REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE MATEMÁTICA ATRELADO AO USO DO MATERIAL CONCRETO NOS ANOS INICIAIS DE ESCOLARIZAÇÃO SILVEIRA, Daniel da Silva – FURG [email protected] LUZ, Vanessa Silva da – FURG [email protected] LOCK, Ciliane Kobus – FURG [email protected] SILVA, Janaina Bordulis da – FURG [email protected] Eixo Temático: Educação Matemática Agência Financiadora: Programa Novos Talentos/CAPES Resumo O presente trabalho visa discutir questões referentes ao ensino de matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. As discussões são pautadas em uma das ações desenvolvidas no Projeto Ciência, Universidade e Escola: Investindo em Novos Talentos vinculado a Universidade Federal do Rio Grande (FURG). O projeto tem por objetivo articular e implementar ações de sensibilização, comprometimento e capacitação dos professores promovendo atividades extracurriculares a fim de tornar o conhecimento científico acessível a professores e estudantes da Educação Básica. Nossos estudos estão apoiados em teóricos tais como FREIRE, D’AMBRÓSIO, PAIS, MICOTTI e os documentos oficiais do governo como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Foram elaboradas oficinas pedagógicas para serem desenvolvidas com docentes de uma escola da cidade de Rio Grande/RS. A metodologia empregada nos encontros evidencia a manipulação de materiais concretos estabelecendo vínculo com os conceitos matemáticos, abordando a resolução de problemas, o desenvolvimento de estratégias e a proposição de soluções. A partir do diálogo dos professores nos encontros e a opinião deles em um questionário, pode-se apontar a dificuldade que eles têm em trabalhar com a matemática contextualizada, mas eles reconhecem a importância dessa disciplina no currículo. Espera-se como resultados contribuir para o processo de formação continuada dos professores, na intenção de potencializar discussões e vivências que possibilitem novas práticas pedagógicas, bem como desenvolver ações práticas de formação permanente envolvendo acadêmicos do curso de Licenciatura em Matemática, docentes do Instituto de Matemática, Estatística e Física (IMEF) e pós graduandos do Programa de Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde da FURG. 13883 Palavras-chave: Ensino de Matemática. Formação de Professores. Material Concreto. Introdução Ao ouvir falar da Matemática no Ensino Fundamental e Médio, a maioria dos estudantes relaciona essa disciplina a termos como difícil e complicado. Para uma parte significativa dos alunos, a matemática não passa de um conjunto de códigos e fórmulas a serem memorizadas sem sentido e de estudos que, na maioria das vezes, envolvem situações totalmente fora de suas experiências cotidianas. Outro problema enfrentado no ensino de Matemática nas escolas é que, em sua quase totalidade, não existem aulas em laboratórios, por uma variedade de causas, como não existência dos mesmos na escola; quantidade reduzida de horas-aula disponibilizadas para o componente curricular de matemática face ao volume de conteúdo a ser trabalho; falta de prática do professor no desenvolvimento de atividades experimentais; ou ainda porque as aulas são desenvolvidas em sua totalidade com base em livros textos ou apostilas. Incluir metodologias que busquem inovar e contextualizar o ensino na sala de aula no intuito de levar o estudante a construir e compreender a matemática e seus procedimentos que o auxilie na formalização de diferentes conceitos da disciplina parece ser uma alternativa para desmistificar ou “descomplicar” a matemática. Acreditamos que situações cotidianas articuladas às atividades experimentais no ensino de Matemática possibilitam desenvolver no aluno habilidades e competências, tais como: a identificação, a observação, a classificação e a organização dos diferentes fenômenos envolvidos no assunto. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) comentam que ao problematizar situações cotidianas articuladas aos conceitos matemáticos permitem que o estudante faça inter-relações entre os seus vários conceitos e entre os seus diversos modos de representação, superando obstáculos desde os mais simples até aqueles que significam verdadeiras barreiras epistemológicas no seu desenvolvimento (BRASIL, 1998). Micotti (1999, p.162) ressalta sobre a importância do ensino da matemática estar vinculado a situações da vida diária: O caráter abstrato dos estudos matemáticos surpreende os principiantes nos primeiros contatos com o mundo de idéias e representações, desprovidas das particularidades das coisas materiais. Apesar de a matemática ser utilizada e estar presente na vida diária, exceto para quem já compartilha desse saber, as idéias e os 13884 procedimentos matemáticos parecem muito diferentes dos utilizados na experiência prática ou na vida diária. Diversos têm sido os estudos sobre a formação do professor, essas pesquisas são impulsionadas especialmente pelas baixas notas alcançadas no Ensino Fundamental e Ensino Médio. Isso nos remete a pensar que as aulas não satisfazem as demandas atuais. Esses resultados apontam para a urgência de buscar outras formas para (re)significar as ações pedagógicas no contexto da Matemática. Pensar na formação inicial e continuada dos professores com o intuito de contemplar nesse processo outras metodologias pedagógicas que atendam as necessidades atuais pode ser uma forma de atender as demandas da contemporaneidade. Repensar as propostas nas licenciaturas torna-se necessário, tendo em vista que é a partir delas que se dá o processo formativo do profissional que atuará na docência no Ensino Básico. Nesse processo de formação é preciso considerar as transformações sociais que emergem com o passar do tempo e que por decorrência acarretam em outras demandas no mercado de trabalho. O mundo atual exige outros conteúdos, naturalmente outras metodologias, para que se atinjam os objetivos maiores de criatividade e cidadania plena (D’AMBRÓSIO, 2001). Alcançar a cidadania significa, também, entender a Matemática como uma ciência dinâmica que se atualiza em conformidade com as transformações sociais extrapolando a visão simplista e cartesiana de que essa ciência se resume a aplicação de fórmulas e resolução de algoritmos. Segundo os documentos oficiais do governo como os PCNs: [...] a Matemática pode dar sua contribuição à formação do cidadão ao desenvolver metodologias que enfatizem a construção de estratégias, a comprovação e justificativa de resultados, a criatividade, iniciativa pessoal, o trabalho coletivo e a autonomia advinda da confiança na própria capacidade para enfrentar desafios. (...) a compreensão e a tomada de decisões diante de questões políticas e sociais dependem da leitura crítica e interpretação de informações complexas, que incluem dados estatísticos e índices divulgados pelos meios de comunicação, ou seja, para exercer cidadania é necessário saber calcular, medir, raciocinar, argumentar, tratar informações estatisticamente (BRASIL, 1998, p.27) Existem diversas formas de desencadear os conceitos da Matemática e a prática pedagógica escolhida pelo professor é determinante nesse contexto. É papel do educador 13885 fornecer subsídios para que os estudantes compreendam tanto os conceitos abstratos quanto as manipulações simbólicas, que são consideradas insuficientes na maioria das salas de aula. A elaboração de atividades vinculadas ao contexto dos alunos exige do professor pesquisa e planejamento para que os estudantes relacionem as informações com as especificidades de cada conhecimento superando a memorização inexpressiva e aplicação direta de regras e fórmulas. Para tanto, compete ao professor elaborar atividades que favoreçam o desenvolvimento da imaginação e da criatividade para isso retoma-se a importância da utilização do material concreto como um recurso que pode contribuir, por meio de um trabalho cooperativo, na elaboração de conceitos e na resolução de problemas (PAIS, 2006). Dessa forma, integrar os professores no processo de experienciação desses materiais concretos se faz necessário, mas de forma contínua, para que a estagnação não aconteça. Acreditamos que isso só é possível quando estabelecemos espaços de diálogos e trocas de experiências em redes de aprendizagens. Esse artigo esta organizado em seções, inicialmente é explicitado a metodologia empregada nos encontros com os professores, a análise dos dados coletados, que possibilitaram o surgimento de reflexões sobre a ação pedagógica em sala de aula. Por fim, são realizadas alguma s considerações e apontadas perspectivas de trabalhos futuros. Desencadear das Ações com os Professores A Universidade Federal do Rio Grande (FURG), como universidade pública tem o compromisso de promover a educação plena, com uma formação geral contemplando as diferentes áreas da educação. Neste contexto, o Centro de Educação Ambiental, Ciências e Matemática (CEAMECIM) vêm atuando na formação de professores buscando minimizar as disparidades de qualidade de vida, qualificando profissionais da educação básica e universitária, por meio da formação inicial e continuada, imbuído dos princípios filosóficos assumidos pela FURG e explicitado em seu Projeto Político Pedagógico. O CEAMECIM, ao desenvolver um conjunto de atividades que articulam extensão, ensino e pesquisa na formação de professores, atende a uma das demandas sociais prioritárias na região sul do Estado do Rio Grande do Sul, que é a alfabetização em Ciências, Matemática e Educação Ambiental, de comunidades carentes e escolas com baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Assim, este centro assume, em suas ações, o 13886 compromisso de desenvolver a capacitação dos professores e estudantes para lidar com a produção cultural humana sendo imprescindível, para isso, o domínio da leitura, escrita e das novas tecnologias da informação e comunicação; o saber trabalhar em grupo; identificar e buscar soluções responsáveis para problemas da comunidade. Com esses propósitos que a FURG se fez parceira do Projeto Ciência, Universidade e Escola: Investindo em Novos Talentos1. O projeto contempla em uma das ações, considerando a especificidade da matemática, a problematização e o experienciar dos conceitos por meio dos materiais concretos voltados para realidade do seu entorno, considerando o processo de descoberta visando à construção de conhecimentos contextualizados e significativos. Nesse sentido, foram planejados quatro encontros com os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental de uma escola do município de Rio Grande/RS, com intuito de problematizar a alfabetização matemática nessa etapa da escolarização, considerando nesse processo a manipulação de materiais concretos no desencadear dos conceitos matemáticos. Os encontros foram estruturados para contemplar três etapas: discussão acerca da prática educativa e a forma de trabalhar com material concreto; a manipulação do material articulado as atividades que exploravam conceitos de matemática; e a análise dessas atividades. A opção em utilizar diferentes materiais concretos, em cada um dos encontros, com intencionalidade na Matemática, se justifica devido a sua potencialidade enquanto recurso pedagógico que possibilita ao estudante construir conceitos abstratos a partir da exploração sensorial de objetos manipuláveis. Para Maturana (1998) os educandos apontam em seu viver o mundo que viveram em sua Educação e os educadores admitem o mundo que viveram ao serem educados no educar. Acreditamos na criação dos espaços de formação continuada, por entender que a partir da ação e na convivência com o outro repensamos nossa prática e tentamos readequá-la buscando atingir outros objetivos que contribuam tanto na prática da sala de aula como em nossa vida. 1 A Rede Nacional de Educação e Ciência: Novos Talentos da Rede Pública é um programa que envolve universidades públicas brasileiras e que visa à melhoria das condições de ensino de ciências a jovens carentes de todo o país. Seu principal objetivo é buscar novos caminhos para um ensino eficiente. Para isso, desenvolve metodologias que facilitam o aprendizado, desmistificando a Ciência. <http://www.novostalentosredepublica.com.br/> 13887 É nesse sentido que o primeiro encontro com os professores, contemplou discussões sobre os desafios encontrados na prática docente no ensino da matemática nos anos iniciais, considerando dados referentes ao IDEB e as tendências da Educação Matemática (Resolução de Problemas2). No segundo encontro, foi explorado os Blocos Lógicos, inicialmente realizamos um breve resgate histórico contextualizando o desenvolvimento do material. Os Blocos Lógicos foi criado na década de 1950 pelo matemático húngaro Zontan Paul Dienes, a intencionalidade pedagógica desse material é desenvolver as operações lógicas, como a classificação e correspondência, além de possibilitar a criatividade e a troca de saberes em grupo. No terceiro encontro utilizamos o Material Dourado desenvolvido pela médica e educadora italiana Maria Montessori. Com esse material trabalhamos a constituição do sistema numérico decimal a partir da manipulação sensorial articulado a construção de relações abstratas, explorando o conceito de valor posicional e as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão. No mesmo dia, também foi abordado o Ábaco, material idealizado pelos chineses, que potencializa a compreensão dos sistemas de numeração decimal e a (re)significação do cálculo do “vai um” e “pede emprestado” na construção dos algoritmos. No quarto encontro, manipulamos o Cuisenaire, esse material foi criado pelo professor belga Georges Cuisenaire Hottelet em 1953. O material pode ser utilizado para explorar inúmeros conceitos, dentre eles as quatro operações e as frações, possibilitando o desenvolvimento da memória, coordenação motora e a construção do conceito de número. Ao final dos encontros realizamos uma conversa com os professores a fim de apontar as possibilidades, limites e demandas necessárias a partir do trabalho desenvolvido. Além disso, foi solicitado que eles respondessem um questionário com a intenção de conhecer um pouco mais sobre as práticas docentes, dificuldades em trabalhar os conteúdos de matemática e elencar sugestões para encontros de formação futuros. Os dados apontados no questionário nos deram subsídios para realizarmos a análise e gerar o argumento que explica o fenômeno pesquisado. Na seção a seguir trazemos as 2 Pesquisado por George Polya (2006), é uma metodologia em que o educador propõe ao educando situações problemas, caracterizadas por investigação e exploração de novos conceitos envolvendo a Matemática e outras áreas do conhecimento. 13888 impressões dos professores a fim de apontar a necessidade que eles trazem em compreender o uso do material concreto articulado aos conceitos matemáticos, a falta de alfabetização matemática na formação inicial e a dificuldade em trabalhar a matemática vinculada ao dia a dia. Analisando o Diálogo dos Professores A alfabetização matemática é pouco trabalhada no início da escolarização, estudos realizados no cotidiano escolar têm mostrado que seja na educação infantil ou nos anos iniciais do Ensino Fundamental a prioridade no trabalho dos professores é o processo de alfabetização da língua materna, sendo priorizado o ensino da escrita e da leitura, e consequentemente o ensino da matemática é deixado em segundo plano, como se não fosse componente fundamental da alfabetização. A fala abaixo da professora aponta essa situação, porém ela se mostra interessada em modificar tal prática. “Gostaria realmente de aprender a trabalhar com a Matemática na sala de aula. Priorizo a língua escrita e a alfabetização e deixo de lado a simbologia e a linguagem matemática.” É importante pensarmos na alfabetização matemática para incentivar as descobertas, uma vez que essas são contextualizadas. Diversas são as formas de conceber e trabalhar com a matemática nos anos iniciais. A matemática está presente em inúmeros contextos como na arte, na música, em histórias, na forma como organizamos nosso pensamento, nas brincadeiras e jogos infantis. As crianças descobrem coisas iguais e diferentes, organizam, classificam e criam conjuntos, estabelecem relações, ocupam um espaço e assim, vivem e descobrem a matemática. Ao utilizarmos o material concreto podemos estar facilitando a alfabetização matemática. Segundo Kamii (1990, p. 44) as “relações são criadas pelas crianças a partir de seu interior e não lhes são ensinadas por outrem. No entanto, o professor tem um papel crucial na criação de um ambiente material e social que encoraje a autonomia e o pensamento.” Sendo assim é papel do professor problematizar os conceitos, atrelando-os as abstrações e ao cotidiano dos discentes, conforme veremos nas próximas narrativas: “A Matemática nos cerca, está em todos os lugares, por isso ela precisa ser trabalhada com os alunos, pois eles já estão inseridos nesse contexto.” 13889 “Seria mais fácil para os estudantes aprenderem se os professores trabalhassem os saberes associados, a linguagem matemática com a alfabetização da leitura e da escrita.” Freire (1996, p. 24) lembra que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.” Cabe ao professor criar um ambiente favorável às discussões, levando em conta também os conhecimentos dos alunos, para que haja trocas de saberes. Porém, para assumir essa postura na prática docente é necessário atentarmos para uma formação continuada de professores que contemple tal atitude. É fundamental termos claro que a formação continuada de professores não deve se constituir no treinamento de receitas e métodos que são diretamente aplicáveis em sala de aula, mas sim possibilitar o desenvolvimento da autonomia do professor (SOUSA et al., 2009). A formação continuada pode ser um espaço para a reflexão, a troca e a construção de saberes relacionados à atividade escolar e docente. Essa formação deve debater sobre novas metodologias, inserir os profissionais em discussões atuais, com a intenção de contribuir para a atualização da ação pedagógica na escola, discutir sobre formas de organização das aulas e a relação entre as áreas do conhecimento. É certo que conhecer novas teorias, faz parte do processo de construção profissional, mas não bastam, se estas não possibilitam ao professor relacioná-las com o conhecimento de sua práxis (NÓVOA, 1995). Nesse sentido, os saberes docentes ocorrem pela relação entre os conhecimentos científicos, didáticos, pedagógicos adquiridos durante a sua formação inicial. A análise das impressões dos professores sobre o uso de material concreto aponta para a importância de sua utilização desde a formação inicial, sendo este visto como um instrumento que facilita o entendimento dos alunos, operando como um elo para a abstração, além de motivar os discentes a estudarem Matemática. A fala da professora mostra sua intenção em conhecer mais para poder aprimorar sua ação com as crianças. “Quero aprender a Matemática com prazer para que eu possa trabalhar ela de forma contextualizada despertando o interesse dos meus alunos.” Propor exercícios contextualizados e materiais concretos tem eficiência se aliados aos conteúdos matemáticos, porém é importante considerar um processo de formalização, generalização e aperfeiçoamento de conceitos sendo um desafio menos complexo quando o professor tem planejado os objetivos que pretende alcançar com sua proposição. Apesar de compreenderem a importância dos conceitos matemáticos e o trabalho desses a partir de materiais concretos para a aprendizagem do estudante nos anos iniciais, bem 13890 como, de reconhecerem a necessidade de aprofundarem seus conhecimentos a esse respeito, algumas professoras expressam que não gostam de matemática: “Eu não gosto de Matemática, não tenho afinidade com essa matéria, mas espero aprender a trabalhar com o material concreto, pois sei da sua importância na ação pedagógica”. “Não gosto de Matemática, tenho muita dificuldade com os conceitos e a linguagem dos símbolos, mas espero levar para a sala de aula os ensinamentos sobre o material concreto”. Muitas vezes o não gostar de Matemática pode estar relacionado com a dificuldade que as professoras apresentam em relação à disciplina, e essa problemática, muitas vezes surge de uma tentativa de aprender um conceito de forma desarticulada da realidade, isso revela que a formação básica tem abordado a matemática por meio de abstrações que não se relacionam com o dia a dia. Notamos que é difícil para o professor fazer relação entre o conhecimento da Matemática que ensinam e o seu próprio conhecimento sobre essa ciência que, por vez, está ligado à sua forma de conceber a Matemática. D’Ambrósio (2005, p. 23) comenta que “o grande desafio para o formador de professores é criar oportunidades de ensino que levarão o futuro professor a aprofundar seu conhecimento matemático e a fortalecer a base de suas construções”. Sendo assim, essas professoras acreditam que se essa ciência lhes tivesse sido ensinada com um método que contemplasse a experimentação suas percepções seriam diferentes, e talvez, não tivessem dificuldade com relação à matemática. A construção de noções, a partir de situações significativas que utilizem o material concreto possibilita não só o estabelecimento de relações entre símbolos e quantidades, mas também o entendimento significativo do algoritmo. Esse fato evidencia a importância de viabilizar espaços de formação continuada para os docentes discutirem estratégias pedagógicas para trabalhar a alfabetização matemática nos anos iniciais. Sabemos que essa problemática é decorrente, muitas vezes da falta de conhecimento específico por parte dos docentes, tendo em vista que as dificuldades apresentadas pelas professoras em relação à matemática estão relacionadas a uma abordagem inicial e/ou mecânica que valoriza a repetição e a memorização dos conceitos estudados. 13891 Considerações Finais A partir das reflexões tecidas neste estudo, podemos observar que apesar de o material concreto despertar o interesse de quem aprende, ele pode não apresentar o sucesso esperado pelo educador. Para que proporcione uma significativa aprendizagem, é necessário que haja uma atividade mental, e não somente a manipulativa, por parte do estudante. Ao professor cabe acreditar no material como um instrumento auxiliar do processo de ensino e aprendizagem. E mais, o material necessita ser corretamente empregado, isto é, é preciso conhecer o porquê, o como e o quando colocá-lo em cena. Caso contrário, o material concreto pode ser ineficaz à aprendizagem. É importante, no entanto, que o professor se pergunte ao levar o material para a sala de aula se este vai ajudar os alunos a avançarem no conteúdo proposto. Não basta acreditar que o simples uso destes materiais garante a aprendizagem e nem que o aluno sozinho irá relacionar o material com o conteúdo já visto. É preciso ancorar a teoria com a prática, mostrando aos alunos que a matemática pode ser vista e relacionada com fatos reais e cotidianos. Desta forma fica evidente a necessidade da formação continuada para os professores, principalmente para aqueles que atendem os anos iniciais, visto que a alfabetização matemática quando bem construída é o princípio para entendimento sólido dos conceitos dessa ciência. Ressaltamos que é de extrema valia que o educador desenvolva uma proposta pedagógica que articule o material concreto com os objetivos a atingir no decorrer da disciplina, estabelecendo vínculos com a realidade social dos educandos. Trata-se de buscar condições que favoreçam o entendimento do porque estar aprendendo determinado conteúdo a fim de que os alunos tenham condições de compreender o sentido do saber. Em Matemática, como em quase tudo, mais vale a qualidade do que a quantidade. Qualidade em termos de compreender e buscar soluções para as situações propostas, e é isto que visamos com o auxílio do material concreto, um ensino qualificado, na qual a aprendizagem se torne significativa para o discente e que ao mesmo tempo aguce e instigue nele o prazer pelo aprender. O educador deve estar imerso no mundo social, cultural e político a fim de proporcionar conhecimentos sobre esses aspectos para os estudantes, com saberes que ultrapassam a disciplina ministrada, fazendo assim o uso de uma metodologia que contemple associar matemática e realidade. A aproximação da formação inicial com a continuada é 13892 essencial, pois oportuniza aos docentes uma reflexão sobre a própria ação pedagógica em vista de uma melhor qualidade de ensino. É de acordo com essas considerações que entendemos que os objetivos deste trabalho foram alcançados, nos deixando com a convicção de que outros materiais concretos e outras ações poderão ser contemplados no futuro, contribuindo para a melhoria do ensino da matemática, buscando mais do que o aumento nos índices do IDEB, mas a desmistificação de que a matemática é abstrata e não faz parte do nosso dia a dia. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. 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