UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MIINEIRO ALINE APARECIDA FERREIRA Valor da detecção de anticorpos contra plaquetas e dos níveis séricos de citocinas do perfil Th1, Th2, Th17 e Treg na predição da resposta à transfusão de plaquetas UBERABA 2015 i ALINE APARECIDA FERREIRA Valor da detecção de anticorpos contra plaquetas e dos níveis séricos de citocinas do perfil Th1, Th2, Th17 e Treg na predição da resposta à transfusão de plaquetas Tese apresentada ao Curso de Pós-graduação em Ciências da Saúde, área de concentração "Patologia Humana", da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, como requisito parcial para obtenção do Título de Doutor. Orientador: Prof. Dr. Helio Moraes de Souza Coorientador: Dr. Vagner de Castro UBERABA 2015 ii Este trabalho foi financiado pela FAPEMIG e Fundação HEMOMINAS iii Dedico este trabalho a Deus, presente a todo instante. Aos meus pais Vânia, Adair e Aristeu pelo amor, instrução e confiança. iv Agradecimentos A todos que contribuíram para a concretização deste trabalho... Ao meu orientador, por abrir caminhos, pelo ensino e por acreditar em mim. Ao meu coorientador Dr. Vagner de Castro pela disposição em compartilhar o conhecimento, apoio durante treinamentos e padronizações e pela amizade. À sempre presente, Dra. Sheila Soares, pela ideia inicial do trabalho, colaboração, instrução e por ser, acima de tudo, amiga. A esta Universidade e este Curso de Pós-Graduação, cujos professores e funcionários me proporcionaram acesso ao conhecimento. Aos professores da banca por aceitarem o convite em participar de minha formação. À Beatriz do Laboratório de Imunologia Plaquetária da Unicamp, pelo suporte e colaboração durante treinamentos e padronizações. Ao Dr. Virmondes e ao Marcos pelas portas abertas do Laboratório de Imunologia, possibilitando a realização dos testes de PIFT, dosagem de citocinas e interpretação dos resultados. Às equipes dos laboratórios de HLA da Unicamp e da LITU, pela contribuição na realização das técnicas moleculares e sorológicas. Ao Programa de Pesquisa do SUS (PP-SUS)/FAPEMIG, principal fonte financiadora, louvável pelos seus objetivos. À Fundação HEMOMINAS, pelo trabalho conjunto e disponibilização de serviços e recursos para a realização do trabalho. Especialmente, a todos os amigos do Hemocentro Regional de Uberaba ligados em diferentes pontos do “ciclo das plaquetas”, sem a colaboração de vocês nada seria viável. Também aos amigos do Hemocentro Regional de Uberlândia, principalmente ao Dr. Paulo e Dr. Adilson, pela colaboração na obtenção de amostras e dados. Aos companheiros pós-graduandos, especialmente à Millena, Fernanda e Cristiane que se envolveram na realização do trabalho. Aos amigos do Laboratório de Coagulação, pelo apoio durante essa fase, especialmente à minha chefe Heloísa, à Vânia, Malu e Ilsione. A todos os amigos de horas vagas, horas de almoço e de brincadeiras, especialmente à Tatiane, Letícia e João Lucas. Ao meu namorado Prasanna por se fazer presente apoiando, confortando e ouvindo minhas longas histórias. A todos os demais familiares e amigos pelo apoio e carinho. Aos pacientes que acreditaram na pesquisa, pelo esforço e pela esperança. v “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de coração, como ao Senhor, e não aos homens” Colossenses 3:23 vi RESUMO Graças ao constante aperfeiçoamento da transfusão de plaquetas, a incidência de hemorragias diminui cada vez mais entre pacientes oncohematológicos. Contudo, o incremento da contagem de plaquetas após a transfusão pode não atingir os níveis esperados devido ao consumo, destruição por lise ou fagocitose ou sequestro das plaquetas no endotélio. Dessa forma, o incremento pós transfusional pode ser prejudicado tanto pela qualidade das plaquetas transfundidas quanto por fatores clínicos e imunológicos do paciente. Como os fatores de risco são muito comuns entre esses pacientes, mas nem sempre determinantes de resposta insatisfatória, torna-se importante a identificação de marcadores que possam refletir a condição de risco para falha na resposta à transfusão de plaquetas. Faltam na literatura estudos que demonstrem a relação entre níveis séricos de citocinas e o incremento pós-transfusional. Também permanece incerto o real valor da identificação de anticorpos pelo Teste de Imunofluorescência Plaquetária (Platelet Immunofluorescence Test - PIFT) nesses pacientes. Portanto, decidimos avaliar a hipótese de que essas duas análises são úteis na monitoração da resposta à transfusão de plaquetas em pacientes oncohematológicos e no manejo desses pacientes. Avaliamos no presente estudo 56 pacientes em 132 episódios transfusionais quanto à contagem corrigida do incremento plaquetário (CCI) uma hora após a transfusão, aos níveis séricos de citocinas dos perfis Th1, Th2, Th17 e Treg antes da transfusão e à presença de anticorpos pelas técnicas PRA-HLA I - Panel Reactive Antibody Human Leukocyte Antigen Class I, MAIPA (Monoclonal Antibody-Specific Immobilization of Platelet Antigens Assay) e PIFT. As condições clínicas dos pacientes foram estudadas a partir de seus prontuários. O CCI foi insatisfatório (<5000 plaquetas/µL) em 55 episódios (41,7%). A frequência de incremento insatisfatório foi maior entre as transfusões para pacientes PIFT positivo com concentrados de plaquetas (CPs) de PRP 79,3% em comparação a CPs de aférese (34,6%); também entre os negativos com PRP, 34,5% versus 7,7%. Anticorpos contra antígenos HPA foram identificados em seis amostras, sendo todas elas concomitantemente positivas para antígenos HLA de Classe I. Os resultados do PRA-HLA I foram positivos em 66 de 123 amostras avaliadas (53,7%). A concordância entre os resultados do PIFT e dos dois testes de referência ocorreu em 25,4% dos resultados positivos e em 23,8% dos negativos; a discrepância foi de 17,5% nos PIFT positivo e 19,8% nos negativos e os resultados inconclusivos foram de 7,1% e 6,4% das amostras respectivamente positivas e negativas, resultando em sensibilidade de 56,1% e especificidade de 57,7%. Por outro lado, a curva de distribuição das porcentagens de PRA-HLA I e incremento corrigido demonstrou que todos os soros com PRA-HLA I ≥60% apresentaram incremento insatisfatório. Assim, ao comparar os resultados do PIFT com as porcentagens de PRA-HLA I com corte em 60%, a sensibilidade do PIFT passou a ser de 100% e a especificidade de 59,8% com valor preditivo positivo de 31,5% e valor preditivo negativo de 100%. As citocinas foram dosadas em 100 amostras e somente os níveis de IL-6 foram significativamente diferentes entre episódios insatisfatórios e satisfatórios com medianas de 23,8 pg/mL (variando de 0,0 a 15713,0 pg/mL) e 7,0 pg/mL (variando de 0,0 a 9473,6 pg/mL), respectivamente. Nos episódios em que foram transfundidos CPs de PRP que cursaram com incremento insatisfatório, os níveis séricos de IL-6 antes da transfusão apresentaram mediana de 29,9 pg/mL (variando de 2,4 a 15713,0 pg/mL), enquanto naqueles com incremento satisfatório foi de 5,0 pg/mL (variando de 0,0 a 3658,4 pg/mL); essa diferença foi significativa. Quando CPs de aférese foram transfundidos, os níveis séricos de IL-6 antes da transfusão apresentaram mediana de 7,7 pg/mL (variando de 0,0 a 4481,3 pg/mL) entre episódios insatisfatórios e de 9,6 pg/mL (variando de 0,0 a 9473,6 pg/mL) nos satisfatórios, sem diferença significativa. Os níveis de IL-6 não estiveram relacionados com a detecção de anticorpos contra plaquetas pelo PIFT, sendo que, na presença de PIFT positivo, os episódios insatisfatórios apresentaram mediana de 8,8 pg/mL (variando de 2,4 a 4481,3 pg/mL) e os episódios satisfatórios, mediana de 12,8 pg/mL (variando de 0,0 a vii 9473,6 pg/mL). No entanto, ao avaliar os episódios em que o PIFT era negativo, aqueles que cursaram com incremento insatisfatório apresentaram mediana de 66,1 pg/mL (variando de 2,8 a 15713,0 pg/mL) versus 5,4 pg/mL (variando de 0,0 a 3658,4 pg/mL) nos que cursaram com incremento satisfatório. Os resultados do incremento e da sua relação com os resultados do PIFT e níveis séricos de IL-6 também apresentaram diferenças significativas quando avaliados quanto às variáveis idade, gênero, histórico gestacional, presença de anticorpos contra plaquetas pelo PRA-HLA I, diagnóstico e presença de infecção e/ou febre. De acordo com os resultados encontrados, o PIFT parece ser um bom teste de triagem na detecção de anticorpos contra plaquetas por ser um teste menos complexo, mais rápido e mais barato. Esse estudo foi o primeiro a demonstrar que os níveis de IL-6 antes da transfusão de plaquetas foram mais elevados em pacientes que apresentaram incremento plaquetário insatisfatório. Esses resultados sugerem que o estado inflamatório é capaz de modular a destruição e sequestro de plaquetas. Além disso, mostrou que níveis mais elevados de IL-6 estiveram associados à pior resposta quando CPs de PRP foram transfundidos, mas não quando a transfusão era de CPs de aférese. Os mecanismos imunológicos associados ao baixo incremento após transfusão de plaquetas precisam ser melhor elucidados para diferenciar quando a falta de incremento ocorre por sequestro ou destruição das plaquetas e quando aloanticorpos e produtos de infecção atuam sinergicamente. Mais estudos poderão corroborar para a compreensão do valor de resultados do PIFT e dos níveis séricos de IL-6 na predição de resposta insatisfatória à transfusão de plaquetas. Novas estratégias, viáveis mesmo em serviços onde testes de alto padrão e complexidade como PRA-HLA I e MAIPA ou seleção de plaquetas compatíveis não estão disponíveis, poderão ser desenhadas a partir dos resultados encontrados e contribuir para o aperfeiçoamento da prática da transfusão de plaquetas e monitoramento da resposta transfusional em pacientes cronicamente transfundidos. Palavras-chave: transfusão de plaquetas, pacientes oncohematológicos, incremento plaquetário, antígenos HLA Classe I, antígenos HPA, PIFT, citocinas. viii ABSTRACT Due to the continuous improvement of the platelet transfusion, the incidence of bleeding has decreased increasingly in blood cancer patients. However, the increment of the platelet counting after transfusion cannot reach expected levels because of consumption, destruction by lysis or phagocytosis or sequestration of platelets in the endothelium. Thus, the quality of platelets transfused as by clinical and immunological factors of the patient may affect adversely the increment post-transfusion. As the risk factors are very common among these patients, but are not decisive of unsatisfactory response, it is important to identify markers that may reflect the risk condition for failure to respond to platelet transfusion. Lacking in the literature studies that show the relationship between serum levels of cytokines before transfusion and post-transfusion increment. It also remains unclear the real value of identifying antibodies by PIFT (Platelet Immunofluorescence Test) in these patients. So we decided to test the hypothesis that these two analyzes are useful in monitoring the response to platelet transfusion in patients hematologyoncology and management of these patients. Were evaluated in this study 56 patients in 132 transfusion episodes as the corrected count increment one hour after platelet transfusion, the serum levels of cytokines of Th1, Th2, Th17 and Treg profiles before transfusion and the presence of antibodies by PRA-HLA I (Panel Reactive Antibody Human Leukocyte Antigen Class I), MAIPA (Monoclonal Antibody-Specific Immobilization of Platelet Antigens Assay) and PIFT techniques. The clinical conditions of the patients were studied from their records. The increment was poor (<5000 platelets / uL) for 55 events (41.7%). The poor growth rate was higher among transfusions for patients with positive PIFT receiving PRP platelet concentrates (PCs), 79.3% of positive episodes with PRP versus 34.6% positive episodes with apheresis; also 34.5% between negatives with PRP versus 7.7% negatives with apheresis. Antibodies against HPA antigens were identified in six samples, all of which are concomitantly positive for HLA class I. The HLA PRA-I results were positive in 66 samples from 123 evaluated (53.7%). The consistency between the results of PIFT and both results of standard tests occurred in 25.4% of positive and 23.8% negative. There was disagreement in 17.5% of the results PIFT positive and 19.8% of results PIFT negative and inconclusive results in 7.1% and 6.4% of the samples respectively positive and negative by the reference tests, resulting in sensitivity of 56.1% and specificity of 57.7%. Moreover, the distribution curve of percentages of the PRAHLA I and corrected increment showed that all sera with PRA-I HLA ≥60% showed poor increment. Thus, when comparing the results of PIFT with the PRA-I HLA percentages to cut by 60%, the sensitivity of PIFT increased to 100% and specificity of 59.8% with a positive predictive value of 31.5% and negative predictive value of 100%. Cytokines were measured in 100 samples and only IL-6 levels were significantly different between satisfactory and unsatisfactory episodes with median of 23.8 pg / mL (range 0.0 to 15713.0 pg/ml) and 7.0 pg/ml (range 0.0 to 9473.6 pg/mL), respectively. In episodes that were transfused PRP PCs that progressed with poor increment, IL-6 serum levels prior to transfusion showed a median of 29.9 pg / mL (range 2.4 to 15713.0 pg/ml) while in that progressed with satisfactory increase, the levels had a median of 5.0 pg/mL (range 0.0 to 3658.4 pg/mL); this difference was significant. When PCs of apheresis were transfused , IL-6 serum levels prior to transfusion showed a median of 7.7 pg/ml (range 0.0 to 4481.3 pg/ml) between episodes unsatisfactory and median of 9.6 pg/mL (range 0.0 to 9473.6 pg/mL) between satisfying episodes, with no significant difference. IL-6 levels were not related to antibodies against platelets identified by PIFT, and ix in the presence of positive PIFT, the unsatisfactory episodes showed a median of 8.8 pg/ml (ranging from 2.4 to 4481.3 pg/mL) and the satisfactory episodes median of 12.8 pg/mL (range 0.0 to 9473.6 pg/mL). However, when assessing the episodes where the PIFT was negative, those which attended poorly the increment showed a median of 66.1 pg/mL (range 2.8 to 15713.0 pg/mL) and those which attended with satisfactory increment showed a median of 5.4 pg/mL (range 0.0 to 3658.4 pg/mL). The results of the increment and the increment in relation to the results of PIFT and IL-6 serum levels also showed significant differences when evaluated for age, gender, gestational history, presence of antibodies against platelets by PRA-HLA I, diagnosis and presence of infections and/or fever. According to the results, the PIFT seems to be a good screening test to detect antibodies against platelets for being a simpler test, faster and cheaper. This study was the first to demonstrate that IL-6 levels before transfusion of platelets were higher in patients who had a poor platelet increment after transfusion. These results suggest an inflammatory condition that can modulate the destruction and sequestration of platelets. Moreover, it showed that higher levels of IL-6 were associated with poor response when PCs of PRP were transfused, but not when transfused PCs of apheresis. The immunological mechanisms involved with low increment after platelet transfusion, need to be further clarified to differentiate when the lack of increment is due to sequestration or destruction of platelets and when alloantibodies and infection products act synergistically. More studies will help to the understanding the value of the PIFT results and the IL-6 serum levels in predicting poor response to platelet transfusion. New strategies are viable even in services where high standard tests and complexity as PRA-HLA I and MAIPA or selection of compatible platelets are not available, may be drawn from the results and contribute to the improvement of the practice of platelet transfusion and response monitoring transfusion in chronically transfused patients. Keywords: platelet transfusion, hematology-oncology patients, platelet increment, HLA Class I antigens, HPA antigens, PIFT, cytokines. x LISTA DE ILUSTRAÇÕES TÍTULO PÁGINA Figura 1 Marcação da população plaquetária analisada.................................. 28 Figura 2 Marcação de plaquetas com IgG FITC............................................. 29 Figura 3 Marcação de plaquetas com IgG FITC............................................. 29 Figura 4 Distribuição dos resultados da Contagem Corrigida do Incremento (CCI) em relação à porcentagem de reatividade contra o painel de antígenos (PRA) HLA Classe I........................................................ 36 Análise das frequências de incremento insatisfatório e satisfatório de acordo com os resultados do PIFT e tipo de concentrado de plaquetas transfundido...................................................................... 41 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Análise das frequências de incremento insatisfatório e satisfatório de acordo com os resultados do PIFT e filtração dos concentrados de plaquetas de PRP......................................................................... Comparação entre os níveis de citocinas antes da transfusão de plaquetas de acordo com o incremento pós transfusional................ xi 42 46 LISTA DE TABELAS TÍTULO PÁGINA Tabela 1 Características dos pacientes do estudo............................................ 32 Tabela 2 Análises das características dos concentrados de plaquetas em relação à resposta pós transfusional.................................................. 33 Tabela 3 Análises das características dos pacientes em relação à resposta pós transfusional............................................................................... 35 Comparações entre os resultados do PRA-HLA I e do incremento pós transfusional de acordo com presença ou não de aloanticorpos e porcentagem de PRA..................................................................... 37 Comparação entre os resultados do PIFT e os resultados PRAHLA I, porcentagem de PRA-HLA I e CCI..................................... 39 Análises das frequências de incremento insatisfatório de acordo com as características dos pacientes e concentrados de plaquetas em relação aos resultados do PIFT................................................... 44 Tabela 4 Tabela 5 Tabela 6 Tabela 7 Análise dos níveis de IL-6 (pg/mL) antes da transfusão em relação ao incremento pós transfusional de acordo com as características dos concentrados de plaquetas.......................................................... 47 Tabela 8 Análise dos níveis de IL-6 (pg/mL) antes da transfusão em relação ao incremento pós transfusional de acordo com as características dos pacientes..................................................................................... 49 Tabela 9 Análise dos níveis de IL-6 antes da transfusão em relação ao incremento pós transfusional de acordo com resultados do PIFT.... xii 50 LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS % Por cento °C Grau Celsius α alfa γ gama µl Microlitro ACE Antibody Capture ELISA – ELISA para captura de anticorpo BC Buffy Coat - Camada Leucoplaquetária BSA Bovine Serum Albumin - Albumina Sérica Bovina CCI Corrected Count Increment – Contagem Corrigida do Incremento CH Concentrado de Hemácias CIVD Coagulação Intravascular Disseminada cm Centímetro CP Concentrado de Plaquetas CREG Cross Reactive Group - Grupo de Reatividade Cruzada DP Desvio Padrão EDTA Ácido Dietilenoaminotetracético ELISA Enzime-Linked Immuno Sorbent Assay- Ensaio de Imunoabsorção Enzima-Conjugado FITC Fluorescence Isothiocianate – Isotiocianato Fluoresceína FS Forward Scatter – Dispersão Frontal GP Glicoproteína HEMOMINAS Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia de Minas Gerais HLA Human Leukocyte Antigen - Antígenos Leucocitários Humanos HPA Human Platelet Antigen - Antígenos Plaquetários Humanos IFN Interferon IgG Imunoglobulina G IL Interleucina Kg Kilograma L Litro LCT Lymphocytotoxic Test - Teste de Linfocitotoxicidade LFL Logaritmo da fluorescência xiii LIFT Lymphocyte Immunofluorescence Test - Teste de imunofluorescência de linfócito LSS Log Side Scatter – Logarítmo da Dispersão Lateral m2 Metro quadrado MACE Modified Antibody Capture ELISA – ELISA para captura de anticorpo modificado. MAIPA Monoclonal Antibody-Specific Immobilization of Platelet Antigens Assay – Teste de imobilização com anticorpos monoclonais específicos de antígenos plaquetários máx. Máximo Mín. Mínimo mL Mililitro p Valor de probabilidade PBS Phosphate Buffer Saline – Solução tamponada com fosfato PCR-RFLP Polimerase Chain Reaction – Restriction Fragment Length Polymorphism - Reação em Cadeia da Polimerase – Polimorfismos de Comprimento do Fragmento de Restrição. PCR-SSP Polimerase Chain Reaction - Sequence-Specific Priming – Reação em Cadeia da Polimerase – Sequência Específica de Primer PE Phycoerythrin - Ficoeritrina PG Prostaglandina PIFT Platelet Immunofluorescence Test - Teste de imunofluorescência de plaquetas PRA Panel Reactive Antibody - Anticorpos reativos contra painel de antígenos PRP Plasma Rico em Plaquetas R1 média + 1DP/média R2 média + 2DP/média SC Superfície Corporal TNF Tumor Necrosis Factor – Fator de necrose tumoral UFTM Universidade Federal do Triângulo Mineiro UNICAMP Universidade Estadual de Campinas xiv SUMÁRIO 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS EM PACIENTES 1 ONCOHEMATOLÓGICOS.......................................................................... A importância da qualidade dos concentrados de plaquetas................... 2 1.1.1 1.1.3.1 Fatores relacionados ao paciente capazes de afetar a resposta à 5 transfusão de plaquetas................................................................................ Mecanismos envolvidos no baixo incremento de plaquetas após a 7 transfusão...................................................................................................... Consumo e sequestro de plaquetas................................................................. 8 1.1.3.2 Destruição de plaquetas por fagocitose, lise e apoptose............................... 9 1.2 AVALIAÇÃO DA RESPOSTA À TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS........ 10 1.2.1 Cálculo corrigido do incremento................................................................. 10 1.2.2 Detecção de anticorpos contra plaquetas.................................................... 11 1.2.2.1 Testes inespecíficos........................................................................................ 12 1.2.2.2 Testes específicos .......................................................................................... 12 1.3 1.4 O MANEJO DO PACIENTE REFRATÁRIO À TRANSFUSÃO DE 14 PLAQUETAS................................................................................................ CITOCINAS COMO BIOMARCADORES PLASMÁTICOS...................... 16 1.5 JUSTIFICATIVA........................................................................................... 17 1.6 HIPÓTESE..................................................................................................... 18 2 OBJETIVOS................................................................................................. 19 2.1 OBJETIVO GERAL...................................................................................... 19 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................ 19 3 MATERIAL E MÉTODOS......................................................................... 20 3.1 CASUÍSTICA ............................................................................................... 3.2 COLETA DE AMOSTRAS........................................................................... 20 3.3 AVALIAÇÃO DA RESPOSTA À TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS........ 21 3.4 PESQUISA DE ANTICORPOS CONTRA PLAQUETAS........................... 22 3.4.1 Pesquisa e identificação de anticorpos anti-HLA Classe I......................... 22 3.4.2 Pesquisa e identificação de anticorpos anti-HPA...................................... 23 3.4.2.1 Genotipagem HPA.......................................................................................... 24 3.4.3 Teste de Imunofluorescência Plaquetária (PIFT) ..................................... 26 3.5 ANÁLISES DE CITOCINAS........................................................................ 29 3.6 ANÁLISES ESTATÍSTICAS........................................................................ 30 1.1.2 1.1.3 xv 20 SUMÁRIO 4 RESULTADOS............................................................................................. 31 4.1 CARACTERÍSTICAS DOS PACIENTES.................................................... 31 4.2 4.2.2.1 CARACTERÍSTICAS DAS TRANSFUSÕES DE PLAQUETAS AVALIADAS................................................................................................ Frequências de incremento insatisfatório em relação às características dos concentrados de plaquetas transfundidos............................................ Frequências de incremento insatisfatório em relação às características dos pacientes................................................................................................. Características demográficas........................................................................ 4.2.2.2 Características Clínicas................................................................................. 34 4.2.3 4.2.3.1 Frequências de incremento insatisfatório em relação à presença de 35 aloanticorpos plaquetários.......................................................................... Distribuição quanto ao CCI e à porcentagem de PRA-HLA I...................... 36 4.2.3.2 Frequências de incremento insatisfatório em relação ao PRA-HLA I............ 37 4.3 EFETIVIDADE DO PIFT.............................................................................. 38 4.3.1 Efetividade do PIFT em relação ao PRA-HLA I....................................... 38 4.3.2 Efetividade do PIFT em relação à porcentagem de PRA-HLA I.............. 38 4.3.3 Efetividade do PIFT em relação ao tipo de resposta após a transfusão.... 39 4.4 5 RESULTADOS DO PIFT EM RELAÇÃO AO INCREMENTO E CARACTERÍSTICAS DOS EPISÓDIOS TRANSFUSIONAIS.................. PIFT e resposta transfusional de acordo com as características dos concentrados de plaquetas........................................................................... PIFT e resposta transfusional em relação às características dos pacientes........................................................................................................ PERFIL DAS CITOCINAS SÉRICAS ANTES DA TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS E RELAÇÃO COM O INCREMENTO PÓS TRANSFUSIONAL....................................................................................... Níveis de IL-6 antes da transfusão de plaquetas de acordo com características dos CPs e relação com incremento pós transfusional....... Níveis de IL-6 antes da transfusão de plaquetas de acordo com características dos pacientes e relação com incremento pós transfusional................................................................................................. NÍVEIS DE IL-6 ANTES DA TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS DE ACORDO COM RESULTADOS DO PIFT E RELAÇÃO COM INCREMENTO PÓS TRANSFUSIONAL.................................................... DISCUSSÃO................................................................................................. 6 CONCLUSÕES............................................................................................ 58 7 REFERÊNCIAS........................................................................................... 59 8 ANEXO......................................................................................................... 67 4.2.1 4.2.2 4.4.1 4.4.2 4.5 4.5.1 4.5.2 4.6 xvi 32 32 34 34 40 40 42 44 46 47 50 51 1 INTRODUÇÃO Os cânceres hematológicos são marcados pela falência da medula óssea ocasionada pela citotoxicidade das opções de tratamento disponíveis (quimioterapia e radioterapia) ou infiltração de clones leucêmicos (KURZROCK, 2005). Em consequência de uma medula hipoproliferativa, apresentam-se quadros de neutropenia, anemia e trombocitopenia manifestados por condições adversas como aumento de infecções, fadiga e propensão a sangramentos, respectivamente, comprometendo a qualidade de vida e impactando de forma negativa na sobrevida dos pacientes (KURZROCK, 2005). Há poucas opções para o tratamento dessas condições e elas têm se baseado no uso de fatores de crescimento hematopoiético (GABRILOVE, 2001) e transfusão de hemácias e plaquetas (STANWORTH et al., 2010). O uso de fatores de crescimento pode aumentar consistentemente a contagem de leucócitos (VOSE et al., 2003) e, quanto à anemia, além dos concentrados de hemácias (CH) o uso de eritropoetina beneficia grande parte dos pacientes (CRAWFORD, 2002). No entanto, a trombocitopenia permanece como o problema clínico mais relevante. Diversos fatores trombopoiéticos, tais como IL-3, IL-9, IL-1 BETA, SCF e TPO, introduzidos no tratamento da plaquetopenia apresentaram respostas limitadas (KURZROCK, 2005) enquanto que a transfusão de concentrados de plaquetas (CPs) tem se fundamentado como suporte na prevenção e tratamento de hemorragias (BAYER et al., 1992; BLAJCHMAN et al, 2008; HOLBRO et al., 2013). 1.1 TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS EM PACIENTES ONCOHEMATOLÓGICOS Antes da instituição da transfusão de plaquetas, as hemorragias contribuíam para a morte de 67% dos pacientes com leucemias (BAYER et al., 1992). Após instituição dessa terapia, a incidência de hemorragias fatais caiu para 37% e vem diminuindo cada vez mais devido ao aperfeiçoamento do tratamento médico no suporte transfusional terapêutico e profilático com CP (BAYER et al., 1992; STANWORTH et al., 2010). Embora existam controvérsias sobre quando a transfusão profilática de plaquetas se faz necessária, geralmente, é realizada quando a sua concentração está abaixo de 10 x 109 plaquetas/L na ausência de febre e ≤ 20 x 109/L para pacientes febris ou com infecção e em transplante de células tronco (BLAJCHMAN et al, 2008; THE TRAP STUDY GROUP, 1997; STANWORTH et al., 2013). Em casos particulares, quando do tratamento anticoagulante ou 1 antes de serem submetidos a procedimentos invasivos, podem ser recomendadas mesmo com contagens superiores. Em casos de sangramento ativo, as transfusões são terapêuticas e dependem da contagem desejada, geralmente acima de 40 x 109/L (HEIM et al., 2008; HOLBRO et al., 2013). Dessa forma, a utilização de CPs tem crescido francamente. Em períodos de cinco anos, Seifried e colaboradores (2011) e Shehata e colaboradores (2014) mostraram, respectivamente, aumento da utilização de CPs em 31,5% (2006 a 2012) e 36% (2003 a 2007), enquanto o consumo de concentrados de hemácias (CHs) aumentou cerca de 17,2% e 10% nos mesmos períodos. Seifried e colaboradores (2011) também mostraram que 58% das unidades de CHs utilizadas foram para pacientes em setores para tratamento de traumas, cuidados intensivos e cirurgias. Em contraste, mais de dois terços dos CPs foram distribuídos para pacientes adultos e pediátricos em tratamento de malignidades hematológicas. Apesar da crescente utilização da transfusão de plaquetas, os riscos inerentes à sua prática ainda são uma realidade. As principais complicações relacionadas são reações febris e, em menor frequência, a bacteremia (EDER; CHAMBERS, 2007; HOLBRO et al., 2013). Além disso, devido aos esquemas crônicos de transfusão, os pacientes são expostos a uma ampla gama de antígenos de doadores e, dependendo do tempo de tratamento e da disponibilidade de produtos desleucocitados, 10% a 100% desses pacientes podem se sensibilizar e desenvolver aloanticorpos direcionados contra esses antígenos (FERREIRA et al., 2011; THE TRAP STUDY GROUP, 1997; VASSALO et al., 2014). De forma geral, em 30% a 50% das transfusões, os indivíduos apresentam incremento insatisfatório na contagem de plaquetas após a transfusão (FERREIRA et al., 2011; KERKHOFFS et al., 2008; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). Essa falta de resposta pode ser decorrente de fatores relacionados à qualidade dos CPs utilizados e/ou condições inerentes ao paciente de origem imunológica ou não imunológica. 1.1.1 A importância da qualidade dos concentrados de plaquetas Milhões de transfusões de plaquetas são realizadas por ano em todo o mundo graças ao aperfeiçoamento dos métodos de produção e estocagem dos CPs (FISCHER et al., 2006). Mas ainda assim, o seu aproveitamento é limitado e é um desafio aos serviços de hemoterapia a obtenção de CPs em quantidade e qualidade suficientes para atender à demanda de todos os pacientes que necessitam dessa terapia (CAMERON et al., 2007). Limitações nos processos de 2 obtenção, conservação, manipulação e infusão dos hemocomponentes podem desencadear danos nos componentes celulares e plasmáticos, gerando incidentes e acidentes transfusionais graves (EDER; CHAMBERS, 2007). Um dos primeiros cuidados em termos de segurança transfusional é o controle da transmissão de doenças. O que temos hoje é a triagem criteriosa de doadores e realização de testes de detecção para vários agentes infecciosos. O controle da quantidade de leucócitos em cada hemocomponente também se faz necessário, devido aos riscos inerentes à contaminação por leucócitos (SEFTEL et al., 2004; THE TRAP STUDY GROUP, 1997) associados não só à transmissão de patógenos intracelulares, mas também à imunogenicidade dos hemocomponentes (BRECHER; HAY, 2005; HEDDLE et al., 2002; PROWSE, 2012; SEFTEL et al., 2004). Para garantir a qualidade dos concentrados de plaquetas, especificamente, mais três fatores quanto à produção e estocagem devem ser considerados: redução da ativação de plaquetas durante a coleta, preparo e estocagem; atividade glicolítica mínima e disponibilidade de glicose durante todo o período de estocagem (GULLIKZZON, 2003). Esses fatores poderão sofrer influência da concentração de leucócitos e das condições de armazenamento. Fato é que os CPs contêm mediadores solúveis derivados tanto de plaquetas quanto de leucócitos, presentes no plasma do doador ou liberados durante a coleta, produção e estocagem (APELSETH, 2007). O acúmulo desses mediadores até o momento da transfusão pode ser importante para o desenvolvimento de reações transfusionais, efeito imunomodulatório ou efeitos diretos ou indiretos sobre as células do paciente (COGNASSE et al., 2006; HOLBRO et al., 2013). Por esse motivo, o preconizado é que os CPs sejam estocados a 22ºC ±2 sob agitação constante por no máximo cinco dias em bolsas contendo conservantes apropriados para manutenção da viabilidade das plaquetas (BRASIL, 2011). Os tipos de CPs obtidos por centrifugação podem ser: Plasma Rico em Plaquetas (PRP), Buffy Coat (BC) ou Aférese (TYNNGARD, 2009). Para o PRP, o sangue total colhido em bolsas triplas é centrifugado em baixa rotação para produção do PRP que é transferido para uma bolsa satélite utilizando extratores manuais. Em seguida, a bolsa satélite é centrifugada novamente em alta rotação para separação dos CPs (RAVINDRA et al., 2009) contendo no mínimo 5,5 x 1010 plaquetas em 40 - 70 mL de plasma (BRASIL, 2011). Esse é o principal tipo de concentrado de plaquetas transfundido em nosso 3 país utilizando de cinco a seis doadores aleatórios, não leucorreduzidos para cada paciente adulto. A produção do BC utiliza bolsas quádruplas que são centrifugadas a alta rotação para separação da camada leucoplaquetária e extração automatizada do plasma que é centrifugado novamente em baixa rotação para obtenção do CP (MISHIMA et al., 2014; RAVINDRA et al., 2009;) que contém no mínimo 5,5 x 1010 plaquetas em 40-70 mL de plasma (BRASIL, 2011). No procedimento de aférese, um único doador é puncionado para coleta do sangue que é transferido para a máquina de aférese. No interior da máquina, por processo de centrifugação programado, ocorre a separação automática do CP (RAVINDRA et al., 2009) que contém no mínimo 3x1011 plaquetas em um volume ≥ 200 mL de plasma (BRASIL, 2011). Os demais componentes sanguíneos são então devolvidos para o doador através do mesmo ou de outro acesso venoso periférico. A aférese é o padrão ouro nas transfusões por conter o maior número de plaquetas e o menor de leucócitos (MISHIMA et al., 2014; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). Para a redução mais efetiva do número de leucócitos, é possível filtrar o produto plaquetário antes ou após o armazenamento das plaquetas (SHARMA; MARWAHA, 2010). Em muitos países tem sido instituída a leucorredução universal (SEFTEL et al., 2004; MISHIMA et al., 2014). No Brasil, é realizada apenas mediante indicação médica devido ao seu alto custo e, na maioria das vezes, utilizando-se um equipo de filtração no momento da transfusão, à beira do leito do paciente. No caso de pacientes imunocomprometidos ou que irão receber transplante de célulastronco alogênicas, recomenda-se que as bolsas de CP sejam irradiadas para inativação dos leucócitos e prevenção da doença do enxerto versus hospedeiro (ZHU et al., 2014). Esse processo parece não afetar a viabilidade das plaquetas in vitro ou a funcionalidade e recuperação da contagem in vivo (SLICHTER et al., 2005; VAN DER MEER; PIETERSZ, 2005;). Outros fatores, não verificados devido à ausência de sintomas no doador ou inexistência de análises mais sofisticadas da qualidade dos CPs, também podem influenciar a resposta do paciente à transfusão. Além disso, as características dos CPs não são determinantes exclusivos da eficácia da transfusão de plaquetas e irão depender também de fatores relacionados ao paciente que o predispõem a uma resposta insatisfatória. 4 1.1.2 Fatores relacionados ao paciente capazes de afetar a resposta à transfusão de plaquetas Pacientes oncohematológicos trombocitopênicos estão mais suscetíveis a ter um incremento plaquetário pós transfusional insatisfatório devido a comorbidades clínicas e intervenções médicas que comprometem a sobrevida das plaquetas. Em cerca de 80% dos casos são condições associadas à destruição periférica, sequestro microvascular ou consumo, tais como febre, infecção grave, uso de Anfotericina B, esplenomegalia, coagulação intravascular disseminada (CIVD) e hemorragias (HOLBRO et al., 2013; SLICHTER et al., 2005). A febre é a manifestação clínica da estimulação hipotalâmica por mediadores como IL1, IL-6, TNF, IL-8, MIP -1 e PG nos quadros inflamatórios sistêmicos (MIHARA et al., 2012). O mecanismo de influência da febre na resposta à transfusão de plaquetas é incerto devido à concomitância muitas vezes de infecção e uso de medicações. Assim, a combinação desses três fatores parece ser a causa mais comum de resposta insuficiente à transfusão de plaquetas (DOUGHTY et al, 1994). Várias das medicações usadas no tratamento de pacientes oncohematológicos estão associadas a trombocitopenias induzidas por drogas (ASTER; BOUGIE, 2007). Como esse tipo de trombocitopenia é geralmente imuno-mediada, as plaquetas transfundidas estão sujeitas aos mesmos efeitos que as plaquetas do paciente aumentando o risco de se ter um incremento póstransfusional insatisfatório (ASTER; BOUGIE, 2007). Nos quadros de infecção que podem incluir quadros mais graves como os de sepse, pode ocorrer tanto o sequestro das plaquetas pelo endotélio ativado (STOKES; GRANGER; 2012; WARKENTIN et al., 2003) quanto a opsonização por anticorpos inespecíficos anti-plaquetas presentes na circulação (McGRATH et al, 1988; STEPHAN, et al.,2000). O aumento do tamanho do baço está associado com maior sequestro das plaquetas por ser esse órgão o principal sítio de destruição plaquetária (SLICHTER et al., 2005). A porcentagem de plaquetas retidas no baço 30 minutos após a transfusão em pacientes com esplenomegalia é de cerca de 80% enquanto em indivíduos normais é de 40% (ASTER, 1966; HILL-ZOBEL, et al., 1986). No caso da CIVD, o alto consumo de fatores da coagulação e a excessiva geração de trombina levam ao depósito de fibrina em pequenos vasos desencadeando ativação e consumo de plaquetas (TOH; ALHAMDI, 2013). Pacientes oncohematológicos estão sujeitos a esse 5 processo devido à liberação de fator tecidual pelos grânulos de células leucêmicas de forma espontânea ou em decorrência do tratamento quimioterápico (STOKES; GRANGER; 2012). Pacientes submetidos ao transplante de células tronco hematopoiéticas apresentando doença do enxerto contra o hospedeiro também podem ter resposta transfusional prejudicada. Pode ocorrer consumo devido à microangiopatia associada (DALY et al., 2002) e também destruição pela alta incidência de autoanticorpos nesses pacientes (ANASETTI et al., 1989; PULANIC; LOZIER; PAVLETIC, 2009). Além das condições clínicas, os pacientes oncohematológicos também podem apresentar anticorpos direcionados contra antígenos das plaquetas dos doadores (aloanticorpos). A aloimunização aos antígenos HLA Classe I e HPA presentes na superfície das plaquetas ocorre em cerca de 20% a 60% desses pacientes e são decorrentes de sensibilização prévia durante gestação, transfusões e transplantes (FERREIRA et al., 2011; PAVENSKI; FREEDMAN; SEMPLE, 2012; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). O sistema de antígenos HLA origina-se do complexo de histocompatibilidade principal que codifica proteínas polimórficas da superfície celular responsáveis pela apresentação de antígenos e que são encontradas tanto em plaquetas quanto em outras células sanguíneas e dos tecidos (BROWN; NAVARRETE, 2011). Assim, a sensibilização durante a transfusão ocorre também pela presença de leucócitos contaminantes e não se restringe à transfusão de CPs. As plaquetas podem sintetizar moléculas HLA Classe I (SANTOSO et al., 1993) e também adsorver moléculas HLA solúveis no plasma (LALEZARI; DRISCOLL, 1982). Dessa forma, o número de antígenos na superfície das plaquetas pode ser relativamente alto quando comparado a eritrócitos e granulócitos. A leucorredução contribui para a prevenção de aloimunização HLA, uma vez que estudos mostram, com este procedimento, quedas na incidência de 48% para 16% (MURPHY et al., 1986), de 50% para 15% (SNIECINSKI et al., 1988); de 45% para 17-21% (THE TRAP STUDY GROUP, 1997) e de 19% para 7% (SEFTEL et al., 2004). Células apresentadoras de antígenos do próprio doador podem interagir diretamente com células T CD4+ do paciente, apresentando os antígenos diretamente (AUCHINCLOSS; SYKES; SACHS, 1999; PAVENSKI, FREEDMAN, SEMPLE, 2012;). Mas as células do paciente também podem processar os antígenos das plaquetas transfundidas e apresentá-los por via indireta às células T CD4+ do próprio paciente (GILSON; ZIMRING, 2012; SEMPLE; FREEDMAN, 2002). Os antígenos HPA são sequências de aminoácidos das glicoproteínas (GP) presentes na superfície das plaquetas. Os HPAs são expressos em seis diferentes GPs: GPIIb, GPIIIa, GPIba, 6 GPIbb, GPIa e CD109 (CURTIS; McFARLAND, 2013). A incidência de anticorpos anti-HPA varia de 2% a 17% e não diminui com a redução de leucócitos (KIEFEL et al., 2001; LEGLER et al., 1997; SANZ et al., 2001; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). De forma geral, a aloimunização contra os antígenos do sistema HLA Classe I é mais comum do que para os do sistema HPA, correspondendo a 80% dos casos (KICKLER et al., 1990a; LAUNDY et al., 2004) e indivíduos HLA Classe I sensibilizados têm maior chance de desenvolverem anticorpos anti-HPA (KICKLER et al, 1990). Outro fato interessante é que cerca de 70% dos anticorpos anti-HPA são desenvolvidos durante processos infecciosos, muitas das vezes são transientes, e alguns se comportam como autoanticorpos reagindo contra plaquetas do próprio paciente (McGRATH et al, 1988). Quanto ao impacto da presença de aloanticorpos sobre a resposta à transfusão de plaquetas, esse é o fator que prejudica de forma mais intensa o incremento pós transfusional; contudo, representa apenas cerca de 20% das causas de falha na resposta à transfusão de CPs (PAVENSKI, FREEDMAN, SEMPLE; 2012). Isso provavelmente está relacionado ao fato de que a presença do aloanticorpo não necessariamente implica em comprometimento da resposta transfusional, visto que somente 10% a 50% dos pacientes aloimunizados apresentam comprometimento efetivo da resposta à transfusão de plaquetas (LEGLER et al, 1997; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). Diante disso, entendemos que nenhum fator é um bom preditor de resposta pós transfusional insatisfatória. Cada paciente apresentará um comportamento particular de acordo com um contexto que dependerá da intensidade de cada fator e/ou da soma dos efeitos de vários fatores. 1.1.3 Mecanismos envolvidos no baixo incremento de plaquetas após a transfusão As plaquetas são produzidas pela fragmentação do citoplasma de megacariócitos que se desenvolvem na medula óssea e no baço (LEEKSMA; COHEN, 1955). Ao serem liberadas na circulação sanguínea, exercem um papel essencial na hemostasia, cicatrização de feridas e processos de fibrose (SOARES et al., 2007). Em humanos, são produzidas diariamente 1 x 1011 plaquetas que apresentam sobrevida média de dez dias e são retiradas da circulação pelo sistema retículo endotelial, principalmente no fígado e no baço (MASON et al., 2007). Assim, o organismo é capaz de manter no sangue periférico concentrações normais de 150 a 400 x 10 9 plaquetas por litro de sangue. 7 Quando há um desequilíbrio com queda na produção de plaquetas, ou aumento de consumo, ou destruição periférica, observa-se o quadro de trombocitopenia. Nos casos em que a transfusão de plaquetas está indicada, a dose de plaquetas infundida é ajustada à superfície corporal do paciente e incremento plaquetário desejado. Normalmente, a recuperação média é de 60 (±15) % da dose transfundida (HANSON; SLICHTER, 1985). Contudo, o incremento esperado pode não ser atingido devido ao consumo, sequestro microvascular ou destruição das plaquetas transfundidas. 1.1.3.1 Consumo e sequestro de plaquetas Na presença de sangramento ativo e clinicamente relevante, as plaquetas transfundidas podem ser consumidas no sítio de lesão prejudicando o incremento pós transfusional. Condições inflamatórias locais ou sistêmicas desencadeiam respostas características a nível microvascular que podem ocasionar uma resposta inflamatória nos tecidos (STOKES; GRANGER, 2012). Quando as plaquetas transfundidas atravessam essa vasculatura, são expostas aos mesmos mediadores solúveis que as plaquetas do próprio paciente. Isso inclui mediadores lipídicos, citocinas e quimiocinas liberadas pelos leucócitos ativados, células endoteliais ativadas e células perivasculares (STOKES; GRANGER, 2012). Esses mediadores se ligam a receptores sobre as plaquetas desencadeando uma resposta de ativação que é caracterizada pela secreção dos grânulos densos e alfa, liberação de produtos plaquetários, e mobilização e ativação das moléculas de adesão das plaquetas (LEVI; VAN, 2010). Assim, essa adesão das plaquetas ao endotélio vascular pode acontecer mesmo na ausência de lesão. O fato é que a ativação das células endoteliais que acompanha a inflamação parece ser suficiente, na presença de ativação plaquetária, para promover a interação vaso-plaqueta. Com isso, as plaquetas rolam sobre o endotélio e aderem firmemente a ele de maneira semelhante à adesão dos leucócitos às células endoteliais (STOKES; GRANGER, 2012). De forma especial, as plaquetas transfundidas podem ter sido ativadas anteriormente em decorrência das condições de estocagem ou processo de filtração (COGNASSE et al., 2006). A adesão das plaquetas ao endotélio ativado e possivelmente a leucócitos ativados ocasiona o que denominamos sequestro microvascular das plaquetas (STOKES; GRANGER, 2012). Esse sequestro pode contribuir para o baixo incremento após a transfusão de CPs. 8 Além disso, como mencionado anteriormente, nos casos de aumento do baço, pode ocorrer outro quadro que é o sequestro esplênico. 1.1.3.2 Destruição de plaquetas por fagocitose, lise e apoptose Durante a transfusão, os aloantígenos plaquetários podem ser apresentados direta ou indiretamente aos linfócitos T auxiliares do paciente. Na via direta, os aloantígenos são apresentados por células apresentadoras de antígeno do doador presentes no CP (linfócitos B e monócitos) (AUCHINCLOSS; SYKES; SACHS, 1999; PAVENSKI, FREEDMAN, SEMPLE; 2012). Na via indireta, as plaquetas do doador são fagocitadas pelas células apresentadoras de antígeno do próprio paciente e, posteriormente, essas células apresentam os antígenos aos linfócitos T auxiliares (GILSON; ZIMRING, 2012; SEMPLE; FREEDMAN, 2002). Quando os antígenos são apresentados via molécula HLA Classe II aos linfócitos T auxiliares (primeiro sinal) na presença de eventos co-estimulatórios (segundo sinal), os linfócitos T auxiliares são ativados e se tornam células efetoras (PAVENSKI, FREEDMAN, SEMPLE; 2012). Esses linfócitos T efetores secretam citocinas capazes de estimular a diferenciação dos linfócitos B em células plasmáticas que geram e secretam anticorpos IgG. As plaquetas opsonizadas pelos anticorpos produzidos são então removidas da circulação. A destruição das plaquetas mediada por anticorpo inclui não somente aloanticorpos, mas qualquer anticorpo direcionado contra GPs da membrana das plaquetas, complexos associados a drogas que se depositam na superfície plaquetária ou anticorpos ligados a células ou complexos imunes que interagem com as plaquetas (TAYLOR et al., 2000). Após a ligação plaqueta-anticorpo, os macrófagos e/ou células dendríticas do sistema retículo-endotelial se ligam à porção Fc do anticorpo através do receptor Fc e fagocitam as plaquetas. Esse processo usualmente ocorre no baço (STRATTON et al., 1989) e alguns estudos sugerem que o stress oxidativo, possivelmente gerado por endotoxinas associadas a infecções, pode favorecer a ligação da Proteína C Reativa que parece atuar como cofator amplificando a depuração de plaquetas IgG mediada (KAPUR et al., 2014). Além desse processo, os anticorpos que interagem com as plaquetas podem também ativar o complemento e fixar moléculas do complemento sobre as plaquetas contribuindo para a lise das plaquetas (ZAPATA; COX; SALVATO, 2014). A lise de plaquetas é mediada por célula em decorrência da ativação do sistema complemento que pode ocorrer também na ausência de anticorpos associados. Moléculas do 9 complemento (por exemplo, c3) liberadas durante infecção, toxicidade ou inflamação podem se depositar sobre a superfície de plaquetas favorecendo a lise mediada por células (linfócitos T citotóxicos, macrófagos e neutrófilos) (ZAPATA; COX; SALVATO, 2014). A lise por célula T citotóxica pode ser por indução de apoptose ou via perforina/granzima (ZHANG et al., 2006). A ativação das plaquetas nos processos infecciosos se dá pela ligação ao agente ou seus produtos. Ocorre alteração da conformação das mesmas permitindo a expressão de P-selectina que funciona como um receptor induzindo a fagocitose das plaquetas pelos macrófagos no baço (DIACOVO et al, 1996; FLAUJAC; BOUKOUR; CRAMER-BORDE; 2010; JIN et al., 2012). Além disso, essas plaquetas ativadas secretam quimiocinas que promovem quimiotaxia e podem formar agregados em torno dos leucócitos. Todos esses eventos favorecem tanto a fagocitose quanto a lise dessas plaquetas (ZAPATA; COX; SALVATO, 2014). 1.2 AVALIAÇÃO DA RESPOSTA À TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS A eficácia da transfusão de plaquetas pode ser avaliada através da resposta clínica do paciente quanto à parada do sangramento ativo. Mas, além da presença ou ausência de sangramento, o monitoramento da efetividade da transfusão de plaquetas com base na contagem de plaquetas pós transfusional apresenta maior repercussão no direcionamento das decisões clínicas quanto à necessidade de transfusões adicionais ou precaução quanto a procedimentos invasivos (ARNOLD et al., 2006). A avaliação mais objetiva é feita através do Cálculo Corrigido do Incremento (CCI), amplamente conhecida, principalmente por ser a única forma de avaliação em transfusões profiláticas (ARNOLD, 2006; BONSTEIN et al., 2012; SHASTRY; CHAUDHARY,2012). No entanto, seu emprego na rotina ainda é incipiente (QUAGLIETTA et al., 2012) e raramente realizada nos centros hemoterápicos brasileiros. 1.2.1 Cálculo Corrigido do Incremento O CCI é definido como a diferença entre a contagem encontrada no paciente após a transfusão (A) e a observada antes da transfusão (B), multiplicada pela superfície corporal (SC) e dividida pelo número de plaquetas transfundidas (C) (ARNOLD et al., 2006; THE TRAP STUDY GROUP, 1997; YANKEE; GRUMET; ROGENTINE, 1969;). Então: 10 CCI = (A – B) x SC C Onde: A = Contagem de plaquetas/µL após a transfusão; B = Contagem de plaquetas/µL antes da transfusão; SC = Superfície corporal do paciente em m2; C = Total de plaquetas transfundidas x 10-11. Dessa forma, o CCI ajusta o número de plaquetas transfundidas para o volume de sangue do paciente e número de plaquetas no produto plaquetário permitindo uma comparação mais precisa da resposta à transfusão, uma vez que as diferenças no CCI podem ocorrer com produtos distintos que tenham a mesma dose, mas diferentes qualidades (DAVIS et al., 1999; SLICHTER et al., 2005). O CCI é considerado insatisfatório se inferior a 5.000 plaquetas/µL, quando avaliado entre 10 e 60 minutos após a transfusão, e se menor que 2.500 plaquetas/µL na avaliação após 18 a 24 horas (BISHOP et al., 1992; SCHIFFER, 2001). Nos quadros em que há persistência de incremento insatisfatório o paciente é denominado como refratário à transfusão de plaquetas. Para tanto, consideram-se no mínimo duas transfusões, preferencialmente consecutivas, com CCI insatisfatório, visto que podem ocorrer oscilações por fatores clínicos e farmacológicos (DAVIS et al., 1999; DZIK, 2007; NOVOTNY, 1999; REBULLA, 2005). Pacientes oncohematológicos refratários à transfusão de plaquetas demandam maior suporte transfusional e suas contagens plaquetárias podem chegar a níveis muito baixos com risco de hemorragias espontâneas (BONSTEIN et al., 2012). A frequência de refratariedade em pacientes oncohematológicos varia de 7% a 34% (FERREIRA et al., 2011; HOD; SCHWARTZ, 2008; QUAGLIETTA et al., 2012; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). Contudo, há relatos de frequência de até 50% em pacientes que receberam múltiplas transfusões de produtos não leucorreduzidos (BONSTEIN et al., 2012). 1.2.2 Detecção de anticorpos contra plaquetas Como os anticorpos direcionados contra as plaquetas podem interferir na resposta à transfusão de plaquetas, a identificação dos mesmos pode auxiliar na discriminação dos fatores 11 etiopatogênicos envolvidos. É possível realizar a detecção de anticorpos diretamente, testandose a presença dos mesmos na superfície das plaquetas do paciente, ou indiretamente, pela reatividade do soro do paciente contra plaquetas intactas ou fragmentos de antígenos fixados em placas ou microesferas fluorescentes. Tais testes também se diferenciam de acordo com a sensibilidade e especificidade. 1.2.2.1 Testes inespecíficos A detecção inespecífica pode ser realizada utilizando-se plaquetas intactas que são incubadas com o soro do paciente após sucessivas lavagens (BUB et al., 2013). Após incubação com um anticorpo anti-imunoglobulina humana marcado, a positividade do teste pode ser revelada utilizando-se microscopia de fluorescência ou citometria de fluxo. O ensaio mais empregado é o PIFT (Platelet Immunofluorescence Test) que é altamente sensível por detectar qualquer anticorpo na superfície das plaquetas, inclusive autoanticorpos e aqueles ligados pelo depósito de imunocomplexos. No entanto, a especificidade não pode ser determinada e há altas taxas de resultados falso positivos se comparado a testes específicos (BUB et al., 2013, FONTÃO-WENDEL et al., 2007). Apesar da baixa especificidade, dentre os testes disponíveis, esse é o de menor complexidade, menor custo e que demanda menor consumo de tempo (BUB et al., 2013). Embora ainda existam muitas variações na realização da técnica, seu uso na triagem de pacientes com suspeita de apresentarem anticorpos anti-plaquetas pode ser bastante eficaz (BUB et al., 2013; FERREIRA et al., 2011; FONTÃO-WENDEL et al., 2007). O teste poderá detectar não somente aloanticorpos, mas também anticorpos não específicos como aqueles transientes e associados a infecções ou depósitos de imunocomplexos, geralmente associados ao uso de medicamentos. Além disso, por usar plaquetas frescas, sua sensibilidade é mais alta na detecção de antígenos presentes em moléculas que podem sofrer alteração conformacional após armazenamento e certos processos de lavagem. 1.2.2.2 Testes específicos Testes mais elaborados são capazes de determinar a especificidade do anticorpo para alelos de antígenos HLA Classe I ou HPA. 12 A detecção de anticorpos contra HLA classe I, também expressa pela porcentagem de Reatividade contra o Painel de Antígenos (PRA – Panel Reactivity Antigen), pode utilizar as mesmas técnicas empregadas para avaliação de compatibilidade em transplantes. Assim, esses ensaios têm melhor padronização e foram aprimorados ao longo dos anos com disponibilidade de testes comerciais e de detecção em larga escala. Os ensaios iniciais utilizavam um painel de linfócitos frente ao soro do paciente avaliando a posterior lise pelo sistema complemento (Lymphocytotoxic Test - LCT) (ARAKI et al., 1995, ARRUDA, 2013). Posteriormente vieram os testes de imunofluorescência (Lymphocyte Immunofluorescence Test - LIFT), avaliados por ELISA ou citometria de fluxo (ARRUDA, 2013; LEVIN et al., 2003; LUBENKO et al., 2001) e, atualmente, testes em larga escala que utilizam antígenos fixados em microesferas fluorescentes (DZIK, 2007; FONTAO-WENDEL, 2007; HEIKAL; SMOCK, 2013; JACKMAN et al., 2013). Para identificação de aloanticorpos com especificidade para antígenos HPA são utilizadas técnicas de ELISA (Enzime-Linked Immuno Sorbent Assay) com captura de antígeno: ACE (Antibody Capture ELISA); MACE (Modified Antibody Capture ELISA) ou MAIPA (Monoclonal Antibody-Specific Immobilization of Platelet Antigens Assay) (FONTAOWENDEL, 2007; HEIKAL; SMOCK, 2013; KIEFEL et al., 2001). O último é considerado teste padrão ouro. No ACE, as glicoproteínas das plaquetas ligam-se à placa por um anticorpo monoclonal específico. O soro teste é adicionado e os anticorpos ligados são detectados por um segundo anti-anticorpo marcado com enzima (HEIKAL; SMOCK, 2013). Nos métodos MACE e MAIPA, o soro do paciente é incubado primeiramente com plaquetas conhecidas (antes da captura de antígeno), seguindo-se a lavagem e lise plaquetária antes da captura do complexo por anticorpos previamente fixados em placas (HEIKAL; SMOCK, 2013; KIEFEL et al., 2001). O método MAIPA se diferencia do MACE por primeiramente incubar as plaquetas a um anticorpo monoclonal específico de glicoproteína e ao soro do paciente antes da lise (ARRUDA, 2013; BESSOS et al., 2005; HEIKAL; SMOCK, 2013). Enfim, o que se espera é que o monitoramento dos pacientes com diferentes testes in vitro permita identificar parâmetros ideais na predição da presença ou ausência de resposta aloimune prejudicial ao transplante e à transfusão. 13 1.3 O MANEJO DO PACIENTE REFRATÁRIO À TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS Quanto à transfusão de plaquetas para pacientes refratários devido à presença de aloanticorpos, várias estratégias podem ser utilizadas, sendo primeiramente recomendado a transfusão de CPs ABO compatíveis, filtrados e preferencialmente de aférese (VASSALLO et al., 2013). Essa pode ser a única opção nos países onde é difícil estabelecer um painel de doadores de plaquetas compatíveis por restrições de custo e/ou de estrutura (SHASTRY; CHAUDHARY, 2012). Alguns centros selecionam ainda os doadores cujos concentrados proporcionaram incremento satisfatório, mas nem sempre é possível a identificação desses doadores. Nesses casos, é inaceitável continuar a terapia profilática se o paciente não apresentar sangramento. Quando há sangramento, recomenda-se o emprego de pool de vários doadores e em intervalos menores, esperando que algum deles seja compatível e ajude a melhorar o incremento (NEGASAWA; KIM; BALDINI, 1978). Muitas vezes pode-se optar também pela infusão de Imunoglobulina G intravenosa (IGIV) para modular a aloimunização. Em pacientes adequadamente selecionados, a terapia de IGIV pode salvar vidas. No entanto, seu uso é limitado devido ao alto custo e aos riscos associados, como reações sistêmicas que podem acometer entre 3% a 15% dos pacientes (ANDERSON et al., 2007; LEE; NORRIS; SCHIFFER, 1987; SCHIFFER et al., 1984). Outra opção adotada é a seleção de plaquetas que não possuam antígenos contra os quais o paciente apresenta aloanticorpos, mas nem todos os centros identificam aloanticorpos plaquetários em seus pacientes (VASSALO et al., 2013). Alguns estudos preliminares sugerem que o uso de unidades de CPs antígeno negativas pode ser tão bem sucedido quanto o uso de unidades HLA-idênticas (PAI, et al., 2010; VASSALO et al., 2013). Porém, essa estratégia não previne a sensibilização aos antígenos não compartilhados entre paciente e doador. Diante disso, a estratégia ideal é a seleção de doadores geneticamente compatíveis (HOD; SCHWARTZ, 2008). Contudo, os doadores de plaquetas não são rotineiramente genotipados para HLA Classe I e HPA (BISHOP et al., 1988; LEGLER et al., 1997) na maioria dos serviços e, como o sistema HLA é altamente polimórfico, nem sempre há doadores compatíveis disponíveis. Muitas vezes, pode-se optar pela seleção de doador parcialmente incompatível. Para ampliar as chances de seleção de doadores compatíveis, é possível selecionar doadores com base em alguns grupos de alelos com padrões sorológicos de reatividade cruzada, 14 conhecidos como CREG (cross-reactive groups). Os CREG apresentam epítopos comuns que são diferencialmente compartilhados entre as moléculas HLA Classe I de forma que as moléculas de HLA-A e HLA-B podem ser agrupadas em nove ou mais famílias de CREG (PAI et al., 2010). A seleção baseada em CREGs amplia a determinação de antígenos HLA parcialmente compatíveis de um potencial doador para o paciente. Essa abordagem geralmente funciona perfeitamente se o soro do paciente não é muito reativo, ou seja, reatividade menor que 80% contra os tipos de antígenos HLA. (BROOKS; MACPHERSON; FUNG, 2008; DUQUESNOY, 2002). No entanto, Moroff e colaboradores (1992) ainda encontraram incremento insatisfatório em cerca de 40% dos casos compatíveis pelo CREG, demonstrando limitada efetividade dessa estratégia. Na busca por soluções, desenvolveu-se a estratégia de seleção de doadores genotipados compatíveis para antígenos HLA Classe I através de uma ferramenta de avaliação da compatibilidade HLA conhecida como HLAMatchmaker. Este é um software algorítmico que identifica epítopos imunogênicos que se expressam em regiões da molécula HLA acessíveis aos aloanticorpos (DUQUESNOY, 2008). Há uma versão utilizando triplets, seqüências lineares de três resíduos de aminoácidos (DUQUESNOY, 2002), que fornecem uma descrição do repertório do epítopo HLA. E uma versão chamada Eplet que se baseia na modelagem estereoquímica da proteína e contribui para identificar resíduos críticos de aminoácidos que são expostos à ligação antígeno-anticorpo (DUQUESNOY, 2006). A versão Eplet de HLAMatchmaker, portanto, representa um repertório mais completo de epítopos HLA, levando em consideração a estrutura tridimensional da molécula e fornecendo uma avaliação mais refinada da compatibilidade HLA (DUQUESNOY, 2011). De acordo com Duquesnoy (2011), o HLAMatchmaker aplica dois princípios: cada HLA representa uma sequência distinta de eplets, estruturalmente definidas como potenciais imunógenos capazes de induzir anticorpos específicos, e os pacientes não podem produzir anticorpos contra epítopos que são expressos pelas suas próprias moléculas de HLA. Assim, esse modelo inovador pode aumentar o número de doadores compatíveis para um dado receptor sem a necessidade de uma extensa análise sorológica (DUQUESNOY, 2002; DUQUESNOY, 2008). Mas no caso dos pacientes cuja causa da refratariedade à transfusão de plaquetas não é decorrente de aloanticorpos, a causa base precisa ser tratada ou suspensa no caso de medicações. 15 Contudo, diante da necessidade de transfusão por sangramento ativo, o clínico deve avaliar a instituição de transfusão plaquetária massiva, infusão contínua e lenta, uso de anti-fibrinolíticos e Fator VII ativado (HOD; SCHWARTZ, 2008). 1.4 CITOCINAS COMO BIOMARCADORES PLASMÁTICOS Os complexos mecanismos envolvidos no baixo incremento de plaquetas após a transfusão sugerem que os níveis de diversas proteínas plasmáticas podem estar alterados nos pacientes refratários, dentre elas as citocinas (HOD; SCHWARTZ, 2008). Contudo, não encontramos na literatura trabalhos abordando a relação entre os níveis de citocinas antes da transfusão de plaquetas e a resposta após a transfusão. As citocinas são polipeptídeos produzidos por células tanto da imunidade inata quanto da imunidade adquirida que se ligam a receptores específicos influenciando a atividade, diferenciação, proliferação e sobrevida da célula imunológica. Elas podem atuar como próinflamatórias ou anti-inflamatórias (HARRISON et al., 2011). Na imunidade inata, ocorre uma reação inflamatória local com recrutamento de leucócitos e alterações sistêmicas que favorecem a erradicação da infecção. As principais citocinas envolvidas nesse processo são IL-6, TNF e IFN- γ. O tipo do antígeno envolvido é que determina a intensidade e as características da resposta à infecção com liberação de citocinas que medeiam muitas das funções efetoras da imunidade inata (HARRISON et al., 2011). Os estímulos gerados na imunidade inata favorecem a proliferação e diferenciação de células T antígeno-específicas e dos linfócitos B, caracterizando o perfil da subsequente resposta imune adquirida. Após as células apresentadoras de antígenos ativarem as células T, essas se diferenciam em células TCD4+ auxiliares (COSMI et al., 2014). De acordo com os sinais expressos aos receptores de células T, moléculas co-estimulatórias, receptores de citocinas e fatores de transcrição específicos, as células TCD4+ se diferenciam em subpopulações de células T auxiliares efetoras (TH) tais como TH1, TH2, TH17 e T reguladoras (TREG) (COSMI et al., 2014). Cada grupo de células é caracterizado por funções efetoras distintas e um perfil específico de citocinas, de forma que a proporção das citocinas produzidas pelas subpopulações determinarão efeitos protetores ou consequências patológicas das respostas imunes (COSMI et al., 2014). 16 Em resposta aos microorganismos que infectam ou ativam macrófagos e células NK, essas células produzem IL-12 que estimula produção de IFN-γ capaz de induzir a diferenciação das células T no padrão TH1 (BRADLEY; DALTON; CROFT, 1996). O IFN-γ está envolvido principalmente no estímulo da eliminação de patógenos intracelulares através da ativação de macrófagos e secreção de imunoglobulinas opsonizantes e fixadoras do complemento (ROMAGNANI, 1994). O IFN-γ induz a produção de mais IL-12, o que amplifica a diferenciação em células TH1 ao mesmo tempo em que inibe a diferenciação em células TH2 (BRADLEY; DALTON; CROFT, 1996). A diferenciação em padrão TH2 é estimulada pela ligação de IL-4 que estimula a produção de mais IL-4 (PARRONCHI et al., 1992). Essa subpopulação de células é caracterizada pela produção de IL-4, IL-5, IL-13, IL-25 e IL-10 sendo que, IL-4, IL-13 e IL-10 antagonizam as ações do IFN-γ e inibem ativação dos macrófagos (PARRONCHI et al., 1992). As células TH2 participam da eliminação de patógenos extracelulares, parasitas e alérgenos através de eosinófilos e mastócitos e da indução de imunoglobulinas das classes IgG1 e IgE (PULENDRAN; ARTIS, 2012). O padrão TH17 é direcionado pela ação de IL-6 e TGF-β. As células TH17 produzem grandes quantidades de IL-17, IL-22 e IL-21 e expressam receptores para o IL-23. A presença de IL-23 garante então, o suporte e manutenção de TH17 (OUKKA, 2008). Esse padrão de células T é responsável pela defesa contra fungos e bactérias extracelulares, graças à sua capacidade de recrutar e ativar granulócitos neutrofílicos. Th17 também exerce papel importante na patogênese de várias doenças autoimunes e inflamatórias (OUKKA, 2008). A predominância de secreção de TGF-β irá direcionar a diferenciação em células TREG que se caracterizam pela expressão predominante de IL-10. Essa subpopulação de células protege o organismo de respostas efetoras exageradas e perigosas como nas respostas autoimunes (COSMI et al., 2014). 1.5 JUSTIFICATIVA Como levantado, vários mecanismos imunes contribuem para a falta de incremento na contagem de plaquetas após a transfusão e faltam na rotina marcadores que possam refletir um estado geral dos pacientes onco-hematológicos e predizer a resposta à transfusão. O perfil de citocinas pode refletir o estado imune desses pacientes; contudo, não há na literatura estudos 17 que tenham realizado essa avaliação antes da transfusão e nem a sua associação com o incremento pós transfusional. Diante disso, decidimos avaliar a performance do PIFT como teste de triagem na detecção de anticorpos anti-plaquetas por ser um teste mais simples e de menor custo. Além disso, avaliar se os níveis séricos de citocinas pró e anti-inflamatórias antes da transfusão teriam associação com a resposta pós transfusional, complementando as análises do CCI e PIFT. 1.6 HIPÓTESE O PIFT é um teste de triagem útil na monitoração de pacientes onco-hematológicos sob regimes de transfusão crônica de plaquetas e o padrão de resposta imune no plasma desses pacientes antes da transfusão pode fornecer informações relevantes sobre seu estado imunológico e direcionar o manejo do paciente frente à transfusão de plaquetas. 18 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL O objetivo geral do trabalho foi avaliar a resposta à transfusão de plaquetas em pacientes onco-hematológicos e determinar o valor da detecção de anticorpos anti-plaquetas pela técnica PIFT e a influência dos níveis de citocinas do perfil Th1, Th2, Th17 e Treg no soro desses pacientes antes da transfusão de plaquetas. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1) Avaliar a resposta à transfusão de plaquetas em pacientes onco-hematológicos e sua associação com fatores capazes de influenciar a resposta à transfusão de plaquetas; 2) Avaliar a concordância entre o PIFT e técnicas de detecção específica de anticorpos anti-plaquetas. 3) Avaliar a associação entre resposta à transfusão de plaquetas, resultados do PIFT e fatores capazes de influenciar a resposta à transfusão de plaquetas; 4) Avaliar a relação entre níveis de citocinas do perfil Th1, Th2, Th17 e Treg no soro desses pacientes antes da transfusão de plaquetas com a resposta transfusional. 5) Avaliar a associação entre resposta à transfusão de plaquetas, resultados do PIFT e níveis de citocinas do perfil Th1, Th2, Th17 e Treg no soro desses pacientes antes da transfusão de plaquetas. 19 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 CASUÍSTICA O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) (registro nº 977/2007), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) (registro nº 310/2010) e ao Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação HEMOMINAS (registros nº 178/2007 e 271/2010) recebendo parecer favorável dessas instituições para a realização do mesmo. Foram incluídos no estudo: indivíduos com idade superior a 18 anos, com diagnóstico de doença onco-hematológica, atendidos pelo Hospital de Clínicas da UFTM e Hospital de Clínicas da UFU e submetidos à transfusão de Concentrados de Plaquetas. As amostras de sangue e dados do prontuário foram coletados após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo). 3.2 COLETA DE AMOSTRAS Para a contagem de plaquetas em cada CP a ser transfundido aos pacientes incluídos na pesquisa, amostras homogêneas foram coletadas do macarrão da bolsa dos CPs obtidos por PRP ou Aférese. O macarrão era selado a 10 cm da extremidade, garantindo a não abertura do sistema, para separação de aproximadamente 2 mL do produto. Nos casos de CPs de PRP, preparava-se um pool das amostras das bolsas a serem transfundidas. Todas as amostras coletadas dos CPs eram homogeneizadas por no mínimo cinco minutos e a contagem plaquetária realizada em contador de células automatizado. Os dados referentes a contagem de plaquetas, tipagem ABO e leucorredução dos CPs a serem transfundidos eram arquivados em questionário próprio relativo ao paciente em questão. Todas as solicitações de CPs do serviço eram averiguadas quanto aos critérios de inclusão do estudo e as principais dificuldades na obtenção de amostras dos pacientes foram no repasse de informação mediante a solicitação para a coleta de amostra pré-transfusão, incompatibilidades de horário, urgências na liberação do hemocomponente sem coleta de sangue pré-transfusão e obtenção de acesso venoso em pacientes debilitados pelo longo período de internação. 20 A obtenção de amostras para contagem de plaquetas dos pacientes foi realizada duas vezes, uma durante o intervalo de até 60 minutos antes da transfusão e outra entre 10 e 60 minutos após a transfusão. Cada amostra de sangue total foi colhida em tubo de 5mL contendo o anticoagulante EDTA. A contagem do número de plaquetas foi realizada em contador de células automatizado. As amostras de soro para pesquisa de anticorpos anti-plaquetas e dosagem de citocinas foram obtidas antes da transfusão no mesmo momento em que foram colhidas as amostras em EDTA. Foram coletadas amostras de sangue em tubos sem anticoagulante e centrifugadas por 20 minutos a 2000 g. Após separação do soro, o mesmo era centrifugado novamente por 20 minutos a 2000 g e aliquotado antes de ser armazenado à temperatura de -80°C. 3.3 AVALIAÇÃO DA RESPOSTA À TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS A resposta à transfusão de plaquetas foi avaliada através da Contagem Corrigida do Incremento (CCI) de até uma hora após a transfusão de plaquetas. Utilizou-se os resultados das contagens de plaquetas do paciente e dos CPs utilizados. A superfície corporal do paciente de acordo com Dubois e Dubois (1916) foi calculada com base em informações do próprio paciente ou do prontuário do mesmo. As transfusões com CCI inferior a 5.000 foram consideradas insatisfatórias e os pacientes com dois ou mais incrementos insatisfatórios foram denominados refratários à transfusão de plaquetas (SLICHTER et al., 2005). As características referentes a cada paciente e os dados terapêuticos e clínicos dos mesmos foram obtidos dos prontuários médicos e arquivados em formulário próprio. As características relacionadas foram: 1) Dados demográficos - idade, gênero, histórico gestacional, peso e altura; 2) Diagnóstico primário; 3) Presença de condições clínicas como febre, CIVD, esplenomegalia, infecção e sangramento; 4) Medicações em uso. 21 3.4 PESQUISA DE ANTICORPOS CONTRA PLAQUETAS As técnicas empregadas na detecção específica foram direcionadas para anticorpos contra antígenos HLA Classe I e contra antígenos das GPs IIb/IIIa e Ia/IIa. O teste inespecífico foi o PIFT (Platelet Immunofluorescence Test). 3.4.1 Pesquisa e identificação de anticorpos anti-HLA Classe I A identificação específica foi realizada através de técnica de fluorimetria de fluxo utilizando kits para detecção de anticorpos anti-HLA Classe I - Labscreen™ (LS1PRA, One Lambda, Canoga Park, CA, EUA) seguindo as orientações do fabricante. As amostras de soro dos pacientes colhidas até o ano de 2009 foram testadas no laboratório HLA da UNICAMP em agosto de 2009. As amostras eram descongeladas imediatamente antes do ensaio e novamente centrifugadas a 10000 g por dez minutos para separação de possíveis grumos. O teste de rastreio LS1PRA utiliza um painel de antígenos HLA Classe I purificados e agrupados por suspensão em 100 micro pérolas (beads) diferentes (esferas de 2 a 4 µm de diâmetro) para identificação de anticorpos Imunoglobulina G anti-HLA da Classe I. O teste fornece reagentes pré-calibrados para a detecção rápida da porcentagem de reatividade contra o painel de antígenos (PRA – Panel-Reactive-Antibody) no soro humano, por meio do Sistema de Ensaio Lambda Multi-Analítico de Pérolas (LABMAS – Lambda Array Beads Multi-Analyte System), o qual caracteriza o analisador de fluxo LABScan 100 para aquisição de dados e análise. Em cada suspensão encontram-se beads controle-negativo (não revestidas com antígenos HLA Classe I) e controle-positivo (revestidas com IgG humano purificado). Além disso, a cada ensaio, utiliza-se o soro controle negativo para estabelecer o valor de background para cada bead em uma bateria de testes. Após a incubação do soro teste com as beads Labscreen, a ligação é identificada pela marcação fluorescente com um anticorpo Imunoglobulina G (IgG) de cabra anti-humano conjugado com R-ficoeritrina (PE). O soro positivo para IgG anti-HLA apresenta um desvio no canal fluorescente quando comparado com o soro negativo. A PRA é representada pela porcentagem de esferas que reagem de forma positiva ao mesmo soro. Antes da aquisição dos dados, era feita a escolha da planilha de leitura lote-específica (Template) respectiva ao catálogo e número do lote do kit utilizado. Essa planilha apresenta 22 dados referentes ao padrão de combinações de antígenos presentes sobre a superfície das beads, o que permite caracterizar a especificidade do aloanticorpo pesquisado. Após a leitura da placa, a reatividade dos soros testados era calculada, segundo instruções do fabricante, com base na mediana do sinal fluorescente de cada bead e normalização para ligações não específicas à bead controle negativa e correção dos resultados obtidos com base no soro controle negativo. Além disso, para a validação do teste, deveria haver: contagem de no mínimo 50 beads de cada especificidade (comumente o valor é maior que 100); valor médio de fluorescência das beads controle-negativo sempre menor que 1500 e menor ou igual que a metade do valor das beads controle-positivo e valor médio de fluorescência das beads do controle positivo maior que 500. 3.4.2 Pesquisa e identificação de anticorpos anti-HPA A identificação de anticorpos contra antígenos plaquetários humanos (HPA) foi realizada através da técnica MAIPA (MoAb-specific immobilization of platelet antigens) com poucas modificações. Uma suspensão com 20 x 106 plaquetas era incubada com 30 µL do soro a ser testado. Após lavar com PBS-BSA 2%, a solução era incubada com anticorpos monoclonais anti-GP IIbIIIa (CD61, clone Y2/51; DakoCytomation®, Carpinteria, CA, EUA) ou GP IaIIa (CD49b clone Gi9; Immunotech®, Marseille, França). Os imunocomplexos formados (antígeno plaquetário + anticorpo do soro testado + anticorpo monoclonal) eram solubilizados a partir da membrana plaquetária por um tampão de solubilização contendo Tris, NaCl 0,9% e Triton-X100. Em seguida, o produto formado era incubado em microplaca pré-sensibilizada com um anticorpo de cabra contra camundongo (Jackson ImmunoResearch®) para imobilização dos imunocomplexos. A reação de detecção era realizada por técnica de ELISA convencional através de IgG anti-humana marcada com enzima peroxidase (GAH-IgG HP* - labelled goat anti-human IgG horseradish peroxidase - Jackson ImmunoResearch®) seguida da adição do substrato OPD (o-henylenediamine - DakoCytomation®). As plaquetas utilizadas no teste foram obtidas de doadores previamente genotipados para os sistemas HPA-1 e HPA-5. Foram selecionadas plaquetas apresentando HPA-1aa, -1bb e -1ab para pesquisa de anticorpos anti-GP IIb/IIIa, e, apresentando HPA-5aa, -5bb e -5ab para pesquisa de anticorpos anti-GP Ia/IIa. A especificidade dos anticorpos era avaliada de acordo com a tipagem HPA das plaquetas utilizadas. 23 Para complementar a interpretação dos resultados, os pacientes também foram genotipados para os sistemas HPA-1 e HPA-5. 3.4.2.1 Genotipagem HPA O DNA genômico foi extraído de células mononucleares das amostras de sangue total colhidas para contagem de plaquetas. Após centrifugação a 900 x g por 10 minutos em condições assépticas, 1,5mL de buffy coat era transferido para tubos cônicos Falcon com capacidade de 15 mL. A extração do DNA era realizada de acordo com as instruções do fabricante do kit em uso, QIAamp® DNA Mini Kit (QIAGEN, CA, EUA). A genotipagem do sistema HPA-1 foi realizada através da reação em cadeia da polimerase com primers alelo específicos (polymerase chain reaction with sequence-specific primers - PCR-SSP). As características dos primers utilizados estão descritas no quadro abaixo: Especificidade Sequência Tamanho do Referência produto de PCR (pb) HPA-1a 5’ CTTACAGGCCCTGCCTCT 3’ HPA-1b 5’ CTTACAGGCCCTGCCTCC 3’ Bellissimo HPA-1 AS 5’ TGCTTCAGGTCTCTCCCC 3’ al. 1994) 244 (Skogen, et A amplificação das amostras de DNA foi realizada em termociclador Veriti® 96-Well Thermal Cycler (Applied Biosystems, CA, EUA) e os reagentes foram fornecidos pela Invitrogen™ Life Technologies (Invitrogen, CA, EUA). Os produtos amplificados foram visualizados em gel de agarose 2% (Ultra Pure™ Agarose - Invitrogen, CA, EUA) elaborado com tampão TAE 1X e corado com 0,5 µg/µl de brometo de etídio. Os reagentes e as condições da PCR estão descritos a seguir: 24 Reagentes Condição da PCR Buffer = 3,0 μL Buffer = 3,0 μL 94º/6´ MgCl2 = 1,2 μL MgCl2 = 1,2 μL 94º/1´ DNTP =1,0 μL DNTP =1,0 μL 62º/1´ 35x HPA1a = 1,0μL HPA1b = 1,0μL 72º/1´ HPA1AS = 1,0μL HPA1AS = 1,0μL 72º/7´ HGHs = 0,4μL HGHs = 0,4μL HGHas = 0,4μL HGHas = 0,4μL Taq = 0,2μL Taq = 0,2μL H2O = 20,8μL H2O = 20,8μL DNA = 1,0μL DNA = 1,0μL Para a confirmação do genótipo HPA-1bb foi realizada a análise de polimorfismo dos comprimentos dos fragmentos de restrição (Restriction Fragment Length Polymorphism RFLP), segundo Jin e colaboradores (1993). Os primers para a amplificação da região que contém o polimorfismo foram: sense 5’ TTCTGATTGCTGGACTTCTCTT 3’ e antisense 5’ TCTCTCCCCATGGCAAAGAGT 3’ (Invitrogen™ Life Technologies, CA, EUA), resultando em um fragmento de 268 pb. A enzima utilizada para a digestão foi a MspI (New England Biolabs, MA, EUA), com concentração de 20.000 unidades/mL, sendo que fragmentos de 229 e 39 pares de base obtidos foram correspondentes ao alelo A e fragmentos de 178, 51 e 39 correspondentes ao alelo B. Os reagentes e as condições estão descritos a seguir: HPA-1 Reagentes Condições PCR Buffer = 3,0μL 94º/7´ MgCl2 = 1,0μL 94º/1´ dNTP = 1,0μL 56º/1´ 35x Primer sense = 1,2μL 72º/1´ Primer antisense = 1,2μL 72º/7´ Taq = 0,5μL H2O = 21,1μL DNA = 1,0μL 25 Digestão Buffer = 2,0μL 37ºC/ overnight Enzima MspI = 0,8μL H2O = 4,2μL Produto de PCR = 8,0μL O genótipo HPA-5 foi também avaliado por RFLP, segundo Jin e colaboradores (1993). Os primers para a amplificação da região que contém o polimorfismo foram: sense 5’GTGACCTAAAGAAAGAGG-3’ e antisense 5’-CTCTCATGGAAAATGGCAG-3’ (Invitrogen™ Life Technologies, CA, EUA), resultando em um fragmento de 276 pb. A enzima utilizada para a digestão foi a MnlI (New England Biolabs, MA, EUA), com concentração de 5,000 units/ml, sendo que fragmentos de 136, 97 e 33 pares de base obtidos foram correspondentes ao alelo A e fragmentos de 169 e 97 correspondentes ao alelo B. Os reagentes e as condições estão descritos a seguir: HPA-5 Reagentes Condições PCR Buffer = 3,0μL 94º/7´ MgCl2 = 1,0μL 94º/1´ DNTP = 1,0μL 56º/1´ 35x Primer sense = 1,2μL 72º/1´ Primer antisense = 1,2μL 72º/7´ Taq = 0,5μL H2O = 21,1μL DNA = 1,0μL Digestão Buffer = 3,0μL 37ºC/ overnight BSA = 0,5μL Enzima MnlI = 0,3μL H2O = 3,2μL Produto de PCR= 8,0 μL 3.4.3 Teste de Imunofluorescência Plaquetária (PIFT) Para a pesquisa inespecífica de anticorpo ligado à plaqueta preparou-se a cada bateria de testes um pool de plaquetas de dois doadores masculinos do grupo sanguíneo O e Rh negativos. A separação do plasma rico em plaquetas foi feita por centrifugação a 600 g por 20 26 minutos. Após serem transferidas para outro tubo, as plaquetas foram lavadas por ressuspensão em PBS/EDTA 0,1% (±2 mL), centrifugação a 2000 g por dez minutos e retirada do sobrenadante. Após a terceira lavagem, foram ressuspensas em 1,5 mL de PBS/EDTA 0,1%. Após contagem automática, a concentração de plaquetas foi ajustada para aproximadamente 100.000 plaquetas/µL. Para cada teste, pipetou-se 50 µL do pool de plaquetas em tubo de citometria e adicionou-se 50 µL do soro a ser testado. Além dos testes, a cada bateria de exames foram concomitantemente testadas amostras de soros controles negativo e positivo (alíquotas previamente identificadas). As preparações foram então incubadas por 30 minutos a 37°C. Decorrido esse tempo, foram lavadas por três vezes consecutivas com PBS/EDTA 0,1% (±2 mL) seguindo-se a ressuspensão e centrifugação a 2000 g por cinco minutos. Na última lavagem, o sobrenadante foi retirado e o pellet homogeneizado. Em seguida, foram pipetados 60 µL do Anticorpo Policlonal de Coelho fração F(ab')2 Anti-Imunoglobulina G Humana - Cadeia Gama conjugado à Fluoresceína Isotiocianato (FITC) (INVITROGEN, Carlsbad, CA, EUA), previamente diluído em água autoclavada (1:50). Após incubação à temperatura ambiente por 45 minutos ao abrigo de luz, seguiu-se novamente a lavagem com PBS-EDTA 0,1% (± 2 mL), ressuspensão e centrifugação a 2000 g por cinco minutos. Após retirar o sobrenadante, a amostra foi ressuspendida em 500 µL de PBS-EDTA 0,1%. A leitura das plaquetas sensibilizadas foi realizada em citômetro de fluxo, aparelho FASCalibur® (Becton Dickinson), periodicamente checado com o kit Calibrite™ beads (Becton Dickinson). Com o auxílio do Software CellQuest® (Becton Dickinson) para aquisição e análise, realizou-se a quantificação de partículas analisadas, estabilização do raio laser, padronização da região dos histogramas onde as plaquetas estariam representadas graficamente, estabilização das fluorescências e determinação do gating (demarcação dos eventos a serem estudados). 27 R1 Figura 1. Marcação da população plaquetária analisada Os histogramas das análises foram obtidos da seguinte forma: Histograma 1: Foward Scatter (FS - ordenada) x Log Side Scatter (LSS - abscissa) Histograma 2: Logaritmo da Fluorescência 1 (LFL1) – (abscissa) A demarcação no histograma 1 (FS x LSS) da população plaquetária a ser analisada permite excluir da análise possíveis eventos de autofluorescência de partículas, “debris” celulares, interferências do aparelho (ruídos) e aglutinados plaquetários. A fluorescência inespecífica foi eliminada através da análise prévia de um soro controle negativo. Foram contados 10.000 eventos por teste. Para a padronização do teste com o anticorpo utilizado e determinação dos intervalos de corte para resultados negativos, inconclusivos e positivos, eram testados soros de 24 doadores de sangue, todos masculinos e sem história de exposição prévia a transfusões ou transplantes. Após verificação da homogeneidade e normalidade dos resultados, a média de fluorescência e desvio padrão eram calculados. Valores inferiores ao R1 (média + 1DP/média) foram considerados como resultados negativos; valores entre R1 e R2 (média + 2 DP/média), inconclusivos, e, valores superiores ao R2, positivos. A Figura 2 apresenta a Fluorescência de um paciente com resultado negativo cuja mediana de fluorescência (4.91) esteve abaixo do valor de R1 (1,16). 28 M1 Figura 2. Marcação de plaquetas com IgG FITC. Exemplo de resultado negativo (mediana <R1). A Figura 3 apresenta o resultado de Fluorescência de uma amostra de paciente positiva cuja mediana de fluorescência (33,98) esteve acima do valor de R2 (1,33). M1 Figura 3. Marcação de plaquetas com IgG FITC. Exemplo de resultado positivo (mediana >R2) 3.5 ANÁLISES DE CITOCINAS Os níveis de citocinas nas amostras de soro foram quantificados utilizando o kit Cytometric Bead Array Kits (BD Biosciences). As citocinas IL-2, IL-4, IL-6, IL-10, IL-17, 29 IFN-γ (interferon-γ) e TNF (tumor necrosis factor) foram dosadas de acordo com as orientações do fabricante. 3.6 ANÁLISES ESTATÍSTICAS Para análise estatística utilizou-se o programa GraphPad InStat (GraphPad, San Diego, CA, USA). Todas as variáveis foram submetidas ao teste de Kolmogorov-Smirnov para avaliar se os valores apresentavam distribuição normal e ao teste Levene para testar a homogeneidade das variâncias. Para variáveis categóricas, aplicou-se o Teste do Qui-quadrado e, para variáveis numéricas, o teste de Mann–Whitney. O nível de significância para rejeição da hipótese nula (H0) foi de 5% (p<0,05). 30 4 RESULTADOS Participaram do estudo 56 pacientes, avaliados pelo CCI de 1h em 132 episódios transfusionais de concentrados de plaquetas. A pesquisa de anticorpos anti-plaquetas pela técnica PIFT foi realizada para 54 pacientes em 127 amostras de soro disponíveis e 53 deles (126 amostras) foram testados para anticorpos anti-HLA Classe I e anti GP IIb/IIIa e GP IaIIa. Como o critério para dosagem de citocinas era que a amostra tivesse sido colhida no intervalo de até uma hora antes da transfusão, apenas 100 soros puderam ser avaliados e uma dessas amostras foi a que não pode ser testada pelos testes sorológicos específicos. 4.1 CARACTERÍSTICAS DOS PACIENTES A idade dos pacientes variou de 19 a 85 anos com mediana de 51 anos. Quando segregados, 19 (33,9%) apresentavam idade inferior a 40 anos e 37 (66,1%) idade superior ou igual a 40. Quanto ao gênero, 22 eram femininos (39,3%) e 34 masculinos (60,7%). A maioria das mulheres tinham histórico gestacional (86,4%, n=19). Os pacientes com diagnóstico de câncer mieloproliferativo foram 34, sendo 29 (51,8%) com diagnóstico de Leucemia Mielóde Aguda e cinco com Mielodisplasia (8,9%); aqueles com cânceres linfoproliferativos foram 22, sendo 15 (26,8%) com Linfomas e sete (12,5%) com Leucemias Linfocíticas (quatro agudas e três crônicas). Com relação à caracterização do paciente como refratário ou não, apenas dez pacientes (17,8%) tiveram refratariedade confirmada, 29 (51,8%) eram não refratários e 17 (30,4%) apresentaram um incremento insatisfatório, contudo, uma segunda avaliação não pode ser realizada por razões logísticas. A Tabela 1 apresenta de forma resumida as características dos pacientes incluídos no estudo. 31 Tabela 1. Características dos pacientes do estudo. Características n (%) 56 (100%) Pacientes Idade (anos) <40 ≥40 19 (33.9) 37 (66.1) Gênero Feminino Masculino 22 (39.3) 34 (60.7) Histórico gestacional Diagnóstico Refratariedade 19 (33.9) Mieloproliferativo Leucemia Mielóide Mielodisplasia Linfoproliferativo Leucemia Linfocítica Linfoma Sim Não Não avaliada 29 (51.8) 5 (8.9) 7 (12.5) 15 (26.8) 10 (17.8) 29 (51.8) 17 (30.4) 4.2 CARACTERÍSTICAS DAS TRANSFUSÕES DE PLAQUETAS AVALIADAS O valor do CCI de 1h apresentou resultado insatisfatório em 55 episódios transfusionais (41,7%). As características dos CPs e dos pacientes, conhecidas como capazes de interferir no incremento plaquetário, foram avaliadas em relação ao CCI. 4.2.1 Frequências de incremento insatisfatório em relação às características dos concentrados de plaquetas transfundidos Em 59 episódios (44,7%) foram utilizados CPs obtidos por aférese de doador único e em 73 (55,3%), CPs obtidos de bolsas de sangue total pelo método PRP, utilizando em média seis unidades por episódio transfusional. A frequência de CCI insatisfatório foi significativamente maior entre pacientes que receberam CPs de PRP (57,5%) do que entre aqueles recebendo CPs de aférese (22%) (p<0,0001). 32 Todos os CPs de aférese foram filtrados durante a coleta e 46 (63%) dos CPs de PRP foram filtrados na beira do leito. Quando comparadas as frequências de CCI insatisfatório entre CPs filtrados, a frequência de CCI insatisfatório continuou significativamente maior entre pacientes recebendo PRP (50% versus 22%, respectivamente; p=0,0053). Ao avaliar somente pacientes que receberam CPs obtidos por PRP, os que receberam CPs não filtrados apresentaram CCI insatisfatório mais frequentemente (70,4% versus 50,0%), porém a diferença não foi significativa (p=0,1458). Quanto à compatibilidade ABO entre doadores e receptores, apenas em 15 episódios os pacientes receberam plaquetas incompatíveis (11,4%) e em 12 destes (80,0%) os CPs utilizados eram de aférese. A frequência de CCI insatisfatório foi menor entre pacientes recebendo plaquetas incompatíveis (26,7% versus 43,6%) e não houve diferença significativa (p=0,3303). Os resultados das análises para cada característica dos concentrados de plaquetas encontram-se descritos na Tabela 2. Tabela 2. Análises das características dos concentrados de plaquetas em relação à resposta pós transfusional. Características n Incremento pós transfusional Insatisfatório Satisfatório RR* p n (%) n (%) 42 (57,5) 31 (42,5) 2,6 < 0,0001 13 (22,0) 46 (78,0) Tipo de CP PRP AF 73 59 Leucorreduzidos PRP AF 46 59 23 (50,0) 13 (22,0) 23 (50,0) 46 (78,0) 2,3 0,0053 Leucorredução de PRP Não Sim 27 46 19 (70,4) 23 (50,0) 8 (29,6) 23 (50,0) 1,4 0,1458 Não 15 4 (26,7) 11 (73,3) 0,6 0,3303 Sim 117 51 (43,6) 66 (56,4) *Relação entre resultados insatisfatórios com correções de Katz (teste Qui-quadrado) CP= concentrado de plaquetas; RR= risco relativo; PRP= plasma rico em plaquetas; AF= aférese. Compatibilidade ABO 33 4.2.2 Frequências de incremento insatisfatório em relação às características dos pacientes As características demográficas e condições clínicas referidas no momento da transfusão foram consideradas nas análises de frequência de incremento insatisfatório. Os resultados dessas análises estão descritos a seguir e na Tabela 3. 4.2.2.1 Características demográficas Nos pacientes com idade superior ou igual a 40 anos, a frequência de CCI insatisfatório foi maior (50,6%) do que naqueles com idade inferior (24,4%) e essa diferença foi significativa (p= 0,0069). Ao considerar o gênero, mulheres apresentaram maior frequência de CCI insatisfatório (51,5%) do que homens (31,3%) com diferença significativa (p=0,0294). Entre as mulheres, a frequência de resultado insatisfatório foi significativamente maior entre aquelas com histórico gestacional (56,7% versus 12,5%; p=0,0487). 4.2.2.2 Características Clínicas A análise dos episódios transfusionais quanto ao diagnóstico mostrou que doenças mieloproliferativas estiveram associadas à maior frequência de incremento insatisfatório (50,0%) quando comparadas a doenças linfoproliferativas (26,1%) com diferença significativa (p=0,0135). Em relação à presença de sangramento no momento da transfusão (n=32; 24,2%), pacientes com sangramento tiveram CCI insatisfatório em 53,1% dos casos, enquanto aqueles sem sangramento tiveram resposta insatisfatória em 38,0%. A diferença entre os dois grupos não foi significativa (p=0,1920). Apenas em cinco episódios os pacientes apresentavam esplenomegalia (3,8%) e não houve diferença significativa entre episódios com e sem esplenomegalia quanto a presença de CCI insatisfatório (40,0% versus 41,7%, respectivamente; p=0,9386). A presença de infecção e/ou febre (n=28; 21,2%) foi um fator significativo para maior frequência de CCI insatisfatório (p=0,0118), sendo a frequência entre indivíduos sem infecção e/ou febre de 35,6%, e com infecção e/ou febre de 64,3%. As principais medicações em uso foram vancomicina (43 pacientes) e anfotericina B (15 pacientes). 34 Tabela 3. Análises das características dos pacientes em relação à resposta pós transfusional. Características n Incremento pós transfusional Insatisfatório Satisfatório n (%) n (%) RR* p Demográficas Idade Gênero Histórico Gestacional ≥40 anos 87 44 (50,6) 43 (49,4) <40 anos 45 11 (24,4) 34 (75,6) Feminino 68 35 (51,5) 33 (48,5) Masculino 64 20 (31,3) 44 (68,7) Sim 60 34 (56,7) 26 (43,3) Não 8 1 (12,5) 7 (87,5) Mieloproliferativo 86 43 (50,0) 43 (50,0) Linfoproliferativo 46 12 (26,1) 34 (73,9) Sim 32 17 (53,1) 15 (46,9) Não 100 38 (38,0) 62 (62,0) Sim 5 2 (40,0) 3 (60,0) Não 127 53 (41,7) 74 (58,3) Sim 28 18 (64,3) 10 (35,7) Não 104 37 (35,6) 67 (64,4) 2,1 0,0069 1,7 0,0294 4,5 0,0487 1,9 0,0135 1,4 0,1920 1,0 0,9386 1,8 0,0118 Clínicas Diagnóstico Sangramento Esplenomegalia Febre e/ou Infecção *Relação entre resultados insatisfatórios com correções de Katz (teste Qui-quadrado). RR= risco relativo; 4.2.3 Frequências de incremento insatisfatório em relação à presença de aloanticorpos plaquetários A identificação específica de anticorpos anti-HLA Classe I foi positiva em soros de 24 pacientes (45,3%) e negativa em 29 (54,7%). Quatro pacientes (7,5%) apresentaram resultado positivo para anticorpos anti-GP IIb/IIIa, sendo todos concomitantemente positivos para antiHLA Classe I. Destes, um paciente apresentou especificidade para HPA-1a e um para HPA-1b. Em dois pacientes não foi possível determinar especificidade HPA. Nenhum paciente apresentou positividade anti-GP Ia/IIa. 35 4.2.3.1 Distribuição quanto ao CCI e à porcentagem de PRA-HLA I Com relação à positividade para aloanticorpos anti-HLA Classe I, observou-se que todos os episódios transfusionais em que os indivíduos tinham PRA ≥60% apresentavam CCI insatisfatório (Figura 4). Figura 4. Distribuição dos resultados da Contagem Corrigida do Incremento (CCI) em relação à porcentagem de reatividade contra o painel de antígenos (PRA) HLA Classe I. 36 4.2.3.2 Frequências de incremento insatisfatório em relação ao PRA-HLA I A frequência de CCI insatisfatório foi significativamente maior nas transfusões cujos soros apresentavam positividade para os aloanticorpos investigados (51,5%) quando comparada àqueles com resultados negativos (28,3%) (p=0,0137, Tabela 4). Ao considerar a porcentagem de PRA, os episódios foram divididos em três grupos: PRA negativos (n=60; 47,6%); PRA <60% (n=47; 37,3%) e PRA ≥60% (n=19; 15,1%). A frequência de CCI insatisfatório foi significativamente diferente entre os grupos (p<0,0001) com valores respectivos de 28,3%; 31,9% e 100%. Quando avaliados aos pares, não houve diferença significativa entre o grupo com PRA negativo e o grupo com PRA <60% (p=0,8502). Então, esses dois foram agrupados e a diferença entre o novo grupo (n=107, 84,9%) e o grupo PRA ≥60% foi também significativa (100% versus 29,9%, respectivamente; p<0,0001). Todas as comparações quanto aos resultados do PRA-HLA I em relação à resposta transfusional estão demonstradas na Tabela 4. Tabela 4. Comparações entre os resultados do PRA-HLA I e do incremento pós transfusional de acordo com presença ou não de aloanticorpos e porcentagem de PRA. PRA- HLA I Incremento pós transfusional Insatisfatório n (%) Satisfatório n (%) 34 (51,5) 32 (48,5) 17 (28,3) 43 (71,7) Positivo Negativo n 66 60 p Positivo ≥60% Positivo <60% Negativo 19 47 60 19 (100,0) 15 (31,9) 17 (28,3) 0 (0,0) 32 (68,1) 43 (71,7) <0,0001 Positivo <60% Negativo 47 60 15 (31,9) 17 (28,3) 32 (68,1) 43 (71,7) 0,8502 0,0137 Positivo ≥60% 19 19 (100,0) 0 (0,0) < 0,0001 Negativo e positivo <60% 107 32 (29,9) 75 (70,1) PRA=Reatividade contra Painel de Antígenos; HLA I=Antígenos Leucocitários Humanos de Classe I. Teste Qui-quadrado. 37 4.3 EFETIVIDADE DO PIFT Os resultados do PIFT foram positivos para 30 pacientes (53,6%), negativos para 17 (30,4%) e inconclusivos para sete (12,5%). Dentre os 127 episódios transfusionais cujas amostras de soro foram analisadas, 55 (43,3%) foram PIFT positivos; 55 (43,3%), negativos e 17 (13,4%) inconclusivos. Os resultados quanto à efetividade do PIFT em relação ao PRA-HLA I, porcentagem de PRA-HLA I e CCI estão descritos a seguir e demonstrados na Tabela 5. 4.3.1 Efetividade do PIFT em relação ao PRA-HLA I A comparação dos resultados do PIFT aos resultados do teste de identificação específica de anticorpo anti-HLA Classe I demonstrou concordância em 32 testes positivos (25,4%) e em 30 (23,8%) testes negativos. Houve discordância em 22 testes (17,5%) PIFT positivo/HLA I negativo e em 25 testes (19,8%) PIFT negativo/HLA I positivo. Os resultados do PIFT foram inconclusivos em nove testes (7,1%) HLA I positivos e em oito testes (6,4%) HLA I negativos. As frequências não foram significativamente diferentes (p=0,1810), sendo a sensibilidade e a especificidade do PIFT (teste Qui-quadrado) em relação ao teste de detecção de anticorpo antiHLA I de 56,1% e 57,7%, respectivamente. Os valores preditivos positivo e negativo foram 59,3% e 54,6%, respectivamente, com razão de chance de 1,3 (Tabela 5). 4.3.2 Efetividade do PIFT em relação à porcentagem de PRA-HLA I Quando o PIFT foi avaliado em relação à porcentagem de PRA do teste anti-HLA I, os resultados foram significativamente diferentes considerando-se as associações com PRA <60% e PRA ≥60% (p<0,0001). O PIFT foi positivo em 17 amostras (13,4%) com PRA ≥60% e em 37 amostras (29,4%) com PRA<60%. Já as amostras com PIFT negativo, foram todas PRA<60% (n=55; 43,7%). Os resultados foram inconclusivos em duas amostras (1,6%) PRA ≥60% e em 15 (11,9%) PRA<60%. A sensibilidade e especificidade do PIFT na detecção de resultados PRA ≥60% e PRA <60% foram 100,0% e 59,8%, respectivamente. Os valores preditivos positivo e negativo foram de 31,5% e 100,0%, respectivamente com razão de chance de 2,5. 38 4.3.3 Efetividade do PIFT em relação ao tipo de resposta após a transfusão Em relação ao CCI, os resultados do PIFT eram positivos em 32 (25,2%) episódios cujos incrementos foram insatisfatórios e em 23 (18,1%) dos episódios com incrementos satisfatórios. Os resultados do PIFT foram negativos em 12 (9,4%) episódios de CCI insatisfatório e em 43 (33,9%) de CCI satisfatório. Os resultados inconclusivos em soros de episódios insatisfatórios foram sete (5,5%) e de episódios satisfatórios foram 10 (7,9%). Ao considerar somente resultados positivos e negativos, observou-se que a maior frequência de CCI insatisfatório entre pacientes com PIFT positivo foi significativamente diferente da frequência entre pacientes com PIFT negativo no momento da transfusão (p=0,0002). O PIFT apresentou sensibilidade e especificidade para CCI insatisfatório de 72,7% e 65,2%, respectivamente. O valor preditivo positivo foi de 58,2% e o valor preditivo negativo foi de 78,2% com razão de chance de 2,1. Tabela 5. Comparação entre os resultados do PIFT e os resultados PRA-HLA I, porcentagem de PRA-HLA I e CCI. PIFT Anticorpo anti-HLA I Negativo ≥60% <60% 32 (25,4) 22 (17,5) 17 (13,4) 37 (29,4) 55 (43,7) 15 (11,9) Positivo Positivo n (%) PRA Negativo n (%) 25 (19,8) 30 (23,8) 0 (0,0) Inconclusivo n (%) 9 (7,1) 8 (6,4) 2 (1,6) CCI Insatisfatório Satisfatório 32 (25,2) 23 (18,1) 12 (9,4) 43 (33,9) 7 (5,5) 10 (7,9) p* 0,1810 < 0,0001 0,0002 Sensibilidade* 56,1% 100,0 72,7% Especificidade* 57,7% 59,8 65,2% 59,3% / 54,6% 31,5 / 100,0 58,2% / 78,2% 1,3 2,5 2,1 VPP/ VPN* Razão de chance* *As análises consideraram somente resultados PIFT positivos e negativos (teste Qui-quadrado). PIFT=Teste de Imunofluorescência Plaquetária; HLA I= Antígenos Leucocitários Humanos Classe I; PRA= Reatividade contra Painel de Antígenos; CCI= Contagem Corrigida do Incremento; VPP=Valor Preditivo Positivo; VPN=Valor Preditivo Negativo. 39 4.4 RESULTADOS DO PIFT EM RELAÇÃO AO INCREMENTO E CARACTERÍSTICAS DOS EPISÓDIOS TRANSFUSIONAIS Os resultados do PIFT foram verificados em relação à resposta transfusional de acordo com as características dos CPs e dos pacientes para cada transfusão de plaquetas avaliada. 4.4.1 PIFT e resposta transfusional de acordo com as características dos concentrados de plaquetas Dentre as 58 transfusões de plaquetas cujo o tipo de CP utilizado foi PRP, a frequência de incremento insatisfatório foi significativamente maior (p=0,0015) entre pacientes que apresentavam resultado de PIFT positivo (79,3%, n=23) do que entre aqueles com PIFT negativo (34,5%, n=10). Assim, nos episódios em que CPs de PRP foram utilizados, pacientes com PIFT positivo tinham um risco relativo de apresentar incremento insatisfatório 2,3 vezes maior do que pacientes PIFT negativo (Figura 5). Para os episódios em que foram transfundidos CPs de aférese, a frequência de incremento insatisfatório entre pacientes PIFT positivo (34,6%, n=9) também foi significativamente maior (p=0,0416) comparada à frequência entre pacientes PIFT negativo (7,7%, n=2). O risco relativo de um paciente com PIFT positivo apresentar incremento insatisfatório foi 4,5 vezes maior em relação aos pacientes PIFT negativos nas transfusões de CPs de aférese (Figura 5). Quando as análises foram realizadas somente para pacientes com PIFT positivo, a frequência de incremento insatisfatório foi significativamente maior (p=0,0021) entre as transfusões utilizando PRP (79,3%) do que entre as transfusões utilizando aférese (34,6%). O risco relativo de pacientes com PIFT positivo apresentarem incremento insatisfatório era 2,3 vezes maior para aqueles que recebiam transfusões de PRP (Figura 5). Nos episódios transfusionais em que os pacientes apresentavam PIFT negativo, a frequência de incremento insatisfatório também foi significativamente maior (p=0,0380) entre as transfusões em que o tipo de CP utilizado era PRP (34,5%) do que entre aquelas que o tipo utilizado era aférese (7,7%). Dessa forma, pacientes PIFT negativo que recebiam transfusões de CPs de PRP apresentavam risco relativo de ter incremento insatisfatório 4,5 vezes maior do que aqueles que recebiam transfusões de CPs de aférese (Figura 5). 40 Figura 5. Análise das frequências de incremento insatisfatório e satisfatório de acordo com os resultados do PIFT e tipo de concentrado de plaquetas transfundido. PRP/PIFT positivo versus negativo, p=0,0015; AF/PIFT positivo versus negativo, p=0,0416; PIFT positivo, PRP versus AF, p=0,0021; PIFT negativo, PRP versus AF, p=0,0380. PIFT=Teste de Imunofluorescência Plaquetária; CCI= Contagem Corrigida do Incremento PRP= plasma rico em plaquetas; AF= aférese. Teste Qui-quadrado. Ao considerar uso de CPs de PRP filtrados ou não, os pacientes que recebiam CPs filtrados e tinham PIFT positivo apresentavam incremento insatisfatório mais frequentemente que indivíduos com PIFT negativo (87,5% (n=14) versus 19,0% (n=4)). Essa diferença foi significativa (p=0,0001) e com risco relativo 4,6 vezes maior para pacientes PIFT positivo (Figura 6). Quando o CP de PRP não era filtrado antes da transfusão, a frequência de incremento insatisfatório entre os pacientes com PIFT positivo foi de 69,2% (n=9) e entre os pacientes com PIFT negativo foi de 75% (n=6). A diferença não foi estatisticamente significativa (p=0,7763; após correção de Yates, p=0,0807) (Figura 6). 41 Figura 6. Análise das frequências de incremento insatisfatório e satisfatório de acordo com os resultados do PIFT e filtração dos concentrados de plaquetas de PRP. Filtrado/PIFT positivo versus negativo, p=0,0001; Não filtrado/PIFT positivo versus negativo, p=9,9999. PIFT=Teste de Imunofluorescência Plaquetária; CCI= Contagem Corrigida do Incremento; PRP=Plasma Rico em Plaquetas. Teste Qui-quadrado. 4.4.2 PIFT e resposta transfusional em relação às características dos pacientes As variáveis significativamente relacionadas ao CCI insatisfatório foram verificadas em relação ao PIFT e estão apresentados na Tabela 6. A frequência de incremento insatisfatório nos episódios em que os pacientes tinham idade igual ou superior a quarenta anos foi significativamente mais elevada (p=0,0006) entre os que apresentavam PIFT positivo (69,2%) do que entre aqueles que tinham PIFT negativo (26,5%). Nos episódios em que os pacientes apresentavam idade inferior a 40 anos, a frequência de incremento insatisfatório foi 31,3% entre os PIFT positivos e 14,3% entre os PIFT negativos sem diferença significativa (p=0,4016). Ao comparar episódios com PIFT positivo entre si, a maior frequência de incremento insatisfatório entre aqueles com pacientes de idade ≥40 anos foi significativamente diferente da frequência entre aqueles cuja idade era <40 anos (p=0,0219). Quando avaliada a resposta transfusional entre pacientes femininos, o incremento insatisfatório foi significativamente mais frequente (p=0,0034) entre aquelas com PIFT 42 positivo (71%) do que entre as que tinham PIFT negativo (28,0%). Nas transfusões de pacientes masculinos, a frequência de CCI insatisfatório foi de 41,7% entre os que apresentavam PIFT positivo e de 16,7% entre aqueles com PIFT negativo, mas a diferença não foi significativa (p=0,0832). A diferença entre as transfusões de pacientes femininos e masculinos na presença de PIFT positivo também não foi estatisticamente significativa (p=0,0562). Ao considerar somente mulheres com histórico gestacional, a frequência de episódios com incremento insatisfatório foi maior quando o PIFT era positivo (77,8%) do que quando era negativo (31,8%) (p=0,0032). Os episódios em que os pacientes tinham diagnóstico de doença mieloproliferativa e PIFT positivo apresentaram incremento insatisfatório mais frequentemente que episódios em que os pacientes com o mesmo diagnóstico tinham PIFT negativo (71,9% versus 28,2%). Essa diferença foi significativa (p=0,0006). Quando avaliadas as transfusões de pacientes com doenças linfoproliferativas, aquelas em que o paciente tinha PIFT positivo também apresentavam maior frequência de incremento insatisfatório do que as que o paciente tinha PIFT negativo (39,1% versus 6,2%), contudo a diferença não foi significativa (p=0,0523). Considerando todos os episódios em que os pacientes eram PIFT positivo, a diferença na frequência de incremento insatisfatório entre doenças mieloproliferativas e linfoproliferativas foi significativa (7,9% versus 39,1%; p=0,0315). Na avaliação das transfusões a pacientes com febre e/ou infecção, a frequência de incremento insatisfatório foi de 86,7% entre os episódios com PIFT positivo e de 42,9% entre episódios com PIFT negativo, mas essa diferença não chegou a ser significativa (p=0,1020). Nos episódios em que não houve relato de febre e/ou infecção, resultados PIFT positivos estiveram associados à maior frequência de incremento insatisfatório (47,5%) do que resultados PIFT negativo (18,8%) com diferença significativa (p=0,0080). Ao comparar somente episódios com PIFT positivo, aqueles em que os indivíduos apresentavam febre e/ou infecção cursavam com incremento insatisfatório mais frequentemente (86,7%) que aqueles sem febre e/ou infecção (47,5%) (p=0,0206). Ao considerar concomitância ou não de resultados positivos para PIFT e teste de detecção de anticorpo anti-HLA I específico, nos casos em que o anti-HLA I era positivo, a presença de PIFT positivo esteve significativamente associada a maior frequência de incremento insatisfatório (78,1%) quando comparado aos casos anti-HLA I positivos com PIFT negativo (20,0%) (p<0,0001). Nos episódios com anti-HLA I negativo, não houve diferença 43 significativa na frequência de incremento insatisfatório entre os casos PIFT positivo e PIFT negativo (31,8% versus 23,3%; p=0,7150). Tabela 6. Análises das frequências de incremento insatisfatório de acordo com as características dos pacientes e concentrados de plaquetas em relação aos resultados do PIFT. Características n PIFT Positivo CCI CCI Insatisfatório Satisfatório n (%) n (%) n PIFT Negativo CCI CCI Insatisfatório Satisfatório n (%) n (%) RR* p Idade ≥40 anos 39 27 (69,2) 12 (30,8) 34 9 (26,5) 25 (73,5) 2,6 0,0006 <40 anos 16 5 (31,3) 11 (68,7) 21 3 (14,3) 18 (85,7) 2,1 0,4016 Feminino 31 22 (71,0) 9 (29,0) 25 7 (28,0) 18 (72,0) 2,5 0,0034 Masculino 24 10 (41,7) 14 (58,3) 30 5 (16,7) 25 (83,3) 2,5 0,0832 Gênero Gestação Sim 27 21 (77,8) 6 (22,2) 22 7 (31,8) 15 (68,2) 2,4 0,0032 Não 4 1 (25,0) 3 (75,0) 3 0 (0,0) 3 (100,0) --- 0,3496 Diagnóstico Mieloproliferativo 32 23 (71,9) 9 (28,1) 39 11 (28,2) 28 (71,8) 2,5 0,0006 Linfoproliferativo 23 9 (39,1) 14 (60,9) 16 1 (6,2) 15 (93,8) 6,2 0,0523 Sim 15 13 (86,7) 2 (13,3) 7 3 (42,9) 4 (57,1) 2,0 0,1020 Não 40 19 (47,5) 21 (52,5) 48 9 (18,8) 39 (81,2) 2,5 0,0080 Positivo 32 25 (78,1) 7 (21,9) 25 5 (20,0) 20 (80,0) 3,9 <0,0001 Negativo 22 7 (31,8) 15 (68,2) 30 7 (23,3) 23 (76,7) 1,4 0,7150 Febre e/ou infecção Aloimunização PIFT=Teste de Imunofluorescência Plaquetária; CCI= Contagem Corrigida do Incremento; RR= Risco Relativo; PRP=Plasma Rico em Plaquetas; AF= aférese. Teste Qui-quadrado. 4.5 PERFIL DAS CITOCINAS SÉRICAS ANTES DA TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS E RELAÇÃO COM O INCREMENTO PÓS TRANSFUSIONAL Ao avaliar os níveis de citocinas séricas nas 100 amostras de soro colhidas antes da transfusão, 35 correspondiam a episódios com incremento pós transfusional insatisfatório e 65 a episódios com incremento satisfatório. As medianas dos valores de citocinas em cada situação foram significativamente diferentes somente na análise dos níveis de IL-6 (p=0,0119) com valores de 23,8 pg/mL (variando de 0,0 a 15.713,0 pg/mL) antes das transfusões com 44 incremento insatisfatório e de 7,0 pg/mL (variando de 0,0 a 9.473,6 pg/mL) entre transfusões com incremento satisfatório. Os episódios que cursaram com incremento insatisfatório também apresentaram valores superiores de IL-10 (3,8 pg/mL; variando de 0,0 a 3640,8 pg/mL) e IFN-γ (2,4 pg/mL; variando de 0,0 a 16,9 pg/mL) quando comparados aos níveis nos episódios com incremento satisfatório (IL-10 de 2,9 pg/mL variando de 0,0 a 1249,0 pg/mL; IFN-γ 2,0 pg/mL variando de 0,0 a 19,9 pg/mL), contudo, as diferenças não foram significativas (p=0,0779 e p=0,0623, respectivamente). Os valores de IL-4 antes da transfusão foram de 1,2 pg/mL (variando de 0,0 a 3,1 pg/mL) em episódios com incremento insatisfatório e de 1,4 pg/mL (variando de 0,0 a 3,5 pg/mL) nos episódios com incremento satisfatório (p=0,6793). Os níveis de TNF antes da transfusão foram de 1,4 pg/mL (variando de 0,0 a 2,6 pg/mL) nos episódios insatisfatórios e de 1,4 pg/mL (variando de 0,0 a 2,8 pg/mL) nos episódios satisfatórios (p=0,9740). Os níveis de IL-2 e IL-17 foram indetectáveis na maioria dos episódios com valores de mediana de 0,0 pg/mL em episódios insatisfatórios e satisfatórios de ambas citocinas. Os níveis de IL-2 nos episódios insatisfatórios variaram de 0,0 a 3,0 pg/mL e nos satisfatórios de 0,0 a 4,6 pg/mL (p=0,9016). Os níveis de IL-17 variaram de 0,0 a 160,1 pg/mL entre episódios insatisfatórios e de 0,0 a 81,6 pg/mL nos episódios satisfatórios (p=0,6265). Os resultados das análises descritas, com exceção das análises de IL-2 e IL-17, estão demonstrados na Figura 7. 45 Figura 7. Comparação entre os níveis de citocinas antes da transfusão de plaquetas de acordo com o incremento pós transfusional. CCI= Contagem Corrigida do Incremento. Teste de Mann-Whitney; * p=0,0119. 4.5.1 Níveis de IL-6 antes da transfusão de plaquetas de acordo com características dos CPs e relação com incremento pós transfusional Os episódios em que CPs de PRP foram transfundidos e que cursaram com incremento insatisfatório apresentaram níveis de IL-6 mais elevados do que os que cursaram com incremento satisfatório (p=0,0133). A mediana dos níveis de IL-6 entre episódios insatisfatórios foi de 29,9 pg/mL (variando de 2,4 a 15.713,0) e entre satisfatórios de 5,0 pg/mL (variando de 0,0 a 3.658,4 pg/mL) (Tabela 7). 46 Ao analisar os episódios em que CPs de aférese foram transfundidos, observou-se que episódios com incremento insatisfatório apresentaram mediana de 7,7 pg/mL (variando de 0,0 a 4.481,3 pg/mL) e episódios com incremento satisfatório, mediana de 9,6 pg/mL (variando de 0,0 a 9.473,6 pg/mL). Não houve diferença significativa entre os níveis observados nas duas situações (p=0,5858) (Tabela 7). Quando considerados somente os episódios transfundidos com CPs de PRP filtrados em beira de leito, os níveis de IL-6 foram maiores entre aqueles com incremento insatisfatório (mediana 19,94 pg/mL; variando de 2,8 a 15.713,0 pg/mL) quando comparados aos níveis nos episódios satisfatórios (mediana 5,4 pg/mL; variando de 0,0 a 3.658,4 pg/mL), apesar de não haver diferença significativa (p=0,1188) (Tabela 7). Tabela 7. Análise dos níveis de IL-6 (pg/mL) antes da transfusão em relação ao incremento pós transfusional de acordo com as características dos concentrados de plaquetas. Características n Incremento pós transfusional Insatisfatório Satisfatório Mediana de IL-6 Mediana de IL-6 n (mín-máx) (mín-máx) p Concentrado de Plaquetas PRP 26 29,9 (2,4- 15.713,0) 28 AF 9 7,7 (0,0- 4.481,3) 37 5,0 (0,0- 3.658,4) 9,6 (0,0- 9.473,6) 0,0133 0,5858 Leucorredução de PRP 19,94 5,4 22 (2,8- 15.713,0) (0,0- 3.658,4) 49,9 4,0 Não filtrado 16 6 (2,4- 2.292) (2,8- 305,1) PRP=Plasma Rico em Plaquetas; AF= aférese. Teste de Mann-Whitney. Beira de leito 10 0,1188 4.5.2 Níveis de IL-6 antes da transfusão de plaquetas de acordo com características dos pacientes e relação com incremento pós transfusional Os níveis de IL-6 foram significativamente maiores nos episódios com incremento insatisfatório em relação aos satisfatórios quando avaliado somente transfusões a pacientes com idade <40 anos (p=0,0135). A mediana para episódios insatisfatórios foi de 34,0 pg/mL (variando de 4,8 a 15.713,0 pg/mL) e para os satisfatórios de 4,8 pg/mL (variando de 0,0 a 9.473,6 pg/mL). Na análise similar das transfusões administradas a pacientes com idade ≥40 anos, não houve diferença significativa (p=0,3060); a mediana para insatisfatórios foi de 12,3 47 pg/mL (variando de 0,0 a 4.481,3 pg/mL) e para satisfatórios foi de 14,4 pg/mL (variando de 0,0 a 3.658,4 pg/mL) (Tabela 8). A análise dos níveis de IL-6 nas transfusões de pacientes mulheres mostrou níveis mais elevados nos episódios com incremento insatisfatório (mediana 83,4 pg/mL, mínimo 2,4 e máximo 15.713,0 pg/mL) em relação aos episódios com incremento satisfatório (mediana de 14,7 pg/mL, mínimo 1,3 e máximo 646,9 pg/mL). A diferença entre os níveis nas duas situações foi significativa (p=0,0230). A análise feita apenas com homens não mostrou diferença significativa (p=0,3695). Nos episódios com incremento insatisfatório, a mediana foi de 6,2 pg/mL (mínimo 0,0 e máximo 71,3 pg/mL) e, nos episódios satisfatórios, foi de 5,2 pg/mL (mínimo 0,0 e máximo 9.473,6 pg/mL). Ao considerar somente episódios de transfusão a mulheres com história gestacional, os níveis de IL-6 naqueles que o incremento foi insatisfatório apresentaram mediana de 83,4 pg/mL (mínimo 2,4 e máximo 15713,0 pg/mL) e naqueles com incremento satisfatório, mediana de 17,6 pg/mL (mínimo 3,6 e máximo 646,9 pg/mL) (Tabela 8). As análises das transfusões a pacientes com doenças mieloproliferativas mostraram mediana de 23,8 pg/mL (variando de 2,4 a 4.481,3 pg/mL) nos casos em que o incremento foi insatisfatório e de 12,8 pg/mL (variando de 0,0 a 3.658,4 pg/mL) nos casos satisfatórios, mas a diferença não foi significativa (p=0,1953). Dentre indivíduos com doença linfoproliferativa, houve diferença significativa (p=0,0484) quando os níveis de IL-6 nos episódios com incremento insatisfatório (22,7 pg/mL, variando de 0,0 a 15.713,0 pg/mL) foram comparados aos níveis nos episódios com incremento satisfatório (4,9 pg/mL, variando de 0,0 a 9.473,6 pg/mL) (Tabela 8). Os pacientes com relato de febre e/ou infecção no momento da transfusão que cursaram com incremento insatisfatório apresentaram níveis de IL-6 com mediana de 149,5 pg/mL (variando de 2,4 a 15.713,0 pg/mL) e aqueles que cursaram com incremento satisfatório apresentaram níveis com mediana de 76,9 pg/mL (variando de 0,0 a 3.658,4 pg/mL), as diferenças nos níveis de IL-6 entre as duas situações não foram significativas (p=0,9682). Os pacientes sem relato de febre e/ou infecção que cursaram com incremento insatisfatório tiveram níveis com mediana de 10,3 pg/mL (variando de 0,0 a 2.292,5 pg/mL) e os com incremento satisfatório, mediana de 5,7 pg/mL (variando de 0,0 a 9.473,6 pg/mL). A diferença nos níveis de IL-6 entre esses que não tinham relato de febre foi significativa (p=0,0175) (Tabela 8). Os episódios em que os pacientes apresentavam resultados positivos para anticorpos anti-HLA I tiveram mediana de 12,3 pg/mL (variando de 0,0 a 4.481,3 pg/mL) entre aqueles 48 que tiveram incremento insatisfatório e de 6,4 pg/mL (variando de 0,0 a 646,9 pg/mL) entre os que tiveram incremento satisfatório (Tabela 8). Essa diferença foi significativa (p=0,0284). Quando os pacientes apresentavam resultados negativos para anticorpos anti-HLA I, a mediana foi de 50,9 pg/mL (variando de 2,8 a 15.713,0 pg/mL) entre os que cursaram com incremento insatisfatório e de 11,8 pg/mL (variando de 0,0 a 9.473,6 pg/mL) entre os que cursaram com incremento insatisfatório, a diferença entre eles não foi significativa (p=0,0634) (Tabela 8). Tabela 8. Análise dos níveis de IL-6 (pg/mL) antes da transfusão em relação ao incremento pós transfusional de acordo com as características dos pacientes. Características n Incremento pós transfusional Insatisfatório Satisfatório mediana mediana n (mín-máx) (mín-máx) p Idade ≥40 anos 27 <40 anos 8 12,3 (0,0- 4.481,3) 34,0 (4,8- 15.713,0) 34 31 14,4 (0,0- 3.658,4) 4,8 (0,0- 9.473,6) 0,3060 0,0135 Gênero Feminino 20 Masculino 15 83,4 (2,4- 15.713,0) 6,2 (0,0- 71,3) 24 41 14,7 (1,3- 646,9) 5.2 (0,0- 9.473,6) 0,0230 0,3695 Histórico Gestacional Sim 20 83.4 (2.4- 15713.0) 19 17.6 (3.6- 646.9) 0.1560 Não 0 ---- 5 2.6 (1.3- 3.8) ---- Aloimunização Positivo 23 Negativo 12 12,3 (0,0- 4.481,3) 50,9 (2,8- 15.713,0) 24 40 6,4 (0,0- 646,9) 11,8 (0,0- 9.473,6) 0,0284 0,0634 Diagnóstico Mieloproliferativo 25 Linfoproliferativo 10 23,8 (2.4- 4.481.3) 22,7 (0,0- 15.713,0) 33 32 12,8 (0,0- 3.658,4) 4,9 (0,0- 9.473,6) 0,1953 0,0484 Febre e/ou infecção Sim 10 Não 25 149,5 (2,4- 15.713,0) 10,3 (0,0- 2.292,5) Teste de Mann-Whitney. 49 9 56 76,9 (0,0- 3.658,4) 5,7 (0,0- 9.473,6) 0,9682 0,0175 4.6 NÍVEIS DE IL-6 ANTES DA TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS DE ACORDO COM RESULTADOS DO PIFT E RELAÇÃO COM INCREMENTO PÓS TRANSFUSIONAL Ao analisar os níveis de IL-6 antes da transfusão entre pacientes com resultado PIFT positivo, observou-se mediana de 8,8 pg/mL (variando de 2,4 a 4.481,3 pg/mL) nos episódios que apresentaram incremento insatisfatório e mediana de 12,8 pg/mL (variando de 0,0 a 9.473,6 pg/mL) naqueles que apresentaram incremento satisfatório. A diferença entre os dois níveis não foi significativa (p=0,6624) (Tabela 9). Nos episódios em que os pacientes apresentavam resultado PIFT negativo, os níveis de IL-6 foram significativamente diferentes (p=0,0037). As transfusões com incremento insatisfatório apresentaram mediana de 66,1 pg/mL (variando de 2,8 a 15.713,0 pg/mL) e as transfusões com incremento satisfatório, mediana de 5,4 pg/mL (variando de 0,0 a 3.658,4 pg/mL) (Tabela 9). Tabela 9. Análise dos níveis de IL-6 antes da transfusão em relação ao incremento pós transfusional de acordo com resultados do PIFT. PIFT CCI n Insatisfatório n Satisfatório p Positivo 18 8,8 (2,4- 4481,3) 21 12,8 (0,0- 9473,6) 0,6624 mediana (mín-máx) Negativo 11 66,1 (2,8-15713,0) 36 5,4 (0,0- 3658,4) 0,0037 mediana (mín-máx) PIFT=Teste de Imunofluorescência Plaquetária; CCI= Contagem Corrigida do Incremento. Teste de Mann-Whitney. 50 5 DISCUSSÃO A avaliação da efetividade da transfusão de plaquetas através do CCI é muito pertinente nas transfusões de indicação profilática (HOD; SCHWARTZ, 2008; SLICHTER et al., 2005), bem como em pacientes com sangramento ativo, quando há limitações para monitoração e avaliação do grau de sangramento (HEIM et al., 2008; KERKHOFFS et al., 2008). Assim, este estudo incluiu uma seleção randômica de pacientes onco-hematológicos avaliados pelo CCI. Dessa forma, os dados refletem o comportamento de uma rotina clínica durante tratamento da trombocitopenia nesses pacientes. As frequências de CCI insatisfatório (41,7%) e refratariedade plaquetária (25,6%) observadas foram similares àquelas relatadas na literatura que variaram de 19% a 34% (FERREIRA et al., 2011; HEIM et al., 2008; KERKHOFFS et al., 2008; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). Apesar da heterogeneidade das transfusões e dos pacientes, os resultados apresentados quanto aos fatores capazes de interferirem adversamente no incremento pós transfusional (Tabela 2) confirmaram observações de estudos anteriores (FERREIRA et al., 2011; HEIM et al., 2008; LEGLER et al., 1997; SLICHTER et al., 2005; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). Nas transfusões em que o tipo de CP administrado foi o PRP, a frequência de incremento insatisfatório foi maior do que nas transfusões de CPs de aférese (57,5% versus 22%), similar ao observado por outros estudos (FERREIRA et al., 2011; HEIM et al., 2008; LEGLER et al., 1997; SEFTEL et al., 2004; SLICHTER et al., 2005; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). Os fatores responsáveis por essa diferença podem ser procedimento de obtenção, tipo de solução aditiva da bolsa, tempo de estocagem, quantidade de leucócitos e níveis de mediadores inflamatórios acumulados durante a estocagem (APELSETH et al., 2011; COSTA et al., 2012; COGNASSE et al., 2006; MUYLLE et al., 1993; SEFTEL et al., 2004). Quando avaliado o efeito da filtração, esse procedimento poderia desencadear ativação das plaquetas ou diminuir a apresentação direta de antígenos pelos leucócitos do doador. Contudo, não observou-se prejuízo ou benefício da resposta transfusional, pois não houve diferença significativa entre CPs de PRP filtrados e não filtrados. No entanto, ao comparar somente os incrementos de transfusões com CPs desleucocitados, aqueles em que a filtração ocorreu em beira de leito (PRP) apresentaram maior frequência de incremento insatisfatório do que aqueles com CPs filtrados durante a coleta (AF). Esse resultado sugere que a presença de leucócitos durante a estocagem prejudica a eficácia da transfusão devido à produção de 51 mediadores inflamatórios que interagem com fatores intrínsecos ao paciente (APELSETH et al., 2011; SEMPLE et al., 2007). A influência significativa da idade, aqui apresentada e também em outros estudos, tem sido atribuída à maior atividade imunológica em indivíduos jovens e à senescência do sistema imune nos mais velhos (SLICHTER et al., 2005). Por outro lado, deve-se considerar também que a presença de comorbidades é mais frequente e acumulada nesses últimos. O gênero também foi outro fator demográfico importante. O gênero feminino reflete principalmente o efeito da sensibilização prévia a antígenos específicos das GPs plaquetárias e da molécula HLA de Classe I. Isto pelo fato de que somente três das pacientes não apresentavam histórico gestacional e mulheres nulíparas apresentam risco de incremento insatisfatório menor que homens (PAVENSKI; FREEDMAN; SEMPLE, 2012; SLICHTER et al., 2005). Em relação aos fatores clínicos, o incremento insatisfatório foi mais frequente entre episódios de pacientes com doença mieloproliferativa. Provavelmente essa segregação reflete o perfil demográfico desses pacientes, tipo de tratamento, maior exposição a hemocomponentes e condições associadas (HEIM et al., 2008; KERKHOFFS et al., 2008; LEGLER et al., 1997; SLICHTER et al., 2005; STANWORTH et al., 2010). Ao considerar condições clínicas no momento da transfusão, somente a presença de febre e/ou infecção demonstrou efeito significante. No entanto, a falta de associação com sangramento, esplenomegalia e medicações em uso, pode ser devido ao tamanho da amostra ou por ter sido avaliado somente o CCI de 1h, visto que essas condições podem apresentar efeitos mais significativos após período mais extenso avaliado pelo CCI de 16h-24h (HEIM et al., 2008; HOD; SCHWARTZ, 2008; KERKHOFFS et al., 2008). Os mecanismos associados com presença de infecção e baixo incremento na contagem de plaquetas após a transfusão não foram ainda claramente elucidados (HOD; SCHWARTZ, 2008; STOKES; GRANGER, 2012). Em casos de sepse e CIVD, é possível que a resposta seja prejudicada por consumo e sequestro em microvasculatura periférica, contudo, não houve nenhum relato dessas condições nos pacientes do estudo. Mas, é possível que as plaquetas tenham aderido às células endoteliais e neutrófilos devido à inflamação e ativação decorrentes da infecção, estabelecendo um quadro de sequestro em capilares periféricos, pulmões, fígado e intestinos (COX; KERRIGAN; WATSON, 2011; STOKES; GRANGER, 2012). Além disso, pacientes com infecção podem apresentar anticorpos não específicos contra plaquetas e efeito sinérgico de endotoxinas (p. ex. LPS) a anticorpos plaquetários, situações que intensificam a fagocitose e lise das plaquetas (COX; KERRIGAN; WATSON, 2011; GENTILE et al., 2013; 52 KAPUR et al., 2014; PEERSCHKE; YIN; GHEBREHIWET, 2010; SEMPLE et al., 2007; STOKES; GRANGER, 2012; TAYLOR et al., 2000). A frequência de pacientes com aloanticorpos esteve entre aquelas demonstradas em outros estudos (entre 20% a 60%) (FERREIRA et al., 2011; HEIM et al., 2008; HOD; SCHWARTZ, 2008; LEGLER et al., 1997; SLICHTER et al., 2005; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). A investigação de aloanticorpos se faz relevante porque os mesmos podem reagir com as plaquetas do doador transfundidas e diminuir função e sobrevida in vivo (PAVENSKI; FREEDMAN; SEMPLE, 2012; SLICHTER et al., 2005). Contudo, como esperado, somente 51,5% dos episódios onde aloanticorpos foram detectados manifestaram incremento insatisfatório. Esses resultados reafirmam que a presença de aloanticorpos não é fator determinante de incremento insatisfatório (FERREIRA et al., 2011; HEIM et al., 2008; KERKHOFFS et al., 2008; LEGLER et al., 1997; QUAGLIETTA et al., 2012; SLICHTER et al., 2005; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). Por exemplo, no estudo do TRAP (1997), 45% dos indivíduos do grupo controle desenvolveram anticorpos anti-HLA I e somente 13% deles desenvolveram refratariedade. Embora nem todos os aloanticorpos sejam “patogênicos”, continua incerto o porquê de nem todos os pacientes apresentarem resposta pós transfusional inadequada (HOD; SCHWARTZ, 2008; PAVENSKI; FREEDMAN; SEMPLE, 2012). Quais fatores imunomoduladores do paciente ou do doador são capazes de exercer um papel significativo na aloimunização e refratariedade plaquetária? Neste âmbito, a alta sensibilidade dos atuais métodos empregados na detecção de aloanticorpos anti-HLA I tem sido discutida pela falta de significância clínica em muitos casos, possivelmente devido à baixa avidez e/ou baixos títulos (JACKMAN et al., 2013). Além disso, devido à alta variabilidade polimórfica do sistema HLA, deve-se considerar que indivíduos reativos a menor proporção de antígenos terão menor probabilidade de receberem componentes antígeno positivos quando comparada à probabilidade para indivíduos de alta reatividade (VASSALO et al., 2014). Portanto, a porcentagem de PRA dos pacientes no momento da transfusão foi verificada em relação ao CCI. Ainda que a correlação tenha sido baixa, foi possível observar que todas as transfusões a pacientes com PRA ≥ 60% apresentaram incremento insatisfatório (CCI ≤ 5.000 plaquetas/µL). Quando avaliada a eficiência do PIFT na detecção de anticorpos em relação ao teste PRA-HLA I, sua sensibilidade e especificidade foram baixas. Mas ainda assim, em relação ao CCI, o PIFT apresentou associação mais evidente que o PRA-HLA I. A sensibilidade do PIFT é limitada pelo fato de que o teste consiste no uso de plaquetas de apenas dois doadores 53 aleatórios (BUB et al., 2013), mas diante de um soro com PRA ≥60%, essa sensibilidade aumenta. Como pacientes com PRA ≥60% são os que apresentam maior risco de ter um incremento insatisfatório, isso nos leva a acreditar que o PIFT seja um bom teste de triagem, especialmente para os pacientes oncohematológicos. Quanto à baixa especificidade do PIFT, isso não é de todo ruim, pois se ele detecta qualquer anticorpo que se liga à superfície das plaquetas, além dos aloanticorpos, é possível que falsos resultados positivos incluam anticorpos relacionados à infecção e ao depósito de imunocomplexos (BUB et al., 2013; HEIKAL; SMOCK, 2013; ROMERO-GUZMAN et al., 2000) que podem ocasionar incremento insatisfatório (STOKES; GRANGER, 2012). Episódios com infecção apresentaram maior frequência de incremento insatisfatório quando o PIFT era positivo, mas não houve diferença significativa, provavelmente pelo pequeno número de episódios com infecção. Além disso, como algumas GPs são passíveis de sofrer alteração conformacional devido aos processos de lavagem e de lise da técnica do MAIPA, o PIFT pode ser capaz de detectar maior gama de aloanticorpos por utilizar plaquetas frescas e íntegras (BUB et al., 2013). Mais uma vez, o PIFT pode ser um bom teste de triagem a ser complementado com técnicas mais específicas e correlacionado com a clínica. Os resultados também mostraram que a transfusão de aférese foi um fator protetor como já demonstrado por outros estudos (FERREIRA et al., 2011; HEIM et al., 2008; THE TRAP STUDY GROUP, 1997). A presença de resultado PIFT positivo seguida da transfusão de CPs PRP esteve associada ao maior risco de incremento inadequado. Assim, o prévio conhecimento de que o paciente tem um PIFT positivo pode ser um critério para transfusão de CPs de aférese quando disponível e a seleção de plaquetas compatíveis não for uma opção factível. A intenção de investigar níveis séricos das citocinas antes da transfusão de plaquetas foi avaliar se os níveis desses mediadores refletiriam um estado de predisposição do paciente ao consumo, sequestro ou destruição de plaquetas. Essa avaliação foi feita com base no CCI uma hora após a transfusão e de acordo com a presença de fatores capazes de interferir na resposta à transfusão de plaquetas. A própria doença de base, os fatores demográficos e clínicos, bem como a resposta aloimune podem estar associados ao perfil de citocinas do paciente antes da transfusão (HOD; SCHWARTZ, 2008; PAVENSKI; FREEDMAN; SEMPLE, 2012; STOKES; GRANGER, 2012). Assim, os níveis de citocinas poderiam estar também associados à resposta pós transfusional. 54 Foram encontrados níveis circulantes de IL-6 mais elevados nos soros dos pacientes que cursaram com incremento insatisfatório em comparação àqueles que apresentaram resposta satisfatória. As demais citocinas verificadas não apresentaram diferenças significativas de acordo com o incremento pós transfusional dos episódios avaliados. Apesar de todas as variações e particularidades, IL-6 parece ser um bom marcador na predição da resposta à transfusão. A IL-6 é uma citocina que atua principalmente como mediador pró-inflamatório (BURGER, 2013; SCHELLER et al., 2011). Estudos demonstraram sua associação a reações transfusionais não hemolíticas e pior prognóstico em pacientes onco-hematológicos e sépticos (GENTILE et al., 2013; MIHARA et al., 2012). Devido ao envolvimento tanto em reações inflamatórias locais quanto sistêmicas e ao fato de ser produzida por quase todas as células do organismo, é improvável não encontrar níveis séricos aumentados de IL-6 em condições patológicas (BURGER, 2013; SCHELLER et al., 2011). Sob condições fisiológicas normais, a expressão gênica de IL-6 é induzida principalmente por estímulos que causam uma resposta inflamatória, tais como TNF-α e -β, IL1, endotoxinas bacterianas e LPS, infecção viral e interferons (MIHARA et al., 2012). Suas ações principais incluem a indução da expressão de quimiocinas e outros mediadores inflamatórios e múltiplas funções envolvidas na resposta imune de células T, regulação da hematopoiese, indução de reações de fase aguda, além de metabolismo de lipídios, cartilagens e ossos (BURGER, 2013; MIHARA et al., 2012; SCHELLER et al., 2011). Assim, níveis aumentados de IL-6 podem ser a consequência de uma condição base indicando um estado inflamatório que pode predispor à destruição e sequestro das plaquetas transfundidas (STOKES; GRANGER, 2012). Ou, a causa direta do aumento na destruição e sequestro de plaquetas devido à ativação de células endoteliais e leucócitos que irão interagir com as plaquetas (ZAPATA; COX; SALVATO, 2014). Em verdade, isso irá depender da soma de vários fatores que podem ser evidentes ou subclínicos. Nos episódios em que houve positividade para anticorpos anti-plaquetas e resposta insatisfatória, o estado inflamatório pode ter conferido uma propensão à produção e secreção de anticorpos a antígenos estranhos, uma vez que IL-6 atua como adjuvante no direcionamento para o perfil Th2 e induz a diferenciação das células B ativadas em células plasmáticas produtoras de anticorpos (MIHARA et al., 2012; SCHELLER et al., 2011). Isso explicaria os maiores níveis de IL-6 associados aos episódios PRA-HLA I positivos com incremento insatisfatório. 55 Além disso, IL-6 induz a produção de proteína C-reativa pelos hepatócitos, uma das principais proteínas de fase aguda usada na prática clínica como biomarcador sensível à infecção e inflamação (MIHARA et al., 2012). Foi demonstrado recentemente que a PCR interage diretamente com as plaquetas, como cofator na destruição de plaquetas por fagocitose mediada por IgG (KAPUR et al., 2014). Assim, os elevados níveis de IL-6 em pacientes com aloanticorpos que apresentaram incremento insatisfatório, sugere que, devido à um estado inflamatório, as proteínas C-reativas do plasma do paciente podem ter interagido com os aloanticorpos detectados para uma destruição efetiva das plaquetas transfundidas. Por outro lado, nos casos de infecção concomitante, produtos bacterianos, endotoxinas e vírus podem agir sinergicamente com os anticorpos direcionados contra as plaquetas favorecendo a lise e fagocitose das mesmas (SEMPLE et al., 2007; MIHARA et al., 2012; ZAPATA; COX; SALVATO, 2014). Como as infecções podem induzir a produção de IL-6, essa citocina pode ser um marcador para avaliar quando ambos, aloimunização e infecção, podem ser relevantes para interferir na resposta transfusional. A quantidade de indivíduos com infecção foi pequena no presente estudo e mais trabalhos merecem ser desenvolvidos para investigar a soma dos efeitos desses dois fatores, infecção e aloimunização. Nos episódios em que aloanticorpos não foram detectados pelo PIFT, a mediana dos níveis de IL-6 foi pronunciadamente mais elevada naqueles que o incremento foi insatisfatório do que naqueles com incremento satisfatório. Aparentemente, na ausência de anticorpos ligando às plaquetas, os níveis de IL-6 e, por conseguinte, o grau de inflamação, precisaram estar consideravelmente mais elevados para refletirem um posterior incremento insatisfatório. Os altos níveis de IL-6 estão associados com aumento da ativação de células endoteliais promovendo adesão e sequestro de plaquetas (PEERSCHKE; YIN; GHEBREHIWET, 2010). As plaquetas sequestradas nesses sítios terão maior chance de serem também ativadas. Devido ao estresse oxidativo, poderão expressar P-selectina e isso irá favorecer lise e fagocitose dessas plaquetas (ZAPATA; COX; SALVATO, 2014). Nos casos de as plaquetas transfundidas serem de CPs de PRP, a maior frequência de incremento insatisfatório nesses casos pode estar associada ao estado das plaquetas, possivelmente ativadas (COGNASSE et al., 2006; COSTA et al., 2012). Os CPs de aférese parecem ter um efeito protetor onde os níveis de IL-6 do receptor não foram relevantes como nas transfusões de PRP. Muitos mediadores secretados por leucócitos e acumulados durante a estocagem podem ativar as plaquetas (COSTA et al., 2012; MUYLLE et al., 1993; APELSETH et al., 2011). 56 Após serem transfundidas, ao encontrarem um microambiente com células endoteliais e leucócitos também ativados, mediadores lipídicos, citocinas e quimiocinas, estariam mais propensas à adesão celular mesmo na ausência de lesão vascular (STOKES; GRANGER, 2012). Assim, podem rolar e aderir ao endotélio ativado ou aos leucócitos ativados atraídos por quimiotaxia, sendo sequestradas nos capilares, conferindo incremento pós transfusional insatisfatório (STOKES; GRANGER, 2012). 57 6 CONCLUSÕES De acordo com os resultados encontrados, o PIFT parece ser um bom teste de triagem na detecção de anticorpos contra plaquetas. Seu emprego na rotina dos serviços pode ser estimulado por ser um teste menos complexo, mais rápido e mais barato que pode ser realizado para triagem dos pacientes que necessitam da realização de testes mais específicos e de alto padrão. Esse estudo foi o primeiro a demonstrar que os níveis de IL-6 antes da transfusão de plaquetas foram mais elevados em pacientes que apresentaram em seguida um incremento plaquetário insatisfatório. Esses resultados sugerem um estado inflamatório capaz de modular a destruição e sequestro de plaquetas. Além disso, mostrou que níveis mais elevados de IL-6 estiveram associados a pior resposta quando CPs de PRP foram transfundidos, mas não quando CPs de aférese foram transfundidos. Os mecanismos imunológicos envolvidos com baixo incremento após transfusão de plaquetas, precisam ser melhor elucidados para diferenciar quando a falta de incremento ocorre por sequestro ou destruição das plaquetas e quando aloanticorpos e produtos de infecção atuam sinergicamente. Mais estudos podem corroborar para a compreensão do valor de resultados do PIFT e dos níveis séricos de IL-6 na predição de resposta insatisfatória à transfusão de plaquetas. PIFT e possivelmente proteína C-reativa podem vir a ser utilizados na rotina como biomarcadores no monitoramento de pacientes sob esquemas de transfusão crônica de plaquetas e nos critérios de seleção de CPs. Essa estratégia pode ser viável principalmente em serviços onde testes de alto padrão e complexidade como PRA-HLA I e MAIPA, ou seleção de plaquetas compatíveis não fazem parte de sua realidade. 58 7 REFERÊNCIAS ANASETTI, C. et al. Graft-v-host disease is associated with autoimmune-like thrombocytopenia. Blood, v. 73, n. 4, p. 1054-8, 1989. ANDERSON, D. et al. Guidelines on the use of intravenous immune globulin for hematologic conditions. Transfusion Medicine Review, v. 21, n. 2 (Suppl 1), p. 9-56, 2007. APELSETH, T.O. et al. A prospective observational study of the effect of platelet transfusions on levels of platelet-derived cytokines, chemokines and interleukins in acute leukaemia patients with severe chemotherapy-induced cytopenia. Eur Cytokine Netw., v. 22, n. 1, p. 52-62, 2011. APELSETH, T.O. et al. 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Por este motivo, você precisa receber transfusão de plaquetas para aumentar a quantidade destas no seu sangue. Estamos realizando uma pesquisa para saber se após ter recebido a transfusão o seu número de plaquetas subiu para números desejáveis. Para isto precisamos colher seu sangue antes da transfusão e novamente uma e 24 horas após a mesma para verificar sua resposta ao tratamento. Serão coletados no total 20 mL de sangue, três amostras de 5 mL de sangue nos três momentos mencionados e mais uma amostra de 5 mL no primeiro momento. Você poderá ter algum desconforto quando receber uma picada para colher o sangue do seu braço, desconforto este que não traz qualquer risco à sua saúde e será coletado por pessoa qualificada. Ressaltamos que o nosso estudo se propõe a buscar alternativas para aumentar a segurança dos procedimentos empregados na transfusão de plaquetas, especialmente quanto à sua eficácia para o paciente. Ao concordar com a proposta, também serão colhidos, de seu prontuário alguns dados de identificação será feita a avaliação da compatibilidade com as plaquetas do(s) doador(es). Os resultados dos exames realizados serão repassados ao seu médico e ele ficará responsável por lhe informar dos mesmos. Você poderá obter todas as informações que julgar necessárias, fazer todas as perguntas que quiser, antes e durante o andamento da pesquisa e poderá não participar da mesma ou retirar seu consentimento a qualquer momento, sem prejuízo no seu atendimento. 67 Pela sua participação no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro, mas terá a garantia de que todas as despesas necessárias para a realização da pesquisa não serão de sua responsabilidade. Seu nome não aparecerá em qualquer momento do estudo, pois você será identificado com um número. Os resultados individuais deste estudo serão mantidos em sigilo, podendo ser informados apenas à sua pessoa e só serão publicados em conjunto. Caso você não concorde em participar da pesquisa, isso não muda a sua condição de paciente nesta Instituição. Sua participação é totalmente voluntária. Eu, ____________________________________________, declaro que li e entendi as informações relativas a este estudo. Concordo em participar voluntariamente da pesquisa. Tenho liberdade de retirar o meu consentimento em qualquer fase da pesquisa, caso não queira continuar participando da mesma. __________________________, ______ de _______________________de ________. Assinatura_____________________________________________________________ Responsável pela entrevista: ___________________________________________________ Nome / Assinatura Para contato com o pesquisador responsável – cada cidade terá um pesquisador responsável local Uberaba: Helio Moraes de Souza - Fone: (34) 3312-5713 Uberlândia: Paulo Henrique Ribeiro de Paiva - Fone: (34) 3222-8801 Para contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação HEMOMINAS – Fone: (31) 3248 4587 68