Adolescência,
Prevenção e
Risco
Prof Dra Maria Ignez Saito
Unidade de Adolescentes
ICr – HC FMUSP
Conceito de Adolescência
A adolescência, desde o início do século
XIX, é reconhecida como período crítico
da existência humana, fundamental para
a construção do sujeito definitivo
Definição de Adolescência
• Não nasce com o homem, sendo produto da
reflexão de várias ciências e áreas do
conhecimento como a Sociologia, a
Antropologia, o Direito, a Medicina...
• Para a Medicina a adolescência é definida
como um período de transição
biopsicossocial que ocorre entre a infância e
a adultícia, caracterizado, principalmente,
pela transformação, o que lhe confere maior
vulnerabilidade e risco
Conceito de Risco
• Tradicionalmente, a epidemiologia usava o conceito de risco
essencialmente do ponto de vista biomédico. Mais
recentemente, no entanto, este conceito tem se estendido
para o ambiente social e para o comportamento. Essa
consideração é importante especialmente quando se
estudam problemas relacionados à adolescência,
principalmente na esfera comportamental
Outro aspecto a ser
ressaltado é a possibilidade
do encadeamento dos fatores
de risco. Por exemplo, no
caso da gravidez na
adolescência: ela é fator de
risco para prematuridade que
é fator de risco para
mortalidade perinatal.
Conceito de
Prevenção
• Ao conceito de risco
acoplou-se a idéia de fator
de proteção, ou seja, aquele
ou aqueles ligados à
prevenção, enfoque
relevante para a assistência
integral à saúde do
adolescente
Fatores de Risco
• Individuais
• Ambientais
Puberty
Edvard Munch
Síndrome da Adolescência Normal
 busca da identidade
 tendência grupal
 necessidade de
intelectualizar e fantasiar
 crises religiosas
 vivência temporal singular
 evolução sexual
 atitude social reivindicatória
 separação progressiva dos pais
 constantes flutuações do humor
e do ânimo
The world’s most
beautiful dolls
The Editors of “Dolls”
Magazine, 1994
Senso
de
invulnerabilidade.
... a turma.
A exclusão do grupo
Constantes flutuações no
humor e estado de ânimo.
SEXUALIDADE - ADOLESCÊNCIA
Fonte: Eisentein, E. e Souza,
R.P. – “Situações de Risco à
Saúde de crianças e
adolescentes” – Editora
Vozes, 1993.
Corpo preparado para
reprodução
Psico-emocional
despreparado
Desejo de gravidez - difícil de
mensurar por ser
freqüentemente inconsciente
Grupos de referência





Família
Escola
Saúde
Mídia
Comunidade
Família
• Família nuclear – nem sempre a mais adequada.
Faz, muitas vezes parte do apego ao passado
projetado de maneira saudosista no futuro
• Família contemporânea – reconhece o ser humano
como tal. Relações de afeto, diálogo, respeito e
compromisso
• Família – transmissão de valores
Família
• Família estruturada e desestruturada
• Família uniparental
• Antecedentes familiares de gravidez na adolescência
• Moradia fora da família
• Abuso sexual na família
A dimensão da
proposta da família,
para o novo milênio
deve estar direcionada
para a construção de
seres pensantes,
críticos, com
instrumentos capazes
de melhorar o projeto
social.
A ESCOLA E O CRESCER:
APRENDIZADO DA AUTONOMIA
•
•
•
•
•
•
•
•
Educar para o crescimento
Educar para assumir a incerteza;
Educar para gozar a vida;
Educar para a significação;
Educar para a expressão;
Educar para a convivência;
Educar para o amor;
Educar para se apropriar da história
e da cultura.
Escola: A nova Proposta
• O que se defende é “a absoluta necessidade de
acelerarmos o ritmo de mudança dentro das
instituições de ensino, visando acompanhar uma nova
realidade social já estabelecida” (Ryon Braga)
• Para que se tenha a proposição final que o mundo será
melhor com uma educação permanente, de qualidade e
acessível a todos o maior desafio “está no
compromisso que a escola terá que assumir em relação
a resultados; a escola, finalmente, se tornará
responsável” (Peter Drucker)
• Não imaginar o outro como conteúdo
vazio a ser preenchido com valores
daquele que orienta.
• Lembrar que educadores e ducandos têm
valores, história de vida e propostas
diferentes inclusive em relação ao
exercício da sexualidade
• Abandonar critérios morais de julgamento
substituindo-os por outros de proteção ao
indivíduo a sua saúde e projeto de vida
Fator Econômico
• O fator econômico é fruto direto
das políticas governamentais
• O condicionante econômico renda -funciona como
desencadeante limitante ao acesso
à informação, educação, bens,
serviços e principalmente a
realização do projeto de vida
• É conhecida a relação entre
pobreza e doença e entre saúde e
produção, considerando a saúde
dentro de uma concepção
macroeconômica intersetorial e
política
•O homem não é só um meio da
economia mas sim o seu fim e
sua razão de ser
•O sucesso do crescimento do
homem está condicionado e
condiciona o crescimento da
nação
CONFERÊNCIA MUNDIAL DE EDUCAÇÃO PARA TODOS
TAILÂNDIA - 1990
“Já é consenso que o desenvolvimento humano
deva ser o centro de qualquer outro processo de
desenvolvimento e que o desenvolvimento
econômico não melhora automaticamente o
desenvolvimento humano.”
Fator cultural
“Cultura são todas as manifestações de vida de um
povo, com seu modo de pensar agir e sentir”. Esta
definição abrangente inclui a língua, as tradições, o
conhecimento, a ética, a moral de cada
agrupamento social.
A cultura nomeia o papel e o lugar dos adolescentes nas
diferentes sociedades.
A adolescência, que o ocidente inventou, se caracteriza pela
grande duração, indeterminação, grande carga de conflitos e
grosseira assincronia entre a maturidade sexual e a
maturidade social.
O adolescente geralmente é julgado
através dos preconceitos e esteriótipos
pelos adultos desta cultura que vêem
os jovens como irresponsáveis.
•
•
•
•
ADOLESCÊNCIA
SEXO
DROGAS
ROCK AND ROLL
“Não vejo esperança para o futuro do
nosso povo se ele depender da frívola
mocidade de hoje, pois todos os jovens são
indizivelmente frívolos. Quando eu era
menino, ensinavam-nos a ser discretos e a
respeitar o mais velhos, mas os moços de
hoje são excessivamente sabidos e não
toleram restrições.”
Hesíodo
VIII ªC.
MÍDIA
MÍDIA / ADOLESCÊNCIA
Distribuição do Tempo dos Adolescentes
Escola - 11.000 horas instrução formal (Ginásio)
TV
- 15.000 horas assistindo à TV (mesmo período)
Convívio com pais - 12 horas semanais
TV
- 23 a 24 horas por semana
Fonte: Strasburger V, EUA, 1989.
• A imagem pública atual dos
adolescentes não os favorece e
portanto não é surpresa que a visão do
público sobre o adolescente seja hostil
(Garland e Zigler)
• Rewen Feursten “Os jovens vivem no
mundo sem passado; não tem história e
em seu futuro não há projetos de vida
O caminho das realizações deve ser sustentado
por todos os grupos de referência que constituem
a sociedade contemporânea. Na verdade deve-se
exortar os jovens a se manterem intocados pelas
frustrações dos que percorreram a estrada sem
sucesso. Eles não devem resvalar frente aos
modelos de não realização que podem estar
presentes na vida dos adultos.
Indivíduo
Comunidade/Sociedade
Associação para
presença de risco
A adolescência é uma das fases da
vida mais afetada pela violência
A violência é a principal causa da
mortalidade e morbidade na
adolescência
Adolescentes não são apenas vítimas
mas também autores agentes
originais ou intermediários de todas
as formas de violência
“Nada se resolve vitimizando ou
culpabilizando os adolescentes”
Conceito de violência

“A humanização da violência implica em sua
elaboração, direcionamento, simbolização, imbricação
nos contextos das relações estabelecidas pelo homem,
podendo ser favorecida até pelas transformações sócioculturais.”

A violência é geralmente mostrada como fato terminal
isolado sendo esquecida a história individual e ou
coletiva que levou a esta resultante, envolvendo desde
o plano familiar até o político-social.
Conceito de Violência
Precisa integrar os seguintes aspectos:








Considerar a violência como realidade e atividade humana
Caracterizar a violência como processo
Fazer a diferenciação entre violência e acidente
Lembrar o contraste paroxal entre o caráter consciente da
violência e a baixa consciência social sobre o problema
Não levar em conta apenas critérios estatísticos numéricos
Julgar com muito cuidado critérios que envolvem gravidade
Ter em mente a negligência como forma de violência
Enfocar a adolescência seguindo a visão do binômio
risco/vulnerabilidade
Causas Externas
Dentre as causas de mortalidade na adolescência,
destacam-se aquelas denominadas de causas externas,
onde os componentes ligados direta ou indiretamente à
violência permanecem presentes, violência essa
traduzida nas suas várias formas, desde a negligência, a
violência psicológica até a auto-violência e os acidentes.
Cabe ressaltar que por vezes é muito tênue a linha que
pode separar a violência do acidente
Violência doméstica - Definição
“é uma violência interpessoal e intersubjetiva;

é um abuso do poder disciplinar e coercitivo
dos pais ou responsáveis;

é um processo que pode se prolongar por
meses até anos;

é um processo de completa objetalização da
vítima, reduzindo-a à condição de objeto de
maus-tratos;

é uma forma de violação dos direitos
essenciais da criança e do adolescente
enquanto pessoa sendo, portanto, uma
negação de valores humanos fundamentais
como a vida, a liberdade, a segurança;

Tem na família sua ecologia privilegiada.
Como esta pertence à esfera do privado, a
violência doméstica acaba se revestindo da
tradicional característica de sigilo”.
Azevedo, 1990
“O jovem, pela sua própria
condição desempenha
simultaneamente o papel
de vítima e testemunha
das atrocidades cometidas
pelo adulto contra todas as
manifestações de sua
experiência
Geraldo Semenzato
Sociologo
Mídia como Educador
GRAVIDEZ
NA ADOLESCÊNCIA
SAÚDE
EDUCAÇÃO SEXUAL
A D O L E SC Ê N C I A
I
D
A
D
A
N
I
É T I C A
Capítulo IX
Segredo Médico
...
Artigo 103 - É vedado ao
médico:
Código de
Ética
Médica
Publicado no D.O.U. de 26/01/83
Revelar segredo profissional
referente a paciente menor de
idade, inclusive a seus pais ou
responsáveis legais, desde que o
menor tenha capacidade de
avaliar seu problema e de
conduzir-se por seus próprios
meios para solucioná-lo, salvo
quando a não revelação possa
acarretar danos ao paciente.
Privacidade

A privacidade é o direito que o adolescente possui
independentemente da idade de ser atendido sozinho,
em um espaço privado de consulta
- Mantida também durante o exame físico
- Não é sinônimo de escondido
- Sinônimo de crescimento e responsabilidade
Confidencialidade
Confidencialidade é definida como um acordo entre o
profissional de saúde e o cliente, no qual as
informações discutidas durante e depois da consulta
ou entrevista, não podem ser passadas a seus pais
e/ou responsáveis sem a permissão explícita do
adolescente.
 A confidencialidade apoia-se em regras da bioética
médica através de princípios morais e de autonomia.

SEGREDO
MÉDICO
•
•
•
•
Gravidez
HIV / AIDS
Drogadição
Recusa a uso de
medicamento
• Tendência suicida
• Tendência homicida
SEGREDO
MÉDICO
• Atividade Sexual
• DST
• Experimentação de
drogas
Sempre que se fala em
privacidade e em
confidencialidade se fala em
ética, mas não em lei.
Estatuto da
Criança e do
Adolescente
Lei 8069
13 de julho de 1990
“Em 1999 a ONU realizou um processo de
revisão do programa (CAIRO + 5) avançando
nos direitos dos jovens. Na revisão do
documento deixou de ser incluído os direitos
dos pais em todas as referencias aos
adolescentes garantindo os direitos dos
adolescentes à privacidade, sigilo, ao
consentimento informado, à educação sexual,
inclusive no currículo escolar, à informação e
assistência à saúde reprodutiva”.
Fórum 2002
Adolescência, Contracepção e Ética
Unidade de Adolescentes do Instituto da Criança do
Hospital das Clínicas – FMUSP
Organização do evento e elaboração do relatório final
Maria Ignez Saito & Marta Miranda Leal
“o respeito da autonomia da criança e do adolescente,
o que implica para este último em privacidade e
confidencialidade, “faz com que esses indivíduos
passem de objeto a sujeito de direito”.
•O adolescente tem direito à educação sexual, ao acesso
de informação sobre contracepção, à confidencialidade e
sigilo sobre sua atividade sexual e sobre a prescrição de
métodos anticoncepcionais, respeitadas as ressalvas do
Art. 103, Código de Ética Médica. O profissional que
assim se conduz não fere nenhum preceito ético não
devendo temer nenhuma penalidade legal
• Em relação ao temor da prescrição de anticoncepcionais
para menores de 14 anos (violência presumida de estupro)
a presunção de estupro deixa de existir, frente à informação
que o profissional possui de sua não ocorrência, devendo
ser consideradas todas as medidas cabíveis para melhor
proteção da saúde do adolescente (ECA), o que retira
qualquer possibilidade de penalidade legal
A Educação Sexual deverá contemplar
Educação Sexual
• Deve ser:
– Uma educação mais para o ser do que para
o ter e o fazer
– Uma educação para formação da
auto-consciência e dos valores internos
– Uma educação para a troca
– Uma educação para o amor
– Uma educação para a liberdade
– Uma educaçào para a vida passada,
presente e futura
Cecília Cardinal de Martín
Sexualidad Humana - OPAS-OMS, 1990
• É possível acreditar-se que o projeto de vida só termina
com a morte
• Segundo a visão de Baldivieso e Perotto o homem é
estruturalmente um ser inacabado, uma tarefa em aberto
que nunca se concluirá, porque por mais que ele tenha
realizado, há sempre a possibilidade de maiores
realizações
• A adolescência é sem dúvida o momento, por excelência,
da abertura do grande leque de opções da vida, no qual
as fantasias deveram ser abandonadas se estiverem fora
da realidade para a execução do projeto, mas nunca os
sonhos
Criança era outro...
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora,
um silêncio, uma lei
Ganhei ou perdi?
Fernando Pessoa
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Apresentação