Reforma Gerencial do Estado e os seus Significados: um Estudo em Duas Agências Locais Prestadoras de Serviços Públicos Autoria: Renata Pedretti Morais Furtado, Patricia Aparecida Ferreira, Karen Vilas Boas, Renata Almeida da Silva, Carina Santos Perreira Resumo: Emerge a partir da segunda metade do século XX, uma expansão das funções econômicas e sociais do Estado frente ao desenvolvimento tecnológico e ao regime globalitário. A reforma do Estado tornou-se essencial para a eficiência, eficácia e efetividade da administração pública com controle dos custos e qualidade dos serviços. O trabalho tem por objetivo investigar duas instituições federais, foram realizadas quinze entrevistas, sendo seis na RF e nove na CEF. Destaca-se que a pesquisa demonstra o significado do processo de Reforma Gerencial do Estado para CEF e RF e como esta vai se ressignificando, conforme as especificidades das realidades locais. 1 Introdução A administração pública vem enfrentando a quase duas décadas várias mudanças que fortalecem a capacidade dos governos para desenvolver e implementar novas políticas que de alguma forma sejam levadas à sociedade civil, traduzidas como melhoria na prestação de serviços e atendimentos mais ágeis, coerentes com as necessidades sociais mais emergentes. A crise do Estado levou vários países latino-americanos a uma mudança na forma de conceber o papel do Estado, tornando fundamental se firmar no tripé eficiência, eficácia e efetividadei. Além do mais, a despeito da tolerância dos mercados e da demanda social, tornou-se imperativo reduzir custos, o que envolveu uma mudança de postura desse Estado, não havendo mais espaço para um Estado produtor, gerador de altos custos, fortemente protecionista e subsidiador, lento e burocrático que figurava mais como dificultador de processos do que mediador e incentivador de novas oportunidades. Diante dessa ruptura com o passado, cujo modelo adotado era altamente burocrático e intervencionista, conforme salienta Peci et al.(2008) ao ser referir a Era Vargas que propagou seu legado por mais de cinquenta anos, a Reforma Gerencial traz consigo dois dilemas como destaca Kettl (1998), o funcionamento melhor com custos reduzidos e o papel do governo. O primeiro diz respeito a forte necessidade de resultados rápidos, o sucesso de curto prazo solidifica o apoio político e, portanto, cortes no orçamento e redução da burocracia são alternativas viáveis. Entretanto, embora os resultados positivos sejam necessários e vitais para promoção da reforma, o forte empenho em conseguir tais indicadores frequentemente tem impedido melhorias de desempenho mais significativas em longo prazo. A reforma da administração pública fica presa em uma armadilha: resultados rápidos com vantagens visíveis versus mudanças profundas e duradouras com adoção do planejamento estratégico em prazos maiores. O segundo dilema diz respeito ao papel do governo, que na maioria dos países, inclusive os países centrais, demonstram uma forte necessidade de redimensionar o Estado com processos de privatização, descentralização, parcerias e prestação de serviços mais eficientes. Bresser (1998, p.257) salienta que: “A partir de 1995, com o governo Fernando Henrique, surge uma nova oportunidade para a reforma do Estado, em geral, e do aparelho do Estado e de seu pessoal, em particular. Essa reforma tem por objetivos: a curto prazo, facilitar o ajuste fiscal, particularmente nos estados e municípios, onde existe um claro problema de excesso de quadros; a médio prazo, tornar mais eficiente e moderna a administração pública, voltando-a para o atendimento dos cidadãos.” Especificamente, o Plano de Reforma do Aparelho do Estado tem como uma de suas principais diretrizes a adoção de um sistema flexível de gerenciamento dos serviços públicos, distanciando-se, assim, do tão propagado modelo da burocracia. E todo esse movimento de reforma administrativa do Estado brasileiro foi pautado pelo modelo de gestão pública gerencial, que em síntese, procurou transferir para os diversos níveis do setor público, mecanismos de mercado, juntamente com um conjunto de ideias, valores e técnicas predominantes no setor privado. Para alcançar a tríade eficiência- eficácia-efetividade nos serviços públicos dever-se-ia adotar uma orientação para o cidadão-cliente, ou seja, o governo deveria procurar satisfazer aos verdadeiros anseios dos cidadãos, de modo a agregar valor nesta relação entre Estado e sociedade. O foco no cidadão evita um processo de engessamento organizacional, sendo chave para a reestruturação administrativa, pois ao incorporar as necessidades do cidadão, as organizações se tornam mais sensíveis ao ambiente externo, adquirindo maior capacidade de resposta para as mudanças (SARAIVA; CAPELÃO, 2000). Os impactos do estabelecimento de um novo modelo de administração pública, caracterizado como Reforma Gerencial do Estado, pode ser avaliado sob diferentes abordagens que transitam entre as esferas da Sociedade, do Estado e do Mercado. Pautado 2 pela abordagem de que a Reforma Gerencial do Estado procurou desenvolver ações voltadas para a melhoria do desempenho e da qualidade da prestação dos serviços públicos, esse artigo procurou compreender como diferentes atores prestadores de serviços públicos interpretam essas mudanças. Mais especificamente, procurou identificar a percepção de atores que trabalham em duas agências locais da Receita Federal (RF) e a Caixa Econômica Federal (CEF). A escolha de duas instituições federais da Administração Indireta como objeto de estudo, deve-se a relevância que os seus serviços assumem para a sociedade. Além disso, estas duas entidades possuem personalidades jurídicas diferentes, sendo a RF uma autarquia, e a CEF uma empresa pública, o que poderá decorrer em diferentes percepções sobre os impactos da Reforma Gerencial do Estado. O trabalho está estruturado em cinco partes principais, incluindo a introdução e as considerações finais. A segunda parte enfatiza a importância da reforma do Estado e seus principais impactos na prestação de serviços, a terceira parte trata da metodologia e a quarta parte aborda os principais resultados e discussões acerca do tema. 2 Reforma Gerencial do Estado As reformas administrativas podem ser compreendidas, segundo Capobiango et al. (2010), como um processo de adaptação da máquina pública ao ambiente em que se insere e se apresentam como tentativas adotadas pelo Estado para que o mesmo possa evoluir de modo a eliminar práticas cujas aplicações se apresentam esgotadas. No contexto brasileiro, a história da gestão pública é marcada desde os seus primórdios por práticas patrimonialistas, que podem ser compreendidas como uma forma de dominação tradicional (FAORO, 2000) representada pela vontade do dominador e legitimada pela obediência dos dominados, que não se constituem como uma sociedade civil contraposta ao Estado. Como uma orientação para a administração pública, as decisões são permeadas pelo poder pessoal e arbitrário do soberano e de seus representantes (OLIVEIRA et al., 2008), o que, consequentemente, desencadeia práticas como o clientelismo, o personalismo e o assistencialismo. Dentre as formas de romper com o patrimonialismo, a orientação burocrática, desponta, no governo de Getúlio Vargas, como uma das alternativas devido à sua superioridade técnica, racional e legal para delimitar regras e instituições para a administração do setor público. Nesse sentido, Torres (2007) destaca que o modelo burocrático desempenhou papel fundamental, criando condições que possibilitaram a expansão quantitativa e qualitativa da administração pública. Com relação às principais características do modelo burocrático, o mesmo autor enfatiza: i) a impessoalidade que é de fundamental importância para a democratização das relações políticas e sociais, rompendo com as práticas patrimonialistas, clientelistas e personalistas; ii) hierarquia como critério de estrutura da organização pública, considerando as relações de autoridade; iii) elaboração de regras rígidas, no intuito de formalizar uma legislação para ação administrativa no setor público, desvinculando, assim, de uma possível incorporação de juízos de valores pelos servidores; iv) especialização, ou seja, o poder e as tarefas funcionais são distribuídos de acordo com os conhecimentos técnicos e aptidões profissionais que são exigidos para o desempenho de determinada atividade e v) continuidade e controle, que deve ser permeada por um corpo administrativo qualificado e permanente. Por outro lado, há um questionamento sobre a legitimidade da burocracia como uma orientação para administração pública, devido às suas disfunções. De acordo com Saraiva e Capelão (2000), inúmeros desajustes são causados pela burocracia, principalmente aqueles que se referem à prestação de serviços públicos, sendo esta referenciada como lenta, cara, de 3 péssima qualidade e pouco ou nada orientada para o atendimento das demandas dos cidadãos. Portanto, a imagem da administração pública burocrática passa a ser associada à ideia de precariedade, pois, em determinados setores, ela está alicerçada por um conjunto de ineficácia, morosidade, empreguismo, obsoletismo, desmotivação de quadros, inércia, inadequação de funções e serviços desqualificados. Enquanto ocorria o crescimento do corpo burocrático no setor público, em seus moldes de rigidez processual, o setor privado instituía-se por processos de inovação e flexibilidade que, posteriormente, foram visualizados como uma alternativa para desmantelar as disfunções da burocracia e o pensamento que a sustentava. Este ataque à burocracia foi um dos pontos de partida para que se introduzissem no setor público idéias, valores e técnicas gerenciais do setor privado, denominado de movimento da Administração Pública Gerencial ou Nova Administração Pública (BRESSER PEREIRA, 2000). O Quadro I revela algumas distinções entre a administração pública burocrática e a gerencial. Quadro I - Principais diferenças entre a Administração Pública burocrática e a gerencial. Administração Burocrática - É auto-referente e se concentra no processo, em suas próprias necessidades e perspectivas, sem considerar a alta ineficiência envolvida. Administração Gerencial -É orientada para o cidadão, voltada para o consumidor, e se concentra nas necessidades e perspectivas desse consumidor, o cliente-cidadão. O administrador público visa atender aos cidadãos, preocupando-se em oferecer serviços. -Acredita em uma racionalidade absoluta, que a burocracia está encarregada de garantir. - Pensa na sociedade como um campo de conflito, cooperação e incerteza, na qual os cidadãos defendem seus interesses e afirmam suas posições ideológicas. - Assume que o modo mais seguro de evitar o nepotismo e a corrupção é pelo controle rígido dos processos, com o controle de procedimentos. - O princípio de combate ao nepotismo e a corrupção é realizado através de indicadores de desempenho, controle de resultados, etc. - Não existe confiança. -É centralizadora, autoritária. -Prega o formalismo, rigidez e o rigor técnico. - A confiança é limitada, permanentemente controlada por resultados, mas ainda assim suficiente para permitir a delegação, para que o gestor público possa ter liberdade de escolher os meios mais apropriados ao cumprimento das metas prefixadas. - Prega a descentralização, com delegação de poderes, atribuições e responsabilidades para os escalões inferiores. - Preza os princípios de confiança e descentralização da decisão, exige formas flexíveis de gestão, horizontalização de estruturas, descentralização de funções e incentivos à criatividade e inovação. Fonte: Matias-Pereira (2008), com adaptações. A Nova Administração Pública (NAP) não deve ser vista somente como uma alternativa para suplantar a gestão burocrática, mas também como um meio de superar os déficits gerados pela crise do Estado desenvolvimentista ou Welfare State, redefinindo, assim, os novos papéis e relações entre Estado, mercado e sociedade (MENDES; TEIXEIRA, 2000). A possibilidade de instalar, no setor público, processos gerencias e instrumentais do setor privado pauta-se, conforme relata Fadul e Silva (2008), na capacidade de adotar uma gestão pública de eficiência, eficácia, racionalidade e produtividade. Para a introdução do gerencialismo no Estado brasileiro, foi traçado, em 1995, um Plano Diretor para a Reforma do Aparelho do Estado (BRESSER PEREIRA, 2000) que, segundo Fadul e Silva (2008), continha dois grandes direcionamentos: uma proposta de reforma do aparato administrativo do Estado, a sua administração pública, com políticas voltadas para a melhoria do desempenho e da qualidade da prestação dos serviços públicos; e 4 uma proposta de intervenção na área econômica, previdenciária, fiscal e tributária, com a adoção de políticas voltadas para a retomada do crescimento econômico. Os mesmos autores também descrevem os principais problemas e ações norteadoras propostas pelo modelo de administração pública gerencial, conforme exposto no Quadro II Quadro II – Problemas e ações a serem contornados pela Administração Pública Gerencial O QUE PRETENDEU COMBATER COMO Crise fiscal e exaustão financeira • disciplina fiscal e controle no uso de recursos públicos; • garantia de contratos e um bom funcionamento dos mercados, com privatizações; Exaustão do modelo burocrático e excesso de formalismos e ritos • melhor capacitação de sua burocracia; • uma administração pública melhor profissionalizada, e com carreiras mais sólidas e valorizadas; • descentralização administrativa; • maior competição entre as unidades administrativas; • autonomia e capacidade gerencial do gestor público; Baixa qualidade da prestação dos serviços públicos • avaliação de desempenho; • controle de resultados; • adoção de práticas de gestão do setor privado para a melhoria do desempenho e da qualidade dos serviços públicos. Fonte: Fadul e Silva (2008) Fundamentados em Micklethwait e Wooldridge (1998), Mendes e Teixeira (2000) destacam que o descrédito do serviço público e a necessidade da otimização de recursos consiste em uma percepção que deve ser vista como independente da necessidade de cortar orçamentos e que, sob a ótica da reforma, o setor público precisa adotar práticas de inovação gerencial, as quais devem ser orientadas tanto por questões econômicas e financeiras, como também por fundamentos políticos e sociais Com relação a prestação de serviços, Kettl (1998) salienta que sob a orientação da NAP, os governos procuraram se envolver na questão da modernização da administração pública e de alguma forma há um consenso em se pensar na necessidade de dotar os serviços públicos de maior eficácia e de maior eficiência, buscando a redução de custos e não obstante a ideia central de reduzir o tamanho do Estado. Matias Pereira (1999) destaca ainda que para Osborne (1999) as mudanças nos serviços públicos foram inevitáveis, considerando a necessidade da transição da era industrial para a era da informação, em que as estruturas administrativas são obrigadas a responder a novos desafios contemporâneos como: o uso de tecnologia de informação, restrições fiscais, novas demandas diante de um contexto globalizado. Obviamente, as demandas dos cidadãos também sofreram mudanças, sendo crescente a necessidade de serviços públicos mais ágeis, de qualidade, transparência e participação social. Mais recentemente, como salienta Matias-Pereira (2007): “Os debates sobre reforma do Estado estão contribuindo para elevar o nível de conscientização da sociedade organizada de que a modernização e o fortalecimento da Administração Pública, especialmente em termos de capital humano, infra-estrutura e tecnologia, devem ser vistos como um processo permanente e necessário.” 5 Dentre as inovações da NAP, destaca-se também a orientação para o cidadão-cliente ou cidadão-consumidor. Tratar o cidadão como consumidor ou cliente significa abordá-lo exclusivamente sob a perspectiva do indivíduo, que tem uma posição no consumo do mercado de serviços. Nesse sentido, os serviços públicos são vistos como adaptação da iniciativa privada ao setor estatal, vislumbrando-se a prestação de serviços como forma de atender quantitativa e qualitativamente as necessidades e os desejos de consumidores (BELTRAMINI, 1981; BRESSER PEREIRA, 2000; SARAIVA; CAPELÃO, 2000). Como uma das prioridades dessa orientação, Soares (2002) citado por Matias- Pereira (2008) relata a necessidade de uma maior agilidade na prestação dos serviços públicos, contemplando a utilização de sistemas flexíveis de atendimento ao cidadão de forma mais segmentada, buscando atender os padrões de qualidade. Avaliar a qualidade dos serviços prestados é também imprescindível para retroalimentar o sistema, possibilitando o desenvolvimento de ações e medidas para melhorar o desempenho da Administração Pública. Além disso, autores como Saraiva e Capelão (2000), Campos (2007) e Kotler e Lee (2008) destacam que, para praticar o foco no cidadão-cliente, não basta apenas a identificação dos seus verdadeiros anseios, expectativas e necessidades, mas, sobretudo, deve-se compreendê-lo como um processo que envolve a construção de estratégias, sistemas, prioridades, atitudes e comportamentos – resumindo, a cultura da organização pública Caracterizadas algumas das ações pretendidas para a melhoria da prestação de serviços na Reforma Gerencial do Estado, torna-se necessário salientar algumas questões que não podem ser desconsideradas desse processo, conforme relatam Fadul e Silva (2008) e Capobiango et al. (2010), tais como: Dimensão política: os alcances e os limites da reforma, seu nível de profundidade, os impactos e o se grau de avanço depende diretamente do nível de articulação política. Níveis da federação: a reforma tende assumir formas diferenciadas, dependendo dos nível da federação (união, estado-membro ou município) em que administração pública tratada. Dessa forma, torna-se importante avaliar o processo de reforma nas dimensões micro, meso e macro. Resistência dos atores sociais: a reforma está relacionada a mudanças e estas estão ligadas necessariamente à resistência pelo medo do novo, pela impossibilidade de se vislumbrar o resultado final a ser alcançado. Capacitação dos atores sociais: comunicação e treinamento dos funcionários são imprescindíveis no processo de reforma. Adaptação ao contexto: as reformas geralmente são propostas ao longo dos anos por diversos países, porém, na ânsia de querer mudar apenas por mudar, como uma forma de acompanhar as tendências bem sucedidas de outros países, muitos Estados têm suas experiências de reformas frustradas. Neste sentido, deve-se considerar no processo de implementação de uma reforma os aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais do Estado. Inclusão da sociedade civil: os cidadãos não devem ser excluídos da construção e implantação do processo de reforma Considerando que a reforma perpassa por questões de naturezas diferentes, as quais invocam conteúdos, significados e sentidos diversos, este trabalho procura, então, compreender, como atores que trabalham em três agências locais das instituições CEF e RF interpretam essas mudanças nessas realidades diversas. 3 Metodologia Este trabalho é fruto de uma pesquisa mais ampla que busca identificar os alcances e os limites da orientação cidadão-cliente na prestação de serviço público em instituições da 6 Administração Indireta. Os dados a serem tratados neste artigo refere-se a primeira fase desta pesquisa realizada nos anos de 2010 e 2011. Pautada pela abordagem qualitativa, a primeira fase procurou compreender como os atores das agências locais da RF e CEF interpretavam a orientação cidadão-cliente no cotidiano de suas atividades de prestação de serviço e atendimento ao público. Como essa orientação caracteriza como um dos marcos da Reforma Gerencial do Estado, buscou-se também identificar o entendimento que esses atores tinham sobre esse processo no contexto da instituição de trabalho; Para coleta de dados foram enviadas cartas aos dirigentes regionais dessas instituições públicas localizadas em um município de médio porte no Sul de Minas Gerais, solicitando a autorização para realização da pesquisa e a indicação de possíveis funcionários que pudessem participar das entrevistas. Foi utilizada a entrevista do tipo não estruturada, para qual foi construído um roteiro com as principais questões, mas o que não impedia de aprofundar em outras questões expostas pelos entrevistados. Foram realizadas quinze entrevistas das quais seis foram na RF e nove na CEF. Todos os dirigentes das agências locais foram entrevistados e os funcionários indicados pelas instituições. Os dados coletados nas entrevistas foram gravados, transcritos e submetidos à análise de conteúdo de Bardin (1977), possibilitando a sua categorização. 4 Resultados e Discussão Para compreender como atores que trabalham em duas agências locais das instituições, CEF e RF interpretam a Reforma do Estado, serão apresentadas, inicialmente, a percepções dos entrevistados de cada instituição e, posteriormente, serão avaliadas as convergências e divergências de percepções entre os atores de uma autarquia e das duas empresas estatais participantes dessa pesquisa. 4.1 Caixa Econômica Federal Com relação a percepção dos entrevistados da CEF, pode-se observar que os principais significados estão associados ao risco de privatização, adoção da tecnologia de informação, gestão por resultados, foco no cidadão-cliente e capacitação dos funcionários. O risco de privatização despontou nos depoimentos dos entrevistados como uma categoria central no período da Reforma Gerencial do Estado, visto que o governo federal com intuito de regularizar a crise fiscal adotou a estratégia de privatizações de algumas empresas estatais, dentre as quais, segundo um dos entrevistados a CEF também poderia ser um dos alvos. “Na década de 90, na Caixa houve uma tentativa de preparar a Caixa pra uma privatização, então tudo o que foi feito aqui nos anos 90, foi no sentido de desvalorizar o empregado, dividir os empregados, dividir os gerentes, os técnicos dos escriturários, terceirizar e aí sucatear mesmo a empresa.(...) Quando se anunciou o processo de tentativa de privatização e a Caixa foi terceirizando os serviços, os empregados fazendo o PDV (plano de demissão voluntária) para que a pessoa saísse, perdendo muitos quadros”. (Entrevistado 8) Conforme se pode observar no depoimento, o risco de privatização associa-se a uma possibilidade de desestruturação da CEF, a qual desencadeou conseqüências para os funcionários e um processo de terceirização dos serviços. Associando ao significado do risco de privatização, os entrevistados apontam as deficiências do modelo burocrático de gestão até então adotado pela CEF no período préreforma. 7 “Então a gente via, assim, parece que a Caixa, naquela época, também tava muito sem ordem, ela não sabia se ela era um banco ou se ela era um prestador de serviço do governo.” (Entrevistado 1) “(...) ele (o funcionário) tinha uma tarefa a cumprir e pra ele era aquela tarefa, então aquele que tinha fila, a tarefa dele era a fila. Ele não sabia quando ia terminar com a fila ou se a fila ia terminar. Se desse o horário de ir embora e a fila não tivesse terminando, era o gerente que tinha que resolver se o gerente ia atender a fila, se ele ia fazer hora extra, se ele ia pagar um funcionário pra colocar ali.” (Entrevistado 8) “Então assim quando saía alguém (funcionário) pra ir embora pra casa, 11 horas era cedo, 11 horas da noite pra chegar às 7 horas da manhã, então eu acho que os empregados dessa época trabalharam muito, demais, pois o sistema era moroso.” (Entrevistado 5) “(...) na época quando a gente não era ameaçado (de privatização) a gente tinha esse perfil sim morosidade, atendia mal, sabe?! O cliente precisava da Caixa. E não era a Caixa que precisava do cliente. Quando chegou a época da privatização, o governo neoliberal que ameaçou com a privatização, a gente teve que mostrar serviço, entendeu?! Isso ai eu vou te falar é até chato falar, mas é o que eu percebo, que eu entrei em 89 e ainda era muito assim, então a gente teve que mostrar serviço.” (Entrevistado 7) Os depoimentos acima ilustram a carência de foco da CEF em ser um banco comercial ou prestador de serviços públicos e as disfunções do modelo burocrático de gestão, tais como: o excesso de especialização, a centralização, a falta de autonomia, a morosidade e a deficiência em compreender as necessidades do cidadão/cliente. Perante todo esse contexto neoliberal de risco de privatização e de deficiências do modelo burocrático de gestão, os entrevistados ponderam a ocorrência de mudanças que estão associadas ao modelo de gestão pública gerencial, tais como: gestão por resultados, foco no cidadão-cliente e capacitação dos funcionários. Conforme apontam os depoimentos abaixo, a percepção de Reforma Gerencial do Estado na CEF não se caracteriza como um período de ampla divulgação para os funcionários de todas as diretrizes contidas no plano elaborado por Bresser Pereira, mas como um período de necessidade de mudanças, as quais foram tratadas segundo os entrevistados sob a “dimensão da Caixa”, “trouxe para as palavras da Caixa”, “planos de ação que foram feitos pela matriz e com nomes diferentes” e “como reforma de o que um banco tem que fazer e, nós, como banco, temos que fazer também na área comercial e carregando ainda toda aquela área social” “Olha, sinceramente os problemas nossos aqui nessa época, eram tão grandes que eu sinceramente não lembro dessa reforma pra te dizer a verdade, porque um dos piores anos pra nós foi o de 95, 96, 97, 98 que foi a intensa privatização que o país teve e a gente estaria nessa lista né. Então o que aconteceu é que essa grande reforma que acabou depois sendo feita na Caixa positivamente, ela tava sendo feita aqui na Caixa negativamente, no sentido de fazer o desmonte da empresa, de desvalorizar o empregado para preparar a privatização. Aí eu repito o que segurou a privatização da Caixa foi as dificuldades do governo em vencer as questões com os empregados da Caixa, com relação a fundo de pensão, questões judiciais e tudo mais. Porque senão poderia ter sido privatizada sim. Então, realmente essa reforma na época ela não nos atingiu, ela não chegou aqui. Ela chegou depois de uma forma mais positiva, melhor. Já foi diferente não como reforma do setor público não, mas como reforma de o que um banco tem que fazer e, nós, como banco, temos que fazer também na área comercial e carregando ainda toda aquela área social né. (Entrevistado 8)” “(...) Com relação a essa mudança que teve a reforma do Estado ai 1995, né?! Talvez não seja passado dessa forma para os funcionários, né?! Pros nossos colegas de trabalho dessa forma. O que a gente muitas vezes percebe, é que a própria Caixa, quando ela vai montar um treinamento, alguma coisa, ela cita sim a Reforma. Muitas vezes a questão da lei que regulamentou onde teve aquele marco, mas tudo isso é trazido numa dimensão da Caixa, porque somos cobrados dessa forma, porque houve essa necessidade de mudança. Então a Caixa estabeleceu as seguintes estratégias de agora pra frente. Então muitas vezes os nossos colegas de trabalho, a percepção que eles têm né?! Que teve uma mudança, por exemplo, na economia, numa lei, eles entendem assim, é também uma mudança que teve na Caixa, vamos dizer internalizou essa questão da reforma do Estado ai, entendeu? Vamos dizer trouxe para as palavras da Caixa aqui. Mas o servidor hoje ele já tem muita consciência de todas essas 8 mudanças que houveram, porque isso o tempo todo é falado, talvez com outras palavras, mas isso ai é falado com eles e eles também percebem isso no dia a dia.” (Entrevistado 1) “Porque assim foram vários planos de ação que foram feitos pela matriz e com nomes diferentes, em diferentes épocas (...) Então a Caixa sempre foi trabalhando isso conosco.” (Entrevistada 6) De acordo com entrevistados, as mudanças ocorridas na CEF se justificam no contexto de competitividade que, enquanto um banco comercial, ela teve que se adequar perante a concorrência do mercado financeiro, mas sem deixar de lado o seu papel de um importante agente implementador de políticas sociais. O risco de privatização é então amenizado pela mobilização dos funcionários, como também pelas novas estratégias de gestão da CEF. Além disso, a CEF passou por transformações no sentido de se ser uma instituição pública orientada mais pela técnica e profissionalização do que pela política. “(...) eu acho assim, que a Caixa mudou muito. Eu acho que a Caixa mudou muito e é desde que eu entrei até agora. Ela realmente teve que justificar a existência dela, né?! Teve que mostrar que é necessária. Teve que adequar as regras do mercado, né?! No que tange as taxas, as estratégias, o atendimento ao cliente, né?! Ela teve que ajustar como forma de sobrevivência mesmo e para justificar a não privatização da Caixa, você entendeu?!” (Entrevistado 7) “A administração pública mudou nos bancos de lá pra cá e ela mudou muito, com muito vigor sabe, passou a limpo a verdade né. A questão política tem sido expurgada (...) A gente tem mais autonomia na gestão hoje, tanto eu gerente, como os outros gerentes, como os empregados, a gente tem uma certa autonomia que antes não tinha.” (Entrevistado 5) “ Há tempos atrás, o governo mantinha várias empresas públicas, é, vamos dizer assim, entre aspas, elefantes brancos. Hoje não se aceita. A população e a comunidade não aceita que se mantenha mais essas empresas. Elas tem que exercer seu papel, ter competência, tem que gerar lucros, tem que prestar o serviço pro qual é proposto.” (Entrevistado 4) “(...) aliado ao fato da gente ter que competir no mercado, por ser do setor financeiro, então ai mudou completamente” (Entrevistado 7) “(...) teve uma mudança mesmo né!? Acho que pela alta competitividade né?! Principalmente no nosso setor que é bancário, então tem uma preocupação dos bancos públicos a estarem correndo atrás e se igualarem aos bancos privados. Isso ai até os próprios colegas falam que a antigamente era mais tranqüilo, não tinha aquela meta, aquela pressão pra resultados.” (Entrevistado 2) Para que toda essa competitividade fosse alcançada, ações visando à gestão por resultados foram adotadas, tais como estabelecimento de metas, busca por lucro, melhoria atendimento, foco no cidadão/cliente, entre outras. “eu acho que mudou demais, mesmo porque hoje a gente é cobrado como um banco comercial, a gente tem que dá lucro, ne?!(...) Todos têm consciência, porque assim a gente é “cobrado”, o gerente geral tá sempre cobrando da gente, isso é uma coisa assim que tá muito em foco, sabe?! Fala- se em reuniões, todas as reuniões é falado, é cobrado, então todo mundo tem essa consciência sim.” (Entrevistado 3) “(...) gente teve que ir descalçando e fomos modernizando, melhorando o atendimento, emprestando mais, né?! É tudo uma coisa conseqüência uma da outra.” (Entrevistado 7). “(...) nós temos meta pra tudo, pra venda de produtos, pra atendimento, pra atender o prazo de atendimento ali. Não posso exceder o prazo de atendimento, pra cumpri horário.(...) Então a preocupação é assim, de como uma empresa privada. Não tem muito mais isso não de empresa pública é tranqüilo né?!” (Entrevistado 2)] “(...) então o foco hoje é o cliente, porque quem dá retorno pra nós é o cliente no caso específico nosso aqui da Caixa...” (Entrevistado 6) “(...) entrou a questão de metas, que nas mãos de alguns acabou de tornando um chicote... Alguns gestores na verdade se tornaram verdadeiros feitores não só dentro da Caixa. Mas isso uma minoria, porque a maioria usou bem a ferramenta de gestão, que é a questão das metas. Porque quando você põe as metas você tem um rumo pra trabalhar, você não fica perdido...” (Entrevistado 8) 9 Diferentes entrevistados ressaltam o fato de que como uma empresa pública, a CEF deve estar orientada constantemente pela a busca de lucro e o alcance de metas, como qualquer outra empresa do mercado. Além disso, o último depoimento revela que a cobrança por resultados teve também os seus efeitos contrários, desencadeando possíveis problemas para área de gestão de pessoas, com gestores que ainda tinham uma cultura de autoritarismo. Os entrevistados, ponderam que em 1996 foi também criado o projeto 500, cujo objetivo era estabelecer modelos de agência e de atendimento padronizados que buscassem solidificar a imagem institucional perante a sociedade, através do aumento de satisfação da cidadão-cliente. “Aquilo chamou “Projeto 500”, agências no Brasil levaram essa cor de imobiliário tudo e depois fizeram as primeiras quinhentas, eu mesmo fui um dos implantadores desse projeto em Belo Horizonte. Na época eu era gerente geral, eu coordenei várias agências lá, a padronização visual e a implantação de qualidade. Então nós chegávamos limpando né, vamos fazer uma limpeza nessas unidades aí e mudou muito, até a cabeça das pessoas eu acho que impactou muito com isso daí.” (Entrevistado 5) Houve também uma preocupação com a valorização dos funcionários, bem como a necessidade de capacitação, a qual foi compreendida por alguns entrevistados como obrigatória e pertencente ao quadro de metas. Essa questão pode ser justificada pela necessidade do gerencialismo em criar novos valores organizacionais que estejam aliados à tríade eficiência-eficácia-efetividade. “ (...) Aí tudo que tava sendo feito lá trás modificou da água pro vinho que é a valorização do empregado, do plano de carreira, da melhoria pra se trabalhar. (...) Outra questão, é a questão de profissionalização das pessoas mesmo, é de você pegar um grupo de pessoas, colocar eles pra fazer um cursinho ali e demonstrar aquele sentido de grupo, aquele sentido de rumo das coisas. (Entrevistado 8) “(...) tem cursos que a gente é obrigado a fazer, a gente tem que fazer, conta na nossa meta, sabe?! Curso de atendimento, curso de desenvolver mesmo o funcionário e embutir nele a idéia do bom atendimento.” (Entrevistado 3) Outra questão que permeou o significado da Reforma Gerencial do Estado para os entrevistados CEF, consiste no fato de que a esta coincidiu também com a adoção da tecnologia de informação, facilitando, assim, as atividades de prestação de serviços e atendimento ao público, bem como a disponibilidade e unificação de informações. Ao ponderarem o uso da tecnologia de informação com um marco de transição na CEF, os entrevistados explicaram como o trabalho era feito manualmente e de certa forma salientaram algumas disfunções da burocracia. “Tinha o buros, umas máquinas desse tamanho assim, que você autenticava nelas e tinha que lançar numa ficha a mão, pra depois passar pra mecanografia, que era um processo de lançamento em cartolina que a gente fazia e o mecanógrafo. O mecanógrafo era igual um torno de indústria que passava várias folhas de papel pra fazer os diários de lançamento, entendeu? Troço doido. Quando eu entrei na Caixa, é não tinha computador, não tinha nada. A gente conversava era no telex com outras unidades, pra transferir ordem de pagamento era muito comum né? Hoje você faz um depósito aqui, cai lá no Espírito Santo. Antigamente não, tinha que ir lá no caixa, autenticar um documento, aí a gente fazia uma ordem de pagamento, ela tinha que ser liquidada contabilmente lá pra poder pagar a pessoa depois, era um processo... um processo” (Entrevistado 5) “(...) a gente conversa muito com os colegas da Caixa que tão na empresa há mais tempo. E eles dizem pra gente que realmente houve uma revolução dentro da empresa daquele tempo antigo quando eles entraram e talvez ai até 1992, que foi o período em que a Caixa, por exemplo, não detinha tecnologia, apesar de que a maioria dos bancos realmente não detinham nenhuma tecnologia, era tudo manual. Então aquilo ali eles falam “a gente ficava aqui, por exemplo, autenticando documento no caixa até duas, três horas da manha, né?! (...)A gente vê que isso mudou né?! Hoje a maioria das 10 coisas são feitas em plataformas tecnológicas, e pouca coisa é no manual com relação ao processamento de dados, né?! Com relação à tecnologia ela tá altamente ligada ao processo de mudança pelo qual a Caixa passou.” (Entrevistado 1) “(...) a questão tecnológica aí, ela foi crucial né. Porque foi aí no final dos anos 80 que os gerentes começaram a receber esse computadores pessoais, mas aí você tinha, dois, três, quatro computadores em cada agência.Foi no início dos anos 90 que a começou chegar na Caixa um computador para cada empregado. Isso facilitou de sobremaneira a questão do atendimento, principalmente nos caixas. Porque como eu te disse, os caixas hoje, ele tem uma visão muito melhor do cliente, porque ele não tem só uma visão de número e conta do cliente, de saldo, o quê que ele ta pagando, ele tem acesso ao cliente, entendeu? Então isso ajudou de sobremaneira na questão de agilização do atendimento. O quê que aconteceu? O empregado pode produzir um pouco mais, com menos esforço (...)” (Entrevistado 8) Como pode ser verificado o uso da tecnologia de informação permitiu romper com práticas burocráticas, agilizando o processo, sem a qual a CEF não teria alcançado alguns de seus resultados, principalmente, no que diz respeito a melhoria do desempenho e da qualidade dos serviços públicos. 4.2 Receita Federal Com relação a percepção dos entrevistados da RF, pode-se observar que os principais significados estão associados a transparência nas atividades, melhorias no atendimento, gestão por resultados e adoção de tecnologia de informação. De acordo os entrevistados, a Reforma Gerencial na RF foram permeadas por algumas mudanças exigidas no comportamento do servidor público, na necessidade de profissionalização das atividades, gestão por resultados e transparência pública. “(...) O serviço público brasileiro passou por mudanças muito grandes, passou por muitas mudanças, principalmente dos anos 90 pra cá. Então aquilo que era antes, todo mundo queria ser funcionário público pra encostar, que todo mundo fala né, “ah esse aí já tá encostado”, passou a não ser mais assim (...) Pelo o que me falaram parece que a questão ficou muito mais profissional, o serviço público ficou muito mais profissional, ficou muito mais sério, não que não houvesse pessoas sérias? Havia, mas ficou tudo muito mais claro, muito mais explícito para o cidadão o serviço público. Eu acho que sim, a transparência foi uma das coisas que se alcançou nesse período.” (Entrevistado 2) (...) eu sou novata. Estudei pra concurso a 5 anos atrás, eu já entrei na administração com essa imagem da administração gerencial (...) Então eu já entrei com essa ideia de buscar resultado, metas, é como se fosse um banco, a gente tem metas pra cumprir, a gente tem resultados pra mostrar, a gente tem a satisfação do cidadão, do contribuinte (Entrevistado 4) Quanto às melhorias na prestação de serviços e no atendimento ao público, os entrevistados ponderam que estas só foram possíveis pela tecnologia de informação, cuja adoção coincidiu com o período de Reforma Gerencial do Estado e se caracterizou com um processo de adaptação e resistência por parte de alguns funcionários. “(...) Hoje tá mais ágil, é a informática, né?! Tomou conta. Tudo é mais rápido, ne?! E houve sim uma mudança, porque antes era bem devagar, ne?!” (Entrevistado 1) “(...) Essa foi uma época não só dessa nova visão de serviço público, como foi época da informática também. Então foi extremamente revolucionário.”(Entrevistado 2) “(...) eu já cheguei a pegar essa transição do sistema pra o sistema informatizado que era um bicho papão né, o computador um bicho papão, quando chegou o primeiro computador eu lembro nó! O quê que é isso? Troço morto! A gente ficava imaginando pra que serve isso, isso é bobagem, isso aí é uma besteira. Isso aí a gente tem calculadora. Pra quê que a gente vai usar isso? Isso era a mentalidade na época que foi da transição e começou a entrar a informatização né, começou com as micro fichas, depois passou para o computador. Não sei se vocês conhecem, um computador com aqueles disquetão desse tamanho, parecia um disco desses grandão, e a Receita, por exemplo, ela teve uma evolução nesse sentido rápida demais, muito rápida, muito rápida mesmo entendeu ?” (Entrevistado 3) 11 “(...) Eu vejo essa mudança amarrada a evolução tecnológica, porque muita coisa ficou mais fácil ou saiu daqui foi por conta da informatização, porque se fosse em papel como era nos primórdios da humanidade não teria como isso acontecer lá fora.” (Entrevistado 5) Associado ao significado de adoção da tecnologia de informação na RF, os entrevistados destacam que esta permitiu desburocratizar alguns procedimentos, tornando os mais rápidos e deixando, em alguns casos, que o próprio cidadão execute o serviço via internet. “Olha o que mais forte mudou é a questão da informática, que antes praticamente não tinha e hoje esta cada vez mais importante, mais acelerado. A morosidade que tinha anteriormente é muito por causa de que tudo era através de papel. Tudo era processo. Você não conseguia fazer nada sem o excesso de papel. Com isso a informação chegava mais demorado. Pra movimentar um processo daqui para Varginha era tudo mais complicado e isso aumentava mais ainda essa demora.” (Entrevistado 6) “A Receita criou a subestação de antecipação de malha, então o quê que é isso? A pessoa que tem certeza de que ela tá certa, ela pode entrar lá na internet, agendar o horário e solicitar que a declaração dela seja antecipada, que a malha antecipe essa análise. Então ela mesma, a pessoa em frente ao computador, emite a sua notificação da malha e emite um termo de resposta a essa notificação, vem aqui na Receita a gente coloca o número desse termo de atendimento no computador e ela vai ter o andamento da sua declaração acelerado. Porque antes ela esperaria uns três anos pra poder ter a sua declaração analisada pela malha. Agora ela já pode ter em um mês, dois meses. Com certeza isso é uma forma de redução da burocracia para o atendimento ao público. Hoje a pessoa que dominar o site da internet, dificilmente vai ter de vir à Receita resolver algo. A maior parte dos nossos atendimentos podem ser resolvidos pela internet” (Entrevistado 2) “De 95 pra cá nó foi do inferno pro céu, porque era difícil, talvez seja por isso que o funcionário público já era um pouco mal visto, é pela morosidade do serviço também. Igual eu tou te falando se ele tá fornecendo uma certidão negativa que é a coisa mais simples do mundo, você demorava doze dias e aí o que que acontecia? Você ia nos livros que chamava Conta Corrente que vinha toda semana, livro dessa grossura assim, de tanto você manusear com oito dias tava desmoronando, rancando folha, rancando pedaço, então você ia analisar, posso dar a certidão pra ela, vou analisar. De repente no meio do caminho faltava um documento, aí era onde você tinha que comunicar pra pessoa trazer, se tinha que aguardar a pessoa voltar, então naquele prazo que você deu, doze dias, a pessoa ia lá com doze dias, vim buscar minha certidão. Oh! Tá faltando um documento, então nisso a pessoa ficava de saco cheio, puxa a vida eu tive aqui e ninguém me falou nada. Esse tipo de problema era verídico, ou seja, mudou muito, melhorou muito, eu te dou uma certidão negativa hoje com pode marcar no relógio 10 segundos, o troço era que demorava, melhorou muito. Processo dentro da Receita, processo administrativo que era no papel, hoje tá acabando. Hoje é tudo digitalizado. Então, a Receita nesse ponto ela investe bem tanto em material humano, como material de informática tudo.” (Entrevistado 3) Mesmo reconhecendo que a burocracia é um empecilho para a prestação de serviços para o cidadão, os entrevistados ponderam que isto é algo que não teve como ser rompido totalmente das atividades da RF, devido as suas especificidades que a colocam como agente arrecadador de impostos para a União e das questões que permeiam a própria visão contratualista das relações entre Estado e Sociedade, a qual carece de leis e ordem. “A burocracia na Receita é essencial, porque a gente lida com o dinheiro do governo, então há chances de haver bastante corrupção. Há chances de você ter isso. Então a burocracia serve exatamente pra limitar o espaço das pessoas fazerem as coisas erradas. Então você pede milhões de documentos que é pra comprovar exatamente aquilo que o cara disse, pro servidor ter a certeza que ele tá fazendo as coisas certas. Isso às vezes é um empecilho pro cidadão ter um bom atendimento, porque tem que trazer um monte de papel, se não trouxer um monte de papel, não tá certo.(...) A gente não tem muito limite pra desburocratizar. Tem que ter esse documento, tem que ter senão eu que sou responsabilizado pela falta desse documento depois. Depois eles podem achar que eu tou envolvido em uma mega esquema.” (Entrevista 2) “A Receita tá buscando mesmo uma administração eficiente que é um dos conceitos da administração gerencial, ne?! Eficiência, a busca pelos resultados, mas a burocracia é importante. Tem que haver, porque o processo passa na mão de muitos servidores. Todo servidor que coloca a mão no processo 12 tem que fazer um despacho. Esse tipo de burocracia eu acho importante. A documentação que é necessária dentro dum processo, que as vezes o contribuinte reclama, são exigências que eu acho que são importantes pra análise do processo num futuro. Então eu acho que a tendência é facilitar, mas sem perder uma parte da burocracia que eu acho que é importante, que eu considero importante, um mínimo tem que existir.” (Entrevistado 4) “nós normalmente dizemos que a está assim por conta da burocracia, a gente pensa nas regras que são colocadas, que só existem pra atrapalhar a vida da gente. Algumas podem muito bem desaparecer. Agora tem outras que continuarão existindo enquanto tivermos esse modelo de sociedade e de estrutura do Estado. Mas não tem como, a vida em sociedade ela por si só já tem intrinsecamente algumas regras que tem que ser respeitadas ou não, porque se forem rompidas a sociedade está se desfazendo. Se pesarmos num país com cento e tantos milhões de habitantes, com uma estrutura de governo, com a estrutura de estado que existe hoje, né?! Quem em tese tem que cuidar de alguma coisa de saúde, alguma coisa de transporte, alguma coisa de segurança? Então ele (Estado) tem que ter dinheiro para isso, para ter dinheiro ele tem que ter uma estrutura para fazer a coisa do transporte, da segurança, da educação, mas tem que ter uma estrutura também pra arrancar dinheiro da sociedade. Então essa coisa da burocracia vai continuar, alguma coisa pode ser amenizada.(...) Agora essa coisa da burocracia não existe mais, quanto tempo isso vai perdurar? Não sabemos te dizer, mas a reforma foi uma pequena vírgula da burocracia que foi alterada. Ela vai continuar existindo? Sim. O aluno tem que responder chamada? Ele tem que ter nota mínima? Isso é burocracia, num é? Tem que ter alguma coisa, tem que existir pra que a estrutura exista.” Diante dessas colocações, torna-se notório que na RF o modelo gerencial de gestão pública convive com a burocracia, que na concepção dos entrevistados continuará existindo como forma de segurança e de reduzir possíveis práticas patrimonialistas de corrupção. Mas isto não significa que na RF, a burocracia não precisa ser aperfeiçoada. Pelo contrário, conforme expõe um dos entrevistados a burocracia dificulta a interpretação dos processos e a conclusividade do atendimento. “As leis da forma que são feitas são demoradas e às vezes não são especificas. Então dá dupla interpretação isso ainda complica um pouco, burocratiza o processo e complica bem o atendimento. Às vezes sim, às vezes a gente não consegue dar um atendimento conclusivo, porque a gente está em dúvidas com a interpretação da lei. Ainda tem muito a avançar ainda sobre isso.” (Entrevistado 6) 4.3 Convergência e divergências de percepções sobre a Reforma Gerencial do Estado na CEF e RF Considerando que o foco desse trabalho consiste em tratar a Reforma Gerencial do Estado no contexto da prestação de serviços e atendimento ao público em duas agências da CEF e RF, pode-se observar que ambas concordam que esta representou um movimento de melhorias para o serviço público e de coincidência com a Era da Informatização. Há um reconhecimento nas duas instituições de que o período anterior à reforma era marcado por uma gestão burocrática, que desencadeava algumas disfunções por meio de um processo moroso e rígido, que frequentemente estava associado a noção de ineficácia, inércia, empreguismo e pouco orientado para o atendimento das demandas dos cidadãos. A reforma representou então uma possibilidade de romper ou amenizar essas disfunções causadas pela burocracia tanto na RF e quanto na CEF, por meio de adoção de estratégias orientadas para a transparência pública, gestão por resultados, capacitação e profissionalização dos funcionários e foco no cidadão-cliente. Outro percepção consensual sobre a Reforma Gerencial do Estado consiste no fato de que esta coincidiu com a adoção da tecnologia de informação nessas instituições. Verificouse, portanto, que tanto na CEF como na RF, a tecnologia de informação agregou melhorias no atendimento ao público, agilizando o processo, disponibilizando informações e rompendo com muitas atividades de prestação de serviços públicos que até então eram feitas de forma manual. Além disso, os entrevistados das instituições destacam que seria difícil atingir algumas orientações do modelo gerencial de gestão pública sem não houvesse a tecnologia de 13 informação. Portanto, em vários momentos, a tecnologia de informação foi compreendida como categoria central nas concepções sobre Reforma Gerencial do Estado. Diferentemente da RF, a CEF atribuiu ao significado de Reforma Gerencial do Estado o risco de sua privatização, visto que esse movimento não foi permeado apenas por diretrizes que visavam suplantar a gestão burocrática e melhorar a prestação de serviços, mas também como um meio de superar os déficits gerados pela crise do Estado desenvolvimentista, que no contexto brasileiro atribuía-se uma parte significativa desses ônus às empresas estatais. Sob o contexto de uma empresa estatal, o início da reforma na CEF foi marcado por esse ideário neoliberalista de uma possível privatização, a qual desencadeou processos de terceirização e planos de demissões voluntárias. Frente a esta possibilidade privatização, a CEF teve que adotar princípios gerenciais mais agressivos para se tornar uma empresa estatal competitiva no mercado financeiro e potencializar a sua função de agente implementador de políticas sociais. Neste sentido, foram frequentes na CEF depoimentos de atores que retratam mais essa preocupação com o alcance de metas, adequação as regras de mercado, inovação (Projeto 500) e foco no cidadão-cliente. Essa questão de privatização não foi apontada na RF, uma vez que como órgão de arrecadação de impostos da União não corria o risco de ser extinta ou privatizada, pelo contrário, deveria ser aperfeiçoada para que então o Estado arrecadasse mais receitas para suprir o seu déficit fiscal. Ao contrário da CEF, os entrevistados da RF não demonstraram tanto vigor ao contextualizar a gestão por resultados e chegaram até salientar que é impossível romper com a burocracia, visto que esta é fundamental para manter a segurança das atividades. 5 Considerações Finais Retomando o objetivo central desse trabalho que consiste em identificar com os atores de duas agências locais da CEF e RF compreendem a Reforma Gerencial do Estado, com ênfase na prestação de serviços, torna-se necessário salientar que este trabalho faz parte de uma pesquisa maior que procura identificar os alcances e os limites da orientação cidadãocliente em quatro instituições da Administração Indireta. Vale destacar que isto será tratado com mais especificidade em trabalhos futuros sobre a prestação de serviço e o atendimento ao público sob a orientação cidadão-cliente, da mesma forma que serão apresentados também em outros trabalhos, os resultados da segunda fase da pesquisa, que se caracterizou com a realização de um survey sobre a percepção dos usuários de serviços dessas agências. Destaca-se, portanto, que a pretensão desse trabalho foi justamente identificar o significado da Reforma Gerencial do Estado, uma vez que esta representa o contexto para o qual a orientação cidadão-consumidor foi implementada. Neste sentido, as percepções dos atores da CEF e da RF revelam que o significado da Reforma Gerencial do Estado está diretamente relacionado à personalidade jurídica das instituições pesquisadas. Conforme pode ser observado, o significado da Reforma na CEF está intrinsecamente relacionado às questões que permeiam o seu papel de empresa estatal, o risco de sua privatização, a competitividade no mercado, a gestão por resultados, busca constante por lucro e o foco no cidadão-cliente. Além disso, vale ressaltar que na CEF, os funcionários são vinculados ao regime celetista de trabalho e os cidadãos não são apenas beneficiários de programas sociais - Bolsa-Família, Programa de Integração Social (PIS), Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), Seguro-Desemprego, Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS) e Habitação-, mas são também possíveis clientes de um banco comercial que disponibiliza uma variedade de serviços financeiros tanto para pessoa jurídica como para pessoa física. Tudo isso faz com que a CEF adote uma postura mais agressiva e dinâmica ao incorporar as diretrizes de um modelo de gestão pública gerencial. 14 Já a RF se caracteriza como uma autarquia ligada ao Ministério da Fazenda, os funcionários são pertencentes ao regime de trabalho estatutário e os cidadãos são tidos como indivíduos que tem o dever de contribuição fiscal para com o Estado. Isto de certa forma, ajuda a compreender o modo mais ameno da RF em adotar os princípios da Reforma Gerencial do Estado e de ainda defender o modelo burocrático de gestão em algumas de suas atividades. Por outro lado, ambas instituições reconhecem a importância da tecnologia de informação para o processo de Reforma Gerencial do Estado, sem o qual essas mudanças não teriam ocorrido. Além disso, observa que por se tratarem de agências locais, o significado da Reforma esteve permeado por ações que mostram a execução das diretrizes da Reforma Gerencial do Estado e nenhum momento foi salientado pelos entrevistados ações que permeiam o planejamento e a revisão desse processo de reforma. Logo isto suscinta que a Reforma Gerencial do Estado segue a hierarquia existente entre os níveis estratégico, gerencial e operacional de gestão, ou seja, o planejamento dessas ações está centralizado em Brasília, a qual repassa para superintendências ou delegacias estaduais e regionais, para que então, essas ações sejam operacionalizadas pelas agências locais. Do mesmo modo, não foi observado nenhum relato sobre a participação da sociedade no processo de mudanças nessas instituições. Essa pesquisa demonstra, portanto, o significado do processo de Reforma Gerencial do Estado tanto para CEF e RF, como esta vai se ressignificando conforme as especificidades das realidades locais. É neste sentido que se destaca a colocação feita por Fadul e Silva (2008) de que decorridos mais de dez anos do início desta reforma, não se pode adotar uma visão acrítica sobre os alcances e limites desta nova gestão pública, pois embora tenha sucedido uma evolução no que concerne à gestão administrativa em alguns órgãos públicos, esta não se deu de modo uniforme em todos os órgãos, nem em todos os níveis da administração pública. Além disso, estes autores destacam que a adoção de um modelo de administração pública gerencial é mais do que simples uma reforma administrativa, técnica ou do aparelho do Estado, pois ela também está permeada pelo contexto político e institucional onde se processa. Não é, portanto, tão simples mudar este quadro apenas com convencimento de que essa reforma trará mudanças positivas para a administração pública e, consequentemente, para os seus cidadãos. Como sugestão para trabalhos futuros destaca-se a necessidade de verificar a percepção que atores que trabalham nas superintendências regionais e estaduais da CEF e delegacias regionais da RF, bem como nos escritórios centrais de Brasília possuem sobre a Reforma Gerencial do Estado. 6 Referências Bibliográficas BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BELTRAMINI, R. F. Consumer-client orientation and public service marketing. European Journal of Marketing, v. 15, n. 4, p. 17-25, 1981. BRESSER PEREIRA, L.C; SPINK, Peter (org). Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial, Editora Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1998. BRESSER PEREIRA, L. C. A reforma Gerencial do Estado de 1995. Revista de Administração Pública, v 34, n.4, p. 55-72, 2000. 15 CAPOBIANGO, R.P.; NASCIMENTO, A.L.; FARONI, W.; SILVA, E.A. Reformas administrativas no Brasil: uma abordagem teórica e crítica. In: ENAPG, 4. Anais... Rio de Janeiro: Anpad, 2010. KETTL, D. F. 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