GESTRA - Gestão de Trabalhos para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias. Volume 2, 2012.
ISSN 2176-8994
Comparações entre as visões sobre a escola na voz de alunos de escolas públicas e privadas - Dayane Alves Santos
Comparações entre as visões sobre a escola na
voz de alunos de escolas públicas e privadas
Dayane Alves Santos
Resumo
Este artigo se intitula Comparações entre as visões sobre a escola na voz de alunos de
escolas públicas e privadas. Considerando-se as concepções sobre a escola na voz de
alunos de escolas públicas e privadas, objetivamos descrever o andamento do projeto
de Tfouni (2011) “Discursos sobre escola nas vozes dos seus alunos’’. Através da coleta
de dados em dois colégios da cidade de Itabaina-SE, tentaremos desvelar os processos
discursivos que subjazem aos processos sintáticos. Para tanto, recorreremos ao referencial teórico-metodológico da Análise do Discurso de filiação francesa. Os resultados
ainda não serão apresentados, o que será feito na segunda etapa do trabalho.
Palavras-chave: Discurso. escola. aluno.
1. Introdução
O objetivo geral deste trabalho é pesquisar o discurso sobre a educação e a
escola, em alunos de escolas públicas e privadas da cidade de Itabaiana, discutindo
as representações desses estudantes sobre a escola em geral (a instituição escola em
abstrato), e também sobre a escola em que estudam (sua vivência concreta). Em face
dessa problemática, este plano se encaixa no projeto “Discursos sobre a escola nas vozes de seus alunos’’, desenvolvido pelo professor Fábio Elias Verdiani Tfouni (TFOUNI,
F. E. V. 2011), e busca pesquisar o discurso escolar gerando conhecimento científico
para possibilitar ações de incremento da qualidade da educação no Brasil.
O presente artigo visa relatar o que ocorreu durante esse último semestre de
2011 na execução deste trabalho. Inicialmente fizemos leituras referentes a teóricos
como: Orlandi, E. P. (2002); Tfouni, L. V. e Tfouni F. E. V. (2007); Paula, F. S. e Tfouni, L.
V. (2009); Pêcheux, M e Fuchs, C (1993) dentre outros teóricos, a fim de aprofundar os
conhecimentos na área de Análise do Discurso, que também servirão de base quando
iniciarmos as análises do corpus coletado. Em nossa pesquisa retomaremos um slogan
depreciativo sobre a escola, enunciado por alunos de escolas de Ribeirão Preto-SP:
Guião: ‘’Entra burro; sai ladrão’’ analisado por Tfouni e Tfouni (2007).
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No que se refere à metodologia, procuraremos nos embasar nos teóricos estudados, para a análise dos discursos dos alunos, que será levada a cabo como a análise
do corpus coletado. Não será possível apresentar resultados e discussões, visto que,
a coleta do corpus se deu em dezembro de 2011. Faremos, no entanto, algumas considerações a respeito da coleta de dados (discussão feita em sala de aula e produção de
textos dos alunos).
Observa-se que o foco da nossa pesquisa decorre da ideia de que, a escola pública é sinônimo de ruim e de fracasso; a privada, por sua vez, sinônimo de boa e de
sucesso. Essa observação é feita em Tfouni e Tfouni (2007) ao analisarem o slogan em
questão (Entra burro; sai ladrão).
Mesmo que o slogan em questão seja tratado como uma denúncia das más
condições da educação e da escola no Brasil, notamos que ele não questiona o poder
responsável por esse estado de coisa, sendo assim, dá-se a entender que a escola enquanto instituição possui vida própria, ou seja: ela seria ruim em essência e não como
resultado de um processo político. Sendo assim, percebe-se que devido a essa falsa
consciência, ocorre a naturalização, por parte da classe dominante, de que, a escola
particular é a melhor. Obviamente, essa concepção negativa de escola pública, que
circula o universo escolar, não surgiu do nada, certamente haverá uma razão para tal
formulação. Esse é o objetivo da Análise do Discurso: Buscar as condições históricas
da produção de enunciados, visto que para a AD, o discurso é produto da relação entre
a história e a língua (ORLANDI 2002).
O slogan será nosso ponto de partida, pois é a partir dele que abordaremos o
foco do nosso projeto. Esse ponto de partida é o que chamamos de superfície textual
ou corpus. O método da AD consiste em partir dessa superfície textual para que o analista realize um trabalho nela para chegar ao processo discursivo (PÊCHEUX e FUCHS,
1993). Assim, tendo em vista, o enunciado “Entra burro; sai ladrão’’, buscaremos tratar,
entre outros aspectos, os sentidos que ficam no nível do não dito, do não-formulado,
que retornam para o analista na forma de silenciamentos (ORLANDI 2002). Então, partindo desse pressuposto, examinaremos o que foi dito, mas também o que deixou de
ser dito, o que foi dito de uma forma e não de outra.
Diante dessas colocações, seguem-se as indagações que norteiam a nossa pesquisa: Será que haverá discordâncias, contradições nas posições discursivas que os
dois grupos ocuparão (alunos de escolas públicas e alunos de escolas privadas)? Qual
tipo de discursos esses alunos de ambas as escolas produzirão? Tais posições evidenciarão a formação discursiva a qual pertencem? A seguir comentaremos o suporte
teórico que sustenta a pesquisa.
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2. Análise do Discurso (AD)
A disciplina Análise do Discurso, por ser indiciária, não propõe categorias prévias
de análise, embora possua algumas categorias como: discurso, interdiscurso, formação
discursiva, etc. Essa disciplina busca, partindo do corpus, pistas (GINZBURG, 1991)
que apontem para o processo discursivo de que o corpus faz parte, considerando que
há um caminho da teoria ao corpus, e do corpus à teoria. Portanto, a teoria é testada
na análise do corpus e se dirige a novos rumos.
O fato de a AD não tratar do corpus de forma positivista ou empirista advém da
afirmação de que os dados não se esgotam e que o sentido não é transparente; sendo
assim, o corpus se presta sempre a novas descrições. Como diz Orlandi: “Uma vez
analisado, o objeto permanece para novas e novas abordagens. Ele não se esgota em
uma descrição. E isto não tem a ver com a objetividade da análise, mas com o fato de
que todo discurso é parte de um processo discursivo mais amplo...” (2002, p.64).
A AD trabalha com recortes de um processo discursivo que não se inicia nem
termina no corpus analisado. A construção do corpus e a análises estão ligados entre
si. Essa construção deve decorrer dos princípios teóricos utilizados e dos objetivos a
serem alcançados. Atualmente Orlandi (2002, p.63), considera que a melhor maneira
de atender a questão da constituição do corpus é construir montagens discursivas que
obedeçam a critérios que decorrem de princípios teóricos da AD, face aos objetivos da
análise que permitem chegar à sua compreensão.
Então, como já havia dito no início desse artigo o objetivo metodológico da AD é
o de desvelar os processos discursivos que subjazem aos processos sintáticos. Para
tanto, esses processos se iniciam por estabelecer, na estrutura sintática do enunciado,
lugares denominadas de “recortes”, que estariam aí indiciando um modo específico de
relacionamento com a ideologia. Por fim, o analista do discurso reúne o procedimento
de análise com a teoria da AD, de modo que o processo analítico esteja sempre dialogando e servindo para alimentar o outro.
3. Formação do corpus
O termo técnico corpus é utilizado pelas ciências da linguagem em geral para
designar o conjunto de enunciados que serão analisados. Na nossa pesquisa, analisaremos os discursos que circulam no imaginário social sobre a escola. Estruturaremos
o corpus a partir das produções escritas de alunos de escolas públicas e privadas de
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Itabaiana, onde eles comentarão o slogan: “entra burro; sai ladrão”.
4. Descrição das atividades
Durante o último semestre de 2011, discutimos alguns textos, juntamente com
o nosso orientador Fábio Elias Verdiani Tfouni. É importante ressaltar que no mês de
Março de 2011, fizemos algumas reuniões. Nesse mesmo mês foi decidido qual seria
o foco do nosso trabalho. A ideia inicial foi fazer uma pesquisa em uma escola pública,
abordando a questão do slogan. Posteriormente, sugerimos fazer a comparação dos
discursos na voz de alunos da rede pública com o da privada. No primeiro encontro,
discutimos como seriam feitas as reuniões. Além disso, foram selecionados os textos
com que iríamos trabalhar durante esse percurso.
No que concerne à pesquisa de campo, vejamos como essa atividade se desenvolveu. Inicialmente, pensamos nas escolas onde seria feita a pesquisa. Entramos em
consenso e decidimos escolher duas escolas da cidade de Itabaiana. A escola pública
foi o “Colégio Estadual Murilo Braga’’ e a particular o colégio “Alternativo’’.
Depois, foi feito um termo de concessão para os diretores de ambas as escolas,
solicitando a autorização da pesquisa no colégio. Embora ambos os diretores tenham
assinado o termo, a pesquisa só foi realizada por enquanto na escola pública, devido
à privada ter entrado em recesso. Portanto a pesquisa do colégio público foi realizada
no mês de Dezembro de 2011, enquanto que, a do colégio privado, está previsto para o
mês de março de 2012.
Em seguida foi elaborado um termo de consentimento para os pais dos alunos da
turma com a qual trabalharemos, para que autorizassem a pesquisa com seus filhos.
Após dois dias, recebemos os termos e iniciamos a pesquisa, juntamente com nosso
orientador. Apesar de alguns pais terem se recusado a assinar o termo de consentimento, houve um grande número de assinaturas. Vale ressaltar que usaremos apenas material coletado dos alunos autorizados por um dos pais ou responsável nesta pesquisa.
A coleta dos dados:
A dinâmica da coleta incluiu uma interação entre os alunos e pesquisadores a
partir do slogan: “Entra burro; sai ladrão’’ que foi escrito na lousa sem que fosse feito
qualquer comentário sobre ele. A partir daí começamos a questioná-los, perguntando:
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que possível lugar seria esse, de que fala o slogan? Quem entra burro? Quem sai ladrão? Após o debate com os alunos, partimos para a parte escrita. Pedimos para que
eles fizessem um texto de 10 a 15 linhas sobre o que eles achavam sobre escola em
geral e outro texto sobre a escola em que estudam. Além disso, pedimos para que colocassem, quais outros lugares o enunciado do slogan poderia representar. Essa última
parte foi uma pequena alteração feita no momento da pesquisa em relação ao projeto.
Esses textos constituem o corpus, que iremos analisar.
4. Resultados e discussões
Os resultados da pesquisa ainda não foram concluídos, pois ainda não fizemos
as análises.
Quanto à discussão feita em sala de aula, esta foi bastante interessante, pois
houve boa participação por parte dos alunos. Ao expormos o enunciado, de imediato
uma aluna respondeu que esse lugar era a escola. Daí ela explicou dizendo que já
havia escutado essa frase antes, em um colégio privado, no qual estudava, e que os
próprios alunos taxavam-se de burros e que sairiam dali ladrões. Observa-se nessa
colocação uma contradição, pois até então essa definição era dada a alunos de escola
pública.
Outra colocação interessante foi de outra aluna, afirmando que outro possível lugar seria o hospital, e explicou dizendo que a vítima seria o paciente, que, nesse caso,
entra doente e sai morto.
Outros alunos colocaram que essa situação assemelha-se também ao mundo da
política, pois muitos políticos são analfabetos, por isso dizer: “entra burro” e “sai ladrão”
porque, além de não saber administrar, são corruptos.
Por fim ao esclarecermos que o enunciado exposto estava dentro do contexto
escolar, alguns alunos se manifestaram, dizendo que a culpa está nos professores, pois
não existe motivação por parte destes. Entretanto, outros discordavam, alegando que
na escola pública existem professores com potencial, e que o sucesso advém da força
de vontade de cada aluno e não apenas do conjunto que compõe a escola (professores,
diretor, coordenador, etc).
5. Conclusões
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As conclusões ainda são preliminares, e envolvem uma avaliação das etapas que
foram percorridas até aqui. Nesse sentido, completamos a revisão bibliográfica básica
para a execução do trabalho e elaboramos resenhas críticas sobre essa bibliografia,
procurando relacioná-la ao objeto da nossa pesquisa.
Na segunda etapa desta pesquisa, coletaremos os documentos relacionados à
classe da escola privada, e, com o corpus já completado, daremos início à análise,
que, como propõe a AD, não se esgota apenas nos recortes efetuados no corpus, mas
supõe um constante retorno à teoria, o que implica uma necessidade de nova consulta
bibliográfica que será indicada pelo orientador.
Referências bibliográficas
ANGELUCCI, C. B, KALMUS, J. PAPARELLI, R., e PATTO, M. H. S. O estado da arte da
pesquisa sobre o fracasso escolar (1991-2002): um estudo introdutório. Educação e
pesquisa. 30,51-72. 2004.
GINZBURG, C. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. Em C. Ginzburg (Org.), Mitos,
emblemas e sinais. São Paulo: Cia. das Letras. 1991.
ORLANDI, E. P. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes.
4ª edição, 2002.
PAULA, F. S. e TFOUNI, L. V. A persistência do fracasso escolar: desigualdade e
ideologia. Revista. Brasileira de Orientação Profissional, vol.10, n.2, pp. 117-127.
2009.
PÊCHEUX, M.; FUCHS, C. A propósito da análise automática do discurso: atualização e
perspectiva. In: GADET, F.e HAT, T. (orgs.). Por uma análise automática do discurso:
Uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 2.ed. Campinas: Editora da Unicamp,
1993.
REBOUL. O. O slogan (Trad. De Ignácio Assis Silva) Editora Cultrix, São Paulo, SP. 1975.
TFOUNI, F. E. V. e TFOUNI, L. V. Entra burro sai ladrão: O imaginário sobre a escola
materializada nos genéricos. Linguagem em (dis)curso. Tubarão: Unisul. Vol. 7 No2.
2007.
TFOUNI, F. E. V. Discursos sobre a escola nas vozes de seus alunos. Projeto de Pesquisa.
Itabaiana: COPES/UFS. 2011.
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