ISSN: 1981 - 3031 UMA INVESTIGAÇÃO DO NÍVEL DE APRENDIZAGEM EM GEOMETRIA DE UM GRUPO DE ALUNOS CONCLUINTES DO ENSINO FUNDAMENTAL UMA ABORDAGEM SEGUNDO A TEORIA DE VAN HIELE Cláudia Rocha Matias da Silva1 [email protected] Vanessa da Silva Alves 2 [email protected] RESUMO Este trabalho tem por finalidade apresentar os resultados de uma pesquisa realizada no município de Rio Largo – Alagoas, sobre a aprendizagem de conceitos geométricos dos alunos do 9° ano do Ensino Fundamental, da rede municipal de ensino, fundamentada na Teoria de van Hiele. A abordagem metodológica foi um estudo de caso, segundo o qual foram aplicados os testes para verificação de nível de van Hiele no qual se encontravam os alunos participantes da pesquisa. Os resultados apontam que, mesmo ao final do Ensino Fundamental, os conceitos apropriados pelos alunos são elementares, não possibilitando, sequer, indicar que os mesmos atingiram o nível 1 da teoria considerada. Diante disso, faz-se uma reflexão, sobre o que se ensina e o que se aprende sobre Geometria na Educação Básica. PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Geometria. Van Hiele. Ensino Fundamental. 1 INTRODUÇÃO Desde os primórdios, o homem, diante dos seus questionamentos, curiosidades e suas necessidades de sobrevivência foi beneficiado através das descobertas matemáticas e a geometria tem sido de fundamental importância no decorrer dos tempos. Segundo Grando (apud Almeida, 2010, p. 13) Buscando a origem do desenvolvimento da geometria nos primórdios, com o homem primitivo, podemos imaginar que o conhecimento das configurações do espaço, formas e tamanhos tenham se originado, possivelmente, com a capacidade humana de observar e refletir sobre os deslocamentos, com a construção de estratégias de caça e colheita de 1 Graduada em Matemática Licenciatura – UFAL/UAB. E-mail: [email protected]. Mestra em Ensino de Ciências e Matemática pela UFAL (2012); especialista em Metodologia do ensino de Matemática e Física pela UNINTER (2010); graduada em Matemática Licenciatura pela UFAL (2008); professora Assistente 1 da UFAL, Campus Arapiraca, na área de Saberes e Metodologias do ensino de Matemática, atuante nos cursos de Matemática Licenciatura e Pedagogia; professora do curso de Matemática Licenciatura da UFAL na modalidade à distância. Email: [email protected]. 2 1 ISSN: 1981 - 3031 alimentos, com a criação de ferramentas e utensílios, visando satisfazer suas necessidades básicas. Ao fixar moradia, com a divisão do trabalho, outras necessidades foram surgindo e a produção do conhecimento geométrico se ampliando. A necessidade de fazer construções, delimitar a terra levou à noção de figuras e curvas e de posições como vertical, perpendicular, paralela. No antigo Egito, com as construções das pirâmides e a necessidade de delimitar territórios, em consequência das enchentes do rio Nilo, os egípcios já utilizavam cálculos geométricos. Os babilônicos também faziam uso da geometria, que ainda não era definida como nos dias contemporâneos. Houve todo um processo histórico e vários foram os estudiosos da época que contribuíram para chegar até os resultados atuais. Dentre muitos, pode-se citar: Tales de Mileto, Pitágoras, Platão até chegar em Euclides de Alexandria, que é considerado o pai da Geometria e sua grande obra, os Elementos, é de fundamental importância para o desenvolvimento da Geometria. No Brasil, a Geometria está presente desde a época dos Jesuítas, porém, de forma discreta. Com todos os fatos históricos que aconteceram no Brasil, a Geometria foi esquecida nas escolas, muitos são os motivos dentre os quais: a falta de preparo dos professores e a modernização da Matemática. Em 1998 houve um avanço no ensino da geometria quando a Secretaria do Ensino Fundamental do Ministério da Educação, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) publicou os eixos norteadores dos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula em todo o território nacional e a geometria é apresentada como fator importante no currículo de Matemática. A apropriação de conceitos geométricos é de fundamental importância para o desenvolvimento dos sujeitos em sociedade, conforme apontam os PCN (p. 123, 1998): Situações quotidianas e o exercício de diversas profissões, como a engenharia, a bioquímica, a coreografia, a arquitetura, a mecânica etc., demandam do indivíduo a capacidade de pensar geometricamente. Também é cada vez mais indispensável que as pessoas desenvolvam a capacidade de observar o espaço tridimensional e de elaborar modos de comunicar-se a respeito dele, pois a imagem é um instrumento de informação essencial no mundo moderno. Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam a geometria como fator importante no currículo de Matemática no Ensino Fundamental, o qual aponta que: 2 ISSN: 1981 - 3031 O estudo da geometria é um campo fértil para trabalhar com situações problema e é um tema pelo qual os alunos costumam se interessar naturalmente. O trabalho com noções geométricas contribui para a aprendizagem de números e medidas, pois estimula o aluno a observar, perceber semelhanças e diferenças, identificar regularidades etc. Porém, mesmo diante da importância do conhecimento geométrico e do seu potencial em possibilitar ao aluno um melhor entendimento, representação e descrição de forma organizada do ambiente em que vive, o ensino de geometria ainda é considerado com ordem de prioridade secundária na Educação Básica. Apesar de mudanças significativas terem ocorrido com o passar dos anos, vários autores de livros didáticos continuam abordam os conteúdos geométricos apenas ao final dos mesmos e os professores, ainda que diante da flexibilidade quanto à escolha da ordem segundo a qual ministrará os conteúdos matemáticos, em alguns casos, seguem a ordem imposta pelo livro didático e por conta do tempo e dos imprevistos ocorridos durante o ano letivo, penalizam o ensino dos conteúdos geométricos, e esse problema pode ser constatado por meio de registros históricos, conforme aponta Soares (apud Ferreira, 1998, p. 99): A falta de preparo dos professores e a liberdade que a lei de diretrizes e bases da educação de 1971 dava às escolas quanto à decisão sobre os programas das diferentes disciplinas, fez com que muitos professores de Matemática, sentindo-se inseguros para trabalhar com a Geometria, deixassem de incluí-la em sua programação. Os que continuaram a ensinala o faziam de modo precário. Os próprios livros didáticos passaram a parte de Geometria para o final do livro, o que fez com que durante o Movimento da Matemática Moderna a álgebra tivesse um lugar de destaque. Diante da importância do ensino da geometria na Educação Básica, preocupou-se em analisar, segundo a Teoria de van Hiele: Em qual nível de Van Hiele de pensamento geométrico estão os alunos do município de Rio Largo, no último ano do Ensino Fundamental? Com o objetivo de realizar um estudo sobre o ensino e aprendizagem da Geometria nas séries finais do ensino fundamental do Município de Rio Largo, segundo o modelo de Van Hiele, foi realizada uma pesquisa de campo. Para fazer esta verificação, aplicaram-se os testes de níveis, segundo a Teoria de Van Hiele, até identificar em qual nível a maioria dos alunos se 3 ISSN: 1981 - 3031 encontrava. Dessa forma, os testes foram aplicados até o momento em que se verificou que a maioria não atingiu o nível do teste aplicado. 2 SITUAÇÃO ATUAL DO ENSINO DA GEOMETRIA NO BRASIL Segundo pesquisas, o ensino da geometria vem seguindo a passos lentos e em muitas escolas os professores deixam o conteúdo para ser abordado por último, deixando-os no esquecimento. Nas primeiras séries escolares, os conteúdos trabalhados em Matemática, são predominantemente relativos à aritmética, enquanto os conteúdos das séries finais do Ensino Fundamental são preferencialmente de álgebra, estendendo-se também pelas séries do Ensino Médio. A Geometria é abordada, em geral, como um tópico separado dos demais conteúdos e de forma tradicional. Apensar de muitos pesquisadores se interessarem pelo estudo da geometria nas escolas, o ensino de geometria tem menos atenção do que os demais temas, sendo restrito ao estudo de medidas e ficando seu ensino em fase inicial, onde muitos alunos fazem conclusões precipitadamente erradas. Portanto, várias pesquisas já apontam a geometria com problemas no seu ensino e consequentemente em sua aprendizagem. Conforme afirma Lorenzato (1995, p.2-3): Considerando que o professor que não conhece Geometria também não conhece o poder, a beleza e a importância que ela possui para a formação do futuro cidadão, então, tudo indica que, para esses professores, o dilema é tentar ensinar Geometria sem conhecê-la ou então não ensiná-la. É preciso fazer mais capacitações com os professores, tanto para a apropriação do conteúdo quanto voltado para questões que envolvam metodologia e didática de ensino. Vale salientar que os livros didáticos também têm uma influência nesta situação, pois segundo Lorenzato, (1995, p. 3) tal situação “deve-se à exagerada importância que, entre nós, desempenha o livro didático”. Nos PCN (1998) sobre o ensino fundamental há um posicionamento sobre reflexos do uso de livros didáticos na prática docente ao considerar que não tendo oportunidade e condição para aprimorar sua formação e não dispondo de outros 4 ISSN: 1981 - 3031 recursos para desenvolver as práticas de sala de aula, os professores apoiam-se, quase exclusivamente, nos livros que, muitas vezes, são de qualidade insatisfatória (PCN, 1998, p.21). A geometria descrita em parte dos livros didáticos ainda é um conjunto de definições, propriedades, nomes e fórmulas, sem qualquer aplicação. Diante das peculiaridades do ensino de geometria, recomenda-se que o professor planeje a sua aula além do que é proposto no livro didático, pois hoje há vários recursos, como jogos, data show, internet para enriquecer e tornar as aulas de geometria mais atrativas e favorecer o processo de ensino-aprendizagem, utilizando inclusive o lúdico. Quanto à importância da apropriação do conhecimento geométrico, Lorenzato (1995, p. 5), considera que: Sem estudar Geometria as pessoas não desenvolvem o pensar geométrico ou o raciocínio visual e, sem essa habilidade, elas dificilmente conseguirão resolver as situações de vida que forem geometrizadas, também não poderão se utilizar da Geometria como fator altamente facilitador para a compreensão e resolução de questões de outras áreas de conhecimento humano. Sem conhecer a Geometria a leitura interpretativa do mundo tornase incompleta, a comunicação das ideias fica reduzida e a visão da Matemática torna-se destorcida. Conforme o que fora apresentado, o ensino da Geometria no Brasil tem muito a progredir, pois a apropriação de conceitos geométricos é importante não somente para a aprendizagem de outros conceitos matemáticos mas também para a formação do cidadão e sua boa convivência em sociedade. 3 A TEORIA DE VAN HIELE E O CONHECIMENTO GEOMÉTRICO A teoria de Van Hiele sugere que enquanto os alunos aprendem geometria, eles progridem segundo uma sequência de níveis de compreensão de conceitos, onde cada nível é caracterizando por relação entre objetos de estudo e linguagem. Para que haja o avanço de um nível para o próximo, foram estabelecidas cinco fases de aprendizagem que devem ser vivenciadas pelos alunos: fase 1: informação/inquirição, fase 2: orientação dirigida, fase 3: explicação e fase 4: orientação livre e fase 5: integração, estas fases podem ocorrer em diversas ordens ou até simultaneamente exceto a fase 5. 5 ISSN: 1981 - 3031 É apresentado a seguir uma tabela com os níveis do modelo de Van Hiele. Tabela 1 – Descrição dos níveis de Van Hiele Nível de Van Hiele Características Exemplo 1º Nível Reconhecimento Reconhecimento, comparação e nomenclatura das figuras geométricas por sua aparência global. Classificação de recortes de quadriláteros em grupos de quadrados, retângulos, paralelogramos, losangos e trapézios. Descrição de um quadrado através de propriedades: 4 lados iguais, 4 ângulos retos, lados opostos iguais e paralelos. 2º Nível Análise 3º Nível Abstração 4º Nível Dedução 5º Nível Rigor Análise das figuras em termos de seus componentes, reconhecimento de suas propriedades e uso dessas propriedades para resolver problemas. Percepção da necessidade de uma definição precisa, e de que uma propriedade pode decorrer de outra; Argumentação lógica informal e ordenação de classes de figuras geométricas. Domínio do processo dedutivo e das demonstrações; Reconhecimento de condições necessárias e suficientes. Descrição de um quadrado através de suas propriedades mínimas: 4 lados iguais, 4 ângulos retos. Reconhecimento de que o quadrado é também um retângulo. Demonstração de propriedades dos triângulos e quadriláteros usando a congruência de triângulos. Capacidade de compreender Estabelecimento e demonstrações formais; demonstração de teoremas Estabelecimento de teoremas em em uma geometria finita. diversos sistemas e comparação dos mesmos. Fonte: Nasser (apud SANTOS, 2010, p. 4) De início essa teoria usava os níveis de 0 a 4, mas depois seus proponentes adotaram a numeração de 1 a 5, isso porque alguns alunos não se enquadravam no nível zero. Os Van Hiele enfatizaram também algumas propriedades que podem orientar o trabalho do professor e merece destaque, que são: -Sequencial: o aluno deve passar pelos níveis seguindo a sequência. 6 ISSN: 1981 - 3031 -Avanço: o progresso do aluno dependerá mais do conteúdo de ensino do que da idade, e que não se pode pular nenhum nível, apenas acelerar o avanço de acordo com o método de ensino. -Intrínseco e Extrínseco: conceitos geométricos implícitos em um nível tornam-se explícitos em um nível superior. -Linguístico: haveria uma simbologia e uma linguagem própria para cada nível. -Combinação Inadequado: aluno, curso e nível devem estar atrelados para que realmente haja aprendizado por parte do aluno, casa contrário, aprendizagem não aconteceria. Usando esse método de ensino o professor pode, progressivamente, acompanhar o desenvolvimento cognitivo da criança. Veja na tabela abaixo: Tabela 2 – Habilidade/Nível (HOFFER) Habilidade/Nível Reconhecimento Visual Reconhece figuras diferentes em um desenho. Reconhece informações rotuladas em uma figura. Verbal Associa o nome correto com uma figura dada. Interpreta sentença que descreve as figuras. Gráfica Consegue fazer esquemas das figuras e identificar suas partes. Análise Ordenação Dedução Rigor Percebe as propriedades de figuras como parte de uma figura maior. Reconhece relações entre vários tipos de figuras. Reconhece propriedades comuns dessas figuras. Usa informação sobre figuras e obtém outras informações sobre elas. Reconhece suposições injustificadas feitas no uso das figuras. Concebe figuras relacionadas em vários sistemas. Descreve várias propriedades de uma figura. Define palavras precisas e concisas. Faz relações com outras figuras. Entendem distinção entre postulados, teoremas. Reconhece o que se pede no problema. Formula extensos resultados conhecidos. Descreve os sistemas dedutivos. É capaz de construir figuras relacionadas com as figuras dadas. Reconhece quando e como usar elementos auxiliares em uma figura. Consegue desenhar e construir figuras. Entende as limitações e capacidade dos instrumentos de desenho. Representa pictoricamente conceitos em vários sistemas dedutivos. Traduz a informação verbal dada a uma figura. Usa propriedades nos desenhos. 7 ISSN: 1981 - 3031 Lógica Percebe que há diferenças e semelhanças entre as figuras. Entende figuras com posições diferentes. Entende que figuras podem ser classificadas de várias maneiras e suas propriedades podem ser usadas para classificá-la. Entende as propriedades das figuras para determinar se uma classe esta contida em outra. Usa regras de lógica para desenvolver provas. È capaz de deduzir consequência s a partir de informações dadas. Aplicação Identifica através dos objetos físicos as formas geométricas. Reconhece propriedade geométrica fenômenos físicos. Entende o conceito matemático e suas relações. É capaz de deduzir propriedade através de informações. Entende as limitações e capacidade de hipóteses e postulados. Sabe quando um sistema de postulados é independente, consistente e categórico. Usa modelos para representar sistemas abstratos. Fonte: Araújo, Wellington Rodrigues R, 2012. Pode-se perceber, portanto, que a teoria dos Van Hiele pode ser um instrumento utilizado pelo professor tanto para o processo de ensino de Geometria quanto para verificação dos conhecimentos geométricos apropriados pelos alunos. No presente trabalho, a teoria dos Van Hiele é aplicada com o objetivo de verificar os conhecimentos geométricos apropriados pelos alunos do município de Rio Largo, no 9º ano do Ensino Fundamental. 4 OS CONCEITOS GEOMÉTRICOS APROPRIADOS PELOS ALUNOS A metodologia de pesquisa utilizada para a realização dessa pesquisa foi o estudo de caso, por meio de uma abordagem quantitativa e com caráter educacional. A pesquisa foi realizada em todas as oito escolas municipais do município de Rio Largo, nas quais atende-se alunos do 9° ano e considerou nove das dezesseis turmas que o município possui referente a este ano escolar, abrangendo-se um percentual de 56,3% das turmas de 9º ano do Município de Rio Largo e de 58,8% dos alunos matriculados, o equivalente a 277 (duzentos e setenta e sete) alunos participantes, com idades entre 13 e 16 anos. Para obtenção dos dados, foram utilizados os testes pilotos da Teoria de Van Hiele de níveis 1, 2, 3, 4 e 5. A pretensão era aplicar teste a teste até chegar ao momento em que menos de 50% conseguisse acertar o teste. Vale ressaltar que é 8 ISSN: 1981 - 3031 considerado como correto o teste cujo percentual de acertos é igual ou superior a 60%. Ao ser aplicado o teste de nível 1, a análise de dados do mesmo mostrou que a maioria dos alunos não atingiu o nível 1 (menos de 60% de acerto), impossibilidade a aplicação dos testes de níveis 2, 3, 4 e 5. Para análise dos dados, foram considerados dois momentos: um primeiro momento com a análise individual das questões, sendo verificada detalhadamente cada questão em particular e os resultados de cada escola individualmente; no segundo momento, foi realizado o comparativo dos resultados entre as escolas contempladas para verificar se havia equivalência entre nos resultados e saber até que nível do pensamento geométrico segundo modelo de Van Hiele se encontram os alunos do Município de Rio Largo. 4.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS APRESENTADOS PELOS ALUNOS Nesta parte do trabalho é apresentada uma análise individual de cada questão, mostrando os erros e acertos dos alunos, referentes ao 1º nível (básico reconhecimento), segundo o modelo se Van Hiele e em seguida é realizada a análise dos erros e acertos no comparativo entre as escolas. O nível 1 caracteriza-se pela capacidade de identificação, comparação e nomenclatura de figuras geométricas com base em sua aparência global. As questões referente ao teste de nível 1 exigem as habilidades visual (reconhecer diferentes figuras), verbal (associar o nome a uma figura) e lógica (perceber que há diferenças e semelhanças entre figuras e compreender a conservação da forma de uma figura quando a mesma se apresenta em várias posições). A questão 1 considera cinco figuras planas e exige que o aluno identifique quais das figuras apresentadas são triângulos. Nota-se que é uma questão elementar se considerado que a pesquisa foi realizada com alunos do 9° ano e que triângulos devem ser estudados desde a Educação Infantil ao se ter contato com a primeiras formas geométricas de modo formal. Os resultados, em termos percentuais, são apresentados na tabela 3. 9 ISSN: 1981 - 3031 Tabela 3 – Resultados apresentados na questão 1 Questão 1 Escolas Acertos parciais Acertos totais Erros A B 100% 0% 0% C D E F G H Total de alunos 87,5% 81,8% 85,3% 29,6% 74% 52,9% 91,7% 75,5% 12,5% 18,2% 24% 47,1% 8,3% 22,4% 2% 0% 0% 2,1% 0% 0% 0% 70,4% 14,7% 0% Fonte: as autoras Percebe-se aqui a dificuldade desses alunos de identificar os triângulos quando os mesmos estão juntos de outros polígonos. Provavelmente os erros aconteceram por não saberem que qualquer polígono que tenha três lados é um triângulo. Considerando que os alunos que erraram parcialmente, erraram também a questão, então apenas na escola E, o número de erros foi menor que o número de acertos e que em todas as outras escolas o número de alunos que erraram a questão foi maior do que os que acertaram. Chama-se a atenção o fato de nenhum aluno da escola A ter acertado completamente a questão proposta. Em relação à questão 2, considera-se cinco figuras planas e solicita-se que os alunos marquem os quadrados. A tabela abaixo mostra o percentual de alunos que acertaram parcialmente, totalmente e que erram a questão. Tabela 4 – Resultados apresentados na questão 2 Questão 2 Escolas Acertos parciais Acertos totais Erros B C 55% 53,1% 75% 73,5% 40,7% 66% 15% 21,9% 13,6% 23,5% 44,4% 10% 53% 36,1% 26% 24% 17,6% 8,3% 16,2% 15% 25% D E 11,4% 3% 14,9% Fonte: as autoras F G H Total de alunos A 29,4% 55,6% 57,8% 10 ISSN: 1981 - 3031 A questão apresenta apenas dois quadrados dentre as cinco figuras, sendo um com os lados paralelos ao lado da folha e outro numa posição diagonal, como um losango. Grande parte dos alunos marcou apenas a figura na qual o quadrado é apresentado com os lados paralelos aos lados da folha, o que leva a acreditar que a Geometria tenha sido ensinada de maneira estática, sem mostrar que, mesmo mudando de posição, as propriedades da figura ficam preservadas. A questão 3 apresenta mais cinco figuras planas e solicita que os alunos marquem os retângulos. A tabela abaixo apresenta o percentual de alunos que acertaram parcialmente, acertaram totalmente e erram a questão. Tabela 5 – Resultados apresentados na questão 3 Questão 3 Escolas Acertos parciais Acertos totais Erros A B C D 55% 50% 50% E F G H Total de alunos 35,3% 44,4% 42% 26,5% 33,3% 41,5% 35% 12,5% 11,4% 29,4% 55,6% 34% 55,9% 30,6% 10% 37,5% 38,6% 35,3% 24% 17,6% 36,1% 28,5% 0% 30% Fonte: as autoras A análise dos resultados aponta que grande parte dos alunos não acertou totalmente a questão pelo mesmo problema apresentado na questão 3, ou seja, por acreditar que uma figura é retângulo apenas se seus lados estão paralelos às margens da folha de papel. Alguns alunos marcaram figuras como trapézio e triângulo, mostrando assim que não têm qualquer noção de conceito elementar das formas geométricas. A escola C foi a que teve o maior percentual de erros 38,6%. A escola G foi a que teve maior percentual de acertos. Pode-se perceber que o comparativo entre as escolas variou em resultados. Até o presente momento as questões exigiram a identificação das formas mais elementares, o triângulo, o quadrado e o retângulo, formas estas estudadas 11 ISSN: 1981 - 3031 desde as séries iniciais e ainda assim, a maioria dos alunos não conseguiu responder corretamente as questões. A questão 4 apresenta mais cinco figuras e solicita que os alunos marquem os paralelogramos. A própria pergunta em si já indicou dificuldades, pois alguns alunos fizeram questionamentos indicando que não sabiam o que significava a palavra paralelogramo. A tabela abaixo mostra o percentual de alunos que acertaram parcialmente, acertaram totalmente e erram a questão. Tabela 6 – Resultados apresentados na questão 4 Questão 4 Escolas Acertos parciais Acertos totais Erros A B C D E F G H Total de alunos 7,4% 48% 8,8% 8,3% 32,1% 0% 0% 7,2% 90% 34,4% 47,7% 35,3% 0% 3,1% 2,3% 14,7% 14,8% 18% 10% 62,5% 50% 50% 77,8% Fonte: as autoras 34% 91,2% 91,7% 60,7% A análise dos dados aponta que apenas 7,2%, ou seja, 20 alunos acertaram a questão, o que indica um baixo índice de compreensão sobre as formas geométricas elementares. Segundo relato dos alunos, a maioria nunca ouviu falar em paralelogramo. Essa questão foi a que apresentou maior número de erros. Nas escolas A, G e H nenhum aluno acertou a questão. A questão 5, última do teste para verificação do nível 1, segundo a teoria dos Van Hiele, apresenta cinco figuras e tem como proposta averiguar o conhecimento dos alunos quanto à posição relativa entre retas, solicitando que sejam marcadas as retas paralelas. A tabela abaixo mostra o percentual de alunos que acertaram parcialmente, acertaram totalmente e erram a questão. 12 ISSN: 1981 - 3031 Tabela 7 – Resultados apresentados pelos alunos na questão 5 Questão 5 A Escolas Acertos parciais Acertos totais Erros B C D E F G Total de alunos H 30% 59,4% 45,5% 32,4% 11,1% 40% 17,7% 33,3% 35% 10% 3,1% 16% 14,7% 13,9% 13% 60% 37,5% 47,7% 61,7% 51,9% Fonte: as autoras 44% 67,6% 52,8% 52% 6,8% 5,9% 37% Conforme as respostas apresentadas, nota-se que a maioria dos alunos que errou a questão, demonstrou desconhecimento total de paralelismo entre retas. Segundo Van Hiele é considerado que a aluno alcançou um nível quando ele acerta pelo menos 60% das questões do teste daquele nível, neste caso, quando ele responde corretamente a pelo menos 3 das 5 questões propostas. A tabela abaixo apresenta a quantidade de alunos que atingiram o nível 1 de pensamento geométrico dos alunos entre as escolas pesquisadas, com o objetivo de fazermos uma comparação entre elas. Tabela 8 – Comparativo entre as escolas Escolas Tipo Alunos no nível 1 Alunos que não atingira mo nível 1 Total de alunos Nº Comparativo do nível de pensamento geométrico entre as escolas B C D E F % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % 0 0 2 6,3 2 4,5 2 7,4 11 40,6 6 12 13 38,2 5 13,9 20 100 30 93,7 42 95,5 32 92,6 16 59,4 44 88 21 61,8 31 86,1 A 20 32 44 34 27 50 G 34 H 36 Fonte: as autoras Poder-se-ia dizer que, a partir da análise feita apenas 41 alunos, ou seja, 14,8% atingiram o nível 1, segundo a teoria de Van Hiele. E que dos 277 alunos que fizeram o teste 138, ou seja, 49,8% erraram todas as questões. 13 ISSN: 1981 - 3031 Conforme a propriedade sequencial da teoria de Van Hiele, para progredir de um nível para outro, o aluno deve ter assimilado os conceitos dos níveis precedentes. Em vista dos resultados não terem alcançado o mínimo de 50% dos alunos no nível de Van Hiele 1, não se pode prosseguir com a aplicação do teste do nível 2. Comparando nove escolas, percebe-se que os resultados foram semelhantes em alguns aspectos. Na escola A nenhum aluno atingiu o nível 1. As escolas B, C e D tiveram o resultado bem parecidos, com somente 2 alunos no nível 1 em cada uma dessas escolas, com percentual respectivamente de 6,25%, 4,5% e 7,4%. Nas escolas F e H também os resultados foram parecidos na media dos 12% e 13,9% tendo 6 e 5 alunos atingindo o nível 1, respectivamente. A escola G teve 38,2% de alunos que atingiram o nível 1. E a escola E foi a que alcançou a maior porcentagem de alunos que atingiram o nível 1, com o resultado de 40,6% uma quantidade de 11 alunos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme o exposto, os resultados obtidos mostram a realidade sobre a deficiência do ensino da Geometria em todas as escolas e que em nenhuma se atingiu os 50% de acertos para ser aplicado o teste de nível 2. Percebe-se que fica evidenciado que para esses alunos o ensino da geometria não foi devidamente trabalhado ao longo dos anos escolares em suas jornadas do Ensino Fundamental. Fica também um indicativo do que foi comentado anteriormente, que o ensino da Geometria é colocado em segundo plano e que muitos professores acabam deixando como último assunto e chegam ao final do ano letivo sem ter ensinado os conteúdos de Geometria. No comparativo entre as escolas, a pesar de nenhuma ter atingido um percentual no qual se pudesse dar continuidade à pesquisa e fazer a aplicação do teste de nível 2, ainda sim percebe-se que existe uma disparidade quanto aos resultados de escolas do mesmo município. Enquanto na escola A nenhum aluno conseguiu atingir o nível 1 de Van Hiele, na escola E 40,6% dos alunos conseguiram tal feito. Isso aponta para uma revisão do ensino de Geometria no município e 14 ISSN: 1981 - 3031 também para uma comunicação maior entre todos que compõem as escolas para que se possam discutir melhorias no ensino que venham a colocar os alunos em uma situação mais justa e igualitária. Espera-se que esta pesquisa possa conduzir professores de Matemática a uma reflexão sobre o ensino de Geometria na Educação Básica e fica como proposta para pesquisas futuras um levantamento qualitativo envolvendo professores e alunos do município de Rio Largo para investigar as reais causas do déficit quanto à apropriação dos conceitos geométricos por parte dos alunos, apontado nesta pesquisa. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Cíntia Camilo de Almeida; COSTACURTA Mirtes Simone. Atividades lúdicas para o aprendizado da geometria nos anos finais do ensino fundamental. Relatório de pesquisa - Universidade Comunitária da Região de Chapecó, Chapecó, 2010. Disponível em: < http://www5.unochapeco.edu.br/pergamum/biblioteca/php/imagens/000067/000067B C.pdf > Acesso em: 05 mar 2014. ARAUJO, Wellington Rodrigues de. O ensino do conceito de área no sexto ano noturno do ensino fundamental: uma proposta didática fundamentada na teoria de van Hiele.Maceió. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) – Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2012. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Nacionais: Matemática, V. 2. Brasília: MEC / SEF, 1997. Curriculares FERREIRA, Ana Célia da Costa. Ensino da Geometria no Brasil: Enfatizando o período do movimento da matemática moderna. PUC/PR. 1998. Disponível em: < http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2005/anaisEvento/documentos/painel/T CCI136.pdf> Acesso em: 04 fev 2014 LORENZATO, S. Por que não ensinar geometria? Educação Matemática em Revista - Sociedade Brasileira de Educação Matemática, ano 3, n. 4 – 13, jan./jun. 1995. SANTOS, Marilene Rosa dos. Teoria de van Hiele: Uma alternativa para o ensino da Geometria no 2º ciclo. PUC/SSE-PE.Pernambuco. 15