A política de acesso à agenda governamental Ana Cláudia Niedhardt Capella Universidade Estadual Paulista - UNESP 8º Encontro da ABCP - 01 a 04/08/2012 Gramado/ RS Área Temática: Estado e Políticas Públicas 1 Introdução Este artigo pretende examinar uma dinâmica pouco investigada nos estudos sobre formulação de políticas públicas: a restrição no acesso à agenda (agenda denial), processo pelo qual questões são mantidas fora da consideração e deliberação governamentais. A pesquisa em agenda-setting tem sido bem sucedida em apontar os motivos pelos quais algumas questões obtêm atenção do governo, passando a integrar sua agenda. Há, no entanto, diversas questões para as quais diferentes ferramentas e estratégias são empregadas para controlar o acesso à agenda. O poder de manter uma questão fora da agenda é exercido por meio da negação de um problema, descrédito na própria questão ou no grupo diretamente relacionado a ela, ações de cooptação, adiamento, bloqueio formal, entre outros mecanismos. O presente estudo tem como objetivo explorar essas ações, contribuindo para as pesquisas em políticas públicas. Para tanto, o texto está organizado em três seções. Na primeira, apresentamos uma breve discussão sobre os debates que antecederam o surgimento das análises sobre a formação da agenda. Nos anos 1960, desenvolvem-se na ciência política estudos sobre a expansão do conflito e sobre dimensões até então inexploradas do poder, temas que influenciariam diretamente os estudos sobre a formação da agenda governamental que se desenvolveram a partir da década de 1970. A seguir, destacamos alguns aspectos no desenvolvimento da literatura mais recente sobre a formação da agenda governamental. Na década de 1990, os estudos realizados no campo das políticas públicas produziram modelos teóricos capazes de explicar grande parte do processo de construção da agenda. Menor ênfase tem sido reservada ao processo pelo qual as questões são mantidas sistematicamente afastadas da agenda. Na terceira seção, buscamos explorar essa faceta, destacando as principais estratégias e mecanismos de restrição de questões à agenda apresentados pela literatura especializada. 2 Conflito e poder: a origem dos estudos sobre agenda No campo da ciência política, os primeiros estudos que consideraram a formação da agenda como parte fundamental do processo político datam dos anos 1970 e inicialmente desenvolveram-se como um desdobramento de análises que buscavam mostrar os limites da abordagem pluralista desenvolvida nos anos 1950 e 1960. De forma geral, os pluralistas ignoraram o processo pelo qual alguns temas surgiam nos debates políticos, desconsiderando a emergência de questões no processo decisório. Dahl (1956) aproxima-se dessa discussão ao afirmar que um dos requisitos para democracia consistia na ausência de um grupo dominante no controle das alternativas em discussão num sistema político democrático. Em estudo posterior (1961), sugere que qualquer questão poderia despertar a atenção das elites. Para Schattschneider (1960), no entanto, nem todas as questões têm acesso à agenda. O autor argumenta que conflito é a base da atividade política. Todo conflito, quando explorado pelas organizações políticas, pode se expandir e se transformar numa questão política, enquanto outros tenderão a serem suprimidos por essas mesmas organizações. A expansão dos conflitos se desenvolve por meio daquilo que o autor denominou como “mobilização da opinião” (mobilization of bias). Todo conflito se estabelece, inicialmente, entre dois grupos: o primeiro é composto por alguns poucos indivíduos engajados diretamente no conflito, e o segundo por um grande número de espectadores. O resultado final de todo conflito, afirma Schattschneider, depende do quão envolvida a audiência se mostra. Assim, os interessados em manter um conflito na agenda mobilizarão apoio popular, tornando o conflito, nas palavras do autor, “contagioso”, conforme ele se torna cada vez mais politizado por meio da mobilização e engajamento daqueles que inicialmente não estavam envolvidos. Conforme a expansão de um conflito se processa, a natureza do conflito, os atores envolvidos e as definições das questões se alteram. A noção de que a “política é a socialização do conflito” (Schattschneider, 1960, 38) reflete a transformação de uma questão “privada” em um alinhamento político por meio do envolvimento do público. Nas palavras do autor: “All forms of political organization have a bias in favor of the exploitation of some kinds of conflict and the suppression of others because organization 3 is the mobilization of bias. Some issues are organized into politics while others are organized out” (Schattschneider, 1960, 71) 1. Por meio da mobilização, os conflitos são socializados e se tornam rotineiros e/ou institucionalizados no sistema político. Uma vez que diversos outros conflitos também têm potencial para seguir o mesmo caminho, o autor mostra que os atores políticos procurarão levar seus conflitos adiante de forma a impedir que outros mobilizem a atenção e obtenham o engajamento do público. Além disso, o autor entende que o conflito se estabelece fundamentalmente na definição de questões alternativas, problemas e soluções. Para ele, os sistemas políticos não conseguem definir todas as alternativas possíveis para todos os problemas potenciais que emergem para consideração num momento. Sempre haverá algum mecanismo de seleção pelo qual questões se tornam proeminentes à consideração daqueles que têm autoridade para tomar decisões dentro do governo. Esses indivíduos, aos quais cabe a tomada de decisão, estão reunidos em torno de um conflito sobre a definição de alternativas, considerada por Schattschneider (1960, 66) como o “supremo instrumento do poder”. Um grupo pequeno de formuladores de políticas se envolve diretamente neste conflito, enquanto um grupo maior de indivíduos, muitas vezes externos ao governo, compõe a audiência. A mobilização desses indivíduos, em torno das alternativas propostas pelos formuladores de políticas, é essencial para a formação das políticas, na visão do autor. Assim, Schattschneider percebe que aqueles que estabelecem os termos de referência num debate ganharão a atenção do público e dos tomadores de decisão, posicionando-se à frente dos demais: “whoever decides what the game is about decides also who can get into the game” (Schattschneider, 1960, 102). O estudo de Schattschneider inaugura a preocupação com a construção da agenda, que passa a ser considerada parte fundamental do processo político em análises que se desenvolveriam ao longo dos anos 1960 e 1970. Bachrach e Baratz (1962), por exemplo, tomam de Schattschneider a ideia de “mobilização da opinião” para analisar processos nos quais conflitos são suprimidos e questões são impedidas de acessar o sistema político. Para os autores, o poder teria “duas faces”: uma face perceptível no nível dos conflitos abertos e que se manifesta no processo decisório e no comportamento; outra face imperceptível, direcionada à supressão dos conflitos. Para os autores: “Of course power is exercised when A participates in the making of decisions that affect B. But power is also exercised when A devotes his 1 Grifo do original 4 energies to creating or reinforcing social and political values and institutional practices that limit the scope of the political process to public consideration of only those issues which are comparatively innocuous to A. To extent that A succeeds in doing this, B is prevented, for all practical purposes, from bringing to the fore any issues that might in their resolution be seriously detrimental do A´s set of preferences.” (Bachrach e Baratz, 1962, 948). A crítica dos autores é dirigida à concepção de poder apresentada por Dahl (1957, 202-203), na qual o autor define que “A has power over B to the extent that he can get B to do something that B would not otherwise do”. O poder, nessa perspectiva seria relacional, ou seja, envolveria uma relação entre atores políticos (indivíduos, grupos, governos, Estados, entre outros). Tais atores teriam preferências distintas e aqueles cujas preferências predominassem numa situação de conflito seriam precisamente os atores que exerceriam o poder num sistema político. O estudo do poder político deveria, portanto, focalizar as decisões tomadas pelos atores na busca da realização de suas preferências. Bachrach e Baratz apontam que a análise do poder proposta por Dahl representa uma visão parcial sobre o fenômeno, uma vez que seria necessário investigar não apenas as decisões tomadas pelos atores mas também as decisões que não foram tomadas, de forma possibilitar o entendimento sobre a maneira como a “mobilização da opinião” (mobilization of bias) opera para limitar a expansão do debate. Os autores definem a “não-decisão” como a limitação do processo decisório a questões “seguras” por meio da manipulação dos valores e mitos da comunidade e das instituições políticas e procedimentos (Bachrach e Baratz, 1963). Em outro estudo, os autores definem a “não-decisão” da seguinte forma: "Nondecision-making is a means by which demands for change in the existing allocation of benefits and privileges in the community can be suffocated before they are voiced, or kept covert; or killed before they gain access to the relevant decision-making arena; or, failing all of these things, maimed or destroyed in the decision-implementing stage of the policy process" (Bachrach e Baratz, 1970, 45). A “segunda face” do poder, portanto, consistiria na habilidade de controlar as alternativas submetidas à discussão, aspecto negligenciado por Dahl e pelos 5 pluralistas, e essencial para a compreensão do poder político na visão dos autores 2. Bachrach e Baratz não posicionam contrariamente à noção de que o poder se manifeste no processo decisório mas defendem que o poder se manifesta também na “não decisão”, ou seja, na criação de barreiras à emergência de conflitos. Bachrach e Baratz influenciaram outros autores a estudarem não apenas o processo decisório governamental, mas também as “não-decisões” e o controle do acesso à agenda, entre eles Crenson (1971). O autor argumenta que os estudiosos, ao concentrarem sua atenção em ações e decisões observáveis, assumem o mesmo ponto de vista da comunidade investigada, com os mesmos pontos cegos e distorções. Nessa perspectiva, as análises não questionam o porquê de alguns temas não se transformam em questões. As "não questões" (non-issues) raramente foram enfrentadas como fenômenos políticos importantes. O estudo conduzido pelo autor buscou mostrar que a inação é também uma forma de poder bastante comum, aliás, em muitos municípios norte-americanos, no que diz respeito à questão da poluição ambiental. Crenson analisou a “não-política” de poluição do ar em duas cidades norteamericanas produtoras de aço no estado de Indiana (Gary e East Chicago) . Em Gary, os níveis de poluição eram bastante altos e não havia legislação específica a respeito. Na verdade, o tema da poluição não era sequer discutido pela opinião pública ou pelo governo. Por outro lado, em East Chicago, embora os níveis de poluição fossem mais baixos, a questão era amplamente debatida e o governo havia adotado ações concretas para enfrentar o problema. Na análise do autor, a diferença nas formas de abordagem das duas cidades com relação à questão da poluição poderia ser explicada pelo controle da agenda exercido por grupos de interesse ligados à produção de aço. Em Gary, uma única empresa dominava a produção de aço e, segundo o autor, seu poderio econômico foi decisivo para que a cidade temesse que a introdução de medidas relacionadas à questão da poluição contribuísse para mudança da corporação para outro município, afetando adversamente a economia local. Já em East Chicago, diferentes empresas atuavam ao mesmo tempo, diluindo o receio de um confronto e favorecendo a adoção de medidas de controle da poluição. Por meio da análise dos casos, o autor conclui que o poder é mais do que a capacidade de 2 Para uma análise crítica sobre a proposição de Bachrach e Baratz, consultar: Merelman, R. “On the Neo-elitist Critique of Community Power”. American Political Science Review, Vol. 62, No. 2, jun., 1968 (pp. 451-460); Polsby, N. W. “Community: the Study of Community Power” in D. Sills (ed.), International Encyclopedia of the Social Sciences. New York: Macmillan and Free Press, 1968; Wolfinger, R. E. “Nondecisions and the Study of Local Politics”. American Political Science Review, Vol. 65, No. 4, dez., 1971 (pp. 1063-1080). 6 influenciar as decisões políticas locais, é também a habilidade de impedir que alguns tópicos sejam convertidos em questões e, da mesma forma, a capacidade de obstruir a expansão de questões emergentes. Além disso, o autor mostra que o poder não precisa ser efetivamente exercido para provocar desdobramentos: a simples reputação atribuída pela comunidade a um ator pode ser suficiente para restringir o escopo das escolhas feitas no plano local. Outro autor que contribui para a discussão é Lukes (1974; 2005), que ampliou o debate sobre como estudar o poder de ponto de vista teórico e empírico destacando uma “terceira face” para investigação. A “primeira face” do poder, tal como definida por Dahl (1957) focaliza o conflito observável no processo decisório, no qual o poder envolve recursos políticos (votos, cargos, influência) que serão utilizados no processo de barganha. Lukes (2005) defende que tal visão do poder é unidimensional por destacar apenas o comportamento observável no processo de tomada de decisão em torno das questões colocadas em debate numa situação de conflito observável, quando, na verdade o poder não é apenas refletido em decisões concretas. O poder também consiste na capacidade de limitar o processo decisório a questões não controversas, em um processo menos visível. Na “segunda face” do poder, a noção de "mobilização da opinião" (mobilization of bias), tal como apontado por Schattschneider (1960) e desenvolvido por Bachrach e Baratz (1962), contribui para destacar que o exercício do poder pode se desenvolver também de forma velada por meio de mecanismos de “não-decisão” ou de controle de agenda (e não, necessariamente, no âmbito do processo decisório). Para Lukes (2005), essa abordagem com relação ao poder aponta para uma perspectiva de duas dimensões, mantendo algumas características da análise unidimensional e agregando novos elementos. No entanto a perspectiva bidimensional é criticada pelo autor por também focalizar a análise em conflitos observáveis (sejam estes abertos ou velados), não se afastar efetivamente da abordagem pluralista, além de assumir o poder como o bloqueio de questões ao acesso no processo decisório. Para o autor, o poder seria exercido na prevenção do surgimento questões por meio da manipulação de percepções e preferências que assegurariam a aceitação do status quo, seja porque a situação atual parece ser a única alternativa, ou porque é encarada como natural e imutável ou ainda porque gera benefícios. O autor propõe, então, uma “terceira face”, ou uma abordagem tridimensional do poder. A “terceira face” do poder, para Lukes, envolve tanto o processo decisório quanto o controle sobre a agenda; as questões e “não-questões”; os interesses reais e subjetivos em jogo; os conflitos observáveis (abertos ou velados) e os conflitos 7 latentes. O conflito latente, ingrediente fundamental da visão tridimensional de Lukes, está relacionado ao exercício do poder para moldar as preferências de forma a impedir o surgimento do conflito (aberto ou velado). O conflito latente, diz o autor, "consists in a contradiction between the interests of those exercising power and the real interests of those they exclude” (Lukes, 2005, 28). O conflito é latente no sentido de que haveria o estabelecimento de um conflito baseado na divergência de preferências entre os que exercem o poder e aqueles submetidos ao poder se estes tivessem consciência ou pudessem expressar seus próprios interesses. Assim, a terceira dimensão, que pode ser sintetizada na ideia de “poder por meio da dominação”, consiste na contribuição do autor para uma “visão radical do poder”, exercido não apenas nas duas primeiras dimensões (processo decisório e construção da agenda) mas num nível bem menos visível 3. O enfoque de Lukes nesse nível menos visível do poder foi apontado por críticos como um fator que comprometeria a abordagem tridimensional, uma vez que tal foco traria sérias restrições para a análise empírica. Ao relacionar e desenvolver as três faces do poder de Lukes, Gaventa (1980), em seu estudo sobre a pobreza na região central dos Apalaches, contribui com a proposição de ferramentas analíticas para viabilizar a análise do “conflito latente”. Em sua análise, Gaventa procura compreender a relação entre poder e participação política, analisando a situação de um grupo de mineiros e suas famílias, sujeitos a uma situação de opressão pela configuração do poder exercido pela empresa exploradora de carvão e pelas forças econômicas e políticas locais. O autor busca compreender por que, numa situação social de alta desigualdade, um grupo que está em clara desvantagem permanece passivo (quiescent) sem sequer tentar exercer influência – ainda que limitada – para reverter a situação. O autor mostra que as explicações convencionais para a desmobilização consideram a pobreza ou a falta de educação como fatores que tenderiam a preservar o status quo e limitar a participação política. Tais explicações foram consideradas insuficientes pelo autor, que destaca as três dimensões do poder como mecanismos que estruturam as relações entre os mineiros e a empresa e que levam, no longo prazo, à alienação e apatia. Tal dominação se reproduz em função da combinação de fatores envolvendo barreiras culturais, corrupção, intimidação e o receio pelo grupo de ser identificado como desleal com a empresa e com a comunidade que os cerca. Destacando a relevância do contexto histórico e social da região na qual as três dimensões do poder operam, Gaventa mostra que, combinadas, 3 Para uma discussão sobre as proposições de Lukes, seus limites e desafios (teóricos e empiíricos), ver Shapiro, I. "On the Second Edition of Luke´s Third Face". Political Studies Review, 2006, vol 4, 2006 (pp. 146-155). 8 é possível, a partir delas, analisar uma situação na qual um grupo de pessoas sistematicamente oprimidas não se opõe à elite que a governa – e muitas vezes se aliam a seus opressores. Assim, para o autor, as três dimensões são integradas e complementares: “The total impact of a power relationship is more than the sum of its parts. Power serves to create power. Powerless serves to reinforce powerless. Power relationships, once established, are self sustaining (Gaventa, 1980, 256) 4. Os autores e os conceitos aqui brevemente apresentados são importantes para o nosso estudo uma vez que nos ajudam a compreender a política de acesso à agenda governamental e como o bloqueio sistemático de algumas questões se processa. Embora tenham raízes nos estudos discutidos nesta seção, as análises mais recentes sobre agenda-setting acabaram por se distanciar dos debates em torno das teorias sobre o poder. Na próxima seção, veremos como essas análises lidam com a ascensão e queda de questões na agenda governamental. Os estudos sobre a agenda na ciência política Apesar de a discussão sobre o poder desenvolver-se em torno do debate entre elitistas e pluralistas, como vimos rapidamente na seção anterior, esse debate contribuiu diretamente para o desenvolvimento inicial de estudos direcionados à compreensão da agenda governamental. As análises de Roger Cobb e Charles Elder sobre a formação da agenda, desenvolvidas no início dos anos 1970, destacam a importância fundamental dos processos pré-decisórios para a compreensão das escolhas e alternativas a serem consideradas pelos tomadores de decisão, incorporando principalmente os estudos de Schattschneider e Bachrach e Baratz. Para os autores, a investigação sobre a construção da agenda consiste numa alternativa aos debates entre a teoria democrática clássica (e as questões de influência, igualdade, liberdade, participação) e a teoria democrática moderna (e as discussões sobre estabilidade do sistema democrático, processo decisório, características das elites, entre outras) (Cobb e Elder, 1971). As limitações da perspectiva clássica e os esforços dos cientistas políticos para reconciliar teoria e prática resultaram na abordagem do elitismo democrático que, para os autores, falha em analisar a participação política. Cobb e Elder argumentaram que a essência do conflito político reside no escopo da 4 Para uma discussão preliminar sobre o estudo de Gaventa, consultar Reid, H.G. “Review of John Gaventa, Power and Powerless: Quiescence and Rebellion in na Appalachian Valley”. Journal of Politics, vol. 43 nº 4, nov. 1981 (pp. 1270-1273). 9 participação: para qualquer questão, sempre haverá mais pessoas desinteressadas do que dispostas a se envolver diretamente. Retomando as ideias de Schattschneider, os autores sustentam que os indivíduos ou grupos em disputa numa política procurarão ampliar o escopo do conflito, atraindo os demais grupos previamente desinteressados. Cobb e Elder desenvolvem esta linha de argumentação analisando detalhadamente os mecanismos pelos quais os grupos buscam expandir o conflito, ampliando a esfera de participação numa política. Ao focalizar a noção de agenda seria possível, segundo os autores, desenvolver uma perspectiva teórica que explicasse como os grupos articulam suas demandas e as transformam em questões que adquirem visibilidade e requerem ação governamental, processo fundamental à democracia. Assim, para os autores, “We are raising the basic question of where public-policy issues come from. We are concerned with how issues are created and why some controversies or incipient issues come to command the attention and concern of decision makers, while others fail. In other words, we are asking what determines the agenda for political controversy within a community. How is an agenda built (i.e., how is an issue placed on it) and who participates in the process of building it?” (Cobb and Elder, 1971, 905). Partindo desse questionamento sobre quem participa e como a agenda é construída, os autores conduziram os primeiros estudos sistemáticos sobre a formação da agenda governamental no campo da ciência política, com base numa distinção entre agenda sistêmica e agenda institucional (Cobb e Elder 1972) 5. A agenda sistêmica, para os autores consiste no conjunto de questões em discussão pela sociedade: “The systemic agenda consists of all issues that are commonly perceived by members of the political community as meriting public attention and as involving matters within the legitimate jurisdiction of existing governmental 5 A diferenciação apresentada pelos autores permitiu o desenvolvimento dos estudos sobre a agenda governamental (também denominada “institucional” ou “formal”) na ciência política. Até então, os estudos sobre agenda-setting se debruçavam sobre as relações entre opinião pública e mídia, sendo desenvolvidos na área de comunicação. A origem do termo agenda-setting é atribuída ao estudo pioneiro de Maxwell McCombs e Donald Shaw, publicado em 1972 e que estabeleceu, no campo da comunicação, a relação entre a agenda midiática e agenda da opinião pública. Para uma análise desses estudos, consultar: Azevedo, Fernando A.F. “Agendamento da Política”. In RUBIM, Antônio A.C. (org). Comunicação Política: conceitos e abordagens. São Paulo, Ed Unesp, 2004 (pp.41-72). 10 authority. Every local, state, and national political community will have a systemic agenda.” (Cobb e Elder, 1972, 85). As questões se manifestam na agenda sistêmica se despertam a atenção da opinião pública ou se parte considerável do público demanda algum tipo de ação concreta com relação a uma preocupação, ou ainda no caso de haver uma percepção, pelos membros de uma comunidade, de que uma questão deve ser tratada pelo governo. Algumas dessas questões, presentes na agenda sistêmica, concentrarão a atenção governamental e se moverão para o segundo tipo de agenda identificado pelos autores: a agenda governamental (institucional ou formal): “The institutional, governmental, or formal agenda may be defined as that set of items explicitly up for the active and serious consideration of authoritative decision-makers. Therefore, any set of items up before any governmental body at the local, state, or national level will constitute an institutional agenda” (Cobb e Elder, 1972, 85). Questões, para os autores, envolvem fundamentalmente o conflito: “An issue is a conflict between two or more identifiable groups over procedural or substantive matters relating to the distributions of positions or resources” (Cobb e Elder, 1972, 82). Baseando-se na noção de “mobilização da opinião” (Schattschneider), os autores defendem que as questões tipicamente emergem em pequenos grupos, e estes se preocupam em promover (ou impedir) a expansão da questão. Durante o processo de expansão, a questão pode ser redefinida conforme outros grupos se envolvem. Nesse processo, muitos defensores de uma questão podem deixar de apoiá-la, por julgarem que a redefinição de alguma forma traz ideias muito distanciadas da percepção original do problema. Além disso, enquanto os grupos e indivíduos que se opõem a uma questão buscam conter o processo de expansão, os proponentes procuram envolver outros grupos, buscando vencer a apatia e a inércia daqueles previamente desmobilizados (Cobb, Ross e Ross, 1976). A transição das questões presentes na agenda sistêmica para a agenda governamental pode ser dar de três maneiras distintas (Cobb, Ross e Ross, 1976). A primeira (outside initiative model) envolve processos nos quais as questões emergem em grupos externos ao governo e são expandidas para atingir a agenda sistêmica, em primeiro lugar, e a agenda governamental, em segundo. Nesse caso, as demandas são articuladas em termos genéricos para mais tarde serem traduzidas em demandas mais específicas, na busca pelo estabelecendo de alianças entre diferentes grupos em torno de questões comuns, inserindo o debate na agenda sistêmica. Os grupos então 11 buscam a atenção dos formuladores de políticas, seja por meio da expansão da questão a outros grupos sociais ou conectando a questão a outras já existentes. A expansão é essencial para o sucesso de uma questão na agenda governamental mas, por outro lado, é um momento crucial para o grupo que a propõe pois quanto mais grupos entram no conflito, maior a chance de o grupo inicial perder o controle sobre a questão. A segunda forma de articulação entre agenda sistêmica e agenda governamental analisada pelos autores (mobilization model) localiza a origem de uma questão dentro do governo. O lançamento de um novo programa numa política pública na área de saúde ou educação, por exemplo, não se baseia necessariamente na incorporação pelo governo de uma demanda publicamente reconhecida. Considerando que a proposição de uma questão pelo governo eleva as chances de que esta questão ingresse na agenda governamental, a expansão da questão para obtenção de apoio junto ao público tem, nesse caso, outro propósito: não se destina a viabilizar o acesso à agenda, mas a facilitar o processo de implementação. Para maior efetividade na implementação de um programa, muitas vezes é necessário que ele tenha boa aceitação pela sociedade. Nesse caso, os líderes governamentais procuram mobilizar suporte popular para suas decisões, de forma a inserir a questão na agenda sistêmica e aumentar as chances de sucesso na fase de implementação. A terceira relação entre as agendas sistêmica e governamental identificada por Cobb, Ross e Ross (1976) (inside iniciation modelo) também se origina dentro governo, mas contrariamente ao modelo anterior, não segue para a agenda sistêmica. Neste caso, as questões emergem em órgãos governamentais ou em grupos influentes, com acesso aos tomadores de decisão, sem nenhum esforço por parte dos propositores para expandir a questão junto ao público. Seja por questões técnicas ou políticas (como por exemplo em programas relacionados à área militar ou econômica), a participação do público é excluída e os proponentes tentam impedir que a questão chegue à agenda sistêmica. Cada um desses modelos de agenda-setting, para os autores, está relacionado com as características específicas do sistema político no qual a construção da agenda se desenvolve. Em democracias liberais, a primeira forma de articulação (da agenda sistêmica para a governamental) seria mais provável, enquanto a segunda (da agenda governamental para a sistêmica) seria típica de sociedades hierarquizadas onde os líderes concentram grandes parcelas de poder. Regimes burocráticos-autoritários, com 12 grande concentração de riqueza e status tenderiam a construir suas agendas seguindo a terceira explicação (agenda governamental). Posteriormente aos estudos iniciais de Cobb e Elder, diferentes autores deram continuidade à investigação sobre o processo de formação da agenda. Tais análises, no período mais recente, acabaram por se afastar de conceitos como o da “nãodecisão”, conflito e poder ao focalizarem os mecanismos de entrada e saída de questões da agenda governamental. John Kingdon (2003) avança na conceituação de agenda, ao propor uma diferenciação entre o conceito de agenda governamental, tal como definido originalmente por Cobb e Elder (1972) e a noção de agenda decisória. Para Kingdon, uma questão passa a fazer parte da agenda governamental quando desperta a atenção e o interesse dos formuladores de políticas. No entanto, dada a complexidade e o volume de questões que se apresentam aos formuladores, apenas algumas questões serão seriamente consideradas dentro da agenda governamental, num determinado momento. Estas questões compõem a agenda decisória: um subconjunto da agenda governamental que contempla questões prontas para a tomada de decisão pelos formuladores de políticas, ou seja, prestes a se tornarem políticas (policies). Para o autor, “we should also distinguish between the governmental agenda, the list of subjects that are getting attention, and the decision agenda, the list of subjects within governmental agenda that are up for an active decision” (Kingdon, 2003, 04) 6. Esta diferenciação se faz necessária, segundo o autor, porque ambas as agendas são afetadas por processos diferentes. O autor argumenta que mudanças na agenda decisória resultam da combinação de três fatores: a forma pela qual um problema é percebido (fluxo de problemas), o conjunto de alternativas disponíveis (fluxo de alternativas ou soluções) e as alterações na dinâmica política e da opinião pública (fluxo político). Já as mudanças na agenda governamental requerem apenas dois dos três fatores acima mencionados: um problema claramente percebido e um momento político favorável (fluxos de problema e político). Uma política pública só tem início, portanto, se uma questão chega à agenda decisória, depois de passar pela agenda governamental. A análise de Kingdon (2003) sobre a construção da agenda também se afasta da proposição original de Cobb e Elder (1972), que explicam a produção de políticas como um processo relativamente ordenado, no qual ao momento da definição da agenda segue-se o processo decisório e, em seguida, a implementação. O modelo de 6 Grifo do original. 13 agenda-setting desenvolvido por Kingdon (2003) rompe com a lógica de estágios na produção de políticas, propondo um modelo explicativo mais fluído, organizado em torno de fluxos. Para Kingdon, cada um dos três fluxos (streams) desenvolve-se de maneira relativamente independente em relação aos demais. No primeiro fluxo estão questões reconhecidas como problemas e que por esse motivo passam a concentrar a atenção governamental. Alguns mecanismos, como indicadores produzidos sistematicamente (monitoramento de programas governamentais, relatórios de desempenho) e principalmente grandes eventos (desastres, catástrofes, grandes acidentes), contribuem para focalizar a atenção sobre uma questão. No entanto, esses mecanismos não transformam as questões automaticamente em problemas. A interpretação desses eventos e seu entendimento enquanto problemas que demandam ação governamental é que determina o sucesso de uma questão na agenda. No segundo fluxo temos um conjunto de alternativas ou soluções, desenvolvidas por especialistas (pesquisadores, assessores parlamentares, acadêmicos, funcionários públicos, analistas pertencentes a grupos de interesses, entre outros). Essas alternativas, não necessariamente relacionadas à percepção de problemas específicos, circulam por comunidades de experts, e enquanto algumas são descartadas, outras sobrevivem podendo chegar à consideração de atores governamentais. Por fim, o terceiro fluxo é composto pela dimensão da opinião pública (percepção geral sobre determinadas questões), das forças políticas organizadas (posicionamento dos grupos de interesse em relação a uma questão, por exemplo) e do próprio governo (mudança de pessoas em posições estratégicas dentro da estrutura governamental, mudanças de gestão, mudanças na composição do Congresso, entre outros fatores). Em determinadas circunstâncias, estes três fluxos convergem, criando uma possibilidade de mudança na agenda. Em tais oportunidades (policy window), um problema é reconhecido, uma solução está disponível e as condições políticas tornam o momento propício para a mudança, permitindo a integração dos três fluxos e possibilitando que questões ascendam à agenda. Quando tais “janelas de oportunidade política” se abrem, entram em cena os empreendedores de políticas, indivíduos dispostos a investir numa ideia e que podem fazer parte do governo (no Poder Executivo, ocupando altos postos ou em funções burocráticas; no Congresso, como parlamentares ou assessores), ou não (participando de grupos de interesse, da comunidade acadêmica, da mídia, por exemplo). Estes indivíduos reconhecem o momento da oportunidade, seu caráter transitório, e agem no sentido de “amarrar” os três fluxos, facilitando o acesso de uma questão à agenda. 14 Uma explicação alternativa sobre o processo de agenda-seting foi desenvolvida por Baumgartner e Jones (1993). Os autores percebem que, ao contrário das observações de Cobb e Elder (1972), que destacam a dificuldade que novas questões têm para ingressar na agenda e romper com o status quo, dada a natureza conservadora do sistema político, há períodos de estabilidade na agenda, marcados pela lógica incremental, mas também momentos que favorecem mudanças rápidas e inesperadas. Para os autores, a mudança na agenda ocorre quando a percepção sobre uma política é alterada, mobilizando atores previamente afastados do processo decisório. Os autores utilizam a ideia de “monopólio de políticas” (policy monopoly) para designar um conjunto de entendimentos sobre uma determinada questão que se torna dominante e a partir do qual os atores ganham a habilidade de controlar a interpretação sobre um problema e a forma como este é percebido e discutido. Os “monopólios” são reforçados por arranjos institucionais que mantém o processo decisório limitado a um grupo pequeno de atores, restringindo o acesso dos demais. Estes “monopólios” são responsáveis pela manutenção da estabilidade na produção de políticas públicas e restrição de novas questões à agenda governamental. Enquanto uma visão compartilhada sobre símbolos, problemas, soluções e relações causais, prevalecer a respeito de uma determinada política (policy image), restringe-se o acesso ao processo decisório daqueles atores que não concordam com essa imagem. Tem-se, então, a prevalência de mudanças lentas, graduais e incrementais, configurando uma situação de equilíbrio na produção das políticas públicas. No entanto, em alguns momentos, novos atores conseguem acesso aos “monopólios”, criando instabilidade e a oportunidade de mudança na agenda. Isso acontece, segundo os autores, por causa de mudanças na forma como uma questão é compreendida, ou seja, por meio de alterações na “imagem” de uma política. Mudanças na percepção das questões, acontecimentos que focalizem atenção do governo, alterações na opinião pública, por exemplo, podem contribuir para a alteração na “imagem” de uma política, permitindo o acesso de diferentes grupos ao processo decisório e, desta forma, favorecendo o acesso de questão para a agenda governamental. Quando uma questão ascende à agenda, o “monopólio” deixa de existir e o sistema torna-se propenso à mudança, já que a atenção dos líderes governamentais e do público pode levar à introdução de novas ideias e de novos atores. As novas ideias e instituições tendem a permanecer ao longo do tempo (policy legacy), criando um novo estado de equilíbrio no sistema político que, após um período, tende a voltar à estabilidade. Para os autores, a força fundamental para a explicação tanto da manutenção de uma agenda, quanto de sua mudança é, precisamente, a “imagem” das políticas 15 públicas, considerada um elemento crucial na luta política. O processo de agendasetting, para os autores, consiste em alocar a atenção governamental para alguns assuntos específicos e, neste processo, as alterações na forma como uma questão é definida podem levar a mudanças na forma como o governo prioriza os problemas (Baumgartner e Jones, 2005). Assim, a literatura sobre agenda-setting desenvolve-se na ciência política à partir dos anos 1970, sob forte influência do debate relacionado às questões de conflito e poder. Mais recente, os estudos têm se desenvolvido na sub-área de políticas públicas e, embora mantenham diversas das preocupações originais, expandem as análises incorporando novos conceitos e abordagens importantes para a compreensão da formação da agenda. Esses estudos, no entanto, não focalizam uma dimensão importante do processo de agenda-setting: o bloqueio do acesso de questões à agenda, tópico que desenvolveremos na próxima seção. Estratégias e mecanismos de bloqueio da agenda Como vimos, os estudos sobre a formação da agenda investigam como uma questão se transforma em um problema que captura a atenção dos tomadores de decisão. Uma faceta pouco analisada pela literatura, no entanto, consiste no processo pelo qual questões falham em chegar à agenda governamental. Longe de ser um processo automático, o sucesso ou insucesso de uma questão na agenda envolve uma série de fatores: a conexão entre problemas, soluções e contexto político, como destaca Kingdon (2003), ou a mudança na imagem de uma política e a mobilização de novos atores no processo, como apontam Baumgartner e Jones (1993), ou mesmo os três mecanismos analisados por Cobb e Elder (1972). Nesta seção, buscamos explorar, a partir da literatura de agenda-setting, as principais explicações para questões sistematicamente ausentes da agenda governamental. O estudo de Cobb e Ross (1997) sobre a “negação da agenda” (agenda denial) é uma das poucas reflexões desenvolvidas sobre o tema. Os autores definem a “negação da agenda” como “the political process by which issues that one would expect to get meaningful consideration from the political institutions in a society fail to get taken seriously” (Cobb e Ross, 1997, xi). Para os autores, o conflito em torno da agenda se desenvolve em dois diferentes níveis. Em primeiro lugar, o conflito se processa em torno da consideração ou não, pelo governo, da questão colocada para os tomadores de decisão. A diferenciação de Kingdon (2003, 04) entre agenda 16 governamental (conjunto de questões que concentram atenção) e agenda decisória (conjunto de questões prontas para uma decisão) esclarece parte desse tipo de conflito, pois nem todas as questões que chegam à agenda governamental se encaminham para a agenda decisória 7. O segundo conflito emerge na competição pela interpretação das questões e visões de mundo subjacentes a essas interpretações, ou seja, quais problemas serão objeto da ação governamental. Trata-se de um processo essencialmente simbólico, no qual interesses materiais dos atores em conflito estão relacionados às definições das questões: “in all agenda conflicts, we suggest, material interests are invariably linked to symbolic definition, as each side seeks to widen support” Cobb e Ross (1997,14). A relação entre interesses e definição simbólica é destacada tanto no modelo de Kingdon quanto no modelo de Baumgartner e Jones. Neste último, o conceito de imagem (policy image), composto tanto por informações empíricas quanto por apelos emotivos, reflete precisamente a relação entre interesses e a forma como uma política é discutida. Para Cobb e Ross (1997), é possível observar em qualquer um desses tipos de conflitos dois lados opostos: os proponentes, que buscam por diversas razões chamar a atenção sobre uma questão e obter acesso à agenda governamental, e os oponentes, que procuram restringir o acesso de uma questão à agenda. Para explicar como questões emergem, os estudos de agenda-setting concentram a análise nos proponentes, enquanto a atuação dos oponentes, para Cobb e Ross (1997) é pouco investigada. Assim, para compreender a “negação da agenda”, os autores deslocam a análise para o papel dos oponentes que são identificados, pelos autores, em dois grupos. O primeiro grupo de oponentes, ou seja, de atores engajados na supressão de novas questões na agenda, está dentro do próprio governo. Para Cobb e Ross (1997), os indivíduos responsáveis formalmente pela tomada de decisão, como burocratas pertencentes ao poder executivo, indivíduos em cargos comissionados, políticos, além de membros do legislativo e judiciário são os principais oponentes no processo conflituoso de agenda-setting. Para os autores, nem sempre esses indivíduos agem como opositores, uma vez que eles também podem figurar como proponentes de uma questão, buscando espaço na agenda. Kingdon aponta os “participantes visíveis” precisamente os mesmos apontados por Cobb e Ross - como os atores que têm maior 7 Para Kingdon (2003, 202), Uma questão chega à agenda decisória apenas quando os fluxos de problemas, soluções e contexto político são reunidos. Já a agenda governamental é estabelecida pela junção parcial de dois fluxos específicos: político e problemas. De qualquer forma, no modelo de múltiplos fluxos, uma questão deve estar na agenda governamental para ter acesso à agenda decisória. É este primeiro aspecto que Cobb e Ross parecem considerar. 17 capacidade de levar uma questão para a agenda governamental (mas não necessariamente para a agenda decisória). A posição mais comum para esses indivíduos, para Cobb e Ross é, no entanto, de evitação de riscos e oposição a processos de mudança por uma série de razões, envolvendo ideologia, informação, entre outros. No modelo de Kingdon, tais indivíduos podem favorecer uma questão em períodos favoráveis do ciclo político, como em momentos de mudança em pessoas em posições-chave (fluxo político). Passado esse período, a mudança na agenda governamental é menos provável. Baumgartner e Jones mostram que as mudanças na agenda se processam em períodos breves, e são seguidas pela política de subsistema, em que o monopólio de políticas se fecha a novas questões, bloqueando o acesso de novos grupos e ideias à agenda. Outro ator que se configura como potencial oponente para mudanças na agenda são grupos que serão afetados negativamente pela alteração do status de uma questão. Em situações nas quais a mudança na agenda representa o benefício de um grupo em função de perdas para outro grupo, o conflito entre proponentes e oponentes se estabelece se forma relativamente aberta. A disputa sobre o controle de uma questão é uma das características centrais da oposição entre grupos. Em algumas políticas púbicas, alguns grupos são vistos como tendo tamanha legitimidade sobre uma questão que se torna difícil para um oponente inserir a questão, ou diferentes visões sobre ela, na agenda. A disputa em torno da formação da agenda envolve, portanto, proponentes, cuja atuação é analisada pelas teorias de agenda-setting, e oponentes, cuja atuação Cobb e Ross (1997) procuram explicar. Para tanto, partem do princípio que os oponentes buscam atingir seus objetivos ao menor custo possível. Ao se defrontarem com limitações em suas estratégias de bloquear o acesso de uma questão à agenda, buscarão progressivamente alternativas que envolvem custos mais altos. Analisaremos, a seguir, as diferentes estratégias adotadas pelos opositores, seguindo a abordagem desenvolvida pelos autores. A primeira estratégia: evitação Estratégias de baixo custo, para Cobb e Ross (1997) são caracterizadas por envolverem a menor quantidade possível de recursos financeiros, pessoas e tempo. Em estratégias de bloqueio desse tipo, oponentes evitam confrontar os proponentes diretamente. Uma tática bastante característica é ignorar que um problema exista. Ignorar um problema faz com que uma questão tenha pouca chance de acesso à 18 agenda, pois nenhuma ação governamental é exigida. Ignorar, no entanto, nem sempre é uma tática viável: outra alternativa de baixo custo consiste em admitir a existência de uma questão, mas bloqueá-la em sua passagem de “condição à problema”, nos termos de Kingdon. Isso significa que os oponentes buscam negar que uma situação configure-se como um problema. Um exemplo é tratamento dado muitas vezes às enchentes nas grandes cidades: dirigentes públicos não podem simplesmente ignorar a questão frente à mídia e opinião pública. Nesse caso, a questão é tratada como um incidente isolado, buscando isolar qualquer possibilidade de padronização: um volume de chuvas acima do esperado, a confluência de diferentes fatores numa mesma ocasião, etc. Esta é exatamente a atuação contrária daqueles que, no modelo de Kingdon, buscam utilizar os indicadores para mostrar um padrão de eventos e, dessa forma, concentrar a atenção dos tomadores de decisão. Opositores podem buscar mostrar, ainda, que há exagero ou má compreensão em torno de uma questão. Uma variação dessa estratégia consiste em atribuir a responsabilidade pelo acontecimento a “causas naturais”, fora do alcance da ação humana, estabelecendo uma relação causal entre, por exemplo, o problema e as “forças da natureza”. 8 Uma terceira tática não envolve ignorar a questão nem limitar seus efeitos, mas consiste em desqualificar o grupo que propõe o problema. Neste caso, a questão é dissociada do grupo que a defende e a alternativa de bloqueio à agenda consiste em questionar a legitimidade do grupo proponente frente à questão por ele defendida. A segunda estratégia: ataque e dissipação do conflito Outro grupo de estratégias envolve o ataque direto à questão e/ou ao grupo proponente. A escolha entre oposição à questão ou ao grupo (ou ambos) depende fundamentalmente das características desse grupo. Se o grupo que propõe a mudança é reconhecido como sendo legítimo, é respeitado e tem credibilidade junto à comunidade, o bloqueio dificilmente será direcionado ao grupo e tenderá a restringirse à questão proposta. Outra estratégia de médio-custo envolve táticas que os autores denominam como “apaziguamento simbólico” (simbolic placation). São situações nas quais os opositores buscam mostrar preocupação com o problema no plano simbólico, bloqueando não o grupo, nem a questão, mas a ação dos 8 A representação simbólica de problemas em políticas públicas manifesta-se na linguagem e pode ser analisada por meio das narrativas empregadas para estabelecer as relações causais que sempre distribuirão ganhos e perdas entre grupos em conflito. Para uma análise aprofundada das diferentes narrativas, ver Stone (2002). 19 proponentes ao oferecer uma solução visível, mas não necessariamente significativa, de forma a dissipar o conflito. Ambas as estratégias (ataque e apaziguamento) envolvem um volume maior de recursos e estabelecem um nível de conflito mais amplo do que na alternativa anteriormente analisada. Se na alternativa de evitação os oponentes não confrontam os proponentes diretamente, nas estratégias de ataque a comunicação entre os dois grupos é claramente estabelecida, tendo os oponentes o objetivo inicial de caracterizar negativamente o grupo proponente ou a questão por ele levantada. O bloqueio da questão pode inicialmente assumir a forma analisada no tópico anterior, inviabilizando o reconhecimento da questão proposta como um problema. Questionar as premissas sobre as quais os proponentes buscam construir o problema é uma tática adicional: críticas quanto à precisão dos dados empregados, questionamento quanto às relações causais adotadas são formas de colocar sob suspeição o problema tal como representado pelos proponentes. Se indicadores (séries históricas, resultados de avaliações, monitoramento de atividades, etc), por si sós não representam fatos e não determinam a existência de um problema (Kingdon, 2003), então é preciso que tais problemas sejam estrategicamente representados (Stone, 2002) a fim de que os tomadores de decisão sejam convencidos sobre sua existência – ou no caso da negação da agenda, sobre sua inexistência ou falta de importância. Assim como os números podem mobilizar atenção para uma questão, podem também afastar a preocupação quando são caracterizados como frágeis ou representados de forma a minimizar um problema. Outra forma de desqualificar uma questão consiste em retratá-la desfavoravelmente, levantando a desconfiança da opinião pública. Os oponentes podem empregar táticas baseadas em argumentações que explorem a ambiguidade e a incerteza em torno da questão e que suscitem receios frente a possíveis mudanças decorrentes do ingresso da questão na agenda, destacando, por exemplo, impactos negativos, custos ocultos que podem tornar a situação pior, problemas futuros imprevisíveis, entre outros. Ao desenvolver o conceito de imagem de uma política, Baumgartner e Jones (1993, 26) mostram que é possível imprimir um tom (negativo ou positivo) a uma questão, sendo essa uma atividade crucial ao desenvolvimento da questão do ponto de vista da mobilização de apoio. No caso da restrição à agenda, portanto, os opositores enfatizam os aspectos negativos de uma questão, enquanto proponentes buscam representá-la positivamente e mobilizar apoio. A primeira tática de ataque dirige-se à questão proposta. A segunda forma de bloqueio, utilizada principalmente quando os grupos que propõem uma questão são 20 novos ou pouco conhecidos, desfrutando de baixa legitimidade, consiste na confrontação direta dos grupos propositores – e não da questão. Neste caso, os opositores buscam destruir a credibilidade dos proponentes, que passam para uma posição defensiva, empregando esforços para se resguardarem ao invés de prosseguirem na defesa de uma questão. Uma tática bastante comum é identificar o grupo proponente com um grupo reconhecidamente impopular. Outra tática consiste em responsabilizar determinados grupos por seus próprios problemas, tornando um problema público em uma questão particular, limitada aos indivíduos envolvidos, diminuindo assim a pressão por ação governamental. A terceira tática de bloqueio de grupos – e suas questões - à agenda consiste na exploração da ideia de vítima. Um dos apelos frequentemente utilizados pelos proponentes consiste em demonstrar que o grupo é vítima de uma situação (social, racial, econômica, étnica, física, entre outras). Nesse caso, os oponentes buscam bloquear o grupo neutralizando, de alguma maneira, a ideia de vítima. No limite, a tática de “troca de papéis” pode ser empregada: os opositores se apresentam, eles próprios, como vítimas dos propositores. A tática da fraude, envolvendo difusão de rumores falsos, mentiras e calúnias é também uma possibilidade de bloqueio de grupos ao processo decisório. A mídia, nesse sentido, pode ser um veículo importante para a disseminação de informações imprecisas, ou cuja veracidade seja questionável, sobre um grupo. É importante lembrar, ainda, que o ataque dos opositores aos proponentes pode concentrar-se não na totalidade do grupo propositor mas em indivíduos e subgrupos que o integram. É o caso, por exemplo, de a confrontação dirigir-se ao líder do grupo, explorando negativamente seu comportamento e motivações. Assim, um primeiro grupo de estratégias de médio custo consiste no ataque à questão ou ao grupo que a propõe. Outra alternativa apontada pelos autores consiste no “apaziguamento simbólico” (simbolic placation), estratégia empregada geralmente quando a questão tem forte apelo junto ao público, não sendo possível ignorá-la ou combatê-la e quando o grupo propositor tem grande legitimidade, limitando as táticas de desqualificação dos propositores pelos oponentes. Estes últimos se mostram engajados no encaminhamento da questão e dispostos a ceder às demandas do grupo proponente. A ação dos opositores, no entanto, não se dá no sentido de resolver o problema (da forma como defendido pelos propositores), mas destina-se a dissipar o conflito. Essa estratégia é geralmente empregada pelos funcionários públicos encarregados formalmente pela tomada de decisão e envolve algumas táticas analisadas por Bachrach e Baratz (1963) com relação a ações de bloqueio de questões ao processo decisório. Quatro ações são mencionadas por Cobb e Ross 21 (1997) para exemplificar esse tipo de estratégia. A primeira delas é a criação de uma comissão para discussão e análise da questão apresentada pelos proponentes. O estabelecimento de um fórum de discussão ameniza o conflito, posterga o processo de decisão, pode enfraquecer o grupo proponente com o passar do tempo e representa uma forma de os opositores lidarem com o problema sem grande esforço. Outra forma de diluir o conflito consiste na criação de uma experiência simbólica, a partir da qual os oponentes destacam uma pequena parte do problema de forma a demonstrar seu compromisso com a questão. Focalizar resultados positivos em um projeto desenvolvido numa política de cultura, por exemplo, e estendê-lo para um programa como um todo (ou para a própria política) pode ser uma forma de ação simbólica. Destacar ações desenvolvidas no passado, com a promessa de intensificação do ritmo das ações no presente também permite aos oponentes sinalizar que o governo está enfrentando o problema. Como lembram March e Olsen (1989, 90) analisando as políticas de reforma da administração pública norte-americana, muitas vezes é inadmissível que os líderes não se mostrem à altura do desafio (“confessions of impotence are not acceptable; leaders are expected to act”, dizem os autores). Reformas e qualquer processo de modernização, argumentam March e Olsen, configuram exemplos de ação simbólica. A cooptação de membros do grupo propositor é a terceira tática de apaziguamento simbólico. Além da prática de oferecer cargos e posições a indivíduos, Cobb e Ross (1997) destacam a “cooptação simbólica”: a cooptação dos símbolos utilizados pelo grupo proponente. Os autores apontam a área ambiental como um exemplo fértil nesse tipo de tática: símbolos associados ao meio ambiente são vistos positivamente pela opinião pública e mesmo os grupos que potencialmente entrariam em conflito com grupos defensores do meio-ambiente acabam podem assumir o discurso (cooptação da linguagem) de preservação, apropriando-se de símbolos que, em tese, seriam contrários a seus interesses. Finalmente, o adiamento é outra tática de ação simbólica, na qual opositores concordam que a questão apresentada pelos proponentes é válida mas inviável para ser enfrentada no momento, pelo fato de o governo não dispor de recursos - sejam restrições financeiras, técnicas, limitações de tempo ou de pessoal, entre outras – para resolver determinados problemas. Em conjunto com o adiamento, outra tática consiste em destacar ações já adotadas no passado com relação à questão, como um tipo de “garantia” para a promessa de ação futura. 22 A terceira estratégia: ameaças O terceiro tipo de estratégia apontada pelos autores são menos frequentes, pois envolvem alto custo para proponentes e oponentes. Táticas envolvendo ameaças políticas, econômicas ou legais contra os grupos proponentes são apontadas por Cobb e Ross (1997) como exemplos de ações desse tipo. Os estudos de caso analisados e reunidos no livro de Cobb e Ross (1997), mostram como órgãos da administração federal norte-americana atuaram para manter questões fora da agenda governamental. Os casos analisados por diferentes autores, envolvendo órgãos como Comissão de Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio; Food and Drug Administration (FDA); e ainda estudos de casos na política de saúde apontam para a utilização de estratégias de médio custo como forma mais frequente de resposta dos opositores às demandas dos proponentes. A ocorrência de estratégias de alto custo não foi registrada nenhum dos casos analisados. Considerações finais Este estudo buscou apresentar e discutir, ainda que de forma introdutória, a política do acesso à agenda governamental, tema que, apesar de sua importância, não tem sido suficientemente considerado pela literatura especializada. A investigação sobre a fase pré-decisória do processo de políticas públicas, que envolve a definição das questões que serão mais adiante consideradas no processo decisório - ou que se manterão afastadas dele – é um dos temas mais críticos para a compreensão da produção de políticas públicas e da própria democracia. Os estudos sobre agenda desenvolveram-se, inicialmente, a partir de um diálogo bastante próximo com a teoria democrática, como apontam Cobb e Elder (1971; 1972). Essa conexão é menos evidenciada pela literatura mais recente, embora o processo de agenda-setting seja um tema vital para a teoria e a prática da democracia. Compreender os dois lados da agenda – como uma questão se insere na agenda e como outras são sistematicamente negadas – pode contribuir para estreitar a interface entre os modelos de agenda-setting e a teoria democrática. Ao longo deste estudo, vimos que o poder de manter um tema fora da agenda, ou seja, de negar o acesso de uma questão à agenda é tão importante quanto o poder de inseri-lo. Esse é um aspecto que tem sido negligenciado na literatura sobre 23 agenda-setting. Esforços pontuais, como a análise de Cobb e Ross (1997) ajudam a compreender a lógica do bloqueio de questões à agenda, mas ainda são limitados. Os autores não situam as estratégias no contexto institucional e histórico no qual os grupos disputam o acesso à agenda, o que restringe o alcance das explicações propostas. A perspectiva de Baumgartner e Jones (1993) sobre os monopólios de políticas poderia ser útil no sentido de contextualizar as estratégias apresentadas pelos autores. Nesse caso, tomando os monopólios como unidade de análise, seria possível investigar como os grupos que integram tais monopólios impedem o processo de mudança na agenda por meio das estratégias apresentadas por Cobb e Ross, principalmente no que diz respeito à mecânica de produção e difusão das imagens (definição e redefinição das questões). Paralelamente ao desenvolvimento teórico sobre o tema, faz-se necessária a análise empírica para aprofundar a compreensão sobre os meios empregados pelos governos no desenvolvimento tanto de estratégias de construção quanto de bloqueio da agenda. O processo de definição de questões parece ser o elemento central tanto para a formação quanto para a negação da agenda. A discussão sobre definição e redefinição das questões tem na formulação de Schattschneider (1960) seu ponto de partida, uma vez que o processo de expansão do conflito e de mobilização se processa por meio das questões. A literatura mais recente tem discutido a forma como a imagem de uma política é definida e mantida (Baumgartner e Jones, 1993; Baumgartner, Jones e True, 1999); a transformação de condições em problemas (Kingdon, 2003); a representação estratégica das questões (Stone, 2002); o processo de retórica e persuasão na construção de uma política (Majone, 1999). Aprofundar esses tópicos certamente lançará luzes sobre a política de acesso à agenda, como vimos, e também sobre o processo mais amplo de produção de políticas públicas. 24 Referências bibliográficas Bachrach, Peter e Baratz, Morton S. “Two Faces of Power”. American Political Science Review vol 56, nº 4, dezembro de 1962 (pp. 947-952). ____________. “Decisions and Nondecisions: An Analytical Framework”. American Political Science Review vol 57 nº 3, 1963 (pp. 632-642). ____________. Power and poverty: theory and practice. Oxford, Oxford University Press, 1970. Baumgartner, Frank R; Jones, Bryan D. Agendas and Instability in American Politics. Chicago, University of Chicago Press, 1993. ____________. The Politics of Attention: How government priorizes problems. Chicago, University of Chicago Press, 2005. Baumgartner, Frank R; Jones, Bryan D.; True, James L. “Punctuated-Equilibrium Theory: explaining stability and change in American policymaking”. In Sabatier, Paul A. (Ed.).Theories of the Policy Process. Oxford, Westview Press, 1999. Clegg, Stewart R. Frameworks of Power. London, Sage, 1989. Cobb, Roger W. e Elder, Charles D. "The Politics of Agenda-Building: An Alternative Perspective for Modern Democratic Theory". Journal of Politics. Vol. 33, Nº 4. Nov. 1971 (pp. 892-915). ____________. Participation in American Politics: The dynamics of agenda building. Allyn and Bancon, Boston, 1972. Cobb, Roger.W e Ross, Marc.H. (Eds.). Cultural Strategies of Agenda Denial. Lawrence, University Press of Kansas, 1997. Cobb, Roger W.; Ross, Jennie-Keith; Ross, Marc.H. “Agenda Building as a comparative political process”. American Political Science Review. Vol 70, nº 1, mar 1976 (pp. 126-138). Crenson, Matthew A. The Unpolitics of Air Pollution: a study of non-decisionmaking in the cities. The Johns Hopkins Press, Baltimore,Maryland, 1971. Dahl, Robert A. Um prefácio à teoria democrática. Rio de Janeiro, Zahar, [1956] 1996. ____________. "The Concept of Power". Behavioral Science, Vol 2, nº 3, julho de 1957 (pp. 201-215). ____________. Who Governs? New Haven, Yale University Press, 1961. Gaventa, John. Power and Powerlessness: Quiescence and rebellion in an appalachian valley. Chicago: University of Chicago Press, 1980 Kingdon, John. Agendas, Alternatives and Public Policies. 3a. Ed. New York: Harper Collins, [1984] 2003. 25 Lukes, Steven. Power: A Radical View. 2a. Ed ampliada. London, Palgrave-Macmillan, [1974] 2005. Majone, Giandomenico. Evidence, Argument and Persuasion in the Policy Process. New Haven, Yale University Press, 1989. Schattschneider, Elmer E. The Semi-Sovereign People. New York, Holt, Rinehart e Winston, 1960. Stone, Deborah. Policy Paradox: The Art of Political Decision Making. New York, Norton & Company, 2002. 26