoria na relação
com os clientes.
No entanto, a busca da satisfação pessoal (56%) merece destaque como um
dos principais fatores que motivam o empresário a investir em ações sociais. Isto é
explicado por Melo Neto (2004, p.167), como “tal fato reforça a idéia da
59
predominância do modelo assistencialista, do tipo mecenato, em gestão social das
empresas brasileiras”.
A ética pessoal recebeu 56% de indicações como fator motivador para a
adoção de práticas socialmente responsáveis pelas MPEs pesquisadas. Segundo
Bornholdt, “cada pessoa, em sua individualidade, possui crenças e valores pessoais
diferentes”. Inseridas num grupo, estes valores permanecem, no entanto surgindo
novos valores com os quais há uma identificação.
O terceiro fator mais apontado é melhorar a imagem da empresa com um
grau de preferência de 28%. Em função da relação com a comunidade e com os
clientes, este grau é de 22%. Igualmente na melhoria no relacionamento com os
funcionários (22%), comentam resultar em um maior envolvimento do empregado
com a empresa. E, 11% dos empresários que não souberam ou não responderam.
4.3.3 Sugestões
A pesquisa realizada junto às micro e pequenas empresas de Itajaí permitiu
conhecer as empresas que, segundo os critérios Ethos-Sebrae, aplicam a
responsabilidade social empresarial.
No entanto, muitos destes empresários afirmaram que gostariam de
incorporar ou aplicar a RSE em suas empresas, porém desconhecem quais as
ações poderiam ser adotadas, as razões e benefícios para seu negócio e seus
stakeholders. A reclamação principal foi a falta de informações sobre o assunto e
onde encontrá-las.
A UNI JÚNIOR é uma empresa que busca o desenvolvimento pessoal e
profissional dos alunos do CECIESA GESTÃO, da Univali, assim como participa da
comunidade empresarial representada pela Associação Comercial e Industrial de
Itajaí, Intersindical e CDL e da comunidade em geral, onde presta seus serviços de
consultoria empresarial.
Assim, as sugestões oferecidas a UNI JÚNIOR são:
Responsabilidade Social Empresarial
Quando da prestação de serviços de consultoria às empresas que a
procuram, seja para implantação de um negócio, diagnóstico empresarial ou em
ações de melhoria, a UNI JÚNIOR poderá também incluir o item Responsabilidade
60
Social Empresarial, utilizando como parâmetros os Indicadores Ethos-Sebrae de
Responsabilidade Social Empresarial, destinados a promover atitudes que reforcem
a consciência e a prática de cidadania dentro e fora da empresa, tendo, além dos
objetivos econômicos, objetivos sociais e ambientais, indispensáveis para o
desenvolvimento de uma sociedade sustentável.
Quanto a RSE, as empresas tomarão conhecimento das ações socialmente
responsáveis que poderão adotar a fim de melhorar seu desempenho, assim como
os benefícios gerados. Muitas destas ações poderão ser implantadas de acordo com
o desenvolvimento organizacional.
Valores e Transparência
O exercício da RSE quanto ao tema Valores e Transparência fundamenta-se
em uma filosofia empresarial, onde são especificados missão, visão, valores e
princípios que deverão ser definidos e divulgados aos seus stakeholders, norteando
a vida da empresa.
Os benefícios advindos desta prática de RSE resultam na melhoria da
qualidade, diferenciando os serviços da empresa socialmente responsável das
demais, ocasionando aumento da produtividade e competitividade.
As ações de gestão de responsabilidade social empresarial baseadas em
valores e transparências são representadas na figura abaixo.
Figura 7 – Ações de gestão de RSE – Valores e Princípios
Fonte: Melo Neto (2004, p.194)
61
Público Interno
Sobre este item, a empresa toma conhecimento que além de cumprir as
obrigações determinadas por lei, deve preocupar-se também em oferecer aos seus
funcionários: um ambiente físico agradável e seguro (saúde, segurança e condições
de trabalho); não permitir qualquer tipo de discriminação quanto ao gênero, raça,
idade, crenças religiosas, orientação sexual e deficiência física; valorizar e incentivar
o desenvolvimento profissional; incentivar o envolvimento de seus empregados na
solução de problemas da empresa.
As ações de gestão de RSE baseadas no público interno estão
representadas na Figura 8.
Figura 8 – Ações de gestão de RSE – Público interno
Fonte: Melo Neto (2004, p.194)
62
Meio Ambiente
A empresa deve ter o compromisso com a melhoria da qualidade ambiental
e à educação e conscientização ambiental. As ações previstas são: coleta seletiva
de lixo; redução do consumo de papel, energia e água; favorecimento aos
fornecedores que utilizam práticas de preservação ambiental; cuidados nas saídas
do processo produtivo como mercadorias, embalagens e os materiais não utilizados
(podem poluir ar, água e solo).
A figura 9 mostra as ações referentes ao meio ambiente.
Figura 9 – Ações de gestão de RSE – Meio Ambiente
Fonte: Melo Neto (2004, p.194)
63
Fornecedores
No relacionamento com os fornecedores, a empresa deve adotar critérios de
seleção, avaliação e parceria – fazer acompanhamento e avaliação dos princípios e
valores por eles adotados, exigindo padrões de conduta nas relações com os
empregados e com o meio ambiente. Deve também apoiar fornecedores oriundos da
economia social e popular. Estas ações estão definidas na figura 10.
Figura 10 – Ações de gestão de RSE – Fornecedores
Fonte: Melo Neto (2004, p.194)
Consumidores e Clientes
Segundo os Indicadores Ethos-Sebrae, o item Consumidores e Clientes
compreende as seguintes ações: comunicação com os clientes (informações úteis,
canal aberto para reclamações, elogios e sugestões, instruções e avisos úteis na
embalagem do produto, informando corretamente os riscos potenciais; identificação
e solução de problemas levantados pelos clientes estipulando metas e prazos para
64
solucionar os problemas; esclarecimento às dúvidas dos clientes; combate às
práticas de manipulação publicitária e de propaganda enganosa; e prevenção e
preservação da saúde dos clientes. A figura 11 mostra as práticas de RSE referentes
aos consumidores/clientes.
Figura 11 – Ações de gestão de RSE – Consumidores e Clientes
Fonte: Melo Neto (2004, p.194)
Comunidade
Estando a empresa inserida na comunidade, deve respeitar as normas e
costumes locais, gerenciando o relacionamento, consciente de que deve evitar ou
minimizar impactos negativos que suas atividades possam causar; adotar práticas
de gestão que beneficiem o desenvolvimento local - priorizando os empreendedores
locais e contratando empregados que residam nas proximidades; incentivar o
trabalho voluntário de seus empregados na comunidade; procurar beneficiar e apoiar
entidades locais.
Estas ações são descritas na figura 12.
65
Figura 12 – Ações de gestão de RSE – Comunidade
Fonte: Melo Neto (2004, p.194)
Governo e Sociedade
Aqui a empresa toma consciência da importância de sua participação em
associações, sindicatos e fóruns empresariais, impulsionando a elaboração conjunta
de propostas de interesse público e caráter social. Também é socialmente
responsável quando pratica ações de conscientização cívica como: incentivo ao voto
consciente e à prática da cidadania; incentivo aos funcionários para uma
participação mais efetiva na vida social e política da comunidade e do país;
colaboração na melhoria dos espaços públicos da região (escolas, praças, áreas
verdes, postos de saúde e outros). Estas ações são representadas na figura 13.
66
Participação:
organizações
empresariais
Melhoria do
patrimônio
público
Ações de apoio
ao governo e à
sociedade
Construção da
cidadania
Promoção da
cidadania entre
seus
funcionários
Figura 13 – Ações de gestão de RSE – Governo e Sociedade
Fonte: Melo Neto (2004, p.194)
Cursos dirigidos às MPEs
A UNI JÚNIOR poderá promover cursos dirigidos às MPEs, buscando o
apoio de organizações como a Associação Comercial e Industrial e Itajaí,
Intersindical e CDL entre outras, para a disseminação da responsabilidade social
empresarial, baseando-se nos Indicadores Ethos-Sebrae, uma vez que estes
sugerem parâmetros de políticas e ações para que as MPEs possam ter um
comprometimento maior com a RSE, permitindo maior integração da empresa com a
comunidade.
67
5
CONSIDERAÇOES FINAIS
A proposta deste trabalho foi conhecer o comportamento dos empresários de
micro e pequenas empresas de Itajaí sobre a aplicação de ações de RSE que levam
as MPEs a serem consideradas socialmente responsáveis, seus problemas e
dificuldades para implementação destas ações, bem como, o que os motiva a
adotarem tais práticas.
Os objetivos propostos foram alcançados, com a descrição das ações de
RSE praticadas nas MPEs de Itajaí, bem como os objetivos específicos – buscando
atender ao objetivo maior onde foram descritos os Indicadores Ethos-Sebrae, foram
identificados o perfil dos empresários das MPEs que aceitaram participar da
pesquisa, assim como também foram identificados os problemas e dificuldades
enfrentados pelos empresários para a prática da RSE. Ainda foram relacionadas as
razões que levam estes empresários a adotar e atuar com responsabilidade social.
Quanto ao problema de pesquisa, fica claro que as MPEs de Itajaí praticam
ações de RSE, em maior ou menor grau e que os fatores que influenciam nesta
tomada de decisão são de ordem pessoal, ética, melhoria da imagem institucional.
No que diz respeito aos aspectos metodológicos, a aplicação de questionário
junto aos proprietários/gestores das MPEs, com nove perguntas diretas permitiu um
bom retorno já que a acadêmica percebia o entendimento dos empresários às
questões pelas justificativas apresentadas. O único entrave se deu pela demora na
aplicação, no sentido de encontrar o empresário, mesmo agendando data e horário.
Para o desenvolvimento da pesquisa, no que se refere à fundamentação
teórica, existe farto material sobre o assunto seja em livros, sites na Internet
(nacionais e internacionais), artigos, assim como vários trabalhos que exploram o
tema, mesmo que sob diferentes enfoques.
Os resultados surpreenderam e ao mesmo tempo é relevante enfatizar que o
diagnóstico obtido dessa amostra de micros e pequenas empresas pode ser
generalizado para as demais MPEs brasileiras, pois confirmam pesquisas já
realizadas
em
municípios
de
outros
estados,
muitas
delas
de
cunho
predominantemente quantitativo. Comprovou-se, a exemplo de outros trabalhos, que
a atuação da mulher frente aos negócios vem crescendo rapidamente e também em
relação ao grau de escolaridade, superior ao dos homens. Outro aspecto relevante é
68
que nesta pesquisa nenhuma MPE tenha formalmente definidos seus valores e
princípios e o mesmo resultado é constatado em outras pesquisas no Brasil. Ficou
claro que a gestão da MPE é intuitiva onde ficaram demonstradas as principais
deficiências das empresas quanto ao conhecimento de questões importantes, como
é o caso da responsabilidade social empresarial.
A finalidade do trabalho foi fornecer a UNI JÚNIOR subsídios para promover
cursos dirigidos às MPEs, buscando apoio da ACII, CDL, Intersindical, entre outros.
Mas, principalmente levar às empresas as quais presta consultoria, seja na
implantação do negócio, no diagnóstico empresarial ou em ações de melhoria, a
disseminação da RSE, possibilitando que os empresários atuais e os que pensam
em abrir um negócio tenham conhecimento e possam adotar ações que levam a
uma sociedade sustentável.
69
6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Magda. Como escrever teses e monografias. Rio de Janeiro: Campus,
2003.
BARBETTA, Pedro Alberto, Estatística
Florianópolis: Ed. da UFSC, 1999.
Aplicada
às
Ciências
Sociais.
BERNARDES, Bruno Q.T. Responsabilidade Socioambiental das Micro e
Pequenas Empresas do DF. Dissertação de Mestrado. Brasília, DF, 2006
BORNHOLDT, Werner. Governança na empresa familiar: implementação e
prática. Porto Alegre: Bookman, 2005.
CERTO, Samuel C. Administração Moderna. 9a ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003.
ETHOS; SEBRAE (2003). Responsabilidade Social Empresarial para Micro e
Pequenas Empresas: passo a passo. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae), 2003. Disponível em: www.sebrae.com.br. Acesso
em: Nov./2007.
ETHOS; SEBRAE. Indicadores ethos-sebrae de responsabilidade social empresarial
para micro e pequenas empresas (Versao 2007). Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social, 2007. Disponível em: www.ethos.org.br. Acesso em:
Mar./2008.
GODOY, Arilda Schmidt. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades.
Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 35, n. 2, Mar./Abr.1995. p. 5763,
KINLAW, D C. Empresa competitiva e ecológica: estratégia e ferramentas para
uma dministração consciente, responsável e lucrativa. São Paulo: Makron Books,
1995.
KWASNICKA, Eunice Laçava. Introdução à administração. 5ª ed. São Paulo:
Atlas, 1995
MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. Porto
Alegre: Bookman, 2001.
MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Teoria Geral da Administração: da revolução
urbana à revolução digital. 3a ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MELLO NETO, Francisco Paulo de e FROES, César Gestão da Responsabilidade
social corporativa brasileira: o caso brasileiro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.
MELLO, C.H.P. et al. ISO 9001:2000: Sistema de gestão da qualidade para
operações de produção e serviços. São Paulo: Atlas, 2002.
70
MERRIAM, S. Qualitative research and case studay applications in education. 2ª ed.
San Francisco: Jossey-Bass, 1998.
MINAYO, Maria C.de Souza (org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade.
21.ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
MONTANA, Patrick J. Administração. São Paulo: Saraiva, 1998.
OLIVEIRA, D.P.R. Manual de consultoria empresarial: conceitos, metodologia,
práticas. São Paulo: Atlas, 1999.
RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas,
1999.
ROSEN, C. M. Environmental strategy and competitive advantage: an introduction.
California Management Review. Berkeley, Has School of Business. V.43, Spr.
2001.
SEBRAE. Critérios e conceitos para classificação de empresas. Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 2003. Disponível em:
http://www.sebrae.com.br/customizado/estudos-e-pesquisa/bia-97-criterios-econceitos-para-classificacao-de-empresas/BIA 97. Acesso em: 16/05/2008.
SILVA, Vinicius Lummertz. O papel do SEBRAE na consolidação progressiva do
modelo catarinense de desenvolvimento. In: VIEIRA, Paulo Freire (org.). A pequena
produção e o modelo catarinense de desenvolvimento. Florianópolis: APED, 2002.
SLACK, Nigel et al. Administração da Produção e Operações, São Paulo: Atlas,
2002.
TACHIZAWA, Takeshy, et al. Gestão de Negócios: visões e dimensões
empresariais da organização. São Paulo: Atlas, 2001.
TINOCO, J.E.P.; KRAEMER, M.E.P. Contabilidade e gestão ambiental. São Paulo:
Atlas, 2004.
VALLE, C. E. do. Como se preparar para as normas ISO 14000- Qualidade
ambiental. São Paulo: Pioneira, 1995.
VEJA. Competência não tem gênero. Revista Veja. São Paulo: Editora Abril,
Especial Mulher, ano 41, n. 2062, p. 30-37, maio./2008
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração.
4.ed. São Paulo: Atlas, 2003.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2.ed. Porto Alegre:
Bookman, 2001.
71
APÊNDICE I: QUESTIONÁRIO
A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NAS MICRO E
PEQUENAS EMPRESAS
72
PESQUISA
A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NAS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS
O objetivo desta pesquisa é identificar a ação de empresários de micro e pequenas
empresas relacionadas a práticas de responsabilidade social empresarial (princípios
de ética e valorização dos funcionários, meio ambiente, clientes e da comunidade),
procurando entender suas características e dificuldades.
O resultado será um trabalho de conclusão do curso de graduação em
Administração da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. O estágio foi efetuado
na UNIJUNIOR.
As informações prestadas e os dados de sua empresa serão tratados de
maneira sigilosa.
PARTE I – Dados da empresa/empresário
Empresa:
Tempo
Atividade:
ano (s)
Nº funcionários
Diretos
Bairro:
Ramo de Atividade:
Endereço:
Tipo de gestão:
(
(
(
) familiar
) mista
) profissional
Função de informante:
Idade:
Formação escolar:
anos
Tempo
função:
Sexo: ( ) M
( ) F
( ) Fundamental
( ) Médio
( ) Superior
( ) Pós-graduação
ano(s)
73
Parte II – Práticas de responsabilidade social empresarial
1.
Valores e transparência
1
Os valores e princípios da empresa existem em documento
formal?
São de conhecimento de seus funcionários?
2
Estes valores estão disponíveis também para seus fornecedores,
clientes e comunidade?
SIM NÃO
NS/
NR
Comentários:_________________________________________________________
___________________________________________________________________
2.
3
Empregados
SIM NÃO
NS/
NR
Além de cumprir a legislação trabalhista a sua empresa faz algo a
mais pelos empregados?
Comentários:_________________________________________________________
___________________________________________________________________
3.
4
Meio ambiente
SIM NÃO
NS/
NR
A sua empresa ajuda a manter o meio ambiente saudável?
Comentários:_________________________________________________________
___________________________________________________________________
4.
5
Parceiros e Fornecedores
SIM NÃO
NS/
NR
A sua empresa só compra, contrata ou estabelece parcerias com
empresas e fornecedores que respeitam as leis ambientais e
trabalhistas?
Comentários:_________________________________________________________
___________________________________________________________________
74
5.
6
7
Clientes e consumidores
SIM NÃO
NS/
NR
A sua empresa adota alguma regra de qualidade e de segurança
para os produtos ou serviços oferecidos?
A sua empresa possui algum canal de comunicação com seus
consumidores/clientes?
Comentários:_________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6.
8
Comunidade
A sua empresa participa
apoio a instituições ou
reuniões com lideranças
contratação preferencial
local?
SIM NÃO
NS/
NR
ativamente da comunidade por meio de
projetos comunitários; participação em
locais; apoio a eventos comunitários ou
de produtos, serviços e mão-de-obra
Comentários:_________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7.
9
Governo e Sociedade
SIM NÃO
NS/
NR
A sua empresa ajuda a promover o bem comum por meio de
posicionamento político claro e por meio da participação de
fóruns decisórios locais?
Comentários:_________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
75
Parte III – Em caso de a empresa exercer alguma prática de responsabilidade
social empresarial:
10.
Problemas para a implementação da responsabilidade social empresarial na
empresa:
Familiar/pessoal
Recursos humanos
Recursos financeiros
Não tem dificuldades
Outros
Não sabe/não respondeu
Outros:_______________________________________________________
___________________________________________________________________
11.
O que motiva a adoção da responsabilidade social empresarial por parte do
empresário
Ética pessoal
Melhoria na imagem da empresa
Melhoria na relação com a comunidade
Melhoria na relação com os funcionários
Melhoria na relação com os clientes
Não sabe/não respondeu
Outros:_______________________________________________________
___________________________________________________________________
Download

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE ESTÁGIO