“ESSE VÍDEO É UM TAPA NA CARA”:
IDENTIDADES SEXUAIS E DE GÊNERO
NARRADAS EM UM EVENTO DE
LETRAMENTO VIDEÁTICO
Juliana Ribeiro Lima
INTRODUÇÃO

As transformações de ordem epistêmica refletem as
transformações da sociedade contemporânea, que se
caracteriza como uma era instável, em que a
insegurança convive com a possibilidade de quebra de
regimes que eram considerados estáveis em outros
tempos.

Mesmo com todas as mudanças sociais que têm
ocorrido na contemporaneidade, alguns ideais
modernistas, como, por exemplo, a busca por padrões
de igualdade, ainda continuam a ser veiculados e
reificados pela mídia. Recorrentes padronizações são
feitas, principalmente, com relação aos gêneros
masculino e feminino.
OBJETIVOS

Analisar como se dá a construção discursiva das
identidades de gênero por adolescentes, ao se
engajarem em um evento de letramento mediado por
videoclipes, em uma aula de língua inglesa.

Entender que visões de mundo estão presentes em
suas leituras dos videoclipes e, consequentemente, da
sociedade.
MOMENTO PÓS-MODERNO
“Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as
sociedades modernas (...). Isso está fragmentando as paisagens
culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e
nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas
localizações como indivíduos sociais. Estas transformações estão
também mudando nossas identidades pessoais, abalando a idéia
que temos de nós próprios como sujeitos integrados. Esta perda
de um ‘sentido de si’ estável é chamada, algumas vezes, de
deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo
deslocamento – descentração dos indivíduos tanto de seu lugar
no mundo social e cultural quanto de si mesmos — constitui uma
‘crise de identidade’ para o indivíduo” (HALL, [1992] 2006, p. 1).
MOMENTO PÓS-MODERNO

“A insegurança, o medo e a fragilidade dos laços
contraídos pelos indivíduos entre si atestam as
dificuldades de construção da identidade em um mundo
marcado pela pluralidade e por alterações significativas
na institucionalidade” (FRIDMAN, 2000, p. 63).

“O sujeito assume identidades diferentes em diferentes
momentos, identidades que não são unificadas ao redor
de um ‘eu’ coerente. Dentro de nós há identidades
contraditórias, empurrando em diferentes direções”
(HALL, 2006, p. 2).
MOMENTO PÓS-MODERNO

Processo de racionalização (TOURAINE, 1994, apud
FRIDMAN, 2000) – o indivíduo, enquanto ser racional,
busca a eficiência, a determinação de um padrão
normativo.
Consequência: insegurança e confiança nos sistemas
de verdade.

Processo de subjetivação – aponta “novas dimensões
para a existência humana, assim como a liberdade de
ser e desejar” (FRIDMAN, 2000, p. 69).
Consequência: “transformação da intimidade”
(GIDDENS, 1993).
ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NOS DIAS DE HOJE

“Ensinar é estar preocupado com a preservação, o
crescimento e a formação de uma criança. Cada uma
dessas responsabilidades traz consigo a necessidade de
conhecer as crianças e o modo como elas aprendem e
crescem e sua cultura” (ELBAZ, 1992, p. 422, apud
BULLOUGH JR., 2011).

Os PCN do ensino médio (2000) têm como objetivo
mostrar que devemos ensinar as línguas estrangeiras com
foco nas habilidades de leitura, compreensão e expressão
oral e escrita, fazendo uso de recursos verbais e não
verbais.

“É provável que, dentro de qualquer sala de aula, circulem
compreensões múltiplas” (NELSON, 2006, p. 221).
ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NOS DIAS DE HOJE

“A condição pós-método torna os professores capazes de
criar práticas inovadoras, voltadas especificamente para
cada local e turma” (KUMARAVADIVELU, 1994, p. 29).

Materiais autênticos são uma boa maneira de motivar os
alunos, pois fazem parte do seu dia-a-dia (RICHARDS,
2001).

“Todos nós encontramos ou inventamos nossa língua. (...)
Estamos sempre encontrando nossa voz. (...) E, ao
inventar o inglês, estamos sempre inventando a nós
mesmos – encontrando nosso lugar” (LERER, 2007, p. 3).
LETRAMENTOS

Sociedade contemporânea – hipersemiotizada e
multimodal.
Multimodalidade – conjunto de múltiplas formas de
representação ou códigos semióticos que, através de
meios próprios, compõem sistemas de significados.

Os gêneros, discursos e estilos textuais interagem com
imagens, designs e músicas, formando novas formas de
leitura.

Evento de letramento – atividades que cooperam para a
leitura de um texto.
Letramento Crítico como Prática Social

A leitura é uma prática social, uma forma de ação, que
funciona em meio às outras práticas sociais dos
participantes. Essa forma de ação, de nos
posicionarmos diante dos textos, é o que muitos
estudiosos chamam de letramento crítico.

“O letramento crítico busca engajar o aluno em uma
atividade crítica através da linguagem, utilizando como
estratégia o questionamento das relações de poder, das
representações presentes nos discursos e das
implicações que isto pode trazer para o indivíduo em
sua vida ou de sua comunidade” (MOTTA, 2008, p. 10).
Letramentos Videáticos

São muitos os signos que compõem um videoclipe e
interpretá-los passa a ser uma ação cada vez mais
cotidiana, já que, segundo Moura (2013, p. 6), “nunca
antes o espaço da representação iconográfica havia
invadido tanto o espaço do ‘real’”.

O espectador é um coautor do videoclipe, pois ele é o
responsável por atribuir significado a esse texto. Como
afirma Moura (Ibid., p. 5), “para que a voz co-autora de
cada expectador seja ouvida (por outros e por ele mesmo),
há que se permitir um certo espaço de troca, há que se
enxergar a alteridade na tela bem como na vida cotidiana”.
NARRATIVAS COMO PERFORMANCE DE GÊNERO

Por meio de nossas performances narrativas, somos
capazes de organizar nossas experiências, projetar os
valores sociais que nos constroem como sujeitos e,
assim, construir discursivamente nossas identidades,
significando e ressignificando os sistemas de verdade
que compõem nossa sociedade.

Estilizações – processos de criação de sentidos a
partir de repetições de múltiplas vozes.
Atos de Fala como Performance

Performances – atos de representação de nós mesmos e
de nossas experiências.

A performance “pode ser entendida como a adoção
consciente ou inconsciente de papéis, os quais encenamos
ao longo de nossa vida, dependendo do momento e de
onde estamos” (STRIFF, 2003, p. 1).

Austin (1962), ao tratar de atos de fala performativos,
afirma que “o performativo é um ato de fala que não deve
ser julgado de acordo com sua veracidade, mas sim de
acordo com suas condições de ocorrência” (STRIFF, 2003,
p. 6).
Performances Narrativas

De acordo com Bastos (2005), o filtro crítico e afetivo
que nos faz selecionar as estórias que contamos estão
vinculados a nossos valores e crenças, nossa cultura e
nossa história.

“Contar estórias parece ser uma parte importante do
modo (...) como o social é incorporado, atuado e refeito”
(THREADGOLD, 2005, p. 263).

As narrativas são atos de fala performativos.
Performances Narrativas:
as contribuições de Labov

Segundo Labov (1972), narrativa é um método de
recapitular experiências passadas, combinando uma
sequência verbal de orações com uma sequência de
eventos.

A menor narrativa possível deve possuir pelo menos duas
orações narrativas em sequência temporal em sua ação
complicadora, referindo-se necessariamente a um fato
passado. Além disso, deve possuir um ponto e ser contável
(cf. BASTOS, 2005).
Performances Narrativas:
as contribuições de Labov
Elementos estruturais que compõem uma narrativa completa:





prefácio (ou abstract) – resume a narrativa e indica seu
conteúdo.
Orientação – dá referências do local, hora, da cena e das
pessoas envolvidas.
Orações narrativas – representam o desenvolvimento da
estória, compõem a ação complicadora.
Avaliação – está ligada ao foco central da narrativa. Pode estar
presente de forma contínua e diversificada no desenrolar da
narrativa. Pode manifestar-se em estratégias diversas,
compondo a “estrutura secundária” da narrativa (Labov, 1972, p.
369).
Etapas de finalização da narrativa: resolução (conclusão da
narrativa ou do conflito nela apresentado) e coda (avaliação final
ou movimento de volta ao momento presente).
Performances de Gênero

Como afirma Pennycook (2007, p. 58), “dizer que gênero,
sexualidade e desejo são performativos não é dizer meramente
que eles são performados, mas dizer que eles são produzidos na
performance”.

“O binário não é neutro, mas normativo” (NELSON, 1999, p. 376,
apud NELSON, 2006, p. 227).

“As construções identitárias são sempre atravessadas por
diferentes traços, pois ‘se alguém ‘é’’ uma mulher, isso certamente
não é tudo o que esse alguém é; (...) porque o gênero nem sempre
se constitui de maneira coerente ou consistente nos diferentes
contextos históricos, e porque o gênero estabelece interseções
com modalidades raciais, classistas, étnicas, sexuais e regionais
de identidades discursivamente constituídas” (BUTLER, 2003,
apud STRIFF, 2003, p. 20).
METODOLOGIA DE PESQUISA

Estudo qualitativo (GUBA & LINCOLN, 1994, pp. 110, 111 e 113,
apud SENA, 2006, p. 17):
“a realidade social é apreendida interacionalmente, através de
construções sociais criadas em conjunto pelos indivíduos
participantes de um determinado contexto. (...) A partir destas
coconstruções, as realidades são múltiplas, locais, situadas, não
absolutas (nem verdadeiras nem falsas, apenas mais ou menos
informadas e/ou sofisticadas) e não-estáticas, ou melhor, em
constante construção (...). O conhecimento proveniente da
pesquisa, por consequência, é criado na interação entre
investigador e o(s) objeto(s) da investigação, que estão
interligados e, por isso, não pode ser neutro ou objetivo”.
METODOLOGIA DE PESQUISA

Pergunta de pesquisa: como os jovens pesquisados constroem
discursivamente suas identidades sociais para si mesmos e para o grupo
ao qual pertencem?

Objetivo: observar como os participantes lêem e relêem o mundo social do
qual participam, construindo a si mesmos discursivamente, e de que
maneira tais leituras ecoam discursos e crenças, em seu contato com os
discursos de poder da mídia, da família, da escola e da religião.

Participantes: alunos de duas turmas do 9º ano de uma escola estadual
localizada no município de Nova Iguaçu, em 2012.

Contexto de geração dos dados: evento de letramento escolar proposto
como uma das atividades da disciplina “inglês”, de caráter voluntário,
ministrada pela própria pesquisadora, que é a professora da disciplina.

Duração da atividade: 50 minutos (um tempo de aula).
METODOLOGIA DE PESQUISA
Etapas da atividade:

Exibição de cinco videoclipes:
Boys don’t cry, da banda The Cure
If I were a boy, de Beyoncé
Just a Girl, do grupo No Doubt
Born this way, de Lady Gaga
I want to break free, da banda Queen

Discussão oral dos vídeos e das músicas

Questionário escrito
ANÁLISE DOS DADOS

Foco nas narrativas que emergem nas respostas dos
alunos ao questionário escrito.
Foram analisados:
 o modo como os alunos estruturam suas narrativas;
 as estratégias de avaliação usadas por eles;
 o modo como essas estratégias indicam o ponto de suas
narrativas;
 os sentidos que estão em jogo na defesa desse ponto.
ANÁLISE DOS DADOS
Perguntas do questionário:
1. Qual foi a primeira coisa em que você pensou quando viu os
vídeos?
2. Diga resumidamente o que você entendeu sobre os vídeos e as
músicas.
3. Relacione os videoclipes.
4. De qual videoclipe você gostou mais e qual chamou mais a sua
atenção? Por quê?
5. Como os videoclipes retratam a relação entre homens e
mulheres e sua sexualidade?
6. Algum dos videoclipes fez você se lembrar de alguma história
que você viveu ou de que você ficou sabendo? Conte essa
história.
ANÁLISE DOS DADOS

Entre todas as respostas apresentadas pelos
alunos, “traição” foi o tema mais recorrente, em
especial traição em relacionamentos amorosos
heterossexuais.
ANÁLISE DOS DADOS
“Que chamou mais a minha atenção foi o vídeo If I were a boy por que
o marido está traindo ela e ela estava imaginando como seria se ela
traisse ele. (...) aconteceu á mesma coisa que no videoclipe da
Beyoncé por que a colega da minha descobriu que o marido traia ela e
demorou muito tempo para descobrir e quando descobriu quis da o
troco.” (Sibele, 13 anos)
Sibele utiliza:
 um prefácio avaliativo para indicar o vídeo de sua preferência (“Que
chamou mais a minha atenção foi o vídeo If I were a boy”);
 avaliação presente na orientação, quando Sibele tenta justificar sua
escolha por este videoclipe e apresenta sua leitura das imagens do
vídeo (“por que o marido está traindo ela e ela estava imaginando
como seria se ela traisse ele”);
 sequência temporal nas orações narrativas, para comparar uma estória
que conhece com a leitura que fez do vídeo, ratificando sua leitura, que
é, nesse caso, o ponto da narrativa, e garantindo a reportabilidade de
sua estória.
ANÁLISE DOS DADOS
“If I were a boy. Porque eu acho que sinceramente esse vídeo é um
tapa na cara de muitos casais de hoje. Pois a vida tem sido assim e
nem são só mais os homens a mulheres também tem traido e muitas
vezes com falsas esperanças que muitas vezes acabam com o seu
casamento por mízeras coisas muitas das vezes apenas por falta de
atenção. Isso me levou a gostar do vídeo. (...) A comadre da minha
mãe trai o marido, mais o filho dela apoia se trocando apenas por
créditos em celular, dinheiro e outros tipos de subornos. Que é um
pouco parecido com If I were a boy.” (Evandro, 14 anos)



Evandro inicia seu discurso com uma ação avaliativa, descrevendo as
ações não apenas das personagens do vídeo, mas das pessoas “de
hoje”.
Ele evidencia que o comportamento dos casais atuais é errado em sua
opinião. Apresenta, assim, um posicionamento tradicional em relação a
traição e aos relacionamentos amorosos de forma geral.
Não apresenta a estrutura primária de Labov, mas traz elementos
avaliativos (“tapa na cara”, “falsas esperanças”, “mízeras coisas”, “se
trocando apenas”), que tornam o ponto da narrativa mais evidente.
ANÁLISE DOS DADOS
“Sim, uma amiga foi traida pelo marido dela, sendo que ele tinha
ingravidado ela de 2 filhos. Ela foi embora de casa e foi pedir ajuda a sua
mãe, sua mãe muito cabeça dura não queria uma filha com dois filhos um
já com 3 anos e o outro que ainda estava em sua barriga, o pai da criança
queria que ela abortacçe pos não queria mais um filho para poder criar,
ela não quiz e teve que morar na casa do irmão mais velho. Começou a
trabalhar e deu tudo que podia para seus dois filhos, no seu trabalho ela
conheceu um homem, viraram amigos e a namorar com o tempo tiveram
mais um filho estão até hoje juntos felizes.” (Pedro, 15 anos)
Pedro utiliza:
 um prefácio (“Sim, uma amiga foi traida pelo marido dela”);
 uma orientação (“sendo que ele tinha ingravidado ela de 2 filhos”);
 orações narrativas, apresentando uma avaliação encaixada logo após a
primeira oração (“muito cabeça dura”);
 uma avaliação final (coda) – “estão até hoje juntos felizes”.
 Ponto da narrativa: a capacidade da personagem de conseguir mudar de
vida.
ANÁLISE DOS DADOS

Respostas relacionadas a liberdade de ambos os
sexos e gêneros também surgem, mas em minoria.

Nestas respostas, os alunos mostram-se capazes
de relacionar criticamente diferentes signos
presentes nos videoclipes e nas letras das músicas.
ANÁLISE DOS DADOS
“Born this way, porque fala sobre o direito de respeitar a
sexualidade das pessoa, que não se deve ter preconceito, por
que por dentro somos todos iguais, somos de carne e osso, só
por que a pessoa é negra, branca, lésbica ou gay quer dizer que
ela é diferente.” (Luiza, 14 anos)



Luiza apresenta seu posicionamento por meio de avaliações.
Ela narra sua leitura do vídeo Born this way, mas não conta uma
estória específica.
Ela constrói sua leitura com base em padrões de igualdade entre
os seres humanos, incluindo questões de raça e sexualidade.
ANÁLISE DOS DADOS
“Lady Gaga porque fala que devemos ser nos mesmos que não
importa nossa cor ou sexualidade o que importa é o carater da
pessoa. Existe varios tipos de pessoas todas diferentes e é isso
que torna elas especiais. (...) eu era muito timido e acanhado
pos minha outra escola era pequena com poucos alunos,
meninas e meninos, todas as meninas eram iguais e os meninos
também, e eu me sentia deslocado um entruso entre eles por
causa do meu jeito estranho e afeminado ai minha mãe me
matriculou aqui num lugar grande cheio de pessoas diferentes e
legais no começo eu não consegui me adaptar pos tudo era
diferente as pessoas daqui me asseitão melhor do jeitinho que
eu sou pos o diferente também é legal.” (Pedro, 15 anos)
ANÁLISE DOS DADOS
Pedro apresenta:

sua própria estória de vida;

leitura crítica sobre o clipe e a sociedade (“Lady Gaga porque fala que devemos
ser nos mesmos que não importa nossa cor ou sexualidade o que importa é o
carater da pessoa. Existe varios tipos de pessoas todas diferentes e é isso que
torna elas especiais”);

argumentos que suportam seu ponto de vista e uma avaliação externa antes de
iniciar sua narrativa propriamente dita;

uma grande orientação (“eu era muito timido e acanhado pos minha outra
escola era pequena com poucos alunos, meninas e meninos, todas as meninas
eram iguais e os meninos também, e eu me sentia deslocado um entruso entre
eles por causa do meu jeito estranho e afeminado”), que inclui uma avaliação
encaixada (“todas as meninas eram iguais e os meninos também”);

orações narrativas (“ai minha mãe me matriculou aqui num lugar grande cheio
de pessoas diferentes e legais no começo eu não consegui me adaptar pos
tudo era diferente”), que também incluem avaliações (“lugar grande”, “cheio de
pessoas diferentes e legais”).
ANÁLISE DOS DADOS

A identificação de Pedro com a escola e a relação entre
essa identificação e sua leitura do videoclipe também
aparecem na resolução (“as pessoas daqui me asseitão
melhor do jeitinho que eu sou”) e na coda de sua narrativa
(“pos o diferente também é legal”).

Pedro constrói-se como um sujeito social capaz de se
reposicionar discursivamente e, assim, reconstruir a sua
própria realidade.
ANÁLISE DOS DADOS

Após a análise das performances narrativas, foi possível separá-las em
dois grupos:
1) Performances da heteronormatividade compulsória, determinando
modos de ser e de agir julgados pela sociedade como adequados.
Consolidam padrões tidos pelo senso comum como corretos e, por isso,
imutáveis. Esses padrões são atribuídos, de uma forma geral, às
mulheres, constantemente narradas como sendo “enganadas” pelos
homens.
2) Performances que trazem à tona conceitos como liberdade, igualdade,
personalidades diferentes e convergentes. O discurso da liberdade, nesse
caso, também tende para a normatividade, pois os alunos julgam as
personagens que performam apenas por suas características
simplesmente humanas e não por seus traços identitários distintivos,
como homem, mulher, homossexual, heterossexual, masculino, feminino.
REFLEXÕES FINAIS

Os participantes desta pesquisa mostraram seus posicionamentos
sobre os diferentes signos que compunham os vídeos e as músicas
de forma crítica, relacionando-os ao seu cotidiano escolar e às
relações que eles mantêm fora da escola.

É possível dizer que, mesmo com toda a possibilidade de mudança
da vida social contemporânea, os alunos, em sua maioria, ainda
apresentam posicionamentos heteronormativos, que estabilizam
visões do senso comum a respeito das sexualidades.

Os participantes vêem as diferentes formas de sexualidade e os
diferentes modos de agir com certo preconceito e, algumas vezes,
posicionam-se evasivamente sobre o assunto.

Mesmo os participantes que se preocuparam em construir
narrativas e posicionamentos tidos pela sociedade como
“modernos” apresentaram reflexões estabilizantes e unificadoras
sobre os sujeitos sociais.
REFLEXÕES FINAIS

Por meio deste trabalho, foi possível compreender que
todas as práticas de letramento escolar são híbridas, pois
são atravessadas e constituídas por diferentes identidades,
crenças e sistemas de verdades.

O objetivo deste trabalho foi alcançado, pois o mais
importante na pesquisa é conhecer os sujeitos que dela
participam e observar o que está em jogo enquanto eles
lêem o mundo, reconhecendo seu lugar em sua própria
cultura.
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“ESSE VÍDEO É UM TAPA NA CARA”: IDENTIDADES SEXUAIS E