AS CONCEPÇÕES DE NATUREZA NO IDEÁRIO EDUCACIONAL NO BRASIL NAS DÉCADAS DE 1920 E 1930 CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro 1 Resumo: O trabalho em questão , que pode ser caracterizado como “pesquisa documental”, tem como objetivo identificar as concepções de Natureza, existentes no ideário educacional do Brasil, nas décadas de 1920 e 1930. Para tanto, foram analisados documentos sobre Educação, produzidos nesse período, periódicos da área, além de livros didáticos, de Leitura, de Geografia e de Ciências Físicas e Naturais, publicados nessas duas décadas e utilizados nas nossas escolas. Da leitura e análise desse material, pode-se identificar algumas concepções de Natureza, a saber: antropocêntrica, utilitarista, antropomórfica, como “mãe comum e/ou como tudo o que não foi feito pelo homem”, como “tudo o que existe, tudo o que Deus criou”, como “livro” e, finalmente, a concepção estética e/ou romântica. Essas concepções aparecem, explicitamente, nos livros didáticos, embora estejam presentes, também, nos documentos analisados. Palavras-Chave: concepções, natureza, livros didáticos, Educação Ambiental. 2 Abstract: Conceptions of “Nature” in Brazilian renewed educational ideas in 20´s and 30’s. This paper aims to identify the conceptions of nature brought forth by the Brazilian renewed educational ideas in the 20’s and 30’s. It was analysed documents and specialized journals dealing with education, published in that period. Besides that, it were also analysed literacy, geography and scholar science texts books that were utilized in schools in that period. From these analyses it was possible to identify some conceptions of nature, such as: anthropocentric utilitarian, anthropomorphic, and “nature as mother”, as “all that was not made by man”, as “all that exist”, as “all that was created by God”, or as “book” and finally the esthetical or romantic conception of the nature. These conceptions could be clearly identified in the text books, although they were found in the documents as well. Key words: conception, conception of nature, text books, environmental education. Introdução: As discussões relativas à temática ambiental têm ultrapassado os meios acadêmicos e mobilizado diferentes segmentos da sociedade civil. Assim, movimentos populares, sindicatos, partidos políticos, igreja, entre outros, têm visto, na chamada questão ecológica, um importante fator de aglutinação social. 1 Professora do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação, Núcleo Temático Educação Ambiental, do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, UNESP - campus de Rio Claro- SP- Brasil. 2 Trabalho a ser apresentado no Simpósio CyT/MA – 2 “Fundamentos da Educação Ambiental”. Estimulada pelos meios de comunicação de massa, que não raras vezes atuam de forma sensacionalista em relação às questões ambientais, a população, cada vez mais, tem se preocupado com essa temática e, principalmente, com as conseqüências que os problemas decorrentes da degradação ambiental podem trazer para o seu cotidiano. Nesse sentido, os problemas relativos à poluição, à escassez de recursos naturais, à camada de ozônio, à destinação dos resíduos sólidos, entre outros, passaram a fazer parte do universo de preocupação das populações contemporâneas, sobretudo, daquelas que residem nos grandes centros urbanos. A explicação para o crescente interesse da população pelos problemas ambientais parece residir na compreensão de que tais problemas se apresentam em escala planetária e de que a sobrevivência da espécie humana pode depender da forma como esses problemas serão solucionados. Na tentativa de compreender a complexidade da questão ecológica, alguns autores têm apontado que, subjacente a essa questão, servindo-lhe de pano de fundo, existem as concepções que determinada sociedade tem de Natureza, isto é, a forma como determinada sociedade concebe a relação sociedade-natureza. Em outras palavras, a questão toda se concentra, portanto, no modo como a natureza se faz presente para o homem; ou melhor: no modo como o homem torna a natureza presente. (BORNHEIM, 1995, p.18) Assim sendo, a idéia de Natureza não é algo “natural”, mas cultural, ou seja, tal idéia é construída historicamente. Cada sociedade, de acordo com a sua cultura e com suas condições materiais de existência, constrói, elabora uma idéia de Natureza. A concepção que essa sociedade tem de Natureza será determinante nas relações que serão estabelecidas com a mesma. Nesse sentido, explicitar a forma como determinada sociedade torna a Natureza presente é de fundamental importância para a compreensão e superação dos impasses gerados pela problemática ambiental. No chamado mundo ocidental, a relação sociedade-natureza tem sido marcada por uma concepção dicotômica na qual impera uma total sujeição do mundo natural ao domínio humano. Embora existente desde a Antigüidade Grega, tal concepção foi acentuada a partir da Idade Moderna, sobretudo, depois do Cogito cartesiano. Tendo como referência as tradições filosófica e teológica, é senso comum no Ocidente, desde há muito tempo, que o mundo foi criado para o bem-estar e felicidade dos seres humanos e que as demais espécies devem apenas se subordinar a seus desejos e necessidades. Dito de outra forma, a Natureza existe unicamente para servir aos interesses humanos. Em que pese ainda hoje o predomínio dessa concepção, começou, no entanto, contraditoriamente, a existir, de acordo com THOMAS (1988), a partir da Idade Moderna, um questionamento a esse antropocentrismo sem limites. “O mundo não podia mais ser visto como feito somente para o homem, a as rígidas barreiras entre a humanidade e outras formas de vida haviam sido bastante afrouxadas”. (p. 357) Ainda, segundo esse autor: O começo do período moderno gerou sentimentos que tornariam cada vez mais difícil os homens manterem os métodos implacáveis que garantiram a dominação de sua espécie. Por um lado, eles viram um aumento incalculável do conforto, bem-estar e felicidade materiais do seres humanos; por outro lado, davam-se conta de uma impiedosa exploração de outras formas de vida animada. Havia dessa maneira um conflito crescente entre as novas sensibilidades e os fundamentos materiais da sociedade humana. Uma combinação de compromisso e ocultamento impediu até agora que tal conflito fosse plenamente resolvido. É possível afirmar ser essa uma das contradições sobre as quais assenta a civilização moderna. (p. 358). A Educação tem sido vista por diferentes segmentos da sociedade civil, entre eles o Movimento Ambientalista, como um caminho viável para a superação do atual quadro de degradação ambiental. De acordo com CARVALHO (1989), [...] seja qual for o modelo adotado na tentativa de explicar o atual estado de agressão à natureza praticado pela nossa sociedade, e sejam quais forem as alternativas de ação propostas, o processo educativo é visto como uma possibilidade de provocar mudanças e alterar esse quadro. (p. 5) Tendo como referência essas idéias, torna-se relevante buscar entender de que forma determinada sociedade, em determinada época histórica, concebe a Natureza e que tipo de relação mantém com o mundo natural. No caso específico deste trabalho, trata-se da sociedade e da educação brasileiras, nos anos 20 e 30 do século XX. Nesse sentido, torna-se relevante buscar identificar de que modo a Natureza se fazia presente no ideário educacional desse período. A delimitação da pesquisa nessas duas décadas não foi aleatória. Tal delimitação justifica-se na medida em que, nesse período, a Educação ocupava um lugar de destaque no cenário nacional. A super valorização do papel da Educação para o projeto de “reconstrução nacional” pode ser comprovada por meio da leitura de um excerto do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: Na hierarchia dos problemas nacionaes, nenhum sobreleva em importancia e gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caracter economico lhe pódem disputar a primazia nos planos de reconstrucção nacional. Pois, se a evolução organica do systema cultural de um paiz depende de suas condições economicas, é impossivel desenvolver as forças economicas ou de producção, sem o preparo intensivo das forças culturaes e o desenvolvimento das aptidões á invenção e á iniciativa que são os factores fundamentaes do accrescimo de riqueza de uma sociedade.( p. 3).3 Pode-se perceber, a partir da leitura de documentos da época, que proliferava, no país, a crença generalizada de que residia, na Educação, a solução de todos os problemas nacionais. Além desse “entusiasmo pela Educação”, desse "otimismo pedagógico" e dessa crença no papel redentor da Educação, existem outras razões que tornam esse período bastante propício para o estudo, a saber: - a introdução, no país, do ideário da Escola Nova que preconizava uma fundamental alteração nos processos de ensinar-aprender, com ênfase na observação e experimentação. Daí a grande importância atribuída aos chamados “estudos do meio” e às excursões escolares para que os alunos observassem os diferentes “cenários da natureza”; - o nacionalismo que imperava na época, com a defesa de valores cívicos, a “valorização do que é brasileiro”, o culto aos heróis nacionais, a criação de grupos de escotismo, a defesa do contato direto com a Natureza; 3 No caso dos documentos, e também em relação aos livros didáticos, optei por manter a ortografia da época. - as propostas de “educação rural” ou “ruralismo pedagógico” que existiram nessa época, que defendiam uma “Volta ao campo”, uma educação voltada especificamente para o meio rural e seus valores. Embora seu real objetivo fosse o de fixar o homem no campo, impedindo o êxodo rural, tal educação difundia, para o homem do campo, o “sentido rural da civilização brasileira”, a “vocação do Brasil como país agrícola”. (PAIVA, 1973, p.126130). Como já foi apontado, a partir dos anos 20, do século passado, proliferava, no Brasil, a crença de que residia, na Educação, a solução de todos os problemas nacionais. Era de responsabilidade da Educação regenerar as populações brasileiras, uma vez que estas eram sempre referidas em signos da doença, do vício, da falta de vitalidade, da degradação e da degenerescência. Desse modo, de acordo com esse ideário, cabia à Educação o papel de: dar forma ao país amorfo, de transformar os habitantes em povo, de vitalizar o organismo nacional, de constituir a nação[...]. Educar era obra de moldagem de um povo, matéria informe e plasmável, conforme os anseios de Ordem e Progresso de um grupo que se auto-investia como elite com autoridade para promovê-la.(CARVALHO,1989, p.9) Ainda, de acordo com a autora, o consenso existente quanto ao poder atribuído à Educação, em 20, juntava católicos, positivistas e liberais num projeto cujo denominador comum era a ênfase no papel moralizador da Educação. Em meados dessa década, as campanhas de alfabetização, desencadeadas por organizações interessadas em reordenar o sistema político através do voto secreto, foram substituídas por movimentos em favor do que se entendia por educação integral (CARVALHO, 1987, p.73) Além disso, a política educacional desse período foi profundamente marcada pelo abandono da ideologia católica, em função da progressiva afirmação da ideologia típica da burguesia leiga. Esta laicização, trazida pela ideologia liberal, como era de se esperar, encontrou resistência por parte da Igreja Católica que não podia aceitá-la, sob pena de abrir mão de seus princípios. Como conseqüência desses posicionamentos, ocorreu o confronto entre os defensores dessas duas ideologias. 2. A Pesquisa: Este estudo, que pode ser caracterizado como “pesquisa documental”, teve como corpus documental alguns documentos educacionais produzidos no período, tais como, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, os Programas das Escolas Primárias do Distrito Federal, elaborado por Fernando de Azevedo, que serviram de base para as reformas educacionais empreendidas tanto no Distrito Federal, quanto em alguns Estados da Federação, as Instruções elaboradas pelo Ministério da Educação e Saúde Pública, para o ensino de Sciencias Physicas e Naturaes, em 1935, além dos seguintes periódicos da época: Escola Nova, Órgão da Diretoria Geral da Instrução Pública de São Paulo, Revista do Ensino – Órgão Oficial da Inspetoria Geral da Instrução, Educação - Órgão da Diretoria Geral do Ensino de São Paulo e Revista Nacional. Esses documentos podem ser encontrados no Instituto de Estudos Brasileiros-IEB USP, no Centro de Memória da Educação, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e no Acervo Paulo Bourroul, da biblioteca da Faculdade de Educação daquela Universidade. Além desses documentos, também compõe o corpus documental desta pesquisa livros didáticos publicados no período. Foram selecionados livros de Geografia, de “Leitura” e de Ciências Físicas e Naturais. Esses materiais foram localizados na Biblioteca do Livro Didático da Faculdade de Educação da USP, na seção de obras raras, do antigo Gabinete de Leitura Rio-Clarense, fundado em 1876, incorporado, hoje, ao acervo da Biblioteca Municipal e na biblioteca de uma escola particular confessional do município de Rio Claro, interior de São Paulo. 2. As concepções de natureza nos materiais analisados: Da leitura e análise dos materiais, foram identificadas sete concepções de Natureza, a saber: antropocêntrica, utilitarista, natureza como “mãe comum e/ou como tudo o que não foi feito pelo homem”, como “tudo o que existe, tudo o que Deus criou”, como “livro”, antropomórfica, e, finalmente, a concepção estética e/ou romântica de natureza. É importante destacar que essas concepções, embora com características diferentes, em alguns casos, se apresentam intimamente relacionadas, na verdade, uma sendo decorrente da outra. É o caso, por exemplo, das concepções antropocêntrica e utilitarista de Natureza. Assim, é exatamente porque o homem se concebe como superior, como senhor da Natureza, que esta é vista, unicamente, para servi-lo, para ser-lhe útil. Em que pesem estas observações, procuro, a seguir, apresentar as diferentes concepções de Natureza identificadas, seja nos livros didáticos , seja nos documentos e periódicos educacionais. Cumpre destacar que, no “Manifesto”, um dos mais importantes documentos do período, não existem referências explícitas à Natureza. Entretanto, no item “O Processo Educativo”, ao defender que a escola deve levar o educando a “observar, experimentar e criar”, o documento cita o “ambiente” ou “vida ativa” circundante, para que os alunos possam, de acordo com suas aptidões, possuí-la, apreciá-la. Veja-se: 4 Mas, se a escola deve ser uma comunidade em miniatura, e se em toda comunidade as atividades manuais, motoras ou construtoras constituem as funções predominantes da vida, é natural que ela inicie os alunos nessas atividades, pondo-os em contato com o ambiente e com a vida ativa que os rodeia, para que eles possam, desta forma, possuíla, apreciá-la e senti-la de acordo com as aptidões e possibilidades.5 Também, no “Programa para as Escolas Primárias do Distrito Federal”, escrito por Fernando Azevedo, em 1929, embora não se encontre uma referência direta, a idéia de Natureza se faz presente através da idéia de “meio ambiente”: Na introdução do Programa para as disciplinas de “Geographia e Sciencias Physicas e Naturaes”, pode-se ler: o meio ambiente fornece o substrato objetivo do qual resultam os vários modos de expressão; logo os assuntos a eles referentes constituem os centros naturais de atração 4 - Parte das análises sobre os livros didáticos foi apresentada no III Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, realizado em Coimbra, Portugal, no período de 23 a 26 de fevereiro de 2000. O resumo do trabalho encontra-se publicado no “Livro de Resumos” do Congresso, p. 228. 5 - Manifesto, op. cit. p. 18. Grifo meu. e interesse, pelos quais se há de iniciar o estudo segundos os princípios da Escola Nova..6 Cumpre destacar, ainda, que, diferentemente de algumas posições reducionistas que ainda persistem hoje, de acordo com esse documento, o meio ambiente é entendido de uma forma ampla, dele faz parte não apenas o meio físico, mas também o homem e a cultura: O meio ambiente convém relembrar, não é só o meio físico e cósmico, constituído pelos fenômenos atmosféricos, pelas influências siderais climáticas e pela flora, fauna, rochas e minerais, mas também pelas aglomerações humanas sob a forma de sociedade restritas ou de nações [...]7 a) A concepção antropocêntrica de Natureza: A superioridade do homem sobre os animais ou sobre a Natureza é tema recorrente em diversos livros analisados. As razões responsáveis por essa superioridade são várias: ou é decorrente da sua racionalidade, da sua inteligência , da imortalidade da sua alma, do fato de ter sido criado “à imagem e semelhança de Deus” ou, ainda, do fato de se representar como sendo o “eleito” do Criador. Por fim, apareceu o homem, rei de todos os animais . Às vezes, essas razões aparecem juntas, outras vezes, enfatiza-se um ou outro aspecto. De qualquer forma, além de superior, o homem não se representa como um ser integrante da Natureza. Pelo contrário, fica evidente, a partir das obras analisadas, a dicotomia homem/natureza. Em um livro de leitura, de 1929, no item que recebe o sugestivo título de “A superioridade do homem”, pode-se ler: 8 9 O homem é a obra prima da natureza pela estrutura de seu corpo, por sua inteligência e ainda mais, por sua alma imortal. Que bombas hidráulicas, por mais engenhosas que sejam, podem comparar-se ao coração humano [...], com que admirável precisão e regularidade não funciona o nosso aparelho respiratório?[...] É verdade que os animais superiores têm o corpo organizado mais ou menos como o nosso; respiram como nós, seu sangue circula da mesma maneira que o nosso; eles têm mesmo certos sentidos mais desenvolvidos que o homem [..]. Mas é imensa a distância entre o mais aperfeiçoado dos animais e a mais miserável das criaturas humanas, porque o animal nada inventa. Há milhares de anos, as andorinhas construíam seus ninhos da mesma maneira que as andorinhas de hoje; o homem pelo contrário, aproveita, aperfeiçoa.10 A superioridade do homem aparece, também, quando ele é representado como o grande dominador, o herói da cena no teatro da natureza ou, ainda, como o arquiteto do seu mundo. Veja-se: 6 -Fernando Azevedo, op. cit., p. 211. - Ibid. 8 - “A superioridade do homem sobre os animais é devida à sua inteligência” In.: Thesouro da Juventude, Vol. III, p. 697. 9 - Thesouro da Juventude, Vol. I, p.29. 10 - Quarto Livro de leitura, Collecção P.S.S., p. 63 7 Tendo entrado no teatro da natureza como elemento pouco ativo, fez-se o homem, pelo seu aperfeiçoamento, o herói dessa cena. Agente natural,[...] é hoje o homem, o grande dominador do globo. Penetrando a essência da natureza, apossou-se de muitos dos seus segredos: adivinhou-a, desvendou-lhe mistérios, arrebatou-lhe sigilos, decifrou-lhe enigmas. E assim dominou-a. Surpreendeu-lhe misteriosos recursos [...]. Compreendida a natureza, decisivo se tornou sobre ela o domínio do homem: fez-se ele o grande modelador da terra, neutralizando-lhe as ações hostis e as resistências, imprimindo-lhe as diretrizes do progresso e da evolução. É o arquiteto do seu próprio mundo.11 Em outra obra analisada, além da superioridade do homem, “obra prima da criação terrestre”, pode-se perceber uma clara dicotomia entre os vários “reinos” da Natureza, e mais do que isso, uma clara separação entre o homem e a Natureza. Veja-se: Todos os corpos da natureza estão repartidos em três grupos, chamados reinos, a saber: o reino animal, compreende os animais; o reino vegetal, compreende os vegetais; o reino mineral, compreende os minerais. O homem forma um reino à parte: o reino hominal. É verdade que, por sua organização material, o homem se aproxima dos animais. É, porém, infinitamente superior a eles pela alma inteligente e livre, criada à imagem de Deus, dotada de pensamento e capaz de manifestá-lo exteriormente pela palavra. Além disto, pela própria constituição física o homem é ainda muito superior aos animais. Alguns destes podem ser mais fortes que o homem, ter certos sentidos mais desenvolvidos. Nenhum apresenta, no organismo, tantas qualidades físicas e tantas perfeições reunidas. O homem é realmente a obra prima da criação terrestre.12 De modo geral, nos vários livros analisados, procura-se apresentar as explicações sobre os fenômenos da Natureza, assim como a relação do homem com a mesma, do ponto de vista laico, “científico”. Nesse sentido, quase não se percebe a defesa de idéias religiosas. Isso se explica, muito provavelmente, devido à perda da hegemonia da ideologia católica na Educação Brasileira nesse período, como vimos. Entretanto, em dois livros, dentre os analisados, ao lado da afirmação do homem como superior em relação aos outros animais, como “rei da terra”, é lembrado a ele a necessidade de cuidar também do espírito e de se lembrar do Criador. Veja-se: Depois de criar a terra, Deus estabeleceu nela o homem, com a liberdade de a transformar a seu grado, e de fazer servir os produtos do solo às suas necessidades e sobretudo ao fim supremo da sua vida. E logo começa a se manifestar a atividade humana: cavam-se as montanhas, abrem-se as minas profundas para extrair os metais; domam-se os animais bravios; derrubam-se as vastas florestas, e a terra, devidamente arroteada, oferece abundantes messes. E hoje, em todos os pontos do globo, o homem trabalha em dissecar pântanos, abrir canais [..]. O fogo, a água, os ventos, tudo obedece ao homem: ele é o rei da terra, o mestre dos minerais, dos vegetais e dos animais. Mas homem! Não te esqueças de que a matéria não pode ser o teu fim ultimo. Ela só deve servir para te conduzir ao Criador.13 11 - Araujo Lima, Amazônia, a terra e o homem, p. 39 - Primeiras Noções de Sciencias Physicas e Naturaes para uso das Escolas, Collecção F.T.D., p. 3 e 4. 13 -Geographia – Atlas- Curso Secundário. Livro I, p. 11. 12 A superioridade do homem, frente aos outros elementos da Natureza e à predileção do Criador pelo homem, aparece, também, no livro Lições de Cousas - noções da vida prática, uma publicação existente na década de 20. No capítulo X, na lição sobre as Plantas, podemos ler: [...] O eminente naturalista Linneo dizia, por isso, com todo o acerto: “os vegetais ocupam a penúltima classe desses seres, entre os quais o homem é rei. Os minerais crescem; as plantas crescem e vivem; os animais crescem, vivem e sentem; o homem cresce, vive, sente e pensa”. Esta última faculdade Deus Concedeu-a unicamente ao homem, dando com isso a prova mais evidente da sua predileção pela nossa espécie; o que quer dizer que a nós legou Ele o poder de dirigirmo-nos a nós mesmos e de analisar os demais seres em nosso proveito14 É importante destacar que a superioridade do homem não se refere somente à Natureza e aos animais. Essa superioridade se estende também para outros homens. Alguns homens são superiores a outros. Bastante ilustrativo a esse respeito são as explicações sobre as raças veiculadas em alguns livros de Geografia. Cito, a título de ilustração, três deles. Todos os homens são descendentes de Adão e Eva, nossos primeiros pais. Apesar, ,porém dessa unidade de origem, notam-se entre os povos das diversas partes do mundo diferenças notáveis de cor, de estatura, de fisionomia, de inteligência etc, provenientes do clima, da alimentação ou de certas circunstâncias locais. Estas diferenças determinam a repartição do gênero humano em três grandes raças: branca, amarela e preta. A raça branca se caracteriza pela tez branca, a face oval, o cabelo ondeado, o corpo bem proporcionado. Povoa a Europa, a Ásia ocidental, o norte da África e quase toda a América; salienta-se pela sua inteligência, a sua atividade e o prestígio que exerce sobre as outras raças.15 Em um desses livros, além de se defender a superioridade da raça branca sobre as demais raças, defende-se também a superioridade da religião católica, a verdadeira religião, sobre as demais. Veja-se: A raça branca tem pele branca, rosto oval, cabelos finos e macios, inteligência muito desenvolvida. Sua civilização é a mais adiantada. A raça amarela tem pele amarela, rosto achatado, cabelos tesos e pouca barba. Sua civilização, estacionária até pouco, vai se desenvolvendo. A raça preta tem pele preta, beiços grossos, cabelos encarapinhados. Sua civilização é a mais atrasada. [...],. Toda raça humana progride de modo visível e rápido, quando adota e pratica a verdadeira Religião; por isso, na África, há pretos católicos mais virtuosos que numerosos brancos que não se importam com Deus.16 Veja-se, ainda, o que se ensinava sobre raças, às crianças, nas aulas de Geografia, em 1928: A totalidade dos homens forma uma única espécie, dividida em 5 raças principais, a saber: a Raça Branca ou Caucasea que tem de ordinário a pele branca, os cabelos finos e macios, o nariz bem saliente, o semblante oval e o ângulo facial bem aberto [..], a 14 Ferreira, F. Lições de Cousas – noções da vida prática, p. 347 Geographia – Atlas – Curso Secundário. Livro I, p. 11 16 -Claudio Maria Thomas, Geografia – curso elementar, p. 20. Grifo do autor. 15 Raça Amarela ou Mongólica, cujos distintivos são, pele amarelada ou azeitonada, cabelos negros e tesos, cara larga e achatada, pouca barba e os olhos pouco abertos e oblíquos [...]. A Raça Preta ou Negra, cujos caracteres principais são: a cor negra, os cabelos encarapinhados, a fonte convexa, os beiços grossos, o nariz achatado e o ângulo facial pouco aberto; a Raça Malaia, de cor azeitonada ou parda e cabelos pretos e luzidios e a Raça Americana, que tem cor de cobre, a testa inclinada para traz, cabelos pretos e caídos, nariz saliente e quase nenhuma barba. [...]. A Raça Negra, muito menos civilizada e inteligente que as duas primeiras, divide-se em dois grandes grupos: a raça negra africana, que ocupa a maior parte da África e foi, pelo tráfico, introduzida na América; e a raça negra oceânica que habita a Melanesia. 17 b) A concepção utilitarista de Natureza: Como já foi apontado, decorrente da idéia de que o homem é o centro do universo e o “rei das criaturas”, ou “obra prima da Natureza”, existe a idéia de que, na Natureza, tudo tem uma finalidade, uma utilidade e que, em última instância, cabe ao homem descobrir o fim a que se destina aquele elemento da Natureza para melhor tirar proveito dele: Todos os seres foram criados com um propósito definido e é a nós que compete descobrir para cada um, em que consiste esse propósito [...] . Enfim, tudo o que existe na Natureza foi criado para servir ao homem. Este, por sua vez, deve sujeitá-la e mais do que isso escravizá-la. Veja-se: 18 Bem cedo se apercebeu o homem do manancial de forças que a natureza exuberante lhe oferecia. E ardilosamente, inteligentemente, lançou-se à conquista dessas forças. Os vento, o calor, as quedas d’água foram aproveitados, transformados em fontes inesgotáveis de energia. Da maça e da flecha à espingarda, do carro de bois ao automóvel, à locomotiva, aos navios, aeroplanos e dirigíveis, foi um salto! Desde logo, sujeitou, escravizou o homem a natureza hostil a seus pés. Venceu o raio com o pára-raios. Criou a medicina para combater moléstias. Venceu as intempéries! E para completar, conquistou a eletricidade[...] O petróleo, o carvão e o ferro foram arrancados às entranhas da Terra!19 Ou ainda: Com o desenvolvimento das ciências, principalmente da Física, Química e História Natural, foi o homem se servindo cada vez mais e mais da natureza. Com a invenção das máquinas, fácil se tornou a transformação rápida e barata dos elementos brutos da natureza em coisas úteis e agradáveis20. Nessa mesma obra, em outro item, além dessa sujeição da Natureza operada pelo homem, sob o império da sua vontade, pode-se perceber também a defesa da idéia de que a 17 -Joaquim Maria de Lacerda, Pequena Geografia da Infância, p. 13 -Thesouro da Juventude, Vol. XIV, p. 4281. 19 -Luiz Cavalheiro e Nicolau Angelino. Ciências Físicas e Naturais para a Segunda Série Ginasial, p. 268. Grifo meu. 20 -Ibid. , p. 269. Grifo meu. 18 Ciência evolui e conduz, necessariamente, ao progresso. Este, por sua vez, conduz à segurança e ao bem-estar: Muito lenta, a princípio, foi a marcha da civilização. Muito tempo foi necessário, para que o homem saísse do seu grosseiro primitivismo; muitos milhares de anos se passaram até que o homem fizesse as primeiras conquistas. Feitas as primeiras, fácil foi depois de umas invenções deduzir as outras. E elas vieram se sucedendo aos poucos.[...]. Lenta e seguramente, o homem avançava na conquista de um mundo a seu gosto. E venceu, modificando a face da terra, plasmando-a de acordo com as suas necessidades, sob o império da sua vontade iluminada e poderosa. A descoberta da bússola, da pólvora e da imprensa já datam de longos séculos. Com esses elementos o homem já se fizera mais ou menos senhor do mundo. [..]. A civilização está porém ainda no berço. Agora é que o homem começa a sujeitar com eficiência e segurança a natureza.21 É importante destacar que, não só a Natureza foi criada para servir, para ser útil ao homem, mas também os animais foram criados para a comodidade do homem e trabalham em seu proveito. Veja-se o que a Encyclopédia Thesouro da Juventude divulgava a esse respeito: A maior parte dos animais são nos de utilidade de uma ou de outra forma [...] mas alguns especialmente, prestam-nos tão relevantes serviços que dificilmente viveríamos sem eles. O leite e a carne com que nos alimentamos, e a maior parte do fato que usamos, são-nos dados pelos animais; de maneira que é realmente um fato que eles nos alimentam e vestem. Neste capítulo trataremos das ovelhas, das vacas, dos porcos [...] . Entre estes animais são uns mais úteis do que os outros; mas todos vivem e trabalham em proveito do homem, que não podem prescindir deles sem sofrer graves prejuízos. Nunca devemos nos esquecer que esses animais foram criados para a nossa comodidade e proveito, e que lhes está reservada no mundo uma importante missão.22 Ou ainda: [...] Tudo na natureza tem um fim utilitário. Não há nada mais vil na natureza do que os jacarés e os crocodilos. Contudo não se deve procurar extinguir, porque eles destroem animais nocivos às colheitas e devoram cadáveres arrastados pelas correntes, e que poderiam ir envenenar as águas.[...].Eles trabalham, pois foram criados para auxiliar e conservar a sanidade do mundo.23 Em outra obra de 1922, além de evidenciar que os animais existem com o fim precípuo de atender aos desígnios humanos, pode-se perceber uma certa justificativa para o fato de o homem “exercer uma influência importante sobre a vida animal”. Veja-se: O homem exerce uma influência importante sobre a vida animal. Por sua influência já têm desaparecido muitas espécies animais e têm sido propagadas outras. Em geral, a sua preocupação é fazer desaparecer as espécies animais que lhe são nocivas, quer por 21 -Ibid., p. 271. Grifo meu. -Thesouro da Juventude – Vol. II, p. 371. 23 - Ibid., Vol. I, p. 30. 22 ameaçarem a sua vida, quer por prejudicarem o seu trabalho, e rodear-se das espécies que lhe são úteis, quer por lhe servirem para a nutrição, quer por lhe prestarem auxílio no trabalho.24 No texto “O império do homem sobre a natureza”, retirado de um livro de leitura, de 1929, fica evidente, além da concepção antropocêntrica de Natureza, homem como rei, a idéia de que tudo que existe no mundo, só existe para servir ao homem. Como já foi apontado, este é um claro exemplo no qual as duas concepções de natureza aparecem juntas. Veja-se: Pela culpa original, o homem perdeu parcialmente o domínio sobre a criação, que Deus lhe tinha concedido; entretanto rei caído e destronado embora, sempre conserva gloriosos vestígios da sua majestade, do seu poder antigo.[...] Basta ele falar, e criados sem conta acodem a servi-lo. A ovelha dá-lhe sua lã e o bicho da seda fia para ele seu precioso casulo; a abelha proporciona-lhe o mel saboroso; o cão está de guarda à porta da casa; o boi puxa seu carro, o cavalo e o burro transportam fardos. Ao mando seu, descem os carvalhos das encostas e dos montes; as pedras, o ferro, o ouro e a prata surgem das entranhas da terra, para formarem e embelezarem sua moradia; o cánhamo e o linho despojam-se da sua casca para vesti-lo; o mármore parece aninhar-se debaixo do seu cinzel e os rios deixam o próprio leito para regar-lhe os pastos, tocar-lhe os engenhos. O homem ainda é rei.25 A concepção utilitarista de Natureza também pode ser identificada nos periódicos educacionais analisados. Em um artigo, publicado na Revista Nacional, no qual seu autor, ao defender como as “Sciencias Naturaes” devem ser ensinadas na escola primária, pode-se ler: [...] uma das necessidades primaciais da escola primária para a educação popular é o mestre ensinar às crianças, muito rudimentarmente, ao lado do a-bc-, o nome das coisas da natureza, que mais interessam à vida humana para melhorá-la [...] e ensinar-lhes também ao mesmo tempo- o para que serve de cada uma delas à sua existência a fim de poderem tirar qualquer proveito desse conhecimento, desde a infância, e em qualquer profissão mais tarde.26 Em outro periódico educacional, publicado em 1930, o autor, ao discutir a “função” do estudo das Ciências Naturais na escola primária, afirma: Elas (as ciências naturais) oferecem à criança um exemplo de energia fecundante, revelando o esforço dos seres na sua adaptação ao meio, a luta do homem para dominar e utilizar a natureza [...]27. 24 -Ezequiel de Moraes Leme, Elementos de Cosmographia e Geografia Geral, p. 193. -Quarto Livro de Leitura, Collecção P.S.S. p.76. 26 -Dias Martins, Como a escola primária deve ensinar rudimentos de Sciencias Naturaes. In: Revista Nacional, ano II, n° 7, julho de 1923, p.453. Grifo do autor. 27 -M. D’Assumpção Neves, A Funcção do Estudo das Sciencias Naturaes na Escola Primária. In: Revista do Ensino- Órgão Official da Inspectoria Geral da Instrucção. Ano V, n° 50-52, nov. e dez. 1930, p. 87. 25 Para finalizar esse item, é importante destacar que essa concepção utilitarista de Natureza, ou seja, a idéia de que tudo que existe na Natureza tem uma finalidade, uma utilidade e que esta é, em última instância, servir ao homem, aparece, ainda mais explicitamente, quando, ao se defender a importância do estudo da Natureza, afirma-se que o seu estudo contribui para a formação do caráter. Veja-se: o estudo das ciências naturais não tem somente um valor instrutivo, o de transmitir conhecimento, mas também o valor educativo, tanto sob o aspecto da formação do espírito, como o da formação do caráter28. Ou ainda: O convívio freqüente com a natureza é já uma escola de altruísmo posta muitas vezes em evidência, e onde o menos que se aprende é o trato carinhoso dos animais e das plantas.29 Note-se que, de acordo com essa concepção, entre as inúmeras utilidades da Natureza está também a formação do espírito e do caráter do homem. c) A natureza como mãe comum e/ou como tudo o que não foi feito pelo homem: Como exemplo dessa concepção, podemos citar a obra Thesouro da Juventude: “A Natureza é a nossa mãe comum. Por Natureza, entendemos o conjunto de todas as coisas visíveis, de tudo o que não foi feito pelo homem [...]” 30 d) A natureza como tudo o que existe, tudo o que Deus criou: Em um livro de leitura para o terceiro ano, como resposta à pergunta o que é Natureza, afirma-se que é tudo o que existe e que foi criado por Deus. Veja-se: Logo que o tio Carlos saiu, o José repetiu as suas palavras, engrossando a voz: acostumem-se a observar a natureza [...] Mas, o que é natureza, Francisco? Perguntou ele depois. Natureza é tudo o que existe, tudo o que Deus criou: as plantas, os animais, as montanhas, os rios, os lagos, as pedras, o céu, a terra e o mar respondi eu31. e) A natureza como “livro”: A concepção de natureza como livro, para cuja leitura exige-se inteligência e sensibilidade, aparece, em um pequeno poema, sem referência ao autor, publicado em um livro de leitura de 1922. Veja-se: 28 - Ibid., p. 88. - P. Nery Gonçalves, Do valor educativo da História Natural. In: Educação, vol. VIII, n°2, ano II, agosto de 1929, p. 324. 30 -Thesouro da Juventude, Vol. I, p. 23. 31 -Erasmo Braga, Leitura II – para o 3° ano escolar, p. 37. 29 O livro da Natureza Eu conheço um livro imenso De saber e de beleza; Este livro grande e belo É chamado a natureza. Ele nos mostra e descreve As plantas e os animais; As leis da vida e saúde, Nele expostas encontrais. Para bem compreendê-lo (Nem todos o poderão); É preciso inteligência E sensível coração.32. A concepção de Natureza como “livro” sofre uma pequena alteração em outra obra. Nesta, o “grande livro” da Natureza transforma-se em uma “grande cartilha”. Veja-se: [...] assim como a criança aprende a ler vendo formas de letras as mais diversas nas respectivas cartilhas de ensino, assim também ela deve aprender na escola primária rudimentos de ciências naturais vendo formas de plantas e animais, de folhas e sementes, de nuvens e névoas, e de tanta coisa mais que a gente vê a cada passo, em todos os lugares e numa cartilha bem maior, que é a natureza. E de acordo com esse critério, para praticá-lo [...] na escola primária de qualquer aldeia do país, diante da qual está sempre aberta a grande cartilha que é a natureza, basta o professor, [...] mostrar à criança a planta e o animal, [...] dizendo-lhes o para que serve de cada um deles na natureza [...]33 No período compreendido por este estudo, como já foi apontado, houve, em relação à Educação, um predomínio do movimento que se tornou conhecido, posteriormente, como “Escola Nova” ou “Escolanovismo”. Marcando sua distância com relação ao caráter livresco da Escola Tradicional, a Escola Nova reforçou a importância do emprego da observação e da indução como recursos para a aquisição de conhecimento. O ponto de partida, na Escola Nova, é sempre a observação. É um princípio essencial. O professor começará por ensinar o aluno a “observar”, pondo-o em contato constante com as coisas e fatos, despertando-lhe o sentido e desenvolvendo-lhe a capacidade de observação.34 No excerto apresentado acima, além da concepção de Natureza como uma “grande cartilha”,como já apontado, pode-se identificar, também, a concepção utilitarista de Natureza e a grande ênfase dada pela “Escola Nova” para a “observação”. 32 -Segundo Livro de Leitura- Editado pelos professores da Escola Gratuita São José, nona edição, p.92 Dias Martins. Como a escola primária deve ensinar rudimentos de “Sciencias Naturaes”. IN: Revista Nacional, ano II, n. 7, julho de 1923, p. 454. Grifo do autor. 34 - Fernando de Azevedo. Novos fins, novos meios -Programa para as Escolas Primárias. In: Escola NovaÓrgão da Directoria Geral da Instrucção Pública de São Paulo- vol. 1, outubro-dezembro de 1930, p. 203. 33 Para desenvolver nos alunos o “espírito de observação”, as Instrucções para as disciplinas de observação (Geographia e Sciencias Physicas e Naturaes), do Programa para as Escolas Primárias do Distrito Federal, considerava a participação às excursões indispensável: As excursões escolares ( à fábricas, à oficinas, aos jardins botânicos, à lavoura, etc), os museus e o cinema educativo, constituem outros tantos meios de abrir à atividade inquieta do aluno novos campos de observação. Aprender a ver, a observar, é a arte de mais difícil aprendizagem e condição essencial a atividades inteligentemente orientadas35. f) A concepção antropomórfica de Natureza: Outra concepção de Natureza pode ser percebida a partir da análise do material, a concepção antropomórfica De acordo com essa concepção, são aplicados à Natureza, conceitos ou comportamentos próprios ao homem. Assim, são atribuídos a alguns seres da Natureza, plantas ou animais, atitudes, valores e comportamentos tipicamente humanos, como por exemplo, a tristeza, a bondade, a maldade o ciúme, a traição, a beleza, a feiúra, a infidelidade e outros. Em um texto intitulado “O Pirilampo e a sua luz Maravilhosa”, a fêmea é apresentada como fútil, leviana, o que entristece o macho pretendente. Veja-se: [...] O macho tem asas e voa nas noites de verão, emitindo, a curtos intervalos, os seus raios luminosos. A fêmea não tem asas mas, a sua fosforescência é quase contínua; com ela atrai o macho; quando este chega, ela continua a emitir luz, atraindo assim outros machos, até ter um considerável número deles zumbindo em torno dela, o que entristece, na verdade o seu primeiro apaixonado.36 Em outro texto, apresenta-se o sapo como extremamente feio, mas bom e útil, ao passo que o tigre, embora bonito, é absolutamente inútil ao homem e aos outros animais. Além disso, o texto apresenta, ainda, outros animais, estabelecendo uma relação entre feiura e maldade, beleza e bondade, utilidade e inutilidade Veja-se: [...] o sapo é uma excelente prova de que a feiura não é indício de maldade [...]. Apesar da sua hediondez, o sapo merece a nossa simpatia, o que não pode acontecer com o tigre, o leão e alguns outros animais. Quando foste ao circo, achaste o tigre tão bonito e a sua pele interessante. No entanto, esse animal vive isoladamente, não se deixa domesticar, não presta um só serviço aos outros animais e nem ao homem. Pelo contrário, este é a sua vítima predileta. Quase sempre, posta-se nas margens dos rios e, quando alguma pessoa se aproxima em busca de água, lança-se sobre ela e a estraçalha com as suas poderosas e afiadas garras, para depois devorá-la. 35 36 - Fernando de Azevedo.Programas para as Escolas Primárias In: Escola Nova, op. cit. p. 211. -Thesouro da Juventude, Vol. XI, p. 3422. O sapo, coitado, é um animal inofensivo e utilíssimo ao homem. [...] Eis aí um animal feio e útil. Há outros que são feios e maus, como o jacaré e a hiena, e outros ainda que são bonitos e bons, como, por exemplo, os cavalos e os cães. O mesmo pode dar-se com os homens. Eis porque se diz que quem vê caras, não vê corações.37 Nessa mesma obra, existe um outro texto, intitulado “O elefante amável” em que se apresenta esse animal como inteligente, portador de “gênio brando”, e que, apesar de muito forte, só usa a sua força para o bem: Os elefantes são animais extraordinariamente corpulentos, inteligentes, de gênio brando e, por isso, facilmente domesticáveis. [...] Prestam inestimáveis serviços como bestas de carga, pela imensa força de que são dotados. Servem também de montaria nas célebres caçadas aos tigres. Na Índia, sobretudo, em que eles são mais abundantes e utilizados, há uma verdadeira veneração por esses nossos poderosos auxiliares. E eles a merecem, porque sendo tão fortes, só empregam a sua força para bons fins.38 Já o gato, apesar de “bonito, esperto e jeitoso”, é um “criado infiel”, além de ser “dissimulado e perverso”: O gato é um animal útil, menos interessante, porém, na sua índole que o cão. É um criado infiel, que não conservamos em casa, senão para opô-lo a outro inimigo ainda mais incômodo, os ratos. É bonito, esperto, jeitoso, acariciador, sobretudo quando pequenino, mas suas brincadeiras, posto que agradáveis e engraçadas, nem sempre são inocentes. Ele tem um gênio dissimulado, um natural perverso, que a idade aumenta ainda e que a educação apenas disfarça. Por pouco que o irritem, faz sentir suas unhas, e quando entra em furor, sua cara tão meiga torna-se horrível [...].39 Há, ainda, um outro exemplo de antropomorfismo. Em um livro de leitura, publicado em 1929, um texto sobre o “Reino Vegetal”, além de afirmar que a Natureza é a grande mãe de tudo, atribui a ela e a alguns de seus elementos, uma atividade tipicamente humana: o trabalho. Nesse sentido, o vento, a chuva, a luz, o calor são “operários” da Natureza. Esta, por sua vez, é o grande “jardineiro”. Veja-se: [...] Quem é o jardineiro de tão rico prédio? Em raras partes, o homem, na quase totalidade, a natureza, a natureza com seus operários: ventos, chuvas, calor, luz, eletricidade. São estes jornaleiros sempre cuidadosos; é ela a grande mãe de tudo, a filha de Deus sempre vigilante [...]40 g) A concepção estética e/ou romântica de Natureza: 37 -Francisco Furtado Mendes Vianna. Segundo Livro de Leituras Infantis, p. 28 -Ibid., p. 45. 39 -Segundo Livro de Leitura- Editado pelos professores da Escola Gratuita São José, nona edição, p. 97. 40 -A.F. Castilho, O Vernáculo ou Leituras Portuguesas- Instrutivas e Morais, p. 362 38 Há, ainda, uma última concepção de Natureza que pode ser observada no material analisado. Trata-se de uma concepção estética. De acordo com essa concepção, a Natureza é sempre bela, exuberante, apresentada de forma romântica, idealizada. Defende-se que o estudo da Natureza e, principalmente, das flores torna o homem melhor e mais feliz. Notese que, mesmo aqui, o que está em jogo é o bem-estar e a felicidade do homem: [...] Aonde quer que vamos, pisamos flores; por mais longe que espraie, a vista divisa bosques, prados, campos repletos de lindas e benéficas plantas.(...) Aliás, o simples estudo das flores eleva a alma, desperta a idéia e o amor do bem e do belo e torna o homem melhor e mais feliz.41 Ou ainda: [...] essas risonhas e graciosas produções da natureza, que adornam a superfície de nosso planeta com suntuosíssimo tapete de verdura e de flores, enobrece as almas, suavisa as letras, embeleza as artes [...]. Enobrece as almas e suavisa as letras pelos encantos que despertam na imaginação as formas agradáveis das plantas, a sua elegância, graça e delicadeza, o brilho das cores e a suavidade dos perfumes. As mais belas imagens, poéticas símiles, suaves atributos são tirados das meigas flores, verdejantes campinas, majestosos bosques.42 É importante destacar que, dentro dessa visão romântica de Natureza, a árvore ocupava um lugar de destaque. Na maior parte dos livros analisados, seja em prosa, ou seja em verso a árvore estava presente. A defesa da árvore, sua utilidade para o homem e a necessidade da sua preservação tinham lugar garantido na quase totalidade dos livros analisados. Cito, a título de ilustração, dois exemplos dessa apologia da árvore: Ela [a árvore] é a purificadora do ar que respiramos, ela é que nos garante a fonte que jorra para a nossa sede e para a riga dos campos, ela é a fiandeira de sóis; - caem-lhe na copa os raios caniculares e ela, desfiando a flama, dá apenas o calor a quem se achega à sua sombra, ela é a medicina, ela é a beleza cercando a morada em que vivemos, ela é a nossa confidente discreta porque é sob seus ramos que abrimos francamente o coração, deixando livres as saudades e as reminiscências – assim é a árvore viva. Morta ela é tudo – o princípio e o fim; berço e esquife, e entre esses dois polos, tudo mais é floresta: a casa e o templo, o leito nupcial e o altar, o carro que trilha os campos, o navio que sulca os mares, o cabo da enxada e a haste da lança, tudo é madeira, é árvore, tudo é floresta.43 Ou, ainda, em um poema de Belmiro Braga, publicado em um livro de poesia para o curso primário, em 1939: As Árvores Cerquemo-las de amparo e de carinhos; 41 -História Natural – Curso Superior, tomo II, Collecção F.T.D. s/d, p. 241. - Ibid. p. 3. 43 -Coelho Neto. In: Milton da Cruz, Pequenos discursos cívicos, p. 83 42 Porque elas vivem para o nosso bem. Que de flores, de frutos e de ninhos Os nossos olhos em seus ramos vêem! Dão sombra e dão saúde; os passarinhos um doce abrigo em suas frondes tem. Se algumas delas há cheias de espinhos, todas tem alma, como nós também ... Do pobre, os galhos que lhes vão secando, São a luz e o calor benditos, quando No lar, em brasas, crepitando vão. Mortas, ainda trazem-nos proveito: o altar, o trono, o teto, a mesa, o leito, o flóreo berço e o fúnebre caixão ...44 Note-se que, tanto em um caso como em outro, a árvore é representada como ligada, de forma indissociada à vida do homem, do nascimento à morte. A presença constante da árvore, nos livros didáticos do período, encontra uma explicação em (DEAN, 1996), quando este afirma que na década de 20, surgiu uma corrente na literatura infantil destinada a insuflar reverência pelas árvores; tal como as sementeiras municipais de árvores criadas em diversos locais na época, sua preocupação era com o replantio em praças e avenidas das vilas. O Dia da Árvore passou a ser comemorado em algumas escolas públicas, para a doutrinação das crianças. (p. 257). A questão da devastação da Natureza, mais precisamente das florestas, aparece em um livro de Geografia, de 1936. Nele, pode-se ler a seguinte afirmação: São Paulo descuidou-se, durante muitos anos, de sua riqueza florestal, deixando que a derrubada de suas matas atingisse a um limite extremo, sem tratar do reflorestamento. O território paulista não tem, hoje em dia, nem 10% de sua área coberta de mata, o que faz com que ele figure entre os Estados que mais baixa porcentagem apresenta no mundo [...]45 Dean, já citado, ao estudar a história e a devastação da Mata Atlântica, afirma que o Estado de São Paulo, enquanto um todo, no período de 1920 a 1934, “testemunhou a mais rápida destruição de florestas – mais de 3 mil km2 por ano – e que, na metade do século, a floresta que, originariamente, cobria 85% do território estadual, estava reduzida a 18%”(DEAN, 1996, p. 262). Ainda, segundo esse autor, em 1931, foi fundada por Alberto José de Sampaio, diretor do Museu Nacional, a “Sociedade dos Amigos das Árvores. A Sociedade, que fazia 44 Belmiro Braga In: Alaíde Lisboa de Oliveira, Zilah Frota e Marieta Leite. A poesia no curso primário, p. 472 45 - Sud Mennucci. Corografia do Estado de São Paulo – para uso das escolas primárias, p. 56. proselitismo entre a elite e atuava em favor de uma lei florestal e reforma da agricultura”, convocou a primeira Conferência Brasileira sobre Proteção da Natureza, em 1934. É importante destacar, ainda, que, além da devastação das florestas, outra prática que ocorria na época, de acordo com o material analisado era a crueldade ou o extermínio de aves e animais sem um fim justo. Veja-se: Os animais são criaturas que sentem, que experimentam prazer ou dor. Fazer sofrer qualquer ente é crueldade, e uma crueldade torpe, quando se faz mal a seres que são privados de defesa. Não devemos, pois, maltratar os animais, ainda que julguemos que alguns deles não sentem dor.[...]. É preciso destruir os animais daninhos e os que ocasionam desasseio. Não é maldade sacrificar os animais que servem à alimentação e os que servem às experiências destinadas ao progresso da Ciência e ao bem estar da humanidade. Mas, é ir além do nosso direito, destruir só pelo prazer da destruição, envenenar um rio, tirar o ninho dos pássaros, matá-los sem um fim justo e, principalmente, juntar à morte o sofrimento, como se faz em muitos divertimentos bárbaros.46 Em outro texto, além da questão do extermínio e da crueldade, aparece subliminarmente, a oposição entre a cidade e o campo e a defesa da idéia que o homem do campo é menos cruel que o da cidade. O preconceito com relação à cidade era bastante forte na época. A pureza do homem do campo em oposição à degeneração do homem da cidade era defendida por alguns autores da época: [...] E pensava, talvez erradamente, que os homens do sertão são menos cruéis que os da cidade. Não erraste, meu filho. A população operária das fábricas, aos domingos, furtiva ou ostensivamente deserta a cidade, sai pelos campos e matas a destruir, a exterminar toda a espécie de pássaros, canoros ou não. Mata pelo simples prazer de matar, por crueldade, para satisfazer apenas o instinto destruidor. Não temos uma lei severa a castigar os exterminadores das aves. Ela virá algum dia cortar esses abusos [...]47 Note-se que esse autor, de forma preconceituosa, aponta, como responsável pela destruição e pelo extermínio, a “população operária das fábricas”. Entretanto, para Dean, já citado, o agente da degradação se situava em outra camada social: A caça de animais selvagens e de pássaros tornou-se um esporte praticado pelas classes médias de São Paulo e Rio de janeiro, facilitado pelo crescente uso de automóveis e por estradas melhoradas. As leis locais contra caçada em estações de acasalamento não eram observadas. [...] Observadores se referiam a matanças de animais “apenas por diversão”( DEAN, 1996, P. 264). A caça “apenas por diversão”, aliada à derrubada das matas para a Agricultura, trouxe sérias conseqüências ao meio ambiente. Sud Mennucci, no livro Corographia do Estado de São Paulo – para uso das Escolas Primárias, de 1936, ao analisar o “Reino Animal” do Estado de São Paulo, afirma que: 46 47 - Collecção P.S.S. Quarto Livro de Leitura, p. 48. - Ramon Roca e Mariano de Oliveira. Novas leituras, terceira série, p.45. Os únicos animais selvagens, de grande porte, que ainda existem em São Paulo são a onça e a anta, aliás, em vias de completo desaparecimento, diante do contínuo aproveitamento das terras para as lavouras. . 48 Para finalizar, é importante destacar que, apesar do predomínio das concepções antropocêntrica e utilitarista de Natureza, no ideário educacional do período estudado, já se começava a levantar a necessidade de ações que resultassem na preservação ambiental e no respeito aos animais não-humanos. No entanto, essas ações ocorriam de maneira extremamente tímida. E, em que pese a defesa da “preservação”, o que se pretendia, em última instância, era o bem-estar do homem. Considerações Finais: As relações sociedade-natureza, no chamado mundo ocidental, têm sido marcadas, fundamentalmente, como uma relação de oposição, de confronto. De um lado, encontra-se o homem, ser frágil e inseguro; de outro, a Natureza, forte e poderosa. Entretanto, paulatinamente, esse ser frágil, graças à sua inteligência e engenhosidade, conseguiu subjugar, quase que totalmente, a Natureza a si e a seus desígnios. Esse domínio do homem sobre a Natureza têm sido visto como algo positivo, como motivo de orgulho para a humanidade. A bem da verdade, a dicotomia sociedade-natureza não é única, nem original. A visão dicotômica do real parece ser característica marcante do pensamento do Ocidente. Assim, a par da dicotomia homem-natureza, convivem as dicotomias corpo-alma, interiorexterior, matéria-espírito, homem-cultura, entre outras. A origem dessas dicotomias tem sido explicada como decorrentes da clássica separação entre sujeito-objeto que funda a teoria do conhecimento dos chamados povos ocidentais, acentuada a partir do século XVII, fruto do racionalismo e do empirismo, marcantes naquele período. Portanto, a necessidade de o homem submeter a Natureza aos seus desígnios, embora existente desde os primórdios da humanidade, ganha força a partir da Modernidade com o surgimento da Ciência e da Filosofia modernas. A partir dessa época, a Ciência deixa de ser “especulativa”, “teórica” e passa a ser prática. Conseqüentemente, a Natureza deixa de ter uma finalidade, como acreditavam os filósofos antigos, e passa a ser vista como uma máquina. Essa visão mecanicista abre espaço para o domínio sem limites do homem sobre a Natureza, uma vez que ela traz consigo um antropocentrismo exacerbado. O homem, de mero contemplador e admirador, passa a ser senhor e possuidor na Natureza. Já que a natureza existe, unicamente para servi-lo, ele pode dispor dela como bem lhe aprouver. A degradação ambiental encontra-se, assim, plenamente justificada. A partir dos objetivos propostos para a pesquisa e da leitura e análise desse material, como vimos, pôde-se identificar algumas concepções de natureza, a saber: antropocêntrica, utilitarista, antropomórfica, como “mãe comum e ou/como tudo o que não foi feito pelo homem”, como “tudo o que existe, tudo o que Deus criou”, como “livro”, e, finalmente, a concepção estética e/ou romântica de natureza. Essas concepções aparecem, explicitamente, nos livros didáticos, embora estejam presentes, também, nos documentos analisados. 48 -Sud Mennucci, Corographia do Estado de São Paulo- para uso das escolas primárias, p. 56 É importante destacar que, decorrente da concepção antropocêntrica, a superioridade do homem não ocorre apenas com relação aos animais ou a outros elementos da Natureza, mas ocorre, também, com relação a outros homens. Assim, pode-se ver, em alguns livros didáticos da época, a apresentação da raça branca como superior às outras raças. Para finalizar, cumpre destacar ainda, que, embora as concepções antropocêntrica e utilitarista de Natureza fossem muito evidentes no material pesquisado, ou seja, as idéias de que o homem é o “rei das criaturas” e que a natureza foi feita unicamente para seu bemestar, chama a atenção o fato de algumas obras já apontarem, embora de maneira tímida, para a necessidade da preservação e do respeito à Natureza e aos animais. No entanto, mesmo nesses casos, a “preservação ou conservação” dos elementos da Natureza são, ainda, apresentadas como necessárias, tendo em vista a sua utilidade para a sociedade. Referências: BORNHEIM, Gerd. Filosofia e Política Ecológica. Revista Filosófica Brasileira. 2 (1): 1624, 1985. CARVALHO, Luiz Marcelo de. A Temática Ambiental e a Escola de 1° Grau, tese de doutoramento, São Paulo, FEUSP, 1989. CARVALHO, Marta Maria Chagas de. A escola e a República, São Paulo, Brasiliense, 1989. (Col. Tudo é História). CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Molde Nacional e Forma Cívica: higiene, moral e trabalho no Projeto da Associação Brasileira de Educação (A.B.E.) – (1924-1931). Tese de Doutoramento, São Paulo, FEUSP, 1987. DEAN, Warren. A ferro e fogo- a história e a devastação da Mata Atlântica Brasileira. São Paulo, Companhia das Letras, 1996. PAIVA, Vanilda Pereira. Educação Popular e Educação de Adultos - contribuição à História da Educação Brasileira, São Paulo, Edições Loyola, 1973. THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitude em relação às plantas e aos animais, 1500-1800, trad. João Roberto Martins Filho, São Paulo, Companhia das Letras, 1988. Livros Didáticos Analisados ARAUJO LIMA, Amazônia –a terra e o homem. Com uma “Introdução à Antropogeografia”, 3° ed., Rio de Janeiro, Companhia Editora Nacional, 1940, Col. Brasiliana, vol. 104. BRAGA, Erasmo. Leitura II – para o 3° ano escolar, 105° edição, São Paulo, Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1939. CASTILHO, A F. O Vernáculo ou Leituras Portuguesas- Instrutivas e Morais. Nova Coleção de Livros Didáticos por F.T.D., Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves/Paulo de Azevedo & Cia, 1929. CAVALHEIRO, Luiz e ANGELINO, Nicolau. Ciências Físicas e Naturais para a Segunda Série Ginasial de acordo com o Programa Oficial, 2° edição revista, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1940 (Col. Dom Bosco), vol. 13 COLLECÇÃO P.S.S. Quarto Livro de leitura, 3° ed., São Paulo, Livraria Salesiana Editora, 1929. CRUZ, Milton da. Pequenos Discursos Cívicos, 2° ed., Porto Alegre, Selbach & Cia, Livreiros- Editores, 1917. EQUIPE DE PROFESSORES, Primeiras Noções de Sciencias Physicas e Naturaes para uso das Escolas, 7° edição, Rio de janeiro, Livraria Paulo de Azevedo & Cia, Collecção F.T.D., s/d. FERREIRA, Felix. Lições de Cousas- Noções da Vida Prática- Livro de leitura para as Escolas, e de conhecimentos úteis para o povo. Approvado e adoptado pela Instrução Pública da Capital Federal e dos Estados. Rio de Janeiro/São Paulo/Bello Horizonte, Francisco Alves & Cia e Paris/Lisboa, Aillaud, Alves & Cia, s/d GEOGRAPHYA- ATLAS- Curso Secundário, por F.T.D., Livro I, Programma do Primeiro Anno do Gymnasio Nacional. Rio de Janeiro, 1913. HISTÓRIA NATURAL – Curso Superior, tomo II, Botânica. Rio de Janeiro/São Paulo/Belo Horizonte, Livraria Francisco Alves, Collecção F.T.D., s/d. LACERDA, Joaquim Maria de. Pequena Geographia da Infância- composta para uso das Escolas Primárias- Curso Primeiro. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1928 LEME, Ezequiel de Moraes. Elementos de Cosmographia e Geographia Geral, 3° ed., São Paulo, Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1922 MENNUCCI, Sud. Corografia do Estado de São Paulo – para uso das Escolas Primárias. Rio de janeiro, Editores J.R. de Oliveira & Cia, 1936. OLIVEIRA, Alaide Lisboa, FROTA, Zilah e LEITE, Marieta. A Poesia no Curso Primário- metodologia e coletânea seriada. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1939. PRIMEIRAS NOÇÕES DE SCIENCIAS PHYSICAS E NATURAES PARA USO DAS ESCOLAS. Por uma reunião de Professores, 5° edição, RJ/SP/BH, Collecção F.T.D., s/d, s/a ROCA, Ramon e OLIVEIRA, Mariano de. Novas leituras- terceira série. São Paulo, Tipografia Siqueira, Nagel & Cia, 1915. Segundo Livro de leitura- Editado pelos professores da Escola gratuita São José, nona edição, Petropolis, Typografia das “Vozes de Petropolis”, 1922 THESOURO DA JUVENTUDE ( Encyclopedia) W.M. Jackson, Inc. Editores, Rio de Janeiro, Nova York, s/d.( vols.I, II, III, XI, XIV). THOMAS, Claudio Maria. Geografia – curso elementar – para escolas primárias e admissão ao Curso Ginasial. São Paulo, Editora Paulo de Azevedo Ltda., 1947 VIANNA, Francisco Furtado Mendes. Segundo Livro de Leituras Infantis. 18° edição, Rio de Janeiro, Francisco Alves & Cia e Paris, Aillaud, Alves & Cia, 1914. Documentos Educacionais Analisados: - Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Programa das Escolas Primárias do Distrito Federal. Instruções elaboradas pelo Ministério da Educação e Saúde Pública, para o ensino de Sciencias Physicas e Naturaes. Periódicos analisados: - Escola Nova, Órgão da Diretoria Geral da Instrução Pública de São Paulo, Vol I, outubro-dezembro de 1930. - Revista do Ensino- Órgão Oficial da Inspetoria Geral da Instrução, Ano V, números 50, 51 e 52, outubro, novembro e dezembro de 1930 e Ano VII, números 79 e 80, janeiro de 1933. - Educação- Órgão da Diretoria Geral do Ensino de São Paulo, Vol. III, junho de 1928, número 3; Vol. VIII, Ano II, número 2, agosto de 1929 e Vol. VI, números 1,2 3 jan., fev., e março de 1932 - Revista Nacional, Anno II, número 7, julho de 1923, SP, Companhia Melhoramentos de São Paulo.