FÓRUM E CHAT: A CONTRIBUIÇÃO DESSES GÊNEROS PARA A APRENDIZAGEM COLABORATIVA NO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM SOLAR Ana Maria Pereira Lima (UFC) [email protected] Maria Elisaudia de Almeida Pereira (UFC) [email protected] Introdução Atualmente, com a expansão do uso de tecnologias, o ensino vem sendo cada vez mais mediado por Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTIC). Desse modo, diferentes recursos pedagógicos têm surgido. Dentre eles, destacamos os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), nos quais a interação ocorre por meio de gêneros novos ou de formas discursivas novas, como denomina Marcuschi (2005). Neste trabalho, tratamos, especialmente, do fórum e do chat, gêneros emergentes da virtualidade, com o objetivo de analisar sua contribuição para a aprendizagem colaborativa no AVA. Além disso, tencionamos verificar as estratégias interacionais que permeiam esses gêneros, o perfil do tutor e dos cursistas, bem como seus letramentos, o material de apoio que gera as discussões nos fóruns e chats e suas condições de produção. O estudo fundamenta-se, essencialmente, em pesquisas como: a de Bellonni (2001) para situar a perspectiva de EAD e analisar os perfis dos tutores e dos cursistas; as de Kleiman (1995), Soares (2002), Buzato (2007) e Rojo (2009) para observação dos letramentos; e as de Bronckart (2003), Marcuschi; Xavier (2005) e Moore (1986, 2007), que nos permitiram caracterizar os gêneros e observar as estratégias interacionais. A pesquisa foi desenvolvida no AVA Solar, no curso semipresencial Licenciatura em Letras-Português oferecido pela Universidade Federal do Ceará-UFC, em parceria com a Universidade Aberta do Brasil-UAB. Os sujeitos participantes foram três tutores e trinta alunos de três turmas do curso, que funcionam em localidades diferentes, selecionados aleatoriamente, observando-se somente os semestres, pois procuramos escolher um semestre inicial (primeiro), um intermediário (terceiro) e um mais próximo do final do curso (sétimo). Essas turmas apresentam uma variação de dezessete a vinte e nove alunos matriculados, o que nos levou a constituir uma amostra de dez alunos por turma. Os alunos foram os primeiros a responder os questionários. Isso foi feito presencialmente antes do início dos encontros presenciais, à medida que iam chegando até completar os dez. Em dois dos itens do questionário apontaram a disciplina (que já deveria ter sido concluída) e o tutor a serem analisados. Enviamos, via e-mail, os questionários aos três tutores e o acesso às disciplinas foi-nos permitido pelo Instituto Virtual UFC. Passamos então ao exame dos fóruns e chats para a escolha de um exemplar de cada um dos gêneros nas três disciplinas, perfazendo o total de seis exemplares. Como havia fóruns de discussão de conteúdo e tira dúvidas, optamos pelos de conteúdo com maior número de postagens; já com relação aos chats, observamos que, embora tenha havido previsão de até três por disciplina, efetivamente apenas um aconteceu. Os resultados verificados e sua análise serão aqui apresentados, logo após a fundamentação das categorias observadas. Para finalizar o estudo, destacaremos algumas sugestões, que julgamos necessárias, para que o fórum e o chat possam ter seu uso otimizado como ferramentas e gêneros que promovem práticas educacionais colaborativas, em ambientes virtuais de aprendizagem. 1. Educação a distância A Educação a distância (EAD) é aqui compreendida como a modalidade de ensino mediada pela tecnologia, que torna possível a aproximação de professores e aprendizes situados em diferentes localidades. De acordo com Moore (1990 apud BELLONI, 2001, p.26), é uma relação de diálogo, estrutura e autonomia que requer meios técnicos para mediatizar esta comunicação. Educação a distância é um subconjunto de todos os programas educacionais caracterizados por: grande estrutura, baixo diálogo e grande distância transacional. Ela inclui também a aprendizagem. Podemos observar na afirmação do autor alguns dos parâmetros básicos do ensino a distância como a separação geográfica e/ou temporal do professor/aluno e a comunicação/interação efetivada por meio da tecnologia (atualmente, o computador). Tais aspectos instituem a essa modalidade características como as apontadas por Belloni (2001): a abertura de sistemas, flexibilidade e maior autonomia do estudante. Quanto à estrutura organizacional, conforme a autora, há dois grandes grupos de instituições abertas: as especializadas e as integradas. As especializadas trabalham somente com o ensino a distancia; já as integradas dedicam-se ao ensino presencial e a distância. A Universidade Federal do Ceará caracteriza-se como instituição integrada e vem investindo na modalidade semipresencial, nos cursos de graduação desenvolvidos por meio do Ambiente Virtual de Apendizagem Solar. 1.1. O ambiente virtual de aprendizagem Solar Ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), segundo Haguenauer.; Mussi; Cordeiro Filho (2009, p. 2), “ não são softwares propriamente ditos, mas sim ambientes criados a partir de ferramentas ou softwares especialistas, estes por sua vez desenvolvidos para facilitar o trabalho de criação dos Ambientes Virtuais”. Para os autores, esses ambientes “não existem unicamente para auxiliar na montagem de cursos”, mas também “são ambientes utilizados para facilitar ou promover a aprendizagem”. Nessa perspectiva, o AVA Solar foi criado pelo Instituto UFC Virtual, da Universidade Federal do Ceará, para publicação de cursos e potencialização do processo ensino-aprendizagem, destinando-se a mediar a interação professores/alunos. Nos cursos de graduação a distância, na modalidade semipresencial, o acesso inicial é condicionado a um cadastro, e posteriormente a um login e senha. Durante a oferta de uma disciplina, acessam-na somente os que nela estão envolvidos e com matrícula autorizada. O AVA Solar permite o acompanhamento de atividades e frequência dos alunos, a publicação de conteúdos e a interação professor/alunos e alunos/alunos. As ferramentas que mediatizam a interação, fazem-no por meio de gêneros como mensagens, fóruns e chats. Segundo Marcuschi (2008, p.202), no ambiente digital, há gêneros que se popularizam pelo uso: “entre os mais praticados estão os e-mails, bate-papos virtuais e listas de discussão. [...] começam a se popularizar também as aulas virtuais no contexto do ensino à distância”. No Solar, a publicação de aulas é uma das formas de levar o conteúdo ao aluno. Além disso, há espaços em que são inseridos textos adicionais como no link material de apoio e no portfólio do professor e ainda no fórum. Portanto, é um ambiente virtual que procura estar a serviço dos professores/tutores e alunos da EAD na UFC. 1.2 O tutor na EAD O professor na EAD, de modo geral, tem sua atuação determinada por uma multiplicidade de funções próprias dessa modalidade de ensino. De acordo com Belloni (2001), as funções do docente na EAD classificam-se em professor: formador; conceptor e realizador de cursos e materiais; pesquisador; tutor; “tecnólogo educacional”; “recurso” e monitor, as quais, por sua vez, reagrupam-se, conforme a visão da organização institucional. No ensino semipresencial oferecido pela UFC, as funções de professor conceptor e realizador de cursos e materiais e de pesquisador são assumidas pelo professor conteudista; as de formador, tutor e recurso, pelo tutor a distância; a função de tecnólogo educacional destina-se a equipe de transposição didática do Instituto Virtual e a de monitor ao tutor presencial. Neste estudo, detalharemos somente as funções do tutor a distância, que correspondem às do professor formador, tutor e “recurso”, segundo Belloni (2001), descritas no quadro 1. Quadro 1: Funções e atribuições do tutor na educação a distância Funções Professor formador Professor tutor Professor recurso Atribuições Orienta o estudo e aprendizagem Dá apoio psicossocial Ensina a pesquisar, a processar a informação e a aprender Orienta o aluno em seus estudos relativos à disciplina Esclarece dúvidas e explica questões relativas ao conteúdo Responde a dúvidas pontuais, durante o decorrer da disciplina ou em momentos que antecedem avaliações, funcionando como “balcão de respostas” Fonte: elaboração nossa Além dessas funções, baseadas em Belloni (2001) e no edital de seleção de tutores da UFC, para delinear o perfil profissional no AVA Solar, consideramos as seguintes características: ser paciente, crítico, proativo, dinâmico e empático; ter bom domínio da linguagem escrita, capacidade para conduzir debates, ética profissional, dedicação e comprometimento, consciência do seu papel como agente de mudanças e estar atento aos movimentos da turma (KENSKI, 2003). 1.3 O aluno na EAD O aluno da educação a distância pela natureza do ensino deve ser capaz de desenvolver múltiplas tarefas como o professor, uma vez que ele é a contraparte do processo ensino-aprendizagem. Desse modo, uma das competências indispensáveis à sua atuação como aprendiz é a autonomia, alcançada pelo desenvolvimento de estratégias de autogerenciamento da aprendizagem, no desenrolar das atividades do curso. Moore (1986, p. 7-13) descreve três tipos de aprendizes adultos que procuram a EAD: o aprendiz autodirigido, que escolhe o curso a distância por acreditar que ele responde às suas necessidades e interesses; o aprendiz que é motivado para a obtenção do diploma; e aquele que não possui um programa de aprendizagem, nem busca uma certificação, mas apresenta características emocionais de dependência. Belloni (2001, p. 39-40) corrobora com o autor, ao conceituar a aprendizagem autônoma como um processo de ensino e aprendizagem centrado no aprendente, cujas experiências são aproveitadas como recurso, e no qual o professor deve assumir-se como recurso do aprendente, considerado como um ser autônomo, gestor de seu processo de aprendizagem, capaz de autodirigir e auto-regular este processo. Este processo de aprendizagem é apropriado a adultos com maturidade e motivação necessárias à auto-aprendizagem e possuindo um mínimo de habilidades de estudo. A autora reconhece que esse tipo de aprendizagem é voltado para adultos e não alcançou o nível ideal, pois “o estudante autônomo é ainda exceção no universo de nossas universidades, abertas ou convencionais” (BELLONI, 2001, p. 41). 2. Letramentos digitais Há muita polêmica na construção do conceito de letramento(s), mas adotamos o posicionamento de que são práticas de instâncias sociais, produzidas de diferentes maneiras e situadas em determinados momentos históricos. Soares (2002, p. 9), ao discutir cibercultura, faz-nos percorrer a evolução desse conceito e a necessidade de usar o termo no plural, ao afirmar que a tela do computador é um novo espaço para a escrita e isso vai gerar novas e “significativas mudanças nas formas de interação entre escritor e leitor, escritor e texto, entre leitor e texto e até mesmo, mais amplamente, entre o ser humano e o conhecimento”. Essas mudanças permitirão compreender a inevitável condição contemporânea do letramento digital como mais uma das habilidades, que devemos desenvolver para melhor atuar no universo da escrita. Há um esforço comum dos autores acerca da temática para nos fazer entender que, dominando diferentes letramentos, participaremos de diferentes usos da escrita e da leitura no cotidiano. Para Kleiman (1995), letramento são práticas determinadas social e culturalmente pelo uso da escrita, caracterizadas em função do valor que a escrita exerce no cotidiano. De acordo com Rojo (2009. p. 108-9), o conceito de letramentos múltiplos é ainda um conceito complexo e muitas vezes ambíguo, pois envolve além da questão da multissemiose ou multimodalidade das mídias digitais que lhe deu origem, pelo menos duas facetas: a multiplicidade de práticas de letramento que circulam em diferentes esferas da sociedade e a multiculturalidade, isto é, o fato que diferentes culturas locais vivem essas práticas de maneira diferente. Os letramentos digitais são reconhecidos, quando fazemos referência à abordagem de letramentos como zonas fronteiriças entre diferentes domínios/campos do saber. São práticas sociais que articulam sistemas semióticos diversos. Conforme Buzato (2007), as zonas fronteiriças em que esses sistemas estão envoltos fazem dos letramentos digitais espaços de negociação e troca, e de delimitações que podem gerar conflitos e posições contestáveis, inerentes ao processo de apropriação dos letramentos exigidos pelo ambiente digital. Ainda, para o autor, o usuário dos recursos disponibilizados pelas novas tecnologias não é qualquer leitor, mas um consumidor que faz uso da linguagem dos dispositivos, e se apropria dela para manipulá-la e transformá-la. Portanto, compreendemos os letramentos digitais como práticas sociais situadas, nas quais os participantes agem em conjunto na construção da vida coletiva. 3. Fórum e chat: perspectivas de abordagem O entendimento de fórum e chat como gêneros digitais segue a perspectiva de “textos materializados em situações recorrentes” (MARCUSCHI, 2010, p. 155), embora reconheçamos também a natureza desses gêneros como ferramentas, concepção oriunda dos estudos de Vigotsky e retomada por Schneuwly (1994), para quem gênero é o instrumento que se encontra entre o indivíduo e o conhecimento. Essa ferramenta é constituída de duas faces: o artefato material ou simbólico (fora do sujeito) e os esquemas de utilização do objeto que articulam suas possibilidades de ação (no sujeito). Em outras palavras, o instrumento só tem utilidade como mediador através dos esquemas de utilização desenvolvidos pelo sujeito. (SCHNEUWLY, 1994 apud LIBERALI, 1999, p.30). A abordagem deste estudo funda-se sob duas tendências: a primeira situada nos estudos de Bakhtin (2003[1952-53/1979]), ao afirmar que gêneros discursivos são tipos de enunciados (orais ou escritos) relativamente estáveis, concretos e únicos, resultantes das atividades humanas, materializadas em linguagem; a outra tendência situa-se na afirmação de Bronckart (1999, p. 69) de que “uma língua natural só pode ser apreendida através das produções verbais efetivas, que assumem aspectos muito diversos, principalmente por serem articuladas a situações de comunicação muito diferentes”. Embora os autores se diferenciem quanto à referência aos gêneros, pois o primeiro situa-se na enunciação, concebendo-os como gêneros do discurso e o segundo na materialidade textual, definindo-os como gêneros textuais interdependentes da relação com o contexto, a nosso ver, esses posicionamentos não se excluem entre si, mas inter-relacionamse. Assim, em uma acepção mais geral, a noção de texto é aplicada a qualquer produção de linguagem situada, oral ou escrita, independentemente de tamanho. Apoiamo-nos nessa acepção para assegurar que os gêneros digitais utilizados no âmbito educacional, como representantes de gêneros textuais, são representativos da esfera digital, comportando em sua estrutura a natureza dessa esfera. Os gêneros digitais fórum e chat são utilizados no âmbito educacional, mas, assim como os demais gêneros secundários, foram reelaborados ou transpostos de outras esferas de comunicação e se tornaram mais complexos a partir da escrita para sua materialização, o que os fez possíveis de serem adaptados ou “didatizados” para os fins da educação a distância, por efetivarem a interação entre os agentes do processo de ensino-aprendizagem: tutores/alunos e alunos/alunos. O fato de esses gêneros despertarem atenção deve-se, dentre outras questões, à distância física imposta aos participantes e, ainda, à inovação trazida pelos avanços tecnológicos que permitem criar gêneros variados, a maioria assentada sob as similaridades que têm com gêneros de outros ambientes, tanto na oralidade como na escrita. Por esse motivo, descreveremos o processo de uso desses gêneros no ambiente virtual Solar, ressaltando seu uso como instrumento de interação e de prática social, ao mesmo tempo em que são utilizados para discussão e avaliação de conteúdos. 3.1 O fórum e o chat: práticas discursivas no ambiente educacional Ao compreendermos o fórum como possibilidade de espaço de aprendizagem, trataremos como gênero fórum educacional digital (CRESCITELLI; GERALDINI; QUEVEDO, 2008) que, em uma análise mais pormenorizada, corresponde ao propósito comunicativo, instaurando-se como gênero textual, no domínio da mídia virtual e, nesse ambiente, amplia seu caráter inicial de lugar de reunião de uma determinada comunidade para a internet, mas agora de um lugar diferenciado que também reúne pessoas em torno de um mesmo objetivo: discutir temas pertinentes ao espaço educacional, porém reestruturado em um suporte tecnológico. Para melhor compreender o funcionamento de um gênero é relevante descrever seu entorno, seu ambiente de realização. O fórum on-line prototípico é, por sua vez, um gênero virtual que reúne, em uma página na Internet, interações escritas de uma determinada comunidade discursiva em forma de hiperlinks ou de seqüências de textos, com identificação dos tópicos, dos participantes, seus endereços eletrônicos (opcional) e datas das contribuições. (PAIVA e RODRIGUES, 2004) Os fóruns educacionais digitais dividem-se, segundo Barros e Crescitelli (2008, p. 82), em três tipos: de discussão dos temas em foco no processo de ensino-aprendizagem; de solução de dúvidas acerca das tarefas e dos conteúdos e os de interação com temas em aberto não sobre tópicos em estudo. Destes tipos, podemos destacar a presença apenas os dois primeiros, principalmente porque o propósito comunicativo dos fóruns aqui presentes já se autodefinem com base em sua natureza. Para Moore (2007 apud CAMPOS, 2008, p. 96-97), no tocante às estratégias de interação, a configuração básica de um fórum de discussão apresentam as etapas apontadas no quadro 2. Quadro 2: Estratégias de interação Estratégias de interação Mensagem inicial Resposta à mensagem Descrição O docente pergunta, explica ou reflete sobre o conteúdo. O professor ou os alunos respondem a questões propostas. O docente ou aprendiz responde às colocações anteriores, explicando a utilidade da mensagem para a compreensão do tópico e, se possível, acrescentando um comentário independente. Resumo da O professor sintetiza as mensagens do membro do grupo, incluindo aspectos mensagem importantes, similaridades e diferenças na compreensão do grupo. Fonte: elaboração nossa Mensagem de acompanhamento Os chats educacionais, por sua vez, estabelecem-se como sessões síncronas e tendem a resolver questões de ordem mais imediata e o fator tempo exerce uma pressão de caracterização bastante acentuada. Há, neste gênero, uma aproximação maior da modalidade oral, ou de “produções escritas no formato de diálogo em uma sequência imediata e retornos rápidos” em uma “relação mais hiperpessoal do que interpessoal” (MARCUSCHI, 2005, p.54), principalmente na situação em que são produzidos para a efetivação dos propósitos educacionais sugeridos, na educação a distância, sejam eles de caráter “tira-dúvidas” ou de solução de dúvidas acerca das tarefas e dos conteúdos e os “de conteúdo” ou de discussão dos temas em foco no processo de ensino-aprendizagem, porque permitem conversação em tempo real entre um grupo de pessoas em uma conexão de internet de baixa velocidade. Os chats permitem ao aprendiz o envio de mensagens na rede. Cada membro da conferência visualiza as mensagens digitadas pelos demais participantes. As sessões de chat funcionam como um grupo de discussão instantânea. (HORTON, 2000 apud ARAGÃO, 2008, p.51). A nosso ver, os gêneros fórum educacional digital e chat educacional são recursos pedagógicos bastante férteis, porque possibilitam ações discursivas entre seus participantes para a construção coletiva de conhecimento. Sendo o chat capaz de propiciar em minutos “o que uma comunicação via e-mail ou via grupos de discussão tomaria dias” (HORTON apud ARAGÃO, 2008). No entanto, há de se antever que comparados aos fóruns educacionais, os chats são desvantajosos por apresentar turnos desordenados, implicando falhas técnicas na leitura, mesmo com o formato pergunta-resposta. De qualquer modo, sendo síncrono facilita a interação imediata, porque reduz a falta “de pistas não vocais” (BARROS; CRESCITELLI, s.d., p.7). 3.2 O fórum e o chat: condições de produção No que diz respeito às condições de produção de um texto, Bronckart (1999) afirma que, no momento de produzir, o agente-produtor deve mobilizar algumas de suas representações (cognitivas) sobre os mundos físico, social e subjetivo. Essa mobilização se divide em: contexto de produção textual e conteúdo temático. O contexto de produção é o “momento” de o agente-produtor reconhecer a situação de interação ou comunicação em que se encontra, sendo constituído pelo conjunto de parâmetros que pode exercer influência na organização do texto. Bronckart (1999), ao fazer considerações sobre os mundos mobilizados no contexto de produção de textos, alude inicialmente a três, mas depois faz referência somente a dois: mundo físico e mundo sócio-subjetivo. A relação mundo/parâmetros proposta pelo autor para a materialização da linguagem está explicitada no quadro 3. Quadro 3: Parâmetros do contexto de produção LINGUAGEM MATERIALIZADA EM TEXTOS ORAIS OU ESCRITOS Mundo físico Mundo sócio-subjetivo Lugar de produção: ambiente físico Lugar social: instituição a que pertence: escola, família, empresa etc. Parâmetros Momento de produção: duração Posição social do emissor: professor, pai, chefe etc. Emissor, produtor ou locutor: quem Posição social do receptor: aluno, filho, produz subordinado etc. Receptor: quem recebe concretamente Objetivo(s) da interação: efeito(s) a ser(em) produzido(s) no destinatário Fonte: elaboração nossa No quadro acima, visualizamos as operações de contextualização incidindo sobre os parâmetros, ou seja, o processo que é realizado em qualquer ação de linguagem ou produção, conforme Bronckart (1999). Podemos observar dois conjuntos de operações: as que se referem ao mundo físico ou ao ato material de enunciação (lugar, momento, interlocutores); e aquelas que se referem à interação social em curso (lugar social do agente, objetivo(s) e posição dos parceiros em interação). As representações dos mundos físico e sócio-subjetivo são ativadas com base nos parâmetros enumerados e na situação de produção. Esses parâmetros exercem controle pragmático ou ilocucional sobre a organização do texto. O outro polo de mobilização do agente-produtor, o conteúdo temático, diz respeito aos temas a serem verbalizados no texto, os quais vão influenciar os aspectos locucionais ou declarativos (conhecimento estabilizado e conceitualizado) da organização textual. Dessa forma, o ato de produção do texto (oral ou escrito) sugere operações de contextualização (nível sociológico) e de textualização (nível psicológico). 4. Aprendizagem colaborativa e aprendizagem cooperativa O uso dos termos cooperação e colaboração, seja em ambientes virtuais ou não, assume caráter polêmico. Para alguns autores (BARROS, 1994; SANTORO; BORGES; SANTOS, 1999), a colaboração está inserida na cooperação e para outros (PANITZ, 1996; MAÇADA; TIJIBOY, 1998; KENSKI, 2003), são dois processos distintos. De acordo com Alava et al (2002, p. 104 apud VERDE LEAL, 2007), cooperação é a ação realizada por atores que aceitam o apoio mútuo na busca de objetivos pessoais e colaboração pressupõe “a busca por um grupo de atores de um objetivo comum”. Conforme o pensamento vygotskiano, o homem só se constrói homem na vivência com outro, esta é essencial para o desenvolvimento de estratégias e habilidades gerais de solução de problemas pelo processo cognitivo implícito na interação e na comunicação. Vygotsky (2002) defende que a linguagem é fundamental na estruturação do pensamento, sendo indispensável para: construir o conhecimento; comunicar as ideias do indivíduo e entender o pensamento do outro envolvido na discussão ou na conversação. Na perspectiva do autor, as atividades realizadas em colaboração com o outro, principalmente com um companheiro mais experiente, enfatiza a ZDP - zona de desenvolvimento proximal - sendo "algo coletivo", por transcender os limites dos indivíduos. Kenski (2003) corrobora a concepção vygotskiana, ao afirmar que a colaboração é diferente da cooperação por ser mais que um auxílio ao companheiro na execução de uma atividade ou na indicação de modos para acessar determinada informação. A colaboração apresenta um caráter mais coletivo, pois há um processo de complementação de um colega em relação à ação do outro. Neste estudo, distinguimos cooperação e colaboração. Assim, entendemos cooperação como a ação de um sujeito que coopera a favor do(s) outro(s), auxiliando-o(s) a obter uma informação ou a realizar uma atividade, sendo uma iniciativa de indivíduo para indivíduo; já a colaboração é uma ação conjunta, ou seja, entre indivíduos que buscam o mesmo objetivo. 5. Resultados e análise Nesta pesquisa, analisamos como os gêneros fórum educacional digital e chat educacional vêm contribuindo para a aprendizagem colaborativa no Ambiente Virtual de Aprendizagem Solar, no curso semipresencial Licenciatura em Letras-Português da Universidade Federal do Ceará-UFC, em parceria com a Universidade Aberta do Brasil-UAB. Para isso, elaboramos dois questionários, um a ser respondido por alunos de três turmas (dez de cada uma) e outro por três tutores. Ambos caracterizaram-se por perguntas em sua maioria mistas (múltipla escolha e abertas), diferenciando-se quanto ao número de questões, 23 para alunos e 18, tutores. As respostas dos alunos permitiram a seleção dos tutores e das três disciplinas, descritas na tabela 1, com as localidades, a quantidade de alunos matriculados e os semestres que estão cursando. Tabela 1: Disciplinas selecionadas Disciplina Educação a distância Literatura Portuguesa I Funcionalismo Município Maranguape Camocim Ubajara Período de realização 18/01 a 24/02/2011 13/04 a 17/05/2011 04/10 a 15/11/2010 Sem. 1º 3º 7º Matriculados 27 17 23 Como apontado, foram escolhidos alunos de três momentos diferentes do curso: primeiro, terceiro e sétimo semestres, supondo-se que o menor ou maior tempo de convívio com o ambiente os levaria a diferentes níveis de letramentos, com relação à aprendizagem dos conteúdos mediada pelos gêneros fórum educacional digital e chat educacional. A amostra de 10 alunos por disciplina corresponde à média de 1/3 do total de matrículas por turma. Nas disciplinas referidas, o planejamento de fóruns variou de 4 a 5, e de chats, de 1 a 3. No entanto, somente os fóruns aconteceram, conforme planejados. Já os chats, embora tenha havido programação de um maior número, não foram todos realizados. Na tabela 2, apresentamos sua descrição. Tabela 2: Descrição dos fóruns e chats Tipos Fóruns Chats Educação a distância Disciplinas Literatura Portuguesa I 04 04 05 01 00 00 00 01 01 01 01 00 Discussão dos temas em foco no processo de ensino-aprendizagem Solução de dúvidas acerca das tarefas e dos conteúdos Discussão dos temas em foco no processo de ensino-aprendizagem Solução de dúvidas acerca das tarefas e dos conteúdos Funcionalismo Da quantidade total de fóruns por disciplina, apenas um de cada foi escolhido, adotando-se como critério de seleção o maior número de postagens e dos chats o maior número de participantes, na medida em que aconteceram. Os resultados serão apresentados, associando-se os dados aos objetivos estabelecidos, ou seja, à mediação dos gêneros fórum e chat para a aprendizagem colaborativa, verificando-se: o perfil do tutor e dos cursistas; seus letramentos; as características gerais apresentadas por esses gêneros, suas condições de produção, o material de apoio e as estratégias interacionais. 5.1 O perfil do tutor no AVA Solar Os tutores das disciplinas analisadas são duas mulheres e um homem, que estão na faixa etária de 26 a 35 anos, participantes de cursos de pós-graduação: dois doutorandos e um mestrando. Exercem a função há mais de dois anos, passaram por um processo seletivo, e foram convidados a participar da disciplina por professores conteudistas das áreas específicas, conforme o cadastro no Instituto Virtual UFC. Analisamos a atuação dos tutores, observando o desempenho das funções de professor formador, tutor e recurso (BELLONI, 2001). Tabela 3: Funções e atribuições do tutor no AVA Solar FUNÇÕES FORMADOR TUTOR RECURSO DESCRIÇÃO Orientação de estudo e aprendizagem Acompanhamento da participação Esclarecimento de dúvidas e de questões relativas ao conteúdo Resposta a dúvidas pontuais QUANTIDADE DE TUTORES 01 02 02 03 Os dados da tabela 3 revelam que os tutores analisados, conforme suas respostas, não atendem ao perfil idealizado para a modalidade, ou seja, não exercem múltiplas funções, destacando-se, dentre as respostas, a de professor recurso. No entanto, há indícios de que as funções de professor tutor e formador estão em construção. A atuação verificada diminui as possibilidades de orientação de estudo e aprendizagem, um dos papéis do professor formador, reduzindo a interação, a cooperação e a colaboração. Com relação às características indispensáveis ao tutor, obtivemos os dados apresentados na tabela 4. Tabela 4: Características do tutor no AVA Solar CARACTERÍSTICAS Paciente Crítico Proativo Dinâmico Empático Ético profissionalmente Dedicado e comprometido Mediador da argumentação Competente no uso da escrita Atento aos movimentos da turma Capaz de promover boas discussões Consciente do seu papel de agente de mudanças QUANTIDADE DE TUTORES 01 01 02 01 01 03 01 02 03 00 02 00 Tais dados apontam como características fundamentais dos informantes: ser ético profissionalmente e competente no uso da escrita; ser proativo, medicador da argumentação e capaz de promover boas discussões. Características como estar atento aos movimentos da turma e consciente do papel de agente de mudanças não foram registradas, o que reforça os resultados anteriores de que há baixo envolvimento dos tutores com a orientação e a aprendizagem das turmas. Desse modo, o perfil do tutor identificado é o de um professor recurso, competente no uso da escrita e ético. 5.2 O perfil do aluno no AVA Solar Dos trinta alunos das disciplinas analisadas 14 são mulheres e 16 são homens, que estão, em sua maioria, na faixa etária de 18 a 25 anos. De modo geral, são recém egressos do ensino médio, na modalidade regular. Apenas dois deles declararam não ter curso de informática básica. Em sua maioria, são alunos trabalhadores que moram próximo ao polo e/ou se deslocam facilmente até lá. Acessam o ambiente por meio de seu próprio computador, mais de cinco vezes por semana. Analisamos o perfil do aluno, observando os tipos de aprendiz propostos por Moore (1986), ressaltamos que o terceiro tipo por ele proposto, o dependente emocionalmente não foi encontrado dentre os sujeitos informantes. Tabela 5: O aprendiz no AVA Solar . TIPOS DE APRENDIZ DESCRIÇÃO QUANTIDADE DE ALUNOS Autodirigido Motivado para obtenção do diploma Aprimoramento da forma de ensinar Desejo de fazer um curso na UFC Afinidade com a área Flexibilidade de tempo Elevação do nível acadêmico 04 09 18 08 19 De acordo com os dados verificados, os alunos não apresentam de modo específico o perfil de autodirigidos ou de motivados para obtenção do diploma, mas são caracterizados pelos dois tipos simultaneamente, o que constitui o perfil de aluno do AVA Solar como parcialmente autodirigido e motivado para a certificação. Isso nos leva a deduzir que a autonomia, característica essencial ao seu perfil, ainda é um processo em construção. Talvez, esse resultado possa estar associado à faixa etária da maioria dos alunos e indica que eles ainda não têm a maturidade para o autogerenciamento de sua aprendizagem, pois, como afirmado por Belloni (2001), esse “processo de aprendizagem é apropriado a adultos com maturidade e motivação necessárias à auto-aprendizagem e possuindo um mínimo de habilidades de estudo “. 5.3 Os letramentos do tutor e do aluno no AVA Solar De acordo com o que verificamos, os tutores apresentam os seguintes letramentos: o manuseio do computador; o domínio da linguagem escrita e digital e da ação de argumentar, pois, de acordo com suas respostas, essas práticas são indispensáveis para que o tutor promova discussões nos gêneros fórum e chat e estimule o desenvolvimento de argumentos por parte dos alunos. Além desses: a facilidade de navegação dentro do ambiente virtual; o domínio dos conteúdos a serem explorados; a linguagem acadêmica e profissional, uma vez que todos são formados em Letras, pós-graduados e fizeram o curso de Formação de tutores. Os alunos, por sua vez, ainda estão cursando sua primeira graduação e são recém egressos do ensino médio. Embora todos tenham declarado que cursaram informática básica, não tendo dificuldades com o manuseio do computador, ainda estão letrando-se digitalmente no AVA Solar, como se observa na postagem do tutor da disciplina Educação a distância: F., também vi que isto ocorreu em alguns textos. Mas realmente como ainda estamos numa fase de adaptação com o texto acadêmico, vindo acostumados a digitar textos bastante abreviados em sites como MSN, é normal que neste início de elaboração escrita ainda haja alguns resquícios. Sem falar que há alunos que agora que estão digitando seus primeiros textos e se adaptando ao uso do computador. Acredito, porém que, com atenção e prática, isto se resolva bem rápido. Os gêneros fórum digital educacional e chat educacional exigem dos envolvidos uma consciência da escrita mais formal para o cumprimento da atividade de proporcionar discussões pertinentes ao processo de aprendizagem, uma vez que, no ambiente acadêmico, as “amarras” contidas em sua elaboração não permitem “afrouxamentos” da linguagem, no tocante à modalidade, privilegiando os padrões de escrita como referência, fazendo com que outros letramentos sejam ativados para a realização a contento dos letramentos digitais. Para ilustrar, destacamos o comentário de um dos alunos dos fóruns selecionados, cujo tema foi “Uso do Solar para a aprendizagem”. Bom dia, realmente a ferramenta solar, talvez para os mais familiarizados com as benesses da tecnologia digital, possa ter sido mais um sistema de operacionalização. Para mim, que só tenho contato com o computador por imposição do trabalho e para uso de sistemas específicos da Empresa, não foi assim. Confesso que vou desbravando de pouquinho em pouquinho o solar, às vezes me perdo pelo meio do caminho e preciso refazer o percurso, mas aos poucos vou me encontrando e até criando uma certa simpatia, haja vista que seremos companheiros inseparáveis até o final do curso. (sic). A postagem do aluno reforça o caráter de que não basta saber ler e escrever ou mesmo saber usar o computador para ser considerado letrado digitalmente em um AVA, porque nesse ambiente há exigências bastante específicas das quais o aluno apropria-se na medida em que “enfrenta” no ambiente uma série de “tentativas-erros-tentativas-acertos”, mas a consciência desse processo em si já é uma abertura para a etapa de aprendizagem dos letramentos exigidos no manuseio dos gêneros em questão. Sobre a absorção das propostas de discussão, encontram-se em concordância alunos e tutores, pois, em geral, veem nesse momento um certo grau de dificuldade, não chegando a prejudicar a realização dos objetivos, porque os temas geradores das discussões apresentamse com um nível de média compreensão. As dúvidas e conflitos gerados nessa escala de dificuldade são logo resolvidos nos fóruns e chats ou em mensagens enviadas pelos alunos aos tutores, reforçando que os alunos possuem tecnicamente os letramentos necessários para desenvolverem a aprendizagem no ambiente. 5.4 O fórum e o chat: características gerais e condições de produção Os três fóruns analisados foram do tipo discussão dos temas em foco no processo de ensino-aprendizagem e as propostas utilizadas nas disciplinas como base para as discussões encontram-se na tabela 6, em que fazemos também a relação entre essas propostas, o número de participantes e o número de postagens. Tabela 6: Caracterização dos fóruns Disciplinas Educação a distância Propostas Duração Participantes Postagens Neste fórum você terá a oportunidade de conversar com seus colegas de turma e também com algum aluno veterano do seu curso a distância. No Fórum, escreva sobre como você pretende utilizar as ferramentas do Solar para seus estudos e aproveite para conversar sobre isso com os demais participantes. 31/01 a 08/02 (9 dias) 24 alunos e o tutor 145 Literatura Portuguesa I Funcionalismo Mesmo passados tantos séculos, muito ainda existe do Trovadorismo. Discuta com seus colegas essa possível continuidade, por exemplo, na cultura popular nordestina e na música popular Discutir as definições de sujeito e predicado das gramáticas tradicionais de língua portuguesa 13/04 a 26/04 (14 dias) 15 alunos e o tutor 49 11/10 a 17/10 (7 dias) 19 alunos e o tutor 76 Como apontam os dados, verificamos a participação massiva dos alunos nos fóruns, observando os participantes x matriculados (tabela 1). Além disso, os dados indicam que a proposta sugerida para discussão no fórum da disciplina Educação a distância, a qual envolve uma atividade prática e de apropriação das ferramentas do AVA Solar, gerou maior motivação para participação, quando comparada às demais cujos temas foram de cunho teórico. Não atribuímos esse resultado à interação/participação ou incentivo do tutor, porque no fórum em que houve 19 participantes e 76 postagens, registraram-se 12 da tutoria, enquanto no das 145, apenas 6 postagens do tutor. O período de duração do fórum também não nos parece interferir na participação, já que no fórum cuja duração foi mais prolongada (14 dias), o número de postagens foi bem inferior. Nesse contexto de produção, constatamos que o conteúdo temático ou o tópico sugerido para discussão é determinante para uma maior ou menor participação. No caso dos alunos da EAD, o receptor não é apenas o tutor, mas também os colegas, que estão na mesma posição social e o objetivo na interação é provocar a resposta desse colega e/ou do tutor. Além disso, os alunos instituem à linguagem um tom mais formal, próprio do ambiente acadêmico, revelando assim a consciência que têm do lugar de produção, como na ilustração abaixo. Segundo a gramática tradicional, sujeito é aquele de quem se diz algo e predicado é aquilo que se diz do sujeito. Essas são definições convencionais que aprendemos nas aulas de análise sintática ao longo de nossa vida estudantil, mas que agora se tornam contraditórias. Em relação à idéia de que o sujeito é aquele sobre quem se declara algo, temos o seguinte exemplo: Naquela sala cabem quarenta alunos, o sujeito é quarenta alunos, mas não se declara algo sobre os alunos e sim sobre a sala. O que dizer a respeito dessa frase? Embora os fóruns analisados não apresentem nenhuma sugestão de material de apoio específico visando à geração de ideias, com base em postagens semelhantes à citada, constatamos que induziram os alunos a pesquisas. Na tabela 7, apresentamos os dados referentes aos chats. Tabela 7: Caracterização dos chats Disciplinas Propostas Grupos Participantes Postagens Educação a distância Revisão dos conteúdos para avaliação final do curso 19/02/11-14- 15h 21/02/11- 20-21h 22/02/11 -18-19h 23/02/11–23-24h 21 alunos e o tutor 1248 Literatura Portuguesa I Camões hoje 16/05/11– 10-11h 10 alunos e o tutor 122 O ensino da língua portuguesa 21/10/11 – 10-11h Funcionalismo e a competência 22/10/11 -20-21h discursiva dos alunos 09 alunos e o tutor 177 Os dados da tabela 7 indicam que há uma maior participação no chat para solução de dúvidas acerca das tarefas e dos conteúdos, reforçando o que ocorreu com os fóruns na disciplina EAD, a qual obteve um maior número de postagens pela natureza da atividade. Os chats que se propuseram a discussão dos temas em foco no processo de ensino-aprendizagem receberam menos participantes e, consequentemente, menos postagens. É possível afirmar, com base nas postagens, que os alunos sentem-se mais à vontade nesse ambiente do que demonstraram no fórum. Nos chats, eles facilmente desviam o tópico da discussão, exigindo do tutor um maior envolvimento para a retomada nem sempre exitosa, porque as postagens desviam para assuntos de organização das aulas e deixam o conteúdo à margem, conforme ilustra a passagem postada pelo tutor: “vamos conversar sobre as duvidas de conteudo de voces e vcs marcam as equipes no chat ou no forum livre, tá certo?” É característico do chat o uso da linguagem mais próxima do internetês, em virtude do tempo e da rapidez exigida para acompanhar a conversação. A participação dos alunos também decresce por problemas operacionais, conforme declarações. Há, por parte do tutor, um maior número de tomadas de turnos, mas é possível perceber também que são grandes os intervalos de tempo, em que os alunos conversam entre si, o que chega a simular situações de conversas paralelas comuns ao ambiente presencial, fazendo o gênero voltar-se para sua origem de bate-papo. 5.5 O fórum e o chat: estratégias interacionais Nos fóruns avaliados, houve o domínio da interação entre alunos, mas a interação entre tutor e alunos foi relegada, de certa forma. As postagens dos tutores nesses fóruns apresentaram variação de 1 a 12, sendo, a nosso ver, um número que não favorece a interação e o aprendizado que afirmam proporcionar. Segundo os tutores, a participação no fórum visa interagir com comentários individuais e/ou com os de dois ou mais cursistas, para estimular a interação entre os cursistas e a reflexão acerca do conteúdo, bem como favorecer o aprendizado. Pelo que observamos, na verdade, acontece mais pela interação aluno/aluno do que pela interação tutor/alunos. Na análise das estratégias de interação, com base em Moore (2007 apud CAMPOS, 2008), verificamos que nos fóruns do AVA Solar são desenvolvidas, de modo geral, apenas duas delas: a de resposta à mensagem e a de mensagem de acompanhamento. Não ocorrendo comumente a mensagem inicial (abertura) e o resumo da mensagem (fechamento). Somente um dos fóruns observados apresentou mensagem inicial e não trouxe o conteúdo do tópico, mas um convite à participação: “Olá turma, já estamos com nosso segundo fórum aberto. Participemos das discussões!”. Nenhum deles apresentou síntese da discussão. Ilustramos as estratégias de resposta à mensagem, as mais recorrentes, com uma sequência de interação entre alunos. Temos ouvido a vida inteira que "sujeito é aquele de quem se diz algo" e "Predicado é aquilo que se diz do sujeito."Isso são às definições da gramática tradicional. Apesar de não haver nada que coloque o sujeito em posição privilegiada em face dos demais complementos, não há como negar que há algo a distinguir o sujeito do objeto direto, este do objeto indireto e dos adjuntos adverbiais por exemplo, e assim em diante. Mas esse algo não é de natureza semântica, mas gramatical. Por isso, não faz sentido dizer que sujeito é "aquele de quem se fala" ou "o autor da ação". Primeiro, porque nem todo verbo exprime ação.Concordam? É verdade F. e acredito que o seu comentário combina até com o exemplo que a nossa colega E. escreveu acima. Nem sempre em uma frase estaremos utilizando verbos de ação e nem sempre trataremos de falar do sujeito. A língua é usada para atender as funções comunicativas de cada falante. As estratégias interacionais nos chats educacionais estão estreitamente ligadas às tentativas de normatização do gênero que apresentam propósitos distintos de outros modelos de chats. Na postagem que segue, observa-se isso pelo conteúdo e o direcionamento da pergunta. D - Eu estva lendo um livro de José Verríssmo e numa parte do livro ele fala sobre Período colonial e período nacional. esses peridos marcam a presença da influência portuguesa em nossa literatura? (sic) D - A pergunta era para professora M - sim influenciam, mas pelo compreendi em Literatura Brasileira III é que com o Modernismo, a Literatura Brasileira começou de fato a se firmar, a impor seus valores,começou de fato a se produzir uma arte nacional, o que havia começado com José de Alencar no Romantismo.(sic) É possível observar, nos comentários, a pressão que o fator tempo exerce sobre os interactantes. Há uma sobreposição de turnos, fazendo que o aluno M interfira na pergunta do aluno D, responda a uma pergunta não lhe endereçada e demonstre que a aproximação do gênero com a modalidade oral leva o aluno a agir instantaneamente. Nos questionários, os tutores declararam que interagiam com seus alunos individualmente e/ou em grupos, reunindo-os por tema de intervenção, mas isso não ocorreu, porque a ação do tutor foi dirigida a um indivíduo, conforme a modalidade oral. Além disso, comprometeram a interação, impedindo a efetivação do gênero nas disciplinas: problemas técnicos, atrasos do tutor ou o seu não-comparecimento. 5.6 O fórum e o chat e a aprendizagem colaborativa Ao entendermos cooperação como a ação de um sujeito que coopera a favor do(s) outro(s), auxiliando-o(s) a obter uma informação ou a realizar uma atividade, constatamos que nos gêneros fórum e chat esse processo é dominante, porque a interação ocorre mais com a co-operação de um aluno com o outro, conforme já apontado, quando discutimos as estratégias interacionais no fórum (seção 5.5). Aqui, destacamos uma sequência de um dos chats analisados. eu entendi que a metacognição o aluno toma conciência de sua autonomia e a Andragogia ele põe em prática. Estou certa? (C) Mas a metacognição engloba tudo isso não é? (Y) a metacognição nasce a partir de um contexto de andragogia, ou seja, o adulto descobre e busca como ele aprenderá melhor (Tutor) A colaboração como ação conjunta, ou seja, entre indivíduos que buscam o mesmo objetivo não acontece plenamente por meio dos gêneros fórum e chat. Isso se evidencia: no perfil de aluno verificado (autodirigido parcialmente); em alguns tipos de atividades que demonstram compartilhamento em busca de um objetivo do grupo e ainda em algumas intervenções de tutores e alunos nesse sentido, como a ocorrida no fórum: É muito importante o ponto de vista que trata do uso de ferramentas não apenas para a aprendizagem própria, mas também coletiva. (Tutor). Concordo! Gostaria de acrescentar que é muito importante que ao lermos as postagens dos nossos colegas de curso, fiquemos atentos se alguém tem alguma dificuldade no uso de alguma ferramenta. Afinal, embora se espere que todos saibam usar e entender as ferramentas pelo fato de que a navegação no Solar seja simples e precisa. Mas, nem todos tiveram a oportunidade de entender por um motivo ou outro. Estar atento às essas dificuldades, aprofundará nossa relação com nossos colegas e os ajudará a ter mais segurança e serem bem-sucedidos no curso. "QUANDO AJUDAMOS, SOMOS TAMBÉM AJUDADOS. POIS DESENVOLVEMOS EM NÓS A IDÉIA DE QUE NUNCA PRECISAMOS NOS SENTIR SOZINHOS". (A.). A postagem do tutor incentiva a aprendizagem coletiva e a do aluno reforça o papel de cada cursista: o de ser responsável não só pela sua aprendizagem, mas também pela do grupo. 6. Considerações finais A discussão teórica e analítica aqui apresentada sobre os gêneros fórum e chat, em AVA e no Solar, permitiu-nos constituir o perfil do tutor e dos cursistas no corpus selecionado. Verificamos que tais perfis não correspondem aos já definidos na literatura existente (BELLONI, 2001 e MOORE, 1986), identificando no AVA Solar o professor “recurso” e o aprendiz parcialmente autodirigido e em busca de certificação. Quanto aos letramentos apropriados por esses interactantes, constatamos que os tutores detêm os essenciais ao desempenho de sua função; enquanto os aprendizes, mesmo em semestres mais avançados do curso selecionado, ainda estão em processo de apropriação, letrando-se. As estratégias interacionais aliadas às condições de produção e aos demais aspectos analisados vêm contribuindo, para que o aprendizado cooperativo se realize nesse AVA, mediado pelos gêneros fóruns e chats. No entanto, a mediação desses gêneros para a aprendizagem colaborativa ainda é um processo em potencial, desenvolvendo-se de forma lenta. É inegável que esses gêneros apresentam-se como frutíferos para esse tipo de aprendizagem, além de serem ferramentas úteis à prática docente para o estreitamento de laços com os alunos e dos alunos com os seus pares, principalmente ao se considerar o espaço de ação da aprendizagem, o não físico. Portanto, seja em forma de bate-papo (chat), seja em forma de intervenções ou postagens (fórum), esses gêneros são fundamentais para a mediatização, efetivação e otimização da aprendizagem coletiva em AVA. Referências ARAGÃO ,J. M. de A. O gênero chat educacional em ambientes de ensino a distância. 2008. 142 f. Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008. BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003[1952-53/1979]. p. 261-270. BARROS, K. S. M. de; CRESCITELLI, M. F. de C. Prática docente virtual e polidez na interação In: MARQUESI, Sueli Cristina; ELIAS, Vanda Maria da Silva; CABRAL, Ana Lúcia Tinoco. Interações Virtuais: perspectivas para o ensino de língua portuguesa a distância. São Carlos: Claraluz, 2008. p. 73-92. BELLONI, M.L. Educação a distância. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2001. BRONCKART, J.P. Atividades de linguagem, textos e discursos. São Paulo: EDUC, 1999. BUZATO, M. E. K. Entre a fronteira e a periferia: linguagem e letramento na inclusão digital. 2007. 284 f. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem). Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. CRESCITELLI, M. F. C.; GERALDINI, A. F. S.; QUEVEDO. Fórum educacional digital. In: BASTOS, N. M. O. B. Língua Portuguesa: lusofonia: memória e diversidade cultural. São Paulo: EDUC, 2008. HAGUENAUER, C.; MUSSI, M.; CORDEIRO FILHO, F. Ambientes virtuais de aprendizagem: definições e singularidades. In: Revista Educaonline. v. 3, n. 2, maio/ago. 2009. Disponível em: http://www.latec.ufrj.br/revistaeducaonline/vol3_2/1_%20AVA_definicoes.pdf. Acesso em: 23 jun. 2010. KENSKI, V.M. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas: Papirus, 2003. KLEIMAN, A. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado das Letras, 1995. LIBERALI, F. C. O diário como ferramenta para a reflexão crítica. 1999. 179 f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: São Paulo, 1999. MAÇADA, D.; TIJIBOY, A. V.. Aprendizagem Cooperativa em Ambientes Telemáticos. IV Congresso Ribie, Brasília, 1998. Disponível em:< http://www.url.edu.gt/sitios/tice/docs/trabalhos/274.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2010. MARCUSCHI, L. A. Gêneros Textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, A.C. Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p. 13-67. ______ . Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. MOORE, M. Self-Directed Learning and Distance Education. Ziff Papiere 16. Hagen, Fern Universitat, Zentrales Institut für Fernstudienforschung, 1986. Disponível em: < http://www.fernuni-hagen.de/ZIFF/ZP_048.pdf ml>. Acesso em: 04 maio 2011. _______; KEARSLEY, G. Educação a distância: uma visão integrada. São Paulo: Thomson Learning, 2007. PAIVA, V. L. M.; RODRIGUES JÚNIOR, A. S. Fóruns on-line: intertextualidade e footing na construção do conhecimento, 2004. Disponível em: < http://www.veramenezes.com/forum.pdf>. Acesso: 02 jun. 2011. PANITZ, T. A definition of collaborative vs cooperative learning, 1996. Disponível em: < http://www.londonmet.ac.uk/deliberations/collaborative-learning/panitz-paper.cfm. Acesso em: 02 jun. 2011. ROJO, R. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola, 2009. SANTORO,F.M.; BORGES,M.R.S.; SANTOS, N. Um framework para estudos de ambientes de suporte à aprendizagem cooperativa. Revista Brasileira de Informática na Educação. n.4, p. 51-68. 1999. SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002. VERDE LEAL, V. P. L. O Chat quando não é chato: o papel da mediação pedagógica em chats educacionais. In: ARAÚJO, J.C. Internet e Ensino: novos gêneros, outros desafios. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2007. p. 48-63. VYGOSTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2002.