FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO ANA CLÁUDIA DINIZ TAKAHASHI ANÁLISE DO MODELO DE REMUNERAÇÃO HOSPITALAR NO MERCADO DE SAÚDE SUPLEMENTAR PAULISTANO SÃO PAULO 2011 ANA CLÁUDIA DINIZ TAKAHASHI ANÁLISE DO MODELO DE REMUNERAÇÃO HOSPITALAR NO MERCADO DE SAÚDE SUPLEMENTAR PAULISTANO Dissertação apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas. Área de concentração: Gestão Socioambiental e de Saúde Orientador: Prof. Dr. Álvaro Escrivão Junior SÃO PAULO 2011 ANA CLÁUDIA DINIZ TAKAHASHI ANÁLISE DO MODELO DE REMUNERAÇÃO HOSPITALAR NO MERCADO DE SAÚDE SUPLEMENTAR PAULISTANO Dissertação apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas. Área de concentração: Gestão Socioambiental e de Saúde Data de aprovação: ____/____/________ Banca examinadora: Prof. Dr. Álvaro Escrivão Junior (Orientador) FGV-EAESP Prof. Dr. Luiz Tadeu Arraes Lopes FGV-EAESP Profa. Dra. Cristiana Maria Checchia Saito Universidade Presbiteriana Mackenzie Takahashi, Ana Cláudia Diniz. Análise do Modelo de Remuneração Hospitalar no Mercado de Saúde Suplementar Paulistano / Ana Cláudia Diniz Takahashi. - 2011. 102 f. Orientador: Álvaro Escrivão Junior Dissertação (mestrado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. 1. Sistemas de remunerações salariais. 2. Saúde – Administração – São Paulo (SP). 3. Cadeia de valor. 4. Hospitais – Administração – São Paulo (SP). 5. Serviços de saúde -- Custos. I. Escrivão Junior, Álvaro. II. Dissertação (mestrado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Título. CDU 614.2(816.11) AGRADECIMENTO ESPECIAL Ao Sergio, meu companheiro de vida e exemplo de determinação, pelo apoio, pela compreensão e principalmente por ser a luz no meu caminho. AGRADECIMENTOS A Deus, pela oportunidade de viver essa experiência engrandecedora; À minha família, especialmente: meu pai Paulo Macoto e minha mãe Maria Antonieta, meu irmão Rogério e sua linda família: Flavia e Sofia, meus tios Inês, Roberto e meu primo Gabriel, minha tia Dina: obrigada pela compreensão das minhas ausências e pelo apoio incondicional; Ao Rafael, Carolina, Marcos, Lucas, Daniel e Marina, por serem essas pessoas especiais que nos trazem tanta alegria; Ao meu orientador e amigo, Professor Álvaro Escrivão Junior, pela orientação, pela paciência e por me transmitir confiança e serenidade em todos os momentos; Aos Professores: Cristiana Maria Checchia Saito e Luiz Tadeu Arraes Lopes, pelas importantes contribuições a esse trabalho; Ao Hospital 9 de Julho, especialmente: Luiz de Luca, pela oportunidade e aprendizado tão intensos; Aos amigos Daniela Barone, Marizely Fernandes e Vando Andrade, pela compreensão e amizade; Aos colegas de mestrado, especialmente Ricardo Bessa, Maria Grazia Justa, Marcella Freitas e Mariana Carrera, pela convivência e troca de experiências; À amiga Professora Ana Maria Malik, fonte de inspiração, pela atenção e apoio nos momentos certos; À Leila Dall’Acqua pela alegria contagiante e Isabella Fumeiro por sua valiosa ajuda; Aos entrevistados, pela atenção e cordialidade e por disponibilizarem seu precioso tempo e suas informações, tão importantes para esse trabalho; À CAPES, pela bolsa de estudos. Dedico esse trabalho aos meus queridos pais, exemplos de dedicação e generosidade, que sempre me ensinaram os reais valores da vida e que não mediram esforços para proporcionar a melhor educação possível. me “Seja a mudança que você quer ver no mundo.” (Gandhi) RESUMO Há muito tempo os modelos de remuneração hospitalares e as limitações do fee-forservice são discutidos no Brasil e no mundo. Além disso, o aumento crescente de custos do sistema de saúde suplementar e as queixas incessantes quanto à qualidade da assistência à saúde levaram a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a criar dois Grupos de Trabalho com o objetivo de estudar e desenvolver novos modelos de remuneração, sendo um deles voltado exclusivamente para os hospitais. Tendo isso em conta, essa dissertação buscou analisar os modelos de remuneração hospitalares no mercado de saúde suplementar em São Paulo, com o objetivo de verificar se ainda há predomínio do fee-for-service e se há iniciativas de mudanças. Foram escolhidos sete hospitais privados, cujos gestores responsáveis pelas negociações de forma de pagamento foram entrevistados. Além disso, realizou-se uma entrevista com um dos participantes do Grupo de Trabalho da ANS, representante de uma associação hospitalar, a fim de contextualizar melhor as análises. A partir das percepções dos entrevistados foram identificadas questões importantes para a discussão do tema. Os resultados dessa amostra sugerem que ainda há predominância do fee-forservice nas relações contratuais entre hospitais e operadoras, porém observa-se a presença de modelos alternativos sendo implementados. Não foi possível observar na amostra nenhuma iniciativa de pagamento por performance, embora este modelo esteja muito presente na literatura internacional. Observou-se também que o conflito de interesses entre os diversos elos da cadeia de valor da saúde dificulta as mudanças nos modelos de remuneração. Palavras-chave: remuneração hospitalar, pagamento hospitalar, fee-for-service, pagamento por performance, custos da saúde, cadeia de valor da saúde, saúde suplementar. ABSTRACT Since a long time, the hospital payment models and the fragility of the fee-for-service have been discussed in Brazil and worldwide. Besides this, the increasing costs of private health insurance system and the incessant complaints about the quality of health care, the Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) has created two task groups for studying and developing new models of reimbursement, one of them dedicated exclusively to hospitals. This dissertation analyzes the types of inpatient payment in private health plan market in São Paulo, with the objective of determining if there is predominance of the fee-for-service and if there are change initiatives. Seven private hospitals were selected and the managers responsible for negotiating the payment method were interviewed. Besides this, one of the participants of the task group of the ANS representing hospitals association, were interviewed in order to better contextualize the analysis. Based on the perceptions of respondents, some important issues for the discussion of the topic were identified. The results of this sample suggest that the fee-for-service is predominant in contractual relationships between hospitals and providers, although alternative models were also found. There was no evidence of pay for performance in the sample, despite frequent discussions in international literature. It was also noted that the conflict of interests between the various links in the healthcare value chain hinders changes in payment system. Keywords: hospital reimbursement, hospital payment, fee-for-service, pay for performance, health costs, healthcare value chain, private market. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Cadeia de valor da saúde. Figura 2 - Sistemática de remuneração hospitalar a ser adotada na Saúde Suplementar. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Beneficiários de planos privados de saúde por cobertura assistencial do plano (Brasil – 2000 – 2010). Gráfico 2 - Receita de contraprestações e despesa assistencial das operadoras médico-hospitalares (Brasil – 2003 – 2010). Gráfico 3 - Operadoras de planos privados de saúde em atividade (Brasil – 1999 – 2010). LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Distribuição dos beneficiários de planos privados de saúde entre as operadoras, segundo cobertura assistencial do plano (Brasil - setembro/2010). Tabela 2 - Evolução da distribuição da receita por natureza (em %). Tabela 3 - Sumário dos desenhos de programas de pagamento por performance para hospitais (P4P) - Programas avaliados em revisão de literatura, quanto ao tipo de medida. Tabela 4 - Sumário dos desenhos de programas de pagamento por performance para hospitais (P4P) - Programas avaliados em revisão de literatura, quanto ao tipo de performance avaliada e forma de incentivo financeiro. Tabela 5 - Características dos hospitais pesquisados. Tabela 6 - Características dos entrevistados. Tabela 7 - Número de contratos com operadoras de planos de saúde nacionais e seguradoras internacionais Tabela 8 - Participação do fee-for-service no faturamento dos hospitais estudados, nos últimos 12 meses. Tabela 9 - Modelos de remuneração presentes nos hospitais pesquisados. Tabela 10 - Síntese dos modelos de remuneração hospitalar – vantagens e desvantagens na percepção dos gestores. LISTA DE ABREVIATURAS AIH – Autorização de Internação Hospitalar ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar ANAHP – Associação Nacional de Hospitais Privados CMS – Centers for Medicare and Medicaid Services CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IOM - Institute of Medicine ONA – Organização Nacional de Acreditação OPME - Órteses, Próteses e Materiais Especiais PHQID – Premier Hospital Quality Incentive Demonstration PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio P4P – Pay for performance PQSS – Programa de Qualificação em Saúde Suplementar SUS – Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 17 2 PERGUNTA DE PESQUISA 19 2.1 Objetivo Geral 19 2.2 Objetivos Específicos 19 3 REFERENCIAL TEÓRICO 20 3.1 Mercado de saúde suplementar 20 3.2 Cadeia de valor da saúde 22 3.2.1 A organização hospitalar 24 3.2.2 Operadoras de planos de saúde 25 3.3 Remuneração 30 3.4 Remuneração hospitalar 33 3.4.1 Fee-for-service 34 3.4.2 Alternativas ao fee-for-service 37 3.4.2.1 Modelos pré-pagamento ou prospectivos 37 a. Procedimento gerenciado (pacote) 37 b. Diária global 38 c. Grupos de Diagnósticos Homogêneos 39 d. Capitation 42 3.4.2.2 Formas mistas a. Pagamento por performance (P4P) 3.5 Os modelos de remuneração e a cadeia de valor 4 METODOLOGIA 44 44 52 54 4.1 Pesquisa bibliográfica 54 4.2 Delimitação da população 54 4.3 A amostra 55 4.4 Método de coleta de dados 56 4.5 Entrevistados 58 4.6 Análise dos dados 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 59 61 5.1 Grupo de Trabalho da ANS 63 5.2 Modelos de remuneração predominantes 66 5.2.1 Fee-for-service 66 5.2.2 Outros modelos 67 5.3 Alternativas ao fee-for-service 70 5.4 Percepção dos gestores quanto aos modelos vigentes 74 5.5 Relação Operadoras e Hospitais 77 5.6 Relação Hospitais e Médicos 79 5.7 Percepção dos gestores quanto à mudança de modelo 81 5.8 Cadeia de valor centrada no paciente 83 5.9 Perspectivas do pagamento por performance hospitalar 85 6 CONCLUSÃO 89 7 SUGESTÕES DE PESQUISA 93 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 94 9 APÊNDICES 99 17 1. INTRODUÇÃO Há muito tempo discute-se o modelo de remuneração dos serviços hospitalares no Brasil e no mundo. Alguns países inovaram, buscando estimular a eficiência do processo hospitalar e desestimular o desperdício ou o uso indiscriminado dos recursos. No Brasil, apesar das limitações do setor público, o SUS estabeleceu o pagamento pelo valor médio definido por procedimento (AIH) em 1982 (BRASIL, 2010), como alternativa ao modelo de remuneração item a item. No estudo de Furlan (1999), observou-se que, na quase totalidade do sistema privado de saúde brasileiro do final dos anos 90, o modelo de repasse financeiro às unidades assistenciais era constituído pelo pagamento itemizado (fee-for-service). Apesar das críticas, o pagamento itemizado era o método consagrado para o repasse financeiro no setor privado com a aprovação de muitas das fontes pagadoras no Brasil: as medicinas de grupo, as seguradoras, as cooperativas médicas, as auto-gestões e as administradoras de planos de saúde. A principal crítica ao modelo itemizado é a sua potencialidade para gerar um estímulo à sobreprestação de serviços, principalmente dos mais rentáveis, pois quanto mais procedimentos o hospital realizar, mais ele receberá (SEIXAS, 1994). Em função das críticas que vem recebendo, segundo Vecina Neto e Malik (2007) “desde os anos 1980, pelo menos, vê-se a busca por novos modelos, decretando-se internacionalmente, pelo menos no discurso, a falência do modelo fee-for-service, também utilizado no Brasil”. Passados muitos anos, o assunto ainda é amplamente discutido e diante da realidade de gasto crescente na área da saúde suplementar, as fontes pagadoras buscam constantemente alternativas que permitam um maior controle dos custos. De 2003 a 2009, houve um crescimento de 126% nas despesas assistenciais das operadoras de planos de saúde (ANS, 2010). Suas ações de controle dos custos sobre os prestadores de serviços são praticamente dirigidas para o gasto hospitalar, que representa o maior percentual de todas as despesas. 18 Os dados de assistência hospitalar prestada a beneficiários de planos privados de saúde no Brasil em 2009 foram de 4.786.736 internações, o que representa uma taxa de internação de cerca de 13% dessa população (ANS, 2010). Essa taxa no mercado privado permanece estável ao longo dos anos, porém, ela cresce em números absolutos e também no gasto médio1 em relação aos anos anteriores. Se compararmos o gasto médio com internação hospitalar de 2008 para 2009, houve um aumento de 10% o que justifica ainda mais as preocupações do setor de saúde com os modelos de remuneração e práticas assistenciais atuais. Frente ao exposto, apesar de ser considerado um modelo de pagamento inadequado, poucas iniciativas são observadas no sentido de resolver esse impasse no mercado hospitalar privado de saúde no Brasil. No início de 2010, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) criou dois Grupos de Trabalho relacionados aos modelos de remuneração do setor de saúde suplementar: um sobre Remuneração de Hospitais e um sobre Honorários Médicos. O Grupo de Trabalho de Remuneração de Hospitais é formado por representantes de entidades hospitalares e de operadoras de planos de saúde e tem como objetivo definir um novo modelo de remuneração dos hospitais que atuam na saúde suplementar. Neste estudo pretende-se analisar os modelos de remuneração dos hospitais privados do município de São Paulo, a fim de descrever o que predomina atualmente e conhecer possíveis iniciativas de mudança. ________________________ 1 Segundo a ANS (2010), gasto médio é o custo médio por item de despesa (internações, consultas) das operadoras, calculado como a relação entre a despesa nesses eventos e o número de eventos (informados ao Sistema de Informações de Produtos - SIP). 19 2. PERGUNTA DE PESQUISA 1. O modelo predominante no pagamento dos hospitais privados de São Paulo ainda é o fee-for-service? 2. Existem modelos de remuneração alternativos ao fee-for-service nos hospitais estudados? 2.1 Objetivo Geral O objetivo geral do estudo é verificar o provável predomínio do modelo de pagamento fee-for-service nos hospitais privados do município de São Paulo e identificar eventuais formas de remuneração alternativas a este modelo. 2.2 Objetivos Específicos • Conhecer as formas de remuneração do serviço hospitalar no mercado privado do município de São Paulo. • Conhecer a avaliação dos gestores dos hospitais sobre os modelos de pagamento vigentes. • Identificar a existência de pré-disposição dos gestores dos hospitais para a mudança do modelo de remuneração. • Identificar o conhecimento e a avaliação que fazem dos modelos de pagamento praticados em outros países. • Conhecer a avaliação dos gestores hospitalares quanto à relação dos modelos de remuneração dos hospitais e a qualidade do serviço prestado. 20 3. REFERENCIAL TÉORICO TÉORI 3.1 Mercado de saúde suplementar O número de beneficiários no mercado de saúde suplementar encerrou o terceiro trimestre de 2010 com 44,8 milhões de vínculos a planos de assistência médica privada a e 13,9 milhões a planos exclusivamente odontológicos (Gráfico 1). Mantido o ritmo verificado até setembro, o ano de 2010 deverá registrar o maior crescimento de beneficiários em planos de assistência médica em dez anos (ANS, 2010). Gráfico 1: Beneficiários de planos privados de saúde por cobertura assistencial do plano (Brasil – 2000 – 2010). Fonte: Caderno ANS, dezembro de 2010. Apesar de apenas 24% da população brasileira ter acesso aos planos de saúde privados (IBGE – PNAD, 2008), 2008) o mercado de saúde suplementar movimenta uma quantidade de recursos extremamente relevante. No ano de 2009,, a receita das operadoras médico-hospitalares médico hospitalares cresceu 8,6% em relação ao ano anterior, atingindo R$ 64,2 bilhões. Ass despesas assistenciais tiveram crescimento percentualmente maior (12,2%),, chegando a R$ 53,3 bilhões. 21 Considerando esses números, houve um aumento da sinistralidade2, que nesse período totalizou 83%, como podemos observar no Gráfico 2 abaixo. Gráfico 2: Receita de contraprestações e despesa a assistencial das operadoras médico-hospitalares hospitalares (Brasil – 2003-2010). Fonte: Caderno ANS, dezembro de 2010. O cenário da saúde suplementar nas regiões do o Brasil é bastante heterogêneo. A região sudeste é a que possui maior participação de beneficiários beneficiários com planos de saúde. E dentro da região, a cidade de São Paulo é a que apresenta a maior taxa de cobertura3 em saúde suplementar do país, com 58,8% da população coberta para assistência médica privada com ou sem odontologia (ANS, 2010). _____________ 2 Sinistralidade: Relação, expressa em porcentagem, entre a despesa assistencial e a receita de contraprestações das operadoras (ANS, 2010). 3 Taxa de cobertura: Razão, expressa em porcentagem, entre o número de beneficiários e a população em m uma área específica. Como um indivíduo pode possuir mais de um vínculo a plano de saúde e estar presente no cadastro de beneficiários da ANS tantas vezes quanto o número de vínculos que possuir, o termo cobertura é utilizado como um valor aproximado (ANS, 2010). 22 3.2 Cadeia de valor da saúde A combinação de altos custos, qualidade insatisfatória e acesso limitado à assistência à saúde tem criado ansiedade e frustração em todos os participantes dessa cadeia: pacientes, empregadores, prestadores, planos de saúde e fornecedores de medicamentos e equipamentos (PORTER, 2007, p. 19). Para explicar a competitividade entre empresas e a vantagem competitiva que uma tem sobre a outra, Porter (1989) dividiu uma unidade empresarial em atividades de valor, o que ele denominou cadeia de valor (PORTER, 1989, p. 33). Assim, a cadeia de valor de uma empresa é o conjunto de atividades que operam de forma a adicionar um valor para o comprador do produto ou serviço. Na concepção de Porter (1989, p. 46), a cadeia de valor existe não apenas dentro da empresa, mas também envolve os fornecedores e os consumidores, criando um “sistema de valores”. A vantagem competitiva provém, então, não somente das atividades internas à cada empresa, mas também da união de atividades com outras empresas da indústria. A este conjunto de empresas que participam da transformação de um produto ou serviço, Porter (1989) denomina “sistema de valores”. O termo “cadeia de valor” é também utilizado neste mesmo sentido. Portanto, ao se falar em “cadeia de valor da saúde”, faz-se uma referência a todas as empresas que participam na agregação de valor desta indústria. A cadeia de valor tem o foco na adição de valor que ocorre em cada elo da cadeia produtiva. Em um mercado normal, a competição gera melhorias contínuas em qualidade e custos. As inovações levam a rápida difusão de novas tecnologias, os preços ajustados à qualidade caem, o valor melhora e o mercado se expande para atender às necessidades de mais consumidores. 23 A competição na assistência à saúde não está seguindo essa evolução observada em outros mercados. Os custos estão sempre crescendo apesar do grande esforço para controlá-los; os problemas de qualidade continuam sempre presentes; a inovação tecnológica se difunde lentamente e não gera melhorias – pior – muitas vezes é visto como causa do problema. Os participantes competem na transferência de custos, uns para os outros, no acúmulo do poder de barganha e na limitação dos serviços (PORTER, 2007, p. 21). Ainda segundo Porter (2007, p. 79), num mercado competitivo, a difusão da tecnologia e a crescente oferta desses serviços causam a queda dos seus preços com o passar do tempo. Contudo, na assistência à saúde, os preços não são reduzidos porque os pacientes não são sensíveis a preço; os pagamentos pelas seguradoras são baseados nos preços de costume, ainda que os custos baixem; e os resultados dos tratamentos não são medidos nem comparados (PORTER, 2007, p. 79). Dessa forma, observa-se que a cadeia de valor da saúde, devido à desintegração existente, tem gerado prejuízo para o valor ao paciente (Porter, 1989). Visando entender um pouco mais as relações entre os elos da cadeia de valor da saúde (Figura 1), e tendo como foco deste trabalho a remuneração hospitalar, serão melhor caracterizados: os prestadores (hospitais) e os financiadores (operadoras de planos de saúde). Figura 1: Cadeia de valor da saúde Fonte: BURNS, 2002. 24 3.2.1 A organização hospitalar As origens da organização hospitalar, em seu perfil contemporâneo, advém da Idade Média. Segundo Foucault (1979), a medicina nesta época não era uma prática hospitalar e o hospital não era uma instituição médica, sendo até o século XVIII um local essencialmente de assistência aos pobres. Até meados do século XVIII, quem detinha o poder era a parcela das lideranças religiosas, raramente leigas, destinadas a assegurar a vida cotidiana do hospital, bem como a “salvação e a assistência alimentar das pessoas internadas” (FOUCAULT, 1979, p. 108). Todavia, “a partir do momento em que o hospital é concebido como um instrumento de cura e a distribuição do espaço torna-se um instrumento terapêutico, o médico passa a ser o principal responsável pela organização hospitalar” (FOUCAULT, 1979, p. 109). Neste raciocínio, considerando o regime alimentar e as medicações como fatores de cura e, considerando o médico como principal responsável pelo controle destes itens, tem-se que o médico passa a ser, direta e indiretamente, economicamente responsável pela viabilidade do hospital. Foi este o contexto em que os hospitais foram criados, dando forma às relações sócio-econômicas que se encontram atualmente nas instituições hospitalares. Destaca-se a definição de hospital proposta pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, apud BRASIL,1998): São todos os estabelecimentos com pelo menos 5 leitos, para internação de pacientes, que garantem um atendimento básico de diagnóstico e tratamento, com equipe clínica organizada e com prova de admissão e assistência permanente prestada por médicos. Além disso, considera-se a existência de serviço de enfermagem e atendimento terapêutico direto ao paciente, durante 24 horas, com disponibilidade de serviços de laboratório e radiologia, serviço de cirurgia e/ou parto, bem como registros médicos organizados para a rápida observação e acompanhamento dos casos. 25 Muito tempo passou e algumas mudanças foram acontecendo nos modelos hospitalares. Entre as principais transformações que ocorreram após os anos 1950, destaca-se o crescimento de hospitais lucrativos. No Brasil, tais hospitais foram constituídos por grupos de médicos com financiamento para investimentos do governo federal e custeio do seguro social. Somando-se aos hospitais públicos, existe uma grande diversidade entre as formas jurídicas dessas instituições e suas formas de remuneração (ANDREAZZI, 2003). Podemos destacar, então, que os prestadores de serviços, incluindo os hospitais e os médicos, são elos muito importantes da cadeia de valor da saúde, sendo considerados como “os atores centrais do sistema de saúde e responsáveis pela maior parte do valor entregue aos pacientes” (PORTER, 2007, p.139). De acordo com a Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária do IBGE entre 2002 e 2005, o número de hospitais no Brasil reduziu de 7397 para 7155, o que corresponde a um longo processo de fechamento de hospitais privados no pais, que se inicia na segunda metade dos anos 80. Mesmo considerando a forte queda registrada nos últimos anos, a maioria dos leitos hospitalares (66,4%) do país pertencia a hospitais privados em 2005, mas essa proporção deverá continuar a diminuir com o tempo. Essas tendências fazem com que a busca por novos modelos de financiamento nos hospitais seja uma grande preocupação dos tomadores de decisão (MEDICI, 2011, p.50). 3.2.2 As operadoras de planos de saúde A ANS define como Operadoras de Planos de Assistência à Saúde, empresas e entidades que operam, no mercado de saúde suplementar (Lei 9656/98 - Artigo 1o, Inciso II): Operadora de Plano de Assistência à Saúde: pessoa jurídica constituída sob a modalidade de sociedade civil ou comercial, cooperativa, ou entidade de autogestão, que opere produto, serviço ou contrato de assistência à saúde (BRASIL, 1998). 26 As operadoras são um importante elo na cadeia de valor da saúde, no que concerne à saúde suplementar. Não se pretende aqui detalhar a atuação destas, mas levantar importantes aspectos na sua relação com os hospitais. A segmentação dos planos de assistência médica corresponde aos diversos tipos de cobertura – ambulatorial, hospitalar com e sem obstetrícia, cujas exigências mínimas são reguladas pela ANS. Os planos são classificados quanto à forma de contratação: individual ou familiar (contrato entre um indivíduo e uma operadora para assistência à saúde do titular do plano e seus dependentes) e coletivo (contrato entre uma pessoa jurídica e uma operadora para assistência à saúde da massa de empregados ativos e inativos). Os planos coletivos com patrocinador podem ser pagos total ou parcialmente pela pessoa jurídica, incluindo os contratos em que o beneficiário paga parcialmente a mensalidade. Os planos coletivos sem patrocinador são pagos integralmente pelo beneficiário à operadora. Finalmente, a categoria de planos de saúde antigos se refere aos contratos firmados até 01 de janeiro de 1999, antes da regulamentação da ANS e que ainda não foram adaptados aos novos padrões. O número de operadoras de planos privados de saúde tem reduzido nos últimos anos, com a diminuição do número de novos registros e o aumento do número de cancelamentos, embora o número de operadoras médico-hospitalares com beneficiários venha apresentando estabilidade ao longo dos últimos anos, como podemos observar no gráfico 3 (ANS, 2010). Gráfico 3: Operadoras de planos privados de saúde em atividade (Brasil – 1999 – 2010). 27 Fonte: Caderno ANS, dezembro de 2010. Das operadoras de planos privados de saúde 1.061 têm beneficiários beneficiá em planos de assistência médica. Entretanto, observa-se observa se concentração de beneficiários em poucas operadoras. doras. Na assistência médica, 352 operadoras detêm 90% dos beneficiários e os restantes 10,0% estão diluídos em 709 operadoras (Tabela 1). Tabela 1 - Distribuição dos beneficiários de planos planos privados de saúde entre as operadoras, segundo cobertura assistencial do plano (Brasil - setembro/2010). Fonte: Caderno ANS, dezembro de 2010. 28 Silva (2003) afirma que a atuação das operadoras de planos de saúde sempre esteve exageradamente vinculada à supremacia dos interesses econômicos e arriscadamente afastada das políticas de saúde e da mensuração da qualidade da assistência prestada. Os contratos entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços não levam em consideração os aspectos de qualidade assistencial, e sim a capacidade de vendas que o credenciamento de um prestador de serviços possa gerar para a operadora de planos de saúde. De fato, até 1999, as operadoras se aproveitaram de uma posição confortável no mercado: tinham rendimentos financeiros e repassavam os custos da assistência para os consumidores finais. Entretanto, a relação operadoras – prestadores sofreu mudanças por meio da Lei no. 9.656/98, que passou a regulamentar o setor suplementar de saúde, e da Lei no. 9.961/00, que criou a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Estas regulamentações visaram criar condições para proteger os usuários finais. Assim, a regulamentação ocasionou o surgimento de regras com grande impacto no setor, a saber (SILVA, 2003): a) Ampliação das coberturas assistenciais, não admitindo qualquer tipo de exclusão ou de exceção, mesmo em planos exclusivamente ambulatoriais, o que levou ao atendimento de uma demanda maior por procedimentos de complexidade, antes realizados no setor público; b) Expansão dos direitos dos usuários e proibição de rompimento unilateral dos contratos nos planos individuais, proibição da recontagem dos prazos de carência, da seleção de risco e da exclusão indiscriminada de usuários. Mesmo os contratos antigos foram incluídos nessa nova regra que proíbe rescisão unilateral; c) Monitoramento de preços e das condições de reajuste, com regras de proteção ao consumidor. Retiram-se, então, as possibilidades de recuperação do equilíbrio econômico nas bases antes realizadas, ou seja, utilizando o realinhamento da receita por meio de reajustes por desequilíbrio ou por sinistralidade, redução da massa de expostos, exclusão dos contratos 29 deficitários e de maiores controles de acesso e cobertura assistencial; d) Estabelecimento do pagamento de multas pelo não cumprimento contratual e pela desobediência da legislação regulamentadora; e) Exigências de solidez empresarial, impedindo operadoras de recorrer à concordata e de seus credores pedirem falência. As operadoras somente podem ser liquidadas a pedido da ANS, e também estão sujeitas à constituição de reservas e garantias de capacidade econômico-financeira para cumprimento dos contratos. Essas medidas resultaram em elevação dos custos para as operadoras. Sem os rendimentos do mercado financeiro, somado à ampliação da cobertura e à restrição dos reajustes, as operadoras se viram numa situação desfavorável, reduzindo suas margens. As soluções a curto prazo encontradas foram focadas nos prestadores de serviços, pressionando-os para a redução de custos, o que levou a um relacionamento conflituoso entre as partes. Houve, então, a necessidade de rigorosa auditoria sobre os gastos, o que ocasionou aumento de glosas e novas configurações de pagamento aos prestadores de serviço. 30 3.3 Remuneração Um sistema de remuneração é constituído por um conjunto de procedimentos para o pagamento do trabalho a determinadas pessoas ou grupos de pessoas, comportando formas variadas. Sejam quais forem os princípios que norteiam sua elaboração, podem ser um meio de controlar o comportamento dos membros da organização, com o objetivo de atingir uma estrutura orgânica que funcione com eficácia. Além disso, eles podem ser um modo de garantir que a empresa realize suas tarefas de tal maneira que possa alcançar seus objetivos (CHERCHIGLIA, 1994). A maioria dos trabalhos atuais que trata do tema da remuneração de serviços de saúde aborda-o segundo a teoria econômica convencional. Esta analisa a relação econômica a partir do indivíduo livre e igual, seja ele produtor ou consumidor de bens e serviços. Ambos são capazes de ter decisões racionais a partir de um determinado nível de informação acessível, tendo como objetivo a maximização de sua utilidade: para os produtores, o lucro; para os consumidores, os benefícios a serem obtidos dentro de seus limites orçamentários (ANDREAZZI, 2003). Além disso, é importante considerar características específicas do setor de saúde, que podem interferir de alguma forma nas relações de remuneração: a) assimetria de informação – os consumidores possuem pouca informação relativa aos produtores: “[...] os pacientes poderiam aceitar, ou até mesmo demandar, tratamentos que não comprariam se completamente informados, mas que são vantajosos, financeiramente, para os profissionais médicos [...]” (MUSGROVE, 1999, p. 84) ou para a indústria produtora. b) existência de externalidades – muitos dos cuidados à saúde, como os preventivos e o tratamento de doenças infecto-contagiosas, possuem benefícios que extrapolam o indivíduo, tornando muitas vezes difícil que os consumidores se disponham a pagar por eles no nível que seria adequado, como por exemplo, no caso de campanhas de vacinação (MUSGROVE, 1999). 31 c) presença do terceiro pagador – ou seja, o fato do indivíduo ter um seguro leva a consumo maior de serviços sem necessidade. O consumidor nesse caso não tem as restrições orçamentárias clássicas da compra direta. d) presença de inúmeras instituições não-lucrativas – nesse caso, ocorrem aumentos inflacionários dos custos do sistema, impulsionados por outros objetivos diferentes do lucro para os produtores de serviços de saúde. Os estudos dessas organizações sugerem a maximização do rendimento individual dos médicos que atuam no hospital, bem como a viabilização dos interesses estratégicos de outros agentes econômicos que fazem parte dessas instituições. Além disso, existem também características relacionadas aos seguros, que interferem nos tipos de remuneração, como por exemplo: a) Risco moral (moral hazard) – possibilidade do segurado comportar-se diferentemente porque tem seguro, ou seja, consumir mais serviços ou aqueles mais complexos do que o necessário (exemplo: investigação ambulatorial realizada em regime de internação, sem necessidade específica) e reduzir auto-cuidados preventivos. b) Seleção adversa – seleção de pacientes complexos, adversos ao interesse das seguradoras, em razão da percepção do usuário quanto aos próprios riscos de saúde. c) Seleção de risco (cream-skimming) – para resguardar-se da falha anterior, as seguradoras desenvolvem sistemas para filtrar indivíduos ou condições especiais de alto risco (como os idosos ou os portadores de doenças graves), aumentando seus gastos administrativos e criando barreiras para a admissão. Isso é particularmente caro para candidatos individuais ao seguro e não quando este cobre grupos populacionais nos quais a possibilidade de seleção adversa é menor e, portanto, o prêmio pode ser mais barato. 32 Uma das conseqüências dos problemas indicados acima é a iniqüidade da atenção, pois os indivíduos de maior risco são aqueles que maior probabilidade têm de não obter seguro ou de obtê-lo por um preço inacessível. Newhouse (1996) afirma em seus estudos da economia dos seguros que o trade-off clássico ocorre entre a seleção de risco e o risco moral. Ou seja, maior cobertura oferecida pelo seguro gera menor risco para o segurado, porém pode induzir mais intensamente ao risco moral. Quanto maior a cobertura, mais o usuário pode utilizar de serviços sem necessidade. Outro trade-off proposto pelo autor está relacionado à eficiência de produção do hospital e a seleção de riscos. Nesse caso, a relação está intimamente ligada às formas de remuneração dos prestadores, pois se considerarmos as formas prospectivas - aquelas em que o valor a ser pago é previamente acordado - há maior estímulo para a busca de eficiência por parte dos prestadores, porém pode ser gerada seleção de casos menos complexos, evitando aqueles que possam necessitar de mais recursos. Quanto menos recurso o hospital utilizar na prestação de serviços, maior será sua margem de contribuição e portanto maior o risco de subtratamentos aos casos complicados. Para essas e outras imperfeições do mercado, foram criados os incentivos. Estes aparecem como mecanismos regulatórios que, entendendo o modo de operação de um determinado mercado e identificando suas “imperfeições”, pretendam que os agentes comportem-se segundo objetivos definidos. Quanto à relação dos financiadores com os prestadores de serviço, duas têm sido as formas de tratar o risco: a retenção total do risco pelo financiador, associado a um controle gerencial da utilização de serviços, e a transferência desse risco (também chamada de compartilhamento de riscos). Nesse caso, um ambiente competitivo determina o conflito entre os diversos atores (seguradoras e prestadores de saúde), para saber quem arcará mais com os riscos e prejuízos. No final, o lado menos favorecido acaba ficando com todo o risco, chegando até mesmo a prejudicar a qualidade da atenção prestada aos pacientes (ANDREAZZI, 2003). 33 3.4 Remuneração Hospitalar De modo geral, os modelos de remuneração hospitalares ou as transferências financeiras dividem-se em (ROBINSON, 2001; ANDREAZZI, 2003): a) pós-pagamento ou retrospectivo: modo em que o valor a ser pago é definido após a produção efetiva do serviço; b) pré-pagamento ou prospectivo: modelo em que é calculado um valor prévio independente da produção, com base em variados critérios, em geral populacionais; c) formas mistas em que, a partir de uma lógica de base, introduzem-se elementos para corrigir ou promover determinados objetivos gerenciais. Essa classificação geral, por sua vez, apresenta especificidades, conforme se trate do financiamento dos médicos e de instituições, como os hospitais. Na relação entre os financiadores e prestadores, os mecanismos de remuneração e uso dos serviços médicos ou hospitalares definidos nos contratos determinam a estrutura dos incentivos do mercado de saúde suplementar (WANICK, 2000). Com relação à remuneração pelos serviços prestados de um hospital, Andreazzi (2003) afirma que a modalidade mais tradicional e freqüente é o pagamento por produção de serviços, também conhecido como fee-for-service ou “conta aberta”. Entretanto, devido à busca por redução de custos, as operadoras, juntamente com os prestadores, têm criado novas formas de pagamento, como a diária global de internação, que constitui na precificação única de um conjunto de serviços hospitalares. (SILVA, 2003). Uma outra forma usual de remuneração são os “pacotes”, que são preços fixos por determinados procedimentos, geralmente de baixa complexidade e baixa variabilidade. Nestes casos, os custos adicionais ao preço fixo frequentemente são pagos pelo próprio prestador (OKAZAKY, 2006). Percebe-se, então, que a cadeia de valor da saúde, no que se refere ao pagamento, passa por um momento de adequação frente à restrição do repasse de custos aos 34 compradores de serviços. E que, nesta relação, os prestadores de serviços são o foco das pressões por reduções de custos. Para a descrição das formas de remuneração hospitalar, será estabelecida uma divisão entre: a) fee-for-service (pós-pagamento) e b) modelos alternativos (pré-pagamento e formas mistas). 3.4.1 Fee-for-service O sistema de pagamento mais tradicionalmente utilizado para remuneração do trabalho médico e de serviços hospitalares é o pagamento por procedimento individual, item a item. Do ponto de vista profissional, este modelo tem a justificativa de permitir uma preocupação integral do médico com o paciente, permitindo ofertarlhe tudo que seja necessário, sem qualquer restrição, já que o pagamento é realizado após a prestação do serviço, modelo chamado de retrospectivo (ROBINSON, 2001). O modelo de remuneração item a item no hospital ocorre com base em uma tabela composta de diárias, taxas de sala, procedimentos de enfermagem, taxas de uso de equipamentos, gasoterapia, exames, tratamentos, materiais de consumo, medicamentos utilizados durante o atendimento ao paciente internado, além dos honorários médicos. Esse método pode gerar um estímulo à sobreprestação de serviços, particularmente dos procedimentos mais rentáveis, sem necessariamente favorecer melhoria da qualidade ou de eficiência. Além disso, por parte das fontes pagadoras, permite uma menor previsibilidade de gastos (SEIXAS, 1994). Consequentemente, a sobre-utilização dos serviços de saúde implica no aumento dos preços unitários dos planos de saúde, contribuindo com a exclusão de potenciais beneficiários do mercado de saúde suplementar, ocasionado a redução do nível de bem–estar social (WANICK, 2000). 35 Outro ponto importante é que o pagamento do serviço hospitalar por essa modalidade foi sendo distorcido com o tempo, o que gerou uma dissociação em relação aos preços de cada item e os custos de sua prestação. Ou seja, ao longo das duas últimas décadas, vem ocorrendo uma contenção dos valores das diárias e das taxas hospitalares frente a um aumento significativo dos preços de insumos (materiais, medicamentos, órteses, próteses e materiais especiais – OPME), onde está concentrada a principal parcela das margens dos hospitais (Tabela 2). Diante dessa situação, foi gerado um estímulo para o uso de insumos, acarretando aumento dos custos assistenciais e desvio de parte dos recursos disponíveis, que poderia ser destinada, por exemplo, aos honorários médicos (ANS, 2010). Tabela 2: Evolução da distribuição da receita por natureza (em %). Fonte: Observatório ANAHP, Ed.2, 2010. Outro ponto crítico para a distorção do modelo são as dificuldades que os prestadores têm de conseguir reajuste na tabela de diárias e taxas. Como coloca Silva (2003) os reajustes de preços “constituíram um processo desgastante e estressado. Foram sendo postergados ano a ano, ampliando o espaço entre um e 36 outro, até a eliminação do conceito de data-base e a perda da referência de reajuste anual.” Segundo Campos (2004), o reajuste de preço é uma questão que merece atenção especial da ANS, pois nem sempre é definido em contrato. As operadoras praticam reajustes de preços embasados nos índices autorizados pela ANS para os planos individuais e mediante negociação para os planos coletivos, porém, “as operadoras não possuem normas claras que definam a sistemática de reajustes de preços com os prestadores de serviços”. Silva (2003) acredita que as diárias e taxas possuem uma das mais defasadas remunerações, entre os diversos serviços realizados pelos prestadores. Para a instituição prestadora, no fee-for-service prevê-se os seguintes incentivos perversos: a) hospitalizações desnecessárias; b) aumento do tempo de permanência, com impactos sobre custos e qualidade, no caso de exposição desnecessária a riscos intra-hospitalares; c) superprodução de serviços e fraudes no pagamento por ato. Para os financiadores, ocorre a imprevisibilidade orçamentária. Embora o pagamento por diária seja administrativamente simples, no caso do pagamento por ato há a necessidade de desenvolvimento de sistemas minuciosos de informação e auditoria, freqüentemente conta a conta. É neste âmbito que surge o conflito de interesses entre operadoras e prestadores de serviços de saúde. Neste modelo de remuneração, os eventos que representam custos para operadora representem receita para os prestadores de serviços de saúde. Semelhantemente, o que representa custo para os beneficiários e para os empregadores, representa receita para as operadoras de planos de saúde. Deste modo, o conflito de interesse se concretiza nas relações contratuais das operadoras com os prestadores de serviços de saúde e beneficiários/empresas à medida que as ações estratégicas que administram estes contratos possuem sentidos opostos (WANICK, 2000). 37 3.4.2 Alternativas ao fee-for-service 3.4.2.1 Modelos pré-pagamento ou prospectivos Uma alternativa ao modelo de pagamento retrospectivo fee-for-service são os modelos pré-pagamento ou prospectivos. Os principais exemplos para esse modelo no mercado hospitalar são: procedimento gerenciado (pacote), diária global, grupos de diagnósticos homogêneos (GDH) e capitation. Esses modelos parecem interessantes para estimular a eficiência dos prestadores, porém, podem gerar novos problemas principalmente para os usuários. Segundo Robinson (2001), os movimentos para remuneração pré-pagamento aumentam os incentivos a sub-tratamentos e seleção de risco. Porém, todo movimento compensatório para remuneração pós-pagamento revive o tradicional incentivo por estilos de práticas inconseqüentes de custos. Dessa forma, esse trade-off entre eficiência e seleção precisa ser quebrado por um outro modelo de remuneração, por exemplo os modelos mistos. A seguir, serão apresentados os principais modelos alternativos ao fee-for-service no mercado hospitalar, identificados em literatura. a. Procedimento gerenciado (pacote) O procedimento gerenciado é o pagamento a partir da composição de um “pacote” de serviços, geralmente para procedimentos cirúrgicos. Nesse modelo, há um agrupamento de todos os itens utilizados em média na assistência ao paciente (diárias, materiais, medicamentos, taxas, entre outros) com definição de um preço único para o “pacote” de determinado procedimento. Estabelece-se um protocolo de utilização dos recursos, principalmente os de alto custo, que deve ser seguido pelos médicos para a maioria dos casos. Quando ocorre uma intercorrência na internação do paciente, consumindo muito mais recurso do que o previsto no “pacote”, o prestador e a fonte pagadora negociam o pagamento do excedente por meio de justificativas médicas. 38 Sobre o uso dos pacotes, Silva (2003) diz que se tratam de “Procedimentos de Preços Previsíveis”, geralmente utilizados em procedimentos de menor complexidade. Para ter sucesso nesse modelo, é importante que o hospital tenha experiência com a realização dos procedimentos cirúrgicos a serem “empacotados” pois se não houver histórico de realização ficará difícil de o prestador definir o protocolo de utilização dos recursos, o que acarretará grande risco para este. Outro ponto importante é o envolvimento do corpo clínico do hospital na formatação deste produto, já que a eficiência do hospital depende completamente dos médicos cumprirem os protocolos estabelecidos. Isso faz com que os hospitais de corpo clínico aberto tenham mais dificuldades de implantar os procedimentos gerenciados que os de corpo clínico fechado. Essa forma de remuneração permite uma maior previsibilidade para as fontes pagadoras e divide o risco com os hospitais. Além disso, valoriza mais a eficiência do prestador, deixando de lado a comodidade de utilização de recursos do modelo fee-for-service. Silva (2003) faz uma crítica aos pacotes, decorrentes de sua formatação. Estes deveriam se basear em protocolos clínicos, elaborados pelos médicos especialistas no assunto, mas, “como a aceitação pelos médicos é demorada, a área administrativa acaba se baseando num valor médio.” Como vantagens, o autor destaca a redução de custos e a eliminação de conflitos do sistema de cobrança e pagamento. b. Diária global A diária global segue a mesma lógica do procedimento gerenciado e não deixa de ser um “pacote”. A diferença é que esse modelo é mais utilizado para casos clínicos. Constitui na precificação única de um conjunto de serviços hospitalares, independente da patologia do paciente, compreendendo principalmente: as diárias, 39 os materiais de consumo, os medicamentos, os serviços de enfermagem, a utilização de equipamentos, a gasoterapia, exames, honorários médicos e taxas diversas. Os demais itens da conta hospitalar, como os medicamentos de alto custo, as órteses e próteses, e outros, permanecem sendo cobrados pela conta aberta (SILVA, 2003). A partir do valor negociado, o hospital passa a cobrar apenas a diária global de acordo com o tempo de permanência do paciente e da acomodação em que está internado (enfermaria, apartamento, UTI, entre outros). No caso do pagamento por diárias globais, pode haver redução da intensidade dos serviços, ainda que necessários, ou até mesmo da seleção de riscos, rechaçando a internação de determinadas pessoas ou condições mórbidas que tenham grande probabilidade de elevar o custo real da internação acima do valor da diária negociada (ANDREAZZI, 2003). c. Grupos de Diagnósticos Homogêneos – GDH Os Grupos de Diagnósticos Homogêneos (GDH) ou Diagnosis Related Group (DRG) são uma alternativa para o pagamento itemizado, baseada em um valor global, definido prospectivamente por diagnóstico. Os GDHs constituem um sistema de classificação de pacientes internados em hospitais de casos agudos (internação de até 30 dias), desenvolvido por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. O objetivo inicial da equipe era realizar pesquisa nas áreas de gerência, planejamento e revisão de utilização hospitalar, motivada principalmente pela criação em 1965 do programa MEDICARE. Este determinava que cada hospital pertencente ao programa deveria ter um comitê de revisão de utilização, assim como um programa para essa revisão (MULLIN, 1986). O sistema de classificação buscou correlacionar os tipos de pacientes atendidos pelo hospital com os recursos consumidos durante o período de internação, criando 40 grupos de pacientes coerentes do ponto de vista clínico e similares ou homogêneos quanto ao consumo dos recursos hospitalares (NORONHA, 1991). O desenvolvimento do sistema teve como objetivo inicial permitir a monitoração da qualidade da assistência e utilização dos serviços hospitalares. No final da década de 70, foi adaptado para ser utilizado como base para o pagamento a hospitais do estado de New Jersey, EUA e desde a década de 80 está sendo utilizado também para a remuneração a hospitais que prestam assistência ao MEDICARE (NORONHA, 1991). Dessa forma, os GDHs, definem como produtos hospitalares os pacientes egressos, agrupados de acordo com o perfil de recursos recebidos durante a internação. Este conceito parte do pressuposto que grupos de doentes tenham atributos demográficos, diagnósticos e terapêuticos comuns, que determinariam as condutas médicas adotadas. Assim, o tempo de internação é uma variável dependente de algumas variáveis independentes, tais como: diagnóstico principal, procedimento principal, presença de complicações importantes ou diagnósticos associados, outros procedimentos operatórios, idade do paciente e condição de saída. Os grupos foram delineados a partir da 9ª revisão da CID, envolvendo 23 grandes grupos diagnósticos mutuamente exclusivos e, dentro destes, definidos um total de 467 GDHs. A experiência de Maryland, nos Estados Unidos, mostra um importante avanço com a utilização do modelo de pagamento por grupos de diagnósticos homogêneos (DRG). Desde os anos 70, quando o estado de Maryland desenvolveu o modelo de pagamento por DRG, este experimenta as menores taxas de aumento do custo hospitalar de todo o país (BANCO MUNDIAL, 2010). Os GDHs permitiram ao programa estabelecer um preço razoável para um conjunto essencial de serviços hospitalares. O preço estabelecido para cada GDH reflete o custo dos recursos usados ao tratar cada paciente o que pode assegurar a alocação apropriada de recursos financeiros, assim como o nível adequado de provisão dos serviços. 41 O bom resultado do sistema de Maryland é em grande parte decorrente de duas atividades importantes: a) a recompilação e a publicação sistemática dos dados sobre os resultados dos hospitais; e b) o uso dos GDHs como base para o pagamento dos hospitais e a avaliação de seu desempenho. A utilidade no uso das informações de custo e qualidade emana da capacidade do sistema de GDH em fornecer definições dos produtos associados a atenção hospitalar. Essas definições permitiram aos formuladores de políticas de saúde desenvolver comparações significativas sobre o desempenho relativo de hospitais nos temas de eficiência e qualidade (BANCO MUNDIAL, 2010). Alguns pontos foram levantados por Andreazzi (2003) como críticos a esse modelo. Um deles é que os custos dos diagnósticos podem variar com uma série de fatores como idade do paciente, gravidade do caso e patologias associadas. Para isso, os GDHs norte-americanos prevêem alguns ajustes, como por idade e área geográfica da internação, custos excepcionais e de ensino (UGA, 1994). Outro ponto importante é que os diagnósticos contidos nas tabelas acabam possuindo diferentes taxas de lucro, seja porque a técnica empregada foi modificada, mas a tabela não acompanhou a mudança, seja por distorções, pois tecnicamente é difícil incluir todos os casos em uma mesma lista (BANCO MUNDIAL, 1993, apud ANDREAZZI, 2003). Dessa forma, com o tempo, os prestadores acabam conhecendo quais são os diagnósticos mais vantajosos, o que pode induzir à mudança da informação apresentada ao órgão financiador ou a evitar a internação de pacientes com esses diagnósticos. O sistema de pagamento por GDH pode ter diminuído as taxas de hospitalização e o tempo médio de permanência hospitalar (OMS, 1993). Não se sabe, no entanto, se isso ocorreu devido ao estímulo à mudança de técnicas que desviaram casos para tratamento ambulatorial e domiciliar, inclusive casos graves, o que ocasionou um aumento das taxas de mortalidade para esse nível ou se de fato essa redução se deu como consequência ao uso adequado dos recursos nos tratamentos (OMS, 1993; MOONEY, 1994; UGA, 1994). 42 No estudo de Taheri et. al (1999), os autores verificaram que este modelo permite aos pagadores uma estratégia de direcionar os pacientes de baixo custo para os hospitais com contrato fee-for-service e os pacientes de alto custo para os hospitais onde a remuneração é por GDH, já que neste último, o risco é dividido com o prestador. Apesar dessa consideração, no caso específico desse serviço em Michigan, os dados demonstraram que o centro é rentável e deverá preservar sua missão de atender os casos graves. d. Capitation O capitation é mais freqüente na remuneração do profissional médico do que naquelas voltadas ao hospital ou clínica. Neste modelo, o prestador recebe um valor fixo para cada beneficiário assistido numa determinada região, pela qual passa a se responsabilizar. Todo atendimento desta população fica a cargo do prestador que deve gerenciar a utilização dos recursos em saúde. O risco arcado pelo prestador é maior e necessita de maior controle tanto por parte da operadora quanto do prestador (BALZAN, 2000). A imposição de um limite máximo na lista de pacientes tem sido uma medida tomada para a preservação da qualidade da atenção. Uma outra medida nessa direção é o ajuste da remuneração em função do risco da população, para evitar a seleção de risco. Um exemplo desse modelo seria a definição de taxas de capitação maiores para idosos (ANDREAZZI, 2003). O sistema de capitation é amplamente utilizado pelas empresas americanas de Managed Care Organization - MCO e visa à racionalização do uso de serviços médicos e hospitalares, por meio da utilização de médicos generalistas. Neste modelo, a possibilidade de transferência do paciente para um outro profissional é um incentivo para o desenvolvimento de uma boa relação com ele. Não há necessidade da auditoria de contas e sim de uma avaliação global da atenção prestada àquele grupo. Um dos problemas desse modelo de remuneração é 43 a dificuldade de estabelecer indicadores “positivos” da atenção à saúde, que meçam a saúde da população e não a doença, como tradicionalmente fazem os indicadores de utilização (ANDREAZZI, 2003). No Brasil, as versões mais modernas do método para o pagamento de hospitais são as utilizadas pelo Governo no sistema público de saúde, que procuram elaborar a programação orçamentária com base em objetivos, metas e custos reais e comprometer os repasses efetivos com o cumprimento dessas metas, que tanto podem ser relativas à produtividade quanto à qualidade. A contradição aqui existente é se há comprometimento ou não do financiador não apenas com a garantia do efetivo cumprimento das metas e controle de qualidade e com a garantia de suplementações justificadas. Essa forma incentiva a instituição a se organizar melhor para atender a suas demandas. Permite também a participação do conjunto dos trabalhadores da unidade, assim como da população usuária e do próprio organismo financiador, no planejamento das atividades e no seu controle, sendo, portanto, bastante adequada aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS.) Não elimina os conflitos de interesses dos profissionais e a disputa entre diferentes ideologias; apenas internaliza no hospital essa discussão, tornando-a mais transparente, na medida do efetivo mecanismo de tomada de decisões existente. A aplicação do método dos orçamentos globais não é de todo impossível, mas de mais difícil implementação, quando existem múltiplos financiadores da unidade, em que a demanda e o recurso financeiro que a acompanha são mais incertos. Uma de suas principais virtudes é a previsibilidade de gastos (UGA, 1994). 44 3.4.2.2 Formas mistas a. Pagamento por performance (P4P) A necessidade de melhorar tanto a qualidade quanto a segurança no cuidado em saúde é bastante discutida na literatura. Estratégias tradicionais para estimular essas melhorias incluem: regulação, medidas de desempenho, subsequente feedback e competição de mercado (LINDENAUER, 2007). Existem algumas iniciativas norte-americanas de organizações como Hospital Quality Alliance e Leapfrog Group que buscam incentivar os hospitais a coletar e publicar seus dados de qualidade espontaneamente. Assim, essas organizações foram idealizadas para prover informações aos usuários e dessa forma aumentar os esforços para a melhoria da qualidade do cuidado em saúde. Nesses casos, os modelos de remuneração complementam o modelo com o objetivo de incentivar as melhores práticas. Desde 1999, com a publicação do relatório do Institute of Medicine (IOM) To Err Is Human: Building a Safer Health Care System (Errar é humano: construindo um sistema de saúde mais seguro), a atenção dos reformadores americanos se transferiu para a qualidade e iniciativas que recompensem a qualidade, conhecidas como pagamento por desempenho ou pagamento por performance (P4P). Ocorreu uma mudança importante de mentalidade e segundo Porter (2007) “a redução dos custos, hoje, já não é mais o foco dominante da reforma. Segurança, redução de erros e a qualidade do atendimento foram finalmente trazidos para o palco principal da reforma do sistema de saúde.” Apesar de limitada evidência, a publicação dos indicadores de qualidade do hospital e o pagamento por performance têm sido descritos como os melhores incentivos na busca por melhorias na qualidade assistencial (LINDENAUER, 2007). Segundo Koyama (2007), há uma preocupação em termos de custo assistencial, além da qualidade da assistência nas operadoras, e, se o fator preponderante fosse basicamente o custo, o sistema de capitation seria uma saída para redução das 45 despesas. “Mas, ao se pretender considerar o custo-benefício e a qualidade, é necessária uma nova abordagem. O sistema de pay for performance, que remunera e bonifica os prestadores por critérios estabelecidos de desempenho, permite um melhor alinhamento de interesses entre a operadora e o prestador contratado”, afirma o autor. Assim, quando o prestador que recebe o incentivo financeiro é o hospital e a recompensa ocorre nos processos da organização é esperado que o pagamento motive os administradores a reestruturar processos ou buscar outras formas de proporcionar mudanças de direção (CHRISTIANSON, 2008). Os principais programas descritos na literatura incluem indicadores de processos clínicos, geralmente relacionados a infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva ou pneumonia adquirida, que são condições clínicas definidas pela iniciativa do Centers for Medicare and Medicaid Services (CMS). Os programas também incluem outros indicadores de qualidade, incluindo medidas de resultado (mortalidade pós-cirurgia de revascularização do miocárdio), de custo-eficiência (média de permanência pós-cirurgia), de estrutura (participação do hospital em programas de segurança do paciente), de segurança do paciente (hemorragia pósoperatória), e de experiência do paciente (questionário de satisfação do paciente). Alguns programas comparam o resultado do hospital com uma referência absoluta (exemplo: 85% dos pacientes com infarto agudo do miocárdio receberam ßbloqueador) enquanto outros examinam a performance relativa dos hospitais (exemplo: comparação entre os resultados dos melhores hospitais em prescrição do ß-bloqueador). Os incentivos dos programas geralmente são baseados em bônus, sendo que alguns trabalham também com penalidades (descontos que variam de 1 a 2%) para os piores resultados comparados entre os prestadores, após 3 anos sem demonstrar melhorias. Os bônus variam de 1 a 4%, o que em valores absolutos podem representar de 30 mil a quatro milhões de dólares anuais por hospital (MEHROTRA et al., 2009). 46 Nas tabelas 3 e 4, podemos observar quais os tipos de medidas, ou seja, que tipos de indicadores são utilizados por três grandes programas de pagamento por performance em hospitais nos Estados Unidos. Eles foram identificados na revisão de literatura realizada por Mehrotra et al (2009), na qual os autores buscaram programas com publicações dos efeitos desse método de remuneração nos pacientes internados. Os resultados foram oito artigos que endereçaram os efeitos dos programas a seguir: (1) Blue Cross Blue Shield of Michigan Participating Hospital Agreement Incentive Program; (2) Hawaii Medical Service Association Hospital Quality Service and Recognition P4P Program; e (3) CMS-Premier Hospital Quality Incentive Demonstration (PHQID). Tabela 3 - Sumário dos desenhos de programas de pagamento por performance para hospitais (P4P) - Programas avaliados em revisão de literatura, quanto ao tipo de medida. Tipo de Medida Programa de P4P para Hospital Resultado Blue Cross Blue Shield of Michigan Participating Hospital Agreement Incentive Program Processo Estrutura X X X Hawaii Medical Service Association Hospital Quality Service and Recognition P4P Program X X CMS-Premier Hospital Quality Incentive Demonstration X X Fonte: Mehrotra et al (2009) – tradução livre. Experiência do paciente Segurança do paciente Custoeficiência X X X X X 47 Tabela 4 - Sumário dos desenhos de programas de pagamento por performance para hospitais (P4P) - Programas avaliados em revisão de literatura, quanto ao tipo de performance avaliada e forma de incentivo financeiro Tipo de Performance avaliada Forma de incentivo financeiro Absoluta Relativa Bônus Blue Cross Blue Shield of Michigan Participating Hospital Agreement Incentive Program X X X Hawaii Medical Service Association Hospital Quality Service and Recognition P4P Program X X X X X Programa de P4P para Hospital CMS-Premier Hospital Quality Incentive Demonstration Penalidade X Fonte: Mehrotra et al (2009) - tradução livre. Buscando romper o ciclo dos modelos retrospectivos e prospectivos, o pagamento por performance é um dos métodos mais novos de remuneração dos serviços de saúde, combinando reembolso com melhoria da qualidade dos serviços prestados ao paciente. Resumidamente, no pagamento por performance os prestadores recebem um pagamento de base e com o alcance de determinados benchmarks para medidas de processos do cuidado prestado e para medidas de resultados (resultado do cuidado ao paciente), os prestadores recebem certas recompensas. Isso pode incluir pagamento de incentivos financeiros e classificação da qualidade de prestadores específicos. As classificações são transparentes para os consumidores e podem influenciar a escolha do prestador. Os incentivos, dessa forma, encorajam os médicos e hospitais a atingirem os padrões de cuidados delineados em medidas de desempenho (GREENE; NASH, 2009). Esse modelo é amplamente utilizado no mercado privado americano, principalmente no que diz respeito à remuneração médica. A remuneração hospitalar, objeto desse 48 trabalho, também tem se desenvolvido, porém em menor escala. Atualmente, há mais de 40 programas de pagamento por performance em hospitais no mercado privado americano e há uma discussão no Congresso para iniciar no sistema público voltado para idosos, o Medicare (MEHROTRA et al., 2009). No estudo de Rosenthal et al. (2006), observou-se que mais da metade dos planos de saúdes mais representativos no mercado privado americano, chamados Health Maintenance Organizations (HMO), usam o pagamento por performance em seus contratos. Dos 126 planos de saúde com programas de P4P da amostra, aproximadamente 90% tinham programas para médicos e 38% para hospitais. Apesar do entusiasmo com os programas de pagamento por performance em hospitais, ainda há limitada evidência empírica sobre a efetividade dos mesmos (MEHROTRA et al., 2009). O movimento em torno desse novo modelo é mundial. Em outubro de 2002, o Departamento de Saúde (DH) do sistema de saúde universal inglês National Health Service (NHS) publicou o relatório 'Reforming NHS Financial Flows'. Neste, foi descrito um novo modelo de remuneração por performance para os hospitais ingleses chamado Payment by Results (PbR). Os objetivos do Payment by Results (PbR) são: prover transparência e a definição de um sistema baseado em regras para pagamento dos hospitais. São recompensados: eficiência, suporte à escolha do paciente e atividades para reduções sustentáveis das filas de espera. O pagamento é ligado às atividades e ajustados pelo casemix. O sistema privilegia uma base justa e consistente para o pagamento dos hospitais, em vez de utilizar históricos de orçamentos. Em 2009 foi publicado um estudo para avaliar os resultados do programa de pagamento por resultado do governo inglês para o cuidado primário após 3 anos de seu funcionamento. Foram levantados dados relacionados a qualidade do cuidado para: asma, diabetes e doenças coronarianas. Foram identificados fatores que interferem no funcionamento dos programas de PbR, como (CAMPBELL et al., 2009) : 49 a) após um ano de melhorias na qualidade do cuidado, os índices atingem um platô; b) há significativas diferenças entre os aspectos do cuidado que estão ligadas a incentivos e aqueles aspectos que não estão ligados a incentivos, interferindo inclusive na continuidade do cuidado; c) para algumas condições clinicas, não há melhorias significativas porque os índices próximos ao máximo já foram atingidos; d) para alguns médicos, sua receita já é suficiente e não há motivação para que ele busque melhorar os resultados de seus pacientes. Concluindo o trabalho, Campbell et al. (2009) defende que os dados coletados sugerem que o modelo de pagamento por resultado na Inglaterra atingiu os objetivos de melhorias da qualidade, mas a velocidade de melhoria não é sustentada quando os objetivos são atingidos. Com o passar do tempo, os estudos sobre o tema têm buscado novas formas de abordar o assunto. Baseado na teoria do comportamento econômico, Mehrotra et al. (2010) indicou algumas maneiras de melhorar os programas de pagamento por performance (P4P). A seguir, exemplos citados no trabalho que podem auxiliar no desenho de novos programas: a) Uma série de pequenos incentivos é melhor que uma grande recompensa; b) Simplificar o plano de incentivo serve para que a incerteza seja minimizada; c) Reduzir o tempo entre a entrega do serviço e a bonificação motiva mais; d) Separar o incentivo dos pagamentos de base chama mais atenção; e) Introduzir incentivos “simpáticos” no lugar de dinheiro (exemplo: entrada para jogos, restaurantes) pode funcionar melhor. Outras iniciativas foram encontradas no Health System 20/20, uma entidade preocupada com as metas internacionais da Organização Mundial da Saúde para 2020. Foi idealizado um trabalho de incentivo aos países e regiões do mundo em desenvolvimento e o programa de P4P é uma das frentes. Foram levantados, então, uma série de estudos de caso, em países da África, Ásia e América. 50 No Brasil, foi encontrada uma iniciativa referente a Pagamento por Performance (P4P) para hospitais, descrita na literatura. Trata-se do Programa de Qualificação da Rede Credenciada da UNIMED – Belo Horizonte, uma iniciativa que nasceu após a criação do Programa de Qualificação em Saúde Suplementar (PQSS) da ANS, que avalia e classifica as operadoras de planos de saúde em 4 dimensões, sendo uma delas a qualidade da assistência à saúde. A UNIMED-BH é uma operadora de plano de saúde e uma cooperativa médica da região metropolitana de Belo Horizonte, responsável por aproximadamente 800 mil vidas e líder na região. A fase I do Programa da UNIMED-BH teve início em 2003 e o foco foi na garantia de infra-estrutura e documentação legal dos hospitais credenciados, a fim de que pudessem oferecer qualidade no serviço prestado ao beneficiário da UNIMED. Num segundo momento, o foco passou para melhoria da gestão dos processos. Tudo isso com a ajuda de uma auditoria externa. Essa fase não envolveu incentivos financeiros (BOREM, 2010). Somente na fase II, a partir de 2005, é que foram incorporados pagamentos de incentivos financeiros e suporte técnico para os hospitais que iniciassem o processo de acreditação hospitalar pela ONA – Organização Nacional de Acreditação, com definição do prazo para conseguir o selo num limite máximo de 36 meses. Para aqueles que iniciaram o processo de acreditação foi concedido um aumento de 7% sobre os valores das diárias, sendo esse bônus mantido até que o hospital atingisse a certificação. Um grupo de auditores externos acompanhou os processos e poucos foram os casos de suspensão do incentivo. Após a conquista do selo, caso o hospital conseguisse o nível 2 da ONA, o aumento passaria de 7% para 9% e para aqueles que chagaram ao nível máximo, o nível 3, houve um aumento de 9% para 15%. Foram investidos mais de U$ 10 milhões nesse projeto (BOREM, 2010). Borem (2010) cita também no estudo de caso da UNIMED-BH, os desafios na implantação do modelo, a saber: a) Dificuldades de Tecnologia da Informação e conseqüente dificuldade com o prontuário eletrônico em alguns dos hospitais credenciados; b) Falta de cultura de avaliação, medo de ser avaliado e de ser punido; 51 c) Falta dos indicadores de qualidade do cuidado antes do processo de acreditação, para avaliar a efetividade após a implantação do programa. 52 3.5 Os modelos de remuneração e a cadeia de valor Os modelos de remuneração estão no foco da discussão da cadeia de valor da saúde, principalmente no mercado de saúde suplementar brasileiro. O envolvimento da ANS, por meio do desenvolvimento dos Grupos de Trabalho em 2010, demonstra uma preocupação do Governo e dos principais elos da cadeia com a sustentabilidade dos modelos vigentes a longo prazo. Dessa forma, este é um momento de reavaliação da forma usual de remuneração e de planejamento das mudanças que afetarão as relações entre os elos dessa cadeia. Okazaky (2006) identificou diversas ineficiências na cadeia de valor da saúde, sendo que muitos aspectos são explicados e intensificados pelos modelos de remuneração vigentes nos hospitais privados. Alguns exemplos citadas pela autora são: a) Valor de remuneração dos hospitais não condizente com o valor agregado pelo hospital na cadeia de valor da saúde; b) Os ganhos com relação à redução de custos obtidos pelo hospital nas negociações com os fornecedores de materiais e medicamentos não são passados para os demais elos da cadeia de valor, devido à fixação de preços em tabelas de mercado. Como lembrou Koyama (2007) em seu estudo sobre os Programas de Qualificação em Saúde Suplementar, a participação dos prestadores na busca por garantir a qualidade da assistência prestada ao beneficiário – e dessa forma gerar valor ao beneficiário – é essencial. Percebe-se que a pressão por custos na saúde tem levado os hospitais a pensar em iniciativas que envolvam outros participantes da cadeia. Nos pacotes existe o compartilhamento de riscos e dessa forma, entra para a discussão os fornecedores de equipamentos, materiais e medicamentos. Assim, pode-se verificar uma tendência ao compartilhamento de riscos e à maior integração na cadeia de valor da 53 saúde. A crítica é que a motivação para tal integração ainda foca fundamentalmente na redução de custos e não na melhoria do valor ao cliente final (OKAZAKY, 2006). Outro exemplo relacionado aos impactos dos modelos de remuneração dos hospitais com a geração de valor para o paciente é a escolha de determinados recursos em função das margens de contribuição. Segundo o estudo de Okazaky (2006), apesar de existirem alternativas de produtos mais econômicas no mercado, por exemplo os medicamentos genéricos, devido ao modelo de remuneração dos hospitais e as distorções em conseqüência dessa manutenção há décadas, não há interesse dos prestadores de serviço em aderir à prática. Já em uma outra configuração, como nos pacotes e diária global, em que o hospital recebe uma remuneração fixa, a utilização de medicamentos genéricos pode ser mais vantajosa. Em suma, o fato de alguns hospitais terem seus maiores ganhos advindos das margens de comercialização de materiais e medicamentos, faz que se prefiram os medicamentos mais caros, o que impulsiona os custos no mercado. Um último ponto, também bastante relacionado aos modelos de remuneração e a cadeia de valor da saúde, é a dificuldade de envolver os médicos na formatação de produtos ou serviços, baseados nos novos modelos, como os pacotes cirúrgicos, diária global, entre outros. Segundo Ballard (2005), na maioria das vezes, a tomada de decisão do médico não leva em conta questões de custos; ele opta por utilizar os equipamentos e produtos seguindo critérios clínicos ou interesse pessoais. Para eles, o custo deve ser preocupação dos administradores do hospital, e não deles. Esses aspectos tornam ainda mais desafiadoras as tentativas de mudança do modelo de remuneração hospitalar. 54 4. METODOLOGIA 4.1 Pesquisa Bibliográfica Inicialmente foram identificados os seguintes unitermos ou temas para a realização da pesquisa bibliográfica: remuneração hospitalar, pagamento hospitalar, pagamento por performance, fee-for-service, pay for performance, P4P, fees, payment, reimbursement, health care, DRG, cost containment. A pesquisa bibliográfica foi feita por meio de levantamento no acervo físico da biblioteca Karl A. Boedecker, da Fundação Getulio Vargas, incluindo o catálogo de dissertações e teses. Foram ainda realizadas buscas na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde (BVS-MS) e biblioteca virtual da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Já as bases de dados utilizadas foram principalmente SciELO, LILACS e EBSCO. Outros trabalhos citados nos artigos identificados foram obtidos por meio de consultas em biblioteca, uma vez que não foram encontrados na busca inicial com os unitermos. Ainda foram realizadas buscas em sites específicos da internet tais como o da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Leapfrog Group, National Health Service (NHS), entre outros. 4.2 Delimitação da população A escolha dos hospitais a serem estudados baseou-se no interesse de pesquisar o mercado de saúde suplementar. Sendo assim, os hospitais estudados são todos privados, localizados no município de São Paulo, onde está a maior participação desse mercado no país. 55 Foram utilizados dados secundários do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) do Ministério da Saúde, para identificar os serviços de saúde hospitalares existentes no município de São Paulo. O CNES é um banco de dados que congrega, em tese, todas as unidades que prestam algum tipo de atendimento de saúde no país. Os serviços de saúde privados devem, obrigatoriamente, estar cadastrados no CNES para receberem licença de funcionamento da Vigilância Sanitária e consequentemente para serem credenciados pelas operadoras de planos de saúde. Não foram considerados os hospitais públicos municipais, estaduais e federais que servem exclusivamente ao SUS – Sistema Único de Saúde, pois este prevê um modelo específico de remuneração que não é objeto desse trabalho. Com isso, obteve-se a população a ser estudada de 113 hospitais gerais de natureza privada (com ou sem fins lucrativos) do município de São Paulo, classificados quanto ao número de leitos, à mantenedora (hospitais individuais ou mantidos por operadora de plano de saúde) e ao tipo de corpo clínico (aberto ou fechado). Essas variáveis foram escolhidas por serem consideradas influenciadoras do modelo de remuneração do hospital. 4.3 A amostra A amostra para este trabalho é a intencional, também conhecida como não probabilística ou de intenção racional (BARROS; LEHFED, 1986, p. 107). Neste caso, o pesquisador se dirige intencionalmente a grupos de elementos dos quais deseja saber a opinião. A amostra intencional não é representativa e, por isto, não pode ser generalizada para o universo. Os resultados têm validade para aquele grupo específico (BARROS; LEHFED, 1986, p. 107). Foram escolhidos hospitais que atendem às variáveis escolhidas anteriormente, ou seja: natureza (privada, beneficente sem fins lucrativos), mantenedora (mantido por operadora ou não), corpo clínico (aberto ou fechado) e número de leitos, a fim de haver diversidade de percepções. 56 Sendo assim, foram selecionados sete hospitais privados de São Paulo com as seguintes características, descritas na Tabela 5, a seguir: Tabela 5: Características dos hospitais pesquisados Organização/ Natureza Administrativa Atributo Número Mantido por Tipo de de leitos operadora Corpo Clínico HOSPITAL 1 Privado com fins lucrativos 280 Não Aberto HOSPITAL 2 Beneficente sem fins lucrativos 220 Não Fechado HOSPITAL 3 Beneficente sem fins lucrativos 220 Não Aberto HOSPITAL 4 Privado com fins lucrativos 179 Sim Aberto HOSPITAL 5 Beneficente sem fins lucrativos 210 Não Aberto HOSPITAL 6 Privado com fins lucrativos 200 Não Aberto HOSPITAL 7 Privado com fins lucrativos 90 Não Aberto Fonte: CNES / dados colhidos pela autora nas entrevistas. O único hospital mantido por operadora participante da amostra possui cerca de 50% do seu faturamento dependente do grupo que compõe sua mantenedora, ou seja, da operadora de plano de saúde que detém o controle do hospital. 4.4 Método de Coleta de Dados Foi utilizado o método qualitativo, por meio de entrevistas, que pode ser descrito como um conjunto de técnicas interpretativas que procuram descrever, decodificar, traduzir. As entrevistas podem ser utilizadas para análise acadêmica e pode ser usada com o propósito de medida ou até para o conhecimento da perspectiva de um indivíduo ou de um grupo (FONTANA; FREI, 2000). As pesquisas qualitativas procuram respostas às questões voltadas a como determinada experiência social é criada e como surgem seus significados (DENZIN; LINCOLN, 2000, p. 8). A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados 57 básicos no processo de pesquisa qualitativa não requer os usos de métodos e técnicas estatísticas (GIL, 1991). Em geral as investigações que envolvem uma análise qualitativa têm como objetivo abordar situações complexas ou extremamente particulares. Os estudos que empregam a metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos (RICHARDSON, 1999). Fora isso, quando se pretende capturar o ponto de vista de alguém, a pesquisa qualitativa permite uma maior proximidade entre o pesquisador e o indivíduo de quem se busca o ponto de vista, devido à possibilidade de entrevistas em maior detalhe e sua observação, podendo capturar aspectos subjetivos (DENZIN; LINCOLN, 2000, p. 10). As entrevistas foram realizadas de forma semi-estruturada baseada em roteiro elaborado pela pesquisadora (APÊNDICE A). Procurou-se cobrir as questões necessárias para conseguir responder às perguntas de pesquisa. O roteiro é composto por 12 questões sendo as 6 primeiras para caracterizar o hospital e identificar a influência de alguma fonte pagadora devido à concentração de atividades; conhecer os modelos de remuneração presentes e avaliar os predominantes. As demais questões têm como objetivo captar a percepção do gestor em relação às tendências e mudanças do modelo de remuneração dos serviços hospitalares do conhecimento deles. Dependendo do andamento da entrevista, foram incluídas novas questões, com o objetivo de coletar a maior quantidade possível de informações para responder às perguntas de pesquisa. Foi realizado contato inicial por telefone e enviado e-mail padronizado (APÊNDICE B) com as 6 primeiras questões fundamentais para a pesquisa, a fim de que o gestor pudesse coletar as informações e apresentá-las no dia da entrevista. Em alguns casos, a pesquisadora precisou fazer novo contato com o entrevistado após a 58 entrevista para confirmar dados do hospital, como número de leitos e tipo de corpo clínico (aberto ou fechado). A estratégia de pesquisa adotada não permite generalizações aplicáveis ao universo de organizações de saúde e deve concentrar-se na análise dos hospitais estudados, em que se discute a ampliação das proposições sobre o tema a partir de uma realidade analisada. 4.5 Entrevistados Em cada hospital, foram agendadas entrevistas individuais com os gestores da área comercial, já que estes detêm a responsabilidade pelo relacionamento e negociação com as fontes pagadoras e lidam diretamente com os processos de pagamento contratados. No caso do hospital que não tinha um gestor comercial, foi entrevistado o gestor administrativo responsável por negociar com as operadoras. Em uma das entrevistas o gerente da área comercial solicitou ao diretor médico sua participação. As entrevistas foram realizadas dentro do contexto da discussão dos modelos de remuneração no mercado de saúde suplementar. Dessa forma, para complementar as informações coletadas, foi entrevistado um representante do Grupo de Trabalho da ANS, que é membro de uma associação hospitalar e gestor de um hospital privado. Nesse caso, foi realizada entrevista não estruturada, baseada nos conhecimentos da pesquisadora sobre o assunto a ser tratado. No total, foram sete hospitais participantes da amostra e nove gestores entrevistados, cujas características encontram-se descritas na tabela 6. 59 Tabela 6: Características dos entrevistados Entrevistado Cargo GESTOR 1 Gerente Comercial GESTOR 2 Gerente Comercial GESTOR 3 Gerente Comercial GESTOR 4 Diretor Administrativo GESTOR 5 Gerente Comercial GESTOR 6 Gerente Comercial GESTOR 7 Gerente Comercial GESTOR 8 Diretor Médico GESTOR 9 Representante de associação hospitalar Fonte: Dados colhidos pela autora nas entrevistas. Optou-se por omitir a identidade dos entrevistados e nome do respectivo hospital ou organização para garantir a confidencialidade e para proporcionar mais liberdade durante a entrevista. 4.6 Análise dos dados A análise dos dados teve como intenção considerar os contextos em que as informações foram obtidas, sempre respeitando as opiniões dos entrevistados e tentando evitar a interferência por parte da pesquisadora em relação às posições destes personagens a respeito dos assuntos discutidos. Após as entrevistas, o conteúdo foi transcrito e submetido à análise de discurso para avaliação dos resultados. Nesse caso, “o termo ‘discurso’ é empregado para se referir a todas as formas de fala e textos, seja quando ocorre naturalmente nas conversações, seja quando é apresentado como material de entrevistas” (GILL, 2002). É importante lembrar ainda que a análise de discurso não está preocupada com as atitudes individuais, mas sim com a construção cultural do objeto estudado. Na presente pesquisa, os resultados numéricos fornecidos pelos entrevistados foram apresentados em tabelas, de forma a facilitar a identificação e comparação dos atributos pesquisados. Já as percepções relacionadas ao tema e aos objetivos do 60 trabalho declaradas pelos gestores, foram tabuladas segundo os temas de maior freqüência nas respostas, gerando categorias específicas. Optou-se por incluir transcrições de declarações para ilustrar algumas posições. 61 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da pesquisa encontram-se organizados em temas, que surgiram a partir do roteiro e das entrevistas. Os temas abordam questões relevantes para a análise dos modelos de remuneração. Assim, a apresentação dos resultados apresenta a seguinte ordem: 5.1 Grupo de Trabalho da ANS 5.2 Modelos de remuneração predominantes 5.3 Alternativas ao fee-for-service 5.4 Percepção dos gestores quanto aos modelos vigentes 5.5 Relação Operadoras e Hospitais 5.6 Relação Hospitais e Médicos 5.7 Percepção dos gestores quanto à mudança de modelo 5.8 Cadeia de valor centrada no paciente 5.9 Perspectivas do pagamento por performance hospitalar Na apresentação dos resultados, para resguardar a identidade dos entrevistados, foi utilizado o título genérico do cargo, como GESTOR 1 / GESTOR 2 e assim por diante. Os hospitais também foram identificados como HOSPITAL 1 / HOSPITAL 2, a fim de preservar os nomes das organizações participantes da amostra. Procurouse não se ater a percepções individuais, a fim de formar uma idéia geral de como o conjunto de gestores e hospitais com as características escolhidas pensa e se comporta. O número de operadoras credenciadas por hospital na amostra variou de 40 a 66 (tabela 7). O menor número (40) corresponde a um hospital mantido por operadora. Os hospitais detentores dos maiores números (59 e 66) desenvolvem um trabalho específico com seguradoras internacionais, além das operadoras nacionais. Essa característica dos hospitais pesquisados torna menos provável a influência isolada de alguma operadora nas formas de contratação. Exceto pelo hospital de 62 operadora, nenhum dos outros apresenta mais de 30% de seu faturamento concentrado em apenas uma operadora. Não foram detalhadas as formas de remuneração das seguradoras internacionais, por não ser o foco desse trabalho. Tabela 7: Número de contratos com operadoras de planos de saúde nacionais e seguradoras internacionais Organização Nº de operadoras Trabalha com seguro credenciadas internacional HOSPITAL 1 50 Não HOSPITAL 2 59 Sim HOSPITAL 3 46 Não HOSPITAL 4 41 Não HOSPITAL 5 66 Sim HOSPITAL 6 50 Não HOSPITAL 7 60 Não Fonte: Dados colhidos pela autora nas entrevistas. 63 5.1 Grupo de Trabalho da ANS O Grupo de Trabalho da ANS sobre os Modelos de Remuneração Hospitalar tem realizado reuniões periódicas com os representantes das entidades hospitalares e de operadoras de planos de saúde, a fim de evoluir nas propostas e principalmente chegar a um consenso sobre o que pode ser feito e como deve ser implantado. Apesar da importância dessa iniciativa, dois dos oito entrevistados não conhecem e nunca ouviram falar dos Grupos de Trabalho da ANS. Esse desconhecimento preocupa, pois a falta de envolvimento na formatação das propostas pode gerar desconfiança e falta de aderência aos novos modelos. A entrevista com um participante do Grupo de Trabalho da ANS sobre os Modelos de Remuneração Hospitalar serviu para ilustrar o contexto em que se baseou o estudo. Segundo o entrevistado há uma perspectiva de mudança da forma de remuneração a médio prazo, com o resgate e o aprimoramento de propostas constantes em vários estudos realizados por entidades isentas, desde a década de 90. A Figura 2 mostra a sistemática sugerida pelo Grupo de Trabalho e aprovada pelos representantes dos principais agentes do mercado. O grande questionamento e o receio dos hospitais frente a essa proposta, segundo o entrevistado, é quanto à implantação do novo modelo, já que a ANS não interfere na negociação individual de cada hospital com as operadoras. Principalmente os hospitais pequenos, com pouco poder de negociação, poderiam sofrer impacto com a mudança da lógica do modelo, caso as operadoras se limitem a uma oportunidade de redução dos preços acordados. Daí a necessidade de muito cuidado com o planejamento da implantação, o que deve demandar estudos de custos dos hospitais e das operadoras antes da negociação, para evitar impactos fatais para qualquer uma das partes. Outro ponto importante destacado pelo entrevistado é a necessidade de definir claramente nos acordos as regras quanto ao reajuste de preços, pois a falta dessa 64 definição pode levar os hospitais a conseqüências desastrosas no futuro. Conforme colocado por Silva (2003) e Campos (2004), o reajuste reajuste é um dos aspectos que merece muita atenção, principalmente quando se fala de mudança de modelo. Figura 2: Sistemática de remuneração hospitalar a ser adotada na Saúde Suplementar Fonte: Proposta do Grupo de Trabalho da ANS, 2010. 2010 Nota 1: Dados sujeitos a alterações. Nota 2:: Esquema adaptado pela autora. A percepção do entrevistado é coerente com a análise das entrevistas dos gestores dos hospitais, como podemos observar no trecho abaixo que demonstra a valorização da iniciativa da ANS apesar do receio quanto à forma como o processo será conduzido. “É rico discutir isso, precisava precisava ter iniciado há algum tempo. Minha M preocupação é como será será conduzido. Mas sem dúvida é preciso começar.” 65 Para o representante entrevistado, apesar das dificuldades, o modelo vai mudar. A proposta apresentada é a herança de um trabalho que vem sendo desenvolvido pelo mercado há tempos e agora, com o apoio da ANS, a mudança deve se concretizar. Pelos dados encontrados na pesquisa, alguns hospitais da amostra já praticam atualmente algumas das formas integrantes da proposta apresentada pelo Grupo de Trabalho da ANS, o que seria um indício favorável à mudança. 66 5.2 Modelos de remuneração predominantes 5.2.1 Fee-for-service A maioria dos hospitais estudados apontou o predomínio do fee-for-service ou “conta aberta” como modelo de remuneração principal. Porém, dois dos sete hospitais pesquisados apresentaram pequena participação desse modelo em seu faturamento. Nesses casos, os modelos predominantes foram a diária global e a tabela compacta, como podemos observar na Tabela 8, abaixo. Tabela 8: Participação do fee-for-service no faturamento dos hospitais estudados, nos últimos 12 meses. Organização % de fee-for-service no Modelo predominante faturamento faturamento) HOSPITAL 1 96% fee-for-service HOSPITAL 2 96% fee-for-service HOSPITAL 3 89% fee-for-service HOSPITAL 4 15% Diária global HOSPITAL 5 78,5% fee-for-service HOSPITAL 6 17% Tabela compacta HOSPITAL 7 90% fee-for-service (em Fonte: Dados colhidos pela autora nas entrevistas. Os achados são compatíveis com as freqüentes afirmações encontradas na literatura (FURLAN, 1999; ANDREAZZI, 2003; SILVA, 2003; KOYAMA, 2007). Os motivos encontrados para a permanência dessa forma de pagamento nos serviços hospitalares serão discutidos em subcapítulo específico que discutirá a prédisposição dos gestores comerciais quanto à mudança de modelo. A participação da conta aberta no faturamento dos últimos 12 meses dos hospitais estudados variou de 15% a 96%. Se considerados somente os hospitais em que o modelo predomina, a variação é menor: de 78,5% a 96%. 67 5.2.2 Outros modelos Para dois hospitais pesquisados (4 e 6) as formas de remuneração predominantes não foram o fee-for-service. Nesses casos, os modelos predominantes foram: diária global, com 50% e tabela compacta, com 61% do faturamento. Os modelos alternativos descritos em literatura foram: procedimento gerenciado (pacote), diária global, capitation, GDH e pagamento por performance (P4P). Esse modelo encontrado, denominado “tabela compacta”, foi um achado diferente daqueles descritos anteriormente. A tabela compacta corresponde a uma redução das tabelas habitualmente usadas no fee-for-service, na qual os cálculos dos preços das diárias e das taxas absorvem diversos itens que no modelo tradicional são cobrados à parte, como: curativos, taxas de equipamentos e procedimentos de enfermagem, dentre outros. Os demais itens como materiais, medicamentos, exames e honorários continuam sendo cobrados à parte – item a item. O resultado é uma tabela composta de menos itens, em torno de 25 no caso do hospital na qual esta é a forma predominante. A tabela de diárias e taxas de alguns hospitais que trabalham com o modelo de fee-for-service tradicional pode chegar a mais de 100 itens, de acordo com o GESTOR 6. No caso do HOSPITAL 6, no qual esse modelo de tabela compacta representa 61% do faturamento, a adaptação de tabela totalmente aberta para tabela compacta ocorreu há muitos anos e no início o processo foi desgastante, segundo o entrevistado. “O mais complicado é você explicar para o convênio que aqueles 100 itens estão incorporados nas diárias e taxas de sala, com aqueles valores. Passada essa fase, fica fácil”. As vantagens de uso da tabela compacta são as facilidades de manutenção em sistema e de processos operacionais de faturamento, auditoria e pagamento. Os 68 problemas, de acordo com o GESTOR 6, se referem à absorção de taxas relativas a incorporações de novas tecnologias, difíceis de serem aceitas pelas operadoras. Analisando o modelo, a tabela compacta, apesar de ser diferente do fee-for-service tradicional e apresentar facilidades operacionais, carrega as mesmas limitações do modelo pós-pagamento, como os incentivos para sobreprestação de serviços, e mantém a mesma dependência de receita dos materiais e medicamentos, que continuam sendo cobrados de forma aberta. O fato da tabela compacta ser uma variação do fee-for-service enfatiza ainda mais a predominância deste modelo nos hospitais pesquisados. Somente um dos hospitais da amostra (HOSPITAL 4) apresentou modelo de remuneração com outra lógica (pré-pagamento) predominante, a diária global. A diária global prevê negociação entre operadora e hospital do preço a ser pago por dia de internação, antes da prestação de serviços. Normalmente são definidos por médias de utilização de recursos nos diversos tipos de acomodação, como enfermaria, apartamento e UTI. Esse modelo é classificado como pré-pagamento ou prospectivo e tem como principais objetivos: maior previsibilidade das despesas para a fonte pagadora e incentivo à prática mais eficiente dos prestadores de serviços. De forma geral, esse modelo interessa mais para as operadoras do que para os hospitais. O HOSPITAL 4 é o único da amostra pertencente a operadora. Pode-se considerar que este fator interferiu no modelo de remuneração, favorecendo a predominância da diária global frente ao fee-for-service no seu faturamento. Isso porque a dependência do prestador em relação à demanda gerada pela própria operadora influencia fortemente as negociações. Além disso, o hospital é utilizado pela operadora para redução de custos e despesas assistenciais. Porém, apesar disso, o fato deles representarem a mesma organização – pois o hospital pertence à operadora – a conversa é amigável e os valores da diária global são revistos a cada seis meses. Foi referido pelo gestor entrevistado que a gestão médica fica por conta do hospital, já que independente da utilização ou não de 69 materiais ou medicamentos de alto custo, o valor da diária global a ser pago será o mesmo. Por isso, considera-se necessária essa revisão e reajuste de preços a cada seis meses. Nesse caso, por haver maior integração entre os elos da cadeia produtiva, o reajuste não é citado como problema, diferente do que foi apontado por Silva (2003) e Campos (2004). 70 5.3 Alternativas ao fee-for-service Todos os hospitais pesquisados possuíam pelo menos um outro tipo de remuneração diferente do fee-for-service. A alternativa mais freqüente para essa amostra é o pacote, conforme podemos observar na tabela 9, abaixo. Tabela 9: Modelos de remuneração presentes nos hospitais pesquisados Organização Modelos de remuneração Modelo predominante % do modelo presentes (em faturamento) predominante HOSPITAL 1 fee-for-service, pacote fee-for-service 96% HOSPITAL 2 fee-for-service, pacote fee-for-service 96% HOSPITAL 3 fee-for-service, pacote fee-for-service 89% HOSPITAL 4 fee-for-service, pacote, Diária global 50% fee-for-service 78,5% Tabela compacta 61% fee-for-service 90% diária global, tabela compacta HOSPITAL 5 fee-for-service, pacote e diária global HOSPITAL 6 fee-for-service, pacote, diária global, tabela compacta HOSPITAL 7 fee-for-service, pacote Fonte: Dados colhidos pela autora nas entrevistas. Para Silva (2003), os pacotes são uma alternativa “conhecida e distorcida”. Conhecida porque já é largamente utilizada nas relações comerciais entre operadoras e prestadores de serviços, apesar de na prática possuírem uma reduzida significância, tanto em quantidade de procedimentos quanto em valores de faturamento. Distorcida porque não é precedida de um protocolo clínico. O protocolo clínico, desenvolvido pelos médicos e sustentado por sólidas evidências científicas permitiriam uma adequada precificação do pacote. Porém, frente às pressões das operadoras, os gestores dos hospitais acabam definindo os pacotes utilizando-se de valores médios recebidos por um determinado procedimento. 71 Observamos que, de fato, nos hospitais pesquisados essa é uma alternativa bastante conhecida, mas que ainda precisa de alguns ajustes. Os gestores colocam muitas dificuldades em relação a esse modelo, sendo que alguns comprovam aquelas descritas previamente. As principais dificuldades identificadas nesta pesquisa foram: a) Falta de participação dos médicos na formatação dos protocolos e conseqüente falta de aderência; b) Dificuldade de negociar as intercorrências com as operadoras; c) Simplificação do modelo, sem determinar níveis de complexidade para os procedimentos cirúrgicos. O trecho abaixo ilustra a dificuldade vivida pelo hospital em relação a esse modelo. “Nós vivemos um conflito interno de concepção do produto: o médico quer entregar o melhor para o paciente, suprimentos quer entregar o melhor produto, o comercial quer entregar o melhor preço para a operadora. Mas temos que administrar isso da melhor maneira possível.” Percebe-se na análise do discurso dos entrevistados, diversos termos e colocações que refletem a insatisfação e os conflito causados pelos interesses divergentes dos participantes na implantação do pacote como modelo alternativo ao fee-for-service. Corroborando com os achados de literatura de que as integrações e compartilhamento de riscos propostos nos modelos de pacote são motivados fundamentalmente pela redução de custos e não na melhoria do valor final ao cliente (Okazaky, 2006), os entrevistados colocam que a adoção dos pacotes é somente mais uma tentativa de contenção de custos e que nessa mudança a operadora não está preocupada com a qualidade da assistência a ser prestada ao paciente, somente com a negociação de preços. Como mencionou Andreazzi (2003), o ambiente competitivo determina um conflito entre os diversos atores, no caso as operadoras e hospitais, para saber quem arcará 72 mais com os riscos e prejuízos. No final, o lado menos favorecido acaba ficando com todo o risco, chegando até mesmo a prejudicar a qualidade da atenção prestada aos pacientes. Quanto a isso, percebe-se o incômodo dos entrevistados frente à imposição das regras dos pacotes pela operadora, sem levar em conta as necessidades dos hospitais. O grande poder de negociação de determinadas operadoras, já que há uma forte concentração nesse mercado (ANS, 2010), faz com que o hospital aceite as regras sob risco de perder o movimento. Além disso, assim como afirmou Ballard (2005), há uma dificuldade de envolver os médicos nas discussões e formatações de “produtos” baseados nos novos modelos. Os entrevistados colocam que os médicos não estão acostumados a participar de decisões administrativas e que é difícil conseguir o apoio deles, principalmente quando há necessidade de determinar padrões. Outra questão levantada por alguns dos entrevistados é a diferença que as operadoras fazem de hospital para hospital, permitindo que alguns continuem operando somente com fee-for-service. Nesses casos, o gestor sente que apesar do seu hospital gerenciar melhor a utilização dos recursos por meio de pacote e o outro não, ele sai perdendo, porque o médico acaba levando seu paciente para os hospitais em que não há controle, ou seja, que se cobra o procedimento por conta aberta e se oferece livremente tudo o que o médico solicita. Enquanto houver essa desintegração entre os elos da cadeia de valor, as discussões para mudança não terão fim. Frente a esse problema, o envolvimento da ANS poderá uniformizar a aplicação dos modelos e reduzir as queixas de alguns hospitais. Também são citadas vantagens dos pacotes, semelhantes às mencionadas em relação a tabela compacta, referentes principalmente a: a) facilidades operacionais; b) redução de custo administrativo. 73 Para os entrevistados, o pacote é mais fácil de ser aplicado para algumas especialidades médicas, principalmente as cirúrgicas de menor complexidade. Nesse sentido, os dados coletados são coerentes com os da literatura quanto a esse modelo estar mais relacionado a procedimentos mais simples (Silva, 2003). Todos os modelos de remuneração hospitalar alternativos encontrados na prática dos hospitais pesquisados foram do tipo pré-pagamento ou prospectivos: procedimento gerenciado (pacote) e diária global. Não foram identificadas outras formas como contratos por capitation ou GDH, nem modelos mistos como pagamento por performance (P4P). Finalmente podemos concluir que houve predominância do fee-for-service nos hospitais estudados, porém com diversas formas alternativas sendo implantadas e testadas. 74 5.4 Percepção dos gestores quanto aos modelos vigentes As entrevistas revelam que o fee-for-service é um método cuja operação demanda grande estrutura administrativa e que realmente gerou uma dependência nos hospitais das margens de materiais e medicamentos. A distorção não agrada aos gestores hospitalares, porém, estes ficam receosos de alterar o modelo e as margens serem reduzidas. Para eles, é necessário que haja um diálogo transparente entre hospitais e operadoras a fim de minimizar essa dependência de materiais e medicamentos instalada no cenário atual. “A maior crítica é que (o sistema) foi se modificando de tal forma que a gente se baseia muito mais na receita de material e medicamento do que na internação (...) inclusive os honorários médicos estão defasados, comparando a receita do hospital por item.” “Quando se fala em conta aberta, existe um certo conforto dos hospitais. São implantadas novas tecnologias e não existe um estudo rigoroso de custo-benefício; isso onera os custos das operadoras. Isso acontece porque as operadoras não reajustam as contas hospitalares adequadamente. Deveria haver uma discussão ampla em que todos conversassem para um reajuste adequado das diárias e taxas, porque somente dessa forma o hospital deixa de pensar em material e medicamento.” Tendo em conta a amostra desse trabalho, a maioria dos entrevistados considera que o modelo fee-for-service não é bom e que não há sustentabilidade a longo prazo, mas há sempre uma consideração positiva em relação a sua manutenção, como podemos observar nos trechos a seguir: “[...] hoje eu vejo que a conta aberta é um modelo mais justo, talvez, e mais confortável para os hospitais.” “No caso da conta aberta, não ficamos presos a reajuste especialmente dos fornecedores de material e medicamento.” “Do ponto de vista do hospital, é mais seguro [...] porque vou cobrar exatamente o que foi usado.” 75 “Acho (o fee-for-service) burocrático, custoso, para o hospital e operadora; estimula relação de desconfiança, mas ao mesmo tempo do ponto de vista do hospital é mais seguro, de acordo com as variações de atendimento.” No caso do único gestor médico entrevistado, há uma defesa do modelo enquanto possibilidade de oferecer melhor qualidade de serviço ao paciente. Para ele, só é possível fazer uma medicina de melhor qualidade com conta aberta. Todas as iniciativas de “conta contida” não permitem aos médicos oferecer o que é melhor para o paciente. Essa tendência dos gestores, em considerar o fee-for-service bom para os interesses do hospital e até do médico, pode ser, em parte, responsável pela manutenção do modelo por tanto tempo. Tendo em conta que o pacote é o segundo modelo mais freqüente nos hospitais da amostra, identificou-se vantagens e desvantagens propostas pelos gestores. Apesar dos entrevistados julgarem os pacotes passíveis de melhorias, a maioria deles concordou com as vantagens operacionais trazidas por esse modelo. Tanto os pacotes como as diárias globais foram citados como boas alternativas, porém com algumas adaptações. “Sou a favor do pacote, mas um pacote elaborado, prevendo algumas condições de risco – 2 ou 3 por patologia que contemplem variações – que acabem impactando no protocolo assistencial. Sou a favor de evoluir em diárias globais.” “Nos 2 modelos (fee-for-service e pacote) você tem ajustes a ser feitos, não estão adequados nem para o hospital, nem para a operadora. Hoje as operadoras tem grandes dificuldades para controlar os custos.” “O fee-for-service não é bom, o ideal seria trabalhar com diária global, com centro cirúrgico globalizado. O problema é a negociação, a dificuldade de um equipamento novo, um medicamento novo. A medicina evolui e as operadoras não aceitam negociar.” 76 Há também muita preocupação dos hospitais em relação à incorporação tecnológica e ao reajuste de preços. Qualquer mudança na forma de pagamento requer uma determinação muito clara das regras de reajuste, pois o hospital passará a ter maior dependência dessa negociação com as operadoras, seja nos pacotes, nas diárias globais ou nas tabelas compactas. Atualmente esse processo acontece sem muita regra (CAMPOS, 2004), mas como mais de 50% da receita do hospital está baseada em material e medicamento (ANAHP, 2010), e esses itens tem seus reajustes sistemáticos baseados em tabelas pré-acordadas, o impacto não é tão intenso. Com as propostas de valorização das diárias e taxas em detrimento dos materiais e medicamentos, o reajuste passará a ser fundamental para saúde financeira dos hospitais. Na Tabela 10, são apresentadas as principais vantagens e desvantagens quanto aos modelos de remuneração encontrados na amostra. Tabela 10: Síntese dos modelos de remuneração hospitalar – vantagens e desvantagens na percepção dos gestores. Modelo de remuneração Vantagens Desvantagens Fee-for-service Modelo mais "confortável" para o hospital, permite liberdade ao médico para buscar o "melhor" para o paciente. Burocrático, custo administrativo alto, aumenta desconfiança entre as partes, não é sustentável a longo prazo. Procedimento gerenciado (pacote) Reduz custo administrativo, facilita a operação de autorizações, faturamento e diminui glosas, induz eficiência do hospital no uso dos recursos. Não permite a discussão das intercorrências, reduz margens dos hospitais, diminui liberdade do médico na escolha dos recursos, deixa o hospital na dependência dos reajustes de preços periódicos. Diária Global Reduz custo administrativo, facilita a operação de autorizações, faturamento e diminui glosas, induz eficiência do hospital no uso dos recursos. Não permite a discussão das intercorrências, reduz margens dos hospitais, diminui liberdade do médico na escolha dos recursos, deixa o hospital na dependência dos reajustes periódicos de preços. Reduz custo administrativo, facilita a operação de Tabela compacta autorizações, faturamento e diminui glosas. Fonte: Elaboração própria. Mantém dependência hospital em materiais medicamentos. do e 77 5.5 Relação Operadoras e Hospitais A relação entre as operadoras e os hospitais é historicamente marcada pelo embate e por situações de interesses divergentes. Após a lei 9.656/98, que regula o setor de saúde suplementar, essa situação piorou. As soluções encontradas pelas operadoras para resgatar suas margens foram focadas nas pressões sobre os prestadores de serviços para a redução de custos (SILVA, 2003), o que levou à continuidade do conflito entre as partes. A desconfiança na relação entre os hospitais e as operadoras está bastante presente nos discursos dos gestores entrevistados, seja quanto à negociação de regras para modelos alternativos, como os pacotes; seja quanto ao reajuste de preços. Os termos sempre expressam conflito e divergência de visão. “Não é um modelo sustentável a longo prazo porque quem executa e quem paga não conduz direito. Existe uma desconfiança muito grande.” Desde a criação da ANS, o número de operadoras vem diminuindo e o número de beneficiários vem aumentando. De acordo com os dados do relatório de dezembro de 2010 (ANS, 2010), a tendência do mercado de saúde suplementar é de concentração dos beneficiários em poucas operadoras. Esse movimento tem intensificado as imposições das operadoras com grande poder de negociação. “Não sou contra os pacotes, mas no modelo hoje de pacote, as operadoras colocam tudo e não querem discutir as intercorrências. Nesse caso é muito ruim. [...] Tem operadoras e operadoras. Com algumas ainda conseguimos negociar as intercorrências, mas tem operadoras que ou você aceita ou está fora [...].” Foram mencionados por alguns dos gestores entrevistados, este fato e sua interferência na relação entre hospitais e operadoras. Principalmente porque essa realidade já é muito presente em algumas cidades do interior de São Paulo e também do Brasil. 78 “Ainda não vivemos os monopólios, nos lugares onde existe 80% na mão de uma operadora. Nesses casos, você tem que se submeter às operadoras que normalmente são as cooperativas”. As indiferenças das operadoras frente aos problemas enfrentados nos hospitais de incorporação de tecnologia e de intercorrências de tratamentos com pagamento préacordado, como pacote e diária global, demonstram uma visão fragmentada da cadeia de valor. Assim, nota-se que as operadoras defendem seus próprios interesses, sem demonstrar compreensão pelo problema e sem buscar caminhos que integrem os diversos elos da cadeia produtiva. Okazaky (2006) verificou em seu estudo que os hospitais também buscam proteger seus próprios interesses frente às relações que os prejudicam. “Ao invés de haver um comportamento cooperativo entre os elos da cadeia de valor, o hospital está preocupado em proteger seus próprios interesses, demonstrando a fragmentação na cadeia de valor.” Nem sempre previsto nos contratos, o reajuste de preço é uma questão que merece atenção especial. É necessário que sejam definidos mecanismos para impedir desequilíbrios na atualização de preços aplicados. As operadoras praticam reajustes de preços embasados nos índices autorizados pela ANS, porém não possuem normas claras que definam a sistemática de reajustes de preços com os prestadores de serviços. Essa questão acaba sendo um entrave no processo de mudança dos modelos de remuneração. 79 5.6 Relação Hospitais e Médicos Foucault (1979) descreve a história da organização hospitalar vinculada à figura do médico como central e principal, por ele ser o responsável pelo controle dos instrumentos de “cura” do paciente. Podemos considerar, então, que a relação entre os hospitais e os médicos foi sendo construída dentro desse cenário. Provavelmente, grande parte das dificuldades vividas atualmente pelos hospitais, no que diz respeito às adaptações administrativas e de mercado, como as mudanças dos modelos de remuneração, ocorrem por herança daquela época. Diante das entrevistas, ficou evidente a dificuldade de envolver os médicos na formatação dos produtos e consequentemente de obter comprometimento e aderência aos protocolos, sejam pacotes cirúrgicos ou diárias globais clínicas. O fato da maioria dos hospitais pesquisados serem de corpo clínico aberto provavelmente influenciou a maior dificuldade para controle e gestão de utilização de recursos, pois nessa condição os médicos não apresentam compromisso formal com os hospitais. A relação dos hospitais com os médicos ainda parece de separação entre o que é assunto da Administração e o que é assunto do Médico. Apesar dos gestores se voltarem para as dificuldades, alguns deles referem que estão bem adiantados e que procuraram desenvolver pontos de controle no processo de atendimento dos procedimentos de pacote, desde o agendamento cirúrgico, o que auxilia os gestores a controlar a utilização dos recursos durante o tratamento. Também foram citados casos de organização do processo de formatação dos pacotes, como os núcleos de especialidades. Nesse caso, cada núcleo tem um coordenador médico, que gera “produtos” mais fidedignos, com rotinas para elaboração dos pacotes. Dessa forma, os protocolos a serem seguidos são formatados pelos próprios especialistas executores, diminuindo as dificuldades de aderência e as intercorrências descritas como uma das desvantagens desse modelo. Observa-se que os hospitais estão buscando formas de se adaptar a essa nova forma de contratação dos serviços hospitalares, que por ser pré-pagamento, 80 proporciona melhores resultados para aqueles que conseguirem ser mais eficientes na utilização dos recursos. Também ficaram evidentes as dificuldades que os hospitais vem enfrentando na relação dos médicos com a indústria de Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPME). Os gestores referem que muitas vezes a escolha do médico por determinado material está mais relacionada a interesses pessoais do que a características técnicas e necessidades clínicas. Esse é um dos pontos da relação com os médicos que prejudica o hospital na adaptação aos novos modelos de remuneração. Nessa relação, as operadoras acabam generalizando e dificultando a operação de hospitais e médicos que buscam as boas práticas, como fica claro no trecho abaixo. “Existe um descontrole de OPME envolvendo hospital e médico e acaba de novo as operadoras pagando essa conta. Mas as operadoras, por outro lado, não têm uma formula, elas acabam punindo todos os hospitais. Não valorizam o hospital que faz um trabalho transparente, ético, que discute os novos produtos em comissões de padronização por avaliação de custo-benefício. O hospital é punido quando o médico deixa de operar aqui porque no outro hospital o produto está disponível.” Observou-se também compreensão de gestores em relação à questão da remuneração médica e a dificuldade enfrentada pelas operadoras para corrigi-la. Por exemplo, uma sugestão é trazer para a responsabilidade do hospital o início do processo de melhoria, como observamos nos trechos abaixo. “Na remuneração do médico, existe divergência entre as especialidades. Um exemplo: para urologia a tabela AMB paga bem, chegando a 1000 reais um procedimento, mas um ortopedista por uma cirurgia chega a ganhar 160 reais.” “O start tem que vir do hospital de remunerar seus médicos melhor, como subsídio. Visa um retorno mais pra frente, não dá para esperar da operadora”. 81 5.7 Percepção dos gestores quanto à mudança de modelo Em relação à percepção dos gestores dos hospitais quanto à mudança, no conteúdo de suas falas percebe-se uma aceitação dessa perspectiva. Porém, na análise do discurso, percebe-se que a aceitação ocorre por perceberem que não há saída e que o modelo não é sustentável a longo prazo. Observa-se um conformismo e ceticismo dos agentes e não uma vontade de mudar o modelo vigente. Os gestores consideram o fee-for-service como mais adequado, mas não aceito pelo mercado. Ou seja, o problema real do modelo muitas vezes não é enxergado pelo gestor do hospital e eles só se conformam com as propostas de mudança por medo de não acompanharem as tendências de mercado. “Eu não vejo muita saída para os modelos de remuneração. O mercado de saúde ainda não é muito profissionalizado”. “O fee-for-service nunca vai acabar.” “[...] o único problema (do fee-for-service) é que não é muito aceito pelo mercado.” As percepções quanto ao prazo para mudança variam muito. A intervenção da ANS é sem dúvida um dos fatores que direcionam a opinião de muitos. Fala-se em um ou dois anos para mudar. Os mais céticos acreditam que a mudança não ocorre antes de sete ou oito anos. Independente de ser a curto, médio ou longo prazo, os gestores são unânimes em considerar a mudança perigosa para a sustentabilidade dos hospitais. Alguns consideraram também as dificuldades das operadoras e colocaram sua preocupação na mudança brusca de modelo, levando-as à falência. “Acho interessante mudar, desde que tenha critério (...). Tem que ter um critério para não prejudicar os hospitais porque nesse caso normalmente o hospital que leva a pior” 82 Estes exemplos são compatíveis com a afirmação de Okazaky (2006) quanto aos hospitais garantirem seus interesses devido ao conflito existente entre os diversos elos da cadeia e a falta de integração gerada. Frente aos problemas relatados, há necessidade de adequação da competição no mercado de saúde. Porter (2007) critica a forma desintegrada da cadeia de valor da saúde e defende que haja uma mudança voltada para o valor centrado no paciente, a chamada competição de soma positiva. A mudança para esse modelo baseada em resultados é a única maneira factível de abordar fraquezas tão arraigadas na prestação dos serviços de saúde e ao mesmo tempo aumentar a capacidade de inovação no sistema como um todo (PORTER 2007, p. 139). Porter (2007) acredita que para mudar para as novas estratégias e estruturas não é preciso esperar por mudanças na regulamentação nem pela liderança de outros participantes do sistema. Os prestadores podem dar os primeiros passos, de forma voluntária em direção à competição em valor. Um número muito grande de prestadores continua satisfeito com a situação vigente, esperando por soluções perfeitas ou por uma futura regulamentação do governo. 83 5.8 Cadeia de valor centrada no paciente A questão dos novos modelos de remuneração baseados em pagamento por performance trazem à discussão a qualidade da assistência, tão criticada e debatida por estudiosos de todo o mundo. A preocupação da maioria dos entrevistados, na discussão dos modelos de remuneração, não passa pelo paciente. O foco está entre os elos: financiador, prestador de serviço (hospital e médico) e fornecedores de materiais, medicamentos e equipamentos médicos. Nas entrevistas realizadas, apenas um gestor mencionou o paciente: “Sou a favor de previsibilidade e redução de custo operacional, mas olhando o foco assistencial. O que não pode, com a simplificação do processo, é prejudicar o resultado e a qualidade da assistência ao paciente.” Podemos até considerar que todos os gestores comerciais, por não serem médicos, tenham menos contato com os indicadores e processos assistenciais. Porém, se há uma intenção de mudança nas formas de remuneração que envolvam medidas de desempenho e melhor qualidade assistencial para o paciente, é necessário que estes profissionais sejam envolvidos. O custo da assistência pode ser reduzido, sem prejudicar a qualidade. Qualidade inferior não gera economias na assistência à saúde, tampouco na maioria dos outros setores. Pelo contrário, baixa qualidade leva a complicações e à necessidade de tratamentos adicionais, que elevam substancialmente os custos (PORTER, 2007). Se todos seguirem as melhores práticas e a competição se voltar para a geração de valor para o paciente, haverá uma economia em relação aos gastos com saúde atuais. 84 Para tanto, são necessárias medidas que estimulem mudança de comportamento e competição por melhores resultados assistenciais dos pacientes. Os discursos dos entrevistados sugerem que o mercado não está preparado para o modelo que está sendo implementado em outros países como um caminho na busca por melhoria na qualidade, os modelos de pagamento por performance. Os representantes dos hospitais que estão participando do processo de discussão dos novos modelos de remuneração não são médicos em sua maioria. Portanto, se a intenção da ANS é discutir modelos de pagamento baseados em performance é necessário que a assistência esteja na pauta das negociações entre hospitais e operadoras. 85 5.9 Perspectivas do pagamento por performance hospitalar Os hospitais pesquisados demonstram apenas um início de organização para coleta de dados assistenciais voltados a modelos de pagamento. Nesse aspecto, as respostas foram incompletas e vagas. Todos os entrevistados responderam que existe coleta de dados para condições clínicas específicas, porém, muitos não souberam explicar sobre o programa, nem para quais delas o hospital direciona os esforços de registro. Nesse momento, alguns referiram os protocolos de atendimento em pronto-socorro, como dor torácica, sepse e AVC. Isso pode sugerir que nesses hospitais não há correlação entre os resultados assistenciais e o pagamento pelas operadoras, como ocorre nos modelos de pagamento por performance internacionais. Acreditamos que as coletas e análises de indicadores assistenciais nos hospitais da amostra ocorram, já que muitos deles são acreditados por instituições nacionais e internacionais. Porém, esses resultados não estão sendo disseminados para a instituição, pois nenhum dos gestores comerciais foi capaz de descrevê-los com segurança. Além disso, se realmente alguma operadora tivesse questionado os resultados assistenciais do hospital atrelados a pagamento, os gestores teriam melhores informações. Frente às referências encontradas, podemos dizer que o modelo de pagamento por performance para hospitais ainda está em fase de desenvolvimento. Observa-se muitas discussões e estudos no exterior – que já estão em fase de avaliar o quanto os modelos implantados foram efetivos para o objetivo principal, porém, ainda não se consegue formar um consenso sobre o que é um programa de pagamento por performance hospitalar que sirva de benchmark para outros mercados. São encontradas muitas críticas aos modelos de P4P quanto a: • custos de sua implantação e manutenção, incluindo sistemas de tecnologia de informação; • poucos estudos que demonstram melhoria da qualidade da assistência após a implantação do programa de P4P; 86 • dificuldade de controlar os resultados das condições clínicas que não estão associadas a incentivos financeiros; • limitações de orçamento após alcance das metas propostas. Poucas iniciativas dessa natureza foram encontradas em literatura brasileira, somente o caso da UNIMED Belo Horizonte. Nessa pesquisa, não foram observadas iniciativas com incentivos financeiros para hospitais que demonstram busca de melhoria da qualidade assistencial, nas relações contratuais entre as organizações pesquisadas e as operadoras credenciadas. As percepções dos gestores entrevistados quanto a esse assunto mostram que realmente pouco se fala sobre o pagamento por performance no mercado de saúde suplementar paulistano. A maioria deles desconhece qualquer programa desse modelo entre algum hospital e operadora. Alguns até citaram o caso da UNIMED – BH como um exemplo de P4P no Brasil, porém, nenhum deles soube explicar como funciona o programa. “Não conheço nenhum programa de pagamento por performance no Brasil [...] Unimed Belo Horizonte, talvez, único que chega perto.” “[...] Já assisti uma apresentação da Unimed BH, mas não conversei com nenhum hospital que tenha esse modelo (de P4P).” O primeiro passo para a implantação do pagamento por performance hospitalar no Brasil é definir melhor o que é performance para nossa realidade. Encontramos na única referência nacional uma metodologia diferente da encontrada na literatura internacional, adaptada à realidade brasileira, permitindo talvez maior facilidade de operação. Nesse caso, os incentivos foram voltados para os hospitais que buscaram melhorar sua qualidade, por meio da adoção da metodologia proposta pela Organização Nacional de Acreditação (ONA). Nessa fase do programa proposto pela 87 UNIMED-BH, não houve definição de medidas de desempenho ou resultado assistencial. A performance medida foi conseguir ou não o selo de acreditação nos níveis propostos pela ONA: 1, 2 ou 3. Essa adaptação do modelo de pagamento por performance observada no Brasil dificulta a avaliação sobre a melhoria efetiva da qualidade do serviço prestado. Algumas questões podem ser levantadas a partir da análise do modelo. Será que os resultados dos pacientes antes e depois da acreditação apresentaram alguma melhoria? Em que proporção essa melhoria aconteceu? Esses dados, se foram medidos, ainda não estão publicados. A partir dessas críticas, o segundo passo é incentivar os hospitais a medir seus resultados. Sem que os hospitais estejam preparados para coletar e analisar seus resultados de maneira confiável, não é possível pensar em pagamento por performance. Como uma sugestão de terceiro passo, pode ser considerada a divulgação pública dos resultados assistenciais, comparando os hospitais com as mesmas características, semelhante às iniciativas americanas do Leapfrog Group e do Hospital Quality Alliance. A publicação dos dados já é considerada uma forma efetiva de busca por melhoria da qualidade assistencial (LINDENAUER, 2007). Um quarto passo, essencial para o desenvolvimento do P4P no Brasil, é a capacitação de profissionais para gerir os sistemas de informação, necessários para a coleta dos indicadores escolhidos como performance. Além disso, a escolha do próprio sistema de tecnologia da informação é um passo que merece atenção. O quinto passo é o desenvolvimento de um sistema de ajuste de risco, de acordo com a complexidade dos casos e especialidades, evitando a seleção de risco por parte dos prestadores. Finalmente, para que seja implantado um programa de P4P no Brasil, é necessário avaliar e definir instituições isentas para coletar as informações ou apenas validálas, a fim de garantir a veracidade dos dados apresentados. 88 A implantação de modelos de remuneração por performance no setor de saúde suplementar é viável, mas de forma gradual e talvez apenas parcial, em algumas operadoras. O apoio da ANS é essencial para que esse debate continue se aprofundando e sirva como norte dos agentes da cadeia de valor da saúde interessados em evoluir para programas com esse modelo. 89 6. CONCLUSÃO A discussão dos modelos de remuneração hospitalar são essenciais num cenário de aumentos crescentes das despesas assistenciais e também de insatisfação quanto à qualidade da atenção à saúde. Há bastante tempo o modelo fee-for-service sofre críticas quanto a suas limitações, porém, poucas iniciativas são observadas no sentido de solucioná-las. Em 2010, a ANS criou dois grupos de trabalhos em busca de novos modelos de remuneração que possam proporcionar melhorias de qualidade, bem como promover maior compromisso das partes na busca por controle dos custos. Um dos grupos é voltado para discutir a remuneração do profissional médico e o outro para a remuneração hospitalar. Essa dissertação abordou, nos primeiros capítulos, a relação entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços (hospitais), a cadeia de valor da saúde e a identificação dos modelos de remuneração hospitalar existentes no setor de saúde suplementar: fee-for-service, procedimento gerenciado (pacote), diária global, Grupo de Diagnóstico Homogêneo (GDH) e capitation. Foram destacadas as limitações do modelo fee-for-service e as imperfeições de mercado que permeiam as relações do seguro saúde. A revisão bibliográfica descreveu os entendimentos de diversos autores sobre as dificuldades do fee-for-service e os modelos alternativos no Brasil e no mundo. Levantou também os aspectos da cadeia de valor da saúde atrelados aos modelos de remuneração. Observou-se que existe uma farta literatura internacional sobre o pagamento por performance e os impactos da qualidade da assistência na geração de valor para o paciente. No Brasil, foram encontradas poucas referências sobre o tema. A pesquisa de campo, desenvolvida de outubro de 2010 a janeiro de 2011, permitiu coletar percepções de personagens de destaque no mercado de saúde suplementar, a fim de ampliar as discussões sobre o tema. 90 Sendo assim, em relação aos objetivos definidos no início do trabalho, chegou-se às seguintes conclusões: • Os dados da pesquisa revelam predominância do fee-for-service nos contratos entre as operadoras de planos de saúde e os hospitais pesquisados. Apesar das limitações desse modelo, os percentuais de participação no faturamento dos hospitais chegou a 96%. Um dos hospitais da amostra, o único que pertence à operadora, apresentou baixa participação de fee-for-service e predomínio de diária global. • Foram encontradas formas de remuneração alternativas, sendo a mais frequente os pacotes. Além dessa, também foram detectados como modelos alternativos ao fee-for-service as diárias globais. O modelo de tabela compacta, identificado em alguns dos hospitais estudados e na proposta de trabalho da ANS, é uma adaptação do fee-for-service, com as mesmas limitações descritas previamente. • As principais críticas aos pacotes são: dificuldades de discussão das intercorrências devido à formatação inadequada dos protocolos, falta de aderência dos médicos, falta de participação dos médicos na formatação e precificação dos pacotes, redução da margem do hospital e dependência dos hospitais quanto aos reajustes periódicos de preços. As vantagens das formas alternativas encontradas são: facilidade operacional, redução de custos administrativos e estímulo à eficiência do prestador de serviço. • A relação entre as operadoras de planos de saúde e os hospitais é caracterizada por interesses divergentes e ambos os agentes reconhecem que para se manterem no mercado de saúde suplementar é preciso criar mecanismos saudáveis de relacionamento comercial. Porém, ainda é muito forte a desconfiança entre as partes. A tendência de concentração das operadoras descrita anteriormente torna essa questão ainda mais relevante e crítica para a manutenção dos modelos existentes. São frequentes as queixas dos hospitais quanto à imposição de regras por parte das operadoras com grande poder de negociação. 91 • Foram encontradas poucas evidências nas entrevistas de preocupação com a qualidade assistencial e o cuidado ao paciente. Apesar de ter sido colocada em pauta na literatura internacional, a questão da qualidade assistencial não parece estar presente na discussão dos modelos de remuneração no mercado de saúde suplementar em São Paulo. As entrevistas demonstram que há maior preocupação tanto dos hospitais quanto das operadoras em defender os próprios interesses. Dessa forma, os modelos de remuneração tratados ficam somente na negociação de preços, sem avaliar mais profundamente o que pode gerar maior valor para o paciente. • Há grande dificuldade de envolver os médicos na discussão dos modelos de remuneração hospitalar e essa é sem dúvida uma tarefa necessária. Sem a aderência dos médicos aos novos modelos de remuneração hospitalar, não há sucesso em sua implantação. Toda a produção do serviço hospitalar depende das indicações e prescrições médicas e portanto eles são atores centrais nessa discussão. Não há como discutir os modelos de remuneração hospitalar sem discutir os modelos de remuneração do profissional médico. Portanto, em algum momento será necessário que os dois grupos de trabalho da ANS trabalhem em conjunto e aprofundem as discussões sobre a participação de cada elo na cadeia produtiva. Cabe aqui ressaltar a necessidade de se controlar e regulamentar a relação entre a indústria de equipamentos, materiais e medicamentos, os médicos e o hospital, com o intuito de sanar os desvios encontrados atualmente no mercado. • A intermediação da ANS, por meio dos Grupos de Trabalho, torna a mudança de modelo mais factível, apesar da percepção dos gestores ser divergente quanto ao prazo de conclusão desse processo. Alguns acreditam que será em questão de meses, outros que nada acontecerá nos próximos sete ou oito anos. A discussão do Grupo de Trabalho de ANS está alinhada com o que está sendo praticado nos hospitais pesquisados, no que se refere aos modelos de remuneração alternativos. Isso demonstra que o mercado está se preparando há algum tempo e que as operadoras estão trabalhando em formas diferentes de remunerar os serviços. A discussão que falta acontecer 92 está relacionada às razões para se buscar novos modelos, ou seja, não se pode querer redução de custos deixando de lado os critérios de qualidade. Fica claro que o fee-for-service vai permanecer, pelo menos por um tempo, convivendo com outras formas e adaptações. Novas metodologias estão sendo testadas e serão adotadas para facilitar as operações nos hospitais e operadoras, como a tabela compacta, os pacotes e a diária global. • As perspectivas do pagamento por performance no mercado de saúde suplementar em São Paulo são viáveis, porém a longo prazo. O assunto é pouco conhecido pelos gestores hospitalares e na maioria dos hospitais pesquisados não há coleta de dados assistenciais focados em pagamento. Poucos entrevistados souberam falar sobre seus indicadores, apesar de todos referirem possui-los. Para que a remuneração por performance se desenvolva são necessários alguns pré-requisitos fundamentais: o aprofundamento e a continuidade do debate público acerca dos modelos de remuneração existentes e das limitações do fee for service; a divulgação, por parte do Grupo de Trabalho da ANS, de critérios e parâmetros de performance que possam nortear as operadoras e os hospitais interessados em implantar o modelo; o desenvolvimento de um sistema de ajuste de risco, de acordo com a complexidade dos casos e especialidades, evitando a seleção de risco por parte dos prestadores; a regulamentação e fiscalização da relação entre as indústrias farmacêuticas e de materiais e equipamentos, os médicos e os hospitais; a definição de qual órgão será responsável por coletar os dados de resultado assistencial e/ou validar as informações coletadas pelos próprios hospitais; a aquisição e contratação, de sistemas de tecnologia de informações e profissionais capacitados para geri-los adequadamente. As análises desse trabalho se revelam atuais e presentes na pauta de discussões do mercado de saúde suplementar. Pretende-se, com a conclusão dessa pesquisa, oferecer subsídios a esses debates e, de alguma forma, contribuir para a busca de um sistema de saúde mais eficiente. 93 7. SUGESTÕES DE PESQUISA O desenvolvimento da pesquisa apontou os seguintes aspectos que merecem investigação futura: a) Analisar outros hospitais de operadora para verificar se a tendência de modelo de remuneração encontrada nesse trabalho se confirma; b) Aprofundar as análises dos modelos de remuneração por tipo de operadora, verificando se há alguma tendência em modalidades específicas: seguradora, medicina de grupo, cooperativa ou autogestão; c) Avaliar a conclusão e implantação do modelo proposto pelo Grupo de Trabalho da ANS. 94 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS). Notícias. Rio de Janeiro, dezembro de 2010. 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Quantas operadoras de planos de saúde têm contrato para atendimento em seu hospital? 2. Qual o faturamento médio mensal do Hospital? 3. Há alguma operadora com grande concentração dos atendimentos em seu hospital? Qual o percentual? 4. Quais as formas de pagamento praticadas atualmente em seu hospital? 5. Das opções citadas, qual é a predominante? Quantos % do total de faturamento? 6. Qual o percentual do modelo fee-for-service (conta aberta) no total de faturamento do hospital? 7. O que você acha do modelo atual predominante? 8. Há alguma iniciativa em seu hospital de remuneração baseada em performance? Se sim, por qual operadora? Qual o status? 9. Você conhece algum programa de P4P em andamento no Brasil? Qual? 10. Seu hospital coleta dados de resultado assistencial para alguma condição clinica especifica? Qual? 11. Qual a sua opinião sobre os modelos atuais de remuneração dos hospitais? 12. Você tem conhecimento dos Grupos de Trabalho da ANS que estão estudando os modelos de remuneração médica e dos hospitais? O que você acha de mudar o modelo vigente? Nota: Roteiro elaborado pela autora, 2010. APÊNDICE B Mensagem eletrônica enviada aos gestores: 101 São Paulo, 20 de outubro de 2010. Prezado senhor, Estou realizando uma pesquisa como parte do Curso de Mestrado Acadêmico em Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas, sob orientação do Prof. Dr. Alvaro Escrivão Junior, intitulada “ Análise do modelo de remuneração hospitalar no mercado de saúde suplementar paulistano”. Seu hospital foi selecionado para fazer parte da amostra e para tanto solicitamos a gentileza de responder as seguintes questões: 1. Quantas operadoras de planos de saúde têm contrato para atendimento em seu hospital? 2. Qual o faturamento médio mensal do Hospital? 3. Há alguma fonte pagadora com grande concentração dos atendimentos em seu hospital? Qual percentual? 4. Quais as formas de pagamento praticadas atualmente em seu hospital? (Conta aberta, pacote, etc) 5. Das opções citadas, qual é a predominante? Quantos % do total do faturamento? 6. Qual o percentual do modelo fee-for-service (conta aberta) no total do faturamento do hospital? Após o recebimento da carta, será realizado contato telefônico para agendamento de uma conversa sobre o tema. É muito importante que os dados acima estejam disponíveis na data marcada. Portanto, solicitamos sua especial atenção em coletar esses dados previamente, a fim de estarem prontos no dia da entrevista. 102 Garantimos sigilo das informações prestadas e do nome do hospital; os resultados serão apresentados agrupados, sem individualização de resposta. Colocamo-nos à disposição para esclarecer eventuais dúvidas sobre o projeto de pesquisa. Atenciosamente, Ana Cláudia Diniz Takahashi Prof. Álvaro Escrivão Junior Pesquisadora Orientador