GT 1- MÍDIA E FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA
DESAFIOS E POSSIBILIDADES: ORGANIZAÇÃO DOCUMENTAL
DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE (MEB - GO) E SUAS
CONTRIBUIÇÕES PARA O CENTRO DE MEMÓRIA VIVA (CMV).
Maribel Schveeidt
Universidade Federal de Goiás-UFG FE
[email protected]
Dayane Mendes da Silva
Universidade Federal de Goiás-UFG FE
[email protected]
Resumo:
Este trabalho apresenta as atividades realizadas no “CENTRO MEMÓRIA VIVA
- Documentação e referência em Educação de Jovens e Adultos, Educação
Popular e Movimentos Sociais”, no período de janeiro a setembro de 2011, que
tem como objetivo disponibilizar o seu acervo documental on line para acesso
público e futuras pesquisas. Ele contempla quatro subprojetos
interinstitucionais de pesquisa, envolvendo universidades federais do Centro
Oeste, com a finalidade de resgatar a memória individual e coletiva de
Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Popular e Movimentos Sociais
dos anos 1960 a 1990. O projeto é financiado pelo Ministério da Educação e
em Goiás realizado em parceria com o Fórum Goiano de EJA e a Pontifícia
Universidade Católica de Goiás. O foco deste texto é no Movimento de
Educação de Base em Goiás (MEB-GO), uma vez que parte da história do
Movimento se encontra dispersa, encoberta, guardada na memória individual
das pessoas que viveram experiências na educação popular. Neste relato
faremos uma breve consideração da formação do Centro Memória Viva (CMV),
sua trajetória e implantação regional, a organização, tratamento e
disponibilização dos documentos do MEB-GO, provenientes da investigação
realizada em um estudo sobre o tema, para tese de doutorado, utilizando os
procedimentos de pesquisa qualitativa. O MEB foi um Movimento de Educação
Popular que contribuiu para que houvesse no meio rural a alfabetização de
jovens e adultos por meio de escolas radiofônicas. O acervo contém
documentos produzidos pelo MEB-GO, livros sobre Educação Popular e
Movimentos Sociais etc. O tratamento arquivístico dado ao acervo adota a
Norma Brasileira de Descrição Arquivística (NOBRADE).
Palavras-chave: Movimento de Educação de Base, Acervo documental,
Educação Popular.
Abstract:
This paper presents the activities that "CENTER MEMORY ALIVE Documentation and reference in Youth and Adult Education, Adult Education
and Social Movements", in the period January-September 2011, which aims to
provide its online document collection to public access and future research. It
includes four sub-institutional research, involving the federal universities of the
Midwest, in order to rescue the individual and collective memory of Youth and
Adults (EJA), Popular Education and Social Movements of the years 1960 to
1990. The project is funded by the Ministry of Education and Goiás conducted
in partnership with the Forum Goiano EJA and the Pontifical Catholic University
of Goias The focus of this text is in the Basic Education Movement in Goiás
(GO-MEB), since part the history of the Movement is dispersed, concealed,
stored in individual memory of people who lived experiences in popular
education. In this report we will briefly consider the formation of the Center
Living Memory (CMV), its trajectory and regional deployment, organization,
processing and delivery of documents MEB-GO, from research conducted in a
study on the topic for doctoral thesis using qualitative research procedures. The
MEB has been a movement of popular education movement that has
contributed to rural literacy of young people and adults through radio schools.
The collection contains documents produced by the MEB-GO, books on
Popular Education and Social Movements etc. The treatment given to the
archival collection adopts the Standard for Archival Description (NOBRADE).
Keywords: Base Education Movement, Document Collection, Popular
Education.
Os caminhos da memória e da história: aspectos relevantes
Na realização de um trabalho que envolve pesquisa, é relevante
conhecer os aspectos que irão compor o trabalho. Em se tratando de um
Centro de Documentação e referência em Educação de Jovens e Adultos,
Educação Popular e Movimentos Sociais, o Centro Memória Viva (CMV) é
necessário compreender sobre o que é memória e suas especificidades como
a memória individual e coletiva.
Outro aspecto foi entender a história oral, pois por meio dela
agrupamos informações as quais muitas vezes não estão disponíveis na
história “oficial”. Para esse trabalho tivemos a oportunidade de desenvolver
uma oficina em que trabalhamos a nossa história.
A memória é um trabalho de acordo com a (Fundação Banco do Brasil.
2009, p.14) “de organização e de seleção, atrelada a identidade, um registro
que seleciona experiências, emoções Segundo Bosi (1987, p., 333), a memória
coletiva é a “interação no interior de um grupo” pode ser familiar, escolar ou
profissional. A memória individual é “a memória que teve um significado para o
indivíduo” e ele a recorda.
A história oral é construída em torno de pessoas,
[...] Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu
campo de ação. Admite heróis vindos não só de dentre os líderes,
mas dentre a maioria desconhecida do povo. [...] paralelamente, a
história oral propõe um desafio aos mitos consagrados da história, ao
juízo autoritário inerente a sua tradição. E oferece os meios para uma
transformação radical do sentido social da história. (THOMPSON,
1992, apud FUNDAÇÃO B.B., p. 94)
Todos esses elementos colaboram para a obtenção de um centro de
referência, um ambiente voltado para disponibilizar informações relatos de
histórias em forma oral (entrevista áudio, vídeo, texto), visual (fotografias,
documentos etc.).
A Formação do Centro de Memória Viva
O primeiro momento de implantação de um centro de memória em
Goiás ocorreu por meio do projeto de pesquisa Infovias e Educação, que
originou o Museu Virtual da Educação em Goiás 1 o qual fica localizado na
página da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, no
endereço eletrônico: www.fe.ufg.br/museu, onde há um link, sobre a educação
de jovens e adultos (EJA), denominada Memória Viva da EJA.
Em 2003 foi escrito um projeto que pretendia dar continuidade ao
trabalho do Museu Virtual da Educação em Goiás, no campo da EJA. Este
projeto foi aprovado pelo CNPq por mérito, mas não recebeu recursos e não
teve como executá-lo. Inclusive o nome Memória Viva vem de lá, bem como
parte dos elementos que compuseram o projeto do Centro Memória Viva.
No decorrer da reunião da Anped Nacional, em 2008, em Minas Gerais,
o professor Osmar Fávero apresentou um DVD do Núcleo de Estudo e
Documentação sobre Educação de Jovens e Adultos – Nepeja, da Faculdade
de Educação da Universidade Federal Fluminense, no qual reunia a
experiência de Educação Popular no Brasil, de 1947 a 1966. Nessa ocasião o
professor relatou sobre as memórias e documentos que necessitariam de
serem reunidos mediante as novas tecnologias para disponibilizar o acesso de
futuros pesquisadores, o que demandaria um projeto que daria subsídios para
outras Instituições de Ensino.
O segundo momento vivenciado na construção do Centro Memória
Viva do Centro-Oeste, após negociações interestaduais, interuniversidades
/instituições, movimentos sociais e de educação popular e o Ministério da
Educação, mais especificamente com a Secretaria de Educação Continuada,
1
Este Museu Virtual foi reformulado no ano de 2009 para contribuir nas referências sobre a história de
educação de Goiás. Tem o seu relançamento previsto para o ano de 2011, enquanto uma coleção da Rede
de Estudos de História da Educação de Goiás - REHEG, no site www.fe.ufg.br/reheg/, uma iniciativa da
coordenação do projeto de pesquisa: Projeto de Educação da Sociedade Goiana do Século XIX.
Alfabetização, Diversidade (Secad)2, teve seu marco com a elaboração do
Projeto “CENTRO MEMÓRIA VIVA (CMV)- Documentação e referência em
EJA, Educação Popular e Movimentos Sociais do Centro Oeste”. Segundo ele:
[...] A constituição do CMV em Goiás é decorrente, então, de uma
articulação nacional motivada pelo projeto original apresentado ao
MEC pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e
Universidade Federal Fluminense (UFF). Uma primeira reunião das
IES com o MEC foi realizada em outubro de 2009, durante a ANPED
Nacional, em Caxambu, MG, onde a SECAD explicita a sua intenção
de apoiar o Projeto do Centro de Memória. Em Goiás, desde 2010, a
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás,
juntamente com o Departamento de Pós-Graduação e Pesquisa em
Educação (PPGE) da PUC Goiás, vêm se organizando para a
construção do projeto e a constituição de uma equipe local.
(GOMES, 2011, p. 2-3).
A constituição da equipe do CMV, conta com pesquisadores das
universidades federais (UFMT, UFMS, UnB, UFG) e PUC-Goiás que participam
como membros dos subprojetos de cada instituição, sendo que em cada estado
10 bolsistas compõem a equipe. Em Goiás, no ano de 2010, houve um
processo de seleção em Goiânia-GO que envolveu: entrevista e currículo,
sendo aprovados dois pesquisadores, dois assistentes e seis auxiliares de
pesquisa.
Esses
dados
estão
disponíveis
no
portal:
http://forumeja.org.br/cr/sites/forumeja.org.br.cr/files/avaliacaodoscandidatos.pd f.
O trabalho da equipe é de catalogação, análise, sistematização dos
documentos, para disponibilização on line dos mesmos, porém não se trata
apenas de uma atividade técnica, ela envolve estudos, pesquisa e muita
criatividade, para a composição das fichas de catalogação, construção do
sistema de base que será utilizado, na alimentação e disponibilidade dos
dados. No projeto base do CMV, informa-se que será possível, por meio de
fichas catalográficas, registrar o histórico dos documentos e seu “significado
funcional e simbólico” (MACHADO, et al, 2009, p.8). Para tanto o aspecto
tecnológico será um suporte imprescindível na obtenção dos resultados
esperados.
Contamos com alguns suportes técnicos como câmaras fotográficas,
filmadoras, gravadores, computadores, pen drive, fotocopiadora. Além de
equipamentos para a realização de vídeo-conferência, o que otimiza o tempo e
2
Atualmente Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi).
permite que o grupo possa interagir com outros grupos de pesquisa de
localidades diferentes. Estas mídias favorecem a digitalização de imagens e
sons, permitindo a visualização do material, das entrevistas, dos documentos
históricos; para futuras pesquisas on line em link específico.
A formação teórica da equipe no primeiro semestre de 2011
Para iniciar o trabalho dos pesquisadores foi necessário um trabalho de
formação
para
que
compreendessem seu
objeto
de
trabalho,
suas
características, cuidados, o sentido, importância e significado do mesmo.
Trabalhando com documentos nos perguntamos, o que é um documento? Qual
o sentido da recuperação e preservação da memória num país em que o
descarte da história, da substituição do velho pelo novo tem sido uma tônica?
Como contribuir para a recuperação, registro, sistematização e publicação em
domínio público de objetos, histórias, documentos antes conhecidos apenas
por alguns, guardados em gavetas, armários e que são parte significativa da
nossa memória enquanto história da educação neste país?
Para buscarmos algumas respostas a estas indagações tem sido
fundamental o estudo desde o momento inicial e contínuo do grupo de
pesquisa. Começamos pelo acesso ao livro da Fundação do Banco do Brasil
intitulado Tecnologia Social da Memória para Comunidades, Movimentos
Sociais e Instituições Registrarem suas Histórias. Esse estudo contribuiu para
entendermos o processo de entrevista, o lado técnico de abordar e estruturá-la.
Inclusive todos os componentes da pesquisa passaram por esse processo de
realizar entrevista com áudio e vídeo e ser entrevistado. Essa atividade
entrosou o grupo para o trabalho e destacou os cuidados tanto que o
pesquisador entrevistador precisa ter com o entrevistado, quanto nos colocou
do outro lado, sendo o entrevistado pelos nossos pares. Também vimos quanto
aos cuidados na transcrição e divulgação do material, estudos sobre pesquisa,
instrumentos de pesquisa e análise documental.
Dando continuidade aos estudos sobre pesquisa, em fevereiro/2011
realizamos a leitura e discussão dos artigos “Apontamentos sobre a noção de
conhecimento e o processo de investigação nas ciências humanas” de
Guimarães e Nepomuceno (2009); “Pesquisa documental: Pistas teóricas e
metodológicas” de Sa-Silva e et al (2009); “Método da análise documental: seu
uso numa pesquisa historiográfica”de Pimentel (2001); “A análise documental
no contexto da metodologia qualitativa: uma abordagem a partir da experiência
de pesquisa do Programa de Pós- Graduação em Educação da Unisinos” de
Corseti (2006).
Já no campo da EJA, educação popular e movimentos sociais, lemos,
estudamos
individual
e
coletivamente,
discutimos,
sistematizamos
e
produzimos textos a partir dos textos: “A educação popular e a educação de
jovens e adultos” de Brandão (2008); “Movimentos sociais e educação popular:
atualidade do legado de Paulo Freire” de Paludo (2008); “O aspecto educativo
da prática política” de Loureiro (1988), “Formas de organização camponesa em
Goiás (1954-1964) de Guimarães (1988), e “Educação de Jovens e Adultos:
Retomando uma história negada” de Rodrigues (2000).
Essas leituras nos ajudaram a compreender os movimentos que a
classe trabalhadora realizou no percurso da história, desde a luta dos
camponeses com relação ao arrendamento das terras, a influência da
educação popular na modalidade EJA, e as lutas que permearam a educação.
Discutimos com o técnico Rodolfo, do Centro de Informação
Documentação e Arquivo da UFG (CIDARQ-UFG), sobre as regras para a
construção da ficha catalográfica em quatro encontros, nos quais analisamos e
exercitamos, permeado de muitas dúvidas, os elementos da ficha catalográfica
de acordo com as normas da Nobrade, indo à tese e ao projeto de pesquisa da
colecionadora dos documentos para identificá-los e compreender seu sentido e
significado, para a descrição contextualizada dos itens e da coleção. Foram 4
semanas de trabalho que resultaram na construção de uma ficha. Após esta
construção descobrimos que estávamos na contramão do trabalho a ser
desenvolvido para a catalogação. Entendemos que era uma dupla jornada
compreender a história como pesquisadores e dominar o lado técnico dos
arquivologistas.
Percebemos
que
o
trabalho
de
pesquisa
e
o
lado
técnico
complementam-se, requer um cuidado minucioso em organizar os documentos,
analisá-los e separá-los em categorias. São processos que demandam um
tempo razoável, pois além de compreender o fundo histórico é necessário
disponibilizá-lo para futuro acessos.
Após análises e discussões a percepção da equipe de pesquisadores
foi que a ficha trazida pela Nobrade possuía um detalhamento descritivo que
não estava apropriado para as especificidades do acervo do CMV. Iniciou-se
um novo processo de elaboração, quando ocorreram algumas modificações na
ficha catalográfica. Uma nova ficha de catalogação de itens foi construída de
forma mais sintética para auxiliar no processo de organização dos dados, sem
comprometer, ao mesmo tempo, o patamar de modelo exigido pela Nobrade. A
seguir apresentamos a ficha reformulada.
CÓDIGO DE CLASSIFICAÇÃO (1.1): 016
TÍTULO(1.2): Síntese de algumas considerações sobre o problema do analfabetismo e da aprendizagem
LOCAL DE PRODUÇÃO(1.3.1): Rio de Janeiro – Guanabara
DATA DE PRODUÇÃO (1.3.3): dez./1969
GÊNERO (1.5): [ ] manuscrito [ ] iconográfico
[ ] bibliográfico [ ] textual [ ]
[ ] cartográfico [ ] filmográfico
(1.5) DIMENSÃO
8 páginas
AUTORIA (2.1): Movimento de Educação de Base (MEB)
PROCEDÊNCIA (2.4): Coleção, adquirida pela pesquisadora Maria Emilia de Castro Rodrigues para
elaboração da tese de doutorado, período de 2004 a 2008. Material cedido por José P. P. Filho – 2005.
TÓPICOS DO CONTEÚDO (3.1):
O documento inicia-se com uma breve síntese de algumas considerações sobre o problema do
analfabetismo e da aprendizagem, e logo após trata sobre a educação dentro das perspectivas do
desenvolvimento, dividindo-se em três tópicos. São eles: Estágios da inteligência intuitiva, Estágios das
operações intelectuais completas, Estágio das operações intelectuais abstratas.
PALAVRAS-CHAVE (8.1):
Analfabetismo; estágios da inteligência; aprendizagem.
CONDIÇÕES DO DOCUMENTO (6.1): Cópia xerografada do original, documento datilografado. Está em
boas condições. Não restaurado.
EXISTÊNCIA E LOCALIZAÇÃO DE ORIGINAIS/CÓPIAS: Informação não disponível.
CÓDIGO DE REFERÊNCIA DEFINITIVO (1.1): Brasil, Goiás, Universidade Federal de Goiás, Centro
Memória Viva, Movimento de Educação de Base.
Para a organização do acervo CMV realizamos muitas atividades em
grupo: leituras, organogramas, fichamentos, aulas sobre as normas da
Nobrade, discussões acerca dos movimentos populares, EJA, MEB. Em
decorrência das pesquisas que estavam ocorrendo em áreas diferentes, as
atividades foram distribuídas. Assim com o MEB-GO uma equipe foi designada,
passando pelo processo de separação e higienização de documentos, com
cuidados na organização e manuseio do material, atenção em não misturá-los
com outros documentos; e cuidados com a proteção dos pesquisadores como
: luvas, jaleco, cabelos presos, máscara.
Todo o processo de catalogação é minucioso, pois envolve a
preservação da história e futuras pesquisas, os documentos tornam-se
relíquias, devido a um número reduzido de cópias ou por serem as únicas
fontes disponíveis que o acervo dispõe. Ao realizar as buscas da memória
documental é relevante apresentar que estamos construindo um acervo em
que a tecnologia auxilia no manuseio das fichas e seu conteúdo. Em
decorrência dessa agilidade a equipe conseguiu catalogar 64 documentos em
fichas, no período de quinze dias.
O aprendizado envolve o compromisso do grupo em realizar um
trabalho social, cultural e histórico. Estamos buscando recontar uma história
em que outros sujeitos possam ser também protagonistas. As fontes de
pesquisas envolvem uma tese de doutorado a qual auxilia na compreensão do
Movimento e no papel que a Igreja desempenhou para a realização na rádio
uma programação que atendesse os trabalhadores rurais analfabetos.
Apesar de nosso foco ser a digitalização, sistematização em
categorias, disponibilização virtual do acervo, contamos também com um
espaço real onde serão depositados os documentos doados ao CMV. Este
espaço de estudo e pesquisa, tem sido organizado na Faculdade de Educação
- FE/UFG, no Núcleo de Estudos e Documentação Educação, Sociedade e
Cultura (Nedesc), que abrigará em mobiliário adequado, as preciosas pérolas
documentais que o CMV já possui, fruto de pesquisas já realizadas, que serão
enriquecidas com novas pesquisas.
Esse é um dos objetivos do Centro de Memória Viva, resgatar através
de documentos que estão dispersos, histórias para a construção da memória
do nosso estado.
[...] Goiás acumulou nas temáticas sobre Educação de Jovens e
Adultos e Educação Popular, inclusive no período da ditadura militar
(1964-1985) e no período pós-ditadura, com o Movimento de
Educação
de
Base
(MEB)
um
referencial
de
luta
e
de
posicionamentos políticos (MACHADO, 2010, p. 4)
Ao mencionar sobre os Movimentos Sociais, destacaremos mais
adiante a contribuição do Movimento de Educação de Base para o acervo do
CMV.
Histórico da recuperação dos documentos MEB- GO e sua relevância para o
CMV, a história de Goiás e nacional
Com a criação do CMV a primeira doação, diretamente ao Centro, de
pesquisador/instituição ainda não vinculado foi do professor José Pereira
Peixoto Filho. Com a chegada do recurso para criação do Centro, no final do
ano de 2010 a professora duas pesquisadoras integrantes, realizaram uma
viagem para Belo Horizonte no intuito de resgatar alguns documentos que
faziam parte do acervo pessoal do professor Peixoto3.
Foram dois dias “garimpando” o acervo sobre o MEB-GO. Segundo
relato das professoras “alguns documentos foram doados e outros devem ser
restituídos, após a realização da reprodução dos mesmos”. Esses documentos
foram deixados aos cuidados da equipe de pesquisadores responsável em
realizar
uma
listagem,
organizá-los, higienizá-los e
catalogá-los
para
digitalização e disponibilização on line no site do CMV e arquivá-los em espaço
real no Nedesc. Dentre os materiais que foram adquiridos estão documentos
originais e cópias: jornais, textos; poesias, inclusive escritas no verso de um
diário do monitor do MEB-GO; cartas; entrevistas; atas de reuniões; boletins
informativos; cartilhas; relatórios de encontros com coordenadores, manuais de
instrução; entre outros, com seus cheiros, aspectos históricos e densidade
impregnados, que buscamos registrar na catalogação, além dos aspectos
técnicos científicos de sua produção.
Os documentos foram doados ao CMV, devido a relevância que a
história do MEB empreendeu nas lutas dos movimentos sociais, Educação
Popular e Educação de Jovens e Adultos em Goiás e suas grandes
contribuições na história da educação deste estado e serem os documentos
por ele produzidos ou por ele recebidos/acessados objeto de estudo, atenção,
registro e disponibilização no CMV, por fazer parte da rica história da EJA e
educação popular vivida em Goiás nos anos 1960.
O Movimento de Educação de Base foi criado em 1961, instituído pela
Igreja Católica por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
cujo projeto foi aprovado pelo Governo Federal com a assinatura do Decreto nº
50370/196, que liberava recursos para a criação do MEB nas regiões norte,
nordeste e centro oeste.
O Brasil é um país de origem eminentemente camponesa e a Igreja
Católica, buscando se achegar aos povos do campo, cria o MEB e nele o MEB3
Este professor universitário, no início da década de 1960, enquanto estudante não pertencia aos
quadros do MEB-Goiás, mas nele atuou por participar do centro Popular de Cultura de Goiás (CPC-GO),
da União Estadual dos Estudantes Secundaristas (UEE) e da União Nacional dos Estudantes (UNE), bem
como da AP, que mantinha vínculos estreitos com o Movimento em Goiás.
GO, no qual atuavam de forma expressiva militantes da Igreja, que
trabalhavam em convênio com a Rádio Difusora de Goiânia, atendendo aos
jovens e adultos analfabetos de Goiânia e do interior do estado, até onde
alcançava a Rádio, possibilitando assim a emergência de uma educação de
adultos a distancia, com recepção organizada em nosso estado.
O governo goiano e brasileiro já sinalizava sua preocupação com o
nível de analfabetismo. As condições sócio-históricas do momento exigiam que
a população fosse alfabetizada, era a transformação para um novo Brasil, havia
grandes expectativas de progresso e o analfabetismo não combinava com esse
futuro e próspero perfil.
O Movimento em Goiás surgiu pela iniciativa do bispo local, após ter
visto algumas experiências com bons resultados em outros locais (Natal e
Aracaju). O Movimento em Goiás nasceu com a criação do Sistema TeleRadiofônico de Goiás, e posteriormente aderiu ao MEB nacional, utilizando a
denominação Movimento de Educação de Base em Goiás (MEB-GO).
Um dos objetivos do MEB, citado por Rodrigues (2008), no início de
sua atuação, em consonância com as compreensões para educação de base
posta pela UNESCO, era oferecer o ínfimo de noção teórico-prático aos
educandos camponeses que não tiveram a oportunidade de obter o
conhecimento institucionalizado. O mínimo, no sentido de que pudessem
alcançar a grandeza como sujeitos humanos por meio de uma educação
integral, que possibilitasse uma formação crítica e reflexiva para que pudessem
compreender e atuar na realidade em que viviam de forma digna e solidária.
O MEB, à partir de 1963, foi bastante influenciado pelos movimentos
de educação popular do país, em especial pelo sistema Paulo Freire, por
intelectuais e por autores nacionais e internacionais, bem como partidos
progressistas da época. Tinha como característica o olhar para o sujeito a partir
da realidade em que ele estava inserido, a aprendizagem era voltada aos
interesses dos educandos, com professores engajados, comprometidos com a
educação, essas foram algumas características marcantes do Movimento. Ele
foi duramente reprimido, tendo pessoas do seu quadro sido cassadas, presas e
exiladas pelo regime militar pós 1964. Isso provocou por muito tempo um
silenciamento dos ricos trabalhos desenvolvidos no interior do MEB-GO.
Entretanto o MEB é tido como um dos únicos movimentos que sobreviveram à
ditadura, mas não voltou com a mesma fardagem e perdeu muitos de seus
militantes que não concordaram com as imposições feitas pela ditadura e pela
Igreja.
Dessa forma se faz necessário que sejam resgatadas as marcas de
um período que apresentou enormes contribuições para a história da educação
em nosso país e estado de Goiás, para que não sejam esquecidas e apagadas
de nossas memórias as lutas empreendidas pela Educação de Jovens e
Adultos, por meio dos movimentos sociais e da educação popular.
Conclusão:
Esse relato de experiência e suas respectivas análises configuram-se
em um exercício contínuo da equipe de sistematizar o trabalho desenvolvido,
registrando-o,
e
divulgando-o
como
vem
fazendo
no
site
www.forumeja.org.br/cr, em que apresenta o início de um projeto que abrange
a EJA, Movimentos Sociais e a Educação Popular. Todos eles envolveram
lutas, desafios e muita determinação. A reconstrução da memória de fatos
importantes na educação em nosso estado merece um olhar mais atento, pois
são muitas histórias que ainda necessitam serem ouvidas, muitos documentos
precisam de um tratamento adequado para evitar que sejam destruídos pela
ação do tempo.
Aguardamos encerrar o primeiro ano da pesquisa com uma quantidade
de documentos restaurados, catalogados e disponibilizados no site do Fórum
EJA. Temos também o objetivo de angariar novas fontes materiais, novos
parceiros de pesquisa, documentos históricos, fotografias, depoimentos para
(re)contar nossa história e auxiliar nas linhas de pesquisa dos três temas
citados.
Quanto à parte que está sob os nossos cuidados, que é a organização
dos documentos do MEB-GO, estamos descobrindo uma história que
transformou a educação popular. Compreender o avanço em usar a tecnologia
da mídia, no caso o rádio, para a alfabetização rural, foi sem dúvida um passo
à frente, inovador pelas condições existentes nesse período. Com o advento
das
novas
tecnologias,
essa
experiência
disponibilizada em um portal do CMV.
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vivida
pelo
MEB-GO
será
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DESAFIOS E POSSIBILIDADES: ORGANIZAÇÃO