UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE MARIA SALETE ALVES SANTOS TRAJETÓRIA SÓCIOPOLÍTICA DAS MULHERES INSERIDAS NA POLÍTICA PARTIDÁRIA EM ARAÇUAÍ - MG: conquistas e desafios Pólo Araçuaí - MG Julho -2012 MARIA SALETE ALVES SANTOS TRAJETÓRIA SÓCIOPOLÍTICA DAS MULHERES INSERIDAS NA POLÍTICA PARTIDÁRIA EM ARAÇUAÍ - MG: conquistas e desafios Monografia apresentada ao Programa de Educação para a Diversidade, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em Gestão de Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Raça. Orientadora: Alice Lino. Pólo Araçuaí – MG Julho - 2012 Dedico este trabalho: Aos meus pais, Isaura Alves e José Alves Santos, eternos educadores na escola da vida; ao Itallo D’Assis e Samyr D’Assis, meus filhos, pequenos gênios; ao Dionísio, meu esposo, pelo incentivo e apoio ao meu aperfeiçoamento profissional. Agradecemos: A Deus, presença materna e amorosa em minha vida; À Universidade Aberta do Brasil, a Universidade Federal de Ouro Preto, ao Instituto de Ciências Humanas e Sociais e ao Programa de Educação para a Diversidade, que num esforço conjunto nos proporcionou esta riqueza de formação e aprimoramento para nossa atuação profissional; Aos professores/as e organizadores/as do curso, aos/as tutores/as a distância que não mediram esforços em nos conduzir a reflexão, a critica e a (des) construção do pensamento sobre as questões de raça, gênero e orientação sexual em vista de um aprimoramento maior do conhecimento; À tutora presencial Maria Márcia de Mello e o tutor Pierry Augusto Gusmão de Meneses, que se fizeram presentes no Pólo Araçuaí para as orientações precisas sobre o curso; À tutora Alice Lino, nossa gratidão! Você é uma excelente tutora. A clareza de suas orientações, sua compreensão diante dos desafios e limitações da nossa vida diária, sua pedagogia em nos conduzir, o apoio e amizade foi uma âncora segura para a construção deste trabalho. Aos colegas: foram poucos os encontros presenciais, mas a conectividade nos fóruns nos proporcionou socializar a riqueza que existe em cada um/a de nós; À amiga Gilvania, com a qual partilhamos muito destes momentos de produção cientifica durante o curso. À Maria do Carmo Ferreira da Silva e Viviane Patrícia da Costa Prates, ambas deixaram contribuições inesquecíveis para o desenvolvimento de Araçuaí, como prefeita e vereadora, respectivamente. E, por fim, um agradecimento muito especial, às mulheres que aceitaram partilhar sua experiência, sua ousadia e persistência na participação da mulher nos partidos políticos. Este trabalho existe porque vocês acreditaram nesta proposta! Muito obrigada a todas! Foram muitas idas e vindas... E neste percurso muitas pessoas se fizeram presentes com palavras de incentivo, reflexões, com registros da história da política em Araçuaí, apoio e acolhimento desta investigação da TRAJETÓRIA SOCIOPOLITICO DAS MULHERES FILIADAS NOS PARTIDOS POLITICOS. A todas/os a minha gratidão! Traço de união Gonzaga Medeiros 1 Há que se tramar uma nova junta, há que se juntar os homens e as mulheres numa tropa só; há que se apertar os laços, há que se laçar os homens e as mulheres sem usar o nó. É preciso traçar o abraço, é preciso crescer o traço sem mais demora; carece juntar as pontas, carece tramar a união logo agora. Antes que se vá o sol, que se disperse a tropa e se apague o traço, que se destroce a junta e se desfaça o laço, cedo, sem fazer alarde, antes que tarde há que se dar o abraço. 1 “Gonzaga Medeiros é poeta e advogado. Nasceu em Fronteira dos Vales, vivendo a maior parte da sua vida em Almenara. Mora em BH. É um dos maiores poetas que o Vale já produziu”. MEDEIROS, Gonzaga. Traços de união. Disponível em: <http://blogdobanu.blogspot.com.br/2010/05/traco-de-uniao-por-gonzaga-medeiros.html >. Acesso em 07 de maio de 2012. SANTOS, Maria Salete Alves. Trajetória sóciopolítico das mulheres inseridas na política partidária em Araçuaí – MG: Conquistas e desafios. Mariana – MG. UFOP, 2012. (Monografia) RESUMO Por meio desta pesquisa, pretende-se conhecer a trajetória das mulheres filiadas nos partidos políticos no município de Araçuaí – MG. No presente texto, abordaremos os desafios encontrados por elas para o cumprimento da Lei das Cotas – Lei 9504/96 e as conquistas realizadas até o momento. Primeiramente, realizamos um resgate da presença da mulher na história do município, priorizando três campos de atuação: saúde, educação e assistência social, visto que consideramos que a participação em movimentos sociais contribui para a filiação das mulheres nos partidos políticos. Fomos, então, a campo para entrevistar 10 mulheres inseridas na política partidária do município. A partir do resultado da investigação em campo, percebemos que urge uma formação dos/as filiados/as para a superação da sub-representação da mulher no campo político. Por fim, para iluminar as nossas reflexões, entre outras referências bibliográficas, encontramos fundamentos, principalmente, nas contribuições de Lindolfo Ernesto Paixão, na linha da história do município; e em Marlise Matos e Iáris Ramalho, que contribuíram no discurso referente à formação e potencialização das mulheres na política partidária. Palavras-chaves: Política partidária; representatividade, poder eletivo, Araçuaí. mulheres filiadas; LISTA DE ABREVIATURAS CADÚnico – Cadastro Único. CAPS – Centro de Atenção Psicossocial. Cfemea - Centro Feminista para Estudos e Assessoria CISMEJE – Consórcio intermunicipal de Saúde do Médio Jequitinhonha. CPCD – Centro Popular de Cultura E Desenvolvimento. CREAS – Centro de Referencia Especializado da Assistência Social. IDH - Índice Desenvolvimento Humano. ONG’s – Organizações não Governamentais. PBF – Programa Bolsa Família. PC DO B – Partido Comunista do Brasil. PDT – Partido Democrático Trabalhista. PHS - Partido Humanista Da Solidariedade. PMDB – Partido Movimento Democrático Brasileiro. PP – Partido Progressista. PSDB – Partido Social Democrático Brasileiro. PT – Partido dos Trabalhadores. PUCMG – Pontífice Universidade Católica de Minas Gerais. PUCRS – Pontífice Universidade Católica do Rio Grande do Sul. SESAMAR – Serviço de Saúde Mental Em Araçuaí. TRE/ MG – Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais. TSE – Tribunal Superior Eleitoral. UBAM – Unidade Básica de Atendimento a Mulher. Sumário Introdução................................................................................................. 07 Capítulo I. Araçuaí - MG: cidade gestada nas entranhas da mulher...................................................................................................... 10 Capítulo II. Realidade sociopolítica e econômica do município de Araçuaí: desafios e possibilidades para as mulheres inseridas nos partidos políticos.................................................................................... 24 2.1 - Eleitorado municipal e suas representações políticas partidárias. .................................................................................................................. 30 Capítulo III. Elas estão chegando...: perfil das mulheres inseridas na política partidária em Araçuaí............................................................... 38 3.1 - Da vida privada para a vida pública: as conquistas e desafios das mulheres filiadas nos partidos políticos em Araçuaí................................ 43 3.2 – A mulher no poder eletivo em Araçuaí – possibilidades e limites.................................................................................................... .. 47 Conclusão................................................................................................. 52 Referencias Bibliográficas........................................................................ 55 Apêndice................................................................................................... 58 Introdução O nosso trabalho de conclusão de curso em Gestão de Políticas Públicas com ênfase em Gênero e Raça versou sobre a Trajetória sóciopolítico das mulheres filiadas nos partidos políticos em Araçuaí – MG: conquistas e desafios. A presença da mulher no campo da política partidária é, ainda, uma esfera que requer muita luta para que seja superada a desigualdade de gênero no poder eletivo. Atualmente, as mulheres é a minoria nas três esferas de poder: executivo, legislativo e judiciário. Com a criação da Secretaria de política para as mulheres e ações afirmativas que visam à superação das desigualdades sociais referentes à questão de gênero, na intervenção de campo, encontramos mulheres filiadas que sentem interpeladas a se organizarem e se potencializarem para concorrerem a um cargo eletivo no município. Antes de adentrarmos no campo da política partidária, num contato direto com as mulheres, foi fundamental delinear alguns objetivos que pudessem nortear a nossa investigação. Este momento exigiu atenção para a investigação do objeto escolhido. Conforme Minayo, “o marco teórico, a metodologia e a criatividade são ingredientes indispensáveis para a produção de novos conhecimentos sobre a dinâmica das relações sociais” 2. Dito isto, o objetivo da nossa proposta foi traçar o perfil das mulheres filiadas em partidos políticos no município de Araçuaí, buscando compreender sua trajetória social, as conquistas e os desafios enfrentados no espaço político partidário. Para isto, percorremos o caminho da investigação histórica, que precede a vida destas mulheres a fim de dar visibilidade à participação das mulheres no processo de desenvolvimento do município. 2 C.f. MINAYO,Maria Cecília de Souza.(Org) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 19ª ed, Petrópolis, Vozes, 1994, p. 07. 8 Realizamos uma busca nos arquivos existentes no município: Biblioteca Pública Municipal Cristina Moreira Alves, nos registros da Câmara Municipal dos Vereadores “Lair Paixão”, e sites afins, sobretudo, na Secretaria de Políticas para as Mulheres, bem como, o Centro Feminista para Estudos e Assessoria – Cfemea. O contato com os partidos políticos se formalizou através de correspondência por escrito, entregue nos endereços dos presidentes dos partidos políticos disponibilizados pelo sistema eletrônico, na página do Tribunal Regional Eleitoral. E como instrumento de investigação de campo utilizamos a entrevista semiaberta para obtenção de dados sobre a inserção das mulheres nos partidos políticos. No primeiro capítulo, abordaremos a importância do papel da mulher no desenvolvimento do município. Neste sentido, foi fundamental a contribuição do autor Lindolfo Ernesto Paixão, para nortear a linha do tempo da participação e contribuição das mulheres, sobretudo, no campo das políticas públicas da educação, da saúde e da assistência social. No segundo capítulo do nosso trabalho, há um panorama da realidade sóciopolítico e econômica do município de Araçuaí, que aponta os seus desafios e possibilidades para o desempenho de um trabalho representativo nos poderes eletivos. E para coroar todo este trabalho investigativo, trazemos no terceiro capítulo as contribuições das mulheres entrevistadas. A priori, queremos pontuar que não medimos esforços para inserir neste capitulo toda a riqueza obtida da experiência das mulheres no desafio de nos representar na política partidária. Contudo, consideramos que a complexidade do campo investigado e a grandeza da trajetória destas mulheres não se esgotam aqui. O caminho está aberto. Outros/as, certamente, poderão trilhar nesta perspectiva de fortalecer a luta e as conquistas destas mulheres. Neste delinear da trajetória das mulheres, o marco teórico a nos conduzir foi à contribuição das autoras Marlise Matos e Iáris Ramalho com a publicação “Mais mulheres no Poder, Contribuição à formação política das mulheres”, através da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. Esperamos que o nosso trabalho contribua para que nós mulheres possamos unir forças na luta pela ampliação dos espaços de poder, de maneira democrática, igualitária e, sobretudo, com relação cooperativa, propositiva e decisiva em vista do bem comum de todos/as cidadãos/ãs. 10 I. Araçuaí - MG: cidade gestada nas entranhas da mulher Ao nos propormos conhecer um pouco da trajetória das mulheres inseridas nos partidos políticos no município de Araçuaí, compreendemos que esta representatividade nos partidos vem escrever mais uma página importante na história do município que, sem sombra de dúvidas, é, profundamente, marcado por ações inovadoras de grandes mulheres ao longo do seu desenvolvimento sóciopolítico. Num olhar atento para a questão de gênero em Araçuaí, poderíamos, talvez, afirmar que ainda há um grande descompasso na relação entre mulheres e homens na participação política – compreendendo aqui, política no seu sentido mais amplo. Porém, num breve garimpar da história, ao resgatar a presença das mulheres precursoras das políticas sociais no município, percebe-se a presença significativa e propositiva delas no desenvolvimento de Araçuaí. Neste contexto, temos ainda que destacar a coragem e ousadia destas mulheres, que, no passado, enfrentaram posturas extremamente machistas, o regime da ditadura, entre outros desafios da sua época. Contudo, seus exemplos são como “luzes” a iluminar o presente, impulsionando as mulheres filiadas a disputar um cargo eletivo no município. Sobre esse assunto Marlise Matos e Iáris Ramalho afirmam que: As mulheres tendem a trazer de modo significativo as suas experiências e conhecimentos para apoiar suas decisões políticas, elas trazem aquilo que a literatura cunhou como uma “perspectiva” diferenciada. Embora mudanças importantes tenham ocorrido ao longo das últimas décadas, na maioria dos países, as mulheres ainda arcam com as principais responsabilidades em relação aos cuidados com a família e do domicílio, incluindo marido, crianças e idosos. Isto marca, portanto, a construção de muitas trajetórias de mulheres na política3. 3 MATOS, Marlise; CORTÊS, Iáris Ramalho. Mais Mulheres no Poder: Contribuição à Formação Políticas das Mulheres. Brasília, Presidência da República, Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010, p.. 44. 11 Neste ano em que Araçuaí completa seus 141 anos de existência, esperamos que este trabalho possa abrir espaço para uma investigação da luta e presença da mulher no percurso da vida política da cidade, gestando a história do município pelas suas ações transformadoras da sociedade. Pensar nesta cidade, nos vários ângulos da democracia, em especial, na participação feminina no campo da política eletiva, é acreditar e apostar na esperança de ver suas meninas/mulheres vislumbrar novos horizontes nas relações sociais e políticas. Garimpando um pouco a história de Araçuaí, queremos neste capítulo ressaltar a participação da mulher em setores de fundamental importância para o desenvolvimento da cidade, desde a sua fundação e emancipação até os dias atuais. Compreendemos que a administração pública se dá na harmonia das políticas públicas, por isso, dentro da nossa proposta investigativa, destacaremos os setores da saúde, educação e assistência social, como campo marcado, primordialmente, pela presença da mulher. Este tripé, que são políticas públicas, se bem geridas, marcam, determinantemente, o desenvolvimento do município, bem como, potencializa o ser humano para o exercício da cidadania. Essa situação reflete a mesma encontrada por Marlise Matos e Iáris Ramalho, quando constatam a importância da mulher nas instâncias políticas. A presença de maior número de mulheres nos espaços de poder pode significar uma melhoria nos padrões e comportamentos parlamentares e, até mesmo, criar estruturas parlamentares que sejam mais atentas às questões de gênero. Com maiores porcentagens de representação feminina, o respeito e reconhecimento político-social pelas mulheres políticas e não-políticas também aumentaria4. É neste campo, que iremos encontrar as mulheres que, muitas vezes, no anonimato da sua profissão ou no serviço à sociedade dão sua 4 MATOS, Marlise; CORTÊS, Iáris Ramalho. Mais Mulheres no Poder: Contribuição à Formação Políticas das Mulheres. Brasília, Presidência da República, Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010. p. 49. 12 contribuição para a potencialização e empoderamento de homens e mulheres na vida pública. Sem nos adentrarmos em todas as particularidades que compõem a política de saúde, educação e assistência social, mas para compreendermos a importância de referenciá-las neste contexto da inserção da mulher na vida pública partidária, trazemos alguns pontos que consideramos relevantes nesta relação. Primeiro, podemos considerá-las como um pano de fundo na trajetória atual das mulheres filiadas nos partidos políticos. Parafraseando Milton Nascimento, quando em sua canção nos diz: “(...) foi assim que muita gente pôs o pé na profissão” 5, também, foi através do exercício profissional nas políticas públicas que muitas mulheres sentiram-se motivadas a ingressarem na política partidária, com propósitos de contribuir com a melhoria das mesmas. Outro fator marcante neste tripé das políticas acima citadas é a presença relevante da mulher. Poderíamos dizer que esta presença se dá em via dupla. Isto é, elas estão presentes na execução da política, assim como são usuárias dos serviços, programas e ações oferecidas no município. E atualmente, de forma primordial, a política de saúde, educação e assistência social tem merecido uma atenção especial das três esferas governamentais, desde recurso financeiro, bem como ações e projetos que incluem as minorias, melhorem o índice de desenvolvimento humano (IDH) da população e, sobretudo, políticas afirmativas no âmbito de gênero, raça e orientação sexual 6. Neste contexto, trazer à tona a participação das mulheres nestas políticas, dentro do tempo histórico de cada uma, possibilita-nos perceber os desafios e conquistas postos às atuais mulheres trabalhadoras e também às usuárias destas políticas. Sem deixar de ressaltar que, este campo é fértil, sobretudo, para aquelas que se filiam nos partidos, visando 5 NASCIMENTO.Milton. Nos bailes da vida. Disponível em: < http ://letras. terra.com .br/ milton-nascimento/47438/ >. Acesso em 22 de maio de 2012. 6 C.f HEITBORN, Maria luiza; et all. (Org); Gestão de Políticas Publica em Gênero e Raça – Modulo V. Rio de Janeiro. CEPESC; Brasília: Secretaria de Política para as Mulheres, 2011, p. 77-80. 13 à disputa do poder político para pôr em prática seu ideal de transformação e desenvolvimento do município7. Ao retroceder na história, podemos imaginar geograficamente que a fundação do município, situado numa região de terras férteis para o cultivo agrícola, a criação de gado, e em um subsolo que esconde uma grande diversidade de minerais preciosos, poderia ser atribuída aos corajosos bandeirantes da época ou aos desbravadores das matas em busca das riquezas naturais. Contudo, a passagem de um grande historiador francês registra com muita nitidez sua percepção sobre os acontecimentos no entorno do rio Araçuaí, a saber, aglomeração de canoeiros que, mais tarde, se tornaria a pequena cidade pólo do vale do Jequitinhonha. Na obra do Lindolfo Ernesto Paixão, encontramos o registro das observações do francês Auguste de Saint-Hilaire, naturalista, que percorrera várias províncias do Brasil, nos idos de 1816, e que passara pelas terras de Araçuaí, na casa de Luciana Teixeira, mulher hospitaleira e destemida. Pousei na casa de Boa Vista, talvez a mais agradavelmente situada de todas as que até este momento vira. É construída sobre o cume de uma colina isolada em baixo da qual deslizam com lentidão as águas límpidas do Araçuaí, rio mais ou menos da largura do Loiret. (...) Boa Vista era a residência de uma velha mulata chamada Luciana Teixeira. Tendo sabido que eu viajava com passaporte do governo, essa boa mulher cumulou-me de atenções, e, pondo-se quase de joelhos, quis abraçar-me as coxas, compreende-se bem que recusei semelhante polidez 8. É deste encontro marcado pela hospitalidade de Luciana Teixeira, sobretudo, para com os canoeiros que tinham o calhau como o entreposto comercial e, posteriormente, pelas atividades ligadas à agropecuária e à mineração, que a região foi se ocupando espontaneamente. 7 C.f. MATOS, Marlise; CORTÊS, Iáris Ramalho. Mais Mulheres no Poder: Contribuição à Formação Políticas das Mulheres. Brasília. Presidência da República, Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010, pág. 69. 8 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas Províncias de Rio de Janeiro e Minas Gerais. In: PAIXÃO, Lindolfo Ernesto. Araçuaí, ano 1950 – Historia de um menino da Rua de Baixo, São Paulo, SGuerra Design, 2004, p. 23 e 24. 14 A partir de 1817, Luciana Teixeira percebeu que aquele aglomerado se tornaria um povoado, uma cidade. Ela decidiu, então, lotear os arredores do rio Araçuaí. No principio, o povoado passou a se chamar “Calhau" devido a grande quantidade de pedras redondas existentes. Com o tempo o local foi ganhando importância. Foi elevado a categoria de sede de Distrito pela Lei Provincial de 13 de julho de 1857. A instalação sob a denominação de Vila de Arassuay deu-se em 1º de julho de 1871, para finalmente a 21 de setembro de 1871 ser elevada a categoria de cidade, por força da lei nº 1870, com o nome de Araçuaí. Tal nome é de origem indígena, e quer dizer Rio das Araras Grandes9. Emancipado em 1871, o município de Araçuaí está localizado no Nordeste de Minas Gerais, no Médio Jequitinhonha, a uma distância de 678 km de Belo Horizonte e com uma área de 2.336 km². É um município de grande extensão rural, com cerca de 70 Comunidades. Vale ressaltar que as comunidades rurais se organizam através de Associações Comunitárias para dirimir os problemas da vida social e buscar recursos para o desenvolvimento das mesmas. Araçuaí se limita ao Norte com município de Coronel Murta, ao Sul com o município de Novo Cruzeiro, ao Oeste com o município de Virgem da Lapa e ao Leste com o Município de Caraí. Sua população, conforme censo de 2000 é, aproximadamente, de 35.713 mil habitantes 10. Como podemos perceber ao longo da história brasileira, a mulher sempre ficou na retaguarda, ocupada com os afazeres domésticos. A elas não pertenciam o espaço público. No caso de Luciana Teixeira, ao se ousar romper uma postura machista no final do século XIX, pouco lhe restou de reconhecimento na emancipação e desenvolvimento do município. 9 Prefeitura Municipal de Araçuaí – MG. História de Araçuaí. Disponível em: < http :// www.aracuai.mg.gov.br/historia/>. Acesso em 12 de abril de 2012. 10 MOREIRA, Apolinário. Araçuaí – Minas Gerais – Brasil. Disponível em:<http: //www. diario dojequi.com.br/index.php?news=380>. Acesso em 24 de maio de 2012. 15 Vivia-se um ano qualquer, entre 1830 e 1840, quando foi fundada Araçuaí, sob o nome de Freguesia do Calhau. Não se sabe se Luciana Teixeira (“uma velha mulata” como disse Saint-Hilaire em 1817) ainda estava lá ou mesmo se estava viva. Mas o fato é que ela foi eleita, e reeleita várias vezes, a fundadora de Araçuaí. Para aqueles que contestam esta hipótese apenas, talvez, a primeira habitante do local. Pelo sim, pelo não, Luciana já teve sua vida questionada como se uma subversiva fosse e nada se provou contra ela. E pouco a favor. Só o depoimento favorável de Saint-Hilaire que mostra Luciana como uma mulher bem disposta, lutando pela vida, ajudando as pessoas independentemente de suas origens. Uma mulher de idéias e ações avançadas para a época. De toda forma, há muito pouco registro para se prover informações confiáveis sobre aquele período 11. Hoje, no município, vamos encontrar uma pequena rua sem saneamento básico de casas populares que leva o seu nome. De todo modo, a história registra também o motivo da invisibilidade de Luciana Teixeira para a vida sóciopolítico do município, a saber, duvida da sua índole. A este respeito, o que se percebe são indícios de preconceitos da época, que permanecem até os dias atuais,devido o fato dela ter acolhido as mulheres expulsas pelo padre Carlos. Esta atitude deixou marcas ao longo dos anos, o que ainda circula no imaginário da sociedade sobre o “tipo” de mulher que era a Luciana Teixeira. Já no século XIX, o padre Carlos Pereira de Moura havia fundado na confluência dos rios Araçuaí e Jequitinhonha a Aldeia do Pontal - local aprazível onde aportavam as canoas que permutavam mercadorias vindas da Bahia, como as daquela região de Minas. Onde há canoeiros, há mulheres, bebidas alcoólicas e muita farra. Isso o Padre Carlos não aceitava em sua aldeia, muito menos na futura cidade que planejava fundar, o que fez, então? Expulsou dali todas as meretrizes que, desorientadas emigraram rio Araçuaí acima, achando abrigo na Fazenda Boa Vista, de Luciana Teixeira. Essa boa senhora cedeu suas terras, à margem direita do Ribeirão Calhau e do rio Araçuaí, às emigrantes que se alojaram12. 11 PAIXÃO, Lindolfo Ernesto. Araçuaí, ano 1950. História de um menino da Rua de Baixo. São Paulo, Sguerra Design, 2004, p. 29. 12 Prefeitura Municipal de Araçuaí – MG. .História de Araçuaí. Disponível em:<http :// www.aracuai.mg.gov.br/historia/>. Acesso em 12 de abril de 2012. 16 Mas, por outro lado, podemos registrar que outras mulheres vieram fazer jus a esta grande causa da Luciana Teixeira, quer dizer, marcar a identidade do município pelo gesto do acolhimento. A sua postura de acolher as mulheres expulsas da aldeia foi objeto de crítica pelos padrões estabelecidos da sua época, porém, temos que ressaltar que, para os dias atuais, sobretudo, nas políticas públicas, é necessário termos esta sensibilidade por aqueles que se encontram vulneráveis. Neste sentido, recorrer a Luciana Teixeira, considerada fundadora do município é também tê-la como referência de valores sociais para nossas ações políticas. A seguir, veremos que as mulheres que precederam Luciana Teixeira foram propositivas e inovadoras dentro do contexto social vivenciado por elas. Há de se observar a hospitalidade e coragem das mulheres do Vale de Araçuaí, seja no encontro com o outro/a, na concretude de sua profissão ou no serviço prestado à sociedade. Mesmo que o fio condutor da história não registre com maior ênfase esta presença feminina, podemos encontrar nas conversas e também “garimpando as páginas” do desenvolvimento do município, mulheres que desbravaram não apenas geograficamente estas terras, mas souberam dar o melhor de si para a harmonização da igualdade de direitos entre o homem e a mulher. Destacando algumas destas mulheres, queremos fazer jus a todas as mulheres do Vale do Jequitinhonha, que continuam participando da vida sóciopolítico desta região. Muitas ainda no anonimato da vida, outras não reconhecidas pela sociedade como tanto merecem. Trazemos aqui, a participação da mulher em três esferas políticas: a educação, a assistência social e a saúde. Na verdade, muitas destas mulheres atuaram na sociedade araçuaiense bem antes de termos em nosso país uma estrutura política de direitos assegurados nestas três esferas, como tem hoje, a partir da Constituição de 1988. Elas atuaram dentro de uma organização cultural marcada pelas benesses do governo e das ações de caridade religiosa para a população pobre e marginalizada através das Instituições filantrópicas, na sua maioria, ligadas a Igreja católica. 17 Em 1894, o município tem o seu primeiro hospital. Pensar na saúde, no final do século XIX, é reavivar a presença da mulher nesta laboriosa e importante missão do cuidado para com os enfermos. Não temos muitos registros deste período, mas, na atualidade, o Hospital São Vicente de Paula tem nos seus registros ilustres trabalhadoras que muitas vezes passaram a noite em vigília na recuperação dos doentes. Entre elas, destacamos a árdua tarefa das enfermeiras, aqui representadas pela Madre Lucia e Irmã Inês, que atuaram tanto na enfermagem quanto na Direção do Hospital. Também temos as muitas mulheres parteiras, rezadeiras que, nos mais longínquos recantos do Vale, contribuíram para a vida desabrochar. Em Araçuaí, Luiza Ramalho, mais conhecida como Sá Luiza, é um grande exemplo de mulher que, nas suas orações, aliviou muita gente das suas dores. No segundo dia, fomos acompanhar as gravações do vídeo sobre Sá Luiza, uma benzedeira que viveu em Araçuaí até o final do século passado, muito querida pelos moradores da cidade. Sá Luiza faleceu com 106 anos. (...) foi uma famosa benzedeira da cidade de Araçuaí. Conhecida por sua enorme generosidade e fé, muitas pessoas frequentavam sua casa e a procuravam buscando sua ajuda e suas orações. Hoje, depois de seu falecimento, essa crença continua viva na memória daqueles que por ali passaram e na história da cidade13. Atualmente, mesmo com o acesso ao Sistema Único da SaúdeSUS, a população procura as rezadeiras, parteiras e benzedeira do município. No relato do Projeto Ser Criança, podemos perceber que estas mulheres são consideradas as grandes mestras da vida, do acolhimento e cuidado para com as pessoas que as procuram. Em visita à casa de Dona Generina, no bairro São Geraldo, descobrimos um mundo novo, repleto de conhecimentos e aprendizados. Dona Generina é conhecida como uma das mais importantes parteiras e benzedeiras da região e suas histórias são emocionantes. Antes de irmos embora, ela nos reuniu em frente ao oratório de sua casa e nos ensinou uma emocionante oração. Dona Emilia, 87 anos, é moradora 13 SIMÕES, Raphaela. Diário de Viagem – Araçuaí: Cidades Invisíveis. Belo Horizonte., 2009.Disponível em:< http://www.cidadesinvisiveis.org. br/index.php? option=com _wpmu &Itemid=8 > Acesso em 20 de Maio de 2012. 18 do bairro Santa Tereza, Benzedeira serena e acolhedora, Dona Emília demonstra seu afeto por todos. Ela reza e acredita que foi chamada por Deus para ajudar a orar pelos necessitados. Com ela, aprendemos várias receitas caseiras contra gripes e tosses, dor de barriga, disenteria, ferimentos, pressão alta e caxumba14. A fim de ilustrarmos a atual realidade da participação da mulher na política da saúde, obtivemos dados significativos junto ao Departamento de Recurso Humano do município. Atualmente, a Secretaria Municipal de Saúde tem no seu quadro 226 funcionários. Destes, são 158 funcionárias, que representam 70% dos/das trabalhadores/as 15. A segunda esfera fundamental para o desenvolvimento da sociedade refere- se a educação. Em Araçuaí, o registro histórico que temos de uma Escola formal, aberta para a comunidade, deve-se ao Grupo Escolar Manoel Fulgêncio, fundado em 1907. Neste, atuou uma grande mulher. Sua educação foi pautada na rigorosidade militar. Dona Ofélia Fulgêncio por quatro décadas esteve à frente deste educandário. Muitos/as homens/mulheres têm uma ou outra história para contar desta relação de educando/educadora. Mas, todos/as são gratos/as pelo que aprenderam no “Grupão”, como é mais conhecida a Escola. Ofélia Fulgêncio Martins, ex-diretora da Escola Manoel Fulgêncio. Filha de uma das mais tradicionais famílias da região, dona Ofélia, como era carinhosamente conhecida, dirigiu com mãos de ferro por mais de 4 décadas o famoso educandário Manoel Fulgêncio. Foi também professora de didática do Colégio Manoel Fulgêncio. (...) “Era uma mulher culta, digna, sábia". (...) Neta do Coronel Manoel Fulgêncio, segundo prefeito de Araçuaí, Ofélia 14 Fonte: Projeto Ser Criança – Araçuaí – MG. Relatório Técnico. \jul a set 2011. Disponível em:<http://pt.scribd.com/doc/83959579/2011-Relatorio-Tecnico-Ser-CriancaAracuai-jul-a-set> Acesso em 18 de abril de 2012. 15 Dados obtidos junto ao Departamento de Recurso Humano da Prefeitura Municipal de Araçuaí – MG, em 27 de março de 2012. Conforme informações do Departamento, este quadro funcional sofre alterações constantes. Isto, devido ao número significativo de funcionários/as contratadas. 19 Fulgêncio era filha do dentista Belizário Fulgêncio e Maria Augusta Martins Fulgêncio16. Também de grande relevância para o município de Araçuaí, até os dias atuais, é o Educandário do Colégio Nazareth. Em estilo de internato, o Colégio Nazareth teve a missão de educar as meninas da região do Vale do Jequitinhonha. Muitas destas se inseriram nas escolas do município como professoras, deixando, assim, a sua contribuição na formação dos/as cidadãos/ãs. Entre outros aspectos relevantes, a presença da mulher está na administração e direção do Colégio. Em 1926, superando os limites culturais e da língua, as religiosas holandesas aqui chegaram com a missão de educar a juventude. As primeiras religiosas a pisarem em terras brasileiras foram: Irmã Aquilina, Irmã Amália, Irmã Boa Vida, Irmã Guilhermina, Irmã Angélica e Beatriz. Em 1925, no ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, Sua Excia. Dom Serafim Gomes Jardim, Bispo da Diocese de Araçuaí (MG), Brasil, (...) foi pessoalmente a Oirschot (Holanda), a fim de pedir Irmãs para a educação feminina de sua cidade. No dia 01 de março de 1927, abriu as Irmãs um pequeno internato com dezenove alunas. O número de externas subiu até sessenta e, desta data em diante, o Colégio funcionou com mais ou menos oitenta alunas, divididas em cinco classes, isto é, quatro do primário e uma do ensino secundário. Além das irmãs, trabalhavam duas professoras leigas na educação da juventude. No decorrer do ano, o Colégio funcionou ajudado pelo Governo, fornecendo carteiras e a cidade cooperou com um conto de réis17. Atualmente, na gestão municipal, temos na Secretaria Municipal de Educação, aproximadamente, 408 trabalhadores/as. Dentre este total, 78,43 % são mulheres, o que determina um total de 320 mulheres aproximadamente18. 16 VASCONCELOS, Sergio. Morre em Araçuaí, Ofélia Fulgêncio, ex-diretora do Grupão. Disponível em:>ehttp://www.gazetadearacuai.com.br/noticia/86/morre_em_aracuai__ ofelia_fulgencio__ex-diretora_do_grupao/. Acesso 18 de abril de 2012. 17 BOTELHO, Valéria. Pequena História das Irmãs Franciscanas Penitentes Recoletinas no Brasil. 2ª Ed. Belo Horizonte, Santa Cruz, 2007, p. 8 e 21. 18 Informações obtidas no Departamento de Recurso Humano da Prefeitura Municipal de Araçuaí – MG. 27 de Março de 2012. 20 No eixo da assistência social, em meado do século XX (1967), em pleno período da ditadura, a Irmã holandesa Pacifique Degen sensibilizou-se com a situação dos abandonados e mendigos de Araçuaí. Por meio de conversas populares, sabemos que este foi um período onde a administração pública utilizava dos meios de transporte público para retirar do município aqueles que incomodavam a sociedade. Os loucos, mendigos e pobres eram transportados e deixados ao longo das BRs, sobretudo, na Rio – Bahia. Contudo, nos moldes da época, Irmã Pacifique, juntamente com a Igreja Católica, adquiriram um terreno bem mais afastado do centro da cidade, onde construíram a Ação Social Santo Antônio. Nos registros da Irmã Valéria, vamos encontrar como se deu esta decisão. Irmã Pacifique chegou a Araçuaí em 1967, para trabalhar no Colégio Nazareth. Logo, ela se compadeceu dos idosos e mendigos abandonados na rua. Procurou ajuda e abrigo para essa gente. O resultado é que se desligou do Colégio Nazareth, dedicando-se totalmente àquilo que foi o inicio desta obra social19. Como o município de Araçuaí é fortemente marcado pelas benesses e pelos currais eleitoreiros, muitas mulheres estiveram remando contra esta maré, a partir da década 70 do século XX. Merece destaque, entre outras, a paulistana, assistente social, Maria Helena Cardoso, mulher de garra, coragem e determinação. Ela superou os flagelos das enchentes em 1979, participou da administração da primeira mulher no poder executivo do município e continua presente no apoio e articulação das bases comunitárias através das Associações Comunitárias. Hoje, a política de assistência social conta com 54 trabalhadoras/es, sendo que 77,8 % são mulheres, ou seja, 42 funcionárias atuam na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social 20. Já na aurora do século XXI, a presença da mulher se fez marcante. Emanada deste chão, a advogada e assistente social Maria do 19 BOTELHO, Valéria. Pequena História das Irmãs Franciscanas Penitentes Recoletinas no Brasil. 2ª Ed. Belo Horizonte, Santa Cruz, 2007, p. 64. 20 Informações obtidas no Departamento de Recurso Humano da Prefeitura Municipal de Araçuaí-MG. Em 27 de março de 2012. 21 Carmo Ferreira da Silva esteve à frente da administração pública do município (1997- 2004). Estes foram anos marcados por conquistas e desafios, sobretudo, no enfrentamento dos preconceitos por ser mulher e negra. Dois eixos importantes da sua administração, voltados para as políticas afirmativas, concretizaram-se na saúde mental e na saúde da mulher. Com a criação do Centro de Atenção Psicossocial, as pessoas com sofrimento mental passaram a receber atenção e cuidado no próprio município. Em 1997, a prefeitura de Araçuaí elegeu como uma das prioridades de governo o enfrentamento da problemática do atendimento à saúde mental. A prefeitura fez uma parceria com o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Jequitinhonha (CISMEJE) e criou o Serviço de Saúde mental de Araçuaí (SESAMAR) que desde o início pautou suas atividades pelos princípios do movimento antimanicomial e pela prestação de um atendimento humanizado à saúde priorizando os aspectos preventivos e a inclusão social21. A Unidade de Atendimento a Mulher surgiu a partir de um projeto, elaborado por duas profissionais da área de saúde (uma médica ginecologista e uma enfermeira), que apoiado pela Prefeitura Municipal, na época administrada por uma mulher, articulou e angariou recursos numa parceria com a fundação Banco do Brasil. O atendimento da UBAM, naquela época, tornou-se referência no município e região pela qualidade dos serviços prestados a população, vale ressaltar que já diagnosticou e encaminhou muitos casos de início de câncer no colo uterino e gravidez de alto risco22. Ainda duas mulheres que resgataram a presença dos povos afro e também indígena em nosso município não poderiam ficar ausentes desta nova “gestação” do município. Com traços e ternura feminina, elas registram em suas vidas e em seus trabalhos a marca da acolhida e o resgate da vida afro e indígena em nosso município. 21 BRIGAGÃO, Jaqueline. CAPS/SESAMAR – Transformando o lugar social da loucura no Vale do Jequitinhonha. Disponível em: http://www.eaesp.fgvsp.br/subportais/ ceapg / Acervo%20Virtual/Cadernos/Experi%C3%AAncias/2004/9CAPS-SESAMAR.pdf>.Acesso em 18 de abril de 2012 . 22 NEIVA, Gilvania. Plano Trabalho: a importância da divulgação do Exame de Prevenção do Câncer de Colo de Útero para a Mulher no CEAM de Araçuaí - MG. Araçuaí, 2011, p. 03. 22 A artesã Lira Marques com seu trabalho e talento expressa a alegria e as dores do povo do Vale, sobretudo, da população negra, que se faz presente nos batuques, congados e folias. Sua familiaridade com o barro faz surgir as mais diversas expressões faciais das/os negras/as, através das máscaras que ela vai modelando com a agilidade de suas mãos. Artesã reconhecida, Maria Lira Marques é um valioso pedaço da vasta riqueza humana do Vale do Jequitinhonha. Lira nasceu no ano de 1945, em Araçuaí (Médio Jequitinhonha – MG), onde mora até hoje. Filha de um sapateiro e de uma lavadeira, ela começou a trabalhar bem cedo (...) De sua terra, Lira é, assim como muitos outros valiosos pedaços do Vale do Jequitinhonha, um pouco filha e um pouco mãe: é acolhida e acolhe23. Uma vida de trabalho e muita luta. Sua vida foi contada em cenas de teatro pelo Grupo Icaros do Vale. Com muita música e poesia, Lira é lembrada pela crítica da imprensa. A peça teatral sobre a vida desta grande mulher já percorrera algumas cidades do Vale destacando a teimosia e ternura das mulheres do município, representadas na pessoa de Lira24. Para complementar esta riqueza feminina no Vale, temos a presença da Geralda Soares, mais conhecida como Gera. Ela sempre se sensibilizou com a causa dos índios em nossa região. Dedicada aos estudos a respeito da organização e presença dos índios no município, Geralda foi encontrando tribos em processo de extinção. Resgatar a história, suas crenças e cultura, levou Gera a se dedicar de corpo e alma à causa indígena. Hoje, as tribos têm esperança de preservar suas tradições. Geralda Chaves Soares iniciou suas atividades com povos indígenas e quilombolas há 30 anos. A primeira foi a tribo Maxacali no vale do Mucuri, MG, na década de 80, período conturbado por conflitos de disputas de terras. De lá pra cá, esteve sempre presente ajudando nas 23 SALVADOR, Fernanda. Lira Marques: “Eu amo aquilo que eu faço”. Disponível em: <http://www.overmundo.com.br/overblog/lira-marques-eu-amo-aquilo-que-eu-faco>. Acesso em 23 de maio de 2012. 24 Ibidem. 23 causas indígenas em diversas aldeias nos municípios de Araçuaí, Jequitinhonha e Coronel Murta. Suas principais conquistas foram o reconhecimento pelo Governo Federal das comunidades indígenas de Aranã e Caxixó; a demarcação do território dos indígenas Maxacali; e o projeto de vida da aldeia Cinta Vermelha Jundiba.(...).Atualmente, ela acompanha a socialização das comunidades indígenas e auxilia na construção das aldeias Pataxó e Pankararu no município de Araçuaí25. Poderíamos “garimpar” ainda mais estas esferas importantes para o desenvolvimento do município. Com certeza, encontraríamos uma lista interminável de mulheres protagonistas de um novo jeito de fazer políticas públicas, bem como aquelas que se encontram massificadas nas relações sociais, sobretudo, no mundo privado. Porém, o nosso foco aqui é contextualizar um pouco o “chão” no qual se encontram nossas mulheres, que estão inseridas nos partidos políticos. Assim, poderemos compreender como o percurso da história está marcado pela luta e trajetória feminina no campo político partidário. E, olhando o passado destas mulheres, poderíamos nos perguntar: estamos no século XXI, uma década já percorrida e, hoje, onde se encontram as mulheres em Araçuaí? Como tem sido a sua participação social e política, os desafios encontrados no dia-a-dia para gestar um novo tempo? Quais os novos paradigmas que priorizam as relações de gênero e, sobretudo, sua participação decisiva no poder e na sociedade? Neste sentido, buscaremos investigar no próximo capítulo um pouco da atual realidade das mulheres em Araçuaí, desde sua filiação nos partidos políticos, passando pela participação no poder legislativo, na vida socioeconômica e também sua presença no quadro eleitoral do município. 25 SOUZA, Marcone. Prêmio Betinho – "Atitude Cidadã", tem três concorrentes de Araçuaí. Disponível em: < http://www.blogdomarcone.com.br/2010/11/04/premio-betinho-atitude-cidada-tem-tres-concorrentes-dearacuai/ >. Acesso em 22 de maio de 2012. 24 II. Realidade sociopolítica e econômica do município de Araçuaí: desafios e possibilidades para as mulheres inseridas nos partidos políticos O município de Araçuaí está entre tantas outras cidades mineiras que celebra o seu centenário de existência. Ser uma cidade centenária nos permite visualizar, ao longo destes anos, muitas experiências que possibilitam o amadurecimento da população nas suas reivindicações e realizações cidadãs. Ao abordarmos a questão da mulher inserida nos partidos políticos, consideramos salutar fazer um breve caminhar na trajetória sociopolítica do município ressaltando, sobretudo, o seu eleitorado. Além do mais, pretendemos ressaltar os desafios encontrados na sociedade atual, muitas vezes devido à falta de ações políticas mais efetivas para o melhor desenvolvimento do município. Para as mulheres filiadas aos partidos políticos, a realidade se apresenta bastante desafiadora. Mas, elas podem transformar estes desafios em meios favoráveis para firmar projetos e programas que venham ao encontro dos anseios da população araçuaiense. Portanto, ao se tratar da questão política partidária no contexto de Araçuaí, procuramos percorrer espaços onde encontraríamos registros históricos da participação da mulher neste campo, bem como no processo de escolha dos/das representantes no âmbito executivo e legislativo. Podemos perceber que cada município traz suas particularidades, que vão lhes dando identidade própria e demonstrando a responsabilidade para com o campo democrático e participativo, muitas vezes marcado por fortes reivindicações dos eleitores/as por mudanças e melhorias nas políticas públicas do município ou uma silenciosa passividade frente àqueles que os governam. O município de Araçuaí, cidade administrada por muitas décadas pelos grandes coronéis e fazendeiros que mantiveram uma política partidária à base dos currais eleitorais, da troca de voto por favores, ainda se encontra envolto neste misto de dependência de favores. A força do exercício de cidadania a partir de direitos conquistados no âmbito de uma 25 política democrática e participativa ainda é bastante tênue e requer, tanto da população quanto dos representantes eletivos, maior empoderamento dos seus direitos e deveres, que vão além do processo eleitoral a cada quatro anos. Em conformidade com esta posição, estão os argumentos de Junior e Parente: Mais que a participação primária da democracia representativa simples por voto direto, torna-se necessário o fortalecimento das diversas formas de participação cidadã. Nesse aspecto, nota-se a formação no âmbito da Administração Pública de um ciclo virtuoso de controle retroalimentável, no qual quanto maior a ampliação e a consolidação de esferas públicas democráticas, maior será a participação social e viceversa26. Atualmente, percebemos que ainda um grande desafio se encontra na postura dos representantes eletivos, sobretudo, do poder legislativo, à medida que eles persistem em permanecer nesta política do favoritismo. Em lugar de projetos sólidos, de propostas que beneficiam a sociedade, mantêm-se ações arraigadas em benesses, na carência de formação política para o exercício de suas atribuições. Tais atitudes amortecem reivindicações dos grupos organizados, como as Associações Comunitárias, e desarticulam a efetivação das políticas públicas, principalmente, da saúde e assistência social. Outro fator desafiador e que demanda mudanças de paradigmas nas relações com as metrópoles e outras regiões do Brasil deve-se à localização do município numa região semi-árida, marcado por longos períodos de seca, acarretando a escassez de alimentos de subsistência. A população sofre com o estigma do Vale da pobreza, o que sempre estimulou ações caritativas por parte das grandes cidades, sobretudo, advindas da Capital Mineira e também São Paulo. A imagem do Vale do Jequitinhonha comumente difundida nos meios de comunicação vincula a região a indicadores sociais e econômicos, através da veiculação de informações que, propensamente, ressaltam os problemas locais. Entretanto, a região não se limita ao 26 JÚNIOR, José Geraldo de Souza; PARENTE, Lygia Bandeira de Mello. Curso de Especialização em Direito Público e Controle Externo. Participação social como instrumento para a construção da democracia: a intervenção social na administração pública brasileira. Disponível em: <http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/ portal/ docs/2054 994 .PDF>. Acesso em 20 de maio de 2012. 26 estereótipo miserável da carência social. Existem sérios problemas de ordem social e econômica, como apontam tais indicadores. Mas, por outro lado, também existe uma rica cultura, que se manifesta de várias formas entre os seus moradores27. No município, há um contraste entre a riqueza da produção agrícola, da riqueza mineral e artística e a carência de oportunidade de empoderamento dos trabalhadores/as do município. Há, portanto, ausência de políticas públicas que contribuam com o desenvolvimento da cidade, agregando valores nas riquezas naturais da região e possibilitando ampliar o seu mercado comercial. Esta realidade bem representada pelo poeta Gonzaga Medeiros, nos seus versos, traduz a riqueza da sua gente, da luta dos araçuaiense em se manter neste lugar, bem como daqueles que, para sobreviverem precisam emigrar para outras regiões em busca de trabalho, estudo e, sobretudo, do pão de cada dia. “Nós Somos o Vale, nós valemos, mais pelo que somos menos pelo que temos. Valendo assim, e assim sendo, sempre valeremos”28. Estas particularidades podem parecer descontextualizadas da política partidária e eleitoral do município, contudo, estão intrinsecamente ligadas. A situação descrita requer dos governantes ações propositivas que alterem os paradigmas de escassez, miséria, falta de trabalho, entre outros. Podemos perceber que a realidade sociopolítica de Araçuaí nos mostra um panorama de desafios e ao mesmo tempo de possibilidades para àqueles/as, que atualmente nos representam no poder executivo e legislativo, bem como para àqueles/as que se dispõe a ingressar na disputa eleitoral no município. O município carece de projetos, de investimentos em várias áreas, como a educação, e, sobretudo, da potencialização da sua 27 NASCIMENTO, Elaine Cordeiro do. Vale do Jequitinhonha: Entre a carência social e a riqueza cultural. Revista de Artes e Humanidades, 2009, Contemporâneos, n. 04. p. 02 Maio – out. 2009.. Disponível em: http://www.revistacontemporaneos.com.br/n4/pdf/ jequiti.pdf >. Acesso em: 20 de maio de 2012 28 MEDEIROS, Gonzaga. Nós somos o Vale. Disponível em: < http://blogdobanu.Blogs pot.com.br/2010/05/traco-de-uniao-por-gonzaga-medeiros.html> Acesso em 07 de maio de 2012. 27 população para o campo de trabalho, estudo e desenvolvimento humano da região. Como referenciamos no primeiro capitulo, é notória a presença das mulheres na execução das políticas públicas, no trabalho do campo, como mantenedora dos lares e no comércio local. Vale destacar aqui, que as fontes de emprego no município ainda são nos Órgãos Públicos e no setor comercial. A maioria dos profissionais na gestão das políticas de saúde, educação e assistência social são mulheres. E ao mesmo tempo são as receptoras dos serviços, ações e programas destas políticas. Para ilustrar a realidade da mulher no espaço social da cidade e do campo, apresentaremos o lugar onde elas se encontram, com destaque, primeiramente, para o mundo do trabalho e a sua participação no desenvolvimento empresarial/comercial. No campo, não poderemos deixar de apresentar os desafios que as mulheres trabalhadoras rurais enfrentam no dia-a-dia. Um momento relevante para a percepção da presença da mulher no mundo do trabalho foi quando estabelecemos um breve diálogo junto a algumas mulheres trabalhadoras do comércio de Araçuaí, na ocasião do dia 08 de março, dia internacional da mulher. A questão foi a seguinte: se vocês se ausentarem do trabalho neste dia, como seria a rotina do comércio? A maioria foi unânime ao afirmar que muitos serviços deixariam de funcionar. Isto nos demonstra a força feminina que, nos bastidores da sociedade araçuaiense, mantém-se no labor árduo, apesar de pouco conhecida no tocante à importância da sua participação como mola propulsora das mudanças desta realidade desafiadora e desigual. Em Araçuaí, no espaço tradicional ocupado pelas mulheres no mundo privado, nos cuidados da vida doméstica, muitas destas mulheres ultrapassam a tripla jornada de trabalho. Daremos destaque aqui àquelas que se encontram na Zona Rural. Entre tantas mulheres que enfrentam o trabalho árduo na agricultura de subsistência, iremos encontrar aquelas que assumem a manutenção da casa, educação e toda atividade do 28 mundo privado e público, devido à ausência dos seus companheiros/maridos, durante o período do corte de cana em São Paulo e outros Estados. Estas são as mulheres consideradas “viúvas” de marido vivo. Uma realidade triste no vale do Jequitinhonha é o corte de cana. Não o trabalho em si, mas as condições subumanas a que as pessoas são submetidas. O sertanejo abandona filhos e mulher para tentar a sorte no corte de cana. Disso deriva a expressão tão conhecida entre nós “viúva de marido vivo”, ou seja, o marido passa mais tempo fora do que em casa 29. Elas enfrentam a escassez das políticas públicas e dos bens naturais para a manutenção da família. Hoje, muitas destas mulheres participam do Movimento Graal30 com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais. Este espaço é importante para a discussão das políticas públicas e para o empoderamento das mulheres participantes. A realidade das famílias do município nos dá um panorama geral, sobre a situação da mulher. Podemos encontrar, por exemplo, na política de assistência social, dados31 que nos revelam a necessidade de intervenções políticas mais efetivas. Esta realidade requer ações efetivas para mudar o quadro das desigualdades sociais advindas das condições de trabalho, educação, relações sociofamiliar, desenvolvimento humano, entre outras. 29 JÚNIOR, Hedivan. O Engenho Perdura. Disponível em:< http://www.diocesedearacuai .com.br/n/colunas/o-engenho-perdura> Acesso em 07 de maio de 2012. 30 “O Movimento do Graal no Brasil - é uma organização Internacional de Mulheres que trabalha na busca comprometida com a transformação do mundo em uma comunidade de justiça e Paz. Fundado na Holanda em 1921, é um movimento ecumênico, cultural e social, presente hoje em 17 países, com status consultivo no Conselho Econômico e Social da ONU desde 1998. Está presente no Brasil desde a década de 40. Tendo como base de ação a educação popular, atua por meio de programas e projetos sociais em comunidades urbanas e rurais, na transformação das relações sociais entre homens e mulheres”. O Movimento Graal no Brasil. Belo Horizonte. Disponível em: http://www. iteia.org.br/graalbrasil/comp acesso em: 08 de maio de 2012. 31 Da população atendida no Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS, 65% dos usuários é mulher. E no que se refere à idade, 42% são crianças e adolescentes. Estes dados foram obtidos num levantamento geral (nov. 2011) sem um aprofundamento investigativo sistemático sobre a realidade dos usuários. Tal situação nos revela a importância de uma sistematização de dados para um melhor planejamento das nossas ações e intervenções técnicas e para o investimento do recurso público em projetos e programas que atendam este público. 29 Conforme dados do Programa Bolsa Família do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a fome, temos no município 4.71932 famílias que são contempladas pelo Programa. Este dado nos demonstra que muitas mulheres administram este recurso na complementaridade da renda da família, uma vez que os critérios do Cadastro Único (cad - único) priorizam a mulher para recebimento do benefício. A partir destes dados do Programa Bolsa Família, podemos obter informações importantes que nos desafia e ao mesmo tempo nos deixa esperançosos no campo econômico das famílias. Primeiro, revela-nos um dado estatístico da baixa renda das famílias e o déficit no investimento na política de trabalho no município. O outro aspecto é que o Programa não se reduz apenas à transferência de renda, mas abre um leque de possibilidades a estas famílias, desde o atendimento psicossocial à potencialização para o trabalho e geração de renda 33. A seguir, daremos destaque à realidade eleitoral, a partir de um breve olhar histórico da representatividade feminina no Poder Legislativo do município. Consideramos de grande relevância o conhecimento desta realidade dentro da política partidária, sobretudo, das mulheres nos partidos políticos, que buscam cumprir com a Lei 9504/2005. Esta estabelece, entre outras determinações, o cumprimento das cotas para mulheres na disputa eleitoral. Em 29 de setembro de 1995, foi aprovada a Lei n.º 9.100, que estabeleceu as normas para a realização das eleições municipais do ano seguinte, e determinou uma cota mínima de 20% para as mulheres. Em 1997, após esta primeira experiência eleitoral com cotas, a Lei n.º 9.504, a Câmara estende a medida para os demais cargos eleitos por voto proporcional e altera dos Deputados, Assembléias Legislativas Estaduais e Câmara Distrital o texto do artigo, assegurando, não mais uma cota mínima para as mulheres, mas uma cota 32 C.f Caixa Econômica Federal. Consulta Pública Bolsa Família. Disponível em:< https: //www.beneficiossociais.caixa.gov.br/consulta/beneficio/04.01.00-00_00.asp>. Acesso em 18 de maio de 2012. 33 C.f Programa Bolsa Família. Ministério Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Disponível em: < http://www.mds.gov.br/bolsafamilia > Acesso em: 18 de maio de 2012. 30 mínima de 30% e uma cota máxima de 70%, para qualquer um dos sexos34. Legitimar esta representatividade em todas as instâncias do poder eletivo já foi um passo significativo para a representatividade feminina. Contudo, percebemos que outros critérios deverão se estabelecer com vistas à igualdade desta representatividade. Poderíamos pensar em uma legislação referente a uma cota mínima a ser ocupada nos espaços de poder pelas mulheres, visto que já se passaram mais de uma década o vigor da Lei 9.504/97 e a desigualdade de gênero no espaço político eletivo ainda representa um disparate entre homens e mulheres. 2.1 - Eleitorado partidárias. municipal e suas representações políticas No processo de investigação da vida política partidária em Araçuaí encontramos pequenos registros da história das eleições e da administração municipal. Mas pudemos observar, também, a ausência da mulher neste percurso, mesmo pós o direito de votar e serem votadas, em 1962. Estas lacunas nos levaram a interagir com alguns profissionais municipais que tem dedicado ao trabalho de arquivar e preservar a riqueza histórica do município. No zelo pela Biblioteca municipal, encontramos a Senhora Maria Célia Terezinha de Jesus. Ela guarda a “sete chaves” todo material em jornal, pesquisas, fotos e publicações em geral que contribuem para preserva a memória do município. Estivemos também na Câmara de vereadores com o Sr. Joaquim. Ele expressou a importância da participação da mulher na política e partilhou sua experiência de trabalho com as quatro vereadoras que passaram pela casa, nas palavras do próprio, “a mulher percebe mais as coisas, tem uma atenção para o povo 34 GROSSI, Miriam Pilar; MIGUEL, Sônia Malheiros. Transformando a diferença: as mulheres na política. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 09, n. 01, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104026X2001000100010>. Acesso em 07 de abril de 2012 31 e sempre luta para conseguir atender as necessidades da comunidade. Precisamos ter mais mulheres vereadoras. Agora, com uma presidente no poder, as mulheres precisam criar mais coragem para disputar uma eleição”. Assim, ele resume o anseio da composição do poder legislativo, quando comentamos que neste ano (2012) eleitoral passaremos de 09 vagas de vereadores para 11 vagas35. Com a colaboração destes dois grandes zeladores da história, encontramos registros relevantes da política eleitoral e partidária do município.. Emancipada em 1871 Araçuaí, é marcada pelo período Getulista, e, sobretudo, pela ditadura, que repercutiu na organização política e representativa no município. Como já referimos antes, o município é fortemente marcado pelo poder do coronelismo, que não ficou somente no período da regência administrativa, nos anos de 1891 a 1929, quando o administrador da cidade era nomeado pelo governador do Estado. O trabalho realizado por estagiários do Curso de Ciências da PUC – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, em 1995, no município de Araçuaí, fala da importância desta nomeação aos homens de renome da cidade: A palavra coronel significa ter recebido do governador do Estado uma Patente (titulo) de nomeação de Cidadão 35 Em conversa com Sr. Joaquim, expressamos nossa sugestão de que estas duas vagas fossem priorizadas para a representatividade feminina. Contudo, ele questionou se tal decisão não seria inconstitucional. Mas, nos estudos realizados, podemos perceber que isto não é impossível. Veja, “nos países em desenvolvimento como o Brasil, a pesquisa sobre o impacto de mulheres em governos locais ainda é uma área de investigação muito nova. Constatações e resultados mais abrangentes já disponíveis, contudo, provêm da Índia – um país com desafios sociais e econômicos semelhantes aos do Brasil, onde um terço das posições de liderança em Conselhos locais foi reservado às mulheres em 1998. Um amplo projeto de pesquisa (GROWN, GUPTA E KES, 2005) que examinou o impacto da política de reserva de assentos investigou inicialmente 165 Conselhos locais/Câmara de Vereadores no estado de Bengala Ocidental. O estudo analisou o nível de provimento de bens públicos em Conselhos que tinham políticas de reserva de posições para mulheres em comparação com aqueles que não adotavam essas cotas. A análise constatou que em vilarejos com política de reserva de posições, o investimento em instalações de água limpa foi duas vezes maior do que nos vilarejos sem cotas e que, como tendência, as condições das estradas eram duas vezes melhores.” MATOS, Marlise; CORTÊS. Iáris Ramalho. Mais Mulheres no Poder: Contribuição à Formação Políticas das Mulheres. Brasília. Presidência da República, Secretaria de Políticas para as Mulheres. 2010, p.. 69 32 escolhido para administrar povoados, vilas e cidades. Em Araçuaí, a administração acontecia através dos coronéis. Para receber o titulo de coronel, tinha que ser homem trabalhador, competente, justo e com personalidade firme36. Entre os principais coronéis, foram destaques no município: o Dr. Carlos da Cunha Peixoto, Tenente Coronel Belizário da Cunha Melo, Coronel Manuel Pereira Paulino, Comendador Inácio Carlos Moreira Murta e Padre Agostinho Francisco Paraíso. Ao definir as características de cada um destes coronéis, chama-nos a atenção como referenciam o Comendador Inácio Carlos Moreira Murta: “homem corajoso, ofereceu-se como voluntário na Guerra de Cisplatina37, onde comandou uma companhia” 38 . Isto nos faz notar também a participação política além das fronteiras do município. Fato que, com certeza, fora destaque de muita repercussão entre a população do município. A partir de 1930, encontramos o registro do primeiro prefeito eleito no município. Vale destacar que esta eleição não contara com o voto das mulheres39. O Dr. Franklin Fulgêncio Alves Pereira (Dentista) foi prefeito de 1930 a 1945. Período eleitoral que teve as influencias e determinaçoes do processo revolucionario de 1930, como podemos ver nos registros histórico do Tribunal Superior Eleitoral, A Revolução de 1930 tinha como um dos princípios a moralização do sistema eleitoral. Um dos primeiros atos do governo provisório foi a criação de uma comissão de reforma da legislação eleitoral, cujo trabalho resultou no primeiro Código Eleitoral do Brasil. O Código Eleitoral de 36 ARAÚJO, Judite Vieira. Et. All. Um pouco de Araçuaí- MG.Belo Horizonte, PUC, 1995, p. 06. 37 “A Guerra da Cisplatina ocorreu de 1825 a 1828, entre Brasil e Argentina, pela posse da Província de Cisplatina, atual Uruguai. Localizada numa área estratégica, a região sempre foi disputada pela Coroa Portuguesa e Espanhola”. DUARTE, Lidiane. Guerra da Cisplatina. Disponível em: < http://www.infoescola.com/historia/guerra-da-cisplatina/>. Acesso em 24 de maio de 2012. 38 ARAÚJO, Judite Vieira. Et. Al. Um pouco de Araçuaí-MG,. Belo Horizonte, PUC, 1995, p. 12. 39 “No Brasil, a conquista do sufrágio feminino foi em 1932. Quando todas as mulheres puderam votar sem restrições das suas condições sociais”. MATOS, Marlise; CORTÊS, Iáris Ramalho. Mais Mulheres no Poder: Contribuição à Formação Políticas das Mulheres. Brasília. Presidência da República, Secretaria de Políticas para as Mulheres. 2010, p. 27. 33 1932 criou a Justiça Eleitoral, que passou a ser responsável por todos os trabalhos eleitorais – alistamento, organização das mesas de votação, apuração dos votos, reconhecimento e proclamação dos eleitos. Além disso, regulou em todo o país as eleições federais, estaduais e municipais40. No final do governo de Dr. Franklim, o Brasil vivia um periodo bastante turbulento na politica nacional, quando o presidente Getúlio Vargas foi destituido do poder pelos militares, o que repercutia nos municípios. Essa "nova ordem", historicamente conhecida por Estado Novo, sofre a oposição dos intelectuais, estudantes, religiosos e empresários. Em 1945, Getúlio anuncia eleições gerais e lança Eurico Gaspar Dutra, seu ministro da Guerra, como seu candidato. Oposição e cúpula militar se articulam e dão o golpe de 29 de outubro de 1945. Os ministros militares destituem Getúlio e passam o governo ao presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares, à época também presidente do TSE, até a eleição e posse do novo presidente da República, o general Dutra, em janeiro de 1946. Era o fim do Estado Novo41. Deste periodo até em 1997, tivemos 16 prefeitos, todos do sexo masculino. Contudo, é surpreendente registrar que, no final do século XX, a presença da mulher na administração municipal foi um período marcante na história Araçuaiense. Por meio de uma mulher negra, houve o resgate não apenas da hospitalidade da Luciana Teixeira, mas também da representação do gênero feminino na liderança política do município. A partir de 1997, a história de Araçuaí toma outros rumos com a eleiçao da primeira mulher:Como prefeita, Maria do Carmo Ferreira da Silva (Cacá). O periodo, sob a administração desta mulher, foi um terreno fecundo para a organização e fortalecimento das associações comunitárias e também para o surgimento de grupos organizados de mulheres. Em 2002, segundo mandato da administração, no Editorial do Jornal da Administração Pública Municipal, a prefeita Maria do Carmo faz a seguinte avaliação da sua administração: 40 História das Eleições no Brasil. Disponível em: < http://www.tse.gov.br/hotSites/biblioteca/historia_das_eleicoes/capitulos/criacao_justica/c riacao.htm>. Acesso em: 24 de maio de 2012. 41 Idem. 34 Nossa proposta de governo e prática administrativa propôs à comunidade araçuaiense um repensar profundo das práticas governistas que sempre conduziram rumos do município e região. Não nos colocamos simplesmente na condição de julgadores de nossos antecessores, culpando ou inocentando, como é praxe, mas discutindo junto com o cidadão que uma outra modalidade de governar é possível. Acima de tudo, buscamos junto aos diversos setores o diálogo para realizar o trabalho para o qual fomos eleitos e somos remunerados. A conciliação entre os interesses coletivos e de minorias tem sido praticada, como base para as ações deste governo 42. Quanto ao poder legislativo, pouco se registra destas relações de disputa ao poder e as formas de participação, bem como da sua postura social. A disputa por uma vaga na Câmara de Vereadores, certamente, só se tornou acirrada a partir do final do século XX (aproximadamente em 1978), quando fora atribuída remuneração aos vereadores pelo exercício representativo da população. Entre os anos de 1963 até os dias atuais, tivemos a presença de 142 vereadores, aproximadamente. Nestes anos, se destaca a presença da Sra. Maria da Conceição Soares Almeida que exerceu sua vereança entre 1983 a 1986. Neste período, a câmara contava com 12 vereadores, sendo somente ela a representante do gênero feminino. A bibliotecária, Maria Célia Terezinha de Jesus preserva a foto da primeira vereadora na parede da biblioteca. Podemos perceber pela fotografia que se tratava de uma mulher negra, de olhar penetrante e bem humorado. Segundo informações de Arthur Candido Filho, vereador atual, a Sra. Maria da Conceição foi uma mulher bastante atuante nos trabalhos do legislativo. Ele reconhece que a mesma enfrentou desafios por ser a única mulher com assento na Câmara. Como ele esteve com ela e as demais vereadoras no exercício do legislativo, ele observa que, muitas vezes, elas não foram ouvidas em suas propostas e projetos. Mas ele avalia que a presença da mulher no legislativo e nas demais instâncias do poder é muito importante para incentivar e apoiar outras mulheres na disputa dos cargos eletivos no município. 42 SILVA, Maria do Carmo Ferreira. Editorial. Jornal Moenda, Araçuaí, n. 7, p. 01-08, setembro de 2002. 35 Somente no final do século XX, a presença da mulher volta ao cenário da Câmara de Vereadores. Como representantes do poder legislativo, estão as ilustres vereadoras: Isaura da Silva Pinheiro, Viviane Patrícia Costa Prates e Jaqueline Pinheiro Neiva. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, temos em Araçuaí o total de 27.753 eleitores, sendo que as mulheres representam 14.247 eleitoras, num total de 51.33% do eleitorado43. Estes dados nos revelam que as mulheres através do voto têm o poder decisivo nas políticas eletivas no município. A partir destas observações, podemos considerar este campo propício para um trabalho de empoderamento, tanto para as mulheres eleitoras quanto para aquelas que estão filiadas nos partidos. Através do conhecimento desta realidade, as mulheres eleitoras podem tomar consciência da importância de serem representadas no poder legislativo e executivo do município, assim como, do poder que tem em mãos para a eleição destes. . Desde a mais jovem idade, eleitoras/es com 16 anos, 42. 65 % são homens e 57. 35% são mulheres. Entre as pessoas idosas a maioria é mulher, na faixa etária de 70 a 79 anos, 42.83% homens e 56.76% mulheres. Somente na faixa etária de 25 a 34 anos que há uma reversão pequena deste quadro, os homens são 50.76% e as mulheres 49.24%44. Atualmente, o município conta com 18 partidos políticos constituidos em Diretórios municipais, sendo um total de 1.680 eleitores filiados. Aqui, destacamos os 05 maiores partidos em número de filiados: o Partido dos Trabalhadores – PT conta com 352 filiados, o que representa 20,95%; o PDT conta com 305 filiados, isto representa 18,15%; em terceiro lugar, o PMDB com 203 filiados representa 12.08%. No quarto lugar, fica o PSDB, Partido Social Democrático Brasileiro, com 43 C.f Tribunal Superior Eleitoral. Situação eleitorado em Araçuaí – abril 2012. Disponível em:<http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas-do-eleitorado/quantitativo-do-eleitorado/ consulta-quantitativo> Acesso em 22 de maio de 2012. 44 C.f Tribunal Superior Eleitoral Faixa etária e sexo: Disponível em:<http:// www.tse. jus. br/eleicoes/estatisticas-do-eleitorado/estatistica-do-eleitorado-por-sexo-e-faixa-etaria> Acesso em 22 de maio de 12. 36 170 filiados/as, sendo 10.11% do eleitorado. E o último é o PP, Partido Progressista, com 134 filiados/as, o que representa 7.9%.45. Neste contexto, estão inseridas as mulheres filiadas. Dentre todas as mulheres que referenciamos na história de Araçuai, elas são em potencial as futuras candidatas a concorrerem pelo cargo do poder executivo ou legislativo. A seguir, traremos um pouco do perfil e da trajetória de algumas destas mulheres que na luta de cada dia dedicamse à politica partidária com garra e coragem. Dentro desta ótica, vamos perceber no discurso do ex- presidente do partido dos trabalhadores, a relevância que ele dá sobre a presença da mulher na política partidária: Acredito que nunca foi tão necessária a presença da mulher na política, não só por questão de direito e igualdade, mas de sensibilidade. A mulher, que hoje já chefia quase um quarto das famílias brasileiras, precisa e deve, cada vez mais, participar da vida política. Quando falo em participar da vida política, não estou fazendo referência a apenas se filiar a um partido ou ser candidata a um cargo eletivo, mas principalmente — e acredito ser o principal problema do Brasil hoje — participar da luta social e da política, de modo geral. Presidente Nacional do PT) 46. As palavras do Sr. José Dirceu encontram eco na realidade que investigamos. Conhecer um pouco desta inserção das mulheres na sociedade de Araçuaí através dos movimentos sociais, das organizações governamentais e não governamentais, entre outras, é dar visibilidade aos seus desafios e conquistas na política partidária. O que veremos a seguir, a partir das entrevistas que realizamos com estas mulheres, 45 C.f Tribunal Superior Eleitoral. Consulta Filiação Partidária. Disponível em: < http:// www .tse.jus.br/eleicoes/estatisticas-do-eleitorado/estatisticas-do-eleitorado/filiados> Acesso em 24 de maio de 2012. 46 GROSSI, Miriam Pilar; MIGUEL, Sônia Malheiros. Transformando a diferença: as mulheres na política. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 09, n. 01, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X 200 1000100010>. Acesso em 07 de abril de 2012 37 consideramos ser uma pequena fagulha de luz no imenso campo de possibilidades e desafios a serem enfrentados por cada uma no cotidiano da sua militância política. 38 III. Elas estão chegando...: perfil das mulheres inseridas na política partidária em Araçuaí. Ao chegarmos ao terceiro capítulo, consideramos ser este o momento mais importante do nosso trabalho. Aqui, abordaremos a visão das mulheres filiadas nos partidos políticos. Nas articulações realizadas com as mulheres, com os partidos políticos, com os guardiões da história do município, entre outros munícipes, com os quais, partilhamos o nosso objetivo de trabalho, percebemos que foi realmente um “garimpar” com muita expectativa para encontrar as preciosidades da participação da mulher no campo da política partidária. Adentrar neste campo, onde muitas mulheres estão inseridas, foi como estar percorrendo um labirinto, um espaço novo, onde, a cada momento, fomos surpreendidas com relações bastante frágeis e, na maioria das vezes, a se construir, quando se trata da questão de gênero. Para um contato direito com as mulheres filiadas e por respeito ao partido que as abrigam, enviamos cartas aos presidentes dos partidos solicitando informações sobre a quantidade de mulheres filiadas em cada partido e que nos indicassem três mulheres que aceitassem contribuir com nosso trabalho ao partilhar m pouco da sua história. Consideramos importante esta informação para fundamentarmos o nosso trabalho e dar visibilidade a questão da mulher nos partidos, sobretudo, quando propomos falar dos desafios e conquistas. Desta forma Insistimos com os representantes legais para obter estes dados ou mesmo um parecer do Diretório sobre nossa solicitação. Recebemos, então, uma mensagem de um presidente: Peço desculpas pela minha falta de educação e compromisso, mas devido a uma serie de problemas particulares fui omisso contigo ao não lhe responder o oficio por escrito encaminhado a minha pessoa. Mas me comprometo que ainda hoje te mando esta relação. [...] assim solicitarei ao secretario do partido esta relação a qual tanto necessita... O primeiro email eu descartei por achar ser vírus ou alguma jogada política de adversários, infelizmente a política cria essas neuras, mas de coração 39 gostaria de contar com sua compreensão e sua desculpa pelo ato falho. Felicidades em sua conclusão de curso. Estaremos colaborando47. Por isso, nossa investigação nos exigiu maiores esforços para chegarmos às mulheres filiadas. No decorrer do trabalho falaremos mais sobre este silêncio dos partidos no tocante a nossa intervenção. Como vimos nos capítulos anteriores, a presença significante das mulheres, no exercício da sua profissão, inseridas nas políticas públicas. Isto nos possibilitou notar que as mesmas também se encontram inseridas nos partidos políticos. Procuramos, então, por mulheres, já conhecidas pela sua atuação profissional, até chegarmos àquelas que participam dos partidos políticos, entre estas tinham algumas que foram candidatas ao cargo eletivo no município. Neste capitulo, apresentaremos dados quantitativos e qualitativos das contribuições de dez mulheres entrevistadas, sem citar seus nomes próprios ou o partido no qual elas estão inseridas. E elas estão chegando... , como diz o canto que ecoa nos encontros das mulheres em luta nas comunidades e que, hoje, vai tomando força entre as mulheres na política. Estão chegando para transformar, para incomodar, para questionar 48. Entrevistar um pequeno grupo de mulheres, inseridas em 05 partidos, dos 18 partidos existentes no município, possibilitou-nos perceber que a força que mantém estas mulheres nos partidos, as permite falar em nome de todas as mulheres que com muita garra abraçam a representatividade feminina no seio dos partidos políticos, mesmo com os desafios que elas apontaram e lutam para superá-los. 47 Mensagem recebida por e-mail. Omitimos o nome do presidente por compreender o contexto político que o mesmo refere em sua mensagem. Também as relações partidárias no município de Araçuaí, ainda, são bastante frágeis, muitas vezes, marcadas por acirradas disputas eleitorais e mesmo perseguições. Dentro deste contexto, queremos que o nosso trabalho seja uma contribuição construtiva de relações mais democráticas, participativa e, sobretudo, fortalecer a luta das mulheres no espaço político partidário. 48 Zé Vicente. Elas estão Chegando (música). Movimento das trabalhadoras no nordeste. P.20. Disponível em: < http://www.mmtrne.org/pdf/livro_de_musica.pdf>. Acesso em 13 de junho de 2012. 40 Sob ótica semelhante, Marlise Matos e Iáris Ramalho assinalam que: Queremos afirmar que existem fatores que podem fazer obstáculo à ação política das mulheres que, por sua vez, não poderiam ser resolvidos simplesmente com a necessidade da extensão dos direitos iguais a elas. Na verdade, está claro que aqui faltaria destacar a enorme importância a ser dada também às regras do jogo político-representativo no Brasil, assim como aos procedimentos que orientam nosso sistema políticopartidário: este é/foi um jogo construído e mantido por homens e para homens. Há que se supor que tais “regras” também possam, por estar carregado de traços tradicionais, patriarcais e masculinos, operar como elementos refratários e excludentes das mulheres dos espaços institucionalizados da política49. As mulheres entrevistadas estão inseridas nos seguintes partidos: PMDB, PT, PDT, PHS e PC do B.50 Dentre estes, o PMDB, PC do B, PDT e o PT com maior trajetória de vida e tradição na política partidária e outros, como o PHS, considerados novos por se constituir a partir de muitas lutas. A maioria das mulheres entrevistadas se encontra na faixa etária de 40 a 50 anos de idade. A mais jovem entrevistada tem 27 anos. Pela idade, percebemos que, na maioria, são mulheres que nasceram num período da história brasileira marcada pela ditadura. Este tempo forjou na juventude um espírito de luta, de indignação e ao mesmo tempo contribuiu por meio da maturidade formada na defesa dos direitos sociais, no anseio pela liberdade da participação na política e, sobretudo, na expressão das suas ideias, convicções no campo da política, da cultura, da comunicação, entre outros 51. 49 MATOS, Marlise; CORTÊS, Iáris Ramalho. Mais Mulheres no Poder: Contribuição à Formação Políticas das Mulheres. Brasília, Presidência da República, Secretaria de Políticas para as Mulheres. 2010, p. 51. 50 Nota: Atualmente, são 18 partidos com representatividade no município. Eles estão registrados no TRE-MG, sendo que destes, 03 estão constituídos em Diretório e os demais em Comissão Provisória. 51 “Nos anos de 1963/64, os estudantes foram responsáveis por um dos mais importantes momentos de agitação cultural da história do país. Era a época do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, que produziu filmes, peças de teatro, músicas, livros e teve uma influência, que perdura até os dias de hoje, sobre toda uma geração. Em 1º de abril, o Golpe Militar derrubou o presidente João Goulart. A partir daí foi instituída a 41 Por outro lado, percebemos a carência da presença da juventude no campo das políticas partidárias. Esta ausência pode ser atribuída ao fato da juventude estar descrente com os políticos que não honram o povo que os elegeu. Além do mais, atualmente se concebe a política como algo permeado por corrupções, falcatruas entre outros adjetivos que desqualifica os membros eletivos dos poderes políticos. Para a pesquisadora e antropóloga Regina Novaes, este nosso olhar é um tanto nostálgico, à medida que devemos evitar comparações com a realidade da juventude dos anos 60, Talvez hoje os jovens vivam de maneira mais profunda a crise de representação, mas é muito mais diversificada a face social daqueles que se mobilizam [...] A despeito dessas e de outras diferenciações presentes nos famosos anos 1960, quando falamos da “juventude de hoje” idealiza-se o passado. Os jovens de hoje são vistos como mais alienados e desinteressados em questões sociais e políticas que as gerações anteriores. Contudo, os bravos militantes estudantis dos anos 1960 não representavam estatisticamente a maioria dos jovens daquela época, até porque no Brasil, como se sabe o acesso à vida universitária era bastante restrito. Em outras palavras, é preciso evitar comparar uma minoria do passado com a totalidade dos jovens do presente 52. De todo modo, precisamos considerar que nossa investigação se trata da questão de gênero. Levando em consideração este fator, percebemos que a mulher jovem é mais participativa e presente na política da educação. Ela pode não estar presente no partido político, mas não está ausente nas mudanças significativas das políticas públicas. ditadura militar no Brasil, que durou até o ano de 1985. Neste período, as eleições eram indiretas, sem participação direta da população no processo de escolha de presidente e outros representantes políticos. Os estudantes formavam uma resistência contra o regime militar, expressando-se por meio de jornais clandestinos, músicas e manifestações, apesar da intensa repressão”. O movimento estudantil na História do Brasil, Jornal Mundo Jovem, PUCRS, Disponível em: < http://www.mundojovem.com.br/gremio-estudantil/o-movimento-estudantil-na-historia-dobrasil > Acesso em 17 de junho de 2012. 52 NOVAES, Regina. Sociedade: Juventude e política: (pre)conceitos a questionar. Teoria e Debate, São Paulo, Fundação Perceu Abramo, n.76, ano 21, março/abril 2008. Disponível em: < http://www.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/editora/teoria-edebate/edicoes-anteriores/sociedade-juventude-e-politica-preconceitos> Acesso em 17 de junho de 2012. 42 Retomando os dados coletados, as mulheres possuem um grau de instrução bastante significativo, o que confirma as estatísticas que demonstram a presença sempre crescente das mulheres na educação no Brasil53. Dentre as dez mulheres entrevistas, cinco chegaram até o Ensino Médio, três possuem o Ensino superior concluído e as outras duas cursaram o Ensino Técnico. Ao estabelecermos um paralelo entre o grau de instrução das mulheres e as respectivas idades, possibilita-nos pensar numa trajetória de superação dos preconceitos de idade para continuar os estudos. Consideramos a formação educacional um fator preponderante na potencialização destas mulheres no compromisso com a política partidária, por isso é de extrema importância o investimento na continuidade dos estudos, sobretudo, para àquelas que chegaram somente até o Ensino Médio. Ainda no tocante ao aspecto da identificação das mulheres entrevistadas, outro fator a ser considerado é o estado civil das mulheres e suas implicações nas relações sociais. Das mulheres entrevistadas, o quadro apresentado é: 04 mulheres solteiras, 03 divorciadas e 03 casadas. Neste momento, vamos nos limitar a esta informação, mas veremos nos desafios apontados por estas mulheres o quanto os vínculos constituídos em família podem favorecer, bem como desafiar a militância no seio do partido político. No campo profissional, vale ressaltar que de forma democrática, pude entrevistar as mulheres no espaço de seu trabalho. Elas colaboraram bastante com o desenrolar do nosso trabalho nos receberam 53 “Em 1960, a escolaridade média era de 1,9 ano para os homens brasileiros e 1,7 ano para as mulheres, passando, em 2000, para 5,4 e 5,1 anos, respectivamente, e chegando a 6,7 anos para os homens e 7,1 anos para as mulheres em 2007. Embora a reversão do hiato de gênero para as coortes mais jovens tenha ocorrido desde meados do século XX, nos dados agregados, a reversão ocorreu na década de 1980 e, a partir daí, vem se ampliando a favor das mulheres”. HEITBORN, Maria Luiza; et all. (Org); Gestão de Políticas Publicas em Gênero e Raça; Modulo II. Rio de Janeiro, CEPESC; Brasília: Secretaria de Política para as Mulheres. 2011, p.. 130 e 131. 43 no espaço do seu trabalho, dedicando um pouco do seu tempo na participação desta investigação. Como referenciamos anteriormente, a maioria se encontra nos órgãos públicos, seja Federal, Estadual e Municipal, sendo que 05 são funcionárias públicas; 02 aposentadas; 02 são trabalhadoras autônomas e 01 se encontra exercendo o seu trabalho numa ONG. Esta primeira visão do perfil das mulheres inseridas nos partidos políticos pode parecer uma realidade comum a muitas mulheres, independentes de serem filiadas ou não. Contudo, o que vai diferenciar estas mulheres de tantas outras é que estes aspectos podem ser determinantes para a militância política, à medida que desafia ou lhes proporciona avanços na representatividade junto à população de Araçuaí. A seguir, mostraremos a realidade destas mulheres no seio do partido político. As conquistas e desafios que lhes são postos na relação de gênero, no enfrentamento da participação eleitoral, no empoderamento delas para galgar um pleito e assumir um cargo eletivo no âmbito municipal. 3.1 Da vida privada para a vida pública: as conquistas e desafios da mulher filiada em partido político em Araçuaí (MG). Deste os primórdios da inserção no mundo do trabalho, foi sempre desafiador para as mulheres sair do mundo privado para a vida pública. Há de se lembrar das longas jornadas nas fábricas, que não lhes retirava a responsabilidade pela dupla jornada de trabalho, isto é, assumir as tarefas domésticas após um dia exaustivo de serviço. Esta realidade ainda se faz presente e dividi-la com o companheiro ou com os demais membros da família é uma possibilidade bastante pequena e que requer um processo reeducativo do grupo familiar54. 54 “Embora mudanças importantes tenham ocorrido ao longo das últimas décadas, na maioria dos países, as mulheres ainda arcam com as principais responsabilidades em relação aos cuidados com a família e do domicílio, incluindo marido, crianças e idosos. Isto marca, portanto, a construção de muitas trajetórias de mulheres na política.” MATOS, Marlise; CORTÊS, Iáris Ramalho. Mais Mulheres no Poder: Contribuição à 44 Dados estatísticos demonstram que além das atividades culturalmente estabelecidas para o homem e para a mulher, hoje, em muitos lares, elas têm assumido a “chefia”, ou melhor, as mulheres são referenciadas no tocante à responsabilidade do domicilio55. A militância política, a disputa eleitoral e, sobretudo, assumir um cargo eletivo dentro das modalidades atuais da representatividade do povo pode ser considerada uma terceira jornada não menos desafiante para as mulheres que se encontram inseridas nos partidos. Esta realidade foi apontada pelas entrevistadas como um desafio a ser superado, entre outros que também têm suas raízes na relação de gênero e na falta do empoderamento da mulher: Tempo disponível; apoio da família (sobretudo do marido); filhos; ter coragem para disputa eleitoral; a responsabilidade pela política partidária; superar a visão de inferioridade em relação ao homem; conquistar a autonomia; superar os resquícios da cultura machista (Entrevistada 02 – Funcionária Pública Estadual). Num olhar mais amplo para a realidade política, Maria do Carmo da Silva aponta o maior desafio nesta relação política partidária e exercício do poder: “um dos grandes desafios para todo e qualquer político é a concepção/ação de PODER enquanto SERVIÇO. Superá-lo é alcançar também uma democracia mais justa, igualitária e humana”. Outro ponto relevante entre as mulheres é a família. A família costuma ser um ponto de reflexão na decisão para a candidatura de um cargo eletivo, Viviane Prates, ex-vereadora, considera que ao ser exercida a vereança ou outro cargo eletivo, “você passa a ter uma vida mais Formação Políticas das Mulheres. Brasília, Presidência da República, Secretaria de Políticas para as Mulheres. 2010, p. 44. 55 “O Brasil apresentou um grande crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) nas ultimas seis décadas, registrando um aumento de 5,8 vezes. A PEA masculina passou de 14,6 milhões para 56,1 milhões (incremento de 3,8 vezes), enquanto a feminina teve uma elevação extraordinária, passando de 2,5 milhões, em 1950, para 43,4 milhões, em 2008 (crescimento de 17,2 vezes)”. HEITBORN, Maria luiza; et all. (Org); Gestão de Políticas Publica em Gênero e Raça – Modulo IV, Rio de Janeiro, CEPESC, Brasília, Secretaria de Política para as Mulheres. 2011. 45 exposta. A política tira a sua privacidade. É claro que quando entramos na vida pública isso é natural”. Ao serem questionadas sobre a motivação que as levaram a se filiar nos partidos políticos, 03 mulheres declararam que foram convidadas pelos partidos com o objetivo de se cumprir as determinações da Lei 9504/97, enquanto que a maioria delas está nos partidos políticos por uma trajetória de vida nos movimentos sociais, pela participação nas ONG’s ou mesmo por uma tradição familiar. A resposta destas últimas nos leva a perceber que elas vieram de famílias que desempenham papéis importantes na vida social, como nas associações comunitárias, conselhos, entre outras representatividades sociais. Vale ressaltar que ao responder esta questão algumas mulheres fizeram um breve resumo histórico da sua participação efetiva nos movimentos sociais. Destacamos aqui a colocação de uma entrevistada: Eu morava na roça56. Lá eu participava da comunidade, das reuniões da Igreja, da associação comunitária [...] sempre interessei por estes movimentos, porque a gente aprende muito, fica informado de tudo o que acontece nas políticas públicas. [...] hoje, meu trabalho é um campo de aprendizado e sempre que posso eu participo das reuniões e cursos que tem no município (Entrevistada 05 – Trabalhadora da Política de Saúde). Esta estratégia de participação social é apontada como um bom mecanismo para a capacitação e o empoderamento das mulheres que já se encontram inseridas na política partidária e para aquelas que atuam nas políticas públicas em geral. A formação política é uma das decisões mais acertadas para que as mulheres possam superar as desigualdades de gênero e o jogo masculino que ainda persiste nas relações partidárias e, sobretudo, no momento da disputa eleitoral57. 56 Ao usar ao termo “roça” a entrevistada faz referência à Zona Rural do município, onde residia. Hoje, ela reside na Zona Urbana de Araçuaí – MG. 57 C.f MATOS, Marlise; CORTÊS. Iáris Ramalho. Mais Mulheres no Poder: Contribuição à Formação Políticas das Mulheres. Brasília, Presidência da República, Secretaria de Políticas para as Mulheres. 2010, p. 57. 46 Quanto às conquistas no campo da política partidária, podemos notar que as entrevistadas apresentam um olhar além do âmbito municipal. Elas encontram incentivo, apoio e, sobretudo, sentem-se integrantes das conquistas no âmbito estadual e nacional. Ao falar destas conquistas, as mulheres argumentaram sobre todo o contexto de luta para galgarem com muito entusiasmo e responsabilidade esta vitória. Elas apontaram as seguintes conquistas, entre tantas outras que vão se firmando na dinâmica política de nosso país. Engajamento político partidário; o direito de votar e ser votada; ter a sua cota de participação, ainda que nem sempre seja cumprida; mostrar o lado sério da política; ressaltar a capacidade da mulher; sermos representatividade da maioria do eleitorado; ter uma mulher presidente, mulher prefeita e na liderança; crescimento da participação das mulheres nos partidos; a mulher ocupando cargos eletivos importantes; melhoria da sua participação na vida política do país; participação das mulheres nos sindicatos da categoria. Na área econômica: as mulheres estão tendo maior credibilidade para fazer empréstimo. No campo do conhecimento: realização de cursos através do PBF – Programa Bolsa Família (Dados das repostas das mulheres entrevistadas). Na verdade, muitas destas conquistas apontadas precisam ser concretizadas nas relações partidárias, superando, assim, as disputas acirradas ao poder. Para isso, as mulheres filiadas precisam potencializarem, através de estudo, grupos organizados suprapartidário, buscando o respeito pelas diferenças. Corroborando com essa idéia Maria do Carmo (Cacá) afirma que: Dentro do próprio Partido, esta questão não é transversalizada e podemos dizer trabalhada e aceita, haja vista as disputas que são travadas durante as próprias campanhas eleitorais; a postura de pessoas com relação à manifestação de voto/gênero pelos majoritários (homens e algumas mulheres de candidatos); a baixa representatividade - 01 vereadora em sucessivos mandatos (15 anos atrás) e nenhuma no último mandato; as situações de desconfiança e até inimizades em decorrência de defesa às candidaturas de Gênero. Interessante este dado estatístico que Maria do Carmo aponta sobre a representatividade da mulher no poder legislativo no município de 47 Araçuaí. Atualmente, os nove assentos na câmara de vereadores são ocupados por homens. A partir de 2012 o número de assentos passará de 09 para 11 no poder legislativo. Veremos a seguir, os desafios encontrados pelas mulheres desde a condição de candidata à vereadora até assumirem um cargo no poder legislativo. Ao escutá-las, suas palavras foram como um grito de indignação e desabafo, sobretudo, daquelas que não teve a chance nem de apresentar a sua proposta de trabalho durante a campanha eleitoral para um possível exercício de vereança no município. 3.2 - A mulher no poder eletivo em Araçuaí – possibilidades e limites. Dentre as mulheres entrevistas, ressaltamos em nosso trabalho a experiência daquelas que foram além da filiação e ousaram disputar uma vaga no poder executivo e legislativo. Também consideramos bastante relevante e enriquecedora a contribuição de Maria do Carmo Ferreira da silva, mais conhecida como Cacá. Ela exerceu com muita garra e persistência o mandato de prefeita no município. As contribuições da Viviane Patrícia Prates, que assumiu o pleito de vereança no município, no período de 1997 a 2000, nos mostra que é possível superar os desafios da relação de gênero, quando buscamos nos potencializar para o cargo pleiteado. As riquezas desta experiência certamente nos fizeram da importância da participação da mulher na política partidária. Nesse sentido, Viviane Patrícia Prates, considera que, ao ser exercida a vereança, Contribuiria muito para a melhoria e desenvolvimento da cidade e todo o Vale do Jequitinhonha. Acredito que dentro de mim existia uma enorme vontade de transformar o que não estava legal. Eu estava envolvida em grupos de jovens. Falávamos muito de direitos, deveres, enfim, de cidadania. Penso, ainda hoje, que devemos contribuir de alguma forma para o mundo ser melhor. 48 Outra entrevistada recorda os desafios encontrados para apresentar sua proposta de trabalho durante a campanha eleitoral com muita emoção e ao mesmo tempo numa postura autocrítica. Eu lembro que preparei todo meu discurso com minhas propostas para apresentar durante o comício, mas, no momento, que eu subi ao palco para falar não me deram espaço [...] eu escrevi tudo no papel, estava tudo organizado, mas é muito difícil para nós mulheres serem apoiadas em nossa candidatura (entrevistada 01 funcionária municipal). Diante dos desafios de se candidatar, ela avalia que é preciso se preparar melhor para uma disputa eletiva: “eu não vou participar das eleições ente ano, vou me preparar melhor para as próximas eleições”. Também nos desafia a participar da política partidária. Numa forma de desabafo e bastante radical, convida-nos a criar um partido que os seus componentes sejam somente mulheres: “vamos fundar um partido só com mulheres”? Neste sentido, é interessante observarmos que sua proposta é incoerente por mais que tenha um fundamento lógico devido aos desafios que as mulheres enfrentam no interior dos partidos. Temos que considerar que a cota de 30% estabelecida pela lei 9504/97 não é referente especificamente às mulheres, mas sim a uma proporção entre a representatividade do homem e da mulher na política partidária. Para melhor compreendermos está questão, o Ministério Público Federal, esclarece a representatividade de gênero nas eleições: Vale observar que os percentuais estatuídos na Lei das Eleições não se vinculam a nenhum dos sexos, aplicando-se, em verdade, a ambos. Nesse sentido, se um partido político ou uma coligação tiverem à sua disposição 100 candidaturas a serem registradas (de acordo com o que determina o artigo 10, caput e §1º, da Lei 9.504/97), poderão apresentar 70 homens e 30 mulheres, ou vice-versa. Não obstante, é inegável que a cota eleitoral de gênero tem por objetivo garantir uma maior participação das mulheres na vida política brasileira. Historicamente excluídas dos pleitos eleitorais, 49 as mulheres, ainda hoje, ocupam pouco espaço no ambiente político e institucional do País 58. Conforme podemos observar nesta investigação, os partidos políticos em Araçuaí apresentam o desafio de ter entre seus filiados/as um número significativo de mulheres, que estão dispostas a concorrer a um cargo eletivo através das eleições municipais. Esta questão foi apresentada pelas mulheres entrevistadas, inclusive, pela ex-vereadora Viviane Prates ao falar da sua trajetória de vereança, no mandato de 1997 a 2000. Ainda nos dias de hoje, o machismo está presente, dificultando o processo de modernização na participação da mulher na política e em alguns segmentos sociais. Situações impostas pelos homens por concepções preconceituosas, dificultando que a mulher assuma cargos públicos, porém, acredito que a mulher, pela sua sensibilidade nata, poderá ser o ponto de equilíbrio nos conflitos que regem a humanidade. Isto nos leva a perceber que a participação da mulher no espaço político partidário vai além de uma definição de cotas. É importante que haja uma mudança nas relações de gênero para que a mulher não se torne apenas um trampolim para as candidaturas masculinas. É preciso existir ações afirmativas para a alteração deste quadro de subrepresentação. Por parte dos partidos, a política de cotas precisa ser acompanhada com o interesse de financiar a campanha política das mulheres candidatas. Faz necessário também levá-las à participar da direção do partido, isto é, a mulher deve tomar parte da presidência dos partidos. E, ainda, é preciso uma formação política conjunta, onde as mulheres e homens filiados/as possam discutir a integração e participação 58 Brasil. Ministério Público Federal. Cota eleitoral de gênero apud Direito Eleitoral. 6ª ed. São Paulo, Atlas, 2011, p. 250. Disponível em:< http://www.presp.mpf.gov.br/index. php?option=com_content&view=article&id=589&Itemid=72> Acesso em 10 de junho de 2012. 50 de ambos no processo político representativo no município e nas demais instâncias de governo 59. As mulheres entrevistadas foram enumerando alguns aspectos importantes para a superação destes desafios, que se seguem. As mulheres precisam participar da esfera política, ter incentivo financeiro para suas campanhas e maior empoderamento para assumir com coragem uma disputa eleitoral (entrevistada 02 – funcionária Estadual). Ter mais mulheres da sociedade com perfil para se candidatar; ter potencial para representar o município. Não basta ser fêmea, pensar no salário de vereadora, prefeita, é preciso conhecer sobre sua representatividade, o papel de vereadora; Prefeita. São cargos de responsabilidades. Também, precisa trabalhar mais a consciência da sociedade para votar com liberdade e não em troca de favor. (entrevistada 01 – funcionária municipal) Ao questionar as entrevistadas sobre o fato dos partidos cumprirem a cota obrigatória, seis mulheres afirmaram que o partido observa e cumpre a cota de 30%, enquanto que para quatro mulheres ainda não há um cumprimento satisfatório dos partidos. Podemos observar que entre elas há um grande anseio por uma política partidária que dê maior visibilidade à participação da mulher na política. Segundo a impressão das entrevistadas, a participação da mulher na política é vista sempre atrelada à sombra do homem. Como exemplo, elas recordaram que a mídia explorou muito a imagem da presidente Dilma Rousseff como àquela que foi eleita por ter o apoio do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para as entrevistas, a solução é investir financeiramente e na formação da mulher. Deve haver o incentivo à inserção nos partidos. As mulheres precisam unir forças e serem mais ativas nos partidos e estes precisam valorizar mais a mulher na conquista da igualdade. 59 C.f MATOS, Marlise; CORTÊS, Iáris Ramalho. Mais Mulheres no Poder: Contribuição à Formação Políticas das Mulheres. Brasília, Presidência da República, Secretaria de Políticas para as Mulheres. 2010, p. 54-55. 51 Segundo Maria do Carmo Ferreira da Silva a realidade da mulher atuante na política do município de Araçuaí dá-se nos seguintes termos: Talvez pelo tamanho do município60 e devido à invisibilidade histórica do papel da mulher, este espaço de discussão em especial não existe. A discussão é geral, muito embora em realidades como a de Araçuaí, a figura da mulher seja fator determinante para se garantir a vida, sobretudo, na zona rural, porém o seu papel enquanto "sujeita de direitos" e agente político não é amplamente reconhecido e valorizado. Daí o seu "estar no mundo" enquanto tal é ainda novidade e desafio constante, seja mulher urbana ou rural, para afirmar-se sobre este prisma, no contexto histórico político em geral e, sobretudo, na região. Por meio desta colocação de Cacá, vai aos pouco clareando a postura dos partidos frente à solicitação de informação sobre os dados quantitativos das mulheres filiadas. Isto, leva-nos a perceber o quanto urge uma discussão mais propositiva das mulheres em geral, na trajetória dos partidos, com vistas à mudanças substanciais na conduta da política partidária no município. Isto aparece nos dados das entrevistadas, quando questionamos sobre a mobilização suprapartidária. Todas responderam não existir mobilização neste sentido no município. Algumas, esporadicamente, têm participado de encontros e reuniões desta natureza no âmbito regional ou estadual. Diante deste retrato da política partidária do município de Araçuaí, poderíamos nos perguntar: quais as forças que movem estas mulheres a continuarem firmes na luta? Do mergulho e da compreensão realizados, neste processo investigativo, podemos encontrar, em suas falas, o brio que as movem e as renovam em cada “batalha” travada no cotidiano político partidário: a trajetória sociopolítica que as fazem aprendizes incansáveis, concedendo - lhes o mérito de mestras e doutoras na “arte de bem governar, ou seja, fazer acontecer o melhor para o povo, a cidade, a nação”, como bem expressou, a nossa entrevistada, Viviane Patrícia Prates. 60 Nota: O município de Araçuaí tem uma extensão geográfica de 2.235,696 km². Vale ressaltar que ao falar do tamanho do município, Cacá, certamente, tem em mente, entre outros desafios, o acesso à Zona Rural. A maior parte das estradas não tem nenhuma pavimentação e é bastante precário, sobretudo, devido o relevo montanhoso. E temos uma parcela significante do eleitorado do município residindo na Zona Rural. 52 Conclusão Não temos a pretensão de apresentar um trabalho conclusivo, mas apenas uma análise critica de um ciclo da política do município de Araçuaí. Muitas vezes, precisamos rever nossa metodologia de trabalho para não perdermos a direção e também respeitar a dinamicidade da trajetória destas mulheres. Ao considerar que “numa ciência, onde o observador é da mesma natureza que o objeto, o observador, ele mesmo, é uma parte de sua observação” 61 , entendemos que o resultado desta investigação está permeado da nossa observação crítica e propositiva da realidade das mulheres na política partidária, bem como da articulação destas com a sociedade araçuaiense. Gostaríamos de ressaltar que não referenciamos alguns dados solicitados na entrevista, no decorrer do desenvolvimento do trabalho, por compreender que eles foram contemplados ao se tratar, principalmente, dos desafios e articulações no interior dos partidos políticos. De todo modo, vale registrar que a luta das mulheres entrevistadas está apenas começando. No aspecto suprapartidário, não há uma sólida mobilização das mulheres. Este é um ponto a se considerar no fortalecimento da representatividade da mulher no poder executivo e, sobretudo, no legislativo no âmbito municipal. O resultado alcançado com este trabalho foi poder registrar a história das mulheres na participação sóciopolítico do município, desde sua inserção nas políticas públicas à participação na política eletiva. Refere-se, portanto, a uma construção teórica, mas rica da experiência e luta destas mulheres. As entrevistas realizadas vieram elucidar aspectos a serem superados pelas mulheres, como a desarticulação entre as mulheres 61 C.f. STRAUSS, Levis. Apud: MINAYO, Maria Cecília de Souza. Org. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 19ª ed, Petrópolis-RJ, Vozes, 1994, p. 11. 53 filiadas; a falta de potencialização/formação política, a subrepresentação nos partidos e nos poderes eletivos, entre outros. No percurso da história da participação das mulheres, que articula o antes (presença nas políticas públicas) e o momento atual (inserção nos partidos políticos), o aspecto positivo deste trabalho foi a participação da mulher nos poderes eletivos em Araçuaí. Isto aparece de uma forma singular, à medida que se percebe que a mulher no poder legislativo e executivo contribuiu para o desenvolvimento do município e o fortalecimento da luta das mulheres em todos os âmbitos sociais. E, como sou gestora da política de assistência social, a investigação realizada nos possibilitou perceber a importância da nossa prática profissional como meio de fortalecimento e potencialização das mulheres atendidas para sua atuação sóciopolítico no município de Araçuaí. Por outro lado, não podemos deixar de apresentar o nosso apoio e incentivo a estas audaciosas mulheres: “mulheres, vocês nos orgulham com sua luta e persistência nesta trajetória política”. O exemplo que nos dão deixa-nos animada e nos faz acreditar numa política partidária com mais respeito à igualdade de gênero, também nos convoca a dar este passo em prol da cidadania e da democracia participativa no município. Avante! Também é interessante registrar que reunir algumas centelhas da presença da mulher no contexto da política partidária, sua representação no poder eletivo, entre outros aspectos, foi uma luta com nossas próprias limitações e com aquelas postas pela ausência de registros da história das mulheres na política e no desenvolvimento do município. O campo investigado é vasto e tem muito potencial a ser desvendado em cada momento da política partidária, que tem o seu ápice a cada ano eleitoral, dentro do período de quatro em quatro anos, conforme estabelece a legislação brasileira62. 62 C.f PINTO, Antonio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos. Constituição da República do Brasil. 21ª ed. São Paulo, Saraiva, 1999, p.. 29. 54 Neste sentido, o processo eleitoral pode ser considerado como um “termômetro” para avaliarmos os avanços a favor da participação da mulher no poder eletivo e seus reflexos na ação decisiva da sociedade através do voto. Esperamos com este trabalho poder incitar um pouco as mulheres filiadas a se mobilizarem cada vez mais na conquista dos espaços eletivos. Esperamos que elas possam sair deste “lugar” do cumprimento das cotas estabelecidas pela Lei 9.504/97 e possam ser mulheres militantes e atuantes na comunidade, sobretudo, em prol da ampliação e efetivação de ações, programas e projetos que contemplem as mulheres do Vale do Jequitinhonha, em especial, do município de Araçuaí. Enfim, o trabalho apresentado, modéstia a parte, poderá servir de instrumento inicial para outros/as investigadores/as que ousarem aprofundar neste campo que se refere à em prol da visibilidade e ao empoderamento das mulheres, mães, trabalhadoras e batalhadoras no campo da política partidária. 55 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA ARAÚJO, Judite Vieira. et. all. Um pouco de Araçuaí. Belo Horizonte: PUC, 1995. BOTELHO, Valéria. Pequena História das Irmãs Franciscanas Penitentes Recoletinas no Brasil. 2ª ed. 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História das Eleições no Brasil. Disponível em: http://www.tse.gov.br/hotSites/biblioteca/historiadaseleicoes /capitulos/criacaojustica/criacao.htm.Acesso em: 24 de maio de 2012. 58 APÊNDICE I UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS COM ÊNFASE EM GÊNERO E RAÇA QUESTIONÁRIO PESQUISA TEMA TCC: “TRAJETÓRIA SÓCIOPOLÍTICA DAS MULHERES INSERIDAS NA POLÍTICA PARTIDÁRIA EM ARAÇUAÍ - MG: Conquistas e desafios” NOME____________________________________________________________ IDADE_______________________________ RAÇA/COR__________________ ESCOLARIDADE______________________ ESTADO CIVIL______________ PROFISSÃO ___________________________ TRABALHA: ( ) ÓRGÃO PUBLICO ( ) PRIVADO ( ) OUTRO _________________________________________ PARTIDO_____________________________ TEMPO FILIAÇAO: __________ 1- SUA PARTICIPAÇAO POLITICA TEVE MOTIVAÇAO EM: _____ LEI 9504/95 _________ Militância social. _____ Participação em ONG’s _________ Tradição família. ___ Outra. Qual ___________________________________________________ 2- VOCÈ CONSIDERA QUE A COTA DE 30% DE CANDIDATAS PARA DISPUTA ELEITORAL ESTÁ SENDO CUMPRIDA EM SEU PARTIDO? __________ SIM ___________ NÃO. 3- CASO A RESPOSTA SEJA NEGATIVA, QUAIS OS FATORES QUE VOCÊ AVALIA QUE IMPEDEM O CUMPRIMENTO DA COTA? (mais de uma resposta enumerar em grau de importância) ________ investimento na campanha da mulher. ________ número insuficiente de mulheres filiadas. 59 ________ desinteresse das mulheres filiadas. ________ falta de formação política partidária das mulheres filiadas. ________ outros. Quais. _________________________________ 4- VOCÊ JÁ PARTICIPOU DO PROCESSO MUNICIPIO? QUAL O CARGO PLEITEADO? ( ) SIM ( ) NÃO ELEITORAL NO CARGO:___________________________ 5- VOCÊ AVALIA QUE DURANTE A CAMPANHA: ________ As mulheres eleitoras sentiram representadas nos espaços de poder, através de você. ________ Teve apoio financeiro para levar avante sua campanha. ________ Nos comícios, sentiu que teve espaço para apresentar sua proposta de trabalho. ________ Recebeu algum comentário no que se refere à questão de ser mulher. _________ outra Qual____________________________________ avaliação. 6- QUAL A ÁREA QUE VOCÊ INVESTIRIA E PRIORIZAVA SUAS AÇOES, SENDO ELEITA VEREADORA/ PREFEITA DO MUNICIPIO. ? ( ) EDUCAÇÃO ( ) ASSISTENCIA SOCIAL ( ) SAÚDE ( ) INFRAESTRUTURA DA CIDADE ( )OUTRA ___________ 7- VOCÊ AVALIA QUE O PROCESSO DE CAMPANHA ELEITORAL, DENTRO DO PARTIDO, RESPEITA A EQUIDADE ENTRE GÊNEROS (masculino e feminino), EM QUAIS ASPECTOS: ______ Participação no processo de convenção partidária. ______ incentivando e financiando a campanha dos/as candidatas/os. ______ respeitando a cota de 30% de mulheres candidatas. _____ Criando espaço para discussão sobre a questão de gênero dentro do partido. 60 _____ Outros. Quais __________________________________________ 8- APONTE TRÊS ASPECTOS QUE VOCÊ AVALIA IMPORTANTES NA CONQUISTA DA MULHER NO CAMPO POLÍTICO PARTIDÁRIO? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 9- VOCÊ TEM CONHECIMENTO DA REALIDADE ELEITORAL EM ARAÇUAI REFERENTE O NÚMERO DE ELEITORES FEMININOS E MASCULINOS? _________ SIM ___________ NÃO 10- O PARTIDO TEM ALGUMA AÇAO/PROJETO QUE EVIDENCIA E MOTIVA AS MULHERES A SE FILIAREM? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 11- VOCÊ PARTICIPA OU HÁ ALGUMA MOBILIZAÇAO SUPRAPARTIDÁRIO DAS MULHERES FILIADAS AQUI NO MUNICIPIO DE ARAÇUAI – MG? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 12- ENUMERE TRÊS DESAFIOS/ CONQUISTAS DA VIDA PRIVADA (FAMÍLIA/ CASA) QUE VOCÊ AVALIA ESTAR PRESENTE NA VIDA DA MULHER FILIADA: _________________________ _____________________ _________________________ ______________________ _________________________ ________________________ 13- VOCÊ TEM ALGUMA CONSIDERAÇÃO SOBRE A POLÍTICA PARTIDÁRIA NO MUNICÍPIO, REFERENTE À GÊNERO, QUE VOCÊ GOSTARIA DE ELUCIDAR? 61 APENDICE II Araçuaí, 11 de abril de 2012. Exmo Sr/ Sra. Presidente,___________________________________ Com nossos cordiais cumprimentos, estamos solicitando, por gentileza, informações junto ao Partido para uma pesquisa em desenvolvimento do Curso de Especialização em Gestão de Políticas Públicas em Raça e Gênero, pela AMDE - CÁTEDRA UNESCO - ÁGUA, MULHERES E DESENVOLVIMENTO, ministrado pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO – MG. Ao finalizarmos o Curso faz-se necessário apresentarmos um Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. Diante da realidade da mulher araçuaiense, que se encontra inserida nos espaços das políticas públicas e também no mercado de trabalho, vimos por bem buscar conhecer a realidade das mulheres que integram os partidos políticos com possibilidade de tornarem-se representantes de todas estas mulheres no âmbito dos poderes eletivos, ou seja, como vereadoras ou prefeitas no município. Para isso, propomos realizar uma pequena investigação da realidade da mulher inserida nos partidos políticos. O nosso trabalho é intitulado: “TRAJETÓRIA SOCIOPOLITICO DAS MULHERES INSERIDAS NA POLITICA PARTIDARIA EM ARAÇUAI - MG: Conquistas e desafio.” Por meio desta, pretende-se ressaltar a importância da participação da mulher neste espaço democrático, bem como, suas contribuições na efetivação das políticas públicas. Para tanto, queremos contar com o apoio dos/as senhores/as para nos informar o número de mulheres que se encontram filiadas no partido, que está sob vossa presidência. Se possível, referenciar 03 mulheres que se dispõe a nos receber para uma breve entrevista. Deixamos alguns critérios desejáveis para indicação das mulheres: que esteja ativa no partido; tenha ao menos um ano de filiação; que tenha participado como candidata eletiva nas eleições municipais. 62 Deixamos contato solicitação. para possível retorno da nossa E-mail: [email protected] Rua Geraldo da costa Almeida – 1265 – São Francisco – Araçuaí – MG. Desde já agradecemos, Maria Salete Alves Santos