AU TO RA L UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE LA LE I DE DI R EI TO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA DO CU M EN TO PR OT EG ID O PE LIMITES NA INFÂNCIA por ELIANA ALVES DE ALMEIDA Orientadora: Profª Ms. Andressa Maria Freire da Rocha Rio de Janeiro, 2009 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA LIMITES DA INFÂNCIA Apresentação da monografia à Universidade Candido Mendes / Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do grau de licenciatura em Pedagogia. Orientadora: Profª Ms. Andressa Maria Freire da Rocha Rio de Janeiro 2009 3 EPÍGRAFE “Não sei... Se a vida é curta Ou longa demais pra nós, Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, Se não tocamos o coração das pessoas, Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, Braço que envolve, Palavra que conforta, Silêncio que respeita, Alegria que contagia, Lágrima que corre, Olhar que acaricia, Desejo que sacia, Amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que não seja nem curta, nem longa demais, Mas que seja intensa, verdadeira, pura... Enquanto durar”. “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Cora Coralina 4 DEDICATÓRIA A minha querida mãe Anedina Maria dos Santos, por seu carinho, companheirismo e apoio ao longo de minha vida, e ao meu bom Deus e Pai, que nas dificuldades e sofrimentos me faz experimentar seu amparo e seu abrigo como uma filha amada. A meu senhor Deus toda honra e toda glória. 5 AGRADECIMENTOS As minhas amigas do grupo “As Preciosas”, em especial à minha amiga Isabella Benício e a familiares que presenciaram e vivenciaram comigo este momento tão importante de minha vida. 6 RESUMO O presente trabalho traz aspectos sobre a importância da implantação de limites na educaçao, desde a infância. O objetivo deste estudo é fazer uma reflexão sobre essa questão, que nos últimos tempos vem se aprensentando como motivo de muitas discussões no meio familiar e escolar. O desenvolvimento do trabalho estuda que caminho vem percorrendo a educação desde a infância de nosso pais até a infância de nossos filhos. Aponta as diferenças e mudanças entre a rigidez das gerações do passado até a conturbada educação dos dias atuais, confusa e perdida nas idéias de liberdade total nas quais os pais começaram a acreditar. O estudo mostra que tais mudanças, radiciais e desordenadas, têm causado resultados desastrosos na maneira em que as famílias de hoje educam suas crianças e como todos os envolvidos, pais, filhos e educadores, se sentem desorientadas em virtude das atuais condições dessa educação. Outra reflexão desta pesquisa é buscar conceituar o que é limite, como este pode ser estabelecido e que problemas podem decorrer da falta do mesmo. O trabalho é finalizado com o enfoque sobre a importância da integração entre o meio escolar e o meio familiar na educação da criança e sobre como a atuação coesa e coerente de pais e educadores pode ser útil e eficiente frente à falta de limites. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 10 CAPÍTULO I 11 1. AS GERAÇÕES DE ONTEM E HOJE 1.1. O QUE É LIMITE? 1.2. AS DIFICULDADES DOS PAIS EM LIMITAR SEUS FILHOS 1.3. AS DIFICULDADES DA ESCOLA EM RELAÇÃO COM OS LIMITES CAPÍTULO II 19 OS PROBLEMAS CAUSADOS PELA FALTA DE LIMITES 2. NA FAMÍLIA 2.1. NA ESCOLA CAPÍTULO III 3. 25 A ATUAÇÃO DOS PAIS E EDUCADORES FRENTE À FALTA DE LIMITES 3.1. A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO FAMÍLIA ESCOLA CONSIDERAÇÕES FINAIS 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 31 8 INTRODUÇÃO A tarefa de educar uma criança, responsabilidade direta da família e da escola. normalmente, encontra-se sob Como não há regras prontas a seguir, ao lado da história, pais e educadores vêm experimentando diversos caminhos, na maioria das vezes tentando agir da melhor maneira. Diante disso, o ato de educar apresenta muitas faces, ora de uma rigidez excessiva, ora de uma liberdade sem extremos, numa troca de valores entre autoridade e autoritarismo, liberdade e permissividade. Nos últimos tempos, um dos grandes problemas que a educação enfrenta é a dificuldade de estabelecer limites, seja pela má atuação do adulto, seja pela resistência da criança. Essa dificuldade muitas vezes acarreta resultados desastrosos na formação de nossos pequenos, pois o educar sem limites acaba por denunciar relacionamentos entre pais e filhos, professores e alunos mal construídos, edificando sobre alicerces de uma convivência insegura, difícil e frágil. Hoje a insegurança é tanta que muitos pais e educadores perdem-se em seu papel, procurando respostas prontas para perguntas como: “Como educar?” “Qual o caminho correto a seguir?”, “Que tipo de educação devo escolher?”. Se por um lado sabemos que não existe essa resposta exata, por outro vemos uma certeza: toda criança necessita de limites, não para cercear sua liberdade de ação (que é vital para sua formação), mas para que aprenda que sua conduta, seja ela qual for, gera conseqüências. Ou seja, regras claras indicam até onde podemos ir com responsabilidade e segurança. Regras claras nos fazem vivenciar a cidadania desde cedo, fazendo com que saibamos reivindicar direitos e cumprir deveres, assim como o mundo adulto nos exige. Limites ensinam à criança a experimentar o mundo ao seu redor e a viver em sociedade, conquistando seu espaço e respeitando o do próximo. Assim futuramente, saberá direcionar melhor suas decisões e ações, refletindo sobre o que é certo e errado, pois, uma vez que vivemos em sociedade, é necessário o conhecimento e o respeito às regras que regem a vida social. Esse trabalho apresentará questões como as mudanças educacionais ocorridas nas relações entre pais e filhos, até a geração atual; o que é “dar limites”; 9 as dificuldades dos pais e da escola em estabelecer limites para a criança; os problemas causados pela falta de limites. 10 METODOLOGIA Este estudo foi desenvolvido a partir de uma vasta pesquisa bibliográfica de autores renomados no assunto. É um trabalho de caráter exploratório e foi desenvolvido teoricamente em livros, artigos e revistas. Os autores trabalhados foram Tânia Zagury, Içami Tiba, Paulo Gomide, Augusto Cury, Celso Antunes entre outros. 11 CAPÍTULO I 1. AS GERAÇÕES DE ONTEM E HOJE Há décadas atrás, os pais educavam seus filhos com base na castração, onde o pai era o todo poderoso que exercia com mão de ferro seu poder dentro da família. O pai era uma figura distante e ameaçadora que usava esta personagem para dar limites aos filhos. Os pais davam brincas, colocavam de castigo, cortavam regalias, aplicavam castigos físicos. Este tipo de educação gerava um relacionamento distante e frio entre ambos. Nos filhos crescia uma revolta interna que clamava por liberdade, autonomia e independência. Muitas coisas mudaram desde então. Com a revolução comportamental dos anos 60, o crescimento e divulgação dos métodos pedagógicos modernos e a popularização da psicologia, que sofreu várias interpretações distorcidas ao longo deste período. A Psicologia contribuiu muito para isso, ao divulgar frases como: “Não reprima seu filho”, “Seja amiga de seus filhos”, “Liberdade sem medo”. (TIBA, 1996, p. 12) Os filhos do passado cresceram e, na tentativa de proporcionar aos seus filhos o que nunca tiveram, acabaram caindo no extremo da própria educação: viraram pais antirrepressivos, com dificuldades de limitar seus filhos, vivendo o oposto da rigidez do passado; tornaram-se pais permissivos, entendendo a palavra “não” como forma de repressão. Porém essa atuação tornou-se tão intolerável e descontrolada, que hoje, o que comumente se vê, são pais perdidos, que não sabem como agir em relação à educação de seus filhos, pais que tinham verdadeiro horror à educação do passado e que, muitas vezes, acabam por repetir as mesmas posturas dos pais de antigamente. “A revolução de costumes dos anos 50 trouxe consigo uma série de questionamentos quanto à maneira de educar crianças. a severidade habitual de costumes foi confrontada inicialmente através da liberdade 12 sexual e em seguida pela flexibilização das regras na educação das crianças. Os novos pais, pós-revolução sexual, também se rebelaram quanto às regras rígidas de educação de filhos. Passaram a conceder mais, repudiaram a punição física, quiseram se tornar mais amigos dos filhos. Começaram a utilizar o diálogo como fonte de educação. Porém, essa nova maneira de educar trouxe conseqüências inesperadas”. (GOMIDE, 2007, p. 10) 1.1. O QUE É LIMITE? Os limites são uma constante saudável em nossas vidas, já que viver em sociedade implica em obedecer a regras sociais estabelecidas. Muitas vezes nós não percebemos, mas estamos sempre respeitando limites. Sabemos que a falta de limites ou a desobediência a algumas regras geram punições na idade adulta. E é muito mais leve e saudável quando a criança aprende isso desde cedo, em seu primeiro grupo social, que é a família. Por isso a discussão sobre a aprendizagem de limites é uma questão fundamental quando falamos em educação e família. Os limites são essenciais desde a infância, para que a criança desenvolva sua autonomia, senso critico e responsabilidade. Os mesmos também contribuem para que a criança aprenda a estabelecer relação de igualdade e respeito com os demais. É importante que os limites sejam estabelecer de forma coerente, já que o respeito às regras não se impõe com medo e sim com autoridade, persistência e paciência (Gomide, 2007; Zagury, 2000; Cury, 2003). É dentro de casa, na socialização familiar, que o filho deve começar a ser instruído, adquirindo, aprendendo e absorvendo a disciplina que lhe será necessária para um futuro próximo. Logo após o nascimento, já começam as primeiras interações sociais do bebê, com o ato de amamentar da mãe ou da pessoa que a substitui. Neste momento passa a ser transmitido para a criança o modo de ser da família, pois toda criança, ao nascer, traz consigo apenas o ser biológico (as características físicas e as necessidades fisiológicas como: comer, dormir, crescer e etc...). Portanto, essa relação intima que a mãe ou a pessoa que a substitui mantém com a criança é essencial para formar seu ser psicológico, que é constituído a partir das experiências vivenciadas pela criança ao longo de seu desenvolvimento. “Quanto mais próximo do 13 nascimento, mas a criança segue seu ritmo biológico e a disciplina deve obedecer a esse ritmo, não o inverso”. (TIBA, 1996, p. 24) Essa interação intima que ocorre nos primeiros meses de vida faz com que os pais se sintam totalmente responsáveis pelos filhos e motivados pelo amor, pelo desejo de satisfazer todas as necessidades e vontade dos filhos, visando o bemestar da criança. Porém, adotando um comportamento super protetor, os pais passam a desrespeitar o desenvolvimento biológico da criança (que neste contexto é visto como excesso de zelo e proteção excessiva). Portanto, é muito importante que os pais avaliem suas ações e reconheçam até que ponto estão ajudando ou prejudicando o desenvolvimento de seus filhos. “Cabe aos pais trabalharem no sentido de que os filhos tenham atendidas as suas necessidades, sejam elas de que nível forem. Por outro lado, e não menos importante, cabe também aos pais a tarefa de orientar os filhos pata que, cada dia, mês ou ano que passa, as crianças caminhem n sentido de adquirir aptidões para que, por seus meios, sua capacidade e, sobretudo, dentro de normas éticas, supram, a vontade de ter, fazer ou conquistar algo. Compreendendo essa diferença, fica bem fácil para os pais distinguir quando se deve e quando não se deve atender aos filhos”. (ZAGURY, 2000, p. 88) As atitudes de desrespeito ao desenvolvimento biológico da criança fazem com que ela reaja no começo com negação, oposição, choro e argumentação e, mais tarde, com modificação de comportamento. Portanto, entender que cada criança tem um ritmo biológico e que o desrespeito a esse ritmo leva à indisciplina é muito importante. É necessário que os pais tenham entendimento desse ritmo biológico como um conjunto de comportamentos que, ao serem respeitados, são capazes de levar ao melhor resultado possível em relação aos limites e à disciplina nos primeiros meses de vida e ao longo da infância (Tiba, 1996). Já no contexto escolar, o aluno aprende as regras escolares e comunitárias. Na escola, as normas e as conseqüências do desrespeito a elas geralmente são mais claras e definidas. Na vida adulta a sociedade não ensina regras, somente sinaliza que estas devem ser obedecidas, contando que cada membro dessa sociedade já as tenha aprendido no meio familiar ou escolar. As leis da sociedade estão escritas e os desrespeitos a elas são duramente penalizados. Portanto, torna-se quase impossível vivermos coletivamente sem o respeito aos limites impostos pela vida em 14 sociedade. “Um desrespeito aos pais pode ser relevado; aos professores, já implica advertência; às autoridades sociais, é penalizado”. (TIBA, 1996, p. 150) 1.2. AS DIFICULDADES DOS PAIS EM LIMITAR SEUS FILHOS Como não há receita pronta para se educar os filhos, essa responsabilidade gera muitas dúvidas e inseguranças nos pais, principalmente no que diz respeito à colocação de limites comportamentais. Uma das primeiras e principais dificuldades dos pais para impor limites é dizer “não” para seu filho, seja por medo de traumatizá-lo ou do receio de que este deixe de amá-los. Porém, essa é uma atitude totalmente necessária e saudável dentro do processo de educativo. Os pais devem compreender que é muito importante estabelecer regras na relação com os filhos, e que essas regras permitirão um relacionamento adequado entre os membros da família. A criança também precisa compreender que existem regras que devem ser cumpridas, pois, quando a criança tem liberdade total, fazendo o que quer sem orientação do adulto, enfrenta dificuldades em aceitar os limites pessoais e sociais. “Como saber a hora de dizer sim ou a hora de dizer não? Aliás, perguntamse, aflitos, muitos pais, há, de acordo com essas novas teorias, realmente uma hora para dizer não? Negar alguma coisa para os filhos parece um crime, ou, no mínimo, um ato autoritário, um modelo antiquado de educar. Afinal, tantas obras publicadas indicam tudo que não se deve fazer e tão poucas oferecem realmente uma diretriz para clarear o caminho de quem quer bem orientar os filhos”. (ZAGURY, 2000, p. 14) Outra dificuldade dos pais está no sentimento de culpa existente em virtude do pouco tempo que passam junto com os filhos ou da falta de paciência que ocorre após um dia cansativo de trabalho. Conseqüentemente, os pais acabam permitindo tudo, invertendo prioridades, esquecendo os valores, comprando seus filhos com presentes, etc. É verdade que os filhos necessitam de atendimento e da atenção dos pais, mas é importante saber que não é a quantidade de tempo que vai suprir essa atenção necessária e sim a qualidade do tempo, mesmo curto, que os pais passam com seus filhos. “Às vezes a família presenteia demais a criança, fala dela com preocupação, coloca muitas pessoas a seu serviço, como babá, motorista, cozinheira, professora particular, professor de música etc., e o profissional não consegue visualizar o desencadeador do problema. Todos estes cuidados podem ser, também, insuficientes, caso venham sem a atenção, o 15 afeto, o olhar carinhoso, o abraço, o real interesse de que tanto falamos”. (GOMIDE, 2007, p. 72) A vida moderna impôs uma alteração no modelo tradicional das divisões de tarefas diárias que interfere na educação dos filhos. Antes, comum era o pai ser o provedor da casa e da família e a mãe a cuidadora. Hoje os dois estão juntos na função de provedores, e, conseqüentemente, a ausência dos pais na vida da criança em virtude da carga horária dedicada ao trabalho, acaba por deixar a responsabilidade da educação desta com a escola, babás e parentes. Essa necessidade normalmente gera um sentimento de culpa nos pais, que, para compensar tais ausências, são permissivos em demasia com os filhos. “Nas últimas três décadas, a tradicional divisão de papéis entre o homem e a mulher sofreu grande alterações. Agora, a mãe é sócia do pai na tarefa de arcar com as despesas da família”. (TIBA, 1996, p. 66) Esse comportamento comum na vida moderna onde os pais substituem sua presença pela de outras pessoas ou atividades, muitas vezes faz com que esses pais acabem por não tornar conhecimento do que a criança fez ou com quem andou, enfim, do que aconteceu com o filho ao longo do dia. É importante que os pais percebam que, mesmo diante da necessidade de colocar os cuidados da criança nas mãos de terceiros, eles precisam estar muito bem informados de tudo o que acontece com os filhos, pois, a partir do momento que estes passam a conviver com outras pessoas, várias aprendizagens, atitudes e mudanças de comportamento surgirão dessa relação do filho com indivíduos de outros meios. “Um recado para pais que trabalham fora: informem-se bastante sobre tudo o que diz respeito ao seu filho, porque esses acontecimentos é que vão contribuir para que ele formule uma ação. Assim, vocês não serão pegos de surpresa caso seu filho adote uma posição que lhes pareça estranha, embora seja comum para ele. Essa posição pode ser decorrência de algo que a professora ou a empregada ensinou. Não é prejudicial que os pais se ausentem de casa, desde que estejam inteirados sobre tudo o que aconteceu”. (TIBA, 1996, p. 72) Outro ponto importante na reflexão sobre o que dificulta a colocação de limites é o fato de que hoje se vive o oposto da rigidez das gerações passadas. Hoje a liberdade total passou a comandar as relações entre pais e filhos em lugar do autoritarismo do passado. Os pais acabaram se tornando permissivos e super protetores. As mudanças na educação foram tantas e tão radicais que muitas vezes 16 os papéis de pais e filhos se invertem: filhos passaram a fazer e a dizer o que queriam, a qualquer limite passou a ser visto como retrocesso ao modelo autoritário. “Esses pais viraram antirrepressivos e tiveram dificuldade para impor limites a seus filhos. Quando as crianças passavam da conta, tamanha era sua birra à proibição e ao medo de reprimir que simplesmente, deixavam fazer. Essa birra pode ser traduzida por: “Eu não devo dizer não, caso contrário vou me sentir um pai autoritário” e distante, como se assumisse o odioso comportamento do pai que eu tive”. (TIBA, 1996, p. 57) Outro ponto a ser pensado é o exagerado receio que os pais têm com relação aos traumas que poderão causar, caso venham a ser mais enérgicos na educação dos seus filhos. Infelizmente, este é o padrão de educação que ainda predomina até o momento, acarretando uma geração que quer ter muitos direitos e poucos deveres, muita liberdade e pouca responsabilidade, mas sim e pouco não. “Antigamente, os pais eram autoritários, hoje, são os filhos. Antigamente, os professores eram os heróis dos alunos; hoje, são vitimas deles. Os jovens não sabem ser contrariados. Nunca na história assistimos a crianças e jovens dominando tanto os adultos. Os filhos se comportam como reis cujos desejos têm de ser imediatamente atendidos. Em primeiro lugar, aprenda a dizer “não” para seus filhos sem medo. Se eles não ouvirem “não” dos seus pais, estarão despreparados para ouvir “não” da vida. Não terão chance de sobreviver”. (CURY, 2003, p. 52) 1.3. AS DIFICULDADES DA ESCOLA EM RELAÇÃO AOS LIMITES A escola é uma instituição que acolhe a convivência de pessoas de vários meios sociais e tipos de educação familiar. Por conseqüência, é um local onde o cumprimento de regras, a aceitação de responsabilidades, a disciplina e a organização se fazem essenciais para o bom cumprimento de suas funções. Porém, atualmente, a falta de limites apresentada pelos alunos nas escolas é uma constante e tem sido vista como uma questão bastante problemática, que tem gerado muitas discussões, já que dificulta excessivamente a pratica pedagógica, interferindo diretamente no processo ensino-aprendizagem. Uma vez dentro do ambiente escolar, o aluno que não está habituado a receber limites mostra-se também incapaz de respeitar as regras que ali são apresentadas. Porém, as inúmeras causas para a falta de limites manifestada pelo aluno na escola podem ser internas ou externas ao ambiente escolar. 17 Entre as causas externas estão a influencia dos meios de comunicação, a violência social e as vivências que a criança traz do meio familiar, onde, muitas vezes, os próprios pais mostram-se como exemplos negativos para os filhos, desautorizando professores e escola, num comportamento onde demonstram total falta de necessidade de respeito e gratidão aos profissionais que lidam com seus filhos. “Na alvorada do século XXI, vemos, na sociedade, a transformação, a mudança de valores sociais e individuais e a influência direta dos meios de comunicação de massa em nosso país. Essas transformações acontecem mais perto do nosso dia-a-dia na família e na Escola. Quais as influências, os valores, as regras e os limites a que estão submetidos nossas crianças e nossos jovens? Essas influências, dos mais diferentes tipos, geram novas pautas de conduta na geração atual e na futura. É fácil observar a mudança ética e dos valores através das novelas e dos noticiários, em que há o super dimensionamento da vitória do desonesto, do charme do mau-caráter, da glória do bandido, das traições entre amigos e familiares; através de fatos de corrupção como rotina; da violência como o maior atrativo dos noticiários em que se descrevem detalhes de um assalto, de um assassinato; verdadeiras aulas; na melhor didática, servindo, assim, de modelo para crianças e jovens, deixando-os preços aos pólos da “violência, do sexo e da trapaça, como maior incentivo à indisciplina, ao crime e à impunidade nas instituições escolares”. (Weiss, 2004, art. Indisciplina ou problema de aprendizagem, Revista Construir Notícias, edição n° 17)”. Já as causas internas estão ligadas às condições de ensino e de aprendizagem, às características dos alunos e sua incapacidade de se adequar às regras da escola e ao relacionamento entre professores e alunos. Essas causas internas são agravadas por uma geração de professores que, assim como os pais dos alunos sem limites, fazem parte da geração do “é proibido proibir” e, logo, também têm muita dificuldade em estabelecer limites. Nas dificuldades surgidas no processo ensino-aprendizagem, há ainda os professores que acabam rotulando seus alunos de “sem limites”, “crianças mal educadas”, encontrando nesse rótulo a causa e transferindo totalmente para os alunos e suas famílias a responsabilidade por seu fracasso profissional. A falta de regras claras por parte da escola propícia a dispersão de comportamentos e o abuso dos alunos. Uma escola onde cada professor adota suas próprias regras acaba favorecendo a falta de limites e a indisciplina em seus alunos. No que diz respeito ao processo de ensino, cada professor deve ter a liberdade de agir em sala de aula de maneira pessoal, mas, no que diz respeito às normas e regras da escola como um todo, todos os funcionários, professores ou não, devem agir de maneira coesa, cumprindo com que é instituído pela escola. 18 “A escola é, indiscutivelmente, um foco de indisciplina, muitas vezes por sua organização interna, por seus sistemas de sansões, pela não integração e união entre sua equipe docente e administrativa, pelo estilo da autoridade exercida, mas, sobretudo pela ausência de clareza como encara a questão disciplinar”. (ANTUNES, 2007, p. 19) A indisciplina na escola não diz respeito apenas ao sujeito ou ao relacionamento professor-aluno, mas inclui o coletivo em aspectos como convivência escolar, coletividade de sala de aula (e da escola), clima de aula, autoridade do professor, autonomia do aluno, reconhecimento mestre-discípulo, limites de comportamento, conduta, maneira de agir do aluno (e do professor), controle d trabalho didático e pedagógico (regras, normas, direitos, deveres e sanções), relações de poder (professor-aluno, aluno-aluno), vivência de valores e determinação da direção da instituição. A escola deve estabelecer uma proposta pedagógica que atenda as necessidades da comunidade, que determine princípios para a aprendizagem e defina normas disciplinares claras, onde a interação entre todos os membros internos da escola favoreça ações que contribuam para as mudanças no contexto escolar. Constituirá, desta maneira, uma alicerce básico no qual a estrutura disciplinar da escola se edificará, crítica e coletivamente. 19 CAPÍTULO II OS PROBLEMAS CAUSADOS PELA FALTA DE LIMITES 2. NA FAMÍLIA O primeiro ambiente social onde os reflexos da falta de limites são duramente sentidos é em casa, na convivência com a própria família. Segundo a educadora Tânia Zagury, a criança que não convive com limites desde cedo desenvolve um quadro de dificuldades que vai se instalado seqüencialmente, percorrendo quatro etapas e agravando-se a cada frase. “A criança que não aprende a ter limite para o seu querer, para os seus desejos e vontades, que tudo quer e tudo pode, tende a desenvolver um quadro de dificuldades que se vai instalando passo a passo”. (Zagury, 2000, p. 35) A primeira etapa caracteriza-se pelo descontrole emocional, histeria e ataques de raiva. São características normais em crianças pequenas, já que estas ainda são egocêntricas, buscam a satisfação imediata, acham que tudo existe em função delas, isso tudo aliado ao fato de que ainda não adquiriram noções de valores. Portanto, nesta fase espera-se que os pais se encarreguem da responsabilidade de ensinar e educar seus filhos. Pois, essa agressividade que é natural das crianças aumenta com a idade e vai variando, com o passar do tempo, da forma física e instrumental para a forma verbal e hostil. Vão mudando não só a forma da agressividade, como também seus objetivos e finalidades. O mimo é a não colocação de limites claros e passar a atender a todos os desejos do filho, antecipar-se para que ele não se frustre, protegê-lo dos sofrimentos naturais e inerentes á vida. “São atitudes familiares que podem induzir a criança a ter um comportamento de risco não só na adolescência, mas ainda quando for uma criança maior”, pais de filhos mimados tendem a ser super indulgentes e procuram até adivinhar qual deverá ser o próximo desejo da criança. Quando crescer, as chances dessa criança em não respeitar regras são enormes. Afinal de ela foi criada como uma pequena 20 “dona do mundo”, tudo que deseja ela tem, tudo que quer ela consegue.(Spada, Art. Criança mimada denunciam preguiça dos pais, site minha vida) A segunda etapa caracteriza-se pela crescente dificuldade em aceitar os limites. Isso ocorre quando pais desnorteados não orientam o filho, optando por atender suas solicitações sempre que este grita, batem esperneia etc. A criança percebe a facilidade de conseguir o que quer por estes meios e passa a adotar tais comportamentos para controlar o mundo e as pessoas, seja no meio familiar ou escolar se a criança freqüenta a escola. “Quando os pais descumprem sucessivamente, as regras por eles estabelecidas, ensinam aos filhos três atitudes indesejáveis: (1) que as regras não são para serem cumpridas; (2) que a autoridade (pais ou professores) pode ser desrespeitada; além de (3) ensinar a manipulação emocional. Esta aprendizagem terá sérias conseqüências para as atitudes futuras da criança ou do adolescente. Aprender que as regras podem ser descumpridas leva os jovens a não aceitarem normas sociais”. (Gomide, 2007, p. 16) Na terceira etapa a criança apresenta distúrbios de condutas, desrespeito aos pais, colegas e autoridades, incapacidades de concentração, dificuldade para concluir tarefas, excitabilidade e baixo rendimento. Esta fase é um agravamento das duas primeiras. A criança que não aprendeu a lidar com limites, cresce com uma deformação na percepção do outro. Sua percepção é que só ela é importante e, o egocentrismo natural nos primeiros anos de idade, acaba por tornar-se exagerado e crescente. Nesta fase as ocorrências tornam-se bem mais graves e freqüentes, tanto no ambiente familiar como no escolar, e esses pequenos desorientados são comumente confundidos com crianças que apresentam a síndrome da hiperatividade. “Em resumo, aquilo que, nos primeiros meses e anos da vida, pode parecer apenas engraçadinho, interessante e até afetivo, “sinal de amor” como pensam alguns (deixar sem orientação e sem limites), acaba levando a criança exatamente ao pólo oposto ao desejado: tentando evitar traumas psicológicos, os pais estarão, dessa forma, com muita probabilidade, proporcionando sérios problemas num futuro nem tão distante”. (Zagury, 2000, p. 44) A quarta etapa é caracterizada pelas agressões físicas quando a criança é contrariada. Ela passa a apresentar comportamentos de descontrole, problemas de conduta e até problemas psiquiátricos, quando a criança apresenta quadro de 21 predisposição. Nesta fase, todos os problemas são muito mais sérios e de difícil resolução. Esta é a fase em que os problemas das fases anteriores que não foram resolvidos se acumulam, tornando-se mais grave e de difícil resolução. Aqui, a criança que tem uma personalidade agressiva, apresenta baixa auto-estima, insegurança pessoal e/ou um potencial genético para desenvolver certos quadros de doença psiquiátrica, pode passar a desenvolvê-los ou potencializá-los. Neste momento a criança passa a ver o mundo de maneira distorcida e, caso o problema não seja prontamente detectado e cuidado, o agravamento desta visão pode levá-la, num futuro próximo, à marginalização, ao álcool e as drogas. “Seria mais ou menos como se jovens criados dessa forma pensassem: “o mundo existe para o meu prazer, para o meu deleite” (aprenderam isso por terem pais que dizem sim a tudo, super protegem e não desenvolvem responsabilidade); “todos devem fazer o que eu quero e gosto; quem não gosta de mim ou não faz o que eu quero, como eu quero, na hora que eu quero, é indigno de viver, é meu “inimigo”. Isso explica (em parte, evidentemente) porque os jovens de Brasília afirmaram “nós só queríamos nos divertir”, como justificativa para incendiar uma pessoa”. (Zagury, 2000, p. 46) 2.1. NA ESCOLA A escola é, geralmente, o próximo ambiente social, depois da família, a sentir e lidar diretamente com as conseqüências da falta de limites da criança, implantada no lar. A educação das crianças, que tradicionalmente era assumida e transmitida pelos pais, hoje passou a ser dividida com a escola. Porém, a falta de limites gerada em casa acarreta várias questões como a dificuldade em lidar com autoridades e o desrespeito às regras da instituição. Isso, no ambiente escolar, fatalmente acabará levando este aluno a quadros de indisciplina. Segundo o psiquiatra Içami Tiba, a educação familiar que não têm claras as noções do que é certo ou errado, não repassa valores sociais ou não consegue estabelecer limites e transmitir responsabilidades à criança, acaba passando tais tarefas, genuinamente de sua responsabilidade, para a escola. A partir do momento 22 que os alunos não respeitam seus pais (autoridades) em casa, cumprir essa regra no ambiente escolar torna-se praticamente impossível e, então, passam também a não respeitar seus professores. “A família compõe uma unidade emocional, na qual os pais são muito importantes se servem de modelos para as crianças, porque elas assimilarão o que lhes for oferecido e, conseqüentemente, irão agir de determinada maneira e com atitudes que poderão ser iguais a de seus pais. A família é de fundamental importância, pois é nela que a criança começa a aprender regras básicas e essenciais de vida na sociedade. A família é uma microssociedade que dá margens para as importâncias, pois é nela que a criança começa a aprender regras básicas e essenciais de vida na sociedade. A família é uma microssociedade que dá margens para as crianças se tornarem aptas a freqüentar uma sociedade mais ampla”. (art. “O resgate”, revista construir noticias, edição no 17, 2004). A falta de limites gera a indisciplina na escola e esta, atualmente, tem sido uma questão problemática, que dificulta a prática pedagógica onde a amigável e respeitadora relação professor-aluno é fundamental e necessária. Essa relação, hoje, enfrenta sérios problemas. Apesar de os professores estarem preparados para a formação de habilidades e competências da vida adulta, não sabem como lidar com os alunos de hoje, que chegam à escola sem limites e com comportamentos sociais distorcidos. Conseqüentemente, não sabem como implantar e manter sua autoridade em sala de aula ou como intervir frente à indisciplina. A existência da indisciplina na escola é constituída por vários fatores, mas normalmente começa em três pontos importante, na escola e sua estrutura, no professor e sua conduta e o aluno e o não cumprimento das regras e limites. “A indisciplina escolar é um conjunto de regras que, devem ser obedecidas para o êxito do aprendizado escolar. Portanto, ela é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula e, conseqüentemente, na escola. Como em qualquer relacionamento humano, na disciplina é preciso levar em conta as características de cada um dos envolvidos: professor, aluno e ambiente”. (Tiba, 1996, p. 99) Uma primeira visão da indisciplina escolar está ligada a alguns aspectos que refletem a conduta dos alunos. O aumento do individualismo, do egocentrismo, impede o aluno de ver o outro como um mediador na busca do conhecimento escolar, seja o outro o professor ou o colega. Esse tipo de aluno tenta, constantemente, fazer com que a aula gire em torno de seus interesses e de suas idéias. Assim, a ausência de limites sociais gera a necessidade deste indivíduo ser o centro das atenções, acarretando interrupções inoportunas, confusões e conflitos em sala de aula que perturbam o ambiente adequado a uma boa aprendizagem, sua e 23 de seus colegas. Esse ambiente socialmente desorganizado leva à desvalorização do professor, da situação escolar, dos conhecimentos escolares, atenção do grupo dispersada, dividida, voltada para brigas, a perda de aula por atrasos, retiradas de sala por indisciplina ou, ainda, suspensões disciplinares, o que gera descontinuidade na construção de determinados conhecimentos, não-cumprimento de tarefas escolares, falta de movimentação e total desinteresse pelas atividades escolares. “O aluno é também peça-chave para a disciplina da escola e o sucesso do aprendizado. Atualmente, a maior dificuldade que encontra para estudar é a falta de motivação. Estudar para quê? Para passar de ano? Para ganhar presente? Pata ter sabedoria? Para os pais não “pegarem no pé”? Entretanto, quando estão interessados em alguma coisa (computador, música, esportes, coleções etc) são os mais animados, empreendedores e... disciplinados”. (Tiba, 1996, p. 100) A segunda visão sobre os problemas no ambiente escolar envolveria dificuldades e desorganizações internas do aluno, de caráter orgânico, corpora, cognitivo, afetivo ou social que, de algum modo, levariam a dificuldades iniciais na aprendizagem. Posteriormente, essas dificuldades iniciais de aprendizagem acarretariam no aluno o desinteresse pelas atividades desenvolvidas que, conseqüentemente, o levariam a condutas de indisciplina escolar. Se, num momento de dificuldade na aprendizagem formal, o aluno não tiver uma boa acolhida, um olhar diferenciado e uma escuta especial do professor ou dos vários professores envolvidos, poderá ter suas pequenas dificuldades iniciais ampliadas. Quando estas são percebidas e cuidadas a tempo por família e professores, há grandes chances de não se transformarem em dificuldades bem maiores. “Não estamos, evidentemente, entendendo a disciplina como algo fora da prática educativa escolar, como um anexo, algo “a mais“. Seria artificial querer separar a disciplina de questões como interesse, motivação, mobilização para o conhecimento, gestão da Escola como um todo, relacionamento da Escola com a comunidade, planejamento, conteúdo, metodologia, avaliação, objetivos, finalidades (o sentido do trabalho tem um papel absolutamente decisivo na constituição da disciplina). Por outro lado, o campo teórico da disciplina escolar também constitui-se de elementos que são fundamentais em varias atividades da Escola e que, além disso, não lhes são exclusivos, uma vez que dizem respeito igualmente a outras instituições e até mesmo às interações sociais cotidianas; passam por respeito, liberdade, responsabilidade, ética, desenvolvimento moral, internalização de valores, atitude, socialização, cooperação, consenso, negociação, controle, obediência e pelo próprio conceito de Educação, pela educabilidade humana e pelos processos de formação humana”. (Vasconcelos, art “Os desafios da (in) disciplina na formação do docente”, revista construir noticias, ed. 17, 2004) 24 A terceira visão está relacionada à instituição que não tem uma política interna bem definida para trabalhar de forma preventiva com a questão da indisciplina. A escola deve estabelecer claramente suas regras e atuar segundo o que foi estabelecido; só assim os alunos poderão adquirir a consciência de que existem direitos e deveres para todos e que tais direitos e deveres devem ser cumpridos e respeitados por todos. Porém, se o sucesso das relações interpessoais é vista como uma das chaves para o sucesso da escola, a desmotivação do corpo docente, as deficiências na formação dos professores e a falta de envolvimento das famílias aparecem no topo dos problemas enfrentados no dia-a-dia da escola. 25 CAPÍTULO III 3. A ATUAÇÃO DOS PAIS E EDUCADORES FRENTE À FALTA DE LIMITES Hoje os grandes responsáveis pela educação das crianças são a família e a escola, que juntas vivenciam uma sociedade em constante mutação. Hoje vivemos uma inversão de papéis e valores e são tantas as informações que mal conseguimos absorvê-las. A família mudou, a criança mudou, o aluno e a escola também mudaram e, conseqüentemente, essas tantas mudanças tornam confusa a conduta dos adultos em relação à educação das crianças, criando expectativas muito grandes e levando família e escola à insegurança nesse aspecto. Atualmente as crianças começam a freqüentar a escola cada vez mais cedo e as escolas que recebem essas crianças acabam por assumir a educação básica desses pequeninos. Assim, neste novo contexto, torna-se necessário refletir sobre o desempenho e a função da escola. Para que a criança seja realmente beneficiada a família deve aliar-se à escola em prol de uma educação firme e equilibrada, mantendo o questionamento sobre como estabelecer regras e limites em relação à educação. “Os pais e educadores estão sempre se questionando sobre as regras. Devemos fazer regras em nossa casa, nas salas de aula ou em outro ambiente? Quais regras precisam ser estabelecidas? Como elas devem ser feitas? Quais os castigos que podem ser usados? E os que não devem ser aplicados? O que acontece quando não cumprimos as regras por nós estabelecidas? Adianta ameaçar? Podemos premiar o bom comportamento? Enfim, são muitas as questões que nos preocupam como educadores”. (Gomide, 2007, p. 13) É muito importante que pais e educadores tenham clara a necessidade de se estabelecer regras na relação com os filhos e alunos. As regras e os limites são criados, principalmente, para permitir que a convivência entre as pessoas se dê de maneira adequada. Porém, é fundamental compreender que determinados tipos de reações que são característicos do desenvolvimento da criança. Atitudes que, muitas vezes, podem se caracterizar como teimosia ou desafio, são apenas sinais do 26 desenvolvimento infantil. Ter conhecimento desses aspectos ajudam pais e educadores a se posicionarem frente aos limites e às regras a serem trabalhados. Tão importante quando compreender algumas reações das crianças, é saber distinguir a diferença entre necessidade e desejos. As necessidades estão relacionadas a tudo o que é importante para a sua vida humana, visando a saúde física e mental e ao bem-estar, como comer quando sentimos fome, beber quando temos sede, etc. O desejo está relacionado às vontades da criança, como comer apenas batata frita ou brincar no aparelho de TV. A partir dessa compreensão, os pais devem atender todas as necessidades dos filhos e, quanto aos desejos, devem ser bem analisados e realizados apenas quando favoreçam o bom desenvolvimento da criança, sendo uma boa oportunidade de estabelecer e exercitar a aceitação de limites. “Há ainda situações em que você simplesmente deve interferir, porque deixar determinados desejos serem realizados pode acabar sendo um desserviço ao seu filho. Para ser feliz, nenhuma criança de 2 ou 3 anos precisa brincar com o aparelho de som, que certamente irá destruir. Brincar, sim, é uma necessidade. Ter brinquedos, sucata, espaço para pular, correr, tudo isso está muito certo e adequado. E os pais devem zelar para que os filhos tenham essas necessidades atendidas. Mas brincar com qualquer coisa que a criança se sinta atraída – aí é desejo. E, como tal, os pais devem analisar e decidir se será útil ou prejudicial para a criança e para os demais membros da família”. (Zagury, 2000, p. 91) Quando falamos em estabelecer limites, é importante que sejam estabelecidas regras que as crianças possam cumprir. Portanto, essas regras não devem ser incoerentes, excessivas e difíceis, pois, quanto maior o grau de rigidez das regras, maior é a probabilidade de que sejam desrespeitadas e conseqüentemente, maior se torna a possibilidade dos pais e educadores permitirem seu descumprimento. E os fracassos no não cumprimento das regras sempre geram grande desapontamento, tanto nos pais e educadores como nos filhos e alunos. Se os pais e educadores estabelecem regras e ao mesmo tempo relaxam no cumprimento das mesmas estarão ensinando aos filhos e alunos o desrespeito às regras e à autoridade. Essa atitude acaba desenvolvendo nas crianças uma insegurança sobre o que é certo e que é errado. E, se não aprendem a respeitar os professores, os pais, as instituições, as pessoas, essas crianças podem, futuramente, desenvolver um comportamento anti-social de maior gravidade. “Como os pais dos alunos, os professores pertencem à geração do ´é proibido proibir`. Têm dificuldade para estabelecer limites e deixam crianças 27 e adolescentes extremamente à vontade para fazer o que quiserem. Quando não conseguem mais agüentar, apelam para a saída autoritária: “Agora chega”. A falta de regras claras por parte da escola favorece o abuso dos alunos em proveito próprio e acaba expondo pessoalmente o professor. Se um deixa e outro não, cria-se uma situação altamente desconfortável. Se é permissivo com um aluno, dever ser com todos”. (Tiba, 1998, p. 119) Muitos pais e educadores se perguntam como punir a criança quando esta desobedece ou tem um comportamento inadequado. É importante que os adultos compreendam que ameaças, agressões verbais e físicas, castigos que privam a criança das necessidades básicas ou castigos longos e incoerentes acabam por se tornar ineficientes. O aconselhável é que os pais privem por um período de tempo a criança de um lazer (jogar futebol), ou de ver televisão (desenho favorito), pois o que deve ser punido é o mau comportamento e não a criança em si. É importante que os pais repreendam e utilizem a punição como uma forma educativa, sem demonstrar raiva ou ira; a criança deve entender o porquê de estar sendo punida e privada de algo que gosta. “Se ao aplicarmos um castigo usamos frases como ´você vai ficar no quarto porque não quero ver a sua cara, odeio você, você só faz coisas erradas, preferia que não tivesse nascido`, os pais não estão tentando corrigir o comportamento indesejado e sim estão despejando seu ódio sobre o filho. O filho recebe o ódio e não sabe o que fazer para atender ás expectativas dos pais. Todo ele está errado. Como mudar?”. (Gomide, 2001, p. 21) É comum que as crianças demonstrem um comportamento agressivo quando são sinalizadas pelo adulto que tenta corrigir um mau comportamento. Porém, é muito importante que nessas situações os pais e educadores mantenham calma e firmeza e não demonstrem insegurança ou medo ao repreender o mau ato, pois se a criança perceber que pode mobilizar o adulto com esse comportamento agressivo, passará a usá-lo com qualquer pessoa, em qualquer situação. O dialogo é extremamente importante em qualquer relação, principalmente entre pais e filhos ou entre alunos e professores, e é certo que muitas situações podem e devem ser discutidas democraticamente. Apesar disso, é preciso manter-se a consciência de que há situações e decisões que devem ser tomadas pelo adulto, real responsável pelo bem-estar da criança. Conversar, explicar e esclarecer fatos e atitudes são tão fundamentais para o entendimento da criança quanto a certeza de que o controle e a decisão de determinadas situações pertencem, exclusivamente, ao adulto. “Se pegássemos todo o dinheiro de uma empresa e o jogássemos no lixo, estaríamos cometendo um grave crime contra ela. Ela iria à falência. Será 28 que não temos cometido este crime contra a mais fascinante empresa social – a família –, cuja única moeda é o dialogo? Se destruirmos o diálogo, como se sustentará a relação “pais e filhos?” Ela irá á falência. Devemos adquirir o hábito de nos reunir pelo menos semanalmente com nossos filhos, para dialogar com eles. Devemos dar-lhes liberdade para que possam falar de si mesmos, das suas inquietações e das dificuldades de relacionamento com os irmãos e conosco, seus pais. Vocês não imaginam o que essas reuniões podem provocar. (Cury, 2003, p. 43) 3.1. A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO FAMILIA-ESCOLA Diante do mundo moderno e globalizado em que vivemos, educar tornou-se uma tarefa difícil e desafiadora. As famílias pedem socorro aos especialistas, pois estão perdidas e não sabem que direção tomar diante de tantos problemas. Por sua vez, a escola também não consegue resolver todos estes problemas sozinha. Afinal, a quem cabe a tarefa de educar? A verdade é que, nesse troca-troca de dúvidas e questionamentos, nenhum dos lados pode assumir a total responsabilidade pela difícil tarefa que é a educação. Portanto, somente uma franca parceria entre família e escola aponta a direção de uma solução para esta questão. “Não adianta a escola atribuir a educação de seus alunos aos respectivos pais nem os pais exigirem da escola tal função. A situação atual é conflitante e temos de ajudar a resolvê-la, para o benefício de uma geração, pois a educação virou uma batata quente que ninguém quer segurar”. (Tiba, 1998, p. 15) A interação entre família e escola surge como uma nova perspectiva que busca favorecer e mobilizar seus integrantes em direção a ações que sejam positivas na solução dos desafios educativos. Nessa perspectiva a escola deve criar algo que vá além de um espaço novo, que apenas trate de questões familiares ou escolares, um espaço onde reflexões, debates, estudos e propostas de ação possam servir de base para o desenvolvimento social. “A definição clara e cristalina de canais de algumas regras disciplinares, lúcidas e coerentes, estabelecidos democraticamente entre diretores, professores e alunos. O estabelecimento de canais límpidos de comunicação entre os alunos, diretores, pais, orientadores e professores. Esses canais não poderiam ser anarquicamente instituídos, mas normatizados, mostrando a todos como e em quais momentos o dialogo é necessário e a critica é imprescindível. Criação urgente de centrais de atendimento “non stop” para ajudar a alunos com dificuldades cognitivas ou emocionais, a pais que precisam de orientação e acompanhamento, a professores e outros profissionais que existem ombros nos quais o apoio jamais é negado. A implantação progressiva de Núcleos de Apoio Pedagógico e a organização de uma Comissão Permanente (e independente) de Avaliação Institucional, para atuarem como “uma escola 29 dentro da escola” antecipando caminhos, prevendo desastres, sugerindo salvamento, se adiantando na antecipação de males evitáveis”. (Antunes, 2007, p. 21) A família é o primeiro grupo social com o qual o individuo convive e seus membros são exemplos para a vida. No aspecto educacional, a família que demonstra interesse em relação ao que acontece na sala de aula e na escola, reforça a importância ao que está sendo aprendido. Cabe aos educadores fazer com que a família perceba o quanto a parceria família-escola é importante e benéfica à criança. A escola deve acolher a família, buscando-a não apenas para reuniões que visem falar e resolver problemas, mas também estimulando-a a participar de encontros de integração, que façam com que todos membros da família percebam a importância o trabalho realizado em conjunto na escola. Já que tanto a escola como a família têm em comum o mesmo desejo de fazer a criança se desenvolver em todos os aspectos e ter sucesso na aprendizagem, ambas não podem permanecer separadas, precisam e devem atuar em conjunto em prol da construção de um espaço democrático, com regras claras e conscientes, para que haja transformação de atitudes e crescimento pessoal e social neste espaço. “Ao participar, os pais sentem-se pertencentes à escola, passam a ter um envolvimento afetivo com ela. Sofrem quando algo não vai bem, comemoram as vitórias. Tomam parte não só na educação dos próprios filhos, mas também na dos filhos dos amigos. Uma das grandes lições que os pais passam aos filhos com sua participação é o interesse de pertencer a uma comunidade e ajudá-la. Assim, os pais também podem exercer seus direitos perante a escola. É um bom exercício para a cidadania”.(Tiba, 1998, p. 165) Para que a integração família-escola se dê de forma positiva e sólida, é primordial que, além da vontade real de ambas as partes que essa parceria dê certo, ocorram algumas mudanças no meio escolar como um todo, começando pela gestão escolar que responde pela instituição. Os gestores escolares são responsáveis em fornecer instrumentos para a criação de um projeto pedagógico que atenda as necessidades da comunidade, devendo envolver funcionários, professores, pais e alunos em sua elaboração. 30 CONCLUSÃO Nos últimos tempos a educação em sido um tema de constante discussão. Hoje, com as mudanças radicais na rotina de vida dos dias modernos e mergulhados em tantos problemas e teorias, continuamos nos questionando muito quando pensamos nesse tema. Aonde foi parar aquela educação de antigamente, “vindo do berço”, a educação adquirida na família, transmitida principalmente pelos pais? Em que momento se perdeu? O que precisa ser retomado? Percebemos, então, que a transmissão dessa educação se diluiu na modernidade dos anos, desmoronou quando as mulheres precisaram sair de casa para trabalhar fora, no corre-corre do dia-a-dia, nas longas jornadas de trabalho do pai, na culpa que os pais sentem com tanta ausência, na necessidade de recompensar a falta de tempo. No entanto, educar ainda é uma tarefa dos dias atuais, árdua, mas necessária. E, dentro das tantas lutas que pais e educadores travam diariamente, está a questão do limite. O limite é um desafio complicado e essencial para pais, educadores e para as próprias crianças. Porém, sua existência é primordial para a convivência social. Estabelecer limites é uma luta diária, longa e trabalhosa, que pais e educadores devem enfrentar com paciência e persistência, de forma consciente e clara, com a certeza de que estão agindo em prol do bem estar da criança e, dia após dia, transformando seus filhos em cidadãos responsáveis e conscientes de seus direitos e deveres. Na educação não existem regras nem receitas prontas. O grande segredo está no amor e na vontade de acertar. Equilíbrio, paciência, firmeza e exemplos no comportamento do próprio adulto também são essenciais. Educar e estabelecer limites será sempre possível, desde que não se perca a capacidade de, junto com eles, transmitir afeto. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ZAGURY, Tânia. Limites sem traumas. Ed. Record: 2000. 2. TIBA, Içami. Disciplina – Limites na medida certa. Ed. Gente: 1996. 3. TIBA, Içami. Ensinar aprendendo. Ed. Gente: 1998. 4. ANTUNES, Celso. Professor bonzinho = aluno difícil. Ed. Vozes. 5. GOMIDE, Paula. Pais presentes, Pais ausentes – Regras e Limites. Ed. Vozes: 2007. 6. AUGUSTO, Cury. Pais brilhantes, Professor fascinante. Ed. Sextante: 2003. 7. WEISS, Maria Lucia. Revista Construir Notícia, n° 17, 2004. Art. Indisciplina ou Problema de Aprendizagem. 8. Revista Construir Notícia, n° 17, 2004, Matéria “O Resgate”. 9. VASCONCELLOS, Celso. Revista Construir Notícia, n° 17, 2004. Art. Os Desafios da Indisciplina na Formação Docente. 10. http://www.minhavida.com.br denúncia preguiça dos pais). (SPADA, Patrícia, Art. Crianças mimada