g g y Ensino de Administração e o Perfil do Administrador: Contexto Nacional e o Curso de Administração da UNIMEP The Teaching of Administration and the Manager’s Profile: national context and the Administration Course at UNIMEP RESUMO – Qual o perfil ideal de um administrador? Como definir os objetivos de um curso de forma que reflitam as diretrizes da Política Acadêmica da instituição que o oferece? Notadamente, como fazer isso e ainda garantir a formação de um profissional competente? Eis a abordagem deste ensaio, que resgata inicialmente a história do ensino da administração no Brasil, dos primórdios às mais recentes inovações promovidas pelo Ministério da Educação, como o Exame Nacional de Cursos (ENC), tentando identificar o perfil do profissional. Nesse contexto histórico, expõe a evolução do Curso de Administração da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), apresentando a interação de seus agentes, em particular lideranças acadêmicas, alunos e professores, no processo de atualização do curso, e adaptação do perfil do futuro profissional às exigências da sociedade, em conformidade com a política acadêmica da UNIMEP. Tratando a realidade presente, analisa ainda as alterações na atual estrutura do curso e o acúmulo de discussão que se tem até esse momento com relação ao papel do administrador e de seu perfil para atuação diante das inovações históricas nacionais. Palavras-chave: administração – ensino – curso – perfil profissional – currículo. ABSTRACT – What is the ideal profile of a manager? How are the course objectives defined in order to reflect the Academic Policy of its Institution? Primarily, how can this be done while still guaranteeing the formation of a competent professional? This essay first discusses the history of the teaching of Administration in Brazil, from the beginning to the most recent innovations promoted by the Education Ministry, such the National Examination of Courses (ENC), in an attempt to identify the manager’s profile. In this historical context, the evolution of the course impulso 173 nº26 NÁDIA KASSOUF PIZZINATTO Doutora em Administração, área de Marketing, professora da UNIMEP e consultora do Ministério da Educação na área de Administração. [email protected] g g y taught at the Methodist University of Piracicaba (UNIMEP) is presented, showing the interaction among its agents, principally academic leaders, students and professors in the course modernization process and the adaptation of the professional profile to societal requirements. Dealing with the present reality, the changes in the actual structure of the course are analyzed along with the discussions that have taken place up to this time about the manager’s role and profile for work within the national and historical innovations. Keywords: administration – teaching (instruction, education) – course – professional profile – curriculum. A INTRODUÇÃO formação universitária é um processo complexo que exige pesquisas constantes para definir, primeiramente, as características ideais do perfil de um profissional e, em seguida, a composição curricular adequada a essa formação. Nesse processo, interagem – ou pelo menos deveriam interagir – lideranças acadêmicas institucionais, representações estudantis, docentes do mercado de trabalho e associações de classe, tendo como referências as definições legais mínimas do curso em questão, a visão e a missão da instituição superior de ensino, refletidas em sua política acadêmica. Todos esses fatores levam à formulação dos objetivos do curso, concretizados em sua grade curricular e demais atividades extra-curriculares de seu projeto pedagógico. No caso específico do curso de administração, no Brasil, a discussão sobre o perfil do profissional passou por várias etapas, exigindo das instituições de ensino superior adaptações constantes, em especial porque o egresso desse curso atua em cenários em constantes mutações. Este estudo relata a inserção do curso de administração no cenário brasileiro diante das diversas definições do perfil do administrador historicamente definidas, e analisa a questão do Curso de Administação da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) nesse processo, apresentando a interação de suas lideranças acadêmicas na discussão sobre o perfil do administrador desejado e as alterações curriculares realizadas. HISTORICIDADE DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL E O PERFIL DO ADMINISTRADOR Pode-se apontar a Fundação Getúlio Vargas, criada em 1954, como a pioneira, enquanto instituição de ensino superior, na criação dezembro 174 99 g g y do primeiro currículo especializado em administração, tanto pública – através da Escola de Administração Pública (EBAP/FGV- 1952) – quanto de empresas: Escola de Administração de Empresas de São Paulo (eaESP/FGV, 1954). Antes disso, “estudos sistemáticos de administração no Brasil” ocorriam desde 1930, com a fundação do Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT) e do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), em 1931.1 O governo prestigiou a administração pública ao criar, em 1938, o Departamento Administrativo do Serviço Público (dasp), com sua Escola de Serviço Público formando técnicos de administração, que eram enviados para a busca do aperfeiçoamento no exterior.2 A FEA/USP (Faculdades de Economia e Administração) surgiu em 1946, com o objetivo de “formar funcionários para os grandes estabelecimentos de administração pública e privada”.3 Desde essa época, até a década de 40, com o processo de industrialização, iniciou-se o delineamento do perfil do administrador profissional no Brasil. Segundo Martins, o desenvolvimento de uma sociedade, até então basicamente agrária que passava gradativamente a ter seu pólo dinâmico na industrialização, colocou como problema a formação de pessoal especializado para analisar e planificar as mudanças econômicas que estavam ocorrendo, assim como incentivar a criação de centros de investigação vinculados à análise de temas econômicos e administrativos.4 O pioneiro curso da Fundação Getúlio Vargas nos anos 50 teve sua primeira turma formada em 1958. Esse currículo especializado em administração tinha forte influência americana, dado que a FGV firmara, para concretizar a criação dos cursos, convênio com a USAID (Desenvolvimento Internacional do Governo dos Estados Unidos) e a Universidade Estadual de Michigan.5 A ampliação dos cursos de graduação em administração está vinculada a uma idéia de desenvolvimento econômico pertinente àquele contexto histórico que se insere na contradição entre um projeto nacional e a formação monopolista do capital.6 1 2 3 4 5 6 HENRIQUE, 1993. DOCUMENTA, 1993, p. 289. ANDRADE, 1997, pp. 19-20. MARTINS, in ANDRADE, 1997, p. 16. ANDRADE, 1997, p. 19. COVRE, 1990, p. 65. impulso 175 nº26 g g y O perfil do profissional da administração, bem como a definição legal dos seus direitos, prerrogativas e deveres, foram especificados no artigo 3º da Lei 4.769, de 09/09/65, como compreendendo: a) elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, arbitragens e laudos, em que se exija a explicação de conhecimentos inerentes às técnicas da organização; b) pesquisas, estudos, análises, interpretação, planejamento, implantação, coordenação e controle dos trabalhos nos campos de administração e seleção de pessoal, organização, análise, métodos e programas de trabalho, orçamento, administração de materiais e financeira, relações públicas, administração mercadológica, administração da produção, relações industriais, bem como outros campos em que estes se desdobrem ou com os quais sejam conexos; c) exercício de funções e cargos de Técnicos de Administração do Serviço Público Federal, Estadual, Municipal, Autárquico, Sociedades de Economia Mista, empresa estatal, paraestatal e privada, em que fique expresso e declarado o título do cargo abrangido; d) o exercício de funções de chefia ou direção, intermediária ou superior, assessoramento e consultoria em órgãos, ou seus compartimentos, da Administração Pública ou de entidades privadas, cujas atribuições envolvam principalmente a aplicação de conhecimentos inerentes às técnicas de administração; e) o magistério em matérias técnicas do campo de administração e organização.7 A fixação do currículo mínimo do curso de graduação em administração pelo Conselho Federal da Educação (CFE) ocorreu mediante Parecer 307/66. Por ele foi definido o núcleo de matérias considerado o mínimo indispensável para uma adequada formação profissional: matemática, estatítica, contabilidade, teoria econômica, economia brasileira, psicologia aplicada à administração, sociologia aplicada à administração, instituições de direito público e privado (incluindo noções de ética administrativa), legislação social, legislação tributária, teoria geral da administração, administração financeira e orçamento, administração de pessoal, administração de material.8 Na época, o aluno poderia também optar entre direito administrativo, administração da produção e administração de vendas, sendo7 8 PIZZINATTO, 1986, pp. 5-6. CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO, 1993, p. 289. dezembro 176 99 g g y lhe, ainda, exigido um estágio supervisionado de seis meses.9 Na visão de Andrade, “o surto de ensino superior, e em especial o de administração, é fruto da relação que existe, de forma orgânica, entre esta expansão, e o tipo de desenvolvimento econômico adotado após 1964, calcado na tendência para a grande empresa”.10 A década de 70 pautou-se pela expansão dos cursos do ensino superior, e a administração ocupou lugar especial em tal processo, pois se caracteriza como um dos cursos que mais cresceu na época. “No período de 1969/74, enquanto as matrículas totais nos cursos superiores cresceram de 162%, as do curso de Administração, Economia e Ciências afins, no Estado de São Paulo aumentavam em 372%.”11 Por ocasião da fixação do currículo mínimo do curso, a carga horária mínima estabelecida era de 2.700 horas e o formando na área denominava-se técnico em administração. Havia muita prevenção de todos os que atuavam na área com relação ao título que o diploma de graduação outorgava. O Conselho Federal de Administração iniciou movimento no sentido de obter sua substituição pelo título de “administrador “, o que ocorreu em 13/06/85, através da Lei 7.321, a qual, entretanto, não alterou seu “campo e a atividade profissional”. O modelo de desenvolvimento do período de 1969/74 apontava para a necessidade do administrador enquanto profissional gestor do capital. Para a autora, o crescimento das matrículas, nessa época, manteve-se de forma contínua em virtude de um mercado de trabalho em expansão, caracterizado pela necessidade de profissionais que pudessem enfrentar a realidade da expansão das empresas e seu conseqüente processo de centralização e burocratização. (...) o destaque do administrador, como tecnólogo solicitado por excelência, que se realizaria não só pelas oportunidades reais de emprego, mas também pelas necessidades específicas que são colocadas no contexto sócio-econômico-político do Capitalismo Monopolista, requerendo técnicos que lidem com áreas fundamentais do mecanismo de sua manutenção, tais como finanças e marketing.12 Ciente de que a administração é implementada em uma realidade social abrangente e em permanente mutação, a Secretaria de Educação Superior (SESU), do MEC, constituiu em 1982 um grupo de tra9 ANDRADE, 1997, p. 22. Ibid., p. 17. 11 COVRE, 1990, p. 82. 12 Ibid., p. 84. 10 impulso 177 nº26 g g y balho “com o propósito de produzir um anteprojeto de Reformulação Curricular dos Cursos de Administração e submetê-lo à avaliação crítica de universidades, faculdades, associações de profissionais e segmentos outros da área de Administração”.13 Nesse processo, houve a participação do Conselho Federal de Administração, que realizou seminário nacional de 28 a 31 de outubro de 1991, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o objetivo não somente de definir novo currículo mínimo para o curso, mas sobretudo de difundir, entre as instituições de ensino superior, a importância do currículo pleno, tanto no atendimento às necessidades do mercado de trabalho, como também para “mudar seu enfoque de solucionador de problemas, reprodutor das forças produtivas e das relações sociais, para promotor de novas relações produtivas e sociais.”14 Mesmo do ponto de vista da história dos cursos de administração revelaram-se concepções múltiplas sobre a atuação do profissional de administração. As posições, expostas em reportagens e entrevistas, variavam desde os que afirmavam que, “ao se interessar mais por Durkheim que por Morita, as escolas do ramo se esquecem de que devem formar não sociólogos, mas gerentes”, até aqueles que defendiam a carga horária de ensino de disciplinas da área de humanas (como o prof. Marcos Cintra, então diretor da EAESP/FGV), com larga utilização de textos de teóricos como Marx, Weber e Keynes, justificando: “um bom administrador tem de estar aberto e conhecer todas as correntes de pensamento” para “gerenciar conflitos dentro de sua empresa e entender o que acontece na sociedade”. Com outras preocupações, o prof. Alexander Berndt (então chefe do Departamento de Administração da FEA-USP), conclamava ao combate “à visão utilitária”, completando: “não nos interessa criar executivos tipo Charles Chaplin, mas sim gente que pense”.15 A preocupação com a qualidade mobilizou diversas instituições: “a ANGRAD – Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração – e o CFA – Conselho Federal de Administração/ENC – trabalharam conjuntamente para a aprovação do novo currículo mínimo de Administração”.16 A Resolução 02/93 sintetizou o resultado de todo o debate, definindo cargas horárias para categorias de conhecimentos: a) formação básica e instrumental – 720 horas, ou 24% do currículo; 13 14 15 16 CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO, 1993, p. 290. Ibid., p. 291. REVISTA EXAME, 1990. ANDRADE, 1997, p. 25. dezembro 178 99 g g y b) formação profissional – 1.020 horas, ou 34% da duração integral do curso; c) complementares – 960 horas, ou 32% da duração total do curso; d) atividades de estágio supervisionado – 300 horas, ou 10% da duração do curso, que deverá integraliza 3 mil horas. A proposta teve como maior mérito a disponibilização de espaço para adequações curriculares às necessidades regionais, através da formação complementar e do estágio supervisionado, estimulando as instituições à “proposição de novas habilitações, algumas delas, talvez, já reclamadas hoje pela fecunda área de Administração”.17 As instituições de ensino de graduação tiveram até janeiro de 1995 para adequarem a oferta das disciplinas de seus cursos, efetuando, assim, a implantação do perfil do novo currículo, aprovado pela Resolução 02/93. Hoje em dia as universidades têm maior autonomia na definição de seus currículos, o que lhes coloca o desafio de definir o perfil do profissional que, ao mesmo tempo, atenda aos anseios da utopia institucional e encontre colocação no mercado de trabalho. A pesquisa “Perfil e habilidades do administrador” (PHAD), realizada pela ANGRAD em 1996, ouviu cem coordenadores de cursos, entre os vinculados à Associação. Os conceitos mais citados foram os ligados a: a) visão global e humanística: para tomar decisões num mundo diversificado e interdependente; b) formação técnica: em administração, tanto de aspecto técnico quanto científico e prático; c) ética: internalizando valores de responsabilidade social, justiça e ética profissional; d) empreendedorismo: no sentido de antecipar e promover transformações; e) aperfeiçoamento profissional: necessidade de estudo contínuo; f) interdisciplinariedade: visão abrangente na formação do profissional, dado o amplo mercado de atuação. Para atingir esse perfil, os coordenadores ouvidos na Pesquisa PHAD/96 ANGRAD identificaram algumas habilidades, tidas como necessárias ao profissional, tais como: a) compreensão do todo: visão sistêmica e holística; 17 CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO, 1993, p. 294. impulso 179 nº26 g g y b) espírito crítico: uso de raciocínio lógico e analítico na análise de problemas e tomada de decisões; c) comunicação: interpessoal, tanto escrita quanto verbal; f) flexibilidade: para adaptação a situações inesperadas; g) estratégias adequadas: habilidade de seleção das estratégias que mais atendam a interesses interpessoais e institucionais; h) capacidade de decisão: saber decidir entre estratégias alternativas, através da identificação e dimensionamento de riscos; i) inovação: para proposição de modelos de gestão inovadores, o que aponta para outra habilidade necessária, a criatividade; l) interação: buscando formas de atuação em prol de objetivos comuns, o que também leva a outra habilidade, capacidade de trabalho em equipe. A última influência ambiental de peso que atingiu as instituições de ensino de administração foi a inclusão dessa área de saber entre aquelas cujos formandos deveriam ser submetidos ao Exame Nacional de Cursos (ENC) – popularmente denominado Provão –, em 1996, como parte do processo de avaliação do ensino superior no Brasil. Fonte de controvérsias, o ENC foi criado em 24 de novembro de 1995, pela Lei 9.131, aprovada no Congresso Nacional e regulamentada pela Portaria 249, de 18 de março de 1996. O Provão, entretanto, não é o único sistema para avaliar as instituições de ensino superior: desde dezembro de 1993, foi lançado também pela SESU o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB), sistema de avaliação interna e externa para desenvolver uma “cultura de avaliação” a partir de um processo contínuo e sistemático de aprimoramento da qualidade de ensino.18 Assim, o ENC ainda é um instrumento de avaliação do processo do ensino-aprendizagem ligado ao aluno, em fase de aperfeiçoamento, complementado por verificações das condições de oferta dos cursos, pelas instituições de ensino de graduação em administração, realizadas por comissões de especialistas designadas pelo Ministério da Educação especificamente para esse fim. A primeira experiência do ENC ocorreu em 10 de novembro de 1996, prestando o exame alunos de administração, direito e engenharia civil que se formaram no segundo semestre desse ano. A prova realizou-se novamente em 1997 e 1998, em nível nacional, avaliando todos os formandos dos cursos de graduação em administração do país. 18 MEC, 1996. dezembro 180 99 g g y O CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIMEP Enfocando agora a realidade específica do Curso de Administração da UNIMEP implantado em 1964, em plena efervescência política: “(...) foi exatamente a 1º de abril de 1964, quando as interrogações começavam a ser lançadas sobre o que representaria a movimentação dos militares do país, que teve início a história da primeira turma dos cursos superiores do Instituto Educacional Piracicabano”.19 O curso recebeu autorização formal pelo Decreto 66.054 do CFE, de 13/01/70; entretanto, o reconhecimento final do CFE somente viria em 04/12/72, publicado na Documenta do MEC como processo 265/72. O curso funcionou inicialmente vinculado à Faculdade de Economia, Contabilidade e Administração de Empresas (ECA) do Instituto Educacional Piracicabano. Os três primeiros anos do currículo eram comuns, havendo a diferenciação apenas no último ano. A experiência prática do alunado junto às organizações ocorria sem a interferência da instituição, bastando que o aluno trouxesse um documento declarando haver realizado estágio em determinada organização. O estágio foi regulamentado como disciplina constante de currículo apenas em 27 de novembro de 1979. Inicialmente com um único professor responsável pela orientação a todos os discentes (prof. Dorgival Henrique), a atividade foi sofrendo diversos aperfeiçoamentos com a definição de áreas: marketing, recursos humanos, finanças, produção e materiais, com professores orientadores em cada uma delas e a função de supervisão assumida pela profª. Dalila Alves Correia, dando os rumos da atividade. O Curso de Administração passou por algumas alterações curriculares, no intuito de dar-lhe características próprias, já que, antes do primeiro reajuste curricular, ocorrido em 1981, a área de administração propriamente dita participava com apenas 20,2% de sua carga horária.20 As intervenções curriculares efetuadas na oferta de disciplinas do Curso foram reflexo não apenas de imposições legais do Ministério da Educação, como também fruto de debates internos sobre o perfil do profissional que se pretendia formar na Universidade, gerados em primeiro lugar no Colegiado do Departamento de Administração, em seguida pelo Colegiado de Curso (cujo regulamento foi aprovado pelo Conselho de Coordenação do Ensino, Pesquisa e Extensão em 30/11/ 19 20 ACONTECE, 1994. PIZZINATTO, 1986. impulso 181 nº26 g g y 81) e, por fim, norteados pela Política Acadêmica da Universidade Metodista de Piracicaba, em 1992. O plano da primeira Reforma Curricular do Curso, aprovada pelo Conselho de Coordenação do Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) em 1986, discutia o perfil do profissional que se deveria atingir com a proposta curricular encaminhada aos órgãos colegiados, e considerava: a) o Ofício Circular do Ministério da Educação e Cultura e do Conselho Federal da Educação de número 001.783/84, através do qual se buscava “coletar posições das Instituições a respeito da Reforma Curricular em Estudos” pelo Grupo de Trabalho instituído pelo MEC em 1982; b) as posições do prof. Moura Castro: o técnico, o assessor, de um lado, e, de outro, o tomador de decisões (decision maker); c) as habilidades propostas por Katz & Khan para o administrador – humana, conceitual, técnica. O documento finalizava sugerindo o perfil do profissional de administração da, já então, Universidade Metodista de Piracicaba como: O Administrador é um profissional comprometido com as mudanças sociais, em função do que deve ter uma formação humana que lhe dê capacidade de dirigir, motivar, coordenar seus colaboradores, enfim, de trabalhar em equipe, na tarefa de adaptar a empresa às exigências de uma sociedade em constante mutação. Nesse trabalho de adaptação necessita utilizar conhecimentos técnicos diversificados em Administração, encarando a empresa sob uma visão sistêmica, isto é, reconhecendo a interdependência estrutural dos seus vários departamentos, bem como agindo no inter-relacionamento empresa X meio ambiente, o que exige capacidade estratégica de enfrentar situações complexas e tomar decisões adequadas.21 Os debates não se encerraram com a aprovação da Reforma Curricular. Em 1988, o coordenador do curso (prof. Roberto Tayar) propunha a discussão do processo de ensino-aprendizagem considerando: a filosofia do curso, o perfil profissional do administrador, os reflexos da filosofia e do perfil nas disciplinas e no relacionamento docente/discente, bem como o quadro curricular do curso. Lembrava, então, o perfil aprovado em 1986, acrescentando que “o administrador é um profissional que age para mudar. Não existe administração e nem administrador para manter as coisas como estão”. Afirmava que 21 PIZZINATTO, 1986. dezembro 182 99 g g y essa mudança deveria ocorrer “no sentido do seu compromisso com os interesses comunitários”.22 Foram realizadas reuniões com Conselhos de Classe e identificados vários pontos como influentes na qualidade do processo de ensino: o grande número de alunos em sala, o autoritarismo por parte de alguns professores, a conceituação destoante, por parte de professores e alunos, do “entendimento do que seja teoria e prática”, a metodologia utilizada, enfatizando o monólogo docente e impedindo o diálogo com o discente, reforçando, por fim, o posicionamento de 1988: Os alunos em sua maioria não entendem que a realidade para o trabalho administrativo é um referencial e não um modelo a ser seguido. A postura do Administrador deve partir da realidade para mudá-la e não para dar continuidade a ela.23 Criticava “toda uma visão corporativa e por isso mesmo fragmentada e embasada em conhecimentos especializados”, em que “seu charme era a eficiência”.24 Desde então podia-se perceber que as lideranças acadêmicas e docentes do Curso de Administração da UNIMEP já constatavam a necessidade de se aprofundar o debate sobre a função do administrador e o tipo de profissional que a Universidade poderia formar, tanto no sentido de sua contribuição para a sociedade, como também no que concerne à sua competência para sobrevivência no mercado. Inicialmente o curso era oferecido apenas no período noturno; entretanto, em julho de 1992, foi oferecida a primeira turma no período matutino, o que ampliou o potencial do curso e, em conseqüência, sua complexidade. Nesse mesmo ano, em 9 de setembro, o Curso de Administração requereu sua filiação junto à ANGRAD, entidade sediada em São Paulo, com a missão de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino da administração no país. A divulgação externa do Curso de Administração da UNIMEP passou a acontecer não só pela representação docente nos encontros nacionais e regionais da ANGRAD – identificados, respectivamente, pelas siglas ENANGRAD e EPANGRAD –, como também pela apresentação de trabalhos de docentes do curso nesses eventos e pela organização, na UNIMEP, de tais encontros. Em 1993, ocorreu o III EPANGRAD – Encontro Paulista dos Cursos de Graduação em Adminis22 23 24 TAYAR, 1988. Ibid., 1990a. Ibid., 1990. impulso 183 nº26 g g y tração – e, em setembro de 1994, o V ENANGRAD (Encontro Nacional dos Cursos de Graduação em Administração), congregando 175 participantes, representando instituições de todas as partes do país. Em trabalho preparado para apresentação no II EPANGRAD, na PUC-Campinas, o prof. Dorgival Henrique alertava para a necessidade de se “construir um Projeto Pedagógico” que levasse as disciplinas do curso a trabalhar “com dupla competência: a profissional propriamente dita (docente especializado numa área de saber, nas exigências do mercado etc.) e a “competência crítica”, que ultrapassasse o paradigma funcionalista e a idolatria do mercado”. Começava a repercussão externa da preocupação com a dupla competência, tão discutida no âmbito da comunidade universitária unimepiana.25 O perfil do estágio supervisionado também foi divulgado em nível nacional, no III ENANGRAD, ocorrido em Belo Horizonte (29/08/92), quando as profas. Nadia K. Pizzinatto e Dalila A. Correa apresentaram trabalhos a respeito. Da mesma forma, estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas no curso, na disciplina Administração Mercadológica, foram apresentadas e debatidas no VI ENANGRAD, em Natal.26 A POLÍTICA ACADÊMICA DA UNIMEP E SEUS REFLEXOS NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO No âmbito da UNIMEP, ocorriam os debates culminando com a aprovação pelo Conselho Universitário, em 24/04/92, da Política Acadêmica da instituição, definindo diretrizes para as atividades unimepianas: a construção da cidadania enquanto patrimônio coletivo da sociedade civil, a indissociabilidade do processo de ensino-pesquisa-extensão, o direcionamento das atividades acadêmicas para os aspectos regionais, os estágios dos cursos como a oportunidade de contato teoria/prática e, por fim, os Projetos Pedagógicos como “a concretização da Política Acadêmica”.27 A Reitoria assumia como uma das propostas básicas de seu Plano de Trabalho 95/98: Prosseguir, tendo como eixo a Política Acadêmica, no processo de institucionalização da Universidade, priorizando a definição dos projetos pedagógicos de todos os cursos, departamentos e centros, de modo a se aprimorar a qualidade da formação científica, política e profissional do corpo discente, na base dos parâmetros 25 26 27 HENRIQUE, 1993. PIZZINATTO, 1995. UNIMEP, 1992. dezembro 184 99 g g y do Processo de Ensino que baliza os programas e ações relacionados.28 As lideranças acadêmicas do Curso de Administração tinham o primeiro semestre de 1995 como prazo para implantação da reforma curricular aprovada em 05/08/93 no CFE (MEC). Mas a Universidade definia seus próprios caminhos, não estando somente a reboque das pressões ambientais. Assim, as lideranças acadêmicas assumiam seu papel na construção do Projeto Pedagógico do curso, definido como proposta básica do Plano de Trabalho da Reitoria. No documento aprovado em junho de 1994 pelo CEPE, que apontava a Inovação Curricular como metodologia para orientar os cursos em suas práticas acadêmicas, alertava-se que, na construção dos Projetos Pedagógicos dos cursos, deveriam ser consideradas quatro dimensões: a) universidade e sociedade – para dar sentido social e político à ação educativa; b) ética – para que a formação profissional, alicerçada em parâmetros sociais, políticos, técnicos e científicos, possibilitasse aos indivíduos fazerem escolhas sob a égide de uma ética cidadã; c) historicidade da instituição – ou seja, o Projeto Pedagógico deveria refletir as expectativas futuras e o passado Institucional; d) o processo de conhecimento – em que se definissem quais conhecimentos deveriam ser socializados e por quais métodos. Assim, a “Proposta de Reformulação Curricular” do Curso de Administração que cumpriu as determinações da Resolução 02/93, levando à implantação, em 1995, do currículo reformulado, foi elaborada considerando não apenas as definições legais do Ministério da Educação, como também os pressupostos da Política Acadêmica da UNIMEP, a priorização do Projeto Pedagógico como meta da Universidade e as orientações do CEPE para seu delineamento. Desse modo foi aprovada pelo CEPE em 24/10/94, como processo 068-04/94. Reconhecia que “a função administrativa de alto nível envolve capacitações voltadas para estratégia, processo decisório, racionalidade administrativa, liderança e habilidades interpessoais”, ao mesmo tempo em que também assumia a dificuldade de se “transformar o processo de ensino em ‘laboratórios de estratégias e de decisões simuladas’, considerando que um ‘curso de graduação em administração 28 UNIMEP, 1995, pp. 56-57. impulso 185 nº26 g g y competente pode, no máximo, trabalhar com fundamentos de habilidades de gestão’”.29 No bojo da Reforma Curricular, as atividades do estágio supervisionado foram revistas, com a designação, pelo Departamento de Administração, de um grupo de trabalho autodenominado GTESA, em abril de 1996, para construção das novas diretrizes, encaminhadas aos órgãos colegiados em 1997. O documento definiu tipologias de projetos monográficos para a atividade, previu a constituição do Núcleo do Estágio Supervisionado em Administração (Nuclesa), instância catalisadora de discussão das problemáticas do ESA, descentralizando o processo decisório; ampliou a carga horária do ESA, discutiu a formação de assessorias para o estágio e outros aperfeiçoamentos, com vistas a melhorar a qualidade do estágio supervisionado em administração, e contribuir para a formação do administrador previsto na reforma curricular implantada em 1995. OS OBJETIVOS DO CURSO E O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO DO ADMINISTRADOR DA UNIMEP O Projeto Pedagógico do Curso de Administração, que definiu seus objetivos bem como o perfil profissiográfico do profissional de administração a ser formado, considerou princípios da Política Acadêmica, em particular os ligados à ética que rege o projeto pedagógico da UNIMEP – a construção da cidadania enquanto patrimônio coletivo da sociedade civil.30 Assim, os objetivos do curso, embora implícitos nos debates e considerados na reforma curricular, foram, enfim, definidos concretamente no Projeto Pedagógico aprovado em 1998, refletindo todos os pressupostos legais e teóricos já resgatados, mas também, e especialmente, as diretrizes da Política Acadêmica da UNIMEP, aprovada em 1992. Definiu-se, assim, que todo o esforço do Curso de Administração estaria voltado a estabelecer, com os discentes, o desenvolvimento de habilidades de gestão, tanto as ligadas às técnicas administrativas quanto às ligados à postura do profissional: empreendedorismo, competência contextual (compreensão do meio social, político, econômico, cultural em que o administrador está inserido), conceitual (integração da teoria à prática), ética, postura para educação continuada, comunicação interpessoal, atuação multidisciplinar e em equipe. A preocupação com a responsabilidade social também transpareceu como objetivo do curso, em reflexo aos princípios da Política 29 30 HENRIQUE, 1994. Projeto Pedagógico do Curso de Administração, 1998, p. 68. dezembro 186 99 g g y Acadêmica institucional, bem como a articulação do ensino com a pesquisa e a extensão, comprometidos com a realidade brasileira.31 O perfil profissiográfico também é reflexo da ética unimepiana, que busca a formação de um profissional que se atenha não somente aos “objetivos organizacionais”, porém que nesse esforço, aja com ética, seja promotor de novas relações produtivas e sociais, que levem à melhoria da qualidade de vida e que reflita um administrador com responsabilidade social.32 CONCLUSÕES Toda a evolução ocorrida no ensino da administração no país mostra as preocupações com a necessidade de um aperfeiçoamento constante, na busca de uma adequação a uma sociedade em contínua mutação, devendo, ainda, envolver-se com a ideologia e filosofia de educação da IES que oferece o curso. O currículo deve não só adequarse às necessidades do mercado de trabalho, mas também constituir-se em “agente transformador” e “promotor de novas relações produtivas e sociais”.33 Refletidas no Curso de Administração da UNIMEP, tais preocupações materializaram-se com apoio nas diretrizes da Política Acadêmica da instituição, que definiu sua preocupação em dar ao formando a dupla competência: a técnica e a do administrador enquanto cidadão e agente de mudanças para uma sociedade mais justa. Tais diretrizes nortearam as discussões sobre perfil do profissional pretendido, a reforma curricular realizada e o projeto pedagógico definido. Na reforma curricular implantada em 1995, novas disciplinas foram incluídas no sentido de atender a tais preocupações. Refletem também algumas das características do perfil do administrador e de suas habilidades, identificadas na pesquisa PHAD/96. Dessa forma, entre outras alterações curriculares, foram incluídas: a) criação de novos negócios: buscando desenvolver no aluno o espírito empreendedor; b) ética profissional: contemplando não só as diretrizes da Política Acadêmica da UNIMEP, como também as características do perfil citado na pesquisa PHAD; c) seminários em administração: nessa disciplina, uma ementa flexível permite a atualização permanente do currículo, condizente com as alterações nos cenários nacional e internacio31 32 33 UNIMEP, 1992, pp. 75-76. Ibid., p. 77. ANDRADE, 1997, p. 25 impulso 187 nº26 g g y nal. Em 1999, por exemplo, o conteúdo abordado está vinculado aos estudos ligados ao comércio exterior. As alterações do estágio supervisionado, convalidando a elaboração da monografia de conclusão de curso, a partir da redação de um projeto de pesquisa inicial, ligado a uma situação prática de uma organização, reforçaram o esforço em oferecer ao aluno algumas das habilidades identificadas na pesquisa PHAD: espírito crítico, capacidade de comunicação, decisão, entre outras. Resumindo, o ensino da administração no Brasil evoluiu de um sistema pragmático, pré-definido, estático, praticamente padronizado em nível nacional, através da definição inicial do currículo mínimo, para um ensino voltado às necessidades regionais, na medida em que a Resolução 02/93 flexibilizou o conceito do currículo mínimo, ampliando a carga horária à disposição das instituições de ensino para a adequação ao perfil pleiteado pela sociedade em que elas se inserem. Nessa abertura, as discussões sobre o perfil do profissional levaram ao surgimento de uma maior preocupação com o organismo social das organizações e a formação mais humanística – leia-se cidadã – do profissional da área. O processo de avaliação iniciado pelo Ministério da Educação, embora não seja prerrogativa unicamente do curso, constituiu-se numa alavanca que impulsiona as lideranças acadêmicas na busca de uma melhoria permanente na qualidade do ensino, englobando todo o sistema social envolvido na formação de profissionais – professores, dirigentes, alunos, funcionários e organizações –, numa dinâmica de atuação conjunta e co-responsável pela formação de profissionais de administração dos quais a sociedade possa se orgulhar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGRAD – Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração – Pesquisa PHAD/96. ANDRADE, R.O.B. História e perspectivas dos Cursos de Administração do Brasil. 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