Mecanismos para promover a “confiabilidade” de cerâmicas: Limitada pela sua fragilidade (tendência a falhar catastroficamente pelo crescimento de uma trinca, que se origina de um pequeno defeito) 1. Aprender a conviver com a fragilidade (baixo KIC) Desenvolver meios para entender os micromecanismos de fratura, de maneira que a confiabilidade possa ser assegurada pelo desenvolvimento de análises e/ou métodos estatísticos para a avaliação de certos parâmetros, como resistência ou tempo de vida. Ex: Estatística de Weibull, fadiga estática 2. Identificar as origens das trincas e então desenvolver novos métodos de processamento pra eliminar esses defeitos Reduzir o tamanho da maior trinca; melhorar a população de trincas. Ex: fibras ópticas – são revestidas com um polímero – σ = 8 GPa Sem revestimento – redução da resistência de uma ordem de magnitude Cerâmica Al2O3-ZrO2 Produzida usando métodos de secagem de pó convencional - σ = 600 MPa (limitada por trincas formadas ao redor dos aglomerados). Eliminação dos aglomerados - σ = 1000 MPa Prensagem isostática - σ = 2000 MPa 3. Desenvolvimento de microestruturas cerâmicas com melhor resistência a fratura e, portanto tolerantes a defeitos. Importante para aplicações envolvendo ambiente “hostil”, o qual pode introduzir defeitos e então invalidar todos os esforços assegurados de confiabilidade feitos pela identificação e eliminação de defeitos pré-existentes. Desenvolvimento de microestrutura Cerâmicas tolerantes a trincas Resistência à propagação de trinca não é constante, mas aumenta quanto a trinca se propaga. Mecanismos de tenacificação 1.Refinamento de tamanho e forma de grãos. 2.Adição de uma segunda fase Mecanismos propostos para explicar a tenacificação: Deflexão de trincas • Microtrincamento • Tensões residuais Tenacificação por transformação Envolvem a dissipação de energia na ponta da trinca (aumentam a quantidade de energia necessária para a propagação da trinca no material) Adição de whiskers (fibras descontínuas) ou fibras 1970 – vidros reforçados com fibras de carbono 1980 – vidros e vitrocerâmicas reforçados com fibras de SiC A propagação da trinca é dificultada por: • Deflexão da trinca – ao encontrar uma fibra, a trinca sofre uma deflexão (muda de direção) • Formação de pontes no interior da fenda (“bridging zone”) – as fibras ou whiskers podem formar pontes que ligam as duas faces da trinca e ajudam o material a manter-se unido. • Quebra das fibras – o atrito devido ao fato das fibras ou whiskers terem sido rompidos ou arrancados da matriz absorve energia. • Indução de uma redistribuição das tensões em regiões adjacentes às pontas das trincas. Exigências para que as fibras possam ser incorporadas na matriz cerâmica: • Preço economicamente viável • As fibras devem ser mais resistentes e mais rígidas quando comparadas com a matriz • Fabricação adequada que não leve à degradação das propriedades da matriz ou dano às fibras • Compatibilidade química entre as fibras e a matriz durante a fabricação e durante o uso • Compatibilidade física entre a fibra e a matriz (coeficiente de expansão térmica) • Interface entre a fibra e a matriz que induza a um tipo de fratura fibrosa. Comportamento de fratura dos compósitos cerâmicos reforçados com fibras: Não ocorre de maneira catastrófica Uma grande fração da carga aplicada pode continuar a ser suportada pelas fibras, mesmo após a matriz ter sido fraturada. Curva tensão x deformação O trincamento da matriz pode definir a tensão limite para altas temperaturas em ambientes oxidantes, já que tanto fibras de carbono quanto fibras de SiC sofrem oxidação. É necessário ter uma ligação interfacial relativamente fraca entre a fibra e a matriz para que se tenha fratura não-catastrófica. Uma forte ligação interfacial causa fratura das fibras junto ao plano da trinca trabalho de Ex: e abaixa Al O oreforçada comfratura. whiskers de SiC. 2 3 SiC reforçado com fibras de Si3N4 -- Ceramic: Glass w/SiC fibers formed by glass slurry Eglass = 76 GPa; ESiC = 400 GPa. Force (a) fiber-reinf un-reinf Bend displacement (b) fracture surface From F.L. Matthews and R.L. Rawlings, Composite Materials; Engineering and Science, Reprint ed., CRC Press, Boca Raton, FL, 2000. (a) Fig. 4.22, p. 145 (photo by J. Davies); (b) Fig. 11.20, p. 349 (micrograph by H.S. Kim, P.S. Rodgers, and R.D. Rawlings). Used with permission of CRC Press, Boca Raton, FL. Tenacificação por transformação de fase ZrO2 – zircônia Transformação de fase da zircônia 1170oC 2370oC 2680oC Monoclínica ↔ tetragonal ↔ cúbica ↔ líquido Transformação T→ M (no resfriamento) – aumento de 3 a 5% em volume Provoca o trincamento das partículas individuais e impossibilita a fabricação de produzidos sinterizados de ZrO2. Adição de dopantes CaO, MgO, Y2O3, óxidos de terras raras – diminuem as temperaturas de transição. Estabilização total ou parcial da fase cúbica a temperatura ambiente, dependendo da concentração de dopantes. PSZ (zircônia parcialmente estabilizada) – mistura de zircônia cúbica e monoclínica (ou tetragonal) – quando a quantidade de dopante está presente numa concentração menor que a necessária para a completa estabilização. Quando a região de estabilidade termodinâmica não encontrase a temperatura ambiente, a fase cúbica pode ser retida após resfriamento com uma fase metaestável. A fase cúbica ZrO2-CaO e ZrO2-Y2O3 são tecnologicamente importantes para o uso em condutores iônicos de oxigênio. Gavie (1975) demonstrou a possibilidade de se utilizar a expansão t m da ZrO2 para melhorar a resistência à fratura e a tenacidade de certos materiais 1. ZrO2 + 9% MgO 2. Sinterização a 1800oC e resfriamento rápido (mantém a fase cúbica metaestável) 3. Reaquecimento a 1400oC durante algum tempo e resfriamento origina a precipitação da estrutura tetragonal (PSZ), mantendo-se neste estado metaestável à temperatura ambiente Microestrutura contém precipitados finos na forma de lâminas de zircônia tetragonal metaestável. Zircônia parcialmente estabilizada com MgO Microestrutura contém precipitados finos na forma de lâminas de zircônia tetragonal metaestável. ZrO2 tetragonal – finamente dispersa através da pressão exercida pela matriz ↓ Controle do tamanho de partícula e da tensão de compressão a que está submetida a partícula ↓ Partículas abaixo de um tamanho crítico podem ser retidas na fase tetragonal a temperatura ambiente, enquanto partículas grandes transformam espontaneamente apesar da compressão. PSZ – KIC = 8 MPa.m1/2 σ = 0,6 a 1 GPa Há dois mecanismos principais associados com a melhoria da tencificação: • Microtrincamento • Transformação induzida por tensão Transformação induzida por tensão • Se uma trinca se propaga sob uma tensão externa, altos níveis de tensões de tração são gerados ao redor da ponta da trinca. Essas tensões aliviam a pressão da matriz sobre as partículas de ZrO2-t, que se transformam em ZrO2-m, com uma deformação compressiva sendo induzida na matriz. • Absorção de energia para transformação •Absorção de energia adicional vem também do campo de tensão local criado pelas partículas transformadas que causam a deflexão da trinca. Microtrincamento Incorporação de ZrO2-t numa matriz cerâmica (ZrO2-c; Al2O3; mulita; Si3N4). Durante o resfriamento – expansão volumétrica causa pequenas trincas radiais na matriz → microtrincas ↓ Podem desviar uma trinca crítica que se propaga quando o corpo cerâmico é submetido a uma carga, dissipando a energia da trinca Condições ideais para partículas de ZrO2-t 1.Partículas suficientemente grandes para transformar ZrO2-t→ ZrO2m, mas suficientemente pequenas para causar um trincamento limitado. 2.Otimização da fração volumétrica de ZrO2-t, até o ponto em que as microtrincas geradas pela transformação comecem a interagir. Por que utilizar matriz de alumina? • Al2O3 e ZrO2 não formam compostos • Al2O3 possui E muito alto e capaz de manter a ZrO2 na fase tetragonal. Ex: Aplicações comerciais PSZ – resistência a fratura ~1300 Mpa e boa tenacidade (KIC~9 Pa.m1/2) Guias-fio Boquilhas de extrusão Al2O3-ZrO2 Ferramentas de corte Tesouras e facas (Japão) Válvulas gaveta e outras peças para fundição contínua (alta resistência a corrosão e choque térmico) Trincas superficiais • São as mais críticas e perigosas • Desenvolvimento de tensões superficiais compressivas Técnicas para introduzir tensões superficiais: Têmpera térmica (vidro) Vidrados Têmpera química (troca iônica superficial) Formação de camadas superficiais por reações de transformação de fase com aumento de volume CERMETOS (Compósitos cerâmica-metal) Fase contínua de metal rodeando os grãos de cerâmica Ex: ferramenta de corte (WC-Co) Estruturas duplex com grãos alongados com coeficientes de dilatação térmica diferentes: • fases diferentes • cristais com anisotropia termomecânica Causam deflexão de trincas e ramificação Introdução de heterogeneidades estruturais Introdução de partículas de aglomerados numa matriz tendem a aumentar a tenacidade da cerâmica (por exemplo: cristais de mulita numa matriz de alumina e vice-versa)