Este suplemento é um encarte do jornal O MAGISTRADO, editado sob a supervisão da Diretoria Cultural da ASMEGO. Seleção: desembargador Itaney Francisco Campos, diretor de Cultura. Edição: Deire Assis (jornalista). ASMEGO Cultural A ARTE TOMA CONTA DA CASA DOS MAGISTRADOS GOIANOS O mês de abril de 2012 ficará registrado na história da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás por ter marcado o início de um amplo movimento em prol da aproximação dos magistrados e a Cultura produzida aqui. A ação pioneira nesse sentido foi a realização da 1ª ASMEGO Mostra Arte, exposição de telas de autoria de artistas goianos que ocupou o hall de entrada da sede administrativa da entidade entre os dias 12 e 26 do mês passado. Durante esse período, centenas de pessoas – entre magistrados, familiares e visitantes da ASMEGO – puderam prestigiar um pouco da excelência da arte feita em Goiás. CONTINUA ASMEGO Cultural EXPOSIÇÃO | "O contato com a manifestação artística possibilita o cultivo da sensibilidade" A 1ª ASMEGO Mostra Arte foi visitada por centenas de pessoas que passaram pela entidade no mês de abril. Próxima edição deve receber obras de juízes A ideia de montar uma exposição de arte na sede da ASMEGO partiu dos atuais diretores de Cultura da entidade, o desembargador Itaney Francisco Campos e o juiz em substituição no segundo grau, Wilson Safatle Faiad. "O contato com a manifestação artística possibilita o cultivo da sensibilidade. O juiz lida com vidas humanas e é importante que ele se abra à arte e aos fenômenos sociais", destaca o desembargador para justificar a importância desta ação cultural. Segundo o magistrado, a exposição de arte tinha, por um lado, o objetivo de valorizar a arte produzida em Goiás e, por outro, promover a aproximação dos juízes com este universo. "Temos em Goiás alguns dos melhores artistas do País, grandes mestres das artes plásticas. Não podemos ficar distantes deste contexto”, acentua. Segundo destacou o desembargador Itaney em sua fala durante a solenidade que marcou a abertura da exposição, em 12 de abril, “a Justiça é a forma suprema de arte, segundo Sócrates. A Arte e a Justiça têm muitas afinidades, já que ambas focam o coração humano. Importante, portanto, essa proximidade.” Na mesma ocasião, o juiz Wilson Safatle, diretor-adjunto de Cultura da ASMEGO, destacou, do mesmo modo, a importância de a entidade promover eventos dessa natureza para envolver a magistratura. “O juiz não é mais aquele ser solitário. Ele respira e vive o presente e instrumentaliza no seu trabalho todos os elementos culturais e sociais à sua volta”, frisa. “O momento é de abertura e a gestão da ASMEGO também caminha nessa direção”, completa. Presente à solenidade de abertura da 1ª ASMEGO Mostra Arte, O diretor do Centro Cultural Oscar Niemeyer, Nasr Chaul ressaltou que a iniciativa representa um ganho cultural gigantesco não só para os magistrados, mas também para a comunidade que visita a ASMEGO. “Além disso, tira essa visão estigmatizada que existe em torno do Poder Judiciário, de que se trata de um poder fechado, sisudo, que só se importa com a aplicação da lei. Importantíssimo esse link que agora é feito entre a produção cultural do Estado e esta classe, tão importante na vida social da cidade”, destacou. O presidente da ASMEGO, juiz Gilmar Luiz Coelho, se comprometeu a apoiar a proposta da Diretoria de Cultura da entidade de realizar, em breve, nova exposição de arte, dessa vez com obras de autoria de magistrados. “Esta diretoria tem se mostrado muito atuante, realizando um trabalho digno do registro e do acompanhamento dos magistrados”, afirmou. A realização da segunda edição da mostra está entre as metas da Diretoria de Cultura da ASMEGO. Compareceram, também, à solenidade de abertura da 1ª ASMEGO Mostra Arte, no dia 12 de abril, o vice-presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, desembargador Rogério Arédio Ferreira; a corregedora-geral de Justiça, desembargadora Beatriz Figueiredo; os desembargadores Djalma Tavares Gouveia (aposentado), Zacarias Neves Coelho, Fausto Moreira Diniz e Walter Carlos Lemes (diretor Financeiro da ASMEGO); a presidente da Organização das Voluntárias do Judiciário (OVJ), Tereza Alzira Rocha; juízas Flaviah Lançone Costa e Elaine Christina Alencastro Veiga Araújo (diretoras Social da ASMEGO); juiz Paulo Cesar Alves das Neves, presidente do Conselho Consultivo da entidade; Camila Nina Erbetta Nascimento, juíza auxiliar da Corregedoria-Geral de Justiça; desembargadora aposentada Hélia Jungman; diretora da Mulher Magistrada, juíza Stefane Fiúza Cançado Machado; escritor Gabriel Nascente e a diretora do MAG, Mairone Barbosa, o artista plástico João Colagem. PROGRAMAÇÃO | Calendário repleto de atrações culturais DIRETORIA DE CULTURA apresenta proposta com ações a serem desenvolvidas ao longo do ano, entre elas concurso literário e instalação de biblioteca Hall de entrada com obras expostas: juiz Gilmar Coelho e diretores da ASMEGO abrem oficialmente a mostra Juíza Stefane Fiúza Cançado Machado observa uma das telas expostas Vários convidados prestigiaram o evento de lançamento da mostra OBRAS QUE INTEGRARAM A 1ª ASMEGO MOSTRA ARTE n Siron Franco “Tudo Para o Filho do Analista” 1983 – Óleo sobre tela – 40X36 cm n Antônio Poteiro Presépio – Óleo sobre tela – 41X46 cm n Amaury Menezes “Os Músicos” – 1996 Acrílica sobre tela – 80X60 cm n Antunes Arantes “Pé na Lama” - 1999 Mista sobre tela – 80X60 cm n Cléa Costa “A Espiritualidade da Arte” 1996 - Têmpera Mista – 80X60 cm n Cleber Gouveia (in memorian) “Caixa de Germinar Sonhos” 1996 – Mista sobre Tela 80X60 cm n D.J. Oliveira (in memorian) “Bule Vermelho” – 1997 Óleo sobre Tela – 80X60 cm n D.J. Oliveira (in memorian) “Um Monge Franciscano” Óleo sobre Tela - 50X60 n Dek "Alegorias" 1997 – Acrílica sobre tela – 80X60 cm n Fé Córdula ”São Francisco de Assis” 1996 – Óleo sobre Tela – 80X60 cm n Lourdes de Deus “O Circo Chegou” 1996 – Acrílica sobre Tela 60X80 cm n Pirandelo “Chá com Fadinha” 1996 – Acrílica sobre tela – 60X80 cm n Roos “Sem Título” 1996 - Acrílica sobre Tela – 80X60 cm n Saída Cunha “Sem Título” 1996 - Acrílica sobre Tela – 80X60 cm n G. Fogaça ”Malu” - 2005 – Óleo sobre Tela – 87X67 cm n Iza Costa “Sem Título” – 1995 – Óleo sobre Tela – 60X60cm n Helena Vasconcelos “Fé e Tradição” – 2008 – Acrílica sobre Tela – 80X60 cm n João Colagem “As Duas Pernas” - 1996 – Colagem sobre Tela – 80X60 cm n Juca De Lima “Sem Título” - 1996 Acrílica sobre Tela – 60X80 cm n Nonato “Frida Kahlo” - 50X60 nTai - “Cena Rural de um pássaro” - 50X60 n Alexandre Liah “Paisagem Urbana” - 1996 – Acrílica sobre Tela – 60X80 cm n Sanatan “Chapada dos Guimarães” 2008 – Acrílica sobre Tela 61,5X71,5 cm n Selma Parreira “Sem Título” - 1996 Acrílica sobre Tela – 60X80 cm n Waldomiro De Deus “O Mendigo” - 1996 Acrílica sobre Tela 60X80 cm Com o objetivo de fomentar a atividade cultural no âmbito da magistratura, dar visibilidade à produção cultural dos juízes e estabelecer um intercâmbio interativo entre as atividades culturais classistas e da sociedade como um todo, os diretores de Cultura da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás, desembargador Itaney Francisco Campos e o juiz em substituição no segundo grau Wilson Safatle Faiad apresentaram uma proposta de ações a serem desenvolvidas na área ao longo desse primeiro ano da gestão do juiz Gilmar Luiz Coelho. A exposição de arte realizada em abril (leia reportagem de capa deste encarte) faz parte dessa ampla programação. No mês de maio, segundo programação idealizada pelos diretores, será aberta campanha para a formação da biblioteca do autor goiano, com ênfase na produção literária do magistrado de Goiás. Também neste mês foi lançado o Concurso Literário Félix de Bulhões, destinado a magistrados associados e seus familiares visando a publicação de obra literária inédita. Edital do concurso já está disponível no site da ASMEGO. Nos meses de junho e julho, assinalam os diretores de Cultura da ASMEGO, será lançada também a campanha para a formação da biblioteca jurídica da associação, cujo acervo será composto especialmente por obras de magistrados goianos. Nesses meses, também, devem ser conhecidos os vencedores do concurso literário Félix de Bulhões e promovida entrega de prêmios aos participantes. Os trabalhos aptos à publicação serão encaminhados a editora para edição da coletânea de textos. Para os meses de agosto e setembro estão previstos grandes eventos. Um deles deverá ser realizado em parceria com o Centro Cultural Oscar Niemeyer. O outro evento que está sendo formatado para ser realizado nestes meses é o 1º Festival de Arte da Magistratura Goiana, um momento de grande congraçamento da classe e de valorização da cultural. Nos meses de outubro e novembro, entre outras atividades, a Diretoria Cultural colaborará com a realização do 11º Congresso Goiano da Magistratura, que será realizado em Goiânia nos dias 25 e 26 de outubro. A inauguração da Biblioteca do Escritor Goiano, bem como o lançamento de um concurso de monografias de temática jurídica – visando a publicação de uma revista – também são programações previstas no calendário da Diretoria de Cultura da ASMEGO. Em dezembro pretende-se realizar, em parceria com a Diretoria Social, a festa comemorativa pelo Dia da Justiça.Segundo os diretores Itaney Campos e Wilson Safatle Faiad, a participação, a presença e o incentivo dos associados e seus familiares são importantes para a concretização do calendário cultural, sem os quais, destacam, “os eventos programados perderão qualquer razão de ser.” Frisam, ainda, que a Diretoria de Cultura permanece aberta para receber sugestões de ações a serem desenvolvidas no âmbito cultural. ASMEGO Cultural LITERATURA | POESIA | Itinerário Cultural de Vila Boa Ney Teles de Paula Vila Boa merece figurar historicamente como um pujante poema arquitetônico. Ela é uma unidade artística que se enclausura ora na forma rebuscada de uma igreja barroca, nos detalhes cuidadosos de um muro, nos rebordos silenciosos do calçamento original; tudo é revestido de expressão própria e conotação lírica que o tempo consolidou judiciosamente, evitando a despersonalização artística. Merecem ser citados a Praça Monsenhor Confúcio, que compreende o Largo do Chafariz, de 1778; a Casa de Câmara e Cadeia, erguia entre 1761 e 1766 e desde 1968 sede do Museu das Bandeiras; a Rua da Fundição; Largo do Jardim ou da Igreja da Boa Morte; o Museu de Arte Sacra; o Palácio Conde dos Arcos, construído pelo Conde de São Miguel em 1751; o prédio secular dos Correios, datado de 1773, com sacadas e portais em granito; a Cruz do Anhanguera, descoberta pelo poeta Luiz do Couto; a Ponte da Lapa sobre o outrora rumorejante e agora silencioso Rio vermelho e o Chafariz da Carioca, perto do Poço do Bispo, na margem esquerda do Rio Vermelho. As Igrejas são muitas: Santa Bárbara, no alto de um outeiro de onde se desvendam amplos horizontes coloniais; a Igreja de São Francisco; a Igreja da Boa Morte e seu sino soturno (nela estão muitas obras do genial escultor goiano Veiga Valle); a Igreja do Rosário e a Catedral. A poesia de Cora Coralina, cosmos ampliado de uma catarse vivificadora, dá alma à solidez da cidade-poema e seus becos enigmáticos, quando afirma: “Bem estreito e sujo como compete a um beco genuíno. Esquecido e abandonado, no destino resumido dos becos, no desamor da gente da cidade..” E a poetisa canta, transfundindo-se em colóquio harmonioso e espontâneo com as origens: “Eu sou aquela amorosa de tuas ruas estreitas curtas, indecisas, entrando, saindo uma das outras”. Terra de artistas, foi em Goiás também que residiu uma personalidade cativante: a pintora Goiandira do Couto. Ela exerceu sua arte pacientemente, formando originais quadros de areia. Goiandira transportou para os quadros sua sensibilidade admirável de poeta e pesquisadora, da mesma forma se revelando uma amorosa impenitente de sua velha cidade. Vila Boa, hoje Goiás, provoca no observador mais atento o fascínio dos mistérios coloniais. São tantos os apelos estéticos que, inevitavelmente, sente-se um perpassar longínquo de escaramuças, levando a uma análise sensitiva plena de subterfúgios e labirintos intelectivos. Há na dolência decadente do Rio Vermelho um convite lúdico para os enigmas das gerações e sua localização efêmera no tresloucado curso das grandezas e mistérios da gente goiana. Ney Teles de Paula é desembargador em Goiás. Trecho de obra de sua autoria: Dimensões do Efêmero, Oriente. 1976. p. 54/55. NEY TELES DE PAULA é desembargador. Itaney Campos O NAVEGANTE E A POESIA (Para Nequito) Sinto que a poesia, às vezes, me espreita sutil, sob a dor imanente que nos vigia, ou surge mesclada em humana e estreita fala, entreaberta numa fresta de alegria. A poesia transpira por fontes extremas da própria vida, em sua rota imponderável: Nenhum navegador controla o leme e qualquer tripulante é desejável. Aquele que navega em rumo inverso, que sua sina é laborar de forma ingente, pode estar ele sim singrando certo que mais que a rota, navegar é que é urgente. Todos tem sua dor a relatar, não importa o remoto porto em que se ancora; o que impulsiona é a ternura do cantar em coro, e a certeza de que tudo é agora. Os esquecidos à margem, nos barrancos, que não velejam, pois não lhes foi dado um lugar, podem também chegar ao cais dessa ventura porque também se amadurece em não buscar. Estar inerte é também seguir no mundo, sem esforços ou debates, frente ao verso prisioneiro, pois o mistério se liberta no silêncio em que em terra se acrisola o marinheiro. Às vezes a poesia me abandona, congela-se o poço secreto da ternura, verte sangue o verso esquivo e incompleto e nesse deserto brota a água inda mais pura. (Outubro de 2009) ITANEY F. CAMPOS é desembargador e diretor de Cultura da ASMEGO.