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FORMAÇÃO LEITORA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 1
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Daniela Andrade Coelho da Fonseca , Marilani Soares Vanalli 1 Mestranda da UNOESTE. 2 Docente da UNOESTE RESUMO Pretende‐se com este artigo científico analisar como acontece o processo de formação de leitores na Educação Infantil e destacar a importância da formação leitora nesta etapa, tomando‐se como base a pesquisa bibliográfica e o RCNEI (REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL) que traz inúmeras propostas e caminhos para este determinado fim, já que o trabalho com a linguagem se constitui em um dos eixos básicos na Educação Infantil, dada a importância para a formação do sujeito e para a construção do conhecimento e do desenvolvimento do pensamento. A formação do leitor o conduz à leitura e o domínio dela tanto quanto o da linguagem são caminhos indispensáveis para a apropriação do conhecimento e formação dos cidadãos com maior autonomia para atuar na sociedade. Palavras‐chave: Educação Infantil – formação do leitor – linguagem oral e escrita. INTRODUÇÃO As situações de participação em sala de aula devem ser organizadas de forma que as crianças possam buscar informações; fazer solicitações; comunicar‐se por meio de gestos, sinais e linguagem corporal que são significativas para possibilitar a linguagem falada. A criança aprende a verbalizar por meio da apropriação da fala do outro, pois esse processo refere‐se à repetição pela criança de fragmentos da fala do adulto ou ainda de outras crianças. Portanto, aprender a falar não consiste apenas em memorizar sons e palavras. A aprendizagem da fala pelas crianças não se dá de forma desarticulada com a reflexão, o pensamento, a explicitação de seus atos, sentimentos, sensações e desejos. Constata‐se que as crianças constroem conhecimentos sobre a escrita muito antes do que se suponha e de que elaboram hipóteses originais na tentativa de compreendê‐la. Essa concepção supera a idéia de que seja necessário, em determinada idade, instituir classes de alfabetização para ensinar a ler e escrever. Aprender a ler e a escrever fazem parte de um longo processo ligado à participação em práticas sociais de leitura e escrita. Há os que advogam a existência de pré‐requisitos relativos à memória auditiva, ao ritmo, à discriminação visual etc., que devem também ser desenvolvidos para possibilitar a aprendizagem da leitura e da escrita pelas crianças. A ampliação de suas capacidades de comunicação ocorre gradativamente, por meio de um processo de idas e vindas que envolvem tanto a participação das crianças nas conversas cotidianas, em situações de escuta e cantos de músicas, em brincadeiras e etc., como a Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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participação em situações mais formais de uso da linguagem, como aquelas que envolvem a leitura de textos diversos. Para tanto, acredita‐se que a formação educacional de uma pessoa esteja amplamente amparada na leitura, ou melhor, na formação de leitura que esta criança possa ter. É possível que semeando na seara da leitura tenhamos resultados diferenciados quanto às leituras que serão feitas no futuro por tal pessoa. Pensa‐se no plantio leitura, para a colheita leitor. OBJETIVOS Analisar como acontece o processo de Formação leitora na Educação Infantil bem como salientar a importância da leitura para a formação cidadã. Segundo o REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL volume 3 (Brasil, 1998), Crianças de zero a três anos as instituições e profissionais de educação infantil deverão organizar sua prática de forma a promover as seguintes capacidades nas crianças: participar de variadas situações de comunicação oral, para interagir e expressar desejos, necessidades e sentimentos por meio da linguagem oral, contando suas vivências; interessar‐se pela leitura de histórias; familiarizar‐se aos poucos com a escrita por meio da participação em situações nas quais ela se faz necessária e do contato cotidiano com livros, revistas, histórias em quadrinhos etc. Crianças de quatro a seis anos ‐ para esta fase, os objetivos estabelecidos para a faixa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados, promovendo‐se, ainda, as seguintes capacidades nas crianças: ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicação e expressão, interessando‐se por conhecer vários gêneros orais e escritos e participando de diversas situações de intercâmbio social nas quais possa contar suas vivências, ouvir as de outras pessoas, elaborar e responder perguntas; familiarizar‐se com a escrita por meio do manuseio de livros, revistas e outros portadores de texto e da vivência de diversas situações nas quais seu uso se faça necessário; escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor; interessar‐se por escrever palavras e textos ainda que não de forma convencional; reconhecer seu nome escrito, sabendo identificá‐lo nas diversas situações do cotidiano; escolher os livros para ler e apreciar. METODOLOGIA O ato de leitura é um ato cultural e social. Quando o professor faz uma seleção prévia da história que irá contar para as crianças, independentemente da idade delas, dando atenção para a inteligibilidade e riqueza do texto, para a nitidez e beleza das ilustrações, ele permite às crianças construírem um sentimento de curiosidade pelo livro (ou revista, gibi etc.) e pela escrita. Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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A importância dos livros e demais portadores de textos é incorporada pelas crianças, também, quando o professor organiza o ambiente de tal forma que haja um local especial para livros, gibis, revistas etc. que seja aconchegante e no qual as crianças possam manipulá‐los e “lê‐los” seja em momentos organizados ou espontaneamente. Deixar as crianças levarem um livro para casa, para ser lido junto com seus familiares, é um fato que deve ser considerado. As crianças, desde muito pequenas, podem construir uma relação prazerosa com a leitura. Compartilhar essas descobertas com seus familiares é um fator positivo nas aprendizagens das crianças, dando um sentido mais amplo para a leitura. Desta forma, decidiu‐se por executar uma pesquisa bibliográfica para analisar como acontece o processo de formação dos leitores da Educação Infantil. DISCUSSÃO O trabalho com a linguagem oral e escrita com as crianças exige do professor uma escuta e atenção real as suas falas, gestos e demais ações expressivas, assim valorizando a intenção comunicativa para dar continuidade aos diálogos entre professor e aluno; aluno e aluno. A ampliação do universo discursivo das crianças também se dá por meio do conhecimento da variedade de textos e de manifestações culturais que expressam modos e formas próprias de ver o mundo, de viver e pensar. Músicas, poemas, histórias, bem como diferentes situações comunicativas, constituem‐se num rico material para isso. A criança que ainda não sabe ler convencionalmente pode fazê‐lo por meio da escuta da leitura do professor, ainda que não possa decifrar todas e cada uma das palavras. Ouvir um texto já é uma forma de leitura. Entende‐se que a criança é capaz de ler na medida em que a leitura é compreendida como um conjunto de ações que transcendem a simples decodificação de letras e sílabas. Quando a criança consegue inferir o que está escrito em determinado texto a partir de indícios fornecidos pelo contexto, diz‐se que ela está lendo. Paulo Freire (2005, p.11) afirma que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, daí a importância da formação do leitor; de oferecer a ele textos que podem ser desvelados, interpretados, associados à sua realidade. A leitura de histórias é um momento em que a criança pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não o seu. A partir daí ela pode estabelecer relações com a sua forma de pensar e o modo de ser do grupo social ao qual pertence. As instituições de educação infantil Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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podem resgatar o repertório de histórias que as crianças ouvem em casa e nos ambientes que freqüentam, uma vez que essas histórias se constituem em rica fonte de informação sobre as diversas formas culturais de lidar com as emoções e com as questões éticas, contribuindo na construção da subjetividade e da sensibilidade das crianças. Ter acesso à boa literatura é dispor de uma informação cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela leitura. A intenção de fazer com que as crianças, desde cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir histórias exige que o professor, como leitor, preocupe‐
se em lê‐la com interesse, criando um ambiente agradável e convidativo à escuta atenta, mobilizando a expectativa das crianças, permitindo que elas olhem o texto e as ilustrações enquanto a história é lida. Quem convive com crianças sabe o quanto elas gostam de escutar a mesma história várias vezes, pelo prazer de reconhecê‐la, de apreendê‐la em seus detalhes, de cobrar a mesma seqüência e de antecipar as emoções que teve da primeira vez. Isso evidencia que a criança que escuta muitas histórias pode construir um saber sobre a linguagem escrita. Sabe que na escrita as coisas permanecem, que se pode voltar a elas e encontrá‐las tal qual estavam da primeira vez. Pergunta‐se com LEITE (2011, p. 198): como um sujeito se constitui leitor? Que experiências de/com a leitura são significativas para a formação de sujeitos leitores? Algumas destas respostas podem ser dadas a partir dos dados coletados em pesquisa que fizemos em 2000, pode‐se dizer que os leitores vão se constituindo a partir da natureza e da qualidade da relação que cada sujeito vai estabelecendo, ao longo de sua vida, com o material escrito, seja direta (lendo por si mesmo) ou indiretamente (leitura do outro para si) É a partir destas perguntas/e possibilidades de respostas que se percebe o caminho para a Formação de Leitores da Educação Infantil. Segundo RCNEI (Brasil. 1998, p. 140) (REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL) Para favorecer as práticas de leitura, algumas condições são consideradas essenciais. São elas: dispor de um acervo em sala com livros e outros materiais, como histórias em quadrinhos, revistas, enciclopédias, jornais etc., classificados e organizados com a ajuda das crianças; organizar momentos de leitura livre nos quais o professor também leia para si. Para as crianças é fundamental ter o professor como um bom modelo. O professor que lê histórias, que tem boa e prazerosa relação com a leitura e gosta verdadeiramente de ler, tem um papel fundamental: o de modelo para as crianças; possibilitar às crianças a escolha de suas leituras e o contato com os Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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livros, de forma a que possam manuseá‐los, por exemplo, nos momentos de atividades diversificadas; possibilitar regularmente às crianças o empréstimo de livros para levarem para casa. Bons textos podem ter o poder de provocar momentos de leitura em casa, junto com os familiares. Uma prática constante de leitura deve considerar a qualidade literária dos textos. A oferta de textos supostamente mais fáceis e curtos, para crianças pequenas, pode resultar em um empobrecimento de possibilidades de acesso à boa literatura. Ler não é decifrar palavras. A leitura é um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto, apoiando‐se em diferentes estratégias, como seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor e de tudo o que sabe sobre a linguagem escrita e o gênero em questão. Parece que nossas expectativas de processo de formação de leitores vão ao encontro do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. A formação do leitor o conduz à leitura e o domínio dela tanto quanto o da linguagem são caminhos indispensáveis para a apropriação do conhecimento e formação dos cidadãos com maior autonomia para atuar na sociedade. Formar leitores é como se automaticamente formassem cidadãos plenos e capazes da ação; da vida cheia de plenitude; aguçar a inteligência, visualizar novos horizontes que passeiam do campo pessoal ao profissional. CONCLUSÃO Dentre os principais recursos que precisam estar disponíveis na instituição de educação infantil estão os textos, trazidos para a sala do grupo nos seus portadores de origem, isto é, nos livros, jornais, revistas, cartazes, cartas etc. É necessário que esses materiais sejam colocados à disposição das crianças para serem manuseados. Deve‐se lembrar, no entanto, que a aprendizagem em relação aos cuidados no manuseio desses materiais implica em procedimentos e valores que só poderão ser aprendidos se as crianças puderem manuseá‐los. Além disso, sempre que possível, a organização do espaço físico deve ser aconchegante, com almofadas, iluminação adequada e livros, revistas etc. organizados de modo a garantir o livre acesso às crianças. Esse acervo deve conter textos dos mais variados gêneros, oferecidos em seus portadores de origem: livros de contos, poesia, enciclopédias, dicionários, jornais, revistas (infantis, em quadrinhos, de palavras cruzadas), almanaques etc. Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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A formação do leitor é um processo contínuo e deve ser prazeroso, e que pode atingir uma maior realização pessoal e até mesmo econômica. Acredita‐se que os problemas sociais só serão resolvidos com a participação de cidadãos leitores bem formados, ordeiramente mobilizados e conscientes de sua responsabilidade social. É desta maneira então, que se acredita na formação do leitor na infância para e na sua continuidade ao longo da vida, para que não se limite ao leitor‐limite da decodificação somente das palavras, e sim que atinja a verticalidade contextual, semântico‐estilística que os textos trazem. Um desabrochar de um leitor comprometido com sua leitura, tornando‐se um leitor proficiente, capaz de produzir novos pontos de vista ao interpretar o que lê, enfim, capaz de se posicionar criticamente sobre o texto e os fatos nele contidos. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei no 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. ________.Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental. Referenciais curriculares nacionais para a educação infantil. Documento introdutório. Versão preliminar. Brasília: MEC/SEF, 1998. __________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Departamento de Políticas Educacionais. Coordenação Geral de Educação Infantil. Subsídios para elaboração de orientações nacionais para educação infantil. Brasília: MEC/ SEF/DPE/COEDI, 1998. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1988. __________. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1977. BARBOSA, A. M. Arte‐educação: leituras no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997. CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. (trad. Reginaldo de Moraes). São Paulo: Editora UNESP/ Imprensa Oficial do Estado, 1999 – (Prismas). ________. “Comunidade de leitores”. In A ordem dos Livros. Brasília: Ed. UNB, 1994. CRAMER, E. Incentivando o amor pela leitura. Trad. Maria Cristina Monteiro – Porto Alegre: Artmed, 2001. Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012
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