1 MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DECEx - DESMil - DEPA ESCOLA DE FORMAÇÃO COMPLEMENTAR DO EXÉRCITO E COLÉGIO MILITAR DE SALVADOR 1º Ten Al ROBERTO CARLOS DE QUEIROZ TORRES EDUCAÇÃO E MÍDIA: A DESCONSTRUÇÃO DE CONCEITOS DE QUÍMICA Salvador 2011 2 MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DECEx - DESMil - DEPA ESCOLA DE FORMAÇÃO COMPLEMENTAR DO EXÉRCITO E COLÉGIO MILITAR DE SALVADOR 1º Ten Al ROBERTO CARLOS DE QUEIROZ TORRES EDUCAÇÃO E MÍDIA: A DESCONSTRUÇÃO DE CONCEITOS DE QUÍMICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Avaliação de Trabalhos Científicos da Divisão de Ensino da Escola de Formação Complementar do Exército, como exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em Aplicações Complementares às Ciências Militares. Orientador: Maj Selma Iara Co Orientador: Cap Tupolevck Salvador 2011 MINISTÉRIO DA DEFESA 3 EXÉRCITO BRASILEIRO DECEx - DESMil - DEPA ESCOLA DE FORMAÇÃO COMPLEMENTAR DO EXÉRCITO E COLÉGIO MILITAR DE SALVADOR 1º Ten Al ROBERTO CARLOS DE QUEIROZ TORRES EDUCAÇÃO E MÍDIA: A DESCONSTRUÇÃO DE CONCEITOS DE QUÍMICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Avaliação de Trabalhos Científicos da Divisão de Ensino da Escola de Formação Complementar do Exército, como exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em Aplicações Complementares às Ciências Militares. Aprovado em: ______ / ________________ /2011. SELMA IARA GOMES LOPES TAVARES-Major NOME– Posto – Presidente Escola de Formação Complementar do Exército TUPOLEVCK FLORÊNCIO-Cap NOME– Posto – 1º Membro Escola de Formação Complementar do Exército LUIZ FERNANDO SOUZA DA FONTE-Cap NOME– Posto – 2º Membro Escola de Formação Complementar do Exército EDUCAÇÃO E MÍDIA: A DESCONSTRUÇÃO DE CONCEITOS DE QUÍMICA 4 1º Tem Al Roberto Carlos de Queiroz Torres1 Resumo: Inegavelmente, a mídia exerce uma forte influência na vida cotidiana das pessoas, as quais tomam grande parte do que é veiculado por ela como “verdade absoluta”. Isto ocorre, dentre outros motivos, pela própria forma como é propagada a informação, ou seja, a forte exploração de recursos imagéticos e o uso da linguagem persuasiva. Neste sentido, este projeto visa analisar o uso de propagandas e de comerciais presentes nos meios midiáticos, que utilizam inadequadamente alguns conceitos científicos da Química, objetivando validar produtos que promoveriam o bem estar do cliente. Neste enfoque, procurou-se buscar com este trabalho alternativas que possibilitassem averiguar o quão a propaganda, enquanto gênero textual persuasivo, influência na formação ou na desinformação de um conceito já pré-concebido pelos alunos. Para tanto, realizou-se uma atividade no Colégio Militar de Salvador (CMS), com alunos do 1º e do 3º ano do Ensino Médio, para os quais foram apresentados um texto e um vídeo publicitário sobre desodorante. Em seguida, aplicou-se um questionário no qual se verificou, a partir da análise dos seus resultados, o entendimento que os alunos possuem sobre conceitos básicos da química. Além disso, o referido questionário permitiu observar o grau de ascendência que tais propagandas exercem nos alunos; constatando-se a indução ao erro. Por fim, procurou-se despertar nesses jovens olhares mais atentos e críticos para o problema aqui analisado. Palavras-Chave: Conceitos da Química; Mídia; Propaganda; Distorção de conceitos; Colégio Militar de Salvador (CMS) Abstract: Undeniably, media has strong influence over people’s everyday lives, so that many consider as absolutely true what they learn through media. Among other reasons, this happens due to the way information is broadcast, which means great use of resources of imagery and persuasive language. In this sense, this project analyzes some commercials, which use some scientific concepts of Chemistry inadequately in order to validate products that would provide welfare to clients. Therefore, this research tries to find alternatives that make it possible to check how far publicity (as a persuasive sort of text) influences in the education or disinformation on the part of students. For this purpose, an activity was carried out at Colégio Militar de Salvador (CMS) with students from the first and third grades of High School. An advertising text and video about a brand of deodorizer were presented after which a questionnaire was applied in order to verify what students understand of basic concepts of Chemistry. Additionally, it was possible to observe the degree of influence these commercials have over students, and induction to mistakes was detected. Finally, the activity tried to stimulate more critical sense in these teenagers regarding the problem analyzed here. Key-words: Concepts of Chemistry, Media, Commercial, Distortion of concepts, Colégio Militar de Salvador (CMS). 1.Licenciado em Química pela Universidade Federal do Rio G. do Norte. [email protected] 1 INTRODUÇÃO 5 Tendo-se constatado que algumas propagandas veiculadas pela mídia sobre produtos constituídos por substâncias químicas contribuem para a desconstrução dos conceitos ensinados nas escolas; o presente trabalho busca, antes de mais nada, despertar o senso crítico do aluno frente à veiculação de propagandas e notícias. Trata-se de concordar com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), documentos que sinalizam para a abordagem dos conteúdos e para a prática metodológica da educação no Brasil, e que têm como exigência uma nova postura analítica e reflexiva do ensino, orientando as escolas para o desenvolvimento de propostas educacionais que enfoquem reflexivamente as programações midiáticas, incentivando a formação de telespectadoresalunos ativos, participantes e questionadores. É nessa esteira que cabe saber como a mídia vem atuando na (de)formação do aluno, e na sua (in)compreensão dos conceitos relacionados à química, bem como o quão difícil é desfazer ideias consolidadas erroneamente sobre a disciplina ou, ainda, quais as dificuldades encontradas por eles para reconhecerem as informações pretensamente “científicas” da mídia, diferenciando-as daquelas lecionadas em sala de aula. Ao se falar sobre a relação existente entre educação e mídia, deve-se enfatizar que o processo necessita ir além do discurso da análise crítica proposta tradicionalmente, ou seja, só na teoria e distanciado do aluno. Urge tratar o conteúdo por ela veiculado como parte integrante da vida do aluno, como formadora de opinião, de juízos de valor. É necessário conhecê-la para instituir situações de comunicação que possibilite levar à construção de um conhecimento verdadeiramente científico partindo de um universo familiar daquele. Dessa forma, o professor de química precisa atuar sempre na busca de condições que possibilite aos seus alunos desenvolverem uma visão crítica da sociedade. Uma destas formas é assumir uma posição questionadora frente aos meios de comunicação através, por exemplo, do uso da programação televisiva para perguntar e contestar o que está certo e o que não está. Discutir temas éticos introduzidos explícita ou implicitamente na programação, bem como propor ao aluno enxergar com outros olhos (olhos mais atentos) o que lhes é imposto pelos meios de comunicação, pode, também, fazer parte de um ensino de química que vise uma compreensão crítica mais ampla. Dada a importância da educação para interpretação do mundo, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão do discente passa por uma mudança de mentalidade, o que só é possível com uma nova perspectiva educacional. Tais certezas desembocam na realização de um estudo acerca da má influência da mídia na compreensão de conceitos da química no ensino médio e, a respectiva, apresentação de seus resultados. A reboque, relaciona-se as visões de ciência veiculadas na mídia como um dos fatores de influência na construção do ideário científico dos alunos. Tal empreitada guia-se por estudo diagnóstico, de caráter investigativo e qualitativo, somado a elaboração e, posterior, aplicação de questionários (Apêndice A) propostos. Numa das situações, o questionário foi aplicado, sem que os discentes tenham tido contato com o texto e a propaganda (Anexo A). Desta forma é pretendido obter informações a respeito de quais são as visões que o aluno tem sobre determinados assuntos acerca da disciplina; o que visa caracterizar minimamente os conceitos de química apresentados por determinados recortes de propaganda. Já na outra linha, o questionário foi aplicado após o conhecimento do recorte e da propaganda ter sido passado ao aluno, o que visa investigar o caráter crítico do aluno no que se refere à consolidação do conhecimento apresentado. Na primeira parte do artigo tomou-se por base os estudos realizados por 6 (CAMPANARIO, 2001) em seu texto “Invocaciones y usos inadecuados de la ciencia en la publicidad”; o qual discute o uso inadequado da ciência na publicidade. Posteriormente, na seção dois, foram enfocados alguns aspectos relativos ao trabalho desenvolvido por (JORDÃO, 2006) intitulado: “A estranha química dos filmes e comerciais de televisão”; no qual são exploradas possíveis fontes socioculturais que influenciam na formação das ideias de parte dos alunos de química. Sendo que para tal, o autor realiza a análise de alguns filmes e comerciais de televisão que veiculam mensagens de cunho científico ligados a determinados assuntos da química. Por último, foram apresentados os resultados obtidos a partir da pesquisa realizada com alunos das séries do ensino médio do Colégio Militar de Salvador (CMS), acerca do aprendizado errôneo de química possibilitado pela veiculação distorcida de conceitos por parte da mídia. 2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO E PUBLICIDADE: EXEMPLIFICANDO ATRITOS E ESTIMULANDO REFLEXÕES 2.1 Mídia e Conhecimento Científico Nos últimos anos tem sido frequente o uso da ciência, principalmente da química como suporte de apoio e credibilidade para assegurar a eficácia dos produtos apresentados nos comerciais de TV e na mídia como um todo. E devido à sobrecarga de anúncios que utilizam a ciência como suporte, esta por esse motivo vem perdendo um pouco a credibilidade. Além disso, em uma situação de saturação informativa por parte da mídia, torna-se cada vez mais difícil que os consumidores fiquem atentos e consigam diferenciar dentre os produtos quais apresentam realmente mais qualidade e eficácia. Diante de tudo isso o que marca a visão do bom produto é o uso da imagem e conhecimento científico posto em evidência na publicidade. Em outras palavras, uma das formas de se afirmar algo sobre a qualidade do produto é fazendo a associação deste com o uso do conhecimento científico e tecnológico associado a sua fabricação. O uso da ciência como autoridade, associada ao conhecimento verdadeiro é provável que não se limite a aproveitar os esquemas mentais preexistentes na mente dos consumidores, mas também poderá contribuir para reforçar no consumidor, e nesse momento inclui os jovens alunos de química, uma imagem errônea de conceitos da ciência. E neste momento a publicidade ensina conceitos inconsistentes com aqueles pertencentes à ciência verdadeiramente escolar. Para Campanario é fato que o conhecimento abordado no meio publicitário é muito deficiente do ponto de vista científico. Por exemplo, em alguns recortes de propaganda selecionados pelo autor nos meios midiáticos são apresentadas falsas informações, conceitos supostamente científicos, comparações quantitativas incompletas e diversas informações deliberadamente incompreensíveis. Em todos estes recortes emerge o uso da ciência com a simples finalidade de causar impressões superficiais. O uso inadequado que se faz desse recurso é eficaz para que os anunciantes consigam atingir o seu principal objetivo, ou seja, o lucro; o que implica num certo conhecimento dos consumidores. Público este, e nesse momento o autor faz outra crítica, que demonstra aceitar a publicidade e suas práticas via o exercício do seu poder de compra. Também é importante salientar que a publicidade de certa forma se aproveita da má formação científica das pessoas, o que permite que esta use de forma inadequada os conhecimentos científicos. Todavia, deve-se reconhecer que não é fácil explicar todas as noções de ciência que atuam em um produto, tendo em vista a diversidade do público que assiste. Não à toa, é mais fácil invocar a ciência de maneira genérica ou criar impressões. O problema é que todo esse processo transmite saberes contraditórios com os 7 objetivos que o sistema educativo propõe para o ensino da ciência. Assim, enquanto boa parte dos professores de química estimulam os alunos a compreender, analisar e aplicar reflexivamente os conhecimentos científicos adquiridos na prática pedagógica; a publicidade transmite a lição oposta. 2.2 O uso inadequado da ciência na publicidade CAMPANARIO delimitou o objeto do seu trabalho no estudo das invocações e do mau uso da ciência na publicidade. Para tanto, em primeiro lugar realizou uma análise sobre o uso da ciência na publicidade como fonte de autoridade que respalda a virtude dos produtos e serviços anunciados. Em segundo lugar, constatou a frequente associação deste uso da ciência com formas errôneas dos conteúdos científicos, bem como com o raciocínio incorreto; os quais levam a conclusões de interesse do anunciante. A Publicidade é um dos fenômenos característicos de nosso tempo e é um dos elementos utilizados para influenciar as opiniões dos cidadãos e criar hábitos comportamentais. Investimentos em publicidade são muitas vezes uma parte considerável das despesas de empresas e firmas comerciais. A Ciência aparece sistematicamente na publicidade. A associação mais frequente é aquela na qual a ciência é uma fonte de autoridade que garante a qualidade dos produtos anunciados. Tal uso da ciência não é recente. Por exemplo, as propagandas de cosméticos apresentadas na imprensa desde os anos vinte, refletem claramente a crença generalizada de que a ciência seria capaz de curar quase tudo, inclusive o envelhecimento. Atualmente se transmite algo muito similar, visto o estereótipo da ciência como uma garantia de que certamente a mesma resolve todos os problemas. Em suma, a verdade vem dos cientistas, fonte do conhecimento pleno. O conhecimento científico tornou-se o paradigma do saber rigoroso, confiável e preciso; tornando-se um verdadeiro modelo para todas as áreas, as quais lutam para adicionar o adjetivo "científico" aos seus métodos e resultados. Essa “superioridade” deriva do método utilizado na produção do conhecimento científico e está associada às vezes com uma concepção de ciência como uma atividade misteriosa ao público leigo, ou seja, que se encontra distante da capacidade de “compreensão humana normal” e que por isso fica fora do alcance da crítica. Obviamente, o uso da ciência na publicidade não é estranho ao papel que ela desempenha em nossa sociedade. Se fôssemos comparar a cultura atual com outras anteriores, uma das características distintas, provavelmente, seria o papel protagonista desempenhado pela ciência hoje em relação a outrora. Além disso, a maioria dos bens e produtos que consumimos são produzidos seguindo complexos processos baseados em investigação científica ou desenvolvimentos tecnológicos. A ciência está de certa forma estreitamente identificada com produtos inovadores que as empresas tentam mostrar em seus anúncios. Não é estranho, então, que as empresas recorram à ciência nos discursos da propaganda de bens e produtos. Dado que a ciência acompanha esses produtos desde a fase em que são apenas projetos. No seu trabalho (CAMPANARIO, 2001) analisa anúncios de publicidade escritos, provenientes de periódicos de circulação nacional e revistas em geral. Todos os anúncios escolhidos referenciavam produtos ampla aceitação, contendo nos mesmos invocação da ciência como fonte de autoridade e uso inadequado da linguagem ou do conhecimento científico. 2.3 Considerações sobre ligações químicas Compreender o comportamento das moléculas significa ter um domínio amplo sobre ligação química. Estudar as 8 moléculas é uma tarefa que os estudantes têm de executar para se tornarem capazes de realizar a passagem nada simples que é a da observação para a formulação de modelos. Trabalhar com modelos é essencial para que o ensino da química não fique reduzido a uma mera descrição de propriedades macroscópicas e suas mudanças. Modelos atômicos, fórmulas químicas, equações químicas, todos recaem em modelos para sua explicação. É fato notório que mesmo após uma educação formal em Química, os estudantes demonstram diversas deficiências na compreensão dos conceitos químicos e apresentam dificuldades para realizar relações importantes. Acrescenta-se também o fato há muito conhecido de que os alunos apresentam explicações para os fenômenos muitas vezes diferentes daquelas que seriam aceitáveis. Quando essas idéias dos alunos interagem com as demonstrações do professor, com a linguagem científica, com leis e teorias e com as próprias experiências dos alunos, os estudantes tentam reconciliar seus modelos mentais com os conceitos aceitos cientificamente. O resultado dessa reconciliação pode ser um conceito científico distorcido a uma concepção alternativa. O tema ligação química, por ser abstrato, longe das experiências dos alunos, tem, consequentemente, grande potencial para gerar concepções equivocadas por parte dos estudantes. Considerando a relevância do exposto e feito uma análise da literatura sobre a compreensão dos modelos de ligações químicas. É importante ressaltar a necessidade de se fazer uma proposta de trabalho que objetive realizar um estudo constante por parte do docente, acerca deste e de outros assuntos, quando os mesmos forem alocados na mídia de forma a apresentar distorções que contribua para a formação de um saber científico incorreto. 2.4 Os procedimentos adotados A fim de obter informações a respeito da influência da mídia na formação ou reconstrução de conceitos científicos da área da química, foi desenvolvido o presente trabalho no Colégio Militar de Salvador (CMS). Optou-se pelas 1ª e 3ª séries do ensino médio, adotando-se duas linhas metodológicas, aplicadas a ambas as séries. Na primeira linha, o desencadeamento do trabalho seguiu quatro momentos: 1º) leitura de um recorte de propaganda de revista com a finalidade de atentar nos alunos os conhecimentos científicos e/ou químicos presentes no texto; 2º) Apresentação de um pequeno vídeo de propaganda, complementar ao conteúdo do recorte pelo meio audiovisual; 3º) Preenchimento pelos discentes de um questionário, elaborado com o intuito de explorar conceitos básicos sobre ligações químicas; assunto esse tratado nas entrelinhas do texto; e 4º) Após responderem ao questionário, deu-se o recolhimento do mesmo, partindo-se, em seguida, para as considerações finais, nas quais se explanou e se discutiu com os alunos o texto e as imagens apresentadas no vídeo. Procurou-se instigar a reflexão discente, apontando as limitações e “problemas” encontrados nas informações vinculadas, bem como se estimulou a postura crítica dos mesmos no cotidiano a fim de sanar qualquer dúvida sobre o assunto. Já a outra linha de desenvolvimento do trabalho buscou se diferenciar da anterior. Limitou-se a aplicação direta do questionário, ou seja, os alunos não tiveram acesso nem ao recorte, nem ao vídeo. Partiram direto para a terceira fase, seguindo num segundo momento para as considerações e discussões finais. 2.3.1 A escolha das séries 9 A fim de obter maior grau de confiabilidade nos resultados deste trabalho, optou-se trabalhar com as séries escolares mencionadas. O porquê dessa certeza decorre de dois aspectos: primeiramente, o aspecto temporal, que se apoiou no fato de os alunos já terem estudado o conteúdo proposto no corrente ano. O segundo aspecto levou em consideração a maturidade dos discentes, notadamente do 3º ano, quanto aos conhecimentos científicos explicitados. Considerou-se, que esses detinham um maior grau de abstração para a reflexão da problemática, tanto pelo maior conhecimento adquirido ao longo das séries que cursaram quanto pela absorção do conhecimento via senso comum. 2.3.2 A postura frente ao texto Neste momento, cabe deixar claro que este trabalho não tem como objetivo criticar especificamente qualquer produto e/ou marca vendido no mercado. Longe disso, a escolha da propaganda justifica-se simplesmente pela relevância do assunto na área de química, tratado na mesma. Tendo em vista a diversidade de propagandas que fazem uso da ciência, é de certa forma muito comum encontrar uma ou outra, que evoca o uso de conceitos científicos de forma errônea. Reforçando o argumento, percebe-se pela leitura do questionário que este, em nenhum momento tratou, em questão alguma, de direcionar perguntas para a crítica ao produto; mas, tão-somente, para o uso inadequado do conhecimento científico utilizado nas propagandas. No caso em tela, o uso inadequado do conhecimento científico no anúncio trabalhado caracterizou-se pela utilização incorreta que este fez ao tratar um composto de prata (na ocasião um sal) como sendo um composto molecular. Além disso, o erro foi referendado no vídeo pelo uso do modelo molecular semelhante ao utilizado para representação de cadeias carbônicas. 3 INDUZINDO AO ERRO: ANÁLISE E DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE E DOS RESULTADOS OBSERVADOS EM SALA DE AULA 3.1 O foco A principal finalidade do questionário foi obter resultados que apontassem qualquer influência da propaganda sobre as concepções que os alunos apresentavam sobre os conceitos relativos ao assunto das ligações químicas. Para tanto, ele foi aplicado em quatro turmas sendo duas do 1º ano e outras duas do 3º ano do ensino médio. As turmas foram divididas em grupos classificados como: os que haviam lido o texto e assistido ao vídeo; e os que não tiveram contato algum com a propaganda. Desta forma, foi possível obtermos dados para análise por comparação. Nessa seara cabe também destacar o empenho por parte de todos os alunos na execução de todas as tarefas, incluindo a resolução do questionário. 3.2 Resultado e discursões Para sistematizar a apresentação dos resultados e tornar mais claro o entendimento dos mesmos, manter-se-á a divisão das turmas, apresentando os dados relativos a cada uma delas separadamente, seguindo, posteriormente, para a interpretação dos mesmos. A divisão realizada nas turmas foi: a) 1º ano (sem uso da propaganda); b) 1º ano (com utilização da propaganda); c) 3º ano (sem uso da propaganda); d) 3º ano com uso da propaganda). a) 1º ano (sem uso da propaganda) 10 Participaram da pesquisa 26 alunos, dos quais 23 tinham o conhecimento prévio de que a prata pertence ao grupo dos metais. Destes 23 alunos, 74% erraram ao afirma ser a prata uma substância formada por moléculas constituída de átomos de prata. Já 78% acertaram ao afirmar que os átomos de prata realiza ligações metálicas, quando estabelece ligação entre si, enquanto 87% dos alunos acertaram ao afirmar que uma substância metálica tem origem na interação entre metal-metal. Enquanto 65% dos alunos acertaram ao afirmar que a ligação que caracteriza a formação das moléculas é a covalente, nenhum dos alunos afirmou ser a molécula formada por meio de ligação do tipo metálica. b)1º ano (com uso da propaganda) Participaram da pesquisa 28 alunos, dos quais 26 tinham o conhecimento prévio de que a prata pertence ao grupo dos metais. Destes 26 alunos, 73% erraram ao afirmar ser a prata uma substância formada por moléculas constituída de átomos de prata, enquanto 81% acertaram ao afirmar que a prata realiza ligações metálicas, quando estabelece ligação entre si. Já 100% dos alunos acertaram ao afirmar que uma substância metálica tem origem na interação entre metal-metal e 34% dos alunos acertaram ao afirmar que a ligação que caracteriza a formação das moléculas é a covalente. No entanto, 34% dos alunos afirmaram ser a molécula formada por meio de ligação do tipo metálica. c) 3º ano (sem uso da propaganda) Participaram da pesquisa 26 alunos, dos quais 22 tinham o conhecimento prévio de que a prata pertence ao grupo dos metais. Destes 22 alunos, 68% erraram ao afirmarem ser a prata uma substância formada por moléculas constituída de átomos de prata. Enquanto 41% acertaram ao afirmar que a prata realiza ligações metálicas, quando estabelece ligação entre si, 63% dos alunos acertaram ao afirmar que uma substância metálica tem origem na interação entre metal-metal. Por fim, 69% dos alunos acertaram ao afirmar que a ligação que caracteriza a formação das moléculas é a covalente e nenhum afirmou ser a molécula formada por meio de ligação do tipo metálica. d) 3º ano (com uso da propaganda) Participaram da pesquisa 24 alunos, dos quais 21 tinham o conhecimento prévio de que a prata pertence ao grupo dos metais. Destes 21 alunos, 76% erraram ao afirmar ser a prata uma substância formada por moléculas constituída de átomos de prata, enquanto 52% acertaram ao sentenciar que a prata realiza ligações metálicas, quando estabelece ligação entre si. Para 86% dos alunos, uma substância metálica tem origem na interação entre metal-metal, bem como 42% dos alunos acertaram ao afirmar que a ligação que caracteriza a formação das moléculas é a covalente. Ao revés, 62% dos alunos afirmaram ser a molécula formada por meio de ligação do tipo metálica ou iônica. Pela análise dos resultados apresentados pode-se perceber que o percentual de acertos nas questões não evidenciou nenhuma discrepância entre os que leram o texto e assistiram ao vídeo propaganda, daqueles que não leram, nem assistiram. No entanto, nenhum dos alunos das 1º e 3º séries, que não leram o recorte, nem assistiram ao vídeo, afirmou ser a molécula formada por meio de ligação do tipo metálica ou iônica. Por outro lado 34% dos alunos da 1ª série e 62% dos alunos da 3ª série, que leram o recorte e assistiram ao 11 vídeo afirmaram que a formação de moléculas ocorre por meio de ligação iônica ou metálica. O ponto em questão é que a propaganda trata o composto de prata, um sal de nome citrato de prata, como molécula, agravando o erro pela representação da mesma na forma de íon com carga positiva. Tudo isso proporcionou uma confusão, pois induziu o aluno a encarar a prata como uma substância formada por moléculas. Além disso, possibilitou outro entendimento errôneo, como evidenciado pelo resultado obtido quando os alunos marcaram no questionário que o tipo de ligação que origina moléculas é a ligação iônica ou a ligação metálica. Isso significa dizer que os resultados apresentados pelo questionário aplicado aos alunos apontaram para uma distorção dos conceitos da química relativos aos assuntos “ligações químicas, moléculas e íons”. O resultado reforça-se pela análise comparativa das respostas das turmas que haviam lido o texto e assistido ao vídeo, daquelas que não tiveram contato algum com as propagandas. Desta forma, constatou-se que as mídias em questão atuaram como um mecanismo de influência sobre os alunos, desorientando-os e levando-os ao erro. A análise dos resultados apontou, ainda, para outro dado relevante, relacionado ao grau de dificuldade apresentado pelos alunos no que se refere ao conhecimento e consolidação de conceitos da química. Os referidos conceitos, da forma como foram utilizados pela mídia, direcionaram para uma distorção daqueles já concebidos pelos alunos. Esta afirmação trouxe a evidência de certa deficiência no que se refere ao entendimento e à consolidação de conceitos científicos da área da química. Diante desta constatação fica um alerta para nós docentes da área, qual seja: para que trabalhemos com muito cuidado os conceitos chaves da química, tais como os abordados neste trabalho. Ainda mais, considerando-se, como apontado no artigo, a desconstrução forjada por elementos diversos estranhos ao ambiente escolar, no caso a mídia. A reboque, impõe-se atentarmos para consolidação dos referidos conceitos por parte dos discentes. CONCLUSÃO O aluno está sujeito a diversas influências originárias de fontes sócioculturais distintas. Quando ele recebe a instrução formal escolar, pelo menos no caso aqui identificado de conceitos de ligação química, molécula e íons, há uma grande dificuldade em consolidar o conhecimento passado pelo professor. Isso se mostrou a partir da atividade com as propagandas, que colocaram em xeque tudo aquilo que tinha sido anteriormente lecionado na sala de aula. Devido ao fato de que muitos jovens (e não tão jovens) adquirem muito de seu conhecimento, e verdadeiramente, muitas de suas atitudes sobre ciência da mídia popular [livros, revistas, periódicos, rádio e televisão], os pesquisadores têm feito análises de conteúdo das mídias escrita, falada e visual para ver como a ciência é retratada. Algumas tentativas têm sido feitas para verificar quanto impreciso, enviesado ou seletivo os detalhes são. (...) Não existem muitos estudos nessa tradição (...) (FURNHAM, 1992, p. 47 apud JORDÃO) A citação referenda os resultados colhidos, pois estes apontaram para certeza de que há semelhança entre as ideias expressas nas mídias utilizadas e aquelas 12 apresentadas pelos alunos, sobre temas de estudo da química (ligações químicas); evidência o mecanismo de influência sóciocultural da mídia em geral. Por fim, fica a certeza de que uma atividade de recortes de revistas e comerciais de televisão, feita na sala de aula, pode funcionar como um importante recurso de estímulo aos alunos para o estudo dos conceitos de química, assim como os alunos poderão apresentar uma postura mais crítica em relação a essas duas mídias, analisando-se a forma com que elas se referem a alguns conceitos de química. Para tanto o professor deverá desenvolver uma proposta de trabalho que utilize esse recurso como uma ferramenta de aprendizagem, de forma que os alunos aprendam pela análise do erro e adquiram uma postura mais crítica identificando a informação certa e a errada. REFERÊNCIAS BECKER, J. P. L. A popularização da ciência na revista veja: da situação de comunicação ao texto Seminário Internacional de Texto, Enunciação e Discurso. Núcleo de Estudos do Discurso PUC do Rio Grande do Sul, 2010. CALDAS, G. Política de C&T, mídia e sociedade. Comunicação & Sociedade, n.30, p. 185-208, 1998. CAMPANARIO, Juan Miguel; MOYA, Ainda y OTERO, José C. Invocaciones y Usos Inadecuados de La Ciencia em La Publicidad. Grupo de Investigación sobre el Aprendizaje de las Ciencias. Departamento de Física. Universidad de Alcalá. 28871 Alcalá de Henares. Madrid, 2001. JORDÃO, M. P. A estranha química dos filmes e Comerciais de televisão, 2006. 89f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. 13 LEAL FILHO, L. L. A TV sob Controle: a Resposta da Sociedade ao Poder da Televisão. São Paulo: Summus Editorial, 2006 MESQUITA, Nyuara Araújo da Silva; SOARES, Márlon Herbert Flora Barbosa. Visões de ciências de professores de química: a mídia e as reflexões no ambiente escolar no nível médio de ensino. Química Nova, v. 31, n. 7, p. 18751880, 2008 “Nivea lança primeiro desodorante masculino que reduz a ação das bactérias causadoras do mau odor.” Disponível em: <http://www.guiadaembalagem.com.br/noti cia_1816> Acesso em: 23 jun 2011. Nivea For Men Silver Protect TV ad 2009 30sec advert. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch? v=UWlrge4g_kA>. Acesso em: 23 jun 2011. ANEXO Nivea lança primeiro desodorante masculino que reduz a ação das bactérias causadoras do mau odor 14 Formulado a partir de moléculas de prata, produto garante proteção e refrescância por muito mais tempo. A NIVEA incrementa a linha de desodorantes masculinos com o lançamento de NIVEA Deodorant Silver Protect, primeiro item do mercado brasileiro de higiene pessoal formulado a partir de moléculas de prata (Ag+). Esse tipo de componente reduz a ação e a proliferação das bactérias responsáveis pelo mau odor nas axilas, oferecendo cuidado e conforto ainda mais eficaz por até 24 horas. Durante o processo de transpiração, bactérias presentes na região das axilas se alimentam do suor produzido, liberando toxinas que caracterizam o mau odor. Na fórmula de NIVEA Deodorant Silver Protect as moléculas de prata (Ag+) atingem as células bacterianas, inibindo sua proliferação e consequente liberação do mau cheiro. O produto possui ação antiperspirante, reduzindo o volume de sudorese, fonte de alimento das bactérias. Além disso, o desodorante promove sensação de refrescância por muito mais tempo. Outros segmentos de mercado já fizeram uso das moléculas de prata para inibir a ação das bactérias. A tecnologia foi adotada no desenvolvimento de roupas esportivas, eletrodomésticos - máquina de lavar e geladeiras - e materiais de primeiros socorros. ''Durante o desenvolvimento do produto pesquisamos componentes com ação comprovada no combate às bactérias. Hoje, somos a primeira empresa do setor a fazer uso da molécula de prata na fórmula de um produto de higiene pessoal'', destaca Maria Laura Santos, diretora de Marketing da NIVEA. A fragrância do novo desodorante possui notas cítricas e energizantes, essencialmente masculinas. Recomendado para todos os tipos de pele, NIVEA Deodorant Silver Protect está disponível nas versões aerosol e roll on. Sua fórmula é livre de álcool, corantes ou conservantes, ingredientes que podem provocar eventuais irritações. Dermatologicamente testado. ''Proteção e fragrância são dois atributos muito valorizados pelo homem na escolha do desodorante. Para tanto, fórmulas inovadoras e alinhadas com suas necessidades fazem a diferença na decisão de compra'', comenta Maria Laura. SAC da NIVEA: 080077 NIVEA ou 08007764832 APÊNDICE A QUESTIONÁRIO 1) Quanto ao caráter metálico o elemento químico prata (Ag) é classificado como: a) ametal b) metal 15 c) semimetal d) nenhuma das respostas anteriores 2) Uma substância iônica tem origem na interação entre: a) metal e metal b) metal e ametal c) ametal-ametal d) nenhuma das respostas anteriores 3) Uma substância metálica tem origem na interação entre: a) metal-metal b) metal-ametal c) ametal-ametal d) nenhuma das respostas anteriores 4) O tipo de ligação química menos comum ao elemento químico prata (Ag) é: a) iônica b) metálica c) covalente d) nenhuma das respostas anteriores 5) Átomos do elemento químico prata (Ag) realizam entre si ligação química do tipo: a) iônica b) metálica c) covalente d) nenhuma das respostas anteriores 6) A prata é uma substância constituída por: a) moléculas formadas por átomos do elemento químico prata b) moléculas formadas por íons do elemento químico prata c) átomos do elemento químico prata. d) nenhuma das respostas anteriores 7)A ligação química que caracteriza a formação das moléculas é: a) iônica b) metálica c) covalente d) nenhuma das respostas anteriores