INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR Escola Superior de Tecnologia de Tomar Área Interdepartamental de Física Ano Lectivo: 2010 - 2011 Física - Curso de Engenharia Civil Efeitos da rotação da Terra A velocidade de um corpo em movimento será diferente quando medida a partir de dois referenciais O0 e O, de origens coincidentes, de tal forma que O roda em relação a O0 com uma r r r r r r velocidade angular ω . Teremos v0 = v + ω × r , em que r é o vector de posição do corpo (em r r r r r r r ambos os referenciais). Para a aceleração teremos a0 = a + 2ω × v + ω × (ω × r ) . Os 2 últimos termos são a aceleração de Coriolis e a aceleração centrífuga, respectivamente, e resultam do movimento relativo de rotação dos observadores. Sobre a superfície do nosso planeta Terra, que roda em torno do seu eixo de rotação com uma r velocidade angular | ω | de 7,292116×10-5 rad s-1, a aceleração da gravidade medida por um r r r r r r r r observador (com um fio de prumo, por exemplo) será g = g 0 − 2ω × v − ω × (ω × r ) , em que g 0 é a aceleração da gravidade que seria medida se a Terra não rodasse (sendo r o raio da Terra). A aceleração centrífuga r r r A aceleração centrífuga ( − ω × (ω × r ) ) será um vector perpendicular ao eixo da Terra, apontando para fora, com um módulo igual a ω 2 r cos Φ , com Φ a representar a latitude do lugar. No caso particular de Tomar, cuja latitude é Φ = 39,6º N, teremos então: (7,292116×10-5)2 × 6,378150×106 × cos(39,6º) = 2,61×10-2 ms-2 ou seja, aproximadamente 0,267 % da aceleração da gravidade (9,80 ms-2). A sua componente radial será de ω 2 r cos 2 Φ (em Tomar, 2,01×10-2 ms-2) e a sua componente (meridional) segundo a linha norte-sul será de ω 2 r cos Φ sin Φ (em Tomar, 1,67×10-2 ms-2), apontando para sul no hemisfério norte e para norte no hemisfério sul. Como a aceleração da r gravidade é 376,8 vezes maior do que a força centrífuga, o módulo de g não difere muito do de r g 0 . Supondo um corpo em repouso ou em movimento lento (ignorando assim o efeito de Coriolis), pode-se então escrever em boa aproximação para a componente vertical, Adaptado de: http://to-campos.planetaclix.pt/astron/coriolis/coriolis1.htm 1 g = g 0 − ω 2 r cos 2 Φ . Considerando que a aceleração da gravidade se deve exclusivamente ao efeito de atracção da massa da Terra imóvel (sem rotação), esta deveria ser em média 9,82 ms-2. O valor de g em Tomar tem o valor real de 9,82 - 2,01×10-2 ms-2 = 9,80 ms-2. E, de facto, verificamos ser esse o valor, por simples experimentação prática. A variação do valor observado desde o equador aos pólos é assim superior, devido ao efeito da rotação da Terra. Componente vertical da aceleração da gravidade Local (altitude 0 m) Latitude g0 (ms-2) g (ms-2) Pólo Norte 90º 00’ 9,8321 9,8321 Anchorage 61º 10’ 9,8297 9,8218 Greenwich 51º 29’ 9,8251 9,8119 Paris 48º 50’ 9,8241 9,8094 Tomar 39º 36’ 9,8201 9,8010 Key West 24º 34’ 9,8177 9,7897 Panamá 08º 55’ 9,8153 9,7822 Equador 00º 00’ 9,8138 9,7799 A componente segundo a linha Norte-Sul faz com que os corpos em queda não caíam exactamente ao longo da vertical, mas sempre um pouco desviados para o lado do equador. O desvio é pequeno, mas mensurável. A aceleração de Coriolis r r A aceleração de Coriolis ( − 2ω × v ) para um objecto que cai estará dirigida para Este. Ou seja um corpo cairá de facto a sudeste da vertical no hemisfério norte (nordeste, no hemisfério sul) sob o efeito conjunto da aceleração de Coriolis e da aceleração centrífuga. É um desvio pequeno mas que tem que ser considerado no cálculo de trajectórias de foguetes e satélites (em bombardeamentos de grande altitude e para os mísseis balísticos intercontinentais), devido às suas altas velocidades e aos tempos mais longos que a aceleração de Coriolis tem para actuar. r r Para movimentos no plano horizontal, o vector − 2ω × v é perpendicular a ambos (ω e v), fazendo um determinado ângulo φ com o plano horizontal. A sua componente vertical é pequena quando comparada com a aceleração da gravidade, podendo em geral ser desprezada. A sua componente horizontal (perpendicular à trajectória), que decresce dos pólos para o equador onde se torna zero, desvia para a direita, no hemisfério norte, uma trajectória inicialmente recta (e no hemisfério sul para a esquerda). É este efeito que origina o “rodopio” das massas de ar na nossa atmosfera, resultante do desvio das moléculas de ar para a direita (ou esquerda, no hemisfério sul) das suas trajectórias. O desgaste nas rodas e nos carris dos comboios, principalmente nos de alta velocidade (CAV), é distinto e mais acentuado no lado direito. A oscilação observada no plano do pêndulo de Foucault também é devida a este fenómeno. O valor da aceleração de Coriolis é da mesma ordem de grandeza da aceleração centrífuga a 600 kmh-1 (≈167 ms-1), pois r r − 2ω × v = 2 × 7,292116×10-5 × 167 = 2,43×10-2 ms-2. Adaptado de: http://to-campos.planetaclix.pt/astron/coriolis/coriolis1.htm 2