A VISÃO DE UM CIDADÃO COMUM XVI ( Daqui em Diante Só Há Dragões… ) Nuno Melo A semana que passou foi profundamente marcada pelas eleições presidenciais francesas e legislativas gregas. Os resultados das mesmas demonstram, que mais que uma vitória dos candidatos eleitos, tratou-se de uma derrota das políticas de austeridade excessiva que grassam pela (des) União Europeia. Se em França se votou contra Sarkosy (que mesmo assim obteve 48% dos votos) na Grécia votou-se nos partidos situados nos extremos do espectro político, cujo programa eleitoral consiste em rejeitar/reformular o memorando assinado em Março último com vista a obter um segundo pacote de resgate financeiro. É certo que estes resultados deveriam constituir para qualquer cidadão democrata e/ou patriota um renascer da esperança e um motivo de alegria, ainda que muito moderada. Mas será mesmo assim tão linear? O desfecho das eleições francesas poderá significar um novo equilíbrio de poderes no seio da União Europeia, haja vontade do Sr. François Hollande para fazer frente à frau Merkel, já o das eleições gregas poderá abrir uma verdadeira caixa de Pandora agora que se começa a vislumbrar a impossibilidade de formar um executivo que una todos os gregos... A chanceler alemã, também ela derrotada no passado fim-de-semana em eleições regionais, não tardou a deixar avisos aos dois países na segunda-feira. Ângela Merkel fez finca-pé a François Hollande no que toca a alterar o pacto orçamental, embora admita que possa ceder no que toca a orientar a Europa para uma política, também de crescimento, desde que não haja um aumento das dívidas soberanas. Aproveitou também para convidar (leia-se convocar) o presidente gaulês a visitar Berlim com a maior brevidade possível, para conversarem sobre o futuro da Europa, numa tentativa de manter o pacto franco-alemão em vigor, este já confirmou a sua visita à capital alemã para o dia seguinte à sua tomada de posse. Hollande, à semelhança de Pedro Passos Coelho, começa cedo a revelar a sua verdadeira essência, qual bala de salva, não só passa a ter um discurso conciliador junto de Berlim como também vira as costas aos EUA e Israel. As relações entre Obama e o Eliseu podem não estar facilitadas relativamente ao dossiê Afeganistão. Durante a sua campanha, o presidente francês eleito prometeu retirar os militares franceses do terreno antes do final do ano, dois anos antes do calendário previsto pela Nato, e quanto à questão Nuclear Iraniana aceita que este mantenha um programa nuclear “civil”. Quanto à Grécia, Ângela Merkel, avisa que o país tem de respeitar o que acordou afirmando à imprensa no Domingo: «Este resultado não é desprovido de complicações, mas creio que o mais importante é darmos à Grécia a possibilidade de avaliar os resultados por si só. É da maior importância que os programas que acordámos com a Grécia continuem a ser implementados. O processo é difícil mas, apesar disso, deve continuar». A Europa encontra-se numa encruzilhada e a única certeza que existe é a inexistência de paralelo histórico, embora haja muitas semelhanças com o período que antecedeu a segunda guerra mundial (crise financeira, colapso da Sociedade das Nações, aparecimento dos movimentos nacionalistas) que nos permita evitar erros de percurso e escolher a melhor opção para os povos da União Europeia cuja melhor analogia que me lembro será a das cartas náuticas na época dos descobrimentos que em face dos mares então desconhecidos assinalavam “Daqui em diante só há dragões…..” Com os atropelos sucessivos e crescentes que se têm vindo a fazer aos modelos sociais, valores éticos, morais e políticos bem como às soberanias nacionais (algumas quase milenares como é o Nosso caso) Europeias apenas para manter um sistema financeiro e económico débil e insustentável, que tem na sua génese a especulação de capitais, agentes económicos corruptos e imorais e os seus kapos - que representam uma percentagem marginal da população total, embora detenham a maioria da riqueza das nações – será de esperar que os resultados das eleições se revelem uma miragem para aqueles que acreditam que a solução para a crise actual será de cariz puramente político. Os Portugueses não podem continuar a esperar que outros resolvam os nossos problemas, quer sejam os Franceses com a sua contestação quer os Gregos com a sua revolta, ambas legitimas e merecedoras de apoio. Os nossos problemas estruturais transcendem a política e finanças: é todo um sistema social, politico, económico, financeiro e cultural mas acima de valores éticos, morais e cívicos! Actualmente verdadeiros burocratas, tecnocratas e políticos profissionais incompetentes a soldo de lobbies (a maioria com interesses transnacionais) inquinam organizações estatais, partidos políticos, ONG´s e o sector empresarial, tornando impossível que se resolva os problemas estruturais da Nação sem que haja uma ruptura radical com este status quo que se implementou nas últimas duas décadas. É necessário refundar a Pátria e, é este o momento para o fazer! Aproveitemos o clima de incerteza e de vontade de mudança, que varre o continente europeu em que o holofote está apontado a todos e a nenhum, para fazer o saneamento (com todos os fantasmas que a palavra acarreta) necessário e reforçar as fundações desta nobre Nação com vista a criar uma sociedade assente na equidade, na justiça, na democracia e num desenvolvimento económico e social sustentado. Um abraço e até para a semana, Nuno Melo