BRINCAR E ESTUDAR: OS JOGOS NO ENSINO DA MATEMÁTICA. Autor 1, Supervisor 2, Coordenador de Área 3. SILVA, Maiara Mozzini Almeida da 1; SILVA, Lucimara Montilha da 1; RODRIGUES, Vânia dos Santos 1, MEDEIROS, Rosana da Silva Lopes 2, LUIZ, Nilza Souza Bom 3. Faculdades Adamantinenses Integradas – FAI Subprojeto: PEDAGOGIA RESUMO Este artigo pretende mostrar como os jogos matemáticos podem servir de auxílio e recurso didático, mostrando-se como meio alternativo que facilita o ensino e o gosto dos discentes pela disciplina de Matemática, temida e muitas vezes execrada nas salas de aula. A Matemática e sua aprendizagem possuem fatores muito variáveis, tornando seu ensino bastante complexo, considerando assim que a utilização dos jogos para complementar o estudo é de grande valia para um ensino através lúdico. Sabe-se que o trabalho com jogos matemáticos proporcionam experiências enriquecedoras que vão além da aquisição de habilidades, perpassam pela aceitação de normas, pela fomentação do trabalho em equipes, e acima de tudo desenvolvem o respeito pelo outro. Nesse sentido, os jogos tornam-se elemento catalisador, contribuindo e motivando o interesse do aluno, auxiliando educadores e mestres no ensino do conteúdo relativo à matéria, fazendo com que o educando identifique suas dificuldades e tenha condições superá-las. Pensando assim, o artigo busca apresentar situações para o desenvolvimento e construção de instrumentos que facilitem o ensino e a compreensão de conceitos matemáticos relativos às operações fundamentais. Apresenta, ainda, observações quanto ao desenvolvimento de jogos, suas aplicações e modificações ocasionadas por seu uso em sala de aula e como estes podem tornar o aprendizado significativo para uma turma terceiro ano do ensino fundamental. Enfatiza-se, também a importância e os desafios metodológicos dos jogos no ensino das aulas de Matemática, lembrando que os mesmos, quando convenientemente preparados, tornam-se um recurso pedagógico eficaz para a construção do conhecimento matemático. Palavras-chave: Ensino, Jogos Matemáticos, Aprendizagem; Lúdico. 1. INTRODUÇÃO Ao pensarmos no ensino de Matemática, que muitos tiveram nos anos iniciais, muitas coisas veem em nossas mentes, como lembranças de quão aqueles problemas colocados nos lousa, com enunciados enormes e de difícil entendimento eram complicados para todos, o que acabou em produzir nesses alunos do passado uma forma de organização artificial e desnecessária, para tal ensino. Nessa forma de ensino, a Matemática estava apenas vinculada a memorização de fórmulas, regras e resolução de cálculos, tornandose, assim, uma disciplina complicada e com aprendizado penoso. Entende-se que ensinar Matemática, não é somente fazer com que os alunos calculem, resolvam equações ou ainda memorizem regras e fórmulas, mas sim levá-los a adquirir habilidades que possibilitem a resolução de situações problemas apresentadas em seu cotidiano das mais variadas formas possíveis. Considerando isso, vemos que a Matemática é uma ciência que está sempre em evolução e o lúdico, na forma de jogo, vem para auxiliar seu aprendizado que antes parecia tão intricado. Os jogos na fase de ensino aprendizagem se tornam acessórios no desenvolvimento de conhecimentos e capacidades e dão aos alunos do ensino fundamental a oportunidade de utilizar suas habilidades matemáticas de novas maneiras. Até mesmo aqueles que pensam não poderem aprender esta matéria se sentem familiarizados pelo simples fato de ver através dos jogos o concreto daquela determinada operação, deixando de fundamentar o ensino numa fórmula ou regra que deveria ser decorada e passando através da ludicidade a vivenciar a Matemática, associando e entendendo todo o significado embutido na problematização apresentada, chegando a uma resolução de modo menos árduo e muito mais prazeroso. Segundo Starepravo (2010, p. 20), devemos saber usar os jogos no ensino da matemática para tirarmos o maior proveito possível: [...] Se conseguirmos compreender o papel que os jogos exercem na aprendizagem de matemática, poderemos usá-los como instrumentos importantes, tornando-os parte integrante de nossas aulas de matemática. Mas devemos estar atentos para que eles realmente constituam desafios. Para isso, devemos propor jogos nos quais as crianças usem estratégias próprias e não simplesmente apliquem técnicas ensinadas anteriormente. Os jogos por sua vez dão suporte aos alunos e fazem com que consigam utilizar mais de uma habilidade ao mesmo tempo, levando-os ao verdadeiro aprendizado baseado no uso concreto de saberes. No ambiente escolar, os jogos têm como finalidade explícita o ensinar, possibilitando aos discentes o desenvolvimento de sua capacidade de organização, argumentação e algumas outras atitudes como: saber trabalhar em equipe, aprender a lidar com o ganhar e perder e ainda o respeitar regras. Considerando as dificuldades quanto ao ensino de Matemática, elaborou-se um projeto baseado no material do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), do Ministério da Educação (MEC), operacionalizado como um programa que traz estratégias formativas para o ensino de Matemática no ciclo de Alfabetização. Ademais, se objetivou neste projeto fazer com que os alunos do terceiro ano do ensino fundamental da escola EMEF Prof. Eurico Leite de Moraes, desenvolvam habilidades matemáticas e construam conhecimento através do mundo concreto dos jogos que facilita e, principalmente, efetiva o aprendizado significativo. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Em relação aos jogos e sua utilização no ensino da matemática, procurou-se verificar quais seriam os objetivos principais de se trabalhar com eles e se conseguiriam ajudar no desenvolvimento de conhecimento de determinados conteúdos. Nesse sentido Smole (2207, p.11) diz: [...] as habilidades desenvolvem-se porque, ao jogar, os alunos têm a oportunidade de resolver problemas, investigar e descobrir qual a melhor jogada; refletir e analisar as regras, estabelecendo relações entre os elementos do jogo e os conceitos matemáticos. Dessa maneira verifica-se que o jogo possibilita situações de prazer e trás consigo a aprendizagem significativa nas aulas de matemática. Metodologicamente, pode-se observar que todo o material e todo jogo que se utiliza dentro do ambiente escolar, carece de planejamento e posturas coerentes de educando e educador, sendo necessário um direcionamento adequado. O programa do governo federal. PNAIC de Alfabetização Matemática, destaca, ainda: O projeto pedagógico para alfabetização de matemática busca oferecer atividades lúdicas por meio de jogos concebidos a partir de estruturas matemáticas, apreendidas na forma de regra do jogo, mesmo que a criança não tenha consciência de tal fato, considerando que esta é construída pelo aluno, elemento essencial do jogo. Inicialmente, deve-se fazer com que o aluno aprenda a jogar. Para tanto, ele tem que compreender e respeita as regras. (PNAIC. 2014, Manual de Apresentação, p. 64). Foram usados três jogos daqueles trazidos pelo caderno de jogos do Pacto, considerando que estes são direcionados ao ensino das operações matemáticas principais, ou seja, a adição, subtração, multiplicação e divisão. O primeiro jogo proposto foi o “Cubra o anterior”, o qual desenvolve a aprendizagem de habilidades aditivas, pelo uso de dois dados contendo a numeração de 1 a 6, além da identificação de quantidades e reconhecimento do antecessor de um número. Este jogo foi confeccionado em EVA e continha um tabuleiro para cada aluno com a sequência numérica de 1 a 11, em cores variadas e mais onze cartões, de acordo com as cores do tabuleiro. Foram feitos agrupamentos de quatro alunos, onde um de cada vez deveria jogar dois dados, efetuar a soma dos números tirados e depois cobrir o antecessor da soma obtida com um cartão. Ganhava o jogo o discente que cobrisse todos os números do tabuleiro primeiro. Figura 1 e 2: Confecção do jogo. O próximo jogo foi o “Jogo das Operações” que objetivou facilitar o desenvolvimento de habilidades do campo aditivo e do campo da subtração, levando o discente a pensar e revolver situações problemas de seu cotidiano. Cada tabuleiro foi confeccionado a partir de dezesseis garrafas pet trazidas pelos próprios alunos que depois foram cortadas ao meio para formar “potes”, nos quais foram colocadas variadas quantidades de tampinhas. Também faziam parte de cada jogo uma bolinha, um dado com faces identificadas com símbolos da operação (adição ou subtração) a ser realizada pelo jogador e uma tabela para anotação dos resultados de cada jogada. O aluno deveria pegar a bolinha, jogar em direção ao tabuleiro e recolher as tampinhas do pote no qual caiu a bolinha. Em seguida, repetia o procedimento e colocava as tampinhas recolhidas na segunda jogada ao lado das outras. Após isso, o aluno deveria jogar o dado, descobrir a operação que deveria realizar (adição ou subtração) e, em seguida resolver o cálculo anotando-o na tabela. No jogo, ganhava o aluno que obtivesse o maior resultado. Para variar o grau de dificuldade do jogo bastava alocar uma maior ou menor quantidade de tampinhas por pote. Figura 3 e 4: Confecção “Jogo das operações”. Como a intenção era trabalhar com todas as operações matemáticas, optou-se pelo jogo “A bota de muitas léguas”, o qual trabalha com a ideia da multiplicação e da divisão.. Para este jogo foram usados cinco cartões confeccionados em EVA numerados de 1 a 5 representando a quantidade de pulos (cartões rosa) e mais cinco cartões também confeccionados em EVA e numerados de 1 a 5 (cartões amarelos) para representar o tamanho dos pulos. Também foi feita uma folha com retas numéricas com marcações de 0 a 25 para ser a base da medição das distâncias (léguas) percorridas por cada aluno em cada jogada. Cada aluno escolhia entre as cartas viradas para baixo uma da cor rosa para saber quantos pulos iria dar e outra da cor amarela para saber o tamanho de cada pulo o qual era representado pelo aluno na reta com um lápis. Figura 5 e 6: Cartões e tabuleiro do jogo “A bota de muitas léguas”. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para que toda esta metodologia pudesse ser utilizada em sala de aula com os alunos do terceiro ano do ensino fundamental da escola Prof. EMEF Eurico Leite de Morais, houve um planejamento e uma postura adequada de ambas as partes (alunos e professor), para que a aula dialogada transcorresse de maneira a possibilitar aos alunos a discussão de suas ideias, fazendo com os mesmos se sentissem a vontade para realizar as atividades, permitindo a eles risadas, gargalhadas, divergências e ate gritos eufóricos, comuns ao se trabalhar atividades como estas. No jogo “Cubra o anterior”, pode-se observar, inicialmente, que os alunos não utilizavam o cálculo mental. Com o passar das jogadas eles foram se apropriando dos resultados que iam aparecendo com mais frequência e já eram capazes de falar, sem titubear, os resultados não necessitando fazer as contagens das bolinhas dos dados, como acontecia no início. Figura 7 e 8: Aplicação do jogo “Cubra o anterior” Na aplicação do “Jogo das operações”, decidiu-se por alojar nos potes poucas tampinhas, entre as quantidades de 0 a 9, o que deixou o jogo mais simples. Conforme os alunos jogavam a bolinha e retiravam as tampinhas para se fazer o cálculo pôde-se observar que quando a operação era a de adição não encontravam nenhuma dificuldade, mas ao terem que efetuar a subtração, alguns alunos ficavam apreensivos, pois viam as duas quantidades ali e não sabiam como deviam proceder. Para sanar este impasse foi relembrado a eles que deviam tirar a quantidade menor de tampinhas da maior. Com o passar das jogadas não precisaram mais de auxílio. O jogo possibilitou aos alunos um divertimento e o desenvolvimento de habilidades atreladas ao ensino das oprerações de adição e subtração. Figura 9 e 10: Aplicação “Jogo das Operações” Na realização do jogo “A bota de muitas léguas”, pediu-se aleatoriamente que alguns discentes escolhessem uma carta de cada cor, uma delas indicava quantidade de pulos e a outra o comprimento dos mesmos, após a escolha os alunos eram indagados sobre como deveriam “andar” na reta numérica. As primeiras respostas demonstraram certa dificuldade de entendimento do jogo, então, explicou-se que para saber quanto se vai andar, bastava multiplicar os dois valores e, apesar das dúvidas de alguns alunos, eles foram ficando mais autoconfiantes. O jogo estimulou a aprendizagem da tabuada, elemento essencial para realização deste, a qual era vista como enfadonha e cansativa. A cada jogada realizada a professora fazia as marcações necessárias no quadro negro e marcava-se a distância percorrida por cada equipe. Sagrou-se vitorioso o grupo que percorreu a maior distância após três rodadas. Figura 11 e 12: Aplicação do jogo “A bota de muitas léguas” ....................................... Ao término dos jogos, os quais proporcionaram momentos de socialização e permitiram a exploração dos conceitos e operações matemáticas, percebeu-se que o ensino das operações através de jogos é muito mais eficiente, até porque o discente não se sente obrigado a decorar regras, aqui o educando assimila-as sem se dar conta, compreendendo de maneira eficaz qual a sua utilização na vida real. 4. CONCLUSÃO No lúdico, os jogos matemáticos provocam e estimulam nos discentes o pensamento independente, o desenvolvimento do raciocínio lógico, e a capacidade de resolver problemas. Como educadores devemos sempre procurar alternativas como esta, que anulem aquela imagem de que a matemática é um “monstro de sete cabeças”, transformando-a em um “fantasminha camarada”. Assim sendo, verifica-se que ensinar através de jogos é um excelente começo, não só para aulas mais interessantes, descontraídas e dinâmicas, mas também para uma aproximação entre educando e educador, despertando neste aluno a vontade de freqüentar assiduamente o ambiente escolar, já que aprende e se diverte ao mesmo tempo. Alguns autores e estudiosos, afirmam que é através do brinquedo que a criança aprende se tornando livre para determinar suas próprias ações e que este ainda estimula a curiosidade e autoconfiança, proporcionando desenvolvimento da linguagem, da concentração, do pensamento e da atenção. Jogar não é estudar, nem ao menos trabalhar, porque jogando, a aluno aprende, sobretudo, a compreender e conhecer o mundo social que o rodeia, sendo que jogar só é educativo, quando o jogo permite a aprendizagem, para que em sala de aula o educador possa potencialmente explorar todo o seu conteúdo, preparando o aluno. Podemos observar que nas crianças o estímulo tem um melhor resultado e, consequentemente, melhor retorno, quando, em formação, a adaptação a novos hábitos é tão nova quanto tudo o que se aprende. A estimulação precoce faz com que a criança cresça com maior facilidade de desenvolvimento em toda parte sensório-motora, possibilitando resultados mais rápidos e completos a qualquer atividade iniciada. Observamos dessa maneira a importância que os jogos matemáticos têm nos anos iniciais do ensino fundamental, permitindo que os discentes aprendam brincando, e superem as dificuldades concernentes a Matemática, obtendo resultados e aprendizagens mais rápidas e completas. De acordo com Starepravo (2009, p. 49): O jogo é, por natureza, uma atividade autotélica, ou seja, que não apresenta qualquer finalidade ou objetivo fora ou para além de si mesmo. Neste sentido, é puramente lúdico, pois as crianças precisam ter a oportunidade de jogar pelo simples prazer de jogar, ou seja, como um momento de diversão e não de estudo. Entretanto, enquanto as crianças se divertem jogando, o professor deve trabalhar observando como jogam. O jogo não deve ser escolhido ao acaso, mas fazer parte de um projeto de ensino do professor, que possui intencionalidade com essa atividade. Por esse motivo jogos educacionais matemáticos são elaborados e aqui foram aplicados, com a finalidade de abranger fatores em um contexto lúdico e educacional, auxiliando o professor no ensino das habilidades a serem desenvolvidas durante o ano letivo. Ainda, verificou-se através deste estudo e pesquisa, que educador e educando são totalmente favoráveis ao uso dos jogos no ensino, mostrando-se como forma facilitadora para o desenvolvimento do discente, fazendo com que estes alcancem melhores resultados. AGRADECIMENTOS Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. REFERÊNCIAS ALVES, E. M. S. A ludicidade e o ensino de matemática. 4. ed. Campinas: Papirus Editora, 2007. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=LwWgxeyPdJQC&printsec=frontcover&hl=ptBR&source=gbs_atb#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 27 out. 2014. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. 3º e 4o Ciclos do Ensino Fundamental: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/matematica.pdf>. Acessado em 26.10.2014. PASTELLS, Angel Alsina. Desenvolvimento de competências matemáticas com recursos lúdico - manipulativos. Curitiba – PR: Base Editorial, 2009. 22o ed. [Tradução] Dittrich, Vera Lúcia de Oliveira. MORATORI, P. B. Por que utilizar jogos educativos no processo de ensino aprendizagem?. 2003. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/6770926/Por-QueUtilizar-Jogos-Educativos-No-Processo-de-Ensino-Aprendizagem>. Acesso em: 05 nov. 2014. SMOLE, K. S. DINIZ, M. I. MILANI, E. Jogos de matemática de 6o a 9o ano. Porto Alegre: Artmed, 2007. (Série Cadernos do Mathema-Ensino Fundamental). STAREPRAVO, A. R. Jogando com a matemática: números e operações. Curitiba: Aymará, 2009.