GT 1- MÍDIA E FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA DESAFIOS E POSSIBILIDADES: ORGANIZAÇÃO DOCUMENTAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE (MEB - GO) E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O CENTRO DE MEMÓRIA VIVA (CMV). Maribel Schveeidt Universidade Federal de Goiás-UFG FE [email protected] Dayane Mendes da Silva Universidade Federal de Goiás-UFG FE [email protected] Resumo: Este trabalho apresenta as atividades realizadas no “CENTRO MEMÓRIA VIVA - Documentação e referência em Educação de Jovens e Adultos, Educação Popular e Movimentos Sociais”, no período de janeiro a setembro de 2011, que tem como objetivo disponibilizar o seu acervo documental on line para acesso público e futuras pesquisas. Ele contempla quatro subprojetos interinstitucionais de pesquisa, envolvendo universidades federais do Centro Oeste, com a finalidade de resgatar a memória individual e coletiva de Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Popular e Movimentos Sociais dos anos 1960 a 1990. O projeto é financiado pelo Ministério da Educação e em Goiás realizado em parceria com o Fórum Goiano de EJA e a Pontifícia Universidade Católica de Goiás. O foco deste texto é no Movimento de Educação de Base em Goiás (MEB-GO), uma vez que parte da história do Movimento se encontra dispersa, encoberta, guardada na memória individual das pessoas que viveram experiências na educação popular. Neste relato faremos uma breve consideração da formação do Centro Memória Viva (CMV), sua trajetória e implantação regional, a organização, tratamento e disponibilização dos documentos do MEB-GO, provenientes da investigação realizada em um estudo sobre o tema, para tese de doutorado, utilizando os procedimentos de pesquisa qualitativa. O MEB foi um Movimento de Educação Popular que contribuiu para que houvesse no meio rural a alfabetização de jovens e adultos por meio de escolas radiofônicas. O acervo contém documentos produzidos pelo MEB-GO, livros sobre Educação Popular e Movimentos Sociais etc. O tratamento arquivístico dado ao acervo adota a Norma Brasileira de Descrição Arquivística (NOBRADE). Palavras-chave: Movimento de Educação de Base, Acervo documental, Educação Popular. Abstract: This paper presents the activities that "CENTER MEMORY ALIVE Documentation and reference in Youth and Adult Education, Adult Education and Social Movements", in the period January-September 2011, which aims to provide its online document collection to public access and future research. It includes four sub-institutional research, involving the federal universities of the Midwest, in order to rescue the individual and collective memory of Youth and Adults (EJA), Popular Education and Social Movements of the years 1960 to 1990. The project is funded by the Ministry of Education and Goiás conducted in partnership with the Forum Goiano EJA and the Pontifical Catholic University of Goias The focus of this text is in the Basic Education Movement in Goiás (GO-MEB), since part the history of the Movement is dispersed, concealed, stored in individual memory of people who lived experiences in popular education. In this report we will briefly consider the formation of the Center Living Memory (CMV), its trajectory and regional deployment, organization, processing and delivery of documents MEB-GO, from research conducted in a study on the topic for doctoral thesis using qualitative research procedures. The MEB has been a movement of popular education movement that has contributed to rural literacy of young people and adults through radio schools. The collection contains documents produced by the MEB-GO, books on Popular Education and Social Movements etc. The treatment given to the archival collection adopts the Standard for Archival Description (NOBRADE). Keywords: Base Education Movement, Document Collection, Popular Education. Os caminhos da memória e da história: aspectos relevantes Na realização de um trabalho que envolve pesquisa, é relevante conhecer os aspectos que irão compor o trabalho. Em se tratando de um Centro de Documentação e referência em Educação de Jovens e Adultos, Educação Popular e Movimentos Sociais, o Centro Memória Viva (CMV) é necessário compreender sobre o que é memória e suas especificidades como a memória individual e coletiva. Outro aspecto foi entender a história oral, pois por meio dela agrupamos informações as quais muitas vezes não estão disponíveis na história “oficial”. Para esse trabalho tivemos a oportunidade de desenvolver uma oficina em que trabalhamos a nossa história. A memória é um trabalho de acordo com a (Fundação Banco do Brasil. 2009, p.14) “de organização e de seleção, atrelada a identidade, um registro que seleciona experiências, emoções Segundo Bosi (1987, p., 333), a memória coletiva é a “interação no interior de um grupo” pode ser familiar, escolar ou profissional. A memória individual é “a memória que teve um significado para o indivíduo” e ele a recorda. A história oral é construída em torno de pessoas, [...] Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não só de dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. [...] paralelamente, a história oral propõe um desafio aos mitos consagrados da história, ao juízo autoritário inerente a sua tradição. E oferece os meios para uma transformação radical do sentido social da história. (THOMPSON, 1992, apud FUNDAÇÃO B.B., p. 94) Todos esses elementos colaboram para a obtenção de um centro de referência, um ambiente voltado para disponibilizar informações relatos de histórias em forma oral (entrevista áudio, vídeo, texto), visual (fotografias, documentos etc.). A Formação do Centro de Memória Viva O primeiro momento de implantação de um centro de memória em Goiás ocorreu por meio do projeto de pesquisa Infovias e Educação, que originou o Museu Virtual da Educação em Goiás 1 o qual fica localizado na página da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, no endereço eletrônico: www.fe.ufg.br/museu, onde há um link, sobre a educação de jovens e adultos (EJA), denominada Memória Viva da EJA. Em 2003 foi escrito um projeto que pretendia dar continuidade ao trabalho do Museu Virtual da Educação em Goiás, no campo da EJA. Este projeto foi aprovado pelo CNPq por mérito, mas não recebeu recursos e não teve como executá-lo. Inclusive o nome Memória Viva vem de lá, bem como parte dos elementos que compuseram o projeto do Centro Memória Viva. No decorrer da reunião da Anped Nacional, em 2008, em Minas Gerais, o professor Osmar Fávero apresentou um DVD do Núcleo de Estudo e Documentação sobre Educação de Jovens e Adultos – Nepeja, da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, no qual reunia a experiência de Educação Popular no Brasil, de 1947 a 1966. Nessa ocasião o professor relatou sobre as memórias e documentos que necessitariam de serem reunidos mediante as novas tecnologias para disponibilizar o acesso de futuros pesquisadores, o que demandaria um projeto que daria subsídios para outras Instituições de Ensino. O segundo momento vivenciado na construção do Centro Memória Viva do Centro-Oeste, após negociações interestaduais, interuniversidades /instituições, movimentos sociais e de educação popular e o Ministério da Educação, mais especificamente com a Secretaria de Educação Continuada, 1 Este Museu Virtual foi reformulado no ano de 2009 para contribuir nas referências sobre a história de educação de Goiás. Tem o seu relançamento previsto para o ano de 2011, enquanto uma coleção da Rede de Estudos de História da Educação de Goiás - REHEG, no site www.fe.ufg.br/reheg/, uma iniciativa da coordenação do projeto de pesquisa: Projeto de Educação da Sociedade Goiana do Século XIX. Alfabetização, Diversidade (Secad)2, teve seu marco com a elaboração do Projeto “CENTRO MEMÓRIA VIVA (CMV)- Documentação e referência em EJA, Educação Popular e Movimentos Sociais do Centro Oeste”. Segundo ele: [...] A constituição do CMV em Goiás é decorrente, então, de uma articulação nacional motivada pelo projeto original apresentado ao MEC pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e Universidade Federal Fluminense (UFF). Uma primeira reunião das IES com o MEC foi realizada em outubro de 2009, durante a ANPED Nacional, em Caxambu, MG, onde a SECAD explicita a sua intenção de apoiar o Projeto do Centro de Memória. Em Goiás, desde 2010, a Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, juntamente com o Departamento de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (PPGE) da PUC Goiás, vêm se organizando para a construção do projeto e a constituição de uma equipe local. (GOMES, 2011, p. 2-3). A constituição da equipe do CMV, conta com pesquisadores das universidades federais (UFMT, UFMS, UnB, UFG) e PUC-Goiás que participam como membros dos subprojetos de cada instituição, sendo que em cada estado 10 bolsistas compõem a equipe. Em Goiás, no ano de 2010, houve um processo de seleção em Goiânia-GO que envolveu: entrevista e currículo, sendo aprovados dois pesquisadores, dois assistentes e seis auxiliares de pesquisa. Esses dados estão disponíveis no portal: http://forumeja.org.br/cr/sites/forumeja.org.br.cr/files/avaliacaodoscandidatos.pd f. O trabalho da equipe é de catalogação, análise, sistematização dos documentos, para disponibilização on line dos mesmos, porém não se trata apenas de uma atividade técnica, ela envolve estudos, pesquisa e muita criatividade, para a composição das fichas de catalogação, construção do sistema de base que será utilizado, na alimentação e disponibilidade dos dados. No projeto base do CMV, informa-se que será possível, por meio de fichas catalográficas, registrar o histórico dos documentos e seu “significado funcional e simbólico” (MACHADO, et al, 2009, p.8). Para tanto o aspecto tecnológico será um suporte imprescindível na obtenção dos resultados esperados. Contamos com alguns suportes técnicos como câmaras fotográficas, filmadoras, gravadores, computadores, pen drive, fotocopiadora. Além de equipamentos para a realização de vídeo-conferência, o que otimiza o tempo e 2 Atualmente Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi). permite que o grupo possa interagir com outros grupos de pesquisa de localidades diferentes. Estas mídias favorecem a digitalização de imagens e sons, permitindo a visualização do material, das entrevistas, dos documentos históricos; para futuras pesquisas on line em link específico. A formação teórica da equipe no primeiro semestre de 2011 Para iniciar o trabalho dos pesquisadores foi necessário um trabalho de formação para que compreendessem seu objeto de trabalho, suas características, cuidados, o sentido, importância e significado do mesmo. Trabalhando com documentos nos perguntamos, o que é um documento? Qual o sentido da recuperação e preservação da memória num país em que o descarte da história, da substituição do velho pelo novo tem sido uma tônica? Como contribuir para a recuperação, registro, sistematização e publicação em domínio público de objetos, histórias, documentos antes conhecidos apenas por alguns, guardados em gavetas, armários e que são parte significativa da nossa memória enquanto história da educação neste país? Para buscarmos algumas respostas a estas indagações tem sido fundamental o estudo desde o momento inicial e contínuo do grupo de pesquisa. Começamos pelo acesso ao livro da Fundação do Banco do Brasil intitulado Tecnologia Social da Memória para Comunidades, Movimentos Sociais e Instituições Registrarem suas Histórias. Esse estudo contribuiu para entendermos o processo de entrevista, o lado técnico de abordar e estruturá-la. Inclusive todos os componentes da pesquisa passaram por esse processo de realizar entrevista com áudio e vídeo e ser entrevistado. Essa atividade entrosou o grupo para o trabalho e destacou os cuidados tanto que o pesquisador entrevistador precisa ter com o entrevistado, quanto nos colocou do outro lado, sendo o entrevistado pelos nossos pares. Também vimos quanto aos cuidados na transcrição e divulgação do material, estudos sobre pesquisa, instrumentos de pesquisa e análise documental. Dando continuidade aos estudos sobre pesquisa, em fevereiro/2011 realizamos a leitura e discussão dos artigos “Apontamentos sobre a noção de conhecimento e o processo de investigação nas ciências humanas” de Guimarães e Nepomuceno (2009); “Pesquisa documental: Pistas teóricas e metodológicas” de Sa-Silva e et al (2009); “Método da análise documental: seu uso numa pesquisa historiográfica”de Pimentel (2001); “A análise documental no contexto da metodologia qualitativa: uma abordagem a partir da experiência de pesquisa do Programa de Pós- Graduação em Educação da Unisinos” de Corseti (2006). Já no campo da EJA, educação popular e movimentos sociais, lemos, estudamos individual e coletivamente, discutimos, sistematizamos e produzimos textos a partir dos textos: “A educação popular e a educação de jovens e adultos” de Brandão (2008); “Movimentos sociais e educação popular: atualidade do legado de Paulo Freire” de Paludo (2008); “O aspecto educativo da prática política” de Loureiro (1988), “Formas de organização camponesa em Goiás (1954-1964) de Guimarães (1988), e “Educação de Jovens e Adultos: Retomando uma história negada” de Rodrigues (2000). Essas leituras nos ajudaram a compreender os movimentos que a classe trabalhadora realizou no percurso da história, desde a luta dos camponeses com relação ao arrendamento das terras, a influência da educação popular na modalidade EJA, e as lutas que permearam a educação. Discutimos com o técnico Rodolfo, do Centro de Informação Documentação e Arquivo da UFG (CIDARQ-UFG), sobre as regras para a construção da ficha catalográfica em quatro encontros, nos quais analisamos e exercitamos, permeado de muitas dúvidas, os elementos da ficha catalográfica de acordo com as normas da Nobrade, indo à tese e ao projeto de pesquisa da colecionadora dos documentos para identificá-los e compreender seu sentido e significado, para a descrição contextualizada dos itens e da coleção. Foram 4 semanas de trabalho que resultaram na construção de uma ficha. Após esta construção descobrimos que estávamos na contramão do trabalho a ser desenvolvido para a catalogação. Entendemos que era uma dupla jornada compreender a história como pesquisadores e dominar o lado técnico dos arquivologistas. Percebemos que o trabalho de pesquisa e o lado técnico complementam-se, requer um cuidado minucioso em organizar os documentos, analisá-los e separá-los em categorias. São processos que demandam um tempo razoável, pois além de compreender o fundo histórico é necessário disponibilizá-lo para futuro acessos. Após análises e discussões a percepção da equipe de pesquisadores foi que a ficha trazida pela Nobrade possuía um detalhamento descritivo que não estava apropriado para as especificidades do acervo do CMV. Iniciou-se um novo processo de elaboração, quando ocorreram algumas modificações na ficha catalográfica. Uma nova ficha de catalogação de itens foi construída de forma mais sintética para auxiliar no processo de organização dos dados, sem comprometer, ao mesmo tempo, o patamar de modelo exigido pela Nobrade. A seguir apresentamos a ficha reformulada. CÓDIGO DE CLASSIFICAÇÃO (1.1): 016 TÍTULO(1.2): Síntese de algumas considerações sobre o problema do analfabetismo e da aprendizagem LOCAL DE PRODUÇÃO(1.3.1): Rio de Janeiro – Guanabara DATA DE PRODUÇÃO (1.3.3): dez./1969 GÊNERO (1.5): [ ] manuscrito [ ] iconográfico [ ] bibliográfico [ ] textual [ ] [ ] cartográfico [ ] filmográfico (1.5) DIMENSÃO 8 páginas AUTORIA (2.1): Movimento de Educação de Base (MEB) PROCEDÊNCIA (2.4): Coleção, adquirida pela pesquisadora Maria Emilia de Castro Rodrigues para elaboração da tese de doutorado, período de 2004 a 2008. Material cedido por José P. P. Filho – 2005. TÓPICOS DO CONTEÚDO (3.1): O documento inicia-se com uma breve síntese de algumas considerações sobre o problema do analfabetismo e da aprendizagem, e logo após trata sobre a educação dentro das perspectivas do desenvolvimento, dividindo-se em três tópicos. São eles: Estágios da inteligência intuitiva, Estágios das operações intelectuais completas, Estágio das operações intelectuais abstratas. PALAVRAS-CHAVE (8.1): Analfabetismo; estágios da inteligência; aprendizagem. CONDIÇÕES DO DOCUMENTO (6.1): Cópia xerografada do original, documento datilografado. Está em boas condições. Não restaurado. EXISTÊNCIA E LOCALIZAÇÃO DE ORIGINAIS/CÓPIAS: Informação não disponível. CÓDIGO DE REFERÊNCIA DEFINITIVO (1.1): Brasil, Goiás, Universidade Federal de Goiás, Centro Memória Viva, Movimento de Educação de Base. Para a organização do acervo CMV realizamos muitas atividades em grupo: leituras, organogramas, fichamentos, aulas sobre as normas da Nobrade, discussões acerca dos movimentos populares, EJA, MEB. Em decorrência das pesquisas que estavam ocorrendo em áreas diferentes, as atividades foram distribuídas. Assim com o MEB-GO uma equipe foi designada, passando pelo processo de separação e higienização de documentos, com cuidados na organização e manuseio do material, atenção em não misturá-los com outros documentos; e cuidados com a proteção dos pesquisadores como : luvas, jaleco, cabelos presos, máscara. Todo o processo de catalogação é minucioso, pois envolve a preservação da história e futuras pesquisas, os documentos tornam-se relíquias, devido a um número reduzido de cópias ou por serem as únicas fontes disponíveis que o acervo dispõe. Ao realizar as buscas da memória documental é relevante apresentar que estamos construindo um acervo em que a tecnologia auxilia no manuseio das fichas e seu conteúdo. Em decorrência dessa agilidade a equipe conseguiu catalogar 64 documentos em fichas, no período de quinze dias. O aprendizado envolve o compromisso do grupo em realizar um trabalho social, cultural e histórico. Estamos buscando recontar uma história em que outros sujeitos possam ser também protagonistas. As fontes de pesquisas envolvem uma tese de doutorado a qual auxilia na compreensão do Movimento e no papel que a Igreja desempenhou para a realização na rádio uma programação que atendesse os trabalhadores rurais analfabetos. Apesar de nosso foco ser a digitalização, sistematização em categorias, disponibilização virtual do acervo, contamos também com um espaço real onde serão depositados os documentos doados ao CMV. Este espaço de estudo e pesquisa, tem sido organizado na Faculdade de Educação - FE/UFG, no Núcleo de Estudos e Documentação Educação, Sociedade e Cultura (Nedesc), que abrigará em mobiliário adequado, as preciosas pérolas documentais que o CMV já possui, fruto de pesquisas já realizadas, que serão enriquecidas com novas pesquisas. Esse é um dos objetivos do Centro de Memória Viva, resgatar através de documentos que estão dispersos, histórias para a construção da memória do nosso estado. [...] Goiás acumulou nas temáticas sobre Educação de Jovens e Adultos e Educação Popular, inclusive no período da ditadura militar (1964-1985) e no período pós-ditadura, com o Movimento de Educação de Base (MEB) um referencial de luta e de posicionamentos políticos (MACHADO, 2010, p. 4) Ao mencionar sobre os Movimentos Sociais, destacaremos mais adiante a contribuição do Movimento de Educação de Base para o acervo do CMV. Histórico da recuperação dos documentos MEB- GO e sua relevância para o CMV, a história de Goiás e nacional Com a criação do CMV a primeira doação, diretamente ao Centro, de pesquisador/instituição ainda não vinculado foi do professor José Pereira Peixoto Filho. Com a chegada do recurso para criação do Centro, no final do ano de 2010 a professora duas pesquisadoras integrantes, realizaram uma viagem para Belo Horizonte no intuito de resgatar alguns documentos que faziam parte do acervo pessoal do professor Peixoto3. Foram dois dias “garimpando” o acervo sobre o MEB-GO. Segundo relato das professoras “alguns documentos foram doados e outros devem ser restituídos, após a realização da reprodução dos mesmos”. Esses documentos foram deixados aos cuidados da equipe de pesquisadores responsável em realizar uma listagem, organizá-los, higienizá-los e catalogá-los para digitalização e disponibilização on line no site do CMV e arquivá-los em espaço real no Nedesc. Dentre os materiais que foram adquiridos estão documentos originais e cópias: jornais, textos; poesias, inclusive escritas no verso de um diário do monitor do MEB-GO; cartas; entrevistas; atas de reuniões; boletins informativos; cartilhas; relatórios de encontros com coordenadores, manuais de instrução; entre outros, com seus cheiros, aspectos históricos e densidade impregnados, que buscamos registrar na catalogação, além dos aspectos técnicos científicos de sua produção. Os documentos foram doados ao CMV, devido a relevância que a história do MEB empreendeu nas lutas dos movimentos sociais, Educação Popular e Educação de Jovens e Adultos em Goiás e suas grandes contribuições na história da educação deste estado e serem os documentos por ele produzidos ou por ele recebidos/acessados objeto de estudo, atenção, registro e disponibilização no CMV, por fazer parte da rica história da EJA e educação popular vivida em Goiás nos anos 1960. O Movimento de Educação de Base foi criado em 1961, instituído pela Igreja Católica por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cujo projeto foi aprovado pelo Governo Federal com a assinatura do Decreto nº 50370/196, que liberava recursos para a criação do MEB nas regiões norte, nordeste e centro oeste. O Brasil é um país de origem eminentemente camponesa e a Igreja Católica, buscando se achegar aos povos do campo, cria o MEB e nele o MEB3 Este professor universitário, no início da década de 1960, enquanto estudante não pertencia aos quadros do MEB-Goiás, mas nele atuou por participar do centro Popular de Cultura de Goiás (CPC-GO), da União Estadual dos Estudantes Secundaristas (UEE) e da União Nacional dos Estudantes (UNE), bem como da AP, que mantinha vínculos estreitos com o Movimento em Goiás. GO, no qual atuavam de forma expressiva militantes da Igreja, que trabalhavam em convênio com a Rádio Difusora de Goiânia, atendendo aos jovens e adultos analfabetos de Goiânia e do interior do estado, até onde alcançava a Rádio, possibilitando assim a emergência de uma educação de adultos a distancia, com recepção organizada em nosso estado. O governo goiano e brasileiro já sinalizava sua preocupação com o nível de analfabetismo. As condições sócio-históricas do momento exigiam que a população fosse alfabetizada, era a transformação para um novo Brasil, havia grandes expectativas de progresso e o analfabetismo não combinava com esse futuro e próspero perfil. O Movimento em Goiás surgiu pela iniciativa do bispo local, após ter visto algumas experiências com bons resultados em outros locais (Natal e Aracaju). O Movimento em Goiás nasceu com a criação do Sistema TeleRadiofônico de Goiás, e posteriormente aderiu ao MEB nacional, utilizando a denominação Movimento de Educação de Base em Goiás (MEB-GO). Um dos objetivos do MEB, citado por Rodrigues (2008), no início de sua atuação, em consonância com as compreensões para educação de base posta pela UNESCO, era oferecer o ínfimo de noção teórico-prático aos educandos camponeses que não tiveram a oportunidade de obter o conhecimento institucionalizado. O mínimo, no sentido de que pudessem alcançar a grandeza como sujeitos humanos por meio de uma educação integral, que possibilitasse uma formação crítica e reflexiva para que pudessem compreender e atuar na realidade em que viviam de forma digna e solidária. O MEB, à partir de 1963, foi bastante influenciado pelos movimentos de educação popular do país, em especial pelo sistema Paulo Freire, por intelectuais e por autores nacionais e internacionais, bem como partidos progressistas da época. Tinha como característica o olhar para o sujeito a partir da realidade em que ele estava inserido, a aprendizagem era voltada aos interesses dos educandos, com professores engajados, comprometidos com a educação, essas foram algumas características marcantes do Movimento. Ele foi duramente reprimido, tendo pessoas do seu quadro sido cassadas, presas e exiladas pelo regime militar pós 1964. Isso provocou por muito tempo um silenciamento dos ricos trabalhos desenvolvidos no interior do MEB-GO. Entretanto o MEB é tido como um dos únicos movimentos que sobreviveram à ditadura, mas não voltou com a mesma fardagem e perdeu muitos de seus militantes que não concordaram com as imposições feitas pela ditadura e pela Igreja. Dessa forma se faz necessário que sejam resgatadas as marcas de um período que apresentou enormes contribuições para a história da educação em nosso país e estado de Goiás, para que não sejam esquecidas e apagadas de nossas memórias as lutas empreendidas pela Educação de Jovens e Adultos, por meio dos movimentos sociais e da educação popular. Conclusão: Esse relato de experiência e suas respectivas análises configuram-se em um exercício contínuo da equipe de sistematizar o trabalho desenvolvido, registrando-o, e divulgando-o como vem fazendo no site www.forumeja.org.br/cr, em que apresenta o início de um projeto que abrange a EJA, Movimentos Sociais e a Educação Popular. Todos eles envolveram lutas, desafios e muita determinação. A reconstrução da memória de fatos importantes na educação em nosso estado merece um olhar mais atento, pois são muitas histórias que ainda necessitam serem ouvidas, muitos documentos precisam de um tratamento adequado para evitar que sejam destruídos pela ação do tempo. Aguardamos encerrar o primeiro ano da pesquisa com uma quantidade de documentos restaurados, catalogados e disponibilizados no site do Fórum EJA. Temos também o objetivo de angariar novas fontes materiais, novos parceiros de pesquisa, documentos históricos, fotografias, depoimentos para (re)contar nossa história e auxiliar nas linhas de pesquisa dos três temas citados. Quanto à parte que está sob os nossos cuidados, que é a organização dos documentos do MEB-GO, estamos descobrindo uma história que transformou a educação popular. Compreender o avanço em usar a tecnologia da mídia, no caso o rádio, para a alfabetização rural, foi sem dúvida um passo à frente, inovador pelas condições existentes nesse período. Com o advento das novas tecnologias, essa experiência disponibilizada em um portal do CMV. REFERÊNCIAS vivida pelo MEB-GO será ANCONA, André Porto. Tipologia Documental de partidos e associações políticas brasileiras. São Paulo, Edições Loyola, 1999. BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade. Lembranças de Velhos. São Paulo: T.A.Queiroz- Editora da USP, 1987, p. 332 e 333. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação popular e a educação de jovens e adultos: antes e agora. In: MACHADO, Maria Margarida.(Org.) Formação de educadores de jovens e adultos: II Seminário Nacional. Brasília: Secad/MEC, UNESCO, 2008 CORSETTI, Berenice. A análise documental no contexto da metodologia qualitativa: uma abordagem a partir da experiência de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos. UNIrevista, Rio Grande do Sul, vol. 1 n. 1 p. 32-46, janeiro de 2006. FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL. 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