ILDA BASSO (Org.) JOSÉ CARLOS RODRIGUES ROCHA (Org.) MARILEIDE DIAS ESQUEDA (Org.) II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO LINGUAGENS EDUCATIVAS: PERSPECTIVAS INTERDISCIPLINARES NA ATUALIDADE BAURU 2008 S6126 Simpósio Internacional de Educação (2. : 2008 : Bauru, SP) Anais [recurso eletrônico] / 2. Simpósio Internacional de Educação / Ilda Basso, José Carlos Rodrigues Rocha, Marileide Dias Esqueda (organizadores). – Bauru, SP : USC, 2008. Simpósio realizado na USC, no mês de junho de 2008, tendo como tema : Linguagens educativas – perspectivas interdisciplinares na atualidade. ISBN 978-85-99532-02-7. 1. Educação – simpósios. 2. Linguagens educativas. I. Basso, Ilda. II. Rocha, José Carlos Rodrigues. III. Esqueda, Marileide Dias. VI. Título. CDD 370 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DE CRIANÇAS COM ALTERAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E PSICOSSOCIAL. NEUROPSYCHOLOGICAL EVALUATION OF CHILDREN WITH CHANGES IN DEVELOPMENT AND COGNITIVE PSYCHOSOCIAL. Dra. Maria de Lourdes Merighi TABAQUIM1 Amanda Cristina FIORETTO2 Ana Vera NIQUERITO3 Resumo A avaliação neuropsicológica investiga o comportamento nas formas complexas de atividade mental, em condições normais e patológicas. Na busca pelo diagnóstico, procedimentos metodológicos específicos são necessários, pois facilitam a compreensão das dificuldades e elucidam as habilidades do examinando. A aprendizagem envolve sistemas de informação relacionados às áreas de recepção, processamento e expressão, principalmente com relação à linguagem, memória, afetividade e ao movimento intencional, caracterizando fatores cognitivos do sistema nervoso. Para adotar procedimentos educacionais e comportamentais eficazes junto à criança que apresenta dificuldades na aprendizagem escolar e no comportamento adaptativo, é necessário o entendimento de suas competências, tanto nos recursos cognitivos quanto no nível de resposta na tarefa. O objetivo deste estudo foi obter um perfil neuropsicológico de crianças com alterações cognitivas e psicossociais, relacionado às funções corticais superiores. Participaram 44 sujeitos na faixa etária de 7 a 12 anos de idade, ambos os sexos, freqüentando escola especializada e regular, em níveis pré-escolar e fundamental até a 4ª série. Na avaliação neuropsicológica foram empregados os seguintes instrumentos: Raven Matrizes Progressivas Coloridas, Avaliação de Vocabulário por Imagens Peabody e Fábulas de Düss. Os resultados permitiram evidenciar escores globais abaixo da média para a idade e escolaridade no grupo pesquisado. Com relação aos níveis cognitivos, atencionais, de memória, linguagem, em tarefas acadêmicas de leitura, escrita e aritmética, o grupo manteve a classificação abaixo do esperado para a média, evidenciando dificuldades relacionadas ao domínio espaço-temporal e generalização de informações necessárias para a compreensão lógico-abstrata. O repertório lingüístico mostrou-se restrito para todos os sujeitos do estudo, baseado principalmente em falas objetivas e do cotidiano da criança. Desta forma, os recursos de linguagem mostraram-se em níveis primários, sendo a competência receptiva superior à expressiva. Na avaliação das condutas adaptativas, foi constatado que 66% dos sujeitos demonstraram comportamentos de dependência ao meio afetivo e social; 42,07% mostraram respostas indicativas de egocentrismo e possessividade em relação a objetos e pessoas, com dificuldades na expressão de comportamentos cooperativos, de troca e afinidades nas relações. Foram identificados 41,65% de sujeitos com prejuízo no autoconceito, com sentimentos de insegurança e inadequação na relação com o meio, medos indicativos de perdas parentais e de figuras com grande valência afetiva. O estudo identificou que 68,18% dos sujeitos apresentaram fantasias características de fases primárias do desenvolvimento, tais como, medo do escuro, do “bicho papão”, etc. Estes dados sugerem a imaturidade cognitiva e psicossocial dos participantes, pelas dificuldades em lidar com estímulos novos e reais do ambiente imediato. Os desempenhos prejudicados relacionados ao comportamento adaptativo demonstraram disfunção de áreas neuropsicológicas frontais e 1 Professora Doutora do Curso de Psicologia da Universidade do Sagrado Coração. Aluna do Curso de Psicologia da Universidade do Sagrado Coração. 3 Aluna do Curso de Psicologia da Universidade do Sagrado Coração. 2 límbicas do córtex, responsáveis pelo processamento de informações estratégicas, de planejamento e escolhas com julgamento moral. Os recursos cognitivos incipientes caracterizaram condições desfavoráveis para o processamento, à retenção e generalização de informações, conseqüenciando em perdas na produtividade dos sujeitos. O estudo concluiu a existência de alterações cognitivas e psicossociais relacionadas aos recursos escassos neuropsicológicos para o ajustamento afetivo e social dos sujeitos. Palavras-chave: avaliação neuropsicológica; cognição; desenvolvimento; função cortical. Abstract The neuropsychological evaluation investigates the behavior in complex forms of mental activity in normal and pathological conditions. In the search for diagnosis, specific methodological procedures are necessary, as facilitate the understanding of the difficulties and clarify the skills of examining. The learning involves information systems related to the areas of receiving, processing and expression, particularly with regard to language, memory, affection and movement intentional, characterizing cognitive factors nervous system. To adopt procedures educational and behavioral effective with the child who presents difficulties in school and learning in adaptive behavior, it is necessary to the understanding of its powers, both in knowledge resources as the level of response in the task. The objective of this study was to obtain a neuropsychological profile of children with psychosocial and cognitive changes, related to higher cortical functions. 44 subjects participated in age from 7 to 12 years of age, both sexes, and regularly attending school specializes in pre-school levels and key until the 4 th series. In neuropsychological evaluation were used the following instruments: Raven Progressive Matrices Colorful, Assessment of vocabulary by images of Peabody and Fábulas Düss. The results revealed global scores below average for their age group in school and searched. With respect to cognitive levels, attention, memory, language, academic tasks of reading, writing and arithmetic, the group kept the rating below that expected for the average, highlighting difficulties related to the domain space-time and spread of information needed to -abstract logical understanding. The linguistic repertoire proved to be restricted to all subjects of the study, based mainly in daily discourse and the objective of the child. Thus, the resources of language showed up at primary levels, with the power receptive than expressive. In the assessment of adaptive behaviors, it was found that 66% of the subjects showed behaviour of dependence on affective and social environment; 42.07% showed responses indicative of egocentrism and possessividade regarding objects and people with difficulties in the expression of cooperative behavior, exchange and affinities in relations. They were identified 41.65% of subjects with prejudice in self, with feelings of inadequacy and insecurity in the relationship with the environment, fears indicative of loss of parental figures and with great valencia affective. The study identified that 68.18% of the subjects had fantasies characteristics of primary stages of development, such as fear of dark, the "bogeyman beast", etc.These data suggest the cognitive and psychosocial immaturity of the participants, the difficulties in dealing with new stimuli and real the immediate environment. The performances related to impaired adaptive behavior demonstrated areas of neuropsychological dysfunction and límbicas front of the cortex, responsible for processing of strategic information, planning and choices with moral judgement. The knowledge resources incipient characterized unfavourable conditions for the processing, retention and spread of information, conseqüenciando in losses in productivity of the subject. The study concluded that there are psychosocial and cognitive changes related to neuropsychological scarce resources for the emotional and social adjustment of the subject. Keywords: neuropsychological evaluation; cognition; development; cortical function. INTRODUÇÃO A trajetória das neurociências vem se desenvolvendo ao longo dos séculos. Embora o avanço do aparato tecnológico e médico-científico possibilite a investigação mais complexa da atividade cerebral e sua correlação como comportamento humano, ainda assim há muito para se descobrir nesse campo da ciência (ANDRADE, 2004) A neurociência é um campo interdisciplinar que abrange um conjunto de disciplinas dentre outras: neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica, neuroimagem, genética, farmacologia, neurologia, psicologia, psiquiatria. As neurociências procuram estudar as várias relações entre o comportamento e a atividade cerebral (ANDRADE, 2004) Dentro das neurociências, o papel do psicólogo vem conquistando um grande destaque, que resultou na Resolução nº 02/2004 do Conselho Federal de Psicologia, que regulamenta a prática da neuropsicologia (diagnóstico, acompanhamento, reabilitação e pesquisa) como especialidade do profissional psicólogo através de registro e titulação (ANDRADE, 2004) Todas as tarefas, que diariamente realizamos, necessitam da atividade cerebral. As principais funções cognitivas são: percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas. É a partir da relação entre todas estas funções que entendemos a grande maioria dos comportamentos, desde o mais simples até as situações de maior complexidade, e que exigem atividades cerebrais mais elaboradas (ANDRADE, 2004). A atenção é uma função cognitiva bem complexa e diversos comportamentos resultam de um nível adequado de atenção para serem bem sucedidos, também é um pré-requisito fundamental para o processo de memorização. O conceito de atenção é definido pela seleção e manutenção de um foco, seja de um estímulo ou informação, entre as inúmeras que obtemos através de nossos sentidos, memórias armazenadas e outros processos cognitivos. A habilidade de manter a própria atenção focada em um conteúdo mental fica diminuída, ou seja, pode-se ter dificuldade de se manter uma seqüência de pensamentos simples, o que invariavelmente compromete a habilidade de solução de problemas mais complexos (STERNBERG, 2000). A memória é uma das funções cognitivas mais utilizadas pelo ser humano em seu cotidiano. Memória é a capacidade de armazenar informações, lembrar delas e utilizá-las no presente. O bom funcionamento da memória depende inicialmente do nível de atenção. Para que o bom armazenamento aconteça, outras atividades cognitivas como a capacidade de percepção e associação são importantes para que as informações possam ser armazenadas com sucesso. Quanto maior o interesse em aprender algo, melhor será o armazenamento das informações obtidas nesse processo. Assim,quanto maior o número de emoções (sejam elas positivas ou negativas) atribuídas a um evento,mais chances dele permanecer na memória para uma futura recuperação (STERNBERG, 2000). A linguagem é uma função que usamos todos os dias, durante a maior parte do tempo, seja a linguagem oral (numa conversa) ou escrita (ao ler ou escrever um texto). O conceito de linguagem é definido pelo uso de um meio organizado de combinar as palavras a fim de se comunicar, embora a comunicação não se constitua unicamente num processo verbal. As formas não-verbais, como gestos ou desenhos,também são capazes de transmitir idéias e sentimentos (STERNBERG, 2000). A linguagem também é caracterizada pela sua constante evolução; pois, embora as pessoas respeitem os limites de sua estrutura (gramática, ortografia), elas podem produzir novas elocuções a qualquer momento. Basta observar as mudanças ocorridas na escrita de certas palavras há algumas décadas atrás, por exemplo, “pharmácia” (STERNBERG, 2000). A percepção é uma função cognitiva que se constitui de processos pelos quais o sujeito é capaz de reconhecer, organizar e dar significado a um estímulo vindo do ambiente através dos órgãos sensoriais (STERNBERG, 2000). As funções executivas compreendem um conceito neuropsicológico que se aplica às atividades cognitivas responsáveis pelo planejamento e execução de tarefas. Elas incluem o raciocínio, a lógica, a estratégia, a tomada de decisões e a resolução de problemas. Independente do grau de complexidade do problema, o sujeito precisa estar apto para analisar a situação (problema), lançar mão de estratégias, e antever as conseqüências de sua decisão (MELLO, 2005). Segundo Tabaquim (2002 apud LURIA, 1981), a Neuropsicologia é uma ciência interdisciplinar do conhecimento que estuda as relações entre cérebro e comportamento, investigando o papel desempenhado por sistemas cerebrais individuais em formas complexas de atividade mental, em condições normais e patológicas. O conhecimento sobre fundamentos básicos das ciências afins da Neuropsicologia, como a Neurologia, a Psicologia, a Lingüística e a Inteligência Artificial, são essenciais para a formação do pesquisador dessa área (TABAQUIM 2002 apud DAMASCENO, 1997). E nos últimos vinte anos, os paradigmas da Psicologia Cognitiva e das Ciências da Computação deram origem à “Neuropsicologia Cognitiva”. A Neuropsicologia estuda os distúrbios das funções superiores reduzidos por alterações cerebrais, e investiga especificamente os distúrbios dos comportamentos adquiridos, através do qual cada homem mantém relações adaptadas com o meio (TABAQUIM, 2002). Segundo Tabaquim (2002 apud LURIA, 1973), a Neuropsicologia tem por objetivo a investigação do papel de sistemas cerebrais individuais, em formas complexas de atividade mental. Seus métodos procuram facilitar o diagnóstico tópico, precoce e mais exato, das lesões cerebrais locais, procurando não apenas estabelecer programas de ação terapêutica e reeducativa, como também trazer importantes contribuições para uma mais ampla compreensão sobre a atividade mental, bem como sobre toda a psicodinâmica humana. Segundo Tabaquim (2002), a compreensão dos processos da aprendizagem e seus distúrbios busca considerar e conhecer aspectos neuropsicológicos, tendo em vista que as manifestações são, na sua maioria, reflexos de funções alteradas, ou seja, disfunções em áreas da recepção, processamento e expressão das informações, principalmente com relação à linguagem e ao movimento intencional. O cérebro é o sistema integrador, coordenador e regulador entre o meio ambiente e o organismo, entre cérebro e comportamentoaprendizagem. Sabe se que, quanto mais se aprende sobre as relações cérebro-comportamento e cérebro-aprendizagem, melhor será o nível de compreensão e de intervenção sobre a criança com dificuldades de aprendizagem, tornando-se possível obter melhores recursos para o diagnóstico e prognóstico do seu potencial de aprendizagem. A avaliação neuropsicológica comumente se estrutura em uma série de testes e subtestes, não se deve duvidar que a organização cerebral está muito mais além das simplificações e abstrações. O valor dos resultados de uma bateria neuropsicológica deve realizar-se como um dos conceitos de sistemas ou de redes funcionais. Na avaliação neuropsicológica pode-se seguir diversas orientações e métodos. Em geral, dois tipos de abordagens são diferenciados: 1-seguindo uma sistematização definida e estandartizada, aplicando a todos os pacientes de forma sistemática; 2-utilizando uma forma mais flexível, selecionando um conjunto de provas que se adapte aos problemas e necessidades específicas de cada caso. O desenvolvimento cognitivo favorece o desempenho da criança na escola. O baixo rendimento é um problema educacional e social que restringirá a participação do aluno na vida acadêmica e particular. É preciso promover o autoconceito do/a aluno/a, respeitando seus diferentes modos e ritmos de aprendizagem para que sintam confiança na sua capacidade de aprender, ao se perceber aprendendo, quando estimulado a progredir, cada vez mais, a partir da descoberta das suas potencialidades (HOWSTUFFWORKS, 2007). Desta forma, cada vez mais são necessários estudos que busquem favorecer a compreensão das potencialidades da criança e possibilitem estratégias para aprender. As crianças na faixa etária de 7 a 12 anos, que estão no estágio operacional concreto, vivenciam um período em que começam a ter a capacidade de pensar de maneira lógica e entender os conceitos que usam ao lidar com o ambiente ao seu redor. A presente proposta visa atender a demanda de alunos, ligados a instituições de ensino regular e especial, que apresentem necessidades de intervenção para minimização do fracasso acadêmico. JUSTIFICATIVA A escolarização fundamental é uma fase sensível para o desenvolvimento acadêmico e vital da criança, pois envolve inúmeras mudanças que ocorrem simultaneamente, requerendo adaptações nos ambientes, físico, acadêmico, social e psicológico do aluno. Frente ao acúmulo das demandas, novas e complexas, algumas crianças encontram dificuldades para superar os desafios, principalmente quando existem condições prévias de vulnerabilidade. A avaliação neuropsicológica oferece suporte conceitual e investigativo ao estudo das condições que contribuem para a adaptação e aprendizado escolar. A Neuropsicologia é uma ciência voltada para a expressão do comportamento por meio das disfunções cerebrais e ampara-se na avaliação de determinadas manifestações do indivíduo para a investigação do funcionamento cerebral. No estudo da criança e do adolescente deve-se levar em conta os processos de crescimento e maturação cerebral, o desenvolvimento cognitivo, neuropsicomotor e afetivosocial, bem como as variáveis críticas que determinam e interferem nas habilidades, tais como o ambiente acadêmico. No processo avaliativo, a compreensão das habilidades e competências referentes aos recursos neuropsicológicos possibilita a programação de estratégias reeducativas e a melhoria de repertórios que favorecem o auto-conceito, o ajustamento escolar e psicossocial da criança ou do adolescente. Neste sentido, a literatura tem sido escassa na área do desenvolvimento atípico de crianças e adolescentes, que freqüentam instituição educacional especializada. Estudos sobre a aprendizagem e o comportamento adaptativo podem representar referencial acadêmico- científico contribuinte significativo, na compreensão das dificuldades escolares, com tão alta incidência nos últimos tempos. OBJETIVO GERAL O objetivo deste estudo foi investigar as habilidades cognitivas de crianças com alterações no desenvolvimento e na conduta psicossocial. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Identificar desempenhos relacionados às áreas cognitivas, motora, perceptiva da linguagem, memória e afetividade social; Correlacionar os desempenhos às funções corticais, através da análise neuropsicológica. METODOLOGIA Participaram 44 sujeitos na faixa etária de 7 a 12 anos de idade, ambos os sexos, da pré-escola à 4ª série do ensino fundamental de uma instituição educacional especializada. O critério para a escolha da população-alvo foi pelas diversas dificuldades apresentadas em relação à aprendizagem. Inicialmente foram realizados os procedimentos formais e éticos junto à instituição escolar para a realização da coleta de dados. Os instrumentos de avaliação empregados foram: -Raven. Matrizes Progressivas Coloridas. Avalia o nível mental, independente do conhecimento adquirido. Composto por 35 estímulos visuais, agrupados em três séries, cada uma com um conjunto de desenhos, dentre os quais falta um que completa logicamente o conjunto. -Avaliação da Personalidade: Fábulas de Düss. Avalia os aspectos cognitivolinguísticos e psicossociais. Na forma verbal, avalia dois aspectos do desenvolvimento: psicossocial, quando o discurso do examinando é comparado às temáticas e significados de cada fábula; e o cognitivo, onde as respostas deverão ser construídas com linguagem coerente e apresentar uma formalidade lógica na estória, adequada. O instrumento é composto por dez pequenas histórias incompletas, envolvendo as seguintes fábulas: do passarinho, aniversário de casamento, cordeirinho, enterro ou viagem, medo, elefante, objeto fabricado, passeio com a mãe ou pai, da notícia e do sonho mau. O Quadro 1 caracteriza as fábulas e os significados, cognitivo e psicossocial. Item F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9 F10 Fábula Um papai e uma mamãe pássaros e seu filhote estavam dormindo no ninho, quando por causa de um vento ele cai no chão. A mamãe voa para uma árvore, o papai voa para outra árvore. O que vai fazer o filhote passarinho? Ele já sabe voar um pouco. É uma festa de aniversário do papai e da mamãe. Durante a festa a criança se levanta e vai ficar sozinha do fundo do quintal. Por quê? No pasto estão a mamãe ovelha e seu carneirinho. Todos os dias eles brincam e ela dá um bom leite quente que ele adora, mas ele já come capim também. Um dia trouxeram para a mamãe uma outra ovelhinha, e como ela não tinha leite suficiente para os dois, pede ao primeiro que vá comer capim. O que o carneirinho vai fazer? Um enterro está passando na cidadezinha, sabem que é alguma pessoa da família que mora naquela casa que morreu. Quem é que morreu? Uma criança diz bem baixinho: ‘ai que medo’. De que ela tem medo? Uma criança tem um elefantinho que ela gosta muito, com sua trompa bem comprida. Um dia quando ela volta do passeio percebe que ele está diferente. O que ele tem de diferente? Por que está diferente? Uma criança construiu um objeto de argila que ela acha lindo. Sua mãe pede o objeto de presente, a criança é livre para dar ou não dar. O que esta criança vai fazer? Por quê? Um menino(a) faz um passeio sozinho com sua mãe(pai). Voltando para casa o menino(a) acha que ela(e) está estranho. Por quê? Uma criança volta da escola e sua mãe diz que tem uma coisa para contar. O que a mãe vai lhe contar? Uma criança acorda e diz que está muito cansada, porque teve um sonho mau. Com o que ela sonhou? Psicossocial Cognição Independência Adequado Inadequado Sentimento de inclusão Maturidade x Egocentrismo Sentimentos de perda Fantasias de perseguição Enfrentamento do desconhecido Generosidade x Possessividade Culpa e afeto parental Desejo x castigo Relações antecedentes positivas Adequado Inadequado Adequado Inadequado Adequado Inadequado Adequado Inadequado Adequado Inadequado Adequado Inadequado Adequado Inadequado Adequado Inadequado Adequado Inadequado QUADRO 1 – Indicação das fábulas e significados, psicossocial e cognitivo. -TVIP -Vocabulário por Imagens Peabody (DUNN et al, 1986; CAPOVILLA et al., 1997). Avalia a linguagem receptivo-auditiva e o repertório lingüístico de crianças e adolescentes de 6 a 18 anos. Composto por um caderno com 144 itens, com quatro figuras em cada página, que o examinando deve indicar aquela falada pelo examinador. A análise dos dados foi feita conforme procedimentos normativos de cada instrumento utilizado. RESULTADOS Os dados foram organizados e categorizados percentualmente. A análise das respostas de cada instrumento aplicado teve base na teoria cognitiva e neuropsicológica. Os resultados das provas de nível mental demonstraram nível mental altamente prejudicado em 86,4% dos sujeitos, com classificação abaixo da média, conforme Tabela 1. Classificação Superior Acima da Média Média Abaixo da Média Deficiente Percentil = ou > 95 75 e 90 25 a 75 25 a 10 = ou > 5 Quantidade Sujeitos 0 0 Acima de 50 = 2 Abaixo de 50 = 1 Acima de 25 = 3 Igual a 25 = 2 Abaixo de 25 = 6 Acima de 10 = 5 Igual a 10 = 1 Abaixo de 10 = 1 Igual a 5 = 4 Abaixo de 5 = 19 Total Percentual 0 0 13,6 34,2 52,2 Tabela 1 – Representação dos resultados obtidos na prova de nível mental (Raven). Os dados demonstram níveis cognitivos espaço-lógico-temporal, atencional e relacionado à memória operacional, importantes em tarefas acadêmicas de leitura, escrita e aritmética, com classificação abaixo do esperado para a média, evidenciando dificuldades relacionadas ao domínio espaço-temporal e generalização de informações necessárias para a compreensão lógico-abstrata. Na avaliação das condutas adaptativas, foi constatado que 66% dos sujeitos demonstraram comportamentos de dependência ao meio afetivo e social; 42,07% mostraram respostas indicativas de egocentrismo e possessividade em relação a objetos e pessoas, com dificuldades na expressão de comportamentos cooperativos, de troca e afinidades nas relações. Foram identificados 41,65% de sujeitos com prejuízo no auto-conceito, com sentimentos de insegurança e inadequação na relação com o meio, medos indicativos de perdas parentais e de figuras com grande valência afetiva. O estudo identificou que 68,18% dos sujeitos apresentaram fantasias características de fases primárias do desenvolvimento, tais como, medo do escuro, do “bicho papão”, etc. A média cognitiva foi de 74%, o que representa um índice satisfatório do grupo em estratégias de adaptação às situações cotidianas, não relativas à aprendizagem formal. A média psicossocial foi de 45%, representando escores inferiores quanto ao comportamento afetivo relacionado à maturidade social. Desta forma, situações psicológicas, como em conflitos familiares e pessoais, mostraram-se mais dificultosas para o grupo deste estudo. Na Tabela 2 são apresentados os percentuais de desempenho cognitivo adequado à faixa etária estudada e de adequação psicossocial frente à resolução de problemas adaptativos. ITEM F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9 F10 COGNIÇÃO 84,1 79,5 79,5 68,1 79,5 50,0 86,4 59,1 79,5 75,0 PSICOSSOCIAL 34 2,3 54,5 63,6 18,2 47,7 61,3 47,7 45,4 75,0 Tabela 2 – Resultados percentuais cognitivos e psicossociais (Duss) Desta forma, os dados sugerem a imaturidade cognitiva e psicossocial dos participantes, pelas dificuldades em lidar com estímulos novos e reais do ambiente imediato. Os desempenhos prejudicados relacionados ao comportamento adaptativo demonstraram disfunção de áreas neuropsicológicas frontais e límbicas do córtex, responsáveis pelo processamento de informações estratégicas, de planejamento e escolhas com julgamento moral. Recursos cognitivos-lingüísticos incipientes caracterizaram condições também desfavoráveis para o processamento, retenção e generalização de informações, conseqüenciando em perdas na produtividade dos sujeitos. A Tabela 3 apresenta os valores referentes aos desempenhos dos sujeitos nas provas lingüísticas. Critérios Não aplicável Abaixo de 55 55-69 70-84 85-114 115-130 131-145 Classificação Crítico Extremamente baixo Moderado Média Moderadamente alto Extremamente alto Nº Sujeitos 03 16 14 06 05 0 0 Tabela 3- Valores referentes aos desempenhos dos sujeitos nas provas linguísticas Percentual/Sujeitos 6,9 36,2 31,9 13,7 11,3 0 0 O repertório cognitivo-lingüístico foi extremamente baixo para 31,9% dos sujeitos, tendo o grupo um léxico básico, receptivo e expressivo, principalmente em falas objetivas e do cotidiano da criança. Da amostra, somente 11,3% atingiram a média lingüística compatível com a faixa etária. Desta forma, os recursos de linguagem mostraram-se em níveis primários, sendo a competência receptiva superior à expressiva. DISCUSSÃO Os sujeitos que compuseram a amostra do estudo demonstraram repertórios relacionados ao desenvolvimento mental com prejuízos em todas as áreas corticais superiores cerebrais, tendo em vista os valores médios obtidos nas tarefas instrumentadas no processo avaliativo. Indivíduos com atraso no desenvolvimento cognitivo comumente apresentam alterações na linguagem, tanto a receptiva quanto a expressiva. Para algumas crianças, no entanto, a habilidade de se comunicar é influenciada por fatores relacionados não somente ao desenvolvimento, mas a fatores ambientais. Quando a criança apresenta um grau eficiente de socialização, tende a desenvolver mais rapidamente a linguagem do que crianças que apresentam o isolamento como forma de comportamento padrão. Outro fator a ser considerado é da criança que não apresenta malformação severa, pois estão muito mais propensas a adquirir habilidades expressivas de linguagem do que outras que não se enquadram neste critério. O estudo constatou, confirmando os dados da literatura, que crianças com atraso cognitivo, cujas habilidades de comunicação e socialização estão menos prejudicadas, apresentam um melhor perfil de desenvolvimento e melhor performance em tarefas dirigidas. O comportamento dependente de tarefas do cotidiano, relacionadas ao autocuidado ou mesmo à mobilidade, são mais freqüentes em crianças que apresentam atraso cognitivo, pois teriam maior dificuldade em se relacionar e socializar. Os resultados obtidos no presente estudo mostraram que as áreas relacionadas à socialização e ao autocuidado apresentaram escores prejudicados. A falta de estimulação adequada, a acomodação ou desmotivação da família, atreladas a limitação do indivíduo e às características de personalidade, podem fazer toda a diferença quando considerada a faixa cronológica e de desenvolvimento. Dependendo da extensão, grau e tipo de deficiências associadas ao desenvolvimento, a criança pode acomodar-se em uma condição desfavorável de dependência, levando a família, por extensão, a adotar os mesmos princípios, o que poderá refletir na qualidade de vida e na baixa otimização de recursos tróficos do sujeito. CONCLUSÃO O repertório de habilidades e competências cognitivas, lingüisticas e psicossociais das crianças participantes do estudo mostrou-se defasado com relação à idade e escolaridade, sugerindo recursos neuropsicológicos limitados ao ajustamento afetivo e social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, F.H.S. (org.) Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004. MEYERHOFF, M (trad. HowStuffWorks). Desenvolvimento cognitivo e social de um recém-nascido. Ed.D. ". Publicado em 13 de julho de 2006 (atualizado em 19 de março de 2007). Acesso em: http://saude.hsw.uol.com.br/compreendendo-o-desenvolvimentocognitivo-e-social-deum-recem-nascido3.htm, dia 08 de Nov. 2007. TABAQUIM, M.L. Avaliação Neuropsicológica: Estudo Comparativo de crianças com paralisia cerebral hemiparetica e distúrbios de aprendizagem. Tese (Doutorado Ciência Medicas) -Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. 2002. MELLO, C.B. (org.) Neuropsicologia do desenvolvimento. São Paulo: Memnon, 2005. STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.